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A Arte de Ser Criativo
A Arte de Ser Criativo
Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser
reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por escrito,
do autor ou editor, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do
ebook.
Não era uma carreira em si, eu não pensava como uma carreira, mas sim
como um chamado de vida mesmo.
Eu queria ser escritor e botar minhas histórias pra correr pelo mundo.
Então eu fui fazer letras, quando tive que escolher um curso para o vestibular
quando fiz meus 18 anos.
E o curso de letras não serve para você se tornar um escritor. Não posso
negar que as aulas de literatura me ajudaram muito com a questão da estética
e de conhecer um mundo novo. Mas tinha muita coisa de gramática e
linguística que não me ajudava em praticamente nada.
Além disso, o curso não ajudava em coisas importantes para a escrita, como a
organização, melhorar a produtividade e ser mais criativo.
Logo eu descobriria que o curso de letras não me ajudaria em nada para ser
um escritor, que eu teria um pouco de raiva do modelo falido das editoras
tradicionais e que o caminho certo para eu realizar meu sonho era transformar
a escrita numa missão de vida, mas minha carreira era abrir uma editora.
Então lá fui eu abandonar letras, com o curso quase completo, e fui fazer
outra faculdade, dessa vez de Administração.
Em Administração o mundo se abriu um pouco mais...
Decidi então que criar um Manual para esse time era uma tarefa essencial.
Tentando resumir o que eu já tinha aprendido e tentando responder às
principais perguntas que esse time pudesse ter.
O que é criatividade, qual propósito de ser criativo, como ser mais criativo...
Essas foram algumas perguntas que fui tentando responder ao longo desses
mais de 10 anos. Esse livro é para sintetizar tudo que consegui encontrar
nesse tempo e que ajude a responder algumas dessas perguntas.
Espero que seja útil pra você. Se pelo menos uma das práticas já te auxiliar,
já vou ter cumprido minha missão com essas linhas.
Grande abraço,
Diogo
ps: como eu imagino que você seja um leitor e um aprendedor tão chato e cri-
cri como eu, no final do livro vão estar todas as referências, de livros, links e
vídeos, que usei para escrever e também para construir meu conhecimento
sobre o tema ao longo desses anos. Nada do que está aqui foi tirado do ar e
mesmo os meus achismos são teorias baseadas em pensamentos de outras
pessoas. Importante deixar claro que eu não vou conseguir referenciar como
nota de rodapé, mas só como bibliografia no final mesmo.
Pela força motriz, pela energia, pelo que dá a fagulha que começa o fogo.
Então vamos parar um pouquinho e tentar entender um pouco mais do que é
criatividade.
Por que queremos ser criativos? Qual o propósito
disso?
Pra isso eu quero começar primeiro tentando entender o que significa
criatividade...
Percebam que a Criatividade envolve ali três verbos bem práticos: produzir,
usar e fazer.
Mas eu vou tentar fazer diferente por aqui. Antes de entrar na parte prática
em si, no como da coisa, vou explicar o fim.
Assim, você não vai ser só criativo mas também poder defender melhor a
criatividade e sua importância.
Para isso, vamos olhar para trás e entender um pouco a história do mundo.
Era da Produção
Lema: Faça coisas grandes (Do things bigger)
É aqui que surgem as novas tecnologias de manufatura. O crescimento
populacional exige que as empresas cresçam rápido e entreguem para os
clientes em larga escala.
Era da Produtividade
Lema: Faça coisas grandes e melhores (Do things bigger and better)
Aqui as preocupações começam a ser as automações, que permitem que a
produção consiga entregar itens melhores. Também existe mais concorrência,
que exige que todo mundo comece a fazer itens de qualidade, não bastando
só entregar o produto.
Era da Internet
Lema: Faça coisas maiores, melhores e mais rápido (Do things bigger, better
and faster)
O mundo ficou menor com a globalização e a internet facilitou que a gente
entregasse as coisas muito mais rápido. Além do que, como as eras são
incrementais, partimos do pressuposto que todos os produtos são feitos em
larga escala e já são de qualidade, embora a produção seja mais
descentralizada. Por isso a importância de fazer tudo isso chegar mais rápido
na casa do cliente.
