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Arquitetura TCP/IP

Camada de Rede
Sumário
Desenvolvimento do material Camada de Rede
João Franscisco de Oliveira
Para Início de Conversa… ................................................................................ 4
Objetivos .......................................................................................................... 4
1ª Edição 1. Características da Camada de Rede ........................................................ 5
Copyright © 2022, Afya.
2. Protocolos da Camada de Rede ................................................................ 7
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida,
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 2.1 Protocolo IPv4 ......................................................................................... 7
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Afya. 2.1.1 Pacote IPv4 ............................................................................................ 7
2.1.2 Endereçamento IPv4 .......................................................................... 8
2.1.2.1 Máscara de Sub-rede ..................................................................... 9
2.1.2.3 Endereço de Rede ............................................................................ 10
2.1.2.4 Endereço de Broadcast ou Difusão ........................................... 11
2.1.2.5 Endereços de Host .......................................................................... 12
2.1.2.6 Default Gateway .............................................................................. 12
2.1.2.7 Endereço Automático ..................................................................... 13
2.1.2.8 Outros Tipos de Endereços IPv4 Especiais ............................. 13
2.1.3 Endereçamento Classful Legado ................................................... 14
2.1.4 Endereçamento Classless ................................................................ 15
2.1.5 Segmentação de Redes ..................................................................... 16
2.2 Protocolo IPv6 ......................................................................................... 20
2.2.1 Pacote IPv6 ............................................................................................ 21
2.2.2 Endereçamento IPv6 .......................................................................... 22
2.2.2.1 Máscara de Sub-rede ..................................................................... 24
2.2.2.2 Tipos de Endereços IPv6 ............................................................... 25
3. Roteamento ..................................................................................................... 27
Referências .......................................................................................................... 31

Arquitetura TCP/IP 3
Para Início de Conversa… Objetivos
Você já deve ter notado que esta disciplina apresenta os conceitos ▪ Apresentar como a camada de rede encaminha os pacotes entre dois
de baixo para cima, através das Camadas de 1 a 7 do modelo OSI. Na hosts em redes diferentes, utilizando tabelas de roteamento.
camada de rede dos modelos OSI e TCP/IP, apresentamos os conceitos ▪ Descrever a estrutura do pacote IPv4, seu endereçamento e máscara
e os protocolos de comunicação e roteamento, que têm por função de sub-rede.
transportar os dados entre dois hosts em uma inter-rede, isto é, entre ▪ Comparar os endereços de unicast, broadcast e endereços IPv4
dois hosts localizados em redes diferentes. multicast e os endereços IPv4 públicos, privados e reservados.
Por exemplo, vamos supor que você queira enviar um e-mail para ▪ Explicar a necessidade do IPv6, sua estrutura e
um amigo que mora em outra cidade, ou mesmo em outro país; essa seu endereçamento.
pessoa não está na mesma rede que você. Uma rede local, comutada,
não consegue enviar uma mensagem mais longe do que o limite da sua
própria rede, isto é, o roteador (gateway) que separa sua rede das demais
redes interligadas, por exemplo, a internet.

São os dispositivos de Camada 3, os roteadores, os responsáveis pela


movimentação da sua mensagem ao longo do caminho para o dispositivo
final do seu amigo. Então, para enviar um e-mail (um vídeo, um arquivo
etc.) para qualquer pessoa que não esteja em sua rede local, você deve
ter acesso a roteadores e, para isso, você deve usar protocolos de camada
de rede. E é sobre isso que vamos aprender neste capítulo.

Arquitetura TCP/IP 4
1. Características da Camada de Rede
A camada de rede, ou Camada 3, do modelo OSI, assim como a camada
de Inter-rede do modelo TCP/IP, fornece serviços a fim de permitir
que dispositivos finais troquem dados a partir de redes diferentes.
Os protocolos IP versão 4 (IPv4) e IP versão 6 (IPv6) são os principais Figura 1: Endereçamento lógico da Camada 3. Fonte: Elaborada pelo autor.

protocolos de comunicação de camada de rede utilizados atualmente. O pacote IP recebe um endereço de destino e de origem que independe
Outros protocolos de camada de rede também muito importantes são do endereço MAC dos dispositivos. Esse pacote é examinado por
protocolos de roteamento, como o RIP (Routing Information Protocol), dispositivos de Camada 3, ou seja, roteadores e switches de Camada 3, à
o OSPF (Open Shortest Path First) e o BGP (Border Gateway Protocol), medida que viaja, através de uma rede, até seu destino.
e protocolos de mensagens, como ICMP (Internet Control Message
Protocol). Os principais serviços prestados por essa camada a fim de
possibilitar a comunicação fim a fim entre dois hosts incluem: Os endereços IP de origem e destino permanecem os mesmos desde o
▪ Endereçamento lógico de dispositivos finais - Os dispositivos momento em que o pacote sai do host de origem até chegar ao host
finais devem ser configurados com um endereço exclusivo para de destino, exceto quando traduzidas pelo dispositivo que executa a
Tradução de Endereços de Rede - NAT - para IPv4.
identificação na rede, isto é, deve ser possível identificar a qual rede
esse dispositivo pertence e identificá-lo dentro da própria rede. Esse
endereço deve ser independente do endereço físico da interface de
▪ Encapsulamento - A camada de rede encapsula a unidade de dados
rede. A Figura 1 apresenta o endereçamento IP, independente da
(PDU) da camada de transporte (segmentos) em um pacote. O
camada física.
processo de encapsulamento adiciona informações de cabeçalho,
como os endereços dos hosts origem (emissor) e destino (receptor);
esse processo é executado pela origem do pacote. A Figura 2 mostra

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o encapsulamento de um segmento da camada de transporte em um toma a decisão de qual rota deverá ser usada para rotear cada pacote
pacote do protocolo IP. para o próximo nó da rede, conforme apresentado na Figura 3.

Figura 2: Encapsulamento da PDU da camada de transporte. Fonte: Elaborada pelo autor.

O protocolo IP encapsula o segmento da camada de transporte (camada


imediatamente acima da camada de rede), adicionando um cabeçalho IP.
O cabeçalho IP é usado para entregar o pacote ao host de destino.
Figura 3: Comutação de pacotes. Fonte: Elaborada pelo autor.
▪ Desencapsulamento - Quando o pacote chega na camada de rede do
Essa técnica possibilita aos roteadores contornar problemas de
host de destino, este verifica o cabeçalho do pacote; caso o endereço
congestionamento, encaminhando os pacotes por rotas alternativas,
de destino no cabeçalho corresponda ao seu próprio endereço, o porém os pacotes podem chegar fora de ordem, necessitando ser
host processa e remove o pacote, e a PDU resultante da Camada 4 reordenados – função essa sob a responsabilidade dos protocolos da
é transferida para o serviço apropriado na camada de transporte. O camada de transporte.
processo de desencapsulamento é executado pelo host de destino.
▪ Comutação de pacotes - Na comutação de pacotes, a mensagem ▪ Roteamento - A camada de rede fornece serviços para direcionar os
é dividida em pacotes menores. Cada pacote possui informações pacotes para um host de destino em outra rede. Para trafegar para
de endereço de origem e destino, de modo que cada um pode ser outras redes, o pacote deve ser processado por um roteador. A função
encaminhado individualmente através da rede, de forma que cada nó do roteador é escolher o melhor caminho e direcionar os pacotes
para o host de destino, em um processo conhecido como roteamento.

