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GESTÃO E ELABORAÇÃO

DE PROJETOS SOCIAIS

Autoria: Dra. Carla Eunice Gomes Corrêa

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jairo Martins
Jóice Gadotti Consatti
Marcio Kisner
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
C824g

Corrêa, Carla Eunice Gomes

Gestão e elaboração de projetos sociais. / Carla Eunice Gomes Cor-


rêa. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

135 p.; il.

ISBN 978-65-5646-200-4
ISBN Digital 978-65-5646-196-0

1. Projetos sociais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vin-


ci.

CDD 338.9

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Conceitos Básicos Sobre Projetos e
Organizações do Terceiro Setor...............................................7

CAPÍTULO 2
Planejamento e Elaboração de Projetos Sociais................. 47

CAPÍTULO 3
Fontes de Recursos para Projetos Sociais...........................91
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, o tema elaboração de projetos sociais é amplo. Nosso
objetivo, neste livro, é apresentar as noções básicas sobre esta atividade. Por
esse motivo, com certeza não conseguiremos esgotar o assunto, pois a bibliografia
é extensa e composta muitas vezes de manuais elaborados pelo próprio
financiador, ou ainda, deve seguir modelos descritos em editais de chamamento
de projetos. Por outro lado, muitas vezes o financiador solicita que um projeto seja
apresentado, por isso é importante saber o passo a passo de como elaborá-lo.

Nas disciplinas que você estudou na graduação e também ao longo do
curso de pós-graduação, você já obteve o conhecimento de alguns temas que
serão importantes nesta disciplina. Além do tema projetos sociais, vimos a
necessidade de situar os projetos dentro das organizações, por isso, no Capítulo
1, apresentaremos um pouco da história e evolução do terceiro setor e também o
conceito de projetos e qual a sua relação com as entidades de primeiro setor. Este
tema torna-se importante devido alguns editais exigirem que critérios específicos
sejam atendidos, como se a entidade é legalmente constituída, se possui
certificados e títulos de utilidades públicas, entre outros.

No Capítulo 2, estudaremos todas as etapas de um projeto social e quais


as informações importantes em cada uma delas. Assim, no decorrer dos estudos
você verá como as atividades do projeto se diferenciam das atividades rotineiras
da entidade e qual a importância das etapas de monitoramento, avaliação e
prestação de contas neste processo.

Dando sequência aos estudos, no Capítulo 3, abordaremos o tema captação


de recursos. Considerando que grande parte das entidades do terceiro setor
necessita de doações e financiamento de projetos para a sustentabilidade, esse
tema se torna fundamental, pois apresentará como a entidade poderá diversificar
as suas fontes de financiamento e como obtê-las.

Assim, o objetivo desta disciplina é incentivar as entidades e profissionais


a terem o conhecimento necessário para implantar, realizar a gestão, bem como
captar os recursos necessários para o desenvolvimento de seus projetos. Bons
estudos!
C APÍTULO 1
CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS
E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender o universo das entidades sociais.


• Entender a relação dos projetos com a entidades.
• Compreender os fatores que direcionam o desenvolvimento de projetos.
• Analisar o universo de oportunidades para os projetos sociais.
• Conhecer e diferenciar as atividades rotineiras das atividades do projeto.
• Identificar as fases do ciclo de um projeto.
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Gestão e Elaboração de
Projetos Sociais. Com certeza na sua profissão você já ouviu falar ou fez parte
de algum projeto. Quem atua no terceiro setor sabe o quanto é difícil manter as
atividades sem que se tenha bons projetos.

A cada dia, as mudanças econômicas, sociais e políticas que ocorrem


em nosso país fazem com que o terceiro setor se destaque na gestão e no
desenvolvimento de atividades que seriam de responsabilidade do Estado, além
de contribuírem para a implementação de políticas públicas nas áreas da saúde,
educação, meio ambiente, social e cultural.

Neste capítulo, nosso objetivo é relembrar o tema do terceiro setor, de forma


que as ações desenvolvidas pelo setor possam buscar a melhoria da qualidade
de vida da sociedade através de uma economia sustentável, com a participação
e o envolvimento da população num trabalho coletivo, democrático e inclusivo.
Veremos quais as instituições que se encaixam nesta categoria e como elas estão
organizadas.

Inicialmente, conheceremos um pouco das organizações do terceiro setor e a


importância dos projetos para estas entidades. Na sequência, iniciaremos nossos
estudos pelos ciclos dos projetos sociais. Vamos lá!

2 ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO
SETOR
Na literatura, os escritos sobre o terceiro setor são bem antigos. o terceiro setor se
O termo se origina da palavra caridade, originária de caritas, que origina da palavra
em latim significa amor ao próximo. Hudson (1999) coloca que o caridade, originária
surgimento do terceiro setor está atrelado às primeiras civilizações de caritas, que em
latim significa amor
egípcias, pois estas desenvolveram um severo código moral com base
ao próximo.
na justiça social e que a partir deste código as pessoas passaram a
se preocupar em ajudar o próximo. Outros autores também associam o termo
à palavra filantropia, de origem grega, cujo significado é boa vontade com as
pessoas.

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO


TERCEIRO SETOR

A literatura demonstra que a partir da Segunda Guerra Mundial, quando a


sociedade mais vulnerável começou a conviver com as dificuldades causadas
por diversos fatores (desemprego em massa, elevados índices de juros,
desvalorização da moeda) que levavam a problemas econômicos-sociais,
aumento da desigualdade e exclusão social, o terceiro setor surgiu por intermédio
de ações de caridade, filantropia, vontade de ajudar o próximo, mas foi em 1970
que a terminologia foi utilizada, inicialmente nos Estados Unidos e, posteriormente,
na década de 1980, os países europeus passara a utilizá-la (SANTOS, 2012).

No Brasil, o cenário não era diferente, na década de 1970 já se falava em


terceiro setor, porém, foi somente na década de 1980 que surgiu a atuação das
primeiras entidades. No decorrer dos anos, o terceiro setor passou por evoluções
e integrou uma nova ordem na conjuntura econômica, destacando-se no
exercício da cidadania, através da realização de atividades complementares às
desenvolvidas pelo Estado, suprindo algumas áreas de atuação importantes que,
por falta de recursos, o Estado não tem conseguido cumprir (SANTOS, 2012).

Num primeiro momento parece que estamos falando de algo novo, recente,
mas não, o terceiro setor é antigo. Essa expressão surgiu no Brasil no final da
década de 1980 e início dos anos 1990 e representava o conjunto de entidades
da sociedade civil sem fins lucrativos, representado pelas Santas Casas de
Misericórdia, hospitais filantrópicos e movimentos sociais conhecidos como
Organizações Não Governamentais, nomenclatura adotada no Brasil para
identificar grande parte das entidades que também integram o terceiro setor
(KISIL, 2002; SCHEUNEMANN; RHEINHEIMER; 2009).

O que aconteceu recentemente no Brasil foi a conceituação da expressão


terceiro setor a partir da criação de marcos legais que demonstraram de forma
mais clara e transparente o trabalho desenvolvido no cenário nacional. Dessa
forma, Mendes (1999, p. 7) afirma que “na década de 1980 foram as ONGs que,
articulando recursos e experiências na base da sociedade, ganharam alguma
visibilidade, enquanto novos espaços de participação cidadã”.

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

FIGURA 1 – SANTA CASA DE MISERICÓRDIA EM SÃO PAULO

FONTE: <https://www.santacasasp.org.br/portal/site/
quemsomos/historico>. Acesso em: 1º mar. 2020.

A seguir, poderemos verificar de forma sintetizada a evolução do terceiro


setor.

Evolução histórica do terceiro setor no Brasil

1ª fase - Império até a 1ª República: data de 1543 a primeira


entidade do país criada para atender desamparados, a Irmandade
da Misericórdia, instalada na Capitania de São Vicente. O Brasil era
constitucionalmente vinculado à Igreja Católica e a utilização dos
recursos, principalmente os privados, passavam por seu crivo. Era a
época das Ordens Terceiras, das Santas Casas, das Benemerências
atuando, principalmente, nas áreas de saúde e previdência.
2ª fase - Revolução de 1930 até 1960: o país iniciou o
processo de urbanização e industrialização, que passou a moldar
a nova atuação da elite econômica. O Estado ficou mais poderoso,
visto que era o único portador do interesse público. No Estado Novo,
com o presidente Getúlio Vargas, editou-se, em 1935, a primeira
lei brasileira que regulamentava as regras para a declaração de
Utilidade Pública Federal. Dizia seu Art. 1º que as sociedades civis,
as associações e as fundações constituídas no país deveriam ter o
fim exclusivo de servir desinteressadamente à coletividade.
3ª fase - a partir de 1960 até a década de 1970: o fortalecimento
da sociedade civil deu-se, paradoxalmente, no bojo à resistência à

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

ditadura militar. No momento em que o regime autoritário bloqueava


a participação popular na esfera pública, microiniciativas na base
da sociedade foram inventando novos espaços de liberdade e
reivindicação. Inscrevem-se, neste momento, os movimentos
comunitários de apoio e ajuda mútua, voltados à defesa de direitos e
à luta pela democracia.
4ª fase - a partir dos anos 1970: multiplicam-se as ONGs
com o fortalecimento da sociedade civil, embrião do Terceiro Setor,
em oposição ao Estado autoritário. O Brasil dava início à transição
de uma ditadura militar para um regime democrático. Com uma
“distensão lenta, segura e gradual” (como os militares costumavam
caracterizar esse processo), a sociedade brasileira começou a
exercer seus direitos constitucionais, suspensos até então. Com o
avanço da redemocratização e as eleições diretas para os níveis de
governo, as organizações de cidadãos assumem um relacionamento
mais complexo com o Estado.
5ª fase - os anos 1990: surge um novo padrão de relacionamento
entre os três setores da sociedade. O Estado começa a reconhecer
que as ONGs acumularam um capital de recursos, experiências
e conhecimentos sob formas inovadoras de enfrentamento das
questões sociais, que as qualificam como parceiras e interlocutoras
das políticas governamentais. A materialização do novo padrão
surge com a criação do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações
e Empresas), primeira entidade empresarial surgida no Brasil a
abordar essas questões. A entidade surgiu a partir de encontros e
discussões travadas entre integrantes de empresas que praticavam
ações nas comunidades e encontravam-se em um fórum promovido
pela Câmara de Comércio.
6ª fase - século XXI: a ONU (Organização das Nações Unidas)
decreta 2001 como o “Ano Internacional do Voluntário”. Acontecem,
no Brasil, o I° e o II° Fórum Social Mundial, implementadores
de ideias alternativas de ação econômica e social. Promove-
se o desenvolvimento social a partir do incentivo a projetos
autossustentáveis – em oposição às tradicionais práticas de caráter
assistencialista geradoras de dependência – e às propostas de
superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica.

FONTE: CORREA, C. E. G. Terceiro setor, responsabilidade social e


desenvolvimento sustentável. Indaial: UNIASSELVI, 2011.

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

2.2 CONCEITUANDO O TERCEIRO


SETOR
Na literatura sobre o terceiro setor, encontra-se uma variedade de
conceitos tanto pelas denominações que encontramos, como também pela sua
aplicabilidade, o que muitas vezes se torna um desafio. Neste sentido, Souza
(2004) coloca que a variedade de elementos utilizados para conceituar o terceiro
setor muitas vezes confunde na compreensão do que seria esse setor e qual sua
atuação.

Juridicamente esse setor ainda não é reconhecido, por isso, não apresenta
um conceito específico para ele. Entretanto, ele tem ganhado mais espaço e
reconhecimento pelas legislações que regulam suas atividades. Alguns autores,
como Paes (2003, p. 88), já constituíram um conceito para terceiro setor,
definindo-o como sendo “aquele que não é público nem privado, no sentido
convencional destes termos, porém guarda relação simbiótica com ambos, na
medida em que ele deriva sua própria atividade da conjugação entre a metodologia
deste com as finalidades daquele”.

Com certeza você já ouviu falar em terceiro setor na comunidade onde


mora. O terceiro setor se inter-relaciona com o primeiro setor, que é o Estado,
pelo governo e empresas públicas, cujas ações visam estruturar a sociedade e
assegurar por meio das políticas públicas e do uso de recursos de forma coletiva
para o bem comum e, com o segundo setor, chamado de setor econômico
(mercado), formado pelas empresas privadas (mercado), cujo objetivo é a
produção de bens e serviços que atendam às necessidades da sociedade através
do mercado.

Primeiro setor – Estado.


Segundo setor – econômico (mercado).
Terceiro setor – associações e fundações.

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

FIGURA 2 – SOCIEDADE: PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETORES

FONTE: Adaptada de Pereira (2013)

O surgimento do terceiro setor não exime o governo de sua responsabilidade,


bem como não impede as empresas de desenvolverem ações de responsabilidade
social.

Geralmente, nesse processo, o Estado seria responsável pela transferência


de recursos, ou seja, tirando de quem tem mais para financiar ações de quem tem
menos, como a cobrança do Imposto de Renda, feita todos os anos às pessoas
físicas. Dessa forma, ao realizar a cobrança de impostos (valores monetários dos
contribuintes), faz com que esse valor se transforme em bens e serviços públicos
do Estado, que deveria ser aplicado no financiamento de ações públicas voltadas
à saúde, à segurança, à educação etc.

Considerando que o Estado inicialmente não produz nenhum produto que


possa gerar recursos e/ou lucros, podemos verificar que cabe às empresas, o
chamado setor produtivo, prover recursos para os pagamentos das ações do
Estado através do recolhimento de impostos, cujo pagamento é garantido pelas
leis impostas pelo Estado.

Segundo Hudson (1999, p. 11), o termo Terceiro Setor tem algo em comum
com o setor público, já que suas atividades não geram lucros e procuram atuar
em prol do bem comum. Algo a mais em relação ao Estado é que o referido setor

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

não está sujeito a controle político direto e tem independência para determinar
seu próprio futuro.

Entretanto, observamos diariamente que o setor produtivo atende de forma


rápida e eficiente as necessidades da sociedade, ou seja, promovendo as ações
que seriam de responsabilidade do setor público.

Assim, nesse contexto, surge a entidade do terceiro setor, que em suma é


uma “combinação” das funções desenvolvidas pelo primeiro e segundo setores,
mas por que uma combinação? Podemos dizer que se trata de uma combinação
a partir do momento que essas entidades atendem às necessidades da sociedade
com educação, saúde e segurança, com verbas advindas das empresas privadas
por meio de doações, conforme veremos nos capítulos seguintes.

Cabe lembrar que ao mesmo tempo que as organizações do terceiro setor


trabalham com o objetivo de melhorar a qualidade de vida ou a realidade de
um contexto, elas também enfrentam desafios, que serão elencados na figura a
seguir.

FIGURA 3 – OBJETIVOS X DESAFIOS DO TERCEIRO SETOR

FONTE: A autora

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

No Capítulo 3 apresentaremos como ocorre a captação de


recursos deste setor.

Segundo Hudson (1999), podemos ainda destacar nesse contexto dois


grupos: as entidades, como escolas, universidades e centros universitários,
e as cooperativas, associações de amigos que são chamadas pelo autor de
organizações secundárias, visto que essas não visam lucros, porém cobram
mensalidades pelo serviço prestado, como também operam de forma comercial.
Para que você compreenda melhor esse cenário, utilizamos como exemplo do
primeiro grupo as Universidades Comunitárias.

Para você saber mais sobre as universidades comunitárias,


sugerimos a leitura do livro:

SCHMIDT, J. P. Universidades comunitárias e terceiro setor:


fundamentos comunitaristas da cooperação em políticas públicas.
Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2018. Disponível em: https://www.
abruc.org.br/view/assets/uploads/artigos/abruc/universidades-
comunit%C3%A1rias-ebook.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.

Para exemplificar o segundo grupo, podemos citar o exemplo do Hospital


Pequeno Príncipe.

O Pequeno Príncipe é um complexo hospitalar pediátrico


formado pelo Hospital Pequeno Príncipe e pelo Hospital de Crianças
Dr. César Pernetta, que nasceu pelas mãos da comunidade e continua
existindo para servi-la. É uma organização não governamental
mantida pela Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Carneiro, entidade sem fins lucrativos que reinveste nas atividades


de saúde, ensino e pesquisa todo o resultado obtido.

FONTE: <http://pequenoprincipe.org.br/hospital/a-mantenedora/>.
Acesso em: 15 mar. 2020.

Um estudo realizado recentemente por Andrade e Pereira (2019), publicado


pelo IPEA, demonstra que 47% das entidades atuam em prol do desenvolvimento.
Na sequência estão as entidades religiosas, com 20% de participação deste setor,
conforme se observa na figura a seguir:

FIGURA 4 – ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL POR ÁREA DE ATUAÇÃO – 2019

FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/dados-indicadores.html>. Acesso em: 30 nov. 2020.

Para você aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a leitura


da obra:

LOPEZ, F. G. (org). Perfil das organizações da sociedade civil no


Brasil. Brasília: Ipea, 2018.

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Você pode se perguntar por que a necessidade deste setor realizar


estas ações. Poderíamos exemplificar este questionamento utilizando várias
justificativas, mas usaremos como exemplo a relação do PIB com o IDH. O Brasil,
embora tenha se destacado e apresentado um PIB em 2019 de R$ 7,3 trilhões
(no último trimestre divulgado (4º trimestre de 2019), o valor foi de R$ 1.892,7
bilhão), ainda apresenta indicadores muitos baixos em relação ao Índice de
Desenvolvimento Humano em alguns municípios brasileiros, que variam de 0,493
(muito baixo) a 0,599 (baixo) (IBGE, c2020).

Assim, somente nesse exemplo, podemos observar que em todo o território


nacional encontramos uma variedade de problemas sociais, educacionais, de
saúde e segurança pública e uma distribuição de renda desigual.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Brasil é


medido todos os anos e divulgado nacionalmente pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão vinculado à
Organização das Nações Unidas (ONU), levando em consideração
os seguintes critérios de desenvolvimento: educação, saúde e
renda.

Os fatores citados anteriormente, que são utilizados na medição do PIB,


incorporaram-se em uma grande variedade de instituições com diferentes
denominações, como Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações
da Sociedade Civil (OSCs), Associações Comunitárias, Entidades Assistenciais e
Filantrópicas, Fundações e Institutos Empresariais.

No quadro a seguir, poderemos acompanhar de forma resumida a trajetória e


a evolução do terceiro setor e suas denominações de acordo com as legislações.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS QUE


MARCARAM A TRAJETÓRIA DO TERCEIRO SETOR

Ano Evolução
1916 Lei nº 3.071 – OSC como pessoa jurídica.
1935 Lei nº 91 – OSCs como utilidade pública.

Benefícios de dedução fiscal.

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

1959 Lei nº 3.577 – OSCs com certificação de Entidade sem fins filantrópi-
cos.

Isenção da contribuição patronal previdenciária.


1991 Decreto nº 1.366 – criação do programa Comunidade Solidária.

Fundação da ABONG.
1995 Fundação do GIFE.
1997 Criação das RITS (Rede de Informação para o Terceiro Setor)
1998 Lei nº 9.608 – Lei do voluntariado.
1999 Decreto nº 2.999, que dispõe sobre o Conselho da Comunidade
Solidária.

Lei nº 9.790 – Lei das OCIPs.

Criação de Prêmios de Qualidade e Eficiência.

Criação dos Centros de Estudos do Terceiro Setor na academia.


2002 Lei nº 10.406 – Novo Código Civil.

Enquadramento das Sociedades Civis em Associação ou Fundação.


2003 FGV cria o Mapa do terceiro setor – base de dados eletrônica de
organização do terceiro setor.
FONTE: Oliveira e Souza (2015, p. 190)

1 Assim como em outros países, observa-se a cada ano um


crescimento do terceiro setor, que combina ações de outros
dois setores: o primeiro setor, representado pelo governo,
correspondendo assim às ações do Estado para atendimento
das necessidades da sociedade, como segurança, educação e
saúde, e o segundo setor, representado pelo mercado, ocupado
pelas empresas (mercado) que produzem bens e serviços para a
sociedade e visam lucro. Neste sentido, analise as afirmativas a
seguir:

I - É chamado de terceiro setor porque o Estado seria o primeiro


setor, enquanto as organizações do mercado seriam o segundo
setor. Assim, entre o Estado e o mercado existe um universo
de organizações sem fins lucrativos, que se dedicam a ações

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

sociais variadas de sentido público, perseguindo, portanto, fins


de interesse geral.
II - O terceiro setor já ganhou reconhecimento não pelas ações que
desenvolve para toda a sociedade brasileira, mas, sim, pelos
prêmios que recebe anualmente das empresas privadas.
III - No processo de transformação da sociedade, o terceiro setor vem
encontrando respostas criativas para ajudar a mudar o futuro do
país, desenvolvendo ações lucrativas para o mercado brasileiro.
IV - O terceiro setor é o espaço ocupado especialmente pelo conjunto
de entidades privadas que visam lucro e que realizam atividades
complementares às públicas, visando buscar a filantropia.

Assinale a alternativa correta:


( ) Somente a afirmativa I está correta.
( ) As afirmativas I e II estão corretas.
( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
( ) Somente a afirmativa II está correta.

2 Conceitue terceiro setor.


R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_____________________________________________.

2.3 INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS


ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR
Como vimos anteriormente, no decorrer dos últimos anos, incorporou-se uma
grande variedade de instituições com diferentes denominações. Tal situação tem
causado preocupações para alguns autores, pois:

[...] O uso indiscriminado da expressão acabou por tornar o


conceito de Terceiro Setor albergue para todos os modelos de
entidade que não se enquadrem no conceito dos outros dois
setores. Essa ausência de uma definição precisa da expressão

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

faz com que sua utilização muitas vezes mais confunda do que
explique. Ainda mais se for levado em conta o pensamento
predominante, segundo o qual não existe, ainda, no âmbito
do sistema normativo brasileiro, uma definição jurídica de
Terceiro Setor (MÂNICA, 2007, p. 3, grifos nossos).

De acordo com a Constituição Federal de 1988, são atores sociais e políticos


cada vez mais presentes, que de várias formas trazem à vida as premissas da
democracia participativa e do controle social.

Segundo Hudson (1999, p. 7), “existem vários nomes que de um modo geral
fazem parte deste setor. Cada um deles estabelece fronteiras diferentes”. No
Brasil, o código civil faz a diferenciação entre as pessoas físicas e jurídicas. As
pessoas jurídicas são formadas por um grupo de pessoas físicas que se juntam
para determinado fim. Elas se dividem em: direito interno, formado por empresas
de direito público (União, estados, municípios, Distrito Federal, Autarquias) e as
chamadas empresas de direito privado (fundações, Associações, Sociedades,
partidos políticos); e direito externo, formadas por empresas estrangeiras
(governos estrangeiros e organismos internacionais, ONU, OMS, entre outros).

O Art. 44 do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002) apresenta


as seguintes figuras jurídicas: associações, fundações e organizações religiosas.

Como saber qual a diferença entre Associação e Fundação? Vejamos os


exemplos a seguir, eles ajudarão a compreender cada uma das nomenclaturas.

2.3.1 Associações
As associações são formadas por um grupo de pessoas físicas que se
unem em prol de uma causa ou objetivo comum. De acordo com Szazi (2016, p.
27), trata-se de “uma pessoa jurídica criada a partir da união de ideias e esforços
de pessoas em torno de um propósito que não tenha finalidade lucrativa”. Essas
organizações, de acordo com o Art. 53, não podem visar lucro, e necessitam ter
um estatuto social, elaborado de acordo com as obrigações estabelecidas pelo
código civil (BRASIL, 2002).

Entende-se por estatuto “um conjunto de cláusulas contratuais que


relacionam a entidade com seus fundadores, dirigentes e associados, atribuindo-
lhes direitos e obrigações” (CAMARGO, 2001, p. 35).