Bom, depois de vivermos nas 3 épocas, já temos dados suficientes para saber
que as coisas estão mudando e estamos chegando num novo ponto de ruptura.
Estamos cada vez mais nos aproximando de uma nova Era. Isso se nós já não
entramos nela sem perceber...
Tem um livro que eu gosto bastante, o “Zero a Um” do Peter Thiel, fundador
do PayPal. Nele, é explicado que existem duas formas de gerar crescimento.
Uma é a forma horizontal, onde você vai melhorando algo que já existe (O
crescimento vai de 1 até N).
A outra, e é a que ele fala que é o segredo das grandes empresas que surgiram
na história, está em ir de 0 até 1, onde você aposta no crescimento vertical,
criando algo novo e "do nada".
Antes o recurso escasso no planeta era a produtividade, mas conforme ele vai
ficando mais abundante e commoditizado, fica mais fácil entender que temos
que mudar a forma que a gente investe, seja com dinheiro seja em termos de
carreira.
E uma coisa que eu queria tirar o estigma é que ser criativo é só coisa de
quem é de "humanas" ou de artista.
Galileu pegou um pedaço de vidro e resolveu olhar pro céu. Descobriu mais
sobre os astros.
Ada Lovelace pegou um artigo pra traduzir e introduziu suas próprias ideias,
criou o primeiro algoritmo crescendo ainda mais a ideia original do artigo
original.
Bide (ou Alcebíades) pegou uma lata de manteiga, um pedaço de couro
pequeno e inventou o tamborim (pra depois ajudar a inventar a primeira
escola de samba).
Criatividade tem muito a ver com processo também. Eu trabalho com redação
publicitária e, no meu caso, preciso garantir que meu processo me ajude a
escrever as peças e textos.
E agora nós vamos entrar na parte boa desse livrinho: vamos aprofundar nas
9 principais dicas e processos para você conseguir destravar seu lado mais
criativo.
Uma dica antes das dicas: Se você está trabalhando em algum projeto, tem
uma parte no final de cada dica onde tem uma parte “prática”. Essa parte vai
estar relacionada a como aplico a projetos meus, então aconselho seguir dali
pra ajudar nos seus também! :)
Quantas vezes você, durante esse dia, questionou a realidade ao seu redor?
Quantas vezes você questionou as paradas mais banais da sua existência e
que cruzaram a sua vida?
Essas são perguntas que o Da Vinci se fazia diariamente. Quem conta isso
pra gente é o Walter Isaacsson, que por sinal também escreveu, além da
biografia do Da Vinci, a do Jobs e a do Einstein. Em todas essas biografias dá
pra perceber que esses caras tinham os mesmos hábitos de se perguntar essas
coisas meio comuns e até meio banais.
Simplesmente pela curiosidade em si.
Não tenho nenhum talento especial.
Sou apenas apaixonadamente curioso.
Einstein
Inclusive tem um trecho, no final da biografia do Da Vinci, que o autor traz
algumas estatísticas:
Nós vamos perdendo essa capacidade que as crianças tem intrínseca (e que,
querendo ou não, é intrínseco a nossa vida), que é a capacidade de ter uma
mente de iniciante (beginner’s mind), que pergunta mais do que tenta achar
respostas imediatas pros problemas.
Além disso, comece a fazer perguntas para o mundo ao seu redor. Olhe os
objetivos, as paisagens, olhe as coisas e comece a fazer perguntas que você
nunca se permitiu fazer.
Isso serve pra mostrar que o mundo não é tão óbvio assim. E você só vai
descobrir isso perguntando!
Se abra pra viver coisas diferentes. Cozinhar, pintar, bordar, jogar tarot.
Você escolhe.
E vai por mim, eu sei que é difícil a gente experimentar essas coisas novas.
Seu corpo gosta de economizar recursos e ele vai fazer o máximo para te
impedir de fazer essas experiências. É um modo de sobrevivência.