Arquitetura TCP/IP 6
2. Protocolos da Camada de Rede de cabeçalho. O cabeçalho de um pacote IPv4 consiste em campos
que contêm números binários examinados pelo processo da Camada 3,
Os protocolos da camada de rede são responsáveis por implementar as conforme apresentado na Figura 4.
funções descritas na Camada 3 do modelo OSI e na camada Internet do
modelo TCP/IP. Nesse modelo, temos os protocolos IPv4 e IPv6, o ICMP e
os protocolos de roteamento o RIP, OSPF e BGP.

2.1 Protocolo IPv4


O Protocolo de Internet versão 4 (IPv4) é um dos principais protocolos
do modelo TCP/IP; sua primeira versão foi implementada para a ativação
da ARPANET, em 1983, e até hoje ainda é responsável pela maior parte
do tráfego da internet, apesar do rápido crescimento do seu sucessor, o
protocolo, o IPv6. O IPv4 é padronizado pelo IETF e descrito na RFC 791
(setembro de 1981), que substituiu a RFC 760 (janeiro de 1980). Figura 4: Cabeçalho do pacote IPv4. Fonte: Elaborada pelo autor.

▪ Suas principais características são: Os principais campos do cabeçalho do pacote IPv4 são apresentados a
▪ comutação de pacotes; seguir:
▪ não orientado à conexão (sem estado);
▪ Version (4 bits) – Identifica a versão do protocolo IP. A sequência
▪ melhor esforço.
0100, identifica que esse é um pacote IP versão 4.
▪ H. Length (4 bits) – Informa o tamanho do cabeçalho do protocolo IP.
2.1.1 Pacote IPv4 ▪ DiffServ ou Serviços diferenciados ( 8 bits) – Anteriormente chamado
O cabeçalho do pacote IPv4 permite que a camada de rede do de ToS (Type of Service), é usado para determinar a prioridade
transmissor e do receptor conversem entre si através das informações de cada pacote. Os seis bits mais significativos do campo são o

Arquitetura TCP/IP 7
DSCP (Differentiated Services Code Point), conjunto de valores 2.1.2 Endereçamento IPv4
de QoS (Qualidade de Serviço) que podem ser utilizados para
priorizar o tráfego, e os dois últimos são os bits de notificação de O endereço IPv4 é um campo de 32 bits, do pacote IPv4; ele identifica
congestionamento explícito ECN (Explicit Congestion Notification). unívoca e logicamente um host em uma inter-rede. Apesar de seu
▪ Header Checksum (16 bits) – Usado para detecção de erro no esgotamento e substituição pelo IPv4, o endereçamento IPv4 ainda
cabeçalho do pacote IPv4. é muito utilizado, principalmente dentro das organizações. Assim, é
muito importante que os administradores de rede conheçam suas
▪ Time to Live - TTL (8 bits) – Usado para determinar a vida útil de
características e como utilizá-lo para segmentar uma rede em sub-redes
um pacote. O dispositivo de origem do pacote IPv4 define o valor
e como criar uma máscara de sub-rede de comprimento variável (VLSM)
TTL inicial, que é decrementado cada vez que o pacote é processado
como parte de um esquema de endereçamento IPv4 geral.
por um roteador. Caso o valor campo TTL chegue a zero, o roteador
descarta o pacote e envia uma mensagem ICMP de tempo excedido Um endereço IPv4, como já dissemos, é um número binário de 32 bits
para o endereço IP de origem. Como o valor desse campo é alterado, o representados na forma de 4 octetos na notação decimal separados por
roteador também deve recalcular a soma de verificação do cabeçalho. um ponto. A Figura 5 apresenta um endereço IPv4 representado na sua
▪ Protocol – Este campo é usado para identificar o protocolo da camada notação decimal (usual) e na sua notação binária (real).
de transporte (segmento ou datagrama) que está sendo transmitido
no pacote IPl. Valores comuns são ICMP (1), TCP (6) e UDP (17).
▪ Source Address (32 bits) – Contém o endereço IP do remetente. O
endereço de origem IPv4 é sempre um endereço unicast.
▪ Destination Address – Contém o endereço IP do destinatário. O
endereço IPv4 destino pode ser um endereço unicast, multicast ou
broadcast.

Figura 5: Endereço IPv4 na representação decimal. Fonte: Elaborada pelo autor.

Arquitetura TCP/IP 8
Aqui o endereço 192.168.10.10 é a representação da notação decimal
do binário 11000000101010000000101000001010.

Assim, por exemplo, para representar o endereço IP em binário 1100


0000101010000000000000000001, primeiro separamos o binário em
quatro octetos, como a seguir: 11000000.10101000.00000000.00000
001. Depois convertemos cada um dos octetos em decimal 110000002
= 19210; 101010002 = 16810; 000000002 = 010; 000000012 = 110. Agora
é só escrever o endereço em sua notação decimal, logo, o IPv4 110000
00.10101000.00000000.00000001 é representado como 192.168.0.1.
A partir da representação decimal do endereço IPv4, é possível achar o
binário correspondente; basta proceder de maneira inversa.

2.1.2.1 Máscara de Sub-rede


Um endereço IPv4 identifica em qual rede o host se encontra, isto é,
representa todos os dispositivos na mesma rede, e univocamente o host
dentro dessa rede. Assim, parte do endereço IP representa a rede e parte
representa o host. Quem determina qual porção do endereço representa
a rede e qual porção representa o host é a máscara de sub-rede; em Figura 6: Configuração de um endereço IPv4 em um host Windows.
outras palavras, ela é usada para diferenciar a parte da rede da parte do
host de um endereço IPv4. Na Figura 6, mostramos a configuração de um Veja que, quando configuramos o endereço IPv4 do host, também
endereço IPv4 em um host Windows. necessitamos configurar a máscara de sub-rede para esse endereço. A
Figura 7 apresenta uma máscara de sub-rede.

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Na verdade, a máscara de sub-rede não contém a parte da rede ou host
de um endereço IPv4, apenas informa ao computador como determinar,
a partir do endereço IPv4, qual é a parte da rede e qual parte é a parte
do host desse endereço.
Figura 7: Máscara de sub-rede. Fonte: Elaborada pelo autor. Para identificar o endereço de rede de um host IPv4, é feito um AND
lógico, bit a bit, entre o endereço IPv4 e a máscara de sub-rede. Usando
Veja que a máscara de sub-rede 255.255.255.0 é uma sequência de 1
a primeira sequência de bits como exemplo, veja que a operação AND
bits, seguida por uma sequência de 0 bits, sendo que, para identificar as
é executada no primeiro bit do endereço do host com o primeiro bit da
partes da rede e do host de um endereço IPv4, a máscara de sub-rede é
máscara de sub-rede. Isso resulta em um bit 1 para o endereço de rede.
comparada, através de uma operação lógica AND, com o endereço IPv4
1 AND 1 = 1. Já no terceiro bit, temos 0 AND 1 = 0.
bit por bit, da esquerda para a direita, conforme mostrado na Figura 8.
A operação AND entre um endereço de host IPv4 e uma máscara de sub-
rede resulta no endereço de rede IPv4 para esse host. Nesse exemplo,
a operação AND entre o endereço de host 192.168.10.10 e a máscara
de sub-rede 255.255.255.0 (/24) resulta no endereço de rede IPv4
192.168.10.0/24. Essa é uma operação IPv4 importante, pois informa ao
host à qual rede pertence.