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Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Um estatuto social deverá conter os seguintes elementos:

Estatuto Social

a) denominação social (Art. 3º, Lei nº 6.404/76 e Art. 1.160,


CC/2002);
b) prazo de duração;
c) sede: município;
d) objeto social, definido de modo preciso e completo (§ 2º, Art. 2º,
Lei nº 6.404/64);
e) capital social, expresso em moeda nacional (Art. 5º, Lei nº
6.404/76);
f) ações: número em que se divide o capital, espécie (ordinária,
preferencial, fruição), classe das ações e se terão valor nominal
ou não, conversibilidade, se houver, e forma nominativa (Art. 11 e
seguintes, Lei nº 6.404/76);
g) diretores: número mínimo de dois, ou limites máximo e mínimo
permitidos; modo de sua substituição; prazo de gestão (não
superior a três anos); atribuições e poderes de cada diretor (Art.
143, Lei nº 6.404/76);
h) conselho fiscal, estabelecendo se o seu funcionamento será ou
não permanente, com a indicação do número de seus membros –
mínimo de três e máximo de cinco membros efetivos e suplentes
em igual número (Art. 161, Lei nº 6.404/76);
i) término do exercício social, fixando a data.

FONTE: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/obrigacoes/
estatutocontratosocial.htm>. Acesso em: 16 mar. 2020.

O estatuto, após aprovação em Assembleia Geral, deverá ser assinado e


registrado no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas da Comarca do município
em que a entidade está estabelecida. No caso de a entidade ser estrangeira, esta
deverá seguir a legislação brasileira vigente.

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Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

O funcionamento de organizações destinadas a fins de


interesse público no Brasil é regulado pelo Decreto nº 3.441, de 26
de abril de 2000, o qual delega competência ao Ministro de Estado
da Justiça para autorizar o funcionamento no Brasil de organizações
estrangeiras destinadas a fins de interesse coletivo, na forma prevista
no Art. 11 do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942.

2.3.2 Fundações
As fundações precisam ser constituídas a partir de um patrimônio
determinado, que fará parte de um fundo com um propósito. Geralmente,
a constituição de uma fundação parte, por exemplo, de um capital deixado
por alguém para que seja utilizado no desenvolvimento de um projeto social,
educacional ou de pesquisa. Nesse caso, o instituidor deverá manifestar sua
vontade de forma clara e especificar a que o patrimônio apresentado por escritura
pública ou testamento se destina.

Fundação Dorina Nowill

A Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma organização sem


fins lucrativos e de caráter filantrópico.

Há mais de 70 anos a fundação tem se dedicado à inclusão


social de pessoas com deficiência visual. Uma das formas como
fazem isso é por meio da produção e distribuição gratuita de livros
em braille, falados e digitais acessíveis, diretamente para o público e
também para cerca de 3.000 escolas, bibliotecas e organizações de
todo o Brasil.

Também oferecem, gratuitamente, serviços especializados


para pessoas com deficiência visual e suas famílias, nas áreas
de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e
empregabilidade.

23
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Com muita dedicação à causa, ao longo das últimas sete


décadas, produziu mais de seis mil títulos, imprimiu dois milhões
de volumes em braille e mais de mil títulos neste sistema! Também
foram produzidas mais de 2,7 mil obras em áudio e cerca de outros
900 títulos digitais acessíveis. Nos serviços de clínica de visão
subnormal, reabilitação e educação especial, já são mais de 17 mil
pessoas atendidas.

Oferece, também, uma gama de serviços, como cursos,


capacitações e consultorias. Por fim, mais recentemente, criou a
divisão Soluções em Acessibilidade (antiga DNA Editora), área
da Fundação Dorina focada na produção e distribuição de livros e
revistas acessíveis nos formatos braille, falado e Daisy, treinamentos,
palestras, adequação de espaços e serviços de acessibilidade na
web.

FONTE: <https://www.fundacaodorina.org.br/a-fundacao/quem-somos/>.
Acesso em: 20 mar. 2020.

Também podem ser constituídas por fundos de empresas, como a Fundação


O Boticário, Bradesco, Fundação Volkswagen, Banco do Brasil, que tem o objetivo
de realizar investimentos em áreas específicas.

Exemplo Fundação O Boticário

Miguel Krigsner, fundador de O Boticário, criou em 1990 a


Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, uma organização
sem fins lucrativos mantida pelo Grupo Boticário.

Para viabilizar as iniciativas da Fundação, bem como as do


Instituto Grupo Boticário e outras ações de sustentabilidade, o Grupo
destina 1% de sua receita líquida anual à Política de Investimento
Social Privado. A Fundação nasceu do entendimento de que a
natureza em equilíbrio é imprescindível para a garantia de vida de
todos os seres.

24
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Para cumprir esse propósito, acredita-se que é importante


integrar três focos de atuação: conhecer e manter áreas naturais
em equilíbrio, buscando soluções inovadoras e o engajamento
da sociedade sobre a importância da natureza preservada para a
qualidade de vida de todos.

No site da Fundação Grupo Boticário você encontrará vários


materiais de apoio a projetos. Para saber mais, acesse:

http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt/conservacao-biodiversidade/
Paginas/Apoio-a-projetos.aspx.

As fundações são fiscalizadas pelo Ministério Público, com base na Lei nº


13.151, de 28 de julho de 2015, quem deve regularmente realizar a prestação de
contas dessas entidades.

O novo Código Civil determina as restrições às atividades


de uma fundação. Pela lei, as fundações só podem ter fins
religiosos, morais, culturais ou de assistência. Em geral,
as fundações são administradas pelo Conselho Curador
(que decide em linhas gerais quanto à forma de atuação
da fundação), Conselho Administrativo ou Diretoria (órgão
executor) e Conselho Fiscal (que realiza o acompanhamento
das contas da fundação) (INSTITUTO PRO-BONO, 2014, p.
23-24).

Algumas empresas não constituem fundações, mas dentro do seu


organograma criam departamentos específicos voltados à responsabilidade social
e ao investimento social privado.

2.3.3 Outras denominações do terceiro


setor (ONGS, OSC e OS)
Você com certeza já ouviu falar nestas denominações: Organizações Não
Governamentais (ONGs); Organização da Sociedade Civil (OSC) e Organizações
Sociais (OS).

As organizações não governamentais (ONGs) surgiram no Brasil


compreendendo um tipo peculiar de organização, constituídas a partir de
um agrupamento de pessoas, estruturadas sob a forma de uma instituição da
sociedade civil, sem finalidades lucrativas, com o objetivo comum de lutar ou

25
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

apoiar determinadas causas coletivas, como erradicação da violência contra a


mulher, melhoria da qualidade de vida de populações vulneráveis, entre outras.

As ONGs enquanto um novo modelo de espaço organizador da sociedade


civil surgem de forma espontânea e com menos burocracia em sua constituição.
Elas representam mecanismos importantes na construção da cidadania e também
na fiscalização das atividades desenvolvidas pelo poder público na gestão de
assuntos públicos e políticos.

Você já teve ter observado que assim como as ONGs, o termo instituto está
presente no nome fantasia de algumas entidades, porém, elas não caracterizam
propriamente uma pessoa jurídica, podendo ser utilizadas tanto por entidade
governamental pública ou privada, como também por aquelas com fins lucrativos,
não lucrativos e filantrópicas, sob a forma de fundação ou associação. Geralmente,
podemos encontrar essa denominação associada às entidades cujas ações são
na área da educação e pesquisa ou à produção científica como: Instituto Ayrton
Senna (educação); Instituto Natura (educação); Instituto Brasileiro de Pesquisa e
Análise de Dados, entre outros.

Considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica de direito


privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados,
conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais
excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos,
bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio,
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os
aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social
(BRASIL, 1999).

Em meio a essa diversidade, algumas características são comuns a todas,


independente da sua área de atuação. São elas:

• Não tem fins lucrativos.


• São formadas por cidadãos que se organizam de forma voluntária.
• Além dos funcionários, também contam com a colaboração de voluntários
no desenvolvimento das atividades.

26
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

• O corpo técnico geralmente é composto por profissionais que se


identificam com a causa.
• São organizações orientadas para a ação, flexíveis e próximas à
comunidade.

Até alguns anos atrás, era muito comum encontrarmos as entidades


do terceiro setor sendo rotuladas pelas seguintes características: é fácil ter
objetivos vagos; o desempenho é difícil de ser monitorado; as organizações
são responsáveis perante muitos patrocinadores; o voluntariado é ingrediente
essencial; os valores precisam ser cultivados; não existe um resultado financeiro
para determinar prioridades, não prestam contas de suas atividades. Atualmente,
essas entidades se encontram estruturadas com uma visão estratégica para
o mercado, pois embora estas não visem lucros, dependem do mercado para
sobreviver.

Muitas vezes essas entidades atuam em áreas poucos atendidas pelo


setor público, outras vezes fortalecem a uma demanda da sociedade, defendem
direitos de populações menos favorecidas e, por isso, deparam-se com desafios
que precisam ser encarados como: identidade com legitimidade, eficiência com
transparência, capacidade de estabelecer parcerias duradouras e sustentabilidade
financeira. Veja na figura a seguir como atualmente esse setor é significativo, visto
que gera muitos empregos, conforme pesquisa realizada por Andrade e Pereira
(2019).

FIGURA 5 – NÚMERO DE VÍNCULOS FORMAIS DE TRABALHO


NAS OSC, SEGUNDO GRANDES REGIÕES, 2018

FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/dados-indicadores.html>. Acesso em: 1º dez. 2020.

27
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Observa-se na figura anterior que em 2018 o setor empregou 2.283.922


pessoas num universo de 7.981.921 entidades existentes formalmente. Além
disso, esse setor conta com o desenvolvimento das ações com voluntários.

O Mapa das Organizações da Sociedade Civil (OSCs),


ou simplesmente Mapa das OSCs, é uma plataforma virtual de
transparência pública colaborativa com dados das OSCs de todo o
Brasil. Tem como objetivos principais:

• dar transparência à atuação das OSCs, principalmente ações


executadas em parceria com a administração pública;
• informar mais e melhor sobre a importância e diversidade de
projetos e atividades conduzidas por essas organizações;
• disponibilizar dados e fomentar pesquisas sobre OSCs; e
• apoiar os gestores públicos a tomarem decisões sobre políticas
públicas que já têm ou possam ter interface com OSCs.

Criado a partir do Decreto nº 8.726/2016, que regulamenta a Lei


nº 13.019/2014 – conhecida como Marco Regulatório das OSCs
– o Mapa é gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA). Ele integra um amplo e crescente volume de base de dados
oficiais, provenientes de fontes públicas e privadas, atualizadas
constantemente. É alimentado ainda por informações enviadas
diretamente pelas OSCs e por entes federados, em um grande
processo colaborativo.

FONTE: <https://mapaosc.ipea.gov.br/sobre.html>. Acesso em: 1º dez.


2020.

28
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

1 Para seguirmos com os nossos estudos, cite as entidades do


terceiro setor que você já teve contato em sua cidade.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.

2 Agora, relate uma experiência que você teve atuando em


entidades do terceiro setor.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.

3 TÍTULOS E CERTIFICADOS: OSCIP,


UTILIDADE PÚBLICA E ENTIDADE
BENEFICENTE DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL
Vimos anteriormente que para se criar uma organização é necessário saber
que ela deverá ter um formato jurídico. Outro ponto a ser observado é verificar se
a entidade terá ou não fins lucrativos, podendo, neste caso, ser enquadrada como
associação ou fundação (dependendo de seu patrimônio).

Agora, veremos que uma vez organizada juridicamente, a entidade poderá


buscar alguns títulos e certificados que lhe beneficiarão legalmente, principalmente
com relação ao pagamento de impostos, e que atestem sua qualidade de OSCIP,
de Utilidade Pública ou de Entidade Beneficente de Assistência Social.

Assim, os títulos e certificados de utilidade pública são: o Título de Utilidade

29
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Pública Federal, estabelecido pelo Decreto nº 50.517/1961 e o certificado


de Utilidade Pública Estadual e/ou Municipal. Para conseguir esse registro é
necessário consultar a legislação em vigor em cada estado e município.

Além disso, temos o registro no Conselho Nacional de Assistência Social


(CNAS); Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos e Registro no Conselho
Municipal, cujas legislações são específicas para cada município.

3.1 CERTIFICAÇÃO DE ENTIDADES


DE BENEFICÊNCIA DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL
As Entidades Beneficentes de Assistência Social deverão seguir os critérios
constantes na legislação para obter a certificação do CEBAS.

CEBAS que é exigido para fins de imunidade à contribuição


patronal para a seguridade social. Para a sua expedição,
analisará a sua pertinência o Ministério da área preponderante
de atuação do interessado (saúde, educação ou assistência
social) e sua obtenção é um bom instrumento para motivar
investidor social, doador ou voluntário a comprometer-se com
a entidade (LISBOA, 2013, p. 129).

Atualmente, os critérios para concessão do CEBAS estão expressos na Lei


nº 13.650, de 11 de abril de 2018, que dispõe sobre a certificação das entidades
beneficentes de assistência social, na área de saúde, de que trata o Art. 4º da
Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009; e altera as Leis nº 12.101, de 27 de
novembro de 2009, e 8.429, de 2 de junho de 1992.

Entre os benefícios para as entidades, destaca-se a isenção de contribuições


para a seguridade social (INSS) garantido pela Lei nº 12.101, de 27 de novembro
de 2009:

Que dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes


de assistência social; regula os procedimentos de isenção de
contribuições para a seguridade social; altera a Lei nº 8.742,
de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nº
8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de
1996, 9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de
maio de 2003, e da Medida Provisória nº 2.187-13, de 24 de
agosto de 2001; e dá outras providências (BRASIL, 2009).

30
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Para saber mais sobre a legislação de certificação de entidades


beneficentes, acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L12101.htm#art4i;
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Lei/L13650.htm.

3.2 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE


CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO
(OSCIP)
O direito à qualificação da entidade como OSCIP é instituído pela Lei nº
9.790/99, de 23 de março de 1999, e regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de
30 de junho de 1999. A Lei nº 9.790/99, em seu Art. 3º, estabelece que para a
entidade receber a qualificação de OSCIP, ela deverá apresentar as seguintes
finalidades:

I - promoção da assistência social;


II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma
complementar de participação das organizações de que trata
esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma
complementar de participação das organizações de que trata
esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável;
VII - promoção do voluntariado;
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e
combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos
socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção,
comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos
humanos, da democracia e de outros valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias
alternativas, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às
atividades mencionadas neste artigo.

31
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a


disponibilização e a implementação de tecnologias voltadas
à mobilidade de pessoas, por qualquer meio de transporte
(BRASIL, 1999).

Ainda no mesmo parágrafo da respectiva lei, está descrito como se verifica a


atuação nas finalidades elencadas anteriormente:

Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às


atividades nele previstas configura-se mediante a execução
direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por
meio da doação de recursos físicos, humanos e financeiros,
ou ainda pela prestação de serviços intermediários de apoio
a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor
público que atuem em áreas afins (BRASIL, 1999).

Qual será o documento a ser analisado para realizar essa verificação? As


finalidades descritas anteriormente deverão estar bem claras no estatuto da
entidade, assim como as demais informações sobre a gestão financeira, recursos
humanos, atuação e responsabilidade dos membros dos órgãos deliberativos e/
ou executivos e conselho fiscal. Além disso, deverá apresentar se os membros
serão remunerados ou não, como se dará a prestação de contas, as auditorias
financeiras; na hipótese de extinção, que eventual patrimônio adquirido com
recurso público seja destinado a outra também qualificada como OSCIP e de
mesma área de atuação.

Para realizar suas atividades, a entidade certificada como OSCIP poderá


obter os seguintes benefícios: repasse de verba (auxílio ou subvenção), também
chamado de convênio, ou doações, como os repassados pelos fundos dos
direitos da criança e do adolescente, projetos culturais, entre outros. Uma outra
forma é contar com os mecanismos de renúncia fiscal, que pode se dar por
imunidade ou isenção (LISBOA, 2013). Veremos no quadro a seguir o que são
estes mecanismos.

32
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

QUADRO 2 – DIFERENÇA ENTRE IMUNIDADE E ISENÇÃO

É a garantia constitucional que veda à


União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios de instituírem impos-
tos sobre o patrimônio, renda e serviços
das pessoas jurídicas sem fins lucrativos
IMUNIDADE que atuarem nas áreas de educação ou
assistência social observados os requisit-
os da lei (Artigo 150, inciso VI, alínea c e
195 da Constituição Federal), tais como:
IPVA, ITCMD, IR, IOF, ISS, IPTU, ITBI, INSS
patronal etc.
Isenção é a faculdade que o governo tem,
mediante lei, de dispensar o pagamento
de tributos que não foi abrangido pela
ISENÇÃO
imunidade visando ao apoio às ONGs ou
à execução de uma política pública, como
CSLL, COFINS, PIS etc.
FONTE: Lisboa (2013, p. 128)

Só pelo fato de a entidade ser uma OSCIP estes direitos estão garantidos?
Não, a entidade também deverá atender alguns requisitos que são estabelecidos
por lei, como instrumento de constituição registrado em cartório, CNPJ, ata de
eleição de diretoria, relatório de atividades, Certificado de Entidade Beneficente
de Assistência Social (CEBAS), entre outros, como as comprovações de
regularidades fiscais em nível municipal, estadual e federal (LISBOA, 2013).

Vale destacar que de acordo com a legislação em vigor, a entidade, ao optar


por ser uma OSCIP, estará abrindo mão do título de Utilidade Pública, a qual
estudaremos mais adiante. Além disso, é importante lembrar que a Resolução
nº 144, de 11 de agosto de 2005, do Conselho Nacional de Assistência Social,
estabelece que entidades qualificadas como OSCIPs, a partir da publicação,
poderão se inscrever nos Conselhos Municipais, Estaduais e do Distrito Federal de
Assistência Social, porém precisam preencher os requisitos legais da respectiva
esfera.

33
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Para saber mais sobre como elaborar o estatuto e quais são os


benefícios que essa certificação traz, sugerimos a leitura do livro:

GRAZZIOLI, A. et al. Manual de procedimentos para o terceiro setor:


aspectos de gestão e de contabilidade para entidades de interesse social.
Brasília: CFC; FBC; Profis, 2015.

1 Com base no que foi estudado e também no seu conhecimento,


cite as vantagens de uma entidade ter o título de OSCIP.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.

4 IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS


SOCIAIS PARA AS ENTIDADES DO
TERCEIRO SETOR
Agora que você já compreendeu qual o papel desenvolvido pelas entidades
do terceiro setor, estudaremos a relação delas com os projetos sociais. Ao planejar
suas atividades a entidade utiliza como base três instrumentos que contribuem
com a tomada de decisão: o plano, o programa e o projeto.

Antes de entrarmos no tema projeto, é importante destacar que quando


pensamos em um projeto, precisamos, enquanto instituição, pensar primeiramente
em nosso planejamento estratégico.

34
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Planejamento estratégico é um documento que prova


a organização de uma base sólida em termos de análise
de contexto, das forças e fraquezas da organização, da
viabilidade e dos riscos de diferentes alternativas de ação
e, acima de tudo, um marco estratégico global orientador
de todas as atividades institucionais (ARMANI, 2002, p.
27, grifos nossos).

Assim, quando uma organização orienta suas ações a partir do planejamento


estratégico institucional, é muito provável que ela consiga minimizar a necessidade
de mudanças inerentes ao projeto que está sendo executado. Dessa forma, os
projetos já nascem com certo grau de maturação (ARMANI, 2002).

Na figura a seguir, poderemos observar a conexão existente entre o


planejamento das ações e esses instrumentos de apoio dentro de uma entidade.

FIGURA 6 – CONEXÃO ENTRE PLANEJAMENTO, PLANO, PROGRAMA E PROJETOS

FONTE: A autora

35
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

O plano é um
Podemos verificar na figura anterior que o planejamento poderá
documento que
resulta de um ser desdobrado em plano, programa ou projetos.
planejamento.
O plano é um documento que resulta de um planejamento e
consolida as decisões tomadas pelos gestores em determinado momento para
alcançar os objetivos da entidade. Ele tem maior abrangência e objetivos amplos.
A implementação de planos geralmente é flexível, objetiva e prática, bem como
condizente com as necessidades e capacidade existente na entidade. Assim,
esse plano pode ser de curto e médio prazo (quinzenal, mensal, trienal e/ou
semestral) (CURY, 2001).

O plano é composto de vários programas, que são estruturados


em forma de projetos.

Os programas são subdivisões que permitem agrupar as


Os programas são
decisões e as ações por áreas afins que de alguma forma se
subdivisões que
permitem agrupar as relacionam entre si. Para que você compreenda melhor, imagine a
decisões e as ações seguinte situação: uma entidade tem por objetivo atuar na área de
por áreas afins que educação e também na preservação ambiental. Assim, ao planejar
de alguma forma se suas ações para o semestre de 2020/1 ela apresentará ao comitê
relacionam entre si. gestor dois programas a serem desenvolvidos: Educação e
Ambiental. Estes programas contemplarão vários outros projetos, por
exemplo, na área da educação: Projeto de Alfabetização, Projeto Brinquedoteca e
Projeto de Leitura. Já o programa ambiental abrigará o Projeto de Reciclagem, o
Projeto Horta Ativa e o Projeto Limpeza da Praça. Observe que de alguma forma
tanto na área de educação como na ambiental os projetos se relacionam entre si
(CURY, 2001).

Os projetos Assim, os projetos correspondem às ações mais pontuais


correspondem
com maior detalhamento e objetivos setoriais. No quadro a seguir
às ações mais
pontuais com maior poderemos visualizar características que diferenciam esses
detalhamento e instrumentos.
objetivos setoriais.

36
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS QUE DIFERENCIAM OS


INSTRUMENTOS: PLANO, PROGRAMA E PROJETO

PLANO PROGRAMA PROJETO


É o documento mais É o documento que indica um É a menor unidade do
abrangente e geral, que conjunto de projetos cujos re- processo de planeja-
contém estudos, análises sultados permitem alcançar o mento. Trata-se de um
situacionais ou diagnósticos objetivo maior de uma enti- instrumento técnico-ad-
necessários à identificação dade. ministrativo de execução
dos pontos a serem atacados, de ações que operacio-
dos programas e projetos nalizam as intenções e
necessários, dos objetivos, os objetivos direcionados
estratégias e metas de uma para as mais variadas
entidade. atividades interventivas
no problema identificado.

FONTE: Adaptado de Cury (2001)

Vimos que os projetos são originários de um programa ou de políticas amplas,


mas o projeto social, o que é? Basicamente, podemos dizer que o projeto social
é uma ação social planejada, estruturada em objetivos, visando alcançar um
resultado com atividades definidas em uma quantidade limitada de recursos e de
tempo (ARMANI, 2002).

Projetos sociais são uma forma de organizar ações para


transformar uma determinada realidade social ou institucional.
Projetos são ferramentas (instrumentos) de trabalho, articuladas
de forma a melhorar ações e resultados desenvolvidos por uma
organização (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003, p.
25, grifos nossos).

Armani (2002, p. 18) ainda afirma que o “projeto social é uma ação social
planejada, estruturada em objetivos, resultados e atividades baseados em uma
qualidade limitada de recursos (humanos, materiais e financeiros) e tempo”.

Dessa forma, os projetos sociais são a melhor maneira para se melhorar


ou intervir numa realidade social de forma técnica e organizada, ágil e prática,
favorecendo a participação efetiva dos envolvidos, ou seja, daqueles que serão
beneficiados.

37
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Os projetos surgem a partir do desejo de mudança.


Mudar a realidade, resolver um problema, alterar uma situação.
Construir, a partir das ideias, uma proposta de ação.