Você vai começar a ver aquele vídeo de gente que pensa diferente, vai ver
aquele filme que não é do seu estilo favorito, vai ler uns livros chatos e que te
incomodam e sua primeira reação vai ser fugir.
Mas resista. Vai por mim: quando você era criança e não se preocupava com
isso, você experimentava as coisas e resistia a essa sensação de fugir. E a
maioria dos aprendizados que você teve naquela época estão com você até
hoje.
Um paredão mesmo, imagina uma coisa meio furacão 2000 só que ao invés
de caixa de som era muita tv, todas ao mesmo tempo, para ter insights de
tendências do que ia acontecer.
Óbvio que, como quadrinhos, ele lia tudo como se fosse um exercício de
futurologia mesmo. Ele percebia os padrões dos acontecimentos da mídia e
entendia tudo que ocorreria.
Por isso que, ao dar um nome para o que eu fazia, acabei dando o nome de
método Ozymandias. No fundo existem nomes diferentes para coisas
parecidas.
Isso é algo que os mais velhos acabam fazendo mais do que a gente.
Lembro do meu avô lendo jornal todo domingo, de cabo a rabo, um monte de
notícia diferente, de editorias diferentes e com tons de voz diferentes.
E ele tinha a forma dele de enxergar vários padrões para falar as verdades e
princípios dele. Isso tudo muito influenciado pelo que ele lia.
Hoje em dia a gente recebe as coisas muito mais mastigadas e muito mais
segmentadas. A gente acaba perdendo um pouco dessa maré generalista
porque preferimos entrar numa maré (muito maior) específica.
Encare o método Ozymandias (ou uma tarefa que exige muito de você em
termos de ser “criativo”) como um pequeno estresse pro seu cérebro.
Agora encare a procrastinação como a recuperação natural disso.
Então tire um tempo pra pensar em uns nadas mesmo. Fazer zero coisas.
Relaxar.
Inclusive, no meio do dia mesmo.
E se tem uma coisa que eu não faço de tarde é escrever logo depois do
almoço.
O certo é você malhar 1 hora por dia e descansar. Se você vai numa academia
seus treinos são conjugados.
Um certo estresse durante um certo período é ótimo pro seu corpo. Agora,
toda hora, todo dia, é péssimo.
A mesma coisa vale para o seu cérebro (que, no fundo, é o responsável por
você ser mais criativo). Um pequeno estresse, um foco agressivo, é ótimo.
Agora, durante horas, fritando naquilo, vai por mim, só vai te destruir e matar
ideias e o seu tempo.
Dica na prática: Uma boa dica para criar uma rotina é separar
momentos de fazer nada durante o dia. Simplesmente ficar deitado
procrastinando ou relaxando. Passear na rua sem objetivo (que também
é chamado de flanar).
Então lá vai:
Não precisa ser tipo 5km todo dia, correndo boladão. (embora se você for do
meu time, o time das corridas, bora correr atrás desses 5k ou mais todo dia
sim!)
Mas vamos pensar com carinho e regular direitinho essa nossa máquina.
Faça uma Yoga, que dá pra fazer em casa, em qualquer canto. Pula uma
corda. Se alonga. Faz exercícios de calistenia ou com pequenos pesos como
kettlebells que você consegue fazer tendo literalmente uns 2 metros
quadrados em casa.
O ideal e que, pra mim, trouxe resultado, vou realmente me preocupar com
meu corpo e minha saúde.
Agora, mesmo que esse não seja o seu foco, é importante se por em
movimento de qualquer maneira.
Victor Hugo, quando escrevia Os Miseráveis, caminhava 2-3 horas por dia.
Um dos meus autores favoritos é o Nassim Nicholas Taleb. Ele é famoso por
escrever “A Lógica do Cisne Negro” e o “Antifrágil”, dois livros mais
famosinhos pra turma dos investimentos mas que são livros de filosofia.
Flanar é simplesmente alguém que sai pra caminhar, sem rumo, pelo simples
fato de caminhar.
Levante da cadeira!