2.1.2.3 Endereço de Rede


Um endereço de rede é um endereço que representa uma rede
específica. Dado um endereço IPv4, um host determina seu endereço
Figura 8: Operação AND entre a máscara e o endereço IPv4 do hosts.
de rede executando uma operação AND entre seu endereço IPv4 e
Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy. sua máscara de sub-rede. O endereço de rede é aquele que tem todos

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os bits da porção host iguais a zero (0). Por exemplo, para o endereço 2.1.2.4 Endereço de Broadcast ou Difusão
192.168.10.10 com máscara 255.255.255.0, isto é, /24, seu endereço de
rede será conforme apresentado na Tabela 1. Um endereço de difusão é um endereço que é usado quando é necessário
acessar todos os dispositivos na rede IPv4. Conforme mostrado na Tabela
1nd Octeto 2nd Octeto 3nd Octeto 4nd Octeto 2, o endereço de difusão de rede tem todos os 1 bits na parte do host,
conforme determinado pela máscara de sub-rede.
192 168 10 10
End. IP do Host
11000000 10100000 00001010 00001010 1nd Octeto 2nd Octeto 3nd Octeto 4nd Octeto
255 255 255 0 192 168 10 10
Máscara sub-rede End. IP do Host
11111111 11111111 11111111 00000000 11000000 10100000 00001010 00001010
Todos os bits de host em “0” Máscara sub- 255 255 255 0
End. Rede
(AND Lógico entre o 192 168 10 0 rede 11111111 11111111 11111111 00000000
End. IP e a Máscara)
11000000 10100000 00001010 00000000 Todos os bits de host em “0”
End. Rede
Tabela 1: Endereço de rede para o End. IP de Host 192.168.10.10. Fonte: Elaborada pelo autor.
(AND Lógico entre o 192 168 10 0
End. IP e a Máscara)
11000000 10100000 00001010 00000000
Conforme mostrado na Tabela 1, o endereço de rede tem todos os 0
bits na parte do host, conforme determinado pela máscara de sub-rede. Todos os bits de host em “1”
Nesse exemplo, o endereço de rede é 192.168.10.0/24. End. Broadcast 192 168 10 255

Um endereço de rede não pode ser atribuído a nenhum dispositivo. 11000000 10100000 00001010 11111111

Tabela 2: Endereço de broadcast da rede 192.168.10.0 com máscara 255.255.255.0.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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Nesse exemplo, o endereço de rede é 192.168.10.255/24.

Um endereço de difusão também não pode ser atribuído a nenhum


dispositivo da rede.

2.1.2.5 Endereços de Host


Endereços de host são endereços que podem ser atribuídos a um
dispositivo, como um computador, laptop, smartphone, câmera web,
impressora, roteador etc. A porção host do endereço é indicada pelos
bits “0” da máscara de sub-rede. Os endereços de host Eles podem
assumir qualquer combinação de bits na parte do host, exceto para
todos os 0 bits (endereço de rede) ou todos os 1 bits (endereço de
difusão). Em nosso exemplo, quaisquer endereços entre 192.168.10.1/24
e 192.168.10.254/24, inclusive, podem ser atribuídos a um dispositivo
na rede.

2.1.2.6 Default Gateway Figura 9: Configuração do Gateway padrão em um Host Windows.

O Default Gateway é o dispositivo de rede, ou seja, roteador ou switch


da Camada 3 que pode rotear o tráfego para outras redes. Esse endereço
deve ser configurado juntamente com o endereço de host e a máscara O Default Gateway é sempre um dispositivo existente na mesma rede do
de sub-rede de um dispositivo, conforme mostrado na Figura 9. host que está sendo configurado.

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2.1.2.7 Endereço Automático Aqui, um host Windows foi configurado para obter seu endereço IP de
forma automática. O servidor DHCP fornecerá as informações relativas
Um host utilizando o protocolo IPv4 pode obter, automaticamente, ao endereço IPv4, a máscara de sub-rede e gateway padrão. Além disso,
seu endereçamento a partir de um servidor DHCP; para isso, basta outras informações, como o servidor DNS e rotas estáticas, também
ser configurado para obtenção automática de endereço, conforme podem ser fornecidas.
apresentado na Figura 10.
2.1.2.8 Outros Tipos de Endereços IPv4 Especiais
Além dos endereços de rede e de broadcast, existem outros tipos de
endereços IPv4 especiais ou reservados para finalidades específicas.
Vejamos:
▪ Endereços IPv4 Privados - Os endereços IPv4 são utilizados para
referenciar um host na rede global, a internet, e são roteados
globalmente entre provedores de serviços de Internet (ISP). Esses
endereços são atribuídos pelo IANA, para as organizações, porém, na
RFC 1918, foi estabelecido um espaço de endereçamento privado,
apresentado na Tabela 3.

Classe Endereço de rede e prefixo RFC 1918 Intervalo de endereços privados

A 10.0.0.0/8 10.0.0.0 - 10.255.255.255


B 172.16.0.0/12 172.16.0.0 - 172.31.255.255
C 192.168.0.0/16 192.168.0.0 - 192.168.255.255
Figura 10: Configuração de endereçamento automático em um host Windows.
Tabela 3: Endereços IPv4 privados. Fonte: Elaborada pelo autor.

Arquitetura TCP/IP 13
Esses blocos de endereços (conhecidos como endereços privados) 2.1.3 Endereçamento Classful Legado
podem ser usados pelas organizações para atribuir endereços IPv4 a
hosts internos. Esses endereços não são exclusivos e podem ser usados No seu lançamento, os endereços IPv4 foram atribuídos usando o
internamente em qualquer rede, uma vez que não são roteados na endereçamento classful (baseado em Classes), conforme definido na RFC
internet. 790 (substituída posteriormente, pela RFC 820). Os endereços IPv4 eram
atribuídos com base em classes, conforme mostrado na Figura 11.
▪ Endereços de loopback - Os endereços de loopback são endereços
reservados usados por um host para direcionar o tráfego IP para si
próprio; utilizam a faixa 127.0.0.0/8 - 127.0.0.1 a 127.255.255.254, mas
são comumente identificados apenas pelo IP 127.0.0.1, possibilitando
a comunicação interprocessos (entre aplicações) situados na mesma
máquina. Ele também pode ser utilizado, por exemplo, para verificar
o funcionamento do protocolo IP na máquina, uma vez que ele
responde ao comando ping.
▪ Endereços link local - Utilizam a faixa 169.254.0.0/16, isto é, de
169.254.0.1 até 169.254.255.254, e são mais conhecidos como
endereços IP privado automático (APIPA) ou endereços autoatribuídos.
São atribuídos a um cliente DHCP, para se autoconfigurar, sempre que
este consegue receber seu endereço IP de servidores DHCP da rede. Figura 11: Endereçamento IPv4 Classful. Fonte: Adaptada de Werner (s.d, p.16).
▪ Endereço de Broadcast restrito ou Limitado - Identifica um broadcast
▪ Classe A (0.0.0.0/8 a 127.0.0.0/8) - Pensada para suportar redes
na própria rede. Representado por todos os bits do endereço iguais a
extremamente grandes, com mais de 16 milhões de endereços de
1. Em notação decimal, 255.255.255.255.
host e apenas 128 redes. Usa o prefixo /8, com o primeiro octeto para