Lembre-se de que os projetos sociais não existem a partir de si mesmos.


Geralmente são construídos a partir da iniciativa de organizações que têm
intervenções sociais de maior amplitude e fazem parte de políticas ou diretrizes
amplas, cuja finalidade vai além das possibilidades da própria organização e, por
isso, estão associados às transformações ocorridas na sociedade, articulações
e políticas sociais. Portanto, não são ilhas isoladas, sempre estão interagindo
através de diversas modalidades de relações, com políticas e programas voltados
ao desenvolvimento social e sustentável.

Além disso, os projetos sociais contribuem para a criação de espaços de


expressões de interesses e visões diferentes, fortalecendo o empoderamento
da sociedade. Assim, configuram uma nova formatação das relações entre
o Estado e a sociedade civil, uma vez que promovem a descentralização do
Estado e a participação da sociedade, representam uma nova configuração das
fronteiras entre o público e o privado, minimizam a complexidade no quadro de
implementação de políticas públicas, redefinem as estratégias de articulação das
políticas sociais e contribuem para o desenvolvimento da sociedade como um
todo (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003).

Nesse contexto, as chances de uma entidade do terceiro setor ou organização


social ter êxito na implementação do projeto está muito relacionada também a sua
cultura e a sua capacidade de gestão. Para tanto, é necessário que sistematize
experiências, para que a partir disso compreenda a problemática a ser enfrentada
e fortaleça as relações de parcerias com o Estado e a sociedade civil.

A atuação social dessas entidades gerenciadas através de projetos quando


bem conduzida tem forte apelo, pois viabiliza o desenvolvimento de ações de
forma organizada e plausível, que podem ser aplicadas no curto e médio período
de tempo. Além disso, contribui para a aplicação de recursos de forma eficiente,
sendo possível avaliar sua eficácia. Por outro lado, também favorece a formação
de parcerias e redes de cooperação, inclusive entre aqueles cujas correntes
ideológicas sejam diferentes (GIEHL et al., 2012).

38
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Eficiência: meios utilizados para se alcançar os objetivos


propostos.

Eficácia: são os resultados e objetivos atingidos, ou seja, se


estes foram efetivamente alcançados.

Nesse contexto, é necessária a participação dos potenciais beneficiários


do projeto na gestão das atividades, pois é impossível promover qualquer tipo
de melhoria em qualquer cenário ou comunidade sem que haja o envolvimento
efetivo nas ações do projeto (ARMANI, 2002).

Segundo Stephanou, Müller e Carvalho (2003), os projetos sociais também


configuram uma ferramenta que delimita uma intervenção quanto aos objetivos,
metas, formas de atuação, prazo de execução, responsabilidades e critério de
avaliação de forma estruturada, conforme podemos observar na figura a seguir.

FIGURA 7 – O LUGAR DOS PROJETOS SOCIAIS

FONTE: Stephanou, Müller e Carvalho (2003, p. 15)

39
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Conforme podemos observar na figura anterior, no âmbito do Governo


os projetos sociais são vistos como uma etapa ou uma forma de trabalho
necessariamente voltada a objetivos globais de uma política pública
governamental. Por outro lado, no âmbito da sociedade civil, os projetos são
capazes de produzir experiências inovadoras e contribuem para o fortalecimento
dos grupos sociais envolvidos, bem como favorecem a democratização da
sociedade (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003).

1 Diferencie Plano, Programa e Projeto.


R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.

2 Conceitue projeto social.


R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_________________________________________________.

40
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

4.1 AS FASES DO CICLO DO


PROJETO SOCIAL
A fase de um projeto social obedece a um ciclo de vida – ele nasce, cresce,
transforma-se e, de certa forma, morre, considerando que todo projeto tem
início, meio e fim. Este ciclo, por sua vez, expressa os principais momentos do
projeto, que envolve a identificação, a elaboração, a aprovação, a implementação
(monitoramento), a avaliação e o replanejamento (quando necessário).

FIGURA 8 – CICLO DO PROJETO SOCIAL

FONTE: Adaptada de Armani (2002)

Podemos observar na figura anterior que o ciclo do projeto social envolve as


seguintes fases, descritas por Armani (2002):

• Fase de identificação: é caracterizada pela identificação da


oportunidade da intervenção, pelo exame preliminar da sustentabilidade
da ideia e pelo diagnóstico da problemática.
• Fase de elaboração: caracterizada pela formulação do objetivo do
projeto, pela proposição de resultados imediatos, pela indicação
de atividades e ações, pela análise da lógica da intervenção, pela
identificação dos fatores de risco, pela definição de indicadores, meios de
verificação e procedimentos de monitoramento e avaliação, pela análise
da sustentação lógica do projeto, pela montagem do plano operacional,
pela determinação dos custos e da viabilidade financeira e pela redação
do projeto.
• Fase de aprovação: é marcada pela aprovação dos recursos
necessários para a execução de todo o projeto.

41
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

• Fase de implementação: envolve o desenrolar das atividades previstas


e a utilização dos recursos com vistas a alcançar os objetivos e
resultados almejados. Nesta fase também ocorrem o monitoramento e a
avaliação das atividades desenvolvidas.
• Fase de avaliação: corresponde à avaliação do projeto após determinado
período de tempo. É nesse momento que nos perguntamos: qual o
impacto e os efeitos causados pelo projeto? Valeu a pena o investimento
dos recursos?
• Fase de replanejamento: a partir da avaliação realizada é possível
rever os objetivos, resultados, fatores de risco, experiências adquiridas e
é hora de planejar novamente.

A cada novo ciclo um projeto deve produzir mudanças significativas na


qualidade de vida das pessoas ou do local, no aprendizado dos envolvidos, ou
seja, deve ser possível estabelecer um novo ciclo de conquistas (resultados) e
de experiências (lições de vida), formando uma Curva do Aprendizado, que
contempla as seguintes fases: ação continuada, reflexão, aprendizado, nova
compreensão e nova análise de contexto (Figura 9).

FIGURA 9 – CURVA DO APRENDIZADO

FONTE: Adaptada de Armani (2002)

Observa-se que as atividades do ciclo do aprendizado formam um todo


integrado e coerente, no qual os diferentes momentos representam etapas
sucessivas e interligadas. À medida que o projeto avança, o ciclo vai se
transformando de uma mera sucessão de etapas em uma verdadeira curva
(espiral) de ação-reflexão, em que as etapas se tornam cada vez mais complexas.

Geralmente falamos que o projeto muda a realidade de um local ou de


uma população, mas também muda a realidade da entidade executora, porque

42
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

depois de passar pelo desenvolvimento de um projeto, é muito provável que esta


entidade não seja mais a mesma, pois terá amadurecido através das experiências
vivenciadas e, assim, estará um degrau acima de quando iniciou o projeto.

Tal amadurecimento acontece em via dupla, ou seja, tanto na organização


quanto nas pessoas envolvidas e/ou beneficiadas, pois a participação e o
desenvolvimento de projetos geram oportunidades como: aprender fazendo,
transformar a realidade, promover a vivência comunitária, estabelecer parcerias,
fazer parte de redes e servir de inspirações para outras pessoas.

1 Cite as etapas do ciclo de um projeto.


R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Caro acadêmico, chegamos ao final do Capítulo 1 dessa disciplina. No
Capítulo 2 estudaremos a construção do projeto social. Nesse capítulo vimos
como o terceiro setor é importante no dia a dia de comunidades mais vulneráveis,
e acabam por complementar as ações que, embora não sejam cumpridas na
íntegra, ainda são de sua responsabilidade.

Além disso, você teve a oportunidade de conhecer os tipos de entidades do


terceiro setor e a legislação aplicada a cada uma das entidades e como estas
podem ser beneficiadas com os títulos e certificados emitidos pelos governos
municipais, estadual e federal.

Com certeza você deve ter percebido que as considerações feitas sobre o
terceiro setor são mais extensas do que foram apresentadas nesse livro, porém,
nosso objetivo nessa disciplina não se resume ao aprofundamento sobre o terceiro
setor. Nosso objetivo nesse capítulo foi de relembrar de forma clara e objetiva
alguns acontecimentos e fatos que marcaram o surgimento dessas entidades.

43
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

No próximo capítulo veremos o passo a passo da construção de um projeto


e como deverá ser elaborado para que se tenha êxito em sua implantação e
credibilidade junto aos parceiros. Até lá!

REFERÊNCIAS

ANDRADE, P. G.; PEREIRA, A. C. R. Por dentro do mapa das OSCS:


metodologia da base de dados (versão 2019) – Nota Técnica n. 26. Brasília:
IPEA, 2019.

ARMANI, D. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão


de projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2002.

BRASIL. Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a


certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os
procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das Leis nº 8.212,
de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de 1996, 9.732, de 11 de
dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da Medida Provisória
no 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12101.
htm#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20certifica%C3%A7%C3%A3o%20
das,1996%2C%209.732%2C%20de%2011%20de. Acesso em: 9 dez. 2020.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.
htm#:~:text=LEI%20N%20o%2010.406%2C%20DE%2010%20DE%20
JANEIRO%20DE%202002&text=Institui%20o%20C%C3%B3digo%20
Civil.&text=Art.,e%20deveres%20na%20ordem%20civil. Acesso em: 10 dez.
2020.

BRASIL. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de


pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e
dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
L9790.htm. Acesso em: 10 dez. 2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.

44
Capítulo 1 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE PROJETOS E ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

CAMARGO, M. F de. Gestão do terceiro setor no Brasil. São Paulo: Futura,


2001.

CORREA, C. E. G. Terceiro setor, responsabilidade social e


desenvolvimento sustentável. Indaial: UNIASSELVI, 2011.

CURY, T. C. H. Elaboração de projetos sociais. In: ÁVILA, C. M. de (Org.).


Gestão de projetos sociais. 3. ed. São Paulo: AAPCS (Associação de Apoio ao
Programa Capacitação Solidária), 2001. p. 3758.

GIEHL, P. R. et al. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e


gestão de projetos sociais. São Paulo: InterSaberes, 2012.

HUDSON, M. Administrando organizações do terceiro setor: o desafio de


administrar sem receitas. São Paulo: Makron Books, 1999.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Índice de Desenvolvimento


Humano no Brasil. c2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/busca.
html?searchword=IDH&searchphrase=all. Acesso em: 15 maio 2020.

INSTITUTO PRO-BONO. Novo manual do terceiro setor. São Paulo: Centro


de Voluntariado de São Paulo, 2014. Disponível em: https://probono.org.br/wp-
content/uploads/2019/06/Manual-do-Terceiro-Setor-2014.pdf. Acesso em: 8 dez.
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OLIVEIRA, G. J. (Coord.). Terceiro setor, empresas e Estado: novas fronteiras
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45
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

PAES, J. E. S. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos,


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PEREIRA, M. Terceiro setor – contextualização: o paradoxo chamado Brasil.


In: PEREIRA, M. (org). Gestão para Organizações Não Governamentais.
Florianópolis: Tribo da Ilha, 2013.

SANTOS, S. X. dos. Organização do terceiro setor. Natal: EdUnP, 2012.

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SOUZA, L. M. Tributação do terceiro setor. São Paulo: Dialética, 2004.

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SZAZI, E. Regulação do terceiro setor no Brasil. 3. ed. São Paulo: Fundação


Peirópolis, 2016.

46
C APÍTULO 2
PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE
PROJETOS SOCIAIS

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Entender como funciona o planejamento.


• Compreender o processo de elaboração de projetos.
• Identificar as etapas de um projeto.
• Elaborar um diagnóstico.
• Conduzir a elaboração do projeto.
• Conduzir a gestão e o monitoramento de projetos.
• Avaliar a execução dos projetos.
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

48
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Agora que você já estudou sobre as entidades do terceiro setor para entender
como os projetos sociais são importantes para que estas entidades sejam
sustentáveis e qual o papel que elas representam na sociedade, neste capítulo
estudaremos de forma detalhada como planejar e quais as etapas de um projeto
social.

No decorrer dos seus estudos, você poderá observar que os projetos sociais
não são fixos, eles podem sofrer alterações sempre que for necessário para
atingir seus objetivos.

Além disso, veremos o quanto a participação da comunidade ou beneficiários


é importante para que se entenda o contexto no qual o projeto será desenvolvido,
para o bom andamento das atividades e o sucesso do projeto.

Também é importante você perceber durante o estudo deste capítulo que,


para elaborar um bom projeto social, é muito importante que seja detalhado cada
uma das etapas, considerando que nem sempre o financiador conhece o contexto
do projeto. Assim, quanto mais informações importantes que justifiquem o seu
desenvolvimento, maiores serão as chances de o projeto ser aprovado.

2 ROTEIRO DE ELABORAÇÃO DO
PROJETO
A redação da proposta ou projeto social deve ser um roteiro básico de
questões que precisam ser respondidas de forma lógica, em que as ideias e os
pensamentos possam se transformar em ações e atividades de um projeto que
incorrerá em resultados.

A literatura também apresenta vários roteiros que podem ser seguidos na


elaboração de um projeto, alguns financiadores até encaminham como anexo
do edital o modelo ao qual o projeto deve ser desenvolvido e apresentado.
Infelizmente, não poderemos lhe apresentar todos os modelos existentes, mas
podemos lhe garantir que as mudanças entre os modelos são muitas vezes até
imperceptíveis.

Neste capítulo, apresentaremos alguns modelos utilizados que trazem


todas as etapas que precisam ser contempladas num projeto. Nem sempre você

49
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

precisará utilizar todas, mas deverá observar quais etapas são necessárias
para o atendimento de suas necessidades e do que está sendo exigido naquele
momento.

Um projeto não se constrói sozinho, ele também não nasce da noite para o
dia. Para realizarmos um bom planejamento, é importante realizar inicialmente
uma reunião com um pequeno grupo para troca de ideias sobre as necessidades
e/ou desafios a serem superados.

Partindo do princípio de que um projeto deve ter início, meio e fim, na figura a
seguir, poderemos observar algumas etapas que compõem um projeto.

FIGURA 1 – ITENS DO PROJETO

Quadro de
Metas

FONTE: Adaptada de Stephanou, Müller e Carvalho (2003)

Você pode observar na figura anterior que a proposta de projeto de forma


macro contempla cinco itens, entretanto, esses itens se dividem em outros
subitens, que formarão o projeto. Essas cinco etapas precisam ser detalhadas de
forma que a pessoa que for receber o projeto consiga ter uma ideia do que você
pretende com esse projeto.

Na sequência, apresentaremos o detalhamento de cada um dos itens


descritos anteriormente. Vamos lá!

2.1 APRESENTAÇÃO
Nesta capa você A apresentação do projeto contempla alguns subitens muito
deverá apresentar: importantes para atrair a atenção e o interesse do leitor, financiador
nome da entidade,
ou investidor. Assim, todo projeto deverá apresentar uma capa.
título do projeto,
cidade e data. Nesta capa você deverá apresentar: nome da entidade, título do
A capa tem a função projeto, cidade e data.
de identificar o
projeto.

50
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

A capa tem a função de identificar o projeto. Devemos lembrar que a primeira


impressão é sempre a que fica, então é necessário que ela seja redigida de forma
correta e com as informações necessárias.

Outro ponto importante é a escolha do título para o projeto. O título será a


identificação da ação a ser realizada, por isso ele precisa se identificar com a
causa, ou seja, a marca do projeto. Nesse sentido, Stephanou, Müller e Carvalho
(2003) alertam para o nome do projeto não ser o mesmo da entidade que esteja
sendo apresentada, pois neste caso, pode parecer que a prioridade é a promoção
da entidade.

Título: Projeto Horta Orgânica na Comunidade de Balsas.

O segundo subitem que vai na apresentação é a identificação e qualificação


da entidade. Nesse caso deverão ser apresentados os dados de identificação,
que compreendem: nome, endereço, registro jurídico (nº CNPJ, nº Inscrição nos
Conselhos (quando houver), inscrição estadual etc.).

Para apresentar a qualificação da entidade, é necessário Para apresentar


fazer um pequeno histórico da entidade de forma breve e objetiva, a qualificação
enfatizando qual a sua experiência, quais os projetos que já da entidade, é
desenvolveu, quais os resultados alcançados e identificar os seus necessário fazer um
membros e sua qualificação profissional. É importante constar os pequeno histórico da
entidade de forma
prêmios que a instituição já recebeu e quais as entidades que mantêm
breve e objetiva.
parceria e/ou recebe apoio. Também é necessário deixar claro que a
entidade será a proponente ou executora do projeto.

Proponente: quem propõe o projeto, ou seja, a entidade


responsável por ele, porém, nem sempre será a executora.

Executora: quem executa o projeto, os responsáveis pelas


ações/atividades que farão parte do projeto.

51
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Um método simples para a definição da apresentação, que facilita a sua


elaboração, é responder às seguintes perguntas:

O que será feito? É importante determinar, de forma precisa


e clara, as ações gerais que deverão ser realizadas durante o
andamento do projeto para se alcançar o objetivo proposto e
se obter os benefícios esperados.
Quando? Todo projeto deve possuir um prazo para a sua
realização, deve conter início, meio e fim, o que deverá ser
objetivamente definido para que as ações, metas e resultados
possam ser monitorados ao longo do tempo e avaliados ao
final do projeto.
Onde? É imprescindível à caracterização do projeto que seja
delimitada a área geográfica em que se pretende realizá-lo para
que se possa fazer o levantamento adequado da característica
do local, recursos e infraestrutura necessária para a execução
do projeto.
Por quê? Ao perguntar “por que” passamos a refletir sobre
a situação-problema enfrentada ou sobre uma situação de
oportunidade percebida e a real necessidade da realização
de um projeto, visando gerar ações positivas, reverter de
forma eficiente os problemas enfrentados ou aproveitar a
oportunidade observada.
Quem? Determinar o público-alvo do projeto é necessário para
verificar as necessidades reais do público que se beneficiará,
com o objetivo de personalizar as ações a serem realizadas
visando otimizar os efeitos positivos das ações com relação
aos participantes.
Como? O caminho a ser percorrido, ou seja, as ações a
serem realizadas para atingir um objetivo maior devem ser
apresentadas de forma clara e concisa para o entendimento do
contexto geral do projeto e avaliar como, por quais meios, os
objetivos finais serão perseguidos.
Quanto? Com essa pergunta pretende-se determinar quais são
as metas, ou seja, os objetivos parciais, o que será realizado
no decorrer do projeto para atingir o objetivo final. As metas
deverão ser estabelecidas pensando de forma quantitativa e
também qualitativa para avaliar o andamento geral do projeto
(BIANCARELLI; DEPRAZ, 2013, p. 49-50. Grifo nosso).

Bem, até aqui estudamos os subitens que compõem a apresentação do


projeto. Agora, estudaremos de forma detalhada os subitens que compõem os
aspectos conceituais do projeto.

52
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

1 Para seguirmos com nosso conteúdo, pense num projeto e


fale sobre os itens principais que precisam ser descritos na
apresentação deste.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO


PROJETO
Os aspectos conceituais do projeto envolvem o desenvolvimento de várias
etapas, como a descrição do contexto do projeto, a justificativa, a construção dos
objetivos (geral e específicos) e a definição do universo do projeto.

2.2.1 Contexto do projeto


A primeira divisão dos aspectos conceituais do projeto é o contexto do
projeto. O contexto do projeto demonstrará que a entidade que está apresentando
o projeto conhece a realidade local. Nesta etapa, você precisará ter a percepção
dos problemas e potencialidades do local, que serão importantes para a definição
da ideia ou “sonho”. Para você realizar essa contextualização, poderá utilizar
instrumentos que ajudarão a analisar a realidade local, como o diagnóstico.

Como realizar o diagnóstico? O diagnóstico consiste na O diagnóstico


compreensão da realidade local e dos fatores internos que podem deve ser elaborado
influenciar de forma positiva ou negativa na qualidade de vida considerando as
das pessoas. O diagnóstico deve ser elaborado considerando as informações mais
informações mais relevantes para a explicação da situação atual e relevantes para
a explicação da
determinação futura. Para demonstrar o domínio e seu conhecimento
situação atual e
com relação ao local a ser implementado o projeto, você poderá determinação futura.
ainda combinar as informações e experiências coletadas junto à
comunidade (diagnóstico participativo), com dados secundários, procurando
identificar e organizar informações econômicas (orçamentos municipais, renda
média das famílias), socioculturais (condições de vida da população, trajetória
de vida), ambientais (recursos naturais disponíveis no local e no entorno, solo,
relevo, acesso à infraestrutura), entre outros (ARMANI, 2002; BUARQUE, 1998).

53
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Diagnóstico participativo: é uma técnica de diagnóstico


utilizada para os projetos de âmbito local, no qual os atores sociais
são envolvidos no processo com o objetivo de verificar suas
experiências, necessidades, interesses de forma que eles se tornem
sujeitos da ação (ARMANI, 2002).

Se você quiser um maior aprofundamento no tema de


diagnóstico participativo, a leitura da obra a seguir poderá ajudá-lo:
BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável:
metodologia de planejamento. São Paulo: Garamond, 2005.

A realização do diagnóstico deve ser bem estruturada. Na figura a seguir


poderemos observar cada um dos passos que devemos seguir.

FIGURA 2 – ETAPAS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO

FONTE: A autora

54
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

O primeiro passo é a análise dos atores envolvidos, em que se monta


uma equipe composta por pessoas com conhecimento técnico, que sejam
conhecidas na comunidade e pessoas da comunidade.

O elemento humano é parte integrante e fundamental dessas


atividades [...], pois dentre vários recursos utilizados é o único
que dispõe de vida, inteligência e dinamismo, mas quase
sempre esse processo de conversão é ainda mensurado e
avaliado de maneira simplista, quantitativa e quase sempre
segmentada e parcelada (CHIAVENATO, 2008, p. 28).

O segundo passo é planejar esse diagnóstico, a partir de um roteiro,


verificar quais ferramentas poderão ser utilizadas para obter os dados de
diferentes formas. Essas informações deverão permitir uma análise da realidade
ou contexto envolvendo a participação dos interessados.

A participação dos potenciais beneficiários do projeto na sua


gestão pode ser considerada como um fim em si mesmo, uma
vez que é impossível promover a qualidade de vida, cidadania
e desenvolvimento sem que haja efetivo envolvimento dos
potenciais beneficiários da ação no curso do projeto (ARMANI,
2002, p. 28).

Na coleta dessas informações, você poderá utilizar diversas ferramentas


de diagnóstico como: entrevista semiestruturada, caminhada transversal, mapa
participativo, linha do tempo, árvore de problemas, matriz de priorização, Matriz
FOFA, entre outras (SILVA et al., 2014).

Cada uma dessas ferramentas levará você a uma compreensão melhor


da realidade, conforme veremos a seguir. Não necessariamente você fará uso
de apenas uma dessas ferramentas, poderá sempre que necessário utilizar a
combinação delas, de forma que você consiga o maior número de informações
possíveis acerca do contexto em que o projeto será realizado.

Para uma melhor compreensão dessas ferramentas de diagnóstico, a seguir


você terá um pequeno resumo de cada uma delas.

a) Entrevista semiestruturada

A técnica da entrevista semiestruturada se dá, em geral, por uma conversa


informal, na qual são levantadas várias informações sobre o local, a comunidade,
a cultura dessas pessoas, quais as necessidades do local, os sonhos e os planos
para o futuro, entre outras (SILVA et al., 2014).

55
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Por exemplo, se o seu projeto for voltado à agroecologia poderão ser


realizadas as seguintes perguntas, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 1 – MODELOS DE PERGUNTAS UTILIZADAS


EM ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS

SOBRE A FAMÍLIA SOBRE A PROPRIEDADE

Quem mora na casa? Onde está localizada e qual o taman-


ho? Possui titulação da propriedade?
Desde quando moram na propriedade?
Quais os bens da propriedade (ben-
Qual a renda média mensal da família? feitorias, equipamentos, maquinário)?