Dica #6: Descubra seus Hábitos Criativos
Tem momentos do nosso dia que a gente tá mais criativo que em outras
horas. Esses períodos a gente chama de hábito criativo, esse momento em que
teu cérebro tá porreta pra fazer as conexões e pensar coisa nova.
Nesses momentos de hábitos criativos você fica muito mais próximo desse
estado de flow. Mas isso não serve só pra galera de humanas e gente criativa
(no sentido que a gente entende) no geral. Galera de tecnologia, por exemplo,
geralmente tem horários que se sente mais confortável para trabalhar e achar
soluções para os problemas.
E não vem com papinho de que não tem isso com você.
Que tem, tem. Você só não tinha parado pra pensar nisso ainda. Então fique
esperto e comece a reparar nos seus horários.
O que importa é prestar muita atenção e tentar verificar em todos esses turnos
quais seus melhores horários. Quais gatilhos te fazem trabalhar melhor. Os
meus, como falei, são tomar meu café da manhã.
E os seus?
Seja para me inspirar num projeto específico, seja para simplesmente olhar e
relembrar de algo. Isso ajuda e muito a ter novas ideias.
Um exemplo de quem faz esse exercício muito bem e que sempre gosto de
fazer é a do Banksy, que tem muito esse caráter de pegar referências e
subverter para passar a mensagem. Ele se apoia desse arcabouço geral no
imaginário e utiliza isso para construir sua arte.
Dica Prática: Ter um lugar de onde partir muitas vezes é a melhor forma
de começar. Por isso é importante colecionar (e roubar) referências de
outros trabalhos. Se entupa de referências, crie um Evernote ou um
Google Keep e comece a guardar tudo que te inspira.
Dica #8: Exponha (bote seu bloco na rua)
Não adianta você ter uma ideia foda, executar ela e não mostrar pra ninguém.
Se você não bota seu bloco na rua, ninguém vai poder falar que seu samba é
bom, nem você vai perceber onde estão os problemas de cadência e ritmo
nele. Só dá pra saber se algo vai pegar ou não se você literalmente expor e
botar ele pra rodar.
Eu, desde pequeno, sempre quis ser escritor. Uma das paradas que mais fiz
foi guardar meus textos na gaveta. Se os textos estão guardados, então por
que eu escrevi eles num primeiro momento?
No fim das contas, isso pouco importa. De todas as vezes que publiquei algo
meu, mesmo as críticas negativas foram boas de receber, porque me ajudaram
a entender um ponto ruim no meu trabalho e isso pôde me ajudar a melhorar
para os próximos.
Portanto, se exponha.
Dica prática: se você tem muita vergonha, comece expondo para amigos
de confiança que te darão feedbacks bons e ruins também, mas de um
jeito que você sabe receber.
Inclusive, nunca se esqueça que, por mais que você faça um ótimo trabalho,
sempre pode vir um engraçadinho vir fazer um comentário passivo-agressivo,
uma piadinha idiota. O melhor jeito de responder esse tipo de comentário e
usando comunicação violenta mesmo, expondo o idiota ao ridículo do próprio
comentário e piada. O block pode vir junto, nesses casos.
Dica #9: Brinque
Essa dica talvez seja a mais abstrata, mas é um consenso entre tudo que você
procurar sobre criatividade/ser mais criativo.
Não é fugir da realidade, não é negar que a vida real bate lá fora. É
simplesmente separar o tempo para se divertir.
Não tô falando de sair brincando com bonecos. Mas sem encarar a vida com
mais diversão e se divertir, de fato, fazendo o seu trabalho criativo.
Se permita entender que o que você faz tem seus momentos de risada. Se
permita sair um pouco do script e pensar bobeiras e desenvolver ideias que
parecem bobas.
Separe um tempo para brincar, de fato, com seus amigos, suas filhas e filhos,
seus sobrinhos, seus animais.
Sei que eu sou um cara meio diferente de outras pessoas e chego a ser meio
chato por demais com esse negócio de disciplina.
Separar horário pra tudo, repetir as coisas todos os dias. Sou craque nisso.