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indicar o endereço de rede, e os três octetos restantes para endereços 2.1.4 Endereçamento Classless
de host.
▪ Classe B (128.0.0.0/16 a 191.255.0.0 /16) - Projetada para suportar Como a alocação classful dos endereços IPv4 era muito ineficiente,
redes de tamanho médio a grande, com até, aproximadamente, 65.000 em 1993, a IETF criou um conjunto novo de padrões que permite aos
endereços de host e 65.000 endereços de rede. Usa um prefixo fixo provedores de serviços atribuírem endereços IPv4 em qualquer fronteira
/16, com os dois primeiros octetos para indicar o endereço de rede, e do bit do endereço (comprimento do prefixo) em vez de apenas um
os dois octetos restantes para endereços de host. endereço de classe A, B ou C: o sistema conhecido como endereçamento
▪ Classe C (192.0.0.0/24 a 223.255.255.0/24) - Com um máximo de 254 Classless Inter-Domain Routing (CIDR).
hosts por redes, mas com cerca de 2 milhões de redes, a Classe C
foi projetada para suportar redes pequenas. Ela utiliza um prefixo Esse mecanismo está longe de resolver o problema do esgotamento dos
fixo /24, com os três primeiros octetos para indicar a rede, e o octeto endereços IPv4, mas traria uma solução temporária até que um novo
restante para os endereços de host. protocolo IP fosse desenvolvido para acomodar o rápido crescimento no
número de usuários da internet. Em 1994, a IETF começou o trabalho
para localizar um sucessor para o IPv4, que resultou na criação do
protocolo IPv6, o qual abordaremos mais adiante.
Há, também, um bloco multicast de Classe D, que consiste nos endereços
de 224.0.0.0 a 239.255.255.255, e um bloco de endereços reservados de Notação por prefixos
Classe E, que consiste em 240.0.0.0 - 255.255.255.255.
Expressar os endereços de rede e os endereços de host com o endereço
da máscara de sub-rede em decimal com pontos pode ser complicado,
Nem todos os requisitos das organizações e da internet eram atendidos porém existe um método alternativo chamado comprimento do prefixo.
por essas três classes; a classe A e até mesmo a B, por exemplo, O comprimento do prefixo corresponde ao número de bits 1 da máscara
desperdiçaram muitos endereços, o que acabava com a disponibilidade de sub-rede e é escrito após o endereço IPv4, separado por uma (/).
de endereços IPv4 – uma companhia com uma rede de 260 hosts A Tabela 4 apresenta os prefixos e a correspondência com a notação
precisava receber um endereço classe B com mais de 65.000 endereços. decimal da máscara.

Arquitetura TCP/IP 15
Máscara de Sub-rede Binário – 32 bits Prefixo Podemos definir um domínio de broadcast como a fronteira da rede onde
uma transmissão em broadcast pode chegar. Os switches propagam
255.0.0.0 11111111.00000000.00000000.00000000 /8
broadcasts por todas as interfaces, exceto a interface em que foram
255.255.0.0 11111111.11111111.00000000.00000000 /16 recebidos; roteadores, por sua vez, não propagam broadcasts. Quando
255.255.255.0 11111111.11111111.11111111.00000000 /24 um roteador recebe um broadcast, ele não o encaminha por outras
interfaces.
255.255.255.128 11111111.11111111.11111111.10000000 /25
255.255.255.192 11111111.11111111.11111111.11000000 /26
A Figura 12 apresenta um exemplo de domínios de broadcast.

255.255.255.224 11111111.11111111.11111111.11100000 /27


255.255.255.240 11111111.11111111.11111111.11110000 /28
255.255.255.248 11111111.11111111.11111111.11111000 /29
255.255.255.252 11111111.11111111.11111111.11111100 /30

Tabela 4: Prefixos das máscaras de sub-rede. Fonte: Elaborada pelo autor.

2.1.5 Segmentação de Redes


Domínio de broadcast

Em uma rede baseada no protocolo IPv4, uma transmissão em broadcast


é utilizada com frequência, seja para obtenção de um endereço IP de um
servidor DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol) ou na resolução
Figura 12: Domínios de broadcast. Fonte: Elaborada pelo autor.
de endereços do protocolo ARP (Address Resolution Protocol).

Arquitetura TCP/IP 16
Um domínio de broadcast é uma rede que conecta vários hosts. Quando Endereço da Sub-rede Intervalo de host
Broadcast
um domínio de broadcast é muito grande, os hosts podem gerar (256 possíveis sub-redes) (65,534 possíveis hosts por sub-rede)
broadcasts em excesso e afetar a performance da rede de forma negativa.
10.0.0.0/16 10.0.0.1 - 10.0.255.254 10.0.255.255
A divisão da rede em sub-redes reduz o tráfego total da rede e melhora
10.1.0.0/16 10.1.0.1 - 10.1.255.254 10.1.255.255
seu desempenho. Além disso, permite que o administrador implemente
políticas de segurança, como quais sub-redes podem ou não se 10.2.0.0/16 10.2.0.1 - 10.2.255.254 10.2.255.255
comunicar entre si.
... ... ...
Definição de sub-redes IPv4
10.255.0.0/16 10.255.0.1 - 10.255.255.254 10.255.255.255
Sabemos que um endereço IPv4 tem uma porção que define a rede e
Tabela 5: Divisão de uma rede classe A (/8) em sub-redes classe B (/16).
uma porção que define o host. As sub-redes IPv4 são definidas com um Fonte: Elaborada pelo autor.
ou mais bits de host sendo usados como bits de rede; com isso, estende-
se a máscara de sub-rede para pegar emprestado alguns dos bits da Nesse caso, na rede 10.0.0.0/8, foi aplicada a máscara de classe B (/16),
porção de host do endereço e criar bits de rede adicionais. Quanto mais ficando 10.0.0.0/16; assim, onde havia 1 rede com 16.777.214 hosts,
passamos a ter 256 sub-redes redes com 65.534 hosts. Caso fosse
bits de host forem emprestados, mais sub-redes poderão ser definidas e,
aplicada uma máscara de classe C (/24), teríamos 65.536 sub-redes com
por consequência, menor o número de hosts por sub-rede.
254 hosts por rede, conforme mostrado na Tabela 6.
Podemos dividir uma rede em sub-redes de várias maneiras: a primeira
é a divisão nos limites das classes, isto é, dos octetos: /8, /16 e /24. Veja Endereço da Sub-rede Intervalo de host
Broadcast
(65,536 possíveis sub-redes) (254 possíveis hosts por sub-rede)
um exemplo mostrado na Tabela 5, utilizando uma máscara de classe B
em uma rede de classe A. 10.0.0.0/24 10.0.0.1 - 10.0.0.254 10.0.0.255