Tem energia elétrica?

Qual a fonte de água (agência distribui-


dora, açudes, poços, rio ou nascente)?
QUANTO À PRODUÇÃO E EXTRAÇÃO DE PRO- QUANTO AO SISTEMA DE PRODUÇÃO
DUTOS
Qual o histórico de uso da terra?
Quais as principais atividades desenvolvidas
Como maneja a pastagem (uso do fogo,
(comerciais e não comerciais)?
pastejo rotacionado, cercas)?
Como se dá a localização das atividades na pro-
Quais as principais dificuldades para a
priedade?
produção?
Quais os produtos cultivados na propriedade e
Como é feita a adubação dos cultivos
quantidade produzida?
(usa fertilizantes, calcário, cinzas, res-
tos de culturas, compostos)?

Há incidência de pragas e doenças?


Como faz o controle?

Quais tipos de sementes são usados


(próprias ou compradas)?
FONTE: Adaptado de Silva et al. (2014)

b) Caminhada Transversal

A caminhada transversal é realizada com um membro da comunidade,


conhecendo os espaços físicos deste local. Durante essa caminhada você com
certeza identificará outros problemas e necessidades. O ideal é que você faça um

56
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

registro fotográfico, para que depois possa ser realizado um comparativo entre o
antes e o depois (SILVA et al., 2014).

c) Mapa Participativo

O mapa participativo é realizado por um registro gráfico dos espaços físicos


e identificando em quais lugares estão os problemas. A partir dessa ferramenta
é possível compreender muitas vezes as causas dos problemas e pensar novas
alternativas que poderão contribuir na melhoria do local, ou, até mesmo, colocar
em prática as ações esperadas para o futuro (SILVA et al., 2014).

FIGURA 3 – MODELO DE MAPA PARTICIPATIVO

FONTE: Silva et al. (2014, p. 33)

Para saber mais, indicamos o livro a seguir:


BROSE, M. Metodologia participativa: uma introdução a
29 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001.

57
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

d) Linha do Tempo

A linha do tempo é importante, pois descreve o passado, o presente


e o futuro, ou seja, ela permite que você relembre fatos importantes que já
aconteceram e que de certa forma deixaram marcas positivas e/ou negativas
no local. Para se traçar essa linha do tempo, você poderá buscar informações
com pessoas antigas no local, fotos, filmes, reportagens de jornal, entre outros
instrumentos que retratem a história do local (SILVA et al., 2014).

FIGURA 4 – MODELO DE LINHA DO TEMPO

FONTE: Silva et al. (2014, p. 34)

e) Árvore dos Problemas

Antes de adentrarmos em como devemos elaborar e utilizar a ferramenta da


árvore do problema, é importante deixar claro o que é um problema.

[...] um problema é uma situação negativa que afeta um


determinado grupo de pessoas ou população. A existência de
um problema é determinada pelo seu efeito em determinado
grupo ou população. A definição de um problema, dentro
de um projeto, deve ser realizada a partir da análise central
em um problema principal, formulado a partir de um estado
negativo. Um problema é uma situação negativa que poderá
ser solucionada a partir de tomadas de decisão e a realização
de ações planejadas (BIANCARELLI; DEPRAZ, 2013, p. 50-
51, grifo nosso).

A árvore do problema geralmente é utilizada na análise de causa e efeito de


um determinado problema identificado a partir da utilização das outras ferramentas,
já citadas anteriormente. Como o próprio nome já diz, ela é construída no formato
de uma árvore, em que as raízes dessas arvores simbolizam as causas dos
problemas, no tronco da árvore se encontra o problema, e nos galhos e folhas são
colocados os efeitos desses problemas na comunidade. A partir da construção
da árvore com seus elementos (causas, problemas e efeitos) é possível realizar
a análise do todo, analisar o problema a fundo, com o objetivo de estabelecer as
causas primárias que serão o ponto de partida para a busca de soluções (SILVA
et al., 2014).

58
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Na figura a seguir, podemos observar que o problema identificado após a


aplicação dessa metodologia foi a redução da quantidade de água, ocasionada
por assoreamento do rio, diminuição das nascentes, disposição incorreta do
lixo (lixo no rio) e corte da mata, que influencia na falta de água (para animais e
humanos), irrigação e diminuição da quantidade de água produzida.

FIGURA 5 – MODELO DE ÁRVORE DO PROBLEMA

FONTE: Silva et al. (2014, p. 36)


f) Matriz de priorização dos problemas

A matriz de priorização dos problemas é elaborada a partir do coletivo,


ou seja, a comunidade deverá elencar quais são os problemas prioritários a
serem solucionados. Estes problemas podem ser levantados nas entrevistas,
caminhadas e na discussão com a comunidade. A partir dessas informações é
construído um quadro chamado de “matriz”, em que são elencados por ordem de
prioridade os problemas que deverão ser tratados com maior ou menor grau de
urgência (SILVA et al., 2014).

59
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

FIGURA 6 – MATRIZ DE PRIORIZAÇÃO

FONTE: <http://www.arrudaconsult.com.br/2019/01/matriz-de-relevancia-
x-urgencia-aprenda.html>. Acesso em: 15 maio 2020.

g) Matriz FOFA

A matriz FOFA é uma ferramenta muito utilizada pelas organizações na


elaboração de seu planejamento estratégico, pois permite que sejam analisados
os ambientes internos e externos da organização. Nessa análise são identificados
os seguintes componentes da matriz: Fortalezas (F), Oportunidades (O),
Fraquezas (F), e Ameaças (A) – FOFA. As fortalezas e fraquezas nessa matriz
representam os fatores internos, aqueles que possuímos maior controle de ação;
já as oportunidades e ameaças indicam os fatores externos, ou seja, aqueles com
os quais temos menor controle. Através desses fatores é possível identificar os
recursos disponíveis e os desafios a serem enfrentados que contribuirão para a
construção do plano de ação.

60
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

FIGURA 7 – MODELO DE MATRIZ FOFA OU SWOT

FONTE: <https://rockcontent.com/blog/como-fazer-uma-
analise-swot/>. Acesso em: 15 maio 2020.

Caro acadêmico, você encontrará vários modelos de tabelas,


gráficos e registros para cada uma dessas ferramentas, cabe a você
optar pelo modelo que se adéque a sua necessidade.

Agora que você já conheceu as ferramentas que lhe ajudarão


Que a essência
na coleta de informações e dados para o diagnóstico, voltaremos do diagnóstico é o
ao passo a passo de sua elaboração. Assim, de posse dessas diálogo.
informações, o terceiro passo é a realização do diagnóstico. Silva
et al. (2014) afirmam que a essência do diagnóstico é o diálogo. Assim, fique
atento ao que está sendo dito, esteja aberto para uma escuta ativa, em hipótese
alguma complemente a frase e também não induza às respostas do entrevistado.
Permita que outras perguntas que não estão no seu roteiro possam surgir durante
a conversa.

O quarto passo consiste em organizar as informações coletadas de forma


simples, clara e objetiva. Após a análise das informações, elabore um relatório do
diagnóstico.

O quinto passo consiste em apresentar esse resultado para a


comunidade. Certifique-se de que as informações foram interpretadas da forma

61
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

correta. Para apresentação desses resultados, você poderá utilizar mapas,


gráficos e evolução histórica dos acontecimentos. Todas essas informações serão
importantes no planejamento das ações.

Após aprovação e adequação do diagnóstico pela comunidade, o sexto e


último passo é planejar as ações do projeto. Para conduzir essa etapa, você
poderá elaborar um plano de trabalho com as atividades que precisarão ser
realizadas. Essas informações serão muito importantes para se pensar o objetivo
geral e específico do projeto.

Devemos lembrar que nem sempre a pessoa que está recebendo


o projeto tem conhecimento da situação ou do local em que o projeto
será desenvolvido, por isso a necessidade de se caracterizar a
realidade, de forma que a escrita do contexto contemple todas as
informações e argumentos necessários para o entendimento da
situação.

De acordo com Stephanou, Müller e Carvalho (2003), os


Os textos e as textos e as informações fornecidas devem estar adequados aos
informações destinatários. Por exemplo, para um projeto encaminhado para
fornecidas devem um organismo internacional, visando à obtenção de recurso para
estar adequados
implementação de um projeto em determinada região do Brasil em
aos destinatários.
que esta agência nunca atuou, será necessário oferecer informações
mais amplas sobre o país e a região em questão.

1 Vamos exercitar nosso conhecimento. Busque identificar alguma


problemática que possa ser resolvida com o desenvolvimento
de um projeto social, utilizando como ferramenta a Árvore da
Problematização.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

62
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

2.2.2 Justificativa do projeto


Após entender o contexto do projeto, os anseios, os problemas e os
sonhos da comunidade ou pessoas envolvidas no projeto, chega o momento
de defendermos nossa ideia, ou seja, apresentar a justificativa para que esse
projeto seja executado.

Assim, é importante que a justificativa apresentada consiga “A justificativa


responder aos seguintes questionamentos: por que o projeto deve deverá abranger de
ser implementado? Por que devemos realizar o projeto? Por que o forma clara, concisa
e objetiva quais os
projeto necessita de apoio? “A justificativa deverá abranger de forma
benefícios sociais
clara, concisa e objetiva quais os benefícios sociais e econômicos que e econômicos
o projeto trará ao público-alvo do projeto” (BIANCARELLI; DEPRAZ, que o projeto
2013, p. 54). A justificativa, portanto, deve ser capaz de demonstrar trará ao público-
e convencer o leitor de que o projeto proposto se baseia numa visão alvo do projeto”
consistente acerca dos problemas sociais. (BIANCARELLI;
DEPRAZ, 2013, p.
54). A justificativa,
“A justificativa e o contexto caminham de maneira conjunta. portanto, deve
[...] deve-se direcionar o texto para explicar por que a estratégia ser capaz de
de ação do projeto foi escolhida para resolver os problemas e para demonstrar e
aproveitar as potencialidades que foram anteriormente apresentados convencer o leitor
no contexto” (SILVA et al., 2014, p. 16). de que o projeto
proposto se
baseia numa visão
A justificativa deve ser capaz de demonstrar que a entidade que consistente acerca
propõe o projeto tem a qualificação necessária e legitimidade social dos problemas
para sua execução e que o momento em que está sendo apresentado sociais.
é adequado.

2.2.3 Objetivos do projeto

No projeto, os objetivos desempenham um papel de destaque, pois


expressam o que se quer transformar a partir do projeto, ou seja, é nesse
momento que expressaremos com mais clareza o que se pretende fazer e aonde
se quer chegar.

De acordo com Cury (2001, p. 45), “não é fácil formular objetivos, mas sua
elaboração e delimitação, sua clareza e legitimidade são fundamentais para o
êxito de qualquer projeto, já que será em função dos objetivos traçados que todas
as ações serão pensadas, executadas e avaliadas”.

63
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

O autor, ainda no contexto da formulação de objetivos, destaca a necessidade


de se observar a existência de alguns pré-requisitos implícitos na escolha dos
objetivos de um projeto:

• aceitabilidade – deve ser aceitável para as pessoas cujas


ações se acham envolvidas na sua execução.
• exequibilidade – tem de ser exequível dentro de um tempo
razoável.
• motivação – deve ter qualidades que sejam motivadoras.
• simplicidade – deve ser simples e claramente estabelecido.
• comunicação – deve ser comunicado a todos que estejam,
de alguma forma, ligados ao projeto (CURY, 2001, p. 45, grifos
nossos).

Esses objetivos se dividem em: objetivo geral e objetivos específicos.

O objetivo geral tem a finalidade de apresentar de forma ampla a mudança


que o projeto pretende contribuir com o problema apontado pela comunidade.
É muito comum recebermos um projeto com mais de um objetivo geral, mas é
preciso destacar que cada projeto apresenta apenas um objetivo geral.

Um projeto deverá ter apenas um objetivo geral, se houver mais


de um, podemos dizer que há mais de um projeto (STEPHANOU;
MÜLLER; CARVALHO, 2003).

Na sequência são apresentados os objetivos específicos dos projetos. Os


objetivos específicos são aqueles considerados concretos e que normalmente
se desdobram em atividades ou ações que geraram algum resultado, que levarão
ao alcance do objetivo geral do projeto.

Atividades do projeto: agrupamento de ações concretas, de


forma que um conjunto de ações deve ser realizado para viabilizar
cada atividade (ARMANI, 2002).

64
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Essas atividades serão a base para a construção do orçamento e do


cronograma físico-financeiro do projeto.

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS


Exemplo 1

Projeto Desenvolvido pelo Centro Ecológico em Canoinhas (SC)


Obje�vo geral: consolidar na região de Balsas uma rede de produção orgânica.
Obje�vos específicos:

1. aumentar o número de produtores orgânicos vinculados à rede;


2. ampliar a capacidade de produção de erva-mate orgânica;
3. reforçar uma cultura de cooperativismo e solidariedade junto à
rede;
4. assegurar o funcionamento de um sistema participativo vinculado
à rede;
5. implantar uma metodologia de trabalho participativo para o
desenvolvimento local.

Exemplo 2:

Projeto da Associação de Moradores do “Bairro X”


Obje�vo geral: valorizar e preservar o patrimônio cultural imaterial, através de ações
culturais que envolvam atividades com crianças, adolescentes e adultos da comunidade
tradicional dos moradores do “Bairro X”.
Obje�vos específicos:

1. reorganização dos grupos tradicionais da cultura local;


2. registrar os elementos de cultura do “Bairro X”;
3. colocar “focos de luz” em pessoas e fatos que têm grande
significado na história do território, mas se encontram no
anonimato;
5. registrar as lembranças e vivências ainda presentes na memória
dos moradores do “Bairro X’.
FONTE: A autora

Observe que tanto no exemplo 1 como no exemplo 2 são apresentados


apenas um objetivo geral e vários específicos, que se transformarão em atividades
que levarão ao alcance do objetivo geral, como já mencionamos anteriormente.
Assim, ao descrever os objetivos específicos, precisamos fazer o seguinte
questionamento: as atividades de cada objetivo específico são necessárias e
suficientes para alcançar o objetivo geral?

65
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Agora exercitaremos um pouco nosso conhecimento. Com base


no que estudamos até aqui e nos dados coletados anteriormente,
defina o objetivo geral e específico de seu projeto e apresente
uma justificativa.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_______________________________________________.

2.2.4 Público-Alvo
O próximo passo consiste em apresentar a descrição do público-alvo. No
projeto, o público-alvo geralmente é apresentado de duas formas: direto e indireto.

O público-alvo direto é a população diretamente influenciada pelas ações


do projeto. Já o público-alvo indireto é a população mais distante e que de
alguma forma se relaciona com o projeto.

Ao descrever esse público-alvo poderão ser considerados fatores, como


minorias étnicas, questões de gênero, população vulnerável e em situação
de risco, ou ainda, população com necessidades especiais e/ou de políticas
compensatórias.

2.3 QUADRO DE METAS


Dando sequência aos estudos das etapas que compõem um
É nesse momento
que conseguimos projeto social, agora estudaremos sobre a composição do quadro
fazer com que os de metas. O quadro de metas é uma parte muito importante dentro
objetivos específicos de um projeto. É nesse momento que conseguimos fazer com que os
elencados no projeto objetivos específicos elencados no projeto se transformem em ações
se transformem em e resultados.
ações e resultados.

Você encontrará na literatura vários modelos. Não existe o


modelo bom ou ruim, todos os modelos são desenvolvidos visando atender à
necessidade da proposta, porém, independente do modelo a ser adotado, este

66
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

necessita apresentar três elementos fundamentais: ações, indicadores de


resultados e meios de verificação, conforme veremos a seguir.

QUADRO 3 – MODELO DE QUADRO DE METAS (SIMPLIFICADO)

AÇÕES/ATIVIDADES INDICADORES DE RESULTADOS MEIOS DE VERIFICAÇÃO


OBJETIVO

FONTE: A autora
As ações muitas
As ações muitas vezes também recebem o nome de atividades, vezes também
estratégias, ou operações, mas independente da nomenclatura recebem o nome
adotada, representa o conjunto de atividades práticas que serão de atividades,
desenvolvidas para cada um dos objetivos. Cada objetivo específico estratégias, ou
poderá ter uma ou mais ações. operações.

Consideraremos o exemplo apresentado anteriormente, que tinha como


objetivo geral consolidar na região de Balsas uma rede de produção orgânica,
cujo um dos objetivos específicos era aumentar o número de produtores orgânicos
vinculados à rede. Para alcançar esse objetivo, teremos com certeza que fazer
mais de uma ação, então, vamos lá.

1ª Atividade: identificar e mapear os produtores orgânicos da região


do projeto.
2ª Atividade: agendar uma reunião.
3ª Atividade: verificar um espaço para realizar a reunião.
4ª Atividade: convidar os produtores.
5ª Atividade: fazer um cadastro dos produtores.

Viu, só para esse objetivo específico foram elencadas cinco atividades


diferentes.

Por ações, deve-se entender os procedimentos necessários


para a realização dos objetivos específicos (STEPHANOU; MÜLLER;
CARVALHO, 2003).

67
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

As ações também precisam ser passíveis de quantificação, ou


Indicadores de seja, é necessário que elas possam ser quantificadas, por exemplo,
resultados, são o número de pessoas que seriam beneficiadas e incluídas na
“desejos práticos
cooperativa de produtores de orgânicos. A quantificação é muito
de onde se quer
chegar”. importante para que se tenha êxito na avaliação do projeto. Para
isso, em todo projeto são criados os chamados indicadores de
resultados.

Os indicadores de resultados, de acordo com Stephanou, Müller e


Carvalho (2003, p. 61), são “desejos práticos de onde se quer chegar”. Portanto,
os indicadores são construídos a partir das metas estabelecidas no projeto.
Os indicadores de resultados estão relacionados à situação existente no local,
variável que será observada pela equipe do projeto e também com os meios de
verificação.

Indicador é um instrumento de medição utilizado para indicar


mudanças na realidade social que nos interessa (ARMANI, 2002).

Ao criar os indicadores podemos dividi-los em duas categorias: de


quantidade e de qualidade.

a) Os indicadores de quantidade referem-se à quantidade de benefícios


que o projeto trará à comunidade.
b) Os indicadores de qualidade medem a qualidade de utilização de algo
que o projeto construiu ou as mudanças que ocorreram.

Por exemplo, se fôssemos mensurar através de indicadores o nível de


participação da comunidade do projeto, quais seriam nossos indicadores?

Poderíamos utilizar como indicadores quantitativos: percentual de pais/


mães/moradores presentes na reunião de apresentação da ideia; percentual
de representantes da sociedade organizada. Como indicadores qualitativos, o
grau de envolvimento (alto, médio ou baixo) dos atores na reunião; capacidade
de iniciativa da comunidade (alto, médio ou baixo) em relação aos problemas
comunitários.

68
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Assim, se o seu projeto apresentar objetivos e resultados mais tangíveis, mais


facilmente observáveis, a tendência é a utilização de indicadores quantitativos,
mas no caso de o projeto apresentar objetivos e resultados mais intangíveis,
como mudança nas relações interpessoais na comunidade, há a predominância
de indicadores mais qualitativos.

Você deve estar se perguntando: existe alguma metodologia específica


para adotar na elaboração de indicadores? Podemos dizer que a elaboração
de indicadores não é uma receita pronta, mas seguir uma sequência de
procedimentos ajuda nesse momento. No quadro a seguir, você pode observar os
passos utilizados na elaboração de indicadores.

QUADRO 4 – SEQUÊNCIA BÁSICA DE PASSOS PARA


A ELABORAÇÃO DE INDICADORES

Pergunta Base Ação Exemplo


Para quê? Definir a variável específica a Nível de associativismo
ser avaliada
O quê? Indicar concretamente o que Variação do índice de asso-
vai se avaliar ciados na cooperativa local
Quanto? Quantificar a variação espe- Aumento de 20% de produ-
rada tores na produção de orgâni-
cos em relação à situação
inicial
Quem? Definir grupo social de Produtores de orgânicos res-
referência identes na região de Balsas
Quando? Indicar a partir de quando e Verificar a variação de partic-
quanto tempo ipação a cada ano
Onde? Indicar a localização geográfi- Cooperativa de produtores
ca de referência orgânicos da região de Balsas
Como? Indicar os meios de verifi- Consulta regular no cadastro
cação da cooperativa de produ-
tores.
FONTE: Adaptado de Armani (2002)

Depois de seguir os passos apresentados no quadro anterior, é importante


você verificar se esse indicador é apropriado através do chamado teste de
viabilidade ou validade. Inicialmente é preciso verificar se o indicador é viável,
analisando o que o indicador demandará de tempo e recursos para ser verificado.
Na sequência, verifica-se se esse indicador é válido, ou seja, se ele é capaz de
demonstrar que o que está sendo medido é efetivamente resultado do projeto.

69
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Para você ampliar seus conhecimentos sobre indicadores,


recomendamos a leitura das obras:

JANNUZZI, P. de M. Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de


dados e aplicações. 6. ed. Campinas: Alínea, 2017.

JANNUZZI, P. de M. Monitoramento e avaliação de programas sociais:


uma introdução aos conceitos e técnicas. Campinas: Alínea, 2016.

Já os meios de verificação respondem de forma complementar à pergunta:


como os resultados serão alcançados?

Determinar os meios de verificação significa criar um sistema de informações,


dados e avaliações, em que será possível, no decorrer do desenvolvimento das
ações, verificar se os resultados estão sendo alcançados.

Considerando nosso exemplo anterior, de aumentar o número de produtores,


o resultado será conseguir 100 novos produtores após um ano de trabalho. A
verificação desse resultado será a filiação de pessoas na cooperativa.

Vejamos agora um exemplo de quadro de metas preenchido. Para preencher


o quadro de metas, utilizaremos os elementos (fictícios) referentes ao exemplo do
objetivo específico apresentado anteriormente.

70
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

QUADRO 5 – MODELO DE QUADRO DE METAS DETALHADO


Objetivos (espe-
Atividades Metodologia Resultados Recursos Prazo
cíficos)
Formar multiplica- Divulgar o início A divulgação do Inscrição de no Papel, caneta, Janeiro e fe-
dores no ramo de do projeto junto à projeto será real- mínimo 60 pes- computador e vereiro 2020.
produção orgânica. comunidade de pro- izada nas reuniões soas. impressora.
dutores. e celebrações da
comunidade.
Selecionar os partic- Observação da Seleção de pes- Sala, cadeiras, Janeiro e fe-
ipantes. renda familiar soas com renda quadro branco, vereiro 2020.
dos interessados familiar de até três papel, caneta e
através de entrev- salários mínimos. projeto de mídia.
istas.
Aulas semanais Aulas dialogadas e Participação em Apostila, mate- Março e abril
do módulo básico: participativas com no mínimo 75% rial de limpeza 2020.
como preparar o uso de multimídia. das aulas de cada e higiene, café,
solo. módulo. açúcar e água.

Aulas semanais do
módulo específico:
agricultura orgânica.
Visitar experiências Visitas realizadas Conhecimento de Ônibus Abril 2020
de cooperativas in loco de comu- experiências con-
ligadas à produção nidades de produ- cretas de coletiv-
orgânica tores orgânicos idade e produção
sustentável
Cultivo de alimentos Preparo da terra Conhecimento e Insumos Abril, maio, jun-
utilizando apenas e de fertilizantes prática na área de necessários na ho e julho 2020
insumos sustentáveis sem uso de produção orgânica preparação do
agrotóxicos sustentável de solo dos fertili-
85% dos partici- zantes orgânicos
pantes

FONTE: A autora

Observando o quadro anterior, podemos verificar que as ações


As ações levam
levam aos resultados que, consequentemente, geram impactos. aos resultados que,
Os resultados, nesse caso, são tudo aquilo que prevemos em um consequentemente,
projeto como consequência direta das ações desenvolvidas. Os geram impactos.
impactos são os chamados possíveis resultados indiretos do projeto,
ou seja, implicam outros fatores e geralmente ocorrem num período posterior ao
desenvolvimento das atividades e, por isso, podemos dizer que eles transcendem
o projeto.