A verdade é isso não veio da noite pro dua, já que eu nunca fui muito
disciplinado e tive que aprender a ser assim. No fim, minha disciplina me
trouxe até aqui e sou grato a ela.
E foi uma habilidade adquirida! Logo, você também pode melhorar nisso.
Como falei antes, na dica #4, procrastinar é de suma importância mas não é
uma desculpa para não terminar as coisas ou não entregar.
Você consegue procrastinar e ser produtivo num mesmo dia, sem problemas.
Você deveria ser capaz sim de produzir, mesmo nas situações adversas, ao
invés de cair nesse discurso. O problema está na causa-raiz do problema.
Nesse caso você deve se perguntar se a tarefa é necessária ou não e o que não
te faz gostar dela.
Você não concorda com o briefing do projeto? Se é um projeto pessoal seu
você pode mudá-lo, se é do trabalho ou cliente, por que não tenta expor suas
ideias?
Às vezes, simplesmente, a gente está de saco cheio. Se você não tem boletos
para pagar, aconselho a largar o cliente.
Agora, se você tem boletos, lembre-se que, sem a tarefa feita, os boletos não
serão pagos.
Se você ler uma página por dia, consegue ler um livro por ano. Essa pra mim
é a melhor conta pra se mostrar pra alguém que diz que não consegue tempo
pra ler.
Uma página por dia é em torno de 10 minutos se você for ler bem
profundamente e refletindo sobre o que está escrito. Você gasta mais tempo
no Instagram.
Essa visão de uma página por dia é a que melhor demonstra uma das maiores
lições que já tive na vida: se você melhorar nem que seja 0,5% todo dia, em
pouco tempo você vai estar 100% melhor do que era quando começou.
Uma linha de algum projeto pessoal meu. Esse material, por exemplo, foi
escrito várias vezes dessa maneira, uma linha por vez.
Agora você consegue ver que o problema está como se planejou e enxerga a
tarefa à sua frente.
Você falar: quero ler 1 livro essa semana parece absurdo se você está
desmotivado. Então não faça isso. Bote na cabeça de ler um capítulo por dia,
ou dez minutos por dia no mínimo, e veja onde estará ao final.
Quando a gente não enxerga o propósito das coisas, fica bem difícil terminar
elas.
Só que, quando colocamos ele num nível mais concreto, o propósito fica algo
bem mais palpável de se importar.
Um propósito bom não precisa ser mudar o mundo através do design, mas
sim garantir que eu sou capaz de finalizar algo. Ou entregar um trabalho que
aumente a conversão do cliente. Ou fazer a tarefa porque ela paga meus
boletos.
Propósito não precisa ser algo complexo. Não precisa ser algo divino e
milagroso. Pode ser simples e direto ao ponto. Prático e não absurdo.
Se o projeto ou tarefa não tem objetivo final, cogitar desistir pode não ser a
pior decisão. Abandonar obras que te fazem perder tempo não
necessariamente são coisas ruins. Existe aprendizado em largar algo que não
faz mais sentido.
Sua disciplina nasce de azeitar e entender esses 3 pontos, ou pelo menos ter
dois deles muito fortes.
Mas não.
Tem dias que você não vai acabar entregando seus melhores trabalhos. Não
vai ter como entregar aquela peça bonita, aquela carta de vendas maravilhosa
ou aquele desenho comissionado perfeito do jeito que você imaginou. Mas
você vai entregar porque você vai fazer e ter a disciplina de seguir.
O Conceito de Catedrais
Sempre fui uma pessoa muito, digamos, acelerada. Principalmente quando
era mais jovem.
Imediatista mesmo.
As lições mais difíceis que tive foram todas fruto disso. De querer um
resultado rápido de algo que não seria rápido. Só que a realidade é o contrário
dessa minha antiga crença.
.
Projetos tomam tempo. Seja uma obra de arte, seja uma ideia maluca de
negócio, seja qualquer coisa. Eu demorei pra aprender essa lição.
Aqueles nossos feitos que a gente tem orgulho não para os outros, para a
gente mesmo, esses tomam mais tempo ainda.