Arquitetura TCP/IP 17
10.0.1.0/24 10.0.1.1 - 10.0.1.254 10.0.1.255 Máscara de
Prefixo Máscara de sub-rede em binário Sub-redes Hosts
sub-rede
… … …
/25 255.255.255.128 11111111.11111111.11111111.10000000 21=2 27- 2 = 126
10.0.255.0/24 10.0.255.1 - 10.0.255.254 10.0.255.255
/26 255.255.255.192 11111111.11111111.11111111.11000000 22=4 26- 2 = 62
10.1.0.0/24 10.1.0.1 - 10.1.0.254 10.1.0.255
/27 255.255.255.224 11111111.11111111.11111111.11100000 23=8 25- 2 = 30
10.1.1.0/24 10.1.1.1 - 10.1.1.254 10.1.1.255

… … … /28 255.255.255.240 11111111.11111111.11111111.11110000 24=16 24- 2 = 14

10.100.0.0/24 10.100.0.1 - 10.100.0.254 10.100.0.255 /29 255.255.255.248 11111111.11111111.11111111.11111000 25=32 23- 2 = 6

... ... ...


/30 255.255.255.252 11111111.11111111.11111111.11111100 26=64 22- 2 = 2
10.255.255.0/24 10.255.255.1 - 10.2255.255.254 10.255.255.255
Tabela 7: Divisão de uma rede no limite do octeto. Fonte: Elaborada pelo autor.
Tabela 6: Divisão de uma rede classe A (/8) em sub-redes classe C (/24).
Fonte: Elaborada pelo autor.

A segunda maneira é a divisão da rede dentro do limite do octeto. Por


Sempre que dividimos uma rede em sub-redes, perdemos dois endereços
exemplo, se dividirmos uma rede classe C em sub-redes, teremos as
por sub-rede: o endereço de rede e o endereço de broadcast da sub-rede.
seguintes sub-redes apresentadas na Tabela 7.
Por isso, a maior máscara possível em um octeto é /30, uma vez que, com
a máscara /32, haveria apenas dois endereços, um alocado para a rede e
outro para broadcast contrário, não sobrando nenhum IP para hosts.

Arquitetura TCP/IP 18
Redes com máscara variável - VLSM Nela, temos que estabelecer o endereçamento IPv4 para suprir as redes
com as características apresentadas na Tabela 8:
Quando projetamos o endereçamento de uma rede, muitas vezes nos
deparamos com uma distribuição irregular dos hosts em cada sub- Redes Número de hosts
rede, de forma que, se utilizarmos uma máscara única para essa divisão,
não faremos bom uso dos endereços disponíveis. Outro fator a ser Rede A 126
considerado é o esgotamento de endereços IPv4 públicos, que demanda Rede B 62
um melhor aproveitamento dos endereços disponíveis. Uma alternativa Rede C 30
é a utilização das sub-redes com máscaras variáveis (VLSM).
Rede D 30
Imagine o cenário descrito na Figura 13: Num. Total de hosts 248

Tabela 8: Redes e hosts da Figura 13. Fonte: Elaborada pelo autor.

Quais alternativas teríamos para suprir esses endereços?

A primeira opção seria utilizar redes com máscaras de classe C ou B;


nesse caso, atenderíamos todas as redes, mas com um grande desperdício
de endereços.

Uma outra alternativa, uma vez que a quantidade de hosts pode ser
atendida por uma rede de classe C, seria utilizar sub-redes com máscara
variável (VLSM). Assim, com base na Tabela 7, a seguinte segmentação
a partir, por exemplo, da rede 192.168.10.0/24 apresentada na Tabela 9
pode ser efetuada.
Figura 13: Cenário para segmentação VLSM. Fonte: Elaborada pelo autor.

Arquitetura TCP/IP 19
Rede Prefixo Máscara End. Rede / End. Broadcast Hosts IPv4, em 19 de agosto de 2020, o LACNIC (2022) esgotou seu pool
de endereços IPv4 contando apenas com recursos recuperados
End. Rede: 192.168.10.0 e devolvidos, e, desde março de 2020, os recursos passam por um
A /25 255.255.255.128 126
End. broadcast: 192.168.10.127
período de quarentena para serem liberados gradativamente, ao
End. Rede: 192.168.10.128 completar os 6 meses. Desse espaço, somente poderão ser feitas
B /26 255.255.255.192 62
End. broadcast: 192.168.10.191
designações entre um /22 e um/24.
End. Rede: 192.168.10.192 ▪ QoS - O IPv4 foi concebido para o melhor esforço, isto é, ele faz o
C /27 255.255.255.224 32
End. broadcast: 192.168.10.223
melhor possível para entregar todos os pacotes no seu destino, sem
End. Rede: 192.168.10.224 levar em consideração o tipo de aplicação – por exemplo, se é uma
D /27 255.255.255.224 32
End. broadcast: 192.168.10.255
aplicação de voz ou dados.
Tabela 9: Segmentação com máscara variável. Fonte: Elaborada pelo autor. ▪ Conectividade ponto a ponto - Network Address Translation (NAT)
é uma tecnologia comumente implementada em redes IPv4,
2.2 Protocolo IPv6 responsável pela sobrevida dos endereços IPv4 e que permite que
vários dispositivos compartilhem um único endereço IPv4 público. No
O protocolo IPv4, responsável por suportar o nascimento e o crescimento entanto, o endereço IPv4 de um host de rede interna fica oculto; isso
da Internet e Intranets, continua sendo utilizado, porém, quando foi pode ser problemático para tecnologias que exigem conectividade de
concebido, muitos aspectos necessários às aplicações de rede atuais ponta a ponta.
ainda não existiam. Ao longo dos anos, protocolos e processos adicionais ▪ Maior complexidade da rede - O NAT, em suas várias implementações,
foram desenvolvidos para enfrentar novos desafios. No entanto, mesmo cria complexidade adicional na rede, criando latência e dificultando a
com alterações, ele ainda enfrenta três grandes problemas: solução de problemas.
▪ Esgotamento do endereço IPv4 - O IPv4 tem um número limitado de O IPv6 foi desenvolvido com o objetivo de superar as limitações do IPv4
endereços públicos exclusivos disponíveis. Embora o número total e possui recursos que atendem às demandas atuais e previsíveis de rede.
de endereços seja de, aproximadamente, 4 bilhões de endereços As melhorias que o IPv6 fornece incluem:

Arquitetura TCP/IP 20
▪ Espaço de endereçamento aumentado - Os endereços IPv6 são 2.2.1 Pacote IPv6
baseados no endereçamento hierárquico de 128 bits, em oposição ao
IPv4 com 32 bits. Uma das principais melhorias do IPv6 em relação ao IPv4 é seu cabeçalho
▪ Melhora o tratamento de pacotes - O cabeçalho IPv6 foi simplificado IPv6 simplificado, que consiste em um cabeçalho de comprimento fixo
com menos campos. de 40 octetos, sendo a maior parte em função do comprimento dos
endereços IPv6 de origem e de destino, conforme mostrado na Figura 14.
▪ Melhora a conectividade ponta a ponta e elimina a necessidade de
Esse cabeçalho permite um processamento mais eficiente dos pacotes
NAT - Em função do grande número de endereços IPv6 públicos, o NAT
IPv6.
entre um endereço IPv6 privado e um IPv6 público não é necessário.
Isso evita alguns dos problemas induzidos pelo NAT enfrentados por
aplicativos que exigem conectividade de ponta a ponta.

Um endereço IPv4 é composto de 32 bits e fornece, aproximadamente,


4.294.967.296 endereços exclusivos. Já um endereço IPv6 é composto
de 128 bits e fornece 340.282.366.920.938.463.463.374.607.431.768.2
11.456, ou 340 undecilhões de endereços – isso é, aproximadamente,
equivalente à quantidade de grãos de areia na Terra.

Além do espaço de endereçamento, outras melhorias foram


acrescentadas, como o ICMPv6 (Internet Control Message Protocol versão
6), que inclui a resolução de endereços e a configuração automática de
endereços, não encontradas no ICMP para IPv4 (ICMPv4).
Figura 14: Operação AND entre a máscara e o endereço IPv4 do hosts.
Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy.

Arquitetura TCP/IP 21
Os principais campos no cabeçalho do pacote IPv6 incluem: ▪ Endereço IPv6 de destino (128 bits) - Identifica o endereço IPv6 do
host de destino.
▪ Versão (4 bits) - Indica a versão do protocolo. 0110 para IP versão 6.
▪ Classe de tráfego (8 bits) - É equivalente ao campo DSv (serviços Um pacote IPv6 pode conter, também, cabeçalhos de extensão (EH),
diferenciados de IPv4). que fornecem informações de camada de rede opcionais. Os cabeçalhos
▪ Etiqueta de fluxo (20 bits) - Determina que todos os pacotes com a de extensão ficam posicionados entre o cabeçalho IPv6 e a carga. Eles
mesma etiqueta de fluxo recebam o mesmo tipo de manipulação são usados para fragmentação, segurança, suporte à mobilidade, dentre
pelos roteadores. outros.
▪ Comprimento do Payload - carga útil (16 bits) - Define o comprimento
da parte de dados, isto é, da carga útil do pacote IPv6. Não inclui o
comprimento do cabeçalho IPv6, que é fixo de 40 bytes. Ao contrário do IPv4, o IPv6 não inclui uma soma de verificação do
▪ Próximo cabeçalho (8 bits) - Equivalente ao campo Protocolo do IPv4. cabeçalho IPv6, porque essa função é executada nas camadas de Enlace
Define o protocolo da camada de enlace que o pacote está carregando, e Transporte. Isso significa que a soma de verificação não precisa ser
permitindo que a camada de rede transfira os dados para o protocolo recalculada por cada roteador quando diminui o campo Limite de Saltos,
apropriado das camadas superiores. o que também melhora o desempenho da rede. Além disso, os roteadores
não fragmentam os pacotes IPv6 roteados.
▪ Limite de salto (8 bits) - Substitui o campo TTL do IPv4; seu valor
é subtraído de um, cada vez que um roteador encaminha o pacote.
Quando atinge o valor 0, o pacote é descartado e uma mensagem de
ICMPv6 com tempo excedido é encaminhada para o host de envio, 2.2.2 Endereçamento IPv6
indicando que o pacote não chegou ao destino porque o limite de
salto foi excedido. O Endereço IPv6 é um número binário de 128 bits, representado como
uma sequência de valores hexadecimais, formando 8 “hextetos” (4
▪ Endereço IPv6 de origem (128 bits) - Identifica o endereço IPv6 do
dígitos hexadecimais), formando 16 bits, de forma que 8 “hextetos” x 16
host de envio.
bits = 128 bits, como apresentado na Figura 15.

Arquitetura TCP/IP 22
Figura 16: Endereços IPv6. Fonte: Elaborada pelo autor.

Existem duas regras que ajudam a reduzir o número de dígitos


necessários para representar um endereço IPv6.

▪ Regra 1 - Omitir zeros à esquerda

A primeira regra para ajudar a reduzir a notação de endereços IPv6 é


omitir os 0s (zeros) à esquerda de qualquer sessão de 16 bits ou “hexteto”.
Aqui estão alguns exemplos de maneiras de omitir zeros à esquerda:

▪ 0db8 pode ser representado como db8;


Figura 15: Representação do Endereço IPv6. Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy. ▪ 000a pode ser representado como a;
Assim, como o termo “octeto” refere-se aos oito bits de um endereço IPv4, ▪ 00a3 pode ser representado como a3;
no IPv6, um “hexteto” é o termo não oficial (um neologismo) usado para ▪ 0200 pode ser representado como 200;
se referir a um segmento de 16 bits ou quatro valores hexadecimais. Cada ▪ 0000 pode ser representado como 0.
“x” equivale a um único “hexteto”, 16 bits ou quatro dígitos hexadecimais. Assim, os endereços da Figura 16, após a aplicação dessa regra, podem
Assim, o formato preferencial para se escrever um endereço IPv6 é X:X ser representados conforme mostrado na Figura 17.
X:X X:X X:X, como mostrado na Figura 16.

Arquitetura TCP/IP 23
Figura 17: Endereços IPv6 após a aplicação da regra de omitir zeros à esquerda.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Essa regra se aplica somente aos 0s à esquerda, e não aos 0s à direita. Figura 18: Endereços IPv6 após a aplicação da regra de omitir zeros à esquerda e dois-pontos
Caso contrário, o endereço ficaria ambíguo. Por exemplo, o hexteto “abc” duplos. Fonte: Elaborada pelo autor.

poderia ser “0abc” ou “abc0”, porém esses dois hextetos não se referem A regra dos dois-pontos duplos (::) só pode ser usada uma vez em um
ao mesmo valor. endereço; caso contrário, haveria mais de um endereço resultante
possível. Quando associada à técnica de omissão dos 0s à esquerda, a
Regra 2 - Dois-pontos duplos
notação de endereço IPv6 pode ser bastante reduzida, o que chamamos
Esta regra define que o uso de dois-pontos duplos (::) pode substituir de formato compactado.
uma única sequência contígua de um ou mais segmentos de 16 bits
(hextetos) compostos exclusivamente por 0s. Veja, na Figura 18, a 2.2.2.1 Máscara de Sub-rede
aplicação da regra dos dois-pontos duplos sobre a regra de omitir os O IPv6 não usa a notação decimal com pontos para a máscara de sub-
zeros. rede como no IPv4, utilizando apenas a notação do comprimento do

Arquitetura TCP/IP 24
prefixo para indicar a parte da rede de um endereço IPv6. O comprimento 2.2.2.2 Tipos de Endereços IPv6
do prefixo pode variar de 0 a 12, porém o comprimento do prefixo IPv6
recomendado para LANs e a maioria dos outros tipos de redes é /64, Assim como no IPv4, existem diferentes tipos de endereços IPv6, que
conforme mostrado na Figura 19. podem ser inseridos nas seguintes categorias:

▪ Unicast – Identifica univocamente uma interface em um dispositivo


habilitado para IPv6.
▪ Multicast – Usado para enviar um único pacote IPv6 para vários
destinos.