71
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Para saber mais sobre indicadores de resultados em projetos,


acesse a publicação de Leandro Lamas Valarelli, Indicadores de
resultados de projetos sociais, disponível em:
https://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/valarelli_
indicadores_de_resultados_de_projetos_sociais.pdf.

1 Vamos seguir com o seu projeto. Você já definiu as atividades,


indicadores e como será o meio de verificação dos resultados?
Convidamos você para apresentá-los neste momento.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

2.4 ASPECTOS OPERACIONAIS DO


PROJETO
Avançando em nosso estudo do detalhamento dos itens que compõem um
projeto, agora estudaremos os itens que integram os aspectos operacionais do
projeto, que são: metodologia, equipe e parcerias, cronograma e orçamento.

2.4.1 Metodologia do projeto


A metodologia nos projetos sociais assume um sentido mais
Metodologia nos
projetos sociais amplo do que estamos acostumados a verificar nos projetos de
descreve a maneira pesquisa, por exemplo. Nos projetos sociais, ela descreve a maneira
de agir ou o modo de agir ou o modo de proceder, ou os caminhos que serão percorridos
de proceder, ou no desenvolvimento de um projeto.
os caminhos que
serão percorridos no
desenvolvimento de
um projeto.

72
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Muitas vezes antes de se iniciar um projeto é necessário realizar


um trabalho prévio de sensibilização junto à comunidade, deixando
claro quais instrumentos serão utilizados para fazer a mobilização ou
fazer uma seleção prévia, visto que nem sempre conseguimos atingir
e/ou atender à população como um todo. Nesse caso, é necessário
deixar claro quais critérios serão utilizados na seleção/escolha dos
participantes.

De acordo com Stephanou, Müller e Carvalho (2003, p. 67), “na metodologia


também deverão ser descritas as formas pelas quais se dará a participação dos
envolvidos nos projetos, sejam estes a comunidade, a equipe proponente e os
parceiros”. Lembre-se de que nessa etapa é muito importante que se especifique
de forma detalhada quais ferramentas e instrumentos serão utilizados. Por
exemplo, se uma das etapas do projeto prevê uma conversa com a comunidade,
é necessário deixar claro como será feita a sensibilização e a mobilização dessa
comunidade, também, se caso forem escolhidas pessoas-chave, ou seja, que não
seja possível incluir todos, deixar claro quais os critérios utilizados para inclusão e
exclusão de participantes, evitando, assim, conflitos posteriores.

Agora, caso a metodologia que você utilizará envolva alguma ferramenta


nova, pouco conhecida ou até mesmo inovadora, apresente uma breve descrição
dos métodos e técnicas. Nesse caso, também é interessante sempre colocar a
fonte do material que você está utilizando como base, ou seja, utilizar referências
que deem sustentação científica, isso dá mais credibilidade à ferramenta e,
posteriormente, pode-se utilizar os resultados para realizar comparações com as
experiências iguais ou similares que ajudarão a melhorar a técnica/ferramenta.

O processo de avaliação poderá ser explicado junto à


metodologia. Neste livro, apresentaremos a avaliação de forma
individualizada.

73
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

2.4.2 Equipes e parcerias


É necessário você demonstrar que a equipe que compõe a execução do
projeto é qualificada e tem experiência na condução de projetos dessa natureza.
Assim, descreva um breve currículo de sua equipe, destacando sua formação e
experiências anteriores.

As equipes diretas deverão ser as responsáveis pela execução. As equipes


indiretas realizarão o acompanhamento do projeto. Assim, é necessário deixar
claro a definição legal dos papéis que serão desempenhados por cada um dos
atores, ou seja, quem serão contratados pelo projeto, quem serão voluntários,
quem serão cooperados, quem terá participação efetiva ou eventual e como se
dará cada uma dessas contratações.

É muito importante que a entidade demonstre ao financiador e/ou investidor


que ela não está sozinha, que se encontra bem articulada com outros atores para
a condução das atividades do projeto. Assim, deixe claro a participação das
equipes parceiras.

O que seriam as equipes parceiras? Os parceiros do projeto são as pessoas


ou outras organizações que atuam de forma indireta, ou seja, composta pelos
setores, grupos ou indivíduos que embora ligados à equipe que executa, não
participam de forma direta na realização das atividades.

Parceiros de um projeto são as instituições ou indivíduos


que, embora participando diretamente da ação, não são os
responsáveis pelos objetivos ou pelos resultados globais.
Os parceiros podem atuar diretamente junto à população
envolvida no projeto, responsabilizando-se pela execução de
algum aspecto de sua implementação, ou por ações que se
dão em períodos delimitados [...]. (STEPHANOU; MÜLLER;
CARVALHO, 2003, p. 69. Grifo nosso).

Um bom projeto é Com relação a parceiros de projetos é necessário atentar


realizado por várias para duas questões importantes. A primeira é com relação à
mãos. responsabilidade de execução da equipe, ou seja, não se pode
colocar a responsabilidade dos resultados sobre outros atores que
apenas apoiam o projeto. A segunda questão é que um bom projeto é realizado por
várias mãos, ou seja, a articulação de pessoas favorece os melhores resultados e
fortalece nos momentos de crise e avanço a novas ideais e projetos.

74
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

1 Já estudamos o quanto a metodologia é importante para que


as pessoas entendam como as atividades serão desenvolvidas
e também como é importante demonstrar que não estamos
sozinhos nessa caminhada. Agora é o momento de você
apresentar a metodologia, sua equipe e seus parceiros. Vamos
lá!
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
________________________.

2.4.3 Orçamento do projeto


Agora, estudaremos uma das etapas fundamentais para que qualquer
projeto seja colocado em prática: o orçamento. O orçamento é essencial para
a aprovação de um projeto, nele constará o quanto de recursos precisará ser
investido para a execução do projeto.

Segundo Stephanou, Müller e Carvalho (2003, p. 73), “um bom orçamento


deve ser claro, objetivo e suficientemente detalhado, indicando os itens e subitens
de despesa dentro de um cronograma de desembolsos ao longo do tempo de
duração da proposta”.

No orçamento devem ser orçadas todas as ações que foram descritas


no quadro de metas. Deve ser objetivo com relação às pessoas contratadas,
aos serviços adquiridos, aos equipamentos, materiais de escritório, entre
outros materiais que serão necessários no projeto (STEPHANOU; MÜLLER;
CARVALHO, 2003).

Em alguns orçamentos, além do valor que será necessário solicitar ao órgão


financiador, também consta o valor da contrapartida que será oferecida pelo
proponente. Entende-se por contrapartida os recursos materiais e humanos que
serão mobilizados e disponibilizados pelo proponente para fazer parte do projeto.

75
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Nem sempre a contrapartida pode ser mensurada em termos monetários.


Quando isso ocorre, é necessário colocar uma observação no orçamento
explicando tal situação. Lembre-se de observar bem no edital, por exemplo, quais
são os itens financiáveis pelo financiador. Muitos projetos deixam claro já no edital
quais são os recursos que podem ser orçados ou não.

Um bom orçamento deve ser bem detalhado para dar segurança e


demonstrar transparência para os apoiadores e financiadores. Da mesma forma é
importante apresentar a pesquisa de preço realizada, por exemplo, apresentando
no mínimo três propostas de cotações para cada item orçado no projeto.

Você encontrará vários modelos de orçamentos na literatura, inclusive alguns


órgãos financiadores apresentam seus modelos próprios de orçamento. Assim, é
necessário criar um orçamento que atenda às necessidades de cada situação.

Vejamos a seguir um modelo com detalhamento de um orçamento.

QUADRO 6 – ORÇAMENTO PARA O PROJETO DE “MAPEAMENTO


DE ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO X”

Item Ano 1 Ano 2 Ano 3 Total


Coordenador do projeto
Salário
Benefícios
Subtotal

Preparação e elaboração dos mapas


Consultor técnico agrícola
Desenhistas
Drone (imagens por satélite)
Impressão dos mapas
Subtotal

Material de escritório
2 Computadores
1 Impressora a laser colorida
2 Mesas
1 Arquivo com quatro gavetas
Equipamentos de campo
Almoços
Mochilas
Capas de chuvas
1 veículo traçado (4x4)
Manutenção
Combustível

76
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Subtotal

Pesquisa
4 Bolsas de estudo para pesquisa
Subtotal

Divulgação do projeto
Workshops para 30 pessoas
Material de expediente
Impressão

Outras despesas
Treinamentos da equipe do projeto
Taxa administrativa do projeto (10%)
Total (R$)

FONTE: A autora

Observando o orçamento anterior podemos verificar que foram É importante que,


estimados todos os valores referentes a recursos humanos, materiais para a elaboração
e equipamentos para cada uma das atividades previstas no projeto. do orçamento,
Lembre-se de que um erro na elaboração do orçamento faz com que verifique-se todas as
o projeto não alcance seus objetivos, por isso é importante que, para ações necessárias
em cada atividade.
a elaboração do orçamento, verifique-se todas as ações necessárias
em cada atividade.

1 Que ideia legal que você desenvolveu, mas qual será o valor
que é necessário captar para colocá-lo em prática? Apresente o
orçamento que você elaborou para o seu projeto.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

77
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

2.4.4 Fontes de recursos e


financiamentos
No próximo capítulo estudaremos como captar recursos e onde estes
recursos estão disponíveis, mas neste item do projeto é importante deixar claro
quais as fontes de recursos do projeto e se haverá alguma contrapartida por parte
da entidade.

2.4.5 Cronograma do projeto


Um dos aspectos operacionais importantes no projeto é o
O cronograma
é uma forma de cronograma. O cronograma é uma forma de organizar o tempo
organizar o tempo de execução do projeto. Assim, como precisamos nos organizar
de execução do com o tempo em que faremos nossas tarefas diárias, da mesma
projeto. forma precisamos nos organizar com as atividades do projeto. O
cronograma de atividades deve ser:

• completo, isto é, com todas as atividades do projeto e seus


respectivos responsáveis;
• preciso, apontando o início e o fim de cada atividade;
• lógico, de modo a mostrar as interdependências entre as
diversas atividades (por exemplo, a atividade de divulgar para
o público-alvo os critérios de seleção dos alunos para um curso
de capacitação pressupõe outra, a confecção de folhetos e
cartazes de divulgação; se esta não for bem realizada e no
tempo planejado, aquela estará prejudicada);
• flexível, atualizado e sistematicamente analisado;
• realista, baseado em estimativas reais (CURY, 2001, p. 46).

Como fazemos essa organização? A forma mais prática de apresentar o


cronograma é na forma de planilha. Nas linhas, colocamos as ações ou atividades
a serem desenvolvidas. Nas colunas são colocados os intervalos de tempo em
que as ações serão realizadas. Os intervalos de tempo podem ser medidos em
meses, bimestres, semestres, de acordo com a necessidade e da complexidade
de cada projeto, embora o que você mais encontrará nos projetos é a utilização
do mês (mensal) como unidade de medida.

Outra forma muito utilizada é usar períodos de tempo sem que sejam
mencionadas as respectivas datas. Normalmente, utiliza-se para identificar os
meses o projeto de numeração de 1 a 12, correspondendo aos meses do ano.

78
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

QUADRO 7 – MODELO DE CRONOGRAMA DE PROJETO

FONTE: A autora

1 Você já observou como aquela sua singela ideia inicial já avançou


na medida em que também avançamos em nossos estudos?
Agora você já pode nos dizer quais serão as atividades que você
elencou para seu projeto e quando é seu início e fim.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
_________________________________________________.

79
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

2.5 ITENS COMPLEMENTARES DO


PROJETO
Um dos itens complementares do projeto são os anexos. Os anexos são
documentos que podem complementar o projeto. Geralmente os anexos trazem
mais detalhes sobre a entidade ou ainda sobre a localidade que está sendo
beneficiada. Esses anexos podem ser fôlderes, mapas, notícias de jornais e/ou
revistas, dados estatísticos, documentos legais (atas, cartão CNPJ, certidões
negativas, certificados de filantropia) etc.

2.6 ACOMPANHAMENTO E GESTÃO


DO PROJETO
A gestão de projetos está relacionada ao cumprimento de prazos
estabelecidos no cronograma e também ao orçamento do projeto. Por isso a
necessidade de se elaborar um projeto que seja claro e objetivo com relação
a quando inicia, quais são as atividades, qual o valor a ser investido e em
que período de tempo e quando termina. Assim que o projeto foi aprovado, o
coordenador do projeto passa a ser a pessoa responsável pela gestão, de acordo
com a proposta apresentada.

Nesse momento é importante a comunicação entre a equipe. É preciso


que toda a equipe seja informada do andamento das atividades. Entende-
se por comunicação um conjunto de técnicas que trata da geração, coleta,
armazenamento, recuperação, disseminação e descarte de informações
(VALERIANO, 2005). Por isso que uma das etapas iniciais é o planejamento
participativo, que além de ajudar na gestão do projeto e não sobrecarregar
o coordenador, também faz com que haja maior senso de pertencimento e
compromisso com a equipe.

Para que a comunicação do projeto ocorra com sucesso é necessário


desenvolver um plano de comunicação, em que deverão “ser levadas em conta
as necessidades específicas de cada envolvido, além do orçamento e recursos de
comunicação disponíveis” (BIANCARELLI; DEPRAZ, 2013, p. 60).

O Plano deverá descrever os mecanismos de comunicação


que serão utilizados para divulgação do projeto e as estratégias
de comunicação visando estabelecer um canal participativo,
em que os beneficiários possam entender o funcionamento do
projeto e seus benefícios, para que os financiadores, apoiadores
e parceiros estejam sempre atualizados do andamento das
atividades, para que a sociedade possa tomar conhecimento

80
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

e saber dos resultados alcançados e também para que as


equipes envolvidas se sintam como parte integrante do projeto
como um todo e não restrita a suas atividades (BIANCARELLI;
DEPRAZ, 2013, p. 61).

Atualmente, encontramos no mercado diversos softwares que contribuem na


gestão de projetos de forma eficiente, otimizando os vários processos e fazendo
com que as atividades ocorram de forma rápida e integrada.

1 Agora que você já estruturou todo o seu projeto, apresente como


você fará a comunicação desse projeto, tanto para a comunidade
como para os seus investidores.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

3 AVALIAÇÃO DO PROJETO
A avaliação é uma forma de realizarmos o acompanhamento contínuo do
projeto. A avaliação é uma atividade intermediária que acompanha o projeto
desde a elaboração e principalmente durante o processo de execução.

De acordo com Paz (2007), se considerarmos que um projeto é elaborado


e executado para enfrentar um desafio ou resolver um problema, nada mais
adequado do que verificar se as soluções apresentadas serão, são ou foram
adequadas.

“Avaliar é fazer um julgamento sem a ideia de condenar e, sim, “Avaliar é fazer um


julgamento sem a
de melhorar a prática, seja ela de elaboração ou de execução do
ideia de condenar
projeto” (PAZ, 2007, p. 18). e, sim, de melhorar
a prática, seja ela
Embora a cultura de avaliação de projetos não seja aplicada de elaboração ou
ainda em 100% pelas entidades assistenciais, cada vez mais essas de execução do
entidades estão sendo cobradas pelos resultados apresentados e projeto”.

81
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

pela transparência na aplicação dos recursos recebidos pelos apoiadores e/ou


investidores sociais.

Além disso, por que avaliar os projetos? Nem sempre a avaliação é vista
como sendo algo bom, geralmente as pessoas associam a avaliação a um
processo punitivo, ou até mesmo de encontrar erros, mas não. A avaliação não
é realizada com esse objetivo. Ela é necessária, pois permite examinar o projeto
para ver até que ponto ele representa uma experiência válida, que merece ser
executada e/ou replicada (PAZ, 2007; STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO,
2003).

“A avaliação possibilita perceber se houve avanços, tendo em


“A avaliação
possibilita perceber vista os objetivos traçados; aprender com os resultados e entender
se houve avanços, o caminho que foi ou ainda está sendo percorrido e, se for o caso,
tendo em vista os tomar a decisão de corrigir os erros de percurso” (PAZ, 2007, p. 18).
objetivos traçados;
aprender com A avaliação do projeto deve ser uma atividade contínua. Engana-
os resultados e
se quem ao final do projeto para tudo para realizar a avaliação. Não,
entender o caminho
que foi ou ainda está essa atividade deve ser realizada à medida que a execução acontece,
sendo percorrido por isso a necessidade de se inserir no cronograma momentos de
e, se for o caso, avaliação.
tomar a decisão de
corrigir os erros de De acordo com Carvalho (2001), a avaliação de projetos sociais
percurso”.
tem quatro características básicas:

• é um processo contínuo e permanente, que é aplicado a todas as fases


do projeto;
• é um processo utilizado como base nas tomadas de decisões;
• é um processo que permite que os envolvidos no projeto possam realizar
uma reflexão quanto à ação;
• é um exercício de controle social, pois torna o processo participativo e
transparente com relação aos resultados alcançados.

Atribuir valor, Assim, nesse contexto, o processo avaliativo consiste em atribuir


medir o grau de
valor, medir o grau de eficiência, eficácia e efetividade de políticas,
eficiência, eficácia
e efetividade de programas e projetos sociais.
políticas, programas
e projetos sociais.

82
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

“A eficácia de um projeto está relacionada ao alcance de seus


objetivos. A sua gestão será eficaz à medida que suas metas sejam
iguais ou superiores às propostas” (CARVALHO, 2001, p. 71).

“A efetividade de um projeto está relacionada ao atendimento


das reais demandas sociais, ou seja, à relevância de sua ação, a sua
capacidade de alterar as situações encontradas” (CARVALHO, 2001,
p. 72).

Avaliar um projeto social não é uma tarefa fácil. Uma coisa é avaliar, por
exemplo, um produto novo que será lançado por uma empresa no mercado. Outra
é avaliar um projeto social, considerando que de alguma forma este influenciou
a vida das pessoas ou mudou um cenário de uma comunidade. Observe nos
exemplos que utilizamos, no caso do produto, quando avaliamos um produto e
ele não apresentou nenhum defeito, ótimo, foi aprovado, mas no caso do projeto
social é importante que a fase de avaliação acompanhe o projeto desde o seu
início até o seu fim.

Você encontrará na literatura várias metodologias de avaliação de impacto


de projetos. Sempre opte por aquele que atenda a sua necessidade e aos critérios
de exigência de seu investidor.

1 Chegamos ao final de nosso projeto. Você já pensou como será


realizada a avaliação desse projeto? É importante que você
descreva como será a avaliação de seu projeto.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
________________________.

83
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

4 ROTEIRO PARA APRESENTAÇÃO


DE PROJETO SOCIAL
Caro acadêmico, todas os itens que estudamos de forma detalhada têm
como resultado final a redação de um relatório, ou seja, o projeto social. Embora
não exista um modelo mais adequado ou único de apresentar esse relatório,
apresentaremos um roteiro básico que pode ser utilizado quando o investidor e/
ou financiador não apresentar ou solicitar algum modelo específico. Lembre-se
de que caso o financiador tenha um modelo próprio é necessário respeitar ao
máximo os critérios exigidos.

Roteiro básico para apresentação de projetos

1 Apresentação:

Conte a história de sua entidade, as experiências, apresente


todas as informações necessárias detalhadas logo no início de sua
apresentação.

2 Justificativa:

Este item deverá responder o que será desenvolvido e por


que existe a necessidade do projeto na entidade e na comunidade.
Sugestão: desenvolva no máximo 50 linhas.

3 Objetivo(s):

Descreva para que vai ser realizado o projeto. Apresente o


objetivo geral e os objetivos específicos, sempre relacionados com
os resultados que se pretende alcançar com o projeto. Seja claro e
objetivo. Sugestão: desenvolva no máximo 15 linhas.

4 Público-alvo:

Apresente para quem, qual e quantas pessoas serão


beneficiadas com o projeto. Sugestão: desenvolva no máximo 10
linhas.

84
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

5 Metas e indicadores:

Apresente as metas do projeto, os resultados esperados e quais


os indicadores e meios de verificação serão utilizados no projeto.

6 Metodologia:

Apresente com clareza a forma como pretende desenvolver as


atividades do projeto. Sugestão: até 20 linhas.

7 Equipe e parceiros:

Apresente sua equipe e seus parceiros e qual a participação de


cada um no projeto.

Equipe e parceiros Participação

8 Orçamento:

Apresente o orçamento de seu projeto.

MATERIAIS ORÇADOS

Un. Descrição Valor Un. Total1

Total2

Un. = quantidade necessária do material. Descrição = descrição


do material. Valor Un. = Preço de cada unidade do material. Total1=
Un. X Valor Un. Total2 = soma coluna Total1.

8.1 Fontes de recursos

Neste item deve constar o valor total do projeto e quanto será


financiado pela entidade e pelo financiador.

85
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Total do projeto Contrapartida da entidade Investidor/Financiador

9 Cronograma:

Informar o tempo previsto para a execução de cada uma das


etapas e atividades descritas na metodologia. Você poderá detalhar
em forma de dias ou meses, ou ainda apresentar a data de início e
fim.

ETAPAS DURAÇÃO

Início Término

10 Avaliação:

Apresente como será a metodologia de acompanhamento e


avaliação do alcance dos objetivos e dos resultados esperados
(impacto). Sugestão: até 20 linhas.

Local e data.
Assinatura do elaborador.
Assinatura do representante legal da entidade.

Como já mencionamos no início do capítulo, a redação do projeto muitas


vezes é a única forma das pessoas conhecerem sua organização e o que está
sendo proposto com o projeto, por isso, toda atenção na redação do projeto é
fundamental. Nesse sentido, apresentaremos a seguir algumas sugestões
descritas por Stephanou, Müller e Carvalho (2003).

86
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

Em primeiro lugar, é bom lembrar que a proposta de um projeto


é um texto de trabalho e não uma produção literária. Deve ser
completa, mas enxuta. Sua redação deve ter como princípio básico
o uso de frases claras e diretas, procurando não utilizar termos
rebuscados ou pomposos.

Caso seja necessário incluir planos ou informações mais


detalhadas, estes devem ser colocados em anexo, no final da
proposta, e apenas mencionados no texto. Mesmo quando colocado
em anexo, o uso de material para ilustrar e enriquecer a proposta
(fotos, mapas, ilustrações gráficas) deve ser muito criterioso. Deve
ser utilizado somente na medida em que for capaz de agregar
informações que tornem a proposta mais interessante. O ideal é que
as propostas não desanimem seus leitores. Isso significa que elas
não devem ser longas (mais de 20 páginas já alcança a saturação).
Em geral, os anexos não devem ultrapassar 50% do volume do
projeto.

Não esqueça, no final da redação, é fundamental que se faça


uma revisão geral do texto.
Quanto à apresentação, vale a pena escolher um material que
torne a proposta atraente, desde que ele seja adequado e que
não seja oneroso. Por exemplo, pode-se utilizar material reciclado
ou ilustrações relacionadas ou produzidas pelos grupos sociais
envolvidos no projeto.

Também é importante lembrar que toda vez que um projeto for


enviado a alguma instituição ou agência para solicitar apoio, recursos
ou qualquer outra forma de auxílio, ele deve ser acompanhado de
uma carta de apresentação que recomende o projeto, que reforce
seus pontos fortes e explique a quem recebe o sentido daquele
contato.

Por fim, é bom ter sempre em mente que a credibilidade a ser


obtida por uma proposta de projeto social depende diretamente de
sua efetiva execução.

FONTE: STEPHANOU, L.; MÜLLER, L. H.; CARVALHO, I. C. de M. Guia


para elaboração de projetos sociais. Porto Alegre: Fundação Luterana,
2003.