Você já deve ter visto a Grande Onda de Kanagawa por aí. É a imagem de
uma onda revolta, um barco enfrentando ela e o monte Fuji ao fundo.
Esse desenho representa muita coisa.
A Grande Onda não foi pintada do dia pra noite. Roma não foi feita em um
dia. Catedrais não foram construídas em poucos anos.
Você sabe quanto tempo demorava para uma catedral ser construída na idade
média?
A Catedral de Milão demorou 600 anos. Notre Dame demorou 180 anos. Só
citei duas, mas a maioria delas levou mais de duas gerações familiares para
ser erguida.
É o tipo de coisa que toma séculos para serem feitas e saírem perfeitas, do
jeito idealizado no passado. Diferente da obra de um homem só, grandes
obras também podem demorar tanto tempo se forem projetos como as
Catedrais.
Era um pensamento no longo prazo, mesmo que esse longo prazo não se
realizasse durante a sua vida.
Um enxadrista cubano campeão mundial tem uma frase que sintetiza muito
bem essa tese:
Para começar você deve estudar o
final. Você não quer ser o primeiro a
agir, mas sim o último homem de pé.
José-Raúl Capablanca
No mundo cheio de tecnologia que a gente vive hoje, com múltiplas
notificações e conteúdos que somem depois de 24 horas de postados, é fácil
se afogar no mar de pensamento de curto prazo e focado no agora.
Esse texto, por exemplo, tem mais de 10000 palavras, o que é bem pouco se
você parar pra refletir, mas já me parece um colosso difícil de digerir e a todo
momento fico me perguntando se não tem como diminuir, cortar e editar pra
ficar mais palatável.
A gente tende a pensar que ele é cíclico e que as coisas do passado meio que
se repetem. Nossa estrutura de calendário é assim, por exemplo, já que chega
ao fim e reinicia.
Mas, no fundo, o tempo não é cíclico. Ele progride. Ele vai pra frente. Ele
não volta.
Vivemos tão presos nessa visão dos feeds infinitos e no agora que visões de
longo prazo são vistas como infantis ou lunáticas.
Enxergar o tempo como cíclico, e não como algo linear, faz com que a gente
olhe apenas para o passado para nos inspirar. Isso não traz progresso.
Novas Grandes Ondas e novas Catedrais só surgem quando a gente olha pra
frente e imagina o que a gente quer do mundo. Vamos nos permitir sonhar e
imaginar aonde queremos chegar?
Lembrando que você não precisa seguir todas essas sugestões, mas
aconselharia a testar todas pelo menos algumas vezes!
As músicas certas
Pra quem trabalha com criatividade, tem umas tarefas que, por mais que a
gente goste de fazer, são cansativas. Sempre tive muitos problemas com essas
tarefas, justamente porque, mesmo quando ia botar a bunda na cadeira e
fazer, me sentia desmotivado depois de um tempo. A cena era sempre muito
parecida todas as vezes. Pega por exemplo o que eu faço, que é escrever:
O maior problema dessa frustração e cansaço é o ciclo que você entra. Você
quer botar pra vida aquele texto, aquele roteiro, aquela ilustração foda, quer
que todo mundo veja o que você tá vendo. Na sua cabeça tá muito foda e
você quer dividir aquilo com todo mundo. E essa etapa da execução é até boa
e divertida. Você gosta de ver as coisas tomando forma. Mas trabalho e
execução cansam muito.
Já tinha ouvido falar dela antes. E de vez em quando, ao abrir o Youtube, ela
aparecia. A menininha do LoFi – beats to study and relax. Nunca tinha
clicado antes naquela live mas, naquele dia em específico, decidi clicar.
Música afeta seu humor. Faz o teste aí e põe pra tocar um Mukeka di Rato ou
Gangrena Gasosa (tem no Spotify). Você vai ficar mais energizado e puto da
vida. O LoFi tem esse efeito porque ele tem uma constante nas músicas e
você percebe muito bem isso na playlist do Chilled Cow: O barulhinho de
final que é igual em todas as músicas, a batidinha devagar, os sintetizadores
sempre no mesmo tom, tudo sempre muito controlado e baixo. Essa cortina
de barulhos faz com que você entre rapidamente num humor que te deixa
mais relaxado e focado.