Ao contrário do IPv4, o IPv6 não possui um endereço de broadcast,


porém há um endereço multicast para todos os nós IPv6, que fornece,
basicamente, a mesma funcionalidade.

Existe uma classe de endereços IPv6 Multicast definidos como um


Figura 19: Prefixo do endereço IPv6 utilizado em LANs.
Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy. endereço unicast que pode ser atribuído a vários hosts. Esse tipo de
endereço está fora do nosso escopo.
Assim, são utilizados 64 bits para definir a rede e 64 para definir os
hosts em cada uma das redes. É recomendável usar um ID de interface
de 64 bits para a maioria das redes, porque a configuração automática Endereços Unicast
de endereço sem estado (SLAAC) usa 64 bits para o ID de interface, além ▪ Endereço unicast global (GUA - Global Unicast Address) - Corresponde,
de facilitar a criação e o gerenciamento de sub-redes. no IPv6, ao endereço IPv4 público. São endereços roteáveis na
internet e globalmente exclusivos. Podem ser configurados de forma
estática ou dinâmica.

Arquitetura TCP/IP 25
▪ Endereços locais exclusivos (ULA - Unique Local Address) - Definidos Names and Numbers (ICANN), operador da Internet Assigned Numbers
no intervalo fc00::/7 a fdff::/7, similares aos endereços privados Authority (IANA), que aloca blocos de endereço IPv6 para os cinco
do IPv4, porém ainda pouco utilizados. Sua estrutura segue a dos Operadores Regionais (RIRs) nos respectivos continentes, e estes para
endereços GUA. os operadores nos países e paras os Operadores de serviço Internet
▪ Endereço de Link local (LLA - Link-Local Address) - Todo dispositivo (ISP). No momento, somente endereços unicast globais com os primeiros
IPv6 deve ter um endereço LLA; utilizam a faixa fe80::/10. Eles são três bits de 001 – isto é, 2000::/3 até 3fff::/3 – estão sendo atribuídos. A
usados para a comunicação com outros dispositivos no mesmo link Figura 20 apresenta a estrutura do GUA.
local, isto é, na mesma rede ou sub-rede. Esses endereços precisam ser
únicos apenas para a rede em que se encontram e não são roteáveis,
isto é, os roteadores não encaminham pacotes com um endereço de
link local de origem ou destino.
▪ Endereço de Loopback - Assim como no IPv4, o endereço de loopback
endereça o próprio host. No IPv6, é defino por ::1/128.

Figura 20: Estrutura do GUA. Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy.


O espaço de endereço 2001:db8::/32 foi reservado para fins de
documentação, incluindo o uso em exemplos. O prefixo de 64 bits que define a rede é composto de um prefixo de
roteamento global de 48 bits e um complemento de 16 bits que define
a sub-rede dentro da rede definido no prefixo de 48 bits. Por exemplo,
Estrutura de um endereço unicast global (GUA - Global Unicast Address) o endereço de rede IPv6 2001:db8:abdc:1::/ 64 corresponde à sub-rede
O endereço IPv6 unicast global (GUA) é um endereço globalmente ::1/64, da rede 2001:db8:abcd::/48.
exclusivo e roteável na Internet IPv6; são equivalentes aos endereços
IPv4 públicos. São atribuídos pelo Internet Committee for Assigned

Arquitetura TCP/IP 26
Endereços multicast ▪ Grupo multicast de todos os roteadores - ff02::2 - Este é um grupo
multicast ao qual todos os roteadores IPv6 se unem. Um pacote
Os endereços IPv6 multicast, assim como no IPv4, são usados para enviar enviado para esse grupo é recebido e processado por todos os
um único pacote a um ou mais destinos (grupo multicast). Os endereços roteadores IPv6 no link ou rede.
multicast IPv6 têm o prefixo ff00::/8.
Endereço multicast do nó solicitado
Um endereço multicast do nó solicitado é semelhante ao endereço
Os endereços multicast só podem ser utilizados como endereços multicast de todos os nós. A grande vantagem do endereço multicast do
de destino, e nunca como endereços de origem – estes são sempre
nó solicitado é que ele é mapeado para um endereço multicast Ethernet
especial, o que permite que a placa de rede Ethernet filtre o quadro,
endereços Unicast.
examinando o endereço MAC de destino sem enviá-lo ao processo IPv6
para ver se o dispositivo é o alvo pretendido do pacote IPv6, melhorando
o desempenho da rede.
Endereços multicast conhecidos

Os endereços multicast atribuídos são endereços multicast reservados


para grupos predefinidos de dispositivos. São usados para acessar 3. Roteamento
um grupo de dispositivos que executam um serviço ou um protocolo
comum, como o DHCPv6. Os dois grupos multicast atribuídos ao IPv6 Roteamento é o processo de encaminhar pacotes entre redes distintas
com base no endereço da camada de rede, normalmente IPv4 ou IPv6.
mais comuns são:
Os pacotes são sempre criados no host de origem, que deve ser capaz de
▪ Grupo multicast de todos os nós - ff02::1 - Grupo multicast ao qual direcionar o pacote para o host de destino com base em uma tabela de
todos os dispositivos habilitados para IPv6 se juntam. Um pacote roteamento. Tanto os dispositivos finais (ETD) como os dispositivos de
rede (ECD) que operam na camada de rede têm suas próprias tabelas de
enviado para esse grupo é recebido e processado por todas as
roteamento. Um host pode enviar um pacote para si mesmo através do
interfaces IPv6 no link ou rede. Tem a mesma função que um endereço
endereço de loopback, para um outro dispositivo na mesma rede ou para
de broadcast em IPv4. um host remoto em outra rede.

Arquitetura TCP/IP 27
Quando um host envia um pacote para outro com mesmo endereço de ▪ Endereço MAC de origem — Este é o endereço MAC simplificado da
rede, ele encapsula o pacote em um frame ethernet com o endereço NIC Ethernet em PC1, aa-aa-aa .
MAC correspondente ao IP do host de destino, determinado através Já o pacote IP da Camada 3 contém o seguinte:
o protocolo ARP, no caso do IPv4, ou através de uma solicitação de
vizinhança ND ou NDP (Neighbor Discovery), no IPv6. A Figura 21 ▪ Endereço IPv4 de origem — Este é o endereço IPv4 de PC1,
192.168.10.10.
apresenta a comunicação entre dois hosts em uma mesma rede Ethernet
▪ Endereço IPv4 de destino — Este é o endereço IPv4 de PC2,
utilizando o protocolo IPv4.
192.168.10.11.