87
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final desse capítulo. Aqui, nosso objetivo foi apresentar de
forma detalhada todas as etapas a serem seguidas na elaboração do projeto
social. Você pode verificar que uma etapa depende da outra, trata-se de uma
sequência lógica para apresentação dos itens necessários em uma proposta de
projeto.

Da mesma forma, ao final, apresentamos um roteiro básico justamente


com algumas sugestões para que você apresente uma boa redação do projeto.
Como vimos, as bibliografias são vastas, algumas mais genéricas e outras
mais aprofundadas. Cada literatura apresenta um formato, de acordo com a
sua experiência. Além disso, vimos que algumas entidades apresentam seus
próprios modelos com os manuais de como elaborar o projeto dentro dos critérios
estabelecidos. Nesse caso, aproxime-se ao máximo do solicitado.

REFERÊNCIAS
ARMANI, D. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de
projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2002.

BIANCARELLI, E.; DEPRAZ, M. H. Planejamento e elaboração de projetos.


In: PEREIRA, M. (org.). Gestão para Organizações Não Governamentais.
Florianópolis: Tribo da Ilha, 2013.

BUARQUE, C. Avaliação econômica de projetos. São Paulo: Elsevier, 1998.

CARVALHO, M. do C. B. de. Avaliação de projetos sociais. In: ÁVILA, C. M.


de (Coord.). Gestão de projetos sociais. 3. ed. São Paulo: AAPCS, 2001.
Disponível em: http://prattein.com.br/home/images/stories/Gestao_publica/
GestaoProjetosSociais-AACS.pdf. Acesso em: 11 dez. 2020.

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas


organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

CURY, T. C. H. Elaboração de projetos sociais. In: ÁVILA, C. M. Gestão de


projetos sociais. 3. ed. rev. São Paulo: AAPCS (Associação de Apoio ao
Programa Capacitação Solidária), 2001.

88
Capítulo 2 PLANEJAMENTO E ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS

PAZ, M. H. C. da. Elaboração de projetos sociais. Cadernos Bunge de


cidadania. 2007. Disponível em: https://craspsicologia.files.wordpress.
com/2013/04/cadervolunt4_projetos.pdf. Acesso em: 11 dez. 2020.

SILVA, E. M. S. et al. Guia de elaboração de pequenos projetos


socioambientais para organizações de base comunitária. Brasília-DF:
Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), 2014.

STEPHANOU, L.; MÜLLER, L. H.; CARVALHO, I. C. de M. Guia para


elaboração de projetos sociais. Porto Alegre: Fundação Luterana, 2003.

VALERIANO, D. Moderno gerenciamento de projetos. São Paulo: Prentice


Hall, 2005.

89
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

90
C APÍTULO 3
FONTES DE RECURSOS PARA
PROJETOS SOCIAIS

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender quais as fontes de financiamento.


• Entender o processo de captação de recursos.
• Identificar as fontes de recursos existentes.
• Conduzir a prestação de contas.
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

92
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Chegamos ao Capítulo 3 deste livro de estudos. Nos capítulos anteriores
tivemos inicialmente a oportunidade de compreender o contexto das entidades
do terceiro setor e sua relação com os projetos para a continuidade de suas
atividades. Também estudamos as etapas que compreendem a elaboração de
projetos sociais e vimos que se trata de uma sequência lógica. A ausência de uma
das etapas poderá comprometer o resultado final do projeto.

Agora, estudaremos como utilizar estes projetos para garantir a


sustentabilidade das ações/atividades, as quais as entidades têm como missão
e que justificam a sua existência. Associado a isso, conheceremos o chamado
caminho das pedras, ou seja, quais são as formas e fontes que poderão ser
utilizadas na captação de recursos para a execução tanto dos projetos sociais
como também as demais atividades que podem ser executadas para garantir a
sustentabilidade financeira da entidade.

Como atualmente estamos cercados pela tecnologia, veremos como o


avanço das tecnologias e das ferramentas de comunicação pode ser utilizado
para mobilizar as pessoas em prol de causas sociais. Convidamos você para
juntos seguirmos neste fascinante caminho que é a captação de recursos ou
mobilização de recursos.

2 O QUE É A CAPTAÇÃO DE
RECURSOS?
Nos dias atuais é muito comum verificar que a entidade sem fins lucrativos
tem recorrido à captação de recursos para manter a sustentabilidade financeira
de suas atividades. Nesse contexto, a captação de recursos tem o papel de
garantir que a instituição atenda a seus objetivos, como também contribui para
que a instituição divulgue os seus trabalhos junto à sociedade.

A expressão ‘captar recursos’, no Brasil, assim como outras Captação de


terminologias utilizadas na área social, tornou-se moda nos últimos recursos “é um
anos, mais precisa e especificamente no universo das organizações, termo utilizado
com finalidade social e sem fins lucrativos. para descrever um
leque de atividades
de geração de
O que é captar recursos? Captação de recursos “é um termo
recursos.
utilizado para descrever um leque de atividades de geração de
recursos realizadas por organizações sem fins lucrativos em apoio a sua finalidade

93
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

principal, independente da fonte ou do método utilizado para gerá-los” (GETS,


2002, p. 14).

A captação de recursos para ser eficiente precisa seguir um processo


estruturado desenvolvido por uma organização para pedir as contribuições
voluntárias de que ela precisa, sejam elas financeiras ou outros recursos,
buscando as doações com indivíduos, empresas, governos, entre outras
organizações (VERGUEIRO, 2016).

Na última década, a expressão mobilização de recursos vem substituindo


o termo captação de recursos, não somente pela mudança de nomenclatura,
mas por representar uma ação mais ampla, uma vez que não envolve somente
recursos financeiros. Também é muito comum encontrarmos na literatura sobre
o tema a utilização dessas expressões como sinônimas, embora em algumas
publicações os autores já tentem diferenciá-las.

Um exemplo de mobilização de recurso de forma ampla é o adotado pelo


Programa de Mobilização de Recursos da Oxfam, que envolve no contexto tanto
os recursos financeiros como também “os recursos materiais, os recursos técnicos
e os recursos políticos que podem provir de pessoas ou de organizações” (SILVA;
LUBAMBO, 2008, p. 12).

Você já conhece o Programa de Mobilização de Recursos


da Oxfam? Para saber mais, acesse à publicação Mobilizar – A
Experiência do Programa de Formação em Mobilização de Recursos
da Aliança Interage, disponível em:
https://domingosarmani.files.wordpress.com/2013/04/140420112708_
livromobilizar.pdf.

“Mobilizar recursos”
não diz respeito Vamos ver alguns conceitos sobre mobilização de recursos:
apenas a assegurar
“Mobilizar recursos” não diz respeito apenas a assegurar
recursos novos recursos novos ou adicionais, mas também à otimização (como
ou adicionais, fazer melhor uso) dos recursos existentes (aumento da eficácia
mas também à e eficiência dos planos); à conquista de novas parcerias e à
otimização (como obtenção de fontes alternativas de recursos financeiros. É
fazer melhor uso) importante lembrar que o termo “recursos” se refere a recursos
dos recursos financeiros ou “fundos”, mas também a pessoas (recursos
existentes. humanos), materiais e serviços (GRUPO DE ESTUDO DO
TERCEIRO SETOR, 2002, p. 14, grifos nossos).

94
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

De modo geral, para que uma instituição seja bem-sucedida na ação


de mobilizar recursos, é importante conduzir o doador por um processo que
contemple: conscientização, interesse, compreensão, decisão de apoiar,
construção contínua de relacionamento e encaminhamento para uma nova
doação. É preciso considerar que ao mobilizar recursos estamos de certa forma
fidelizando um processo de relacionamento entre os atores.

No quadro a seguir, poderemos observar alguns problemas básicos que


podem comprometer a captação de recursos:

QUADRO 1 – PROBLEMAS BÁSICOS ENCONTRADOS NA CAPTAÇÃO DE RECURSOS

Problema O que fazer


Primeiro: o hábito de pedir um Se você procura recursos deve propor um in-
“dinheirinho”. vestimento que dará retorno também para o
investidor. É preciso conhecer o financiador
para saber que tipo de retorno ele está bus-
cando, que pode ser financeiro, imagem, sat-
isfação pessoal, reconhecimento, resultados,
entre outros.
Segundo: é usar como argumen- Queremos conquistar outra pessoa que pode
tação algo que nos comove. ter interesses e motivações diferentes dos
nossos.
Terceiro: reside em outro hábito, Ninguém quer se juntar ao fracasso, todos
que é vender miséria nós queremos nos juntar ao sucesso. Um
profissional que represente um agente finan-
ciador não vai querer se arriscar a financiar
uma instituição que está prestes a quebrar,
pois ele tem que apresentar periodicamente
os resultados do investimento que fez. O que
conquista é o sucesso. Isso nos leva ao pri-
meiro tópico de nosso projeto. Quem está
apresentando o projeto? Como apresentar?
FONTE: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2012-05/cartilha-
captacao-recursos-ricardo-falcao.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2020.

95
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Explique por que o termo mobilização de recursos é considerado


mais amplo.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

Para que se tenha êxito na ação de mobilização de recursos é necessário


ter uma equipe engajada no desenvolvimento de ideias criativas para aproximar
a organização da comunidade. No entanto, embora pareça ser uma tarefa fácil,
trata-se de uma ação complexa, que requer muita organização e planejamento
das atividades a serem desenvolvidas. Um dos maiores erros que encontramos
no dia a dia é ver as entidades utilizando a técnica de ‘atirar para
Um dos maiores
erros que todos os lados’, pois além de significar um gasto de energia e de
encontramos no recursos inadequados, também representa uma falta de organização
dia a dia é ver as das ações. A fim de garantir a eficiência dessa ação, os gestores
entidades utilizando da organização devem planejar de forma bastante estruturada as
a técnica de ‘atirar atividades de captação, a fim de garantir o maior resultado, no menor
para todos os lados’.
tempo possível.

Entretanto, não podemos esquecer que a mobilização de recursos é uma


ação muito associada às questões éticas e de transparência das instituições. Por
isso a necessidade de se planejar muito bem o trabalho de buscar recursos, para
que não fiquem desvirtuados. Você mesmo já deve ter passado por situações em
que a instituição te liga várias vezes solicitando recursos para um mesmo projeto.
Isso demonstra um despreparo por parte da organização e muitas vezes faz com
que as pessoas fiquem em dúvida com relação à aplicabilidade dos recursos
captados (SANTOS et al., 2013).

96
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

A Associação Brasileira de Captação de Recursos (ABCR) estabelece um


código de ética do captador de recursos, apresentando as seguintes bases:

1. Sobre a legalidade: o captador de recursos deve respeitar


incondicionalmente a legislação vigente no país.
2. Sobre a remuneração: o captador de recursos deve receber
pelo seu trabalho apenas a remuneração preestabelecida.
3. Sobre a confidencialidade e lealdade aos doadores: o
captador de recursos deve respeitar o sigilo das informações
sobre os doadores obtidas em nome da organização em que
trabalha.
4. Sobre a transparência nas informações: o captador de
recursos deve exigir da organização para a qual trabalha total
transparência na gestão dos recursos captados.
5. Sobre conflitos de interesse: o captador de recursos
deve cuidar para que não existam conflitos de interesse no
desenvolvimento de sua atividade.
6. Sobre os direitos do doador: o captador de recursos deve
respeitar e divulgar o “Estatuto dos Direitos do Doador”.
7. Sobre a relação do captador com as organizações
para as quais ele mobiliza recursos: o captador de
recursos, seja funcionário ou autônomo ou voluntário, deve
estar comprometido com o progresso das condições de
sustentabilidade da organização (ABCR, 2007 apud LENGLER;
CRUZ; JACOBSEN, 2010, p. 163, grifos nossos).

Para garantir a sustentabilidade da entidade, as ações de Para garantir a


mobilizar recursos ou até mesmo de captar recursos devem ser sustentabilidade
contínuas e ativas. Claro que ações pontuais também contribuem no da entidade, as
contexto, mas observa-se que nem sempre os gestores das entidades ações de mobilizar
recursos ou até
têm conhecimento ou tempo necessário para montar um acervo de
mesmo de captar
pesquisa em editais. Lembre-se de que ao mobilizarmos recursos, recursos devem ser
não estamos trazendo apenas dinheiro para a entidade, buscamos contínuas e ativas.
visibilidade das ações e maior apoio da comunidade (SANTOS et al.,
2013).

Você já parou para pensar em quantas pessoas atingimos ao organizar um


evento para apresentar as ações da entidade? Ou se resolvermos encaminhar um
relatório por mala direta anualmente? Esses são exemplos de como às vezes não
precisamos de muito recurso para fazer com que as pessoas conheçam nossa
instituição.

97
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Outro benefício indireto que podemos considerar ao manter a mobilização


ou captação ativamente é que a partir do momento que as pessoas conhecem o
trabalho, elas passam a acreditar na causa e a querer fazer parte dela, portanto,
amplia o número de voluntários.

Como é possível mobilizar esses recursos? Considerando que


Amobilização de a mobilização de recursos é uma atividade planejada e complexa,
recursos é uma que não pode ser desenvolvida de forma individual, ela envolve
atividade planejada
múltiplos setores, como marketing, comunicação, relações públicas,
e complexa.
elaboração de projetos, questões jurídicas e éticas, pois seu objetivo
são diferentes recursos.

Nesse contexto, as atividades que contribuem para a estruturação de um


programa de captação de uma organização, de acordo com o GETS (2002),
dependem de três fatores: justificativa, liderança e pesquisa de doadores
potenciais.

Na justificativa, precisamos deixar claro por que se está arrecadando


dinheiro, quais são as necessidades e quem são os beneficiários.

A liderança diz respeito ao poder e ao compromisso dos gestores das


entidades e/ou organizações em viabilizar os recursos junto aos setores da
sociedade.

A pesquisa de doadores potenciais é o processo de identificação de pessoas


e das instituições que a organização considera ter o potencial de tornarem-se
apoiadores de seu trabalho.

Além disso é importante considerar outras variáveis institucionais no processo


de desenvolvimento de atividades de captação de recursos, pois é importante que
se tenha uma equipe e/ou colaborador com habilidades e experiência no assunto
e que conheça o doador:

• a base de voluntariado da organização;


• a experiência e as habilidades de funcionários envolvidos na captação
de recursos;
• o histórico de sucesso de captação de recursos obtido pela organização.

98
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

SANTOS, A. dos et al. Captação de recursos para projetos sociais.


Série por dentro das ciências sociais. Curitiba: Intersabares, 2013.

Neste livro você encontra uma contextualização abrangente,


incluindo a definição, a aplicação, o desenvolvimento e outras
implicações relativas aos projetos sociais. Na medida em que os
recursos públicos para o desenvolvimento de ações de caráter
ambiental, social, cultural e organizacional tornam-se escassos, é
de grande valia saber onde e como acessá-los para operacionalizar
essas ações. Nesse sentido, o objetivo dessa obra é possibilitar a
compreensão das etapas que envolvem a captação ou a mobilização
de recursos públicos.

1 Para que se tenha êxito na captação ou mobilização de recursos,


além de ter uma equipe com habilidades e competências para o
desempenho das funções, a entidade precisa considerar outras
variáveis institucionais. Analise as afirmativas a seguir:

I – A base de voluntariado da organização traz credibilidade à


entidade.
II – Não é necessário ter colaboradores experientes na ação de
buscar recursos, pois as pessoas acabam contribuindo como ato
de caridade.
III – O histórico de sucesso de captação de recursos obtido pela

99
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

organização é importante no momento em que se busca recursos


na sociedade.
IV – A ação de captação de recursos, por ser voltada à busca de
recursos financeiros, deve ocorrer de forma pontual.

Assinale a alternativa correta:


a) Somente a afirmativa I está correta.
b) As afirmativas I e III estão corretas.
c) As afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente a afirmativa IV está correta.

Até aqui vimos como é importante estruturar e planejar as ações de


mobilização de recursos, mas será que é fácil encontrar as fontes de mobilização
de recursos?

3 FONTES DE MOBILIZAÇÃO DE
RECURSOS
Para algumas organizações, a mobilização de recursos é considerada um
desafio, e ao mesmo tempo, é uma necessidade para que ela mantenha sua
sustentabilidade. O grande desafio na busca por recursos disponíveis é que
geralmente não há um planejamento para essa atividade, realizando-a às vezes
de forma emergencial para cobrir o caixa num curto período de tempo. Entretanto,
a busca por recursos deve ser uma atividade estratégica e contínua, com base no
fortalecimento das relações (SANTOS et al., 2013).

No entanto, nem sempre os recursos estão disponíveis para todas as áreas.


As fontes de recursos existentes muitas vezes apresentam uma destinação
fixa, ou seja, são liberadas para atender às ações específicas que não cabem a
qualquer entidade do terceiro setor.

Nessa busca por recursos, as organizações podem contar com as fontes


de recursos provenientes de fundos públicos e privados, apoio de agências de
cooperação internacionais e multilaterais, editais de institutos, associações de
classe, entidades religiosas, fundações empresariais e doações de pessoas
físicas, conforme observa-se na figura a seguir.

100
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

FIGURA 1 – FONTES DE RECURSOS

FONTE: A autora

Além disso, também podem mobilizar recursos via financiamentos, que


geralmente são meios para o custeio de atividades que não são contempladas
pelos financiamentos de projetos, como as despesas com recursos humanos
administrativos, energia elétrica, água, telefone, internet, taxas bancárias, entre
outras que também são chamadas de ‘despesas invisíveis’ (LOVATO; RONDOM,
2015).

Assim, é preciso que a iniciativa de mobilização de recursos seja realizada de


forma sistemática e planejada, integrando, por exemplo, um calendário anual de
campanha, eventos e geração de renda através de venda de produtos sociais que
contribuirão para a formação de fundo de recursos financeiros não rubricado (que
não estejam atrelados a projetos ou ações específicas) e que possa ser destinado
ao custeio das despesas invisíveis.

Não existe uma metodologia e/ou forma única para mobilizar


recursos. A forma como a instituição utilizará para realizar essa
mobilização dependerá muito da cultura e das relações estabelecidas
entre a sociedade e a finalidade da instituição.

101
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Veremos a seguir como construir um plano de captação de recursos.

1 O que são as despesas invisíveis?


R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

3.1 PLANO DE CAPTAÇÃO OU


MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS
O plano de captação de recursos segue o modelo do planejamento
estratégico. Por se tratar de uma metodologia considerada nova nas organizações
do terceiro setor, elaborar um plano é um desafio. O Brasil é imenso em extensão
territorial e também apresenta uma disparidade entre as regiões do país e, com
isso, surgem muitos problemas de ordem social, ambiental e cultural, o que já
torna difícil a escolha de uma causa social específica para ser atendida de forma
voluntária. Nesse contexto, captar ou mobilizar recursos deveria ser visto como
algo simples, pois a ação remete a contribuir para minimizar os problemas de uma
comunidade ou local, mas infelizmente a realidade é diferente.

FIGURA 2 – PLANO DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS

FONTE: <https://observatorio3setor.org.br/noticias/toda-osc-precisa-de-
um-plano-de-captacao-de-recursos/>. Acesso em: 30 jul. 2020.

102
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Quando se fala em planejamento estratégico no âmbito empresarial, é


muito comum encontrarmos autores que fazem menção ao livro Alice no País
das Maravilhas, mas o que esse clássico conto infantil tem a ver com o tema
planejamento da captação? Quem conhece esse conto sabe que em determinado
momento a Alice se encontra perdida em uma encruzilhada e pergunta para o
coelho qual caminho deveria escolher. O coelho quis saber para onde ela queria
ir e ela disse que não sabia. A resposta natural do coelho foi: ‘Então, qualquer
estrada serve!’. Assim, se ao realizar a captação a entidade não tiver bem claro
qual o seu objetivo, terá dificuldade para encontrar parceiros e doadores para se
juntar à causa.

O planejamento da captação deve ser anual e pode ser revisado de acordo


com a necessidade da entidade. Esse exercício é muito importante para se ter
uma visão geral da entidade, qual caminho será percorrido e como o mercado
influenciará esse processo. A partir disso, a organização/entidade poderá também
realizar alteração nas estratégias e metas a serem estabelecidas.

O primeiro passo para implantar o planejamento é que se tenha uma visão


geral da entidade. Esse movimento envolve cinco etapas básicas, apresentadas
por Goldschmidt e Calfat (2008) e que veremos a seguir:

a) Definição da missão: a missão da entidade deixa claro qual o motivo de


ela existir. É importante, ao redigir a missão de sua organização, pensar
em como essas ideias podem ser expressas em uma frase, seguindo a
uma sequência lógica com as informações, conforme figura a seguir:

FIGURA 3 – ILUSTRAÇÃO DOS PASSOS PARA COMPOSIÇÃO DA MISSÃO

FONTE: Goldschmidt e Calfat (2008, p. 12)

103
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Agora é o momento de colocar em prática o aprendizado. Utilize


como exemplo uma instituição que você conheça e apresente a
sua missão, ou crie uma missão caso ela não tenha uma definida.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

b) Histórico da instituição: apresentar o histórico institucional é contar a


trajetória externa e interna da instituição, elencando os fatos importantes.

Vejamos o exemplo a seguir de como o histórico da instituição pode ser


apresentado. Neste exemplo, utilizou-se o exemplo da Instituição “Construir”.

Construir

A Construir foi fundada em maio de 2001 na cidade de São Paulo


por um grupo de pessoas preocupadas com a educação das crianças
brasileiras, e tem como missão melhorar a qualidade de ensino para
crianças de 7 a 14 anos que estudam em escolas públicas de Ensino
Fundamental na zona leste da cidade de São Paulo.

O projeto de lançamento da organização foi a implantação de


bibliotecas comunitárias em quatro comunidades na zona leste de
São Paulo, levando livros para crianças e adolescentes de baixa
renda e com pouca oportunidade de entrar em contato com qualquer
tipo de livro que não fosse parte da sua sala de aula.

As bibliotecas comunitárias obtiveram muito sucesso desde


o princípio, porém, com o passar do tempo, a Construir viu que o
número de usuários poderia aumentar ainda mais se um programa
de incentivo à leitura fosse implementado. Assim, em 2002, deu-
se início ao Projeto de Incentivo Literário, liderado por voluntários
capacitados para exercerem a função de incentivadores da leitura.
Os professores das escolas parceiras se interessaram muito
pelo programa e logo se uniram aos voluntários para criar eventos
dedicados à leitura.

104
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Em 2005, além da manutenção dos primeiros projetos


implantados, a Construir irá investir na elaboração de dois novos
projetos:

Capacitação de professores da rede pública para o Ensino


Fundamental.

Arrecadação e modernização de instrumentos de ensino.

Atualmente, a Construir conta com 120 voluntários. Seus


recursos vêm de 133 contribuintes individuais e três empresas
parceiras fixas, Banco Solução, Grupo Avanhandava e a agência
publicitária HTPZ Brasil. Além disso, a organização conta com
recursos da FECOMPO e da Foundation Help Now. Também tem
como parceiras 48 escolas públicas (municipais e estaduais).

FONTE: <http://painel.siganet.net.br/upload/0000000002/cms/
images/editor/files/Educa%C3%A7%C3%A3o/Manuais/MANUAL-DE-
CAPTA%C3%87%C3%83O-DE-RECURSOS.pdf>. Acesso em: 4 dez.
2020.

1 A partir do modelo apresentado anteriormente, apresente o


histórico institucional da instituição escolhida para que possamos
conhecê-la.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

c) Aplicação da Análise SWOT ou FOFA na captação de recursos

O planejamento estratégico da captação de recursos utiliza a metodologia


da matriz FOFA (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) ou matriz SWOT
(Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats). Essa matriz já foi estudada
no Capítulo 2 desta disciplina. Assim, poderá adotar a mesma metodologia ao
construir o planejamento da captação de recursos.