Sabe barulho de chuva? Que tem gente que diz que relaxa? Barulho de
Natureza? O LoFi é a versão millenial desses sons New-Age!
Esses sons de fundo são vendidos a anos como ferramentas para ajudar na
produtividade. A Muzak (que basicamente inventou as músicas de elevador),
praticamente se vendia falando exatamente isso, pra botar essas músicas em
linhas de produção de fábricas e aumentar a produtividade dos funcionários.
Mas, além da música afetar o nosso humor, também tem algum efeito no
cérebro?
Ondas beta entre 12-20 HZ tendem a nos deixar mais quietos, focados,
concentrados e ajudam a dar energia e performance.
Então nós temos aqui neurociência + psicologia afetando o jeito que a gente
trabalha pro melhor!
Ainda nessa lógica do LoFi e da música, como usar a música pra ser mais
criativo?
2) Planejar aonde quero chegar antes de botar o LoFi pra tocar – Uma
parada que eu reparei é que o LoFi ajuda muito a me concentrar rápido mas
não necessariamente ele ajuda a ter novas ideias logo de cara. Para ajudar
nessa girada de chave, eu sempre planejo o que eu quero fazer e onde eu
quero chegar antes de começar a botar o LoFi pra tocar. Com a execução
rolando firme, aí sim as ideias vão naturalmente fluindo melhor.
Acho que a melhor forma de começar essa seção é sendo sincero e assumindo
que eu sempre tive uma memória muito boa. Eu sempre lembrei muito bem
das coisas.
E então, de uns três anos pra cá, puta merda, tudo ficou MUITO mais difícil
de lembrar. Com o nome das pessoas eu ainda consigo mandar bem mas com
todo o resto, principalmente ideias e tarefas pra se fazer, ficou impossível.
Não dá pra lembrar tudo e eu tive que encarar essa realidade.
Anotar sempre foi algo que eu fiz, meio que passivamente. Numa reunião ou
num papo eu pegava um papel e rabiscava palavras soltas. Levava o papel pra
cima e pra baixo até ele não fazer sentido e jogava fora. Usei alguns
softwares pra isso também, mas sempre pra fazer essas anotações meio
mecânicas.
2) Leonardo Da Vinci.
(eu tenho isso de tentar copiar hábitos de quem eu admiro, se essas pessoas
fazem, por que não fazer também?)
Agora, mais maduro pra usar cadernos e depois de ter passado bastante tempo
usando softwares e entendendo melhor como me organizar, não deu outra: de
um ano pra cá fiquei o viciado nos cadernos.
Por exemplo:
Eu gosto de tentar toda semana fazer um texto novo. Nem sempre cumpro
esse objetivo, mas existe um processo para isso. Meu Evernote é todo
configurado em torno desse processo.
Além disso, esse hábito proporciona uma das melhores sensações possíveis,
que é rever tudo que você registrou.
Não tem nada melhor que, quando você está se sentindo sem ideias ou não
criativo, você olha o caderno de drafts e tá lá o que você precisa pra continuar
seguindo. Ou olhar seu caderno de citações e se lembrar de algo que você leu
lá atrás e te gerou alguma reflexão. Ou quando você se sente improdutivo e
olha para suas listas de tarefas anteriores e vê o quanto você tem feito nas
últimas semanas.
Esse processo de olhar os cadernos depois sempre acaba gerando mais ideias
e você sempre acaba desenvolvendo algo que ficou para trás mas era muito
bom. Tem um artigo do Jay Acunzo (um produtor de conteúdo americano)
que fala sobre esvaziar o caderno. É impressionante como esvaziar o caderno,
além de ser importante, dá um gás na gente.
Se eu pudesse virar pro Diogo de 15 anos e ensinar algo pra ele, seria esse
sistema de anotações e cadernos. É algo que, sem exagerar, mudou realmente
a forma que eu vivo.