Quando o endereço IP de destino (IPv4 ou IPv6) estiver em uma rede


remota, o endereço MAC de destino será o endereço do gateway
padrão do host (ou seja, a interface do roteador). Considere o exemplo
apresentado na Figura 22.

Figura 21: Comunicação de hosts na mesma rede. Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy.

Aqui, o PC1 envia um pacote para o PC2. O quadro Ethernet da camada 2


contém o seguinte:

▪ Endereço MAC de destino — Este é o endereço MAC simplificado de


Figura 22: Comunicação de hosts em redes diferentes.
PC2, 55-55-55.
Fonte: Adaptada de Cisco Network Academy.

Arquitetura TCP/IP 28
Nele, o PC1 envia um pacote para o PC2, agora em outra rede. O quadro
Ethernet da Camada 2 contém o seguinte:

▪ Endereço MAC de destino — Este é o endereço MAC simplificado da


interface do roteador R1 conectada à rede 192.168.10.0/24, bb-bb-bb.
▪ Endereço MAC de origem — Este é o endereço MAC simplificado da
NIC Ethernet em PC1, aa-aa-aa.

Já o pacote IP da Camada 3 contém o seguinte:

▪ Endereço IPv4 de origem — Este é o endereço IPv4 de PC1,


192.168.10.10.
▪ Endereço IPv4 de destino — Este é o endereço IPv4 de PC2,10.1.1.10.

Tabela de rota de um host

Em um host do Windows, o comando route


print ou netstat -r pode ser usado para
exibir a tabela de roteamento do host.
Ambos os comandos geram a mesma
saída.

A Figura 23 apresenta uma tabela de


rotas de um host Windows.

Arquitetura TCP/IP 29
Protocolos de descoberta de rota

As tabelas podem ser montadas de forma estática, isto é, manualmente


pelo administrador, ou de forma automática, através dos protocolos
de roteamento que operam segundo um determinado algoritmo de
Figura 23: Tabela de rotas de um host Windows. Fonte: Elaborada pelo autor. descoberta de rotas.
A tabela de roteamento do roteador também contém entradas de rota de ▪ Algoritmo do ​Vetor da Distância - Roteadores que operam segundo o
rede, listando todos os possíveis destinos de rede conhecidos. algoritmo de vetor da distância se anunciam para outros roteadores
da rede. Periodicamente, enviam mensagens de broadcast divulgando
Uma tabela de roteamento armazena três tipos de entradas de rota:
sua tabela de rotas; essa informação será utilizada por outros
▪ Redes conectadas diretamente - Essas entradas de rota estão roteadores para atualizar suas próprias tabelas de rotas. Quando uma
associadas às interfaces locais do dispositivo, que adicionam uma alteração ocorre na rede, por exemplo, uma nova rede é adicionada;
rota diretamente conectada sempre estiver configurada com um essa informação é passada de roteador a roteador, dependendo do
endereço IP e ativa. Em um roteador, cada interface está conectada tamanho da rede e do número de rotas existentes; o tempo para que
a um segmento de rede diferente, logo, possui uma rota diretamente essa rota seja conhecida pode ser razoavelmente grande – chamamos
conectada para cada uma delas. esse fenômeno de convergência (nesse caso, baixa convergência). Por
▪ Redes remotas - Essas entradas indicam as rotas cujo acesso está sua vez, como a informação é divulgada por meio de broadcast, esse
associado a um roteador. Essas rotas são configuradas de forma algoritmo provoca grande overhead na rede. O principal protocolo
estática por um administrador ou através de um protocolo de que opera segundo esse algoritmo é o protocolo RIP.
roteamento dinâmico. ▪ Algoritmo do Estado do Link - O algoritmo de roteamento pelo estado
▪ Rota padrão - A rota padrão é usada quando não for encontrada do link opera de modo a reduzir o tráfego de atualização de rotas na
outra correspondência na tabela de roteamento IP. Normalmente, é rede. Nesse algoritmo, quando um roteador é adicionado à rede, ele
representada pelo endereço 0.0.0.0/0 na tabela de IPv4. pode solicitar as informações de rota aos seus roteadores vizinhos.

Arquitetura TCP/IP 30
Uma vez que os roteadores tenham construído suas tabelas de rota, Apesar de o IPv6 já ser uma realidade no núcleo da internet, muitas
só enviarão mensagens de atualização caso haja alguma mudança corporações ainda utilizam essa versão internamente nas suas LANs,
nos links a ele associados. Os roteadores que operam sob esse fazendo com que os profissionais de rede ainda conheçam sua
protocolo mantêm, além das informações de rotas, informações sobre implementação, incluindo a segmentação de redes em sub-redes com
o estado de cada link que possui com outros roteadores. Os principais máscaras variáveis VLSM.
protocolos que operam segundo esse algoritmo são os protocolos
OSPF, BGP e o ISIS da ISO.

A camada de enlace é responsável por alguns dos aspectos mais


Referências
importantes da comunicação em rede – tanto que o protocolo IP, CISCO NETWORK ACADEMY. CCNA 1 - Introduction to Network v7.02.
juntamente com o TCP, deram nome ao conjunto de protocolos conhecido Disponível em: http://netacad.com. Acesso em: 15 ago. 2022.
como TCP/IP.
IETF. RFC 790 - Assigned Numbers. Disponível em: https://www.rfc-
Projetado nas décadas de 1970 e 1980, o Protocolo IPv4 esteve na base editor.org/rfc/rfc790. Acesso em: 3 ago. 2022.
de todo o desenvolvimento da internet até nossos dias, porém, com o
IETF. RFC 820 - Assigned Numbers. Disponível em: https://www.rfc-
crescimento vertiginoso, seu espaço de endereçamento começou a editor.org/rfc/rfc820. Acesso em: 3 ago. 2022.
se esgotar e novas abordagens (como o CIDR e o NAT) conseguiram
estender sua vida útil ainda até os dias de hoje. IETF. RFC 1918 - Address Allocation for Private Internets. Disponível em:
https://www.rfc-editor.org/rfc/rfc1918.html. Acesso em: 8 ago. 2022.
O IETF, por sua vez, iniciou o desenvolvimento de uma nova versão, o
PIv6, com espaço de endereçamento com base de 128 bit, alcançando a LACNIC. Fases de esgotamento do IPv4. 2022. Disponível em: https://
ordem de centenas de undecilhões, além de endereçar outros problemas www.lacnic.net/1077/3/lacnic/fases-de-esgotamento-do-ipv4. Acesso
em: 17 ago. 2022.
do IPv4, como priorização e qualidade de serviços.
WERNER, J. A. V. Apostila - Internet e Arquitetura TCP/IP. 2. ed. Rio de
Janeiro: Ed. PUC-RJ, s.d.

Arquitetura TCP/IP 31

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