105
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

PEREIRA, C. E. G.; SANTANA, J. L. C. Planejamento estratégico


como ferramenta de gestão para organizações do terceiro setor:
um estudo na Fundação Cáritas de Assistência à Pessoa Carente.
Disponível em: https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/
artigo_pe3.pdf.

1 Agora é o momento de você realizar a matriz SWOT da instituição


que você elencou. Analise seu ambiente interno e externo e
construa a matriz identificando seus pontos fortes, fraquezas,
oportunidades e ameaças.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

2 Com base na matriz que você elaborou anteriormente, classifique


os pontos fortes e as fraquezas de acordo com o seu grau de
importância.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

d) Estabelecimento de prioridades: nem sempre é possível agir frente a


todas as oportunidades e ameaças, bem como fraquezas identificadas
pela análise da matriz SWOT. Por isso é necessário que a organização
verifique as prioridades, ou seja, quais serão as atividades prioritárias no
momento.

106
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

QUADRO 2 – ESCALA DE PRIORIDADES E IMPORTÂNCIA


DAS FORÇAS E FRAQUEZAS

Importân-
Desempenho
cia
Fatores Grande Grande
Força Neutra Fraqueza G M P
Fraqueza
Força
Capacidade de
X X
atendimento
Demanda pelos
X X
serviços prestados
Satisfação do públi-
X X
co-alvo
Crescimento do
número de contribu- X X
intes
Renovação das con-
X X
tribuições
Dedicação dos fun-
X X
cionários
Administração X X
FONTE: Goldschmidt e Calfat (2008, p. 19)

Observa-se no quadro anterior que a partir da aplicação da matriz SWOT foi


possível identificar algumas forças e fraquezas. Após a construção desse quadro
será possível estabelecer quais serão as ações prioritárias. Vejamos no exemplo
a seguir quais foram as prioridades que a Construir elencou:

QUADRO 3 – ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES DA ENTIDADE CONSTRUIR

Dentro das fraquezas, a Construir acredita que a capacidade de atendimento


da organização é um problema que deve ser solucionado com certa urgência,
tornando-se sua maior prioridade.
O crescimento do número de atendimentos, no entanto, deve ressaltar ainda
mais a deficiência já observada com relação à capacidade de gestão e, por
isso, esse tema também precisa começar a ser trabalhado com urgência.
Dessa forma, as prioridades de ação da Construir para o próximo ano serão:
1. Aumentar a capacidade de atendimento.
2. Melhorar a administração da organização.

FONTE: Goldschmidt e Calfat (2008, p. 19)

107
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Agora, descreva as prioridades que foram estabelecidas.


R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

e) Formulação de metas: o estabelecimento de metas é essencial para que


todos os atores sigam na mesma direção. Assim, essas metas precisam
ser claras, objetivas, alcançáveis, passíveis de serem mensuráveis e
devem ser especificados os prazos estabelecidos para o alcance de
cada meta.

QUADRO 4 – METAS DA ENTIDADE CONSTRUIR

1. Aumentar a capacidade de atendimento


Montar seis novas bibliotecas (com 6.000 livros no acervo) em escolas
públicas de Ensino Fundamental da zona leste de São Paulo até 31/12/2020.
2. Melhoria da administração da organização
Capacitar todos os gerentes da Construir através de cursos de gestão
de organizações do terceiro setor com um mínimo de 40 horas-aula até
31/12/2020.

FONTE: Adaptado de Goldschmidt e Calfat (2008)

1 Caro acadêmico, estabeleça metas para cada uma das


prioridades que você elencou:
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

108
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Ainda no plano de captação de recursos é necessário descrever quais são


os programas e projetos que a organização pretende implantar, lembrando
que um programa pode incluir vários projetos. Assim, caso seja necessário, crie
um fluxograma identificando os programas e os projetos que se inserem nesses
programas. Isso melhora a visualização e você se certifica que nenhum projeto
ficou de fora do planejamento. Veja o exemplo na figura a seguir.

FIGURA 4 – MODELO DE FLUXOGRAMA: PROGRAMAS E PROJETOS

FONTE: A autora

Também é necessário que você avalie minuciosamente cada um dos projetos


e suas atividades para a construção do orçamento. Lembre-se de que as
atividades de cada projeto serão seu guia na captação e mobilização de recursos.
É a partir dessas atividades que você terá conhecimento da necessidade de
recursos materiais, humanos e financeiros. De acordo com Goldschmidt e Calfat
(2008, p. 16, grifos nossos):

Orçamento é um instrumento de planejamento e de gestão


de uma organização e/ou de um projeto. De planejamento
porque permite prever numericamente os custos e as receitas
para um determinado período. De gestão porque ao final deste
período pode-se fazer uma análise das receitas e despesas
reais, comparando-as às previsões realizadas anteriormente,
para avaliar a eficácia administrativa na condução dos recursos
financeiros.

Agora que você já concluiu a etapa de planejamento estratégico da captação


da organização, você terá as ferramentas necessárias para construir um plano
diferente de captação de recursos para cada um dos seus projetos que serão
desenvolvidos. Por que a necessidade de se criar planos individuais?

109
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Por tratar-se de projetos diferentes é mais fácil você selecionar


várias fontes de captação e parceiros diferentes que se identificam
com a causa de seu projeto.

A seguir serão apresentadas algumas iniciativas que podem ser desenvolvidas


com a finalidade de mobilizar recursos.

3.2 INICIATIVAS PARA A MOBILIZAÇÃO


DE RECURSOS PARA ENTIDADES DO
TERCEIRO SETOR
As possibilidades de ações para mobilizações de recursos livres são
inúmeras. Esses recursos são aqueles que poderão ser utilizados no custeio
das despesas invisíveis, mas que também precisam ser planejados de forma
que a solicitação não seja realizada para uma única fonte e por várias pessoas
da mesma entidade. Com certeza, em algum momento, você já recebeu várias
ligações solicitando recursos para uma mesma entidade, porém, de pessoas
diferentes, não é mesmo? O que acaba se tornando uma situação desconfortável
para ambos os envolvidos.

Dessa forma, podemos incentivar a mobilização de recursos públicos por


meio das ações que veremos a seguir.

3.2.1 Geração própria de renda (venda


de serviços e/ou produtos)
Quando falamos em vender serviços e/ou produtos, geralmente surgem
questionamento e espanto por parte das pessoas: ‘mas é uma organização sem
fins lucrativos’. Cabe ressaltar que o fato de ela ser sem fins lucrativos não quer
dizer que ela não possa ter lucro. O que a diferencia das demais empresas é que
ao final do exercício não fará a repartição de seus lucros, pois ela não possui
donos e sim associados.

110
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

De acordo com Lovato e Rondom (2015), é possível realizar É possível realizar a


venda de serviços e/
a venda de serviços e/ou produtos desde que a instituição tenha
ou produtos desde
essa ação como uma ‘atividade-meio’, e que esteja definido em seu que a instituição
estatuto social. Além disso, os autores colocam que toda renda gerada tenha essa
por essa comercialização necessita ser revertida integralmente para o ação como uma
desenvolvimento das ações institucionais. ‘atividade-meio’.

A entidade poderá comercializar, por exemplo, os produtos oriundos de um


programa de geração de renda ou, ainda, de um brechó de roupas usadas, como
é muito comum encontrarmos em hospitais, e também produtos desenvolvidos
por grupos de voluntários, os chamados clubes de mães.

Nos dias atuais, a tecnologia nos conecta com o mundo, não é mesmo?
Assim, já é possível encontrar plataformas na web voltadas para o e-commerce
desse tipo de produto. A plataforma Pono55 é um dos exemplos encontrados.

FIGURA 5 – O E-COMMERCE NO APOIO DAS VENDAS DE PRODUTOS SOCIAIS

FONTE: <https://www.institutoacervo.org.br/loja-acervo-do-bem-vende-produtos-doados-
para-ajudar-projetos-sociais-da-ong-instituto-acervo/>. Acesso em: 15 jul. 2020.

Plataforma vende produtos de ONGs

Pono55 é uma ferramenta para divulgar e vender produtos de


organizações e projetos da sociedade civil.

111
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Imagine encontrar produtos de organizações reunidos numa


plataforma de vendas on-line? Saias, pulseiras, camisetas, cadernos
e itens de decoração de casa contribuem diretamente para o grupo
de organizações da sociedade civil [...].

A Pono55 oferece uma página para explicar a atuação de cada


organização parceira. Atualmente, possuem seis organizações
parceiras: Cruzando Histórias, Damas de Caridade, Endeleza
International, Hai África, Project Três, Reviva [...].

FONTE: <http://setor3.com.br/plataforma-vende-produtos-de-ongs/>.
Acesso em: 30 jun. 2020.

Essa venda de Essa venda de serviços também pode ser realizada a partir
serviços também
das experiências exitosas de gestão, ou seja, poderá replicar sua
pode ser realizada
a partir das expertise e sua metodologia de intervenção social para outros
experiências públicos, em forma de capacitação e/ou consultoria, podendo até no
exitosas de gestão. futuro se tornar um negócio social.

Qual a diferença entre ONGs e negócios sociais? Vejamos a reportagem a


seguir, elaborada por Giovanna Fantinato, que apresenta de forma clara e objetiva
essa diferença.

ONG e negócio social: entenda a diferença

Apesar dos pontos em comum, os dois se diferem principalmente


pela questão do lucro.
É comum encontrar quem não saiba a diferença entre ONGs e
negócios sociais, afinal, os dois buscam soluções para problemas
sociais e melhoria de uma comunidade, são independentes
do governo e consideram o impacto socioambiental nas ações
desenvolvidas. Apesar de ambos fazerem parte do ecossistema de
empreendedorismo social e buscarem o impacto positivo na região
em que atuam, cada um atua de acordo sua formatação jurídica.
Confira as características de cada modalidade:

112
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Organizações Não Governamentais (ONGs)

As Organizações da Sociedade Civil (OSC) são entidades de


interesse social que atendem problemas de fins públicos e sociais e
não visam ao lucro. Entretanto, contrariando o que muitas pessoas
acreditam, uma ONG pode gerar caixa, contratar funcionários, vender
produtos e serviços. A diferença é que esse tipo de organização
não distribui os lucros, ou seja, todo o faturamento gerado deve ser
investido nas próprias ações, como forma de expandir o impacto da
ONG.

Negócio social

O principal objetivo do negócio social é utilizar seu poder de


mercado para solucionar algum problema social e ambiental. Entre
suas principais características estão a venda de um produto que
contribua para o desenvolvimento ou melhoria de um problema
social e promover a inclusão de pessoas em vulnerabilidade
socioeconômica. É financeiramente independente e não depende de
captação de recursos para suas atividades.

FONTE: <https://institutolegado.org/blog/ong-e-negocio-social-entenda-a-
diferenca/>. Acesso em: 15 jul. 2020.

A Fundação Telefônica elencou algumas questões a serem observadas


quando a entidade decide realizar a venda de serviços e produtos.

• O produto resultante dos processos socioeducativos – oficinas


e cursos – é bonito? Tem qualidade? O acabamento é bom?
Pode ser transformado ou aplicado em diferentes objetos?
• Que canais de venda serão utilizados para a venda
deste produto? É preciso pensar em canais adequados,
considerando-se o tipo de produto, o volume de produção e o
tamanho da demanda.
• Qual é o custo do produto? A que preço este produto deve ser
comercializado? De que forma? Há mercado para ele nesse
valor? É importante lembrar a OSC que recebe o seu apoio de
comunicar aos consumidores que a compra do produto estará
apoiando uma causa social.
• É possível definir metas de venda? Para evitar grandes
estoques é recomendável testar gradativamente a aceitação do
produto pelo mercado. Outra dica é evitar produtos perecíveis
e vinculados a datas específicas, como calendário e agendas
contendo o registro de determinado ano.

113
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

• Que recursos a organização tem para investir inicialmente?


• Quem cuidará deste projeto? É importante que seja definido
um responsável (LOVATO; RONDON, 2015, p. 18).

Os produtos comercializados pelas entidades são chamados de


Produtos sociais,
produtos sociais, ou seja, trata-se do produto vendido com o objetivo
produto vendido
com o objetivo de de reverter os recursos para uma entidade e sua causa. A seguir,
reverter os recursos apresentaremos alguns exemplos de sucesso que usam a venda
para uma entidade e de serviços e produtos como forma de manter a sustentabilidade de
sua causa. suas ações.

Criação de produtos sociais: trata-se de uma das formas mais


eficazes de promover o engajamento do público, com uma campanha
de causa social. Dessa forma, ao comprarem um produto social, as
pessoas sabem que o valor arrecadado será destinado para uma
finalidade específica. Portanto, aproveite também as redes sociais
para divulgar o produto social e gerar engajamento com a campanha.
Afinal de contas, você deve estar onde o seu público também está.

FONTE: <https://blog.abacashi.com/como-engajar-uma-campanha-de-
causa-social/>. Acesso em: 4 dez. 2020.

Algumas entidades, como o Complexo Pequeno Príncipe, para manter as


atividades de seu instituto de pesquisa, têm buscado a parceria com artistas para
realizar a busca de recursos através da venda de produtos. Um exemplo muito
conhecido é o Programa Gols pela Vida, realizado com a parceria do Pelé, que
contempla o Projeto Medalhas, descrito a seguir.

114
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Descrição do Projeto Medalhas

O Projeto Medalhas foi a primeira ação do Programa Gols


pela Vida. Lançado no final de 2007, colocou no mercado 1.283
medalhas, cada uma homenageando um gol da vitoriosa carreira de
Pelé. As medalhas foram produzidas pela Casa da Moeda do Brasil,
nas versões ouro, prata e bronze. As de ouro custam R$ 3.000,00; as
de prata, R$ 1.500,00; e as de bronze, R$ 700,00. A meta do projeto
era captar R$ 5,5 milhões, totalmente revertidos para o Instituto.

Como é o produto?

Cada medalha é acondicionada em um estojo de veludo


preto, com berço para encaixe. As peças vêm com Certificado
de Autenticidade assinado por Pelé, pelo presidente da Casa da
Moeda do Brasil, por José Álvaro da Silva Carneiro (representante
do Conselho Superior da Associação Dr. Raul Carneiro) e pelo Dr.
Nilson Santos (representante do Conselho Deliberativo do Instituto
de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe). O certificado traz ainda o nome
do proprietário grafado com tinta de segurança especial, fornecida
pela Casa da Moeda do Brasil, o que torna o documento à prova de
fraudes.

FONTE: <http://www.golspelavida.org.br/sobre_a_medalha.pt-br.php>.
Acesso em: 4 dez. 2020.

FIGURA 6 – MODELO DO CERTIFICADO DE AUTENTICIDADE

FONTE: <http://www.golspelavida.org.br/images/site/
certificado_ouro.jpg>. Acesso em: 4 dez. 2020.
115
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Faça uma busca na internet e pesquise outras iniciativas de


ONGs que têm utilizado a venda de produtos como forma de
captação de recursos.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

3.2.2 Doações individuais: sócios-


contribuintes e doações pontuais
A doação de indivíduos ou de empresas é pautada com base
A doação de
indivíduos ou em relacionamento pessoal. Conseguir criar um bom relacionamento
de empresas é é uma arte, requer investimento de tempo e energia (LOVATO;
pautada com base RONDON, 2015). Não é uma tarefa fácil, é preciso incentivar as
em relacionamento pessoas a investirem em boas ações e/ou projetos. Nem sempre
pessoal. esse investimento é realizado somente com recursos financeiros,
eles podem ser realizados com bens intangíveis, ou seja, podemos
investir tempo, conhecimento e serviços voluntários. Assim,
Saber cultivar o
saber cultivar o relacionamento com os doadores contribui para a
relacionamento
com os doadores fidelização das pessoas com a causa da organização.
contribui para
A razão pela qual o indivíduo faz a doação determinará o
a fidelização seu compromisso com a organização. Uma pessoa que
das pessoas se identifica com a causa tem muito mais chance de criar
com a causa da um vínculo com a organização do que uma pessoa que foi
organização. abordada inesperadamente por um serviço de telemarketing e
não se sentiu à vontade para negar o pedido (GOLDSCHMIDT;
CALFAT, 2008, p. 61).

Numa organização este tipo de relacionamento é chamado de relações


institucionais, ou seja, ele não deve ser vinculado a um membro específico
da entidade, pois ele não pode se perder no tempo. Portanto, é necessário que
seja mantido um cadastro destes potenciais doadores com o registro de todos os
contatos, negociações e as doações que esta pessoa realizou para a organização.

As doações feitas por indivíduos podem ser de pequeno valor,


quando vistas individualmente, mas um grande número de
pessoas doando por um tempo mais longo pode gerar um valor
alto de recursos. O importante é encontrar meios para tornar-

116
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

se um número significativo de indivíduos fiéis à organização


e lembrar que este tipo de captação leva algum tempo para
atingir o ponto de equilíbrio entre o custo da captação e a
arrecadação (GOLDSCHMIDT; CALFAT, 2008, p. 61).

Além dos doadores pessoas físicas, você também deverá prospectar doações
com as empresas. A base do relacionamento é a mesma, porém, é preciso que
a causa e/ou projeto esteja de acordo com os valores da empresa. É importante
que você saiba reconhecer quem são os potenciais doadores empresariais. Por
exemplo, se sou uma entidade cujas ações são de combate ao tabagismo, não
será possível solicitar doações e/ou patrocínios para uma fabricante de cigarros,
não é mesmo? Assim, estude cada uma das empresas antes de apresentar uma
proposta.

É comum que empresas peçam algo “em troca” para contribuir


com um projeto, como ter o seu logo no website da organização,
banners nos eventos da organização etc. Como encaram
a doação como um investimento, também é comum que
queiram receber informações que mostrem como o programa
está evoluindo e como pode ser avaliado (GOLDSCHMIDT;
CALFAT, 2008, p. 61).

Assim, observa-se uma crescente tendência das empresas de participarem


ativamente de projetos sociais, considerando a atividade de ‘doar’ como um
investimento social privado. O investimento social privado é interpretado de
diversas formas, todavia, sua caracterização básica é a transferência voluntária
de recursos de empresas privadas para projetos sociais, ambientais e culturais de
interesse público (MILANI FILHO, 2004).

Geralmente, ao realizar esse tipo de investimento, a empresa solicita


informações sobre o andamento das atividades e os resultados que estão
sendo alcançados. Da mesma forma, algumas empresas, para realizar este
acompanhamento, utilizam serviços terceirizados, que são desempenhados por
institutos ou fundações vinculadas à empresa (MILANI FILHO, 2004).

O Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) é a


associação dos investidores sociais do Brasil, sejam eles institutos,
fundações ou empresas. Nascido como grupo informal em 1989, o
GIFE foi instituído como organização sem fins lucrativos em 1995.
Desde então, tornou-se referência no país no tema do investimento
social privado.

117
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

A Rede GIFE é marcada pela diversidade de seus associados,


tanto na origem – podendo ser empresarial, familiar, independente
ou uma organização comunitária – quanto em seus temas e formas
de atuação. São atualmente 160 associados, que, juntos, investem
por volta de R$ 2,9 bilhões por ano na área social, operando projetos
próprios ou viabilizando os de terceiros.

O papel central é gerar conhecimento a partir de articulações


em rede para aperfeiçoar o ambiente político institucional do
investimento social e ampliar a qualidade, a legitimidade e a
relevância da atuação dos investidores sociais privados. Para tal,
o GIFE tem oito agendas estratégicas prioritárias que guiam a sua
atuação, sendo: Alinhamento do investimento social às políticas
públicas; Alinhamento entre investimento social e o negócio;
Ampliação da doação no investimento social privado; Avaliação;
Comunicação; Fortalecimento das organizações da sociedade civil;
Governança e Transparência; Negócios de impacto social.

FONTE: <https://gife.org.br/quem-somos-gife/>. Acesso em: 20 jul. 2020.

3.2.3 Financiamentos coletivos


(crowdfunding)
As ações virtuais para a captação de recursos, através de campanhas ou
dos financiamentos coletivos (crowdfunding), são muito utilizadas nos dias atuais
por empresas de pequeno porte e até mesmo por profissionais liberais, como
artistas, escritores, entre outros. Além disso, também é uma forma que pode vir a
favorecer as entidades do terceiro setor devido à desburocratização do processo.

Antes de verificarmos como essa modalidade pode contribuir com a captação


de recursos das entidades do terceiro setor, verificaremos o significado de
crowdfunding.

118
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

O crowdfunding é um modelo de financiamento coletivo. A


palavra crowd é derivada do inglês e significa multidão, e o termo
funding também é originário do inglês e significa financiamento.

O crowdfunding é baseado em ferramentas eletrônicas, como a internet.


Funciona como uma espécie de ‘vaquinha’ virtual e, portanto, possui um âmbito
de atuação mais abrangente, tanto em relação aos contribuintes quanto em
relação ao uso e destinação dos recursos arrecadados.

O Crowdfunding de Investimento no mundo

O Crowdfunding de Investimento (ou Equity Crowdfunding) está


regulamentado em mais de 20 países no mundo, sendo certo que pelo
menos igual número está em vias de estabelecer sua regulamentação.
Interessante notar que o mercado mundial movimentou em 2017 cerca
de US$ 100 bilhões. Desse montante, cerca de 70% foram destinados
ao chamado “peer-to-peer lending based crowdfunding”. Estima-se
que as três outras modalidades representaram entre US$ 7,0 e US$
8,0 bilhões cada uma. São elas: “donation based crowdfunding”,
“rewarding based crowdfunding” e Crowdfunding de Investimento.

Cerca de US$ 5,0 bilhões correspondem a uma quinta modalidade


em forte crescimento, o “real state crowdfunding”. O Crowdfunding
de Royalties está estimado em US$ 1,0 bilhão anual, embora em
montante equivalente às demais modalidades. Na medida em que os
respectivos regulamentos para essa modalidade sejam colocados de
pé em cada país, o Crowdfunding de Investimento é o que possui o
maior potencial de crescimento no mundo.

Como pode se observar, o Crowdfunding de Investimento é o


único que demanda regulamentação específica. Em alguns países
também o “lending based crowdfunding” requer igual tratamento. No
caso brasileiro, essa última modalidade está subordinada ao mercado
financeiro – instituições financeiras e bancos – reguladas pelo Banco

119
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Central. Há porém uma primeira abertura proporcionada por resolução


recente (abril de 2017), do Conselho Monetário Nacional, que criou as
figuras de SCD (Sociedade de Crédito Direto) e SEP (Sociedade de
Empréstimo entre Pessoas), que estabelece normas e cria limites para
o desenvolvimento de operações no modelo “peer-to-peer lending
based crowdfunding”, sem o concurso de instituições financeiras.

Considerando os montantes do mercado mundial, cerca de 50%


referem-se à América do Norte, 30% à Ásia, com predominância da
China e 19% à Europa, com predominância de Inglaterra e Israel.

Considerando o potencial de cada mercado, é bastante destacado


o papel da Inglaterra e de Israel nas operações de Crowdfunding de
Investimento; da mesma forma é o papel da China e tigres asiáticos
nesse mesmo mercado. O maior potencial continua sendo o mercado
norte-americano. Nos Estados Unidos, o JOBS Act, assinado em 5 de
abril de 2012, contudo, resultou em dois grandes grupos: o Título IV,
regulamentado em março de 2015, para startups que captam até US$
50,0 milhões, permite investimentos de investidores “accredited” –
cerca de 10 milhões de norte-americanos com rendimento anual acima
de US$ 200 mil ou patrimônio líquido de investimentos acima de US$
1,0 milhão. O chamado Título III, regulamentado em maio de 2016,
para startups que captam até US$ 1,0 milhão por ano, é considerado
bastante restritivo. Em ambos os títulos investidores não “accreditted”
podem investir 10% do seu rendimento anual ou patrimônio líquido de
investimentos, o que for maior.

Países cujas regulamentações sobre o “Crowdfunding” de


Investimento já foram implementadas: Austrália, Áustria, Bélgica,
Canadá, China, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Israel, Itália, Malásia,
Países Baixos, Nova Zelândia, Portugal, Cingapura, Suécia, Noruega,
Suíça, Peru, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos.

FONTE: <https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/crowdfunding-
reune-financiadores-anonimos-de-projetos,8f0b54f77d76f410VgnVCM10000
04c00210aRCRD>. Acesso em: 4 dez. 2020.

De acordo com D´egmont (2015), essa modalidade está sendo utilizada


pelas ONGs para diferentes objetivos, como nas causas de ações humanitárias,
manutenção e custeios das entidades e até mesmo para investimentos em
materiais e equipamentos.

120
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

As empresas e as instituições sociais podem conseguir


muito mais do que apenas captar recursos com as campanhas de
crowdfunding. Elas também ganham:

Mais visibilidade: ter o seu projeto numa plataforma on-line é


uma ótima estratégia de marketing para conseguir mais visibilidade
para as suas iniciativas e ganhar notoriedade junto do público.

Maior divulgação: as campanhas nas plataformas de


crowdfunding podem ser facilmente compartilhadas pelo público nas
redes sociais, ampliando o alcance não só do projeto, mas também
da sua marca ou organização.

Baixo custo: não é necessário ser aprovado por um banco ou


conseguir um investidor que financie o valor total pretendido. Este
tipo de campanha on-line é, muitas vezes, gratuita ou são cobradas
apenas pequenas taxas de utilização.

Mais apoiantes: quem doou em vaquinhas on-line vai querer


acompanhar de perto as empresas e ONGs que ajudou. Esta
proximidade vai criar um laço afetivo entre as duas partes, gerar um
sentido de comunidade à volta do projeto e aumentar a probabilidade
de voltarem a investir numa próxima campanha.

Feedback imediato: como é possível deixar comentários nas


páginas das campanhas, o público pode compartilhar as suas dúvidas,
sugestões e opiniões sobre a iniciativa. Assim é mais fácil perceber
como está sendo recebida a iniciativa e esclarecer, imediatamente,
qualquer questão que esteja prejudicando as doações.

Nova forma de captar recursos: nem sempre é fácil para as


ONGs conseguirem as quantias que necessitam com as limitações
dos métodos de captação de recursos tradicionais. Com as
campanhas de crowdfunding, as ONGs têm uma nova forma de
obter doações para as suas causas sociais. Além disso, conseguem
alcançar um público mais abrangente e estão disponíveis para
receber doações 24 horas por dia e 7 dias por semana.

Promoção de uma cultura de doação e apoio a funcionários:


em plataformas, como a eSolidar, as empresas podem criar
campanhas internas para ajudar uma causa social alinhada com

121
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

os seus valores e promover uma cultura de doação junto dos seus


funcionários ou criar campanhas para causas internas (ajudar um
funcionário que está com problemas de saúde e precisa de remédios
caros ou uma funcionária grávida com dificuldades financeiras).
Estes tipos de iniciativas são boas formas de apoiar e motivar os
seus funcionários, que sentem que podem ajudar e ser ajudados.

FONTE: <https://impactosocial.esolidar.com/pt/2020/07/09/crowdfunding/>.
Acesso em: 5 ago. 2020.

No Brasil, já encontramos diversas plataformas de financiamento coletivo. O


que as diferem são o valor cobrado e as regras impostas pelas plataformas.

O Crowdfunding de Investimento no Brasil

O Crowdfunding de Investimento no Brasil foi destravado em


2014, mesmo antes da regulamentação específica, tornada pública
em julho de 2017. No período anterior à regulamentação, 60 ofertas
foram completadas com sucesso, permitindo o levantamento de R$
20 milhões. Embora as primeiras operações no Brasil ocorreram em
2014, o referido montante foi concentrado nos últimos dois anos e
meio anteriores à nova norma.

Um regulamento próprio para o mercado brasileiro de


Crowdfunding de Investimento, cuidadosamente elaborado a
quatro mãos entre a CROWDINVEST (Associação Brasileira de
Crowdfunding de Investimento) e a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), submetido à consulta pública no segundo semestre de
2016 e publicado em julho de 2017, trouxe segurança jurídica para
o mercado. Ademais, trouxe uma das mais avançadas, abrangentes
e flexíveis regulamentações sobre Crowdfunding de Investimento,
comparativamente àquelas em vigor no resto do mundo.

FONTE: <https://m.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/crowdfunding-
reune-financiadores-anonimos-de-projetos,8f0b54f77d76f410VgnVCM1000
004c00210aRCRD>. Acesso em: 4 dez. 2020.

122
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

No quadro a seguir, poderemos conhecer algumas dessas plataformas.

QUADRO 5 – EXEMPLO DE PLATAFORMA DE


FINANCIAMENTO COLETIVO (CROWDFUNDING)

Sites Tipos de Crowdfunding


Kikante Flexível e tudo ou nada
Kickstarter Tudo ou nada
Idiegogo Flexível e Tudo ou nada
Impulso Tudo ou nada
Idea.me Flexível e Tudo ou nada
Bicharia Tudo ou nada
FONTE: <https://www.crowdfundingnobrasil.com.br/>. Acesso em: 20 jun. 2020.

Manual de Captação Online

Este manual apresenta o passo a passo de uma campanha de


crowdfunding. Você pode baixar gratuitamente o guia que orienta as
OSCs para esse tipo de mobilização de recursos em:
http://www.doemaisdoemelhor.org.br/manual-de-captacao.

123
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

1 Realize uma pesquisa e apresente um projeto que tenha


conseguido alcançar sua meta de captação a partir do
Crowdfunding.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

3.2.4 Leilão solidário


O leilão solidário Uma outra forma muito comum de captação de recursos é
ocorre geralmente
através da realização de leilão solidário. O leilão solidário ocorre
quando a entidade
leiloa um bem que geralmente quando a entidade leiloa um bem que apresenta um
apresenta um valor valor inestimável. Os produtos a serem leiloados variam desde uma
inestimável. camisa autografada por um jogador famoso até uma obra de arte.

Esses leilões podem ser presenciais e ocorrem com parceira realizada entre
a entidade e um profissional leiloeiro, ou, também, de forma virtual.

Ao optar por um leilão on-line, é possível aumentar o alcance


da ação, uma vez que não há limites geográficos que impeçam a
participação de interessados. Nesse caso, é fundamental definir a
plataforma em que o processo acontecerá.

É preciso contar com um sistema profissional, capaz de gerir


o leilão em tempo real, contabilizando lances e possibilitando a
participação de interessados de forma simples e intuitiva.

Afinal, uma plataforma complexa e repleta de comandos pode


fazer com que o participante acabe desistindo de participar do
processo.

FONTE: <https://impactosocial.esolidar.com/pt/2020/01/16/leilao-
solidario/>. Acesso em: 30 jul. 2020.

124
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Uma plataforma conhecida por realizar leilão solidário é a


Solidar. A plataforma foi fundada em Portugal e com atuação
em diversos países, entre eles, o Brasil. A plataforma tem como
objetivo conectar empresas, entidades e sociedade, formando uma
comunidade solidária. Para saber mais sobre essa plataforma,
acesse: https://www.esolidar.com/pt.

3.2.5 Patrocínio e prêmios


O patrocínio é uma forma de apoio financeiro a projetos com o objetivo de
vincular a marca do patrocinador a uma ação, campanha ou projeto como forma
de responsabilidade social. É:

A transferência definitiva e irreversível de numerário (dinheiro)


ou serviços, com finalidade promocional, a cobertura de gastos
ou a utilização de bens móveis ou imóveis do patrocinador, sem
a transferência de domínio, para a realização de programa,
projeto cultural ou ação cultural que tenha sido aprovado pelo
Ministério da Cultura. Pode ser concedido às pessoas físicas
dedicadas à produção cultural ou às pessoas jurídicas de
natureza cultural, com ou sem fins lucrativos [...] (DRUMMOND,
2007, s.p.).

Esse tipo de negociação ocorre a partir da assinatura de um contrato de


patrocínio. O objetivo desse contrato é deixar de forma clara e objetiva as regras
desse tipo de negociação, bem como gerar a identificação e o reconhecimento do
patrocinador.

Qual a vantagem para o patrocinador? Ao celebrar esse tipo de contrato com


a entidade, o patrocinador, em contrapartida, espera de retorno utilizar a marca,
o símbolo, a imagem e os conceitos relacionados ao projeto como ferramenta de
marketing. Além disso, dependendo da área e/ou tipo de projeto que está sendo
apoiado, o patrocinador poderá ser beneficiado com o incentivo, ou seja, um
desconto no imposto de renda.

Os prêmios geralmente são associados a valores menores, cuja prestação de


contas também não é tão detalhada, exigindo apenas um relatório das atividades
desenvolvidas. Os prêmios também podem ser voltados a pessoas físicas e até
mesmo grupos informais.

125
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Você encontrará várias empresas que utilizam o patrocínio para


apoiar projetos sociais. A maioria apoia projetos culturais inscritos na
Lei de Incentivo à Cultura, Ambiental e Educação. É muito importante
realizar uma busca na web pela publicação dos editais.

1 A Petrobras é uma das entidades que mais patrocina projetos


anualmente. Pesquise no site da Petrobras e escolha uma
iniciativa que foi beneficiada pela empresa e apresente os
resultados deste projeto.
R.: ____________________________________________________
____________________________________________________
__________________________________________________.

3.2.6 Termo de colaboração e de


fomento
A mobilização de recursos via termo de colaboração e de fomento ocorre em
forma de convênios entre as entidades com as esferas públicas em nível Federal,
Estadual e/ou Municipal.

Geralmente, o processo para formalização destes convênios se dá a partir


da publicação de um Edital ou por meio do Portal de Convênios (SICONV –
Plataforma Mais Brasil) do governo federal. Trata-se de um processo bastante
burocrático, que exige da entidade além de todas as certidões para comprovação
da situação fiscal e tributária, aptidão de uma equipe técnica capacitada para
apresentação de propostas de acordo com as exigências expostas pelo órgão
público (FRELLER, 2017).

126
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

Os convênios, a partir do Marco Regulatório do Terceiro Setor,


são chamados de Termos de Colaboração ou de Fomento.

Tão importante quanto a apresentação de uma boa proposta, também é


necessário que se fique atento aos prazos estipulados, bem como à forma de
apresentar a prestação de contas, pois caso essa prestação de contas não seja
aprovada, a entidade deverá realizar a devolução do montante de recursos
mobilizados acrescido de juros.

Além disso, outras fontes de captação de recursos com o governo se dão


por: Leis de incentivo ou Emendas parlamentares.

O incentivo é uma modalidade de captação de recursos que só ocorre a


partir do momento em que se agregue sempre duas fontes: governo e empresas
ou governo e pessoas físicas. Quando ocorre o incentivo, o governo deixa de
arrecadar impostos e beneficia as empresas e os indivíduos com a chamada
renúncia fiscal. Entretanto, para as entidades terem acesso a esse benefício,
deve-se aprovar projetos e buscar junto às empresas e aos indivíduos para que
estes direcionem seus projetos para os respectivos projetos aprovados.

O acesso aos recursos do governo federal se dá através da Plataforma


+Brasil. A Plataforma +Brasil é uma ferramenta de acesso público disponibilizada
pelo governo federal, que apresenta informações sobre as transferências de
recursos oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União a órgão
ou entidade da administração pública estadual, distrital, municipal, direta ou
indireta, consórcios públicos e entidades privadas sem fins lucrativos (BRASIL,
2020).

Aprovação de projetos nos órgãos públicos

Segundo estatísticas dos últimos 10 anos da Lei Rouanet


(SalicNet), cerca de 6.379 projetos são aprovados anualmente e
autorizados para captação. Os projetos levam, em média, 30 a

127
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

120 dias para serem analisados e aprovados, porém, nem todos


os incentivos fiscais funcionam assim. Dentre eles, o Ministério da
Cultura é o mais organizado, que dispõe de equipe capacitada,
oferecendo atendimento eficaz aos proponentes e que faz a melhor
gestão. Em seguida, temos o Ministério do Esporte, que também
conta com equipe própria. Entretanto, o volume de projetos recebidos
por este órgão é muito maior que o número de técnicos disponíveis,
fazendo com que um projeto tramite em análise entre seis meses a
dois anos até ser aprovado e poder iniciar sua captação.

Já os fundos da criança e do adolescente e do idoso apresentam


uma complexidade muito maior, pois sua gestão acontece em
âmbito municipal e estadual, por meio de seus conselhos, os quais
podem deliberar as regras relacionadas ao recebimento e análise
dos projetos, ainda que atualmente sob a luz do novo Marco
Regulatório. Poucos são os conselhos constituídos corretamente
e com capacidade de gestão para fazer esses incentivos fiscais
funcionarem bem. Por último, o Ministério da Saúde faz a gestão
do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon) e
Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde (Pronas). Os
projetos dependem de um chamamento público anual e demoram
muito tempo para serem analisados. Os proponentes não encontram
atendimento junto aos técnicos do Ministério e ficam perdidos com
relação aos procedimentos. Para piorar, os projetos são aprovados
e publicados no final do ano, deixando as empresas enlouquecidas
pela falta de tempo hábil para viabilizar as doações.

FONTE: <https://www.filantropia.ong/informacao/captacao-de-recursos-via-
incentivos-fiscais>. Acesso em: 5 ago. 2020.

De acordo com Freller (2017), quando isso ocorre o governo abre mão de
receber os recursos na sua totalidade, como é o caso do imposto de renda, em
que pode haver uma dedução limitada a 1% para os impostos devidos pelas
empresas e 6% pelas pessoas físicas.

As emendas parlamentares são recursos destinados por deputados federais


e senadores para atender às demandas das comunidades onde atuam. Além
disso, a emenda parlamentar é uma forma de os deputados federais participarem
da destinação dos recursos orçamentários.

128
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

As emendas parlamentares podem ser de dois tipos:

• Individuais: de autoria do deputado e tem como orientação as demandas


que recebem de suas bases nos municípios, tais como: reivindicações
para a construção de escolas, hospitais, estradas, estádios, quadras de
esportes, aquisição de ônibus escolares, entre outras.
• De bancadas: os deputados, independentemente de partido político, se
reúnem e destinam recursos para projetos de interesse do estado ou de
municípios.

Prezado acadêmico, até aqui vimos as fontes de mobilização de recursos


para a sustentabilidade das ações e para projetos voltados para as entidades do
terceiro setor. Na sequência de nossos estudos, trataremos de um tema muito
importante, que é a prestação de contas da entidade para seus doadores.

4 PRESTAÇÃO DE CONTAS
Há vários dilemas sobre a aplicação dos recursos para as entidades sem
fins lucrativos, sejam elas de origem governamental ou privada. Assim, é muito
importante que o processo de captação de recursos seja o mais transparente
possível. Uma das formas é prestar contas da aplicação dos recursos, tanto para
o público interno como para o público externo à entidade.

Você deve se recordar que anteriormente falamos em fidelizar apoiadores,


realizar parcerias duradouras, tudo isso é efetivado com base no respeito
e confiança. De acordo com Milani Filho (2004), a realização da prestação de
contas é um desafio antigo a ser vencido pelas organizações do terceiro setor,
pois envolve confiabilidade e credibilidade, premissas básicas a serem cumpridas
face à sociedade.

Prestação de contas é o conjunto de documentos e


informações disponibilizados pelos dirigentes das entidades
aos órgãos interessados e autoridades, de forma a possibilitar
a apreciação, conhecimento e julgamento das contas e da
gestão dos administradores das entidades, segundo as
competências de cada órgão e autoridade, na periodicidade
estabelecida no estatuto social ou na lei (CFC, 2008, p. 78).

Nesse contexto, a prestação de contas pode ocorrer de algumas formas. A


seguir, apresentaremos alguns comentários sobre essas formas.

a) Por iniciativa da entidade: alguma entidade de forma espontânea tem


por hábito realizar anualmente a prestação de contas da sua entidade,
independentemente de ser cobrada diretamente por essa ação.

129
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

b) Por iniciativa do doador: a Associação Brasileira de Captação de


Recursos (ABCR) elaborou, em 1992, o Estatuto do Doador. Embora
não seja um documento de cunho jurídico, apresenta algumas diretrizes
sobre os direitos do doador.

A seguir, apresentaremos alguns itens que compõem este documento e que


se referem aos direitos do doador.

Direitos do doador

• Ser informado sobre a missão da organização, sobre como a organização


pretende usar os recursos doados e sobre sua capacidade de usar as
doações efetivamente para o objetivo pretendido.
• Ser informado sobre a identidade daqueles que pertencem ao conselho
diretor da organização e esperar que esse conselho exerça julgamento
prudente nas suas responsabilidades administrativas.
• Receber agradecimento e reconhecimento apropriados.
• Ter acesso a mais recente demonstração financeira da organização.
• Ter assegurado que as doações serão usadas para os propósitos para
os quais foram feitas.
• Ter assegurado que a informação sobre a doação será tratada com
respeito e confidencialidade.
• Esperar que todos os relacionamentos com indivíduos que representem
organizações de interesse para o doador sejam de natureza profissional.
• Ser informado se aqueles que pedem doações são voluntários,
empregados da organização ou solicitantes contratados.
• Ter a oportunidade de ter seus nomes retirados das relações de
endereços que uma organização possa pretender compartilhar com
outras.
• Sentir-se livre para questionar quando estiver fazendo uma doação e
receber respostas prontas, francas e verdadeiras.

FONTE: <https://nossacausa.com/quais-os-motivos-para-apresentacao-de-
prestacoes-de-contas-no-terceiro-setor/>. Acesso em: 14 jul. 2020.

130
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

c) Por iniciativa Legal: a própria Constituição Federal em seu Art. 70,


Parágrafo Único, determina que: “prestará contas qualquer pessoa física
ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie
ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária” (BRASIL, 1988).

A Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação), regulamentada pelo Decreto


nº 7.724/12, também apresenta a obrigatoriedade de que as entidades sem fins
lucrativos sempre que celebram parcerias com a administração pública através
dos 4convênios deverão dar publicidade de forma que a sociedade tenha acesso
aos resultados da aplicação dos recursos.

As entidades poderão fazer uso de dois tipos de prestações de contas: a


prestação de contas financeira, em que serão demonstrados a forma, o destino,
a distribuição e o uso dos recursos financeiros captados; e a prestação de contas
não financeira, que são relatórios nos quais se relata o desenvolvimento das
atividades realizadas pelas entidades (OLIVEIRA, 2009).

Os elementos que compõem a prestação de contas são exigidos


pelos órgãos interessados e autoridades, de acordo com os
atos normativos que regem a entidade e a atuação de cada
um deles. A extensão das exigências pode variar, mas, de um
modo geral, os documentos e informações são semelhantes.
O responsável pela prestação de contas deve observar quais
são as exigências específicas de cada órgão, para que não
encaminhe elementos aquém ou além do necessário (CFC,
2008, p. 79).

Conforme apresentado por Lima et al. (2012), a comprovação da prestação


de contas é feita por meio de relatórios financeiros elaborados pelas entidades.
No quadro a seguir, poderemos verificar os principais instrumentos de prestação
de contas.

QUADRO 6 – INSTRUMENTOS DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

O relatório de atividades é um documento circunstanciado


dos trabalhos desenvolvidos no período da gestão, acom-
RELATÓRIO DE panhado de elementos que comprovem a efetiva realização,
de acordo com as finalidades estatutárias da entidade. Deve
ATIVIDADES ser elaborado um relatório para cada período da gestão ou
exercício financeiro, mesmo que o período da prestação de
contas englobe vários exercícios.

131
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

Normalmente, são exigidos o Balanço Patrimonial, demon-


stração do Superávit ou Déficit do Exercício, Demonstração
DEMOSTRAÇÕES das Origens e Aplicações de Recursos e a Demonstração
CONTÁBEIS das Mutações do Patrimônio Social. As Demonstrações Con-
tábeis devem ser firmadas por contabilista habilitado pelo
representante legal da entidade.
O inventário patrimonial é uma relação de todos os bens pat-
rimoniais móveis e imóveis, com identificação e característi-
INVENTÁRIO cas do bem, data e forma de incorporação ao patrimônio, lo-
PATRIMONIAL calização e valor individual, de propriedade da entidade em
seu poder e em poder de terceiros, bem como os bens de
terceiros em poder da entidade.
DECLARAÇÃO A elaboração e entrega da Declaração de Informações
DE INFOR- Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) é obrigatória
MAÇÕES para todas as Entidades de Interesse Social.
ECONÔMI-
CO-FISCAIS DA
PESSOA JURÍDI-
CA – DIPJ
RELAÇÃO AN- Devem ser apensadas à prestação de contas a RAIS im-
UAL DE INFOR- pressa e o recibo de entrega (mesmo que seja o recibo pro-
MAÇÕES SOCI- visório). No caso de a entidade não ter empregado deve ser
AIS – RAIS entregue a RAIS negativa.
PARECER DO O cumprimento dessa exigência dependerá da estrutura ad-
CONSELHO FIS- ministrativa da entidade, quanto à previsão ou não no estat-
CAL uto da entidade.
PARECER E O exame de auditoria das contas das Entidades de Interesse
RELATÓRIO DE Social, feito por auditores independentes, é uma exigência
AUDITORIA IN- que pode ser feita pelo Poder Público, por portadores de re-
DEPENDENTE cursos ou estar prevista no estatuto da entidade.
FONTE: Adaptado de CFC (2008)

Assim, a prestação de contas frente à sociedade é tratada como obrigação


social e pública, a qual se presta informações sobre algo que se é responsável.
A transparência no Terceiro Setor é realizada através do acesso à informação
com relação à entidade, tornando-se um dos critérios relevantes para a liberação
de futuros recursos para o desenvolvimento de projetos, visto que os doadores
buscam conhecimento e informações sobre a aplicação dos recursos investidos
por eles, onde estão sendo aplicados e se estão sendo destinados para os
devidos fins (LIMA et al., 2012).

132
Capítulo 3 FONTES DE RECURSOS PARA PROJETOS SOCIAIS

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Prezado acadêmico, chegamos ao final do Capítulo 3 do livro de estudos
Elaboração e Análise de Projetos Sociais. Nosso objetivo nesse capítulo foi lhe
apresentar um cenário que vem crescendo a cada ano e que necessita muito
de capacidade técnica tanto para realizar uma gestão eficiente dos recursos
como também para a realização de bons projetos que possam contribuir para a
sustentabilidade das ações.

As novas tecnologias ao mesmo tempo que facilitam a captação e a


mobilização de recursos também exigem dos profissionais que atuam no terceiro
setor o aprofundamento do conhecimento com relação à utilização das novas
ferramentas para auxiliar a busca por recursos e garantir a sustentabilidade.

Entretanto, é necessário que o profissional dessa área sempre esteja atento


às mudanças nas legislações e também às novas fontes de recursos que surgem
a cada período. Esperamos que você possa explorar mais essa área. Sucesso e
bons estudos!

REFERÊNCIAS
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metodologia da base de dados (versão 2019). Nota Técnica n. 26. Brasília: IPEA,
2019.

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repasse de recursos da União. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/
noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2020/05/plataforma-brasil-mais-
transparencia-e-controle-social-no-repasse-de-recursos-da-uniao. Acesso em: 16
dez. 2020.

BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a


informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37
e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos
da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível

133
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm.
Acesso em: 16 dez. 2020.

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Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.

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D’EGMONT, T. Diferentes formas de captação de recursos para ONGs. 2015.


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LIMA, F. G. et al. A contabilidade como instrumento essencial no


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