E não é questão de ser mais produtivo apenas, mas sim a forma que eu penso
e entendo minhas experiências. Registro é a memória/história e isso que nos
define.
Pra fechar, por mais que existam softwares que nos ajudem, não abra mão de
cadernos físicos. Na biografia do Da Vinci, o Walter Isaacson que escreveu o
livro, elenca vários aprendizados que podemos ter com Leonardo e um dos
mais incríveis dele é esse aqui:
Não é fazer pra caralho, mas fazer as coisas importantes todo dia
Ser mais produtivo é realizar mais
coisas que importam que é igual a ser
mais feliz
Para ser mais produtivo e criar um processo que vá te ajudar nisso, é só
seguir 3 etapas!
Você precisa ter uma visão próxima do que você quer alcançar no futuro.
Futuro pode ser sua semana, seu dia, seu ano, mas é importante isso estar, de
algum modo, planejado. Tempo de sentar a bunda e pensar onde se quer
chegar e como chegar lá é muito importante!
Só existe rotina produtiva se você souber onde quer chegar, senão é só
espasmo.
Se eu quero cozinhar eu decido o que quero cozinhar. Se eu quero um bolo,
eu quero um bolo.
Para ter clareza é necessário estipular quais os seus objetivos, onde você quer
chegar e onde você se imagina com aquele projeto.
Se for uma demanda de um cliente, fica mais fácil. Se for um projeto pessoal,
perca um tempinho refletindo sobre.
São todos os processos e formas que você executa suas tarefas. Existem uma
PORRADA de processos e ferramentas e softwares e técnicas e, no fundo,
você vai precisar criar o seu próprio sistema testando e vendo de tudo isso o
que funciona mais para você.
Pra fazer um bolo você segue uma receita, separa ingredientes e organiza
tudo. Isso é um sistema, com vários processos
Meu sistema atual envolve ter uma lista de tarefas que eu planejo toda
semana e definir as prioridades conforme os objetivos principais que defini
na etapa de clareza.
Métodos
● Método Ivy Lee
● Rotina de 15 minutos do Anthony Troloppe
● Eat the Frog
● Pomodoro
● To-do list
● Matriz de Eisenhower
● Método das 2 listas do Buffett
● Kanban
● GTD (Getting Thing Done)
● Time Blocking
● Gestão de Tempo
● Regra dos 2 minutos
● Leis de Newton
● Tiny tasking
● Método Moscow
● Planner
● Journaling
● ZTD (Zen to Done)
Ferramentas
● Todoist
● Notion
● Evernote
● Trello
● Miro
● Focus Keeper
● Caderno Físico
● Google Sheets + Docs
● Google Keep
● Any.do
● Simplenote
● Microsoft ToDo
● OneNote
● Remember the Milk
● Mindmeister
● Whimscal
Não adianta pegar receita e ingredientes e deixar em cima da pia, o bolo não
vai ficar pronto, não é vídeo do buzzfeed!
Portanto, vá executando!
Para fechar
E NO FIM, O AMOR QUE VOCÊ RECEBE É
IGUAL AO AMOR QUE VOCÊ DÁ
A verdade é que se eu não impor um limite esse manual nunca mais vai ter
fim. É tanta coisa, tanto assunto, tanta referência e tanto estudo novo, que a
gente precisa chegar uma hora, delimitar e dizer “chega”.
Espero que, ao chegar nesse final, esse material tenha sido muito útil para
você. Que, dê alguma forma, tenha mudado a sua percepção e a forma que
você enxerga a criatividade.
Também queria aproveitar esse espaço para agradecer a todas as pessoas que
me apoiaram durante essa minha jornada e ao meu time que me inspira a criar
esse tipo de conteúdo.
Além disso, queria agradecer a você, que separou parte do seu tempo para ler
esse material.
* ”...and in the end, the love you take is equal to the love you make” tradução
de trecho da música “The End” dos “Beatles”
Referências
Sem ordem, todas jogadas aí!
Livros
Leonardo Da Vinci - Walter Issacsson
De 0 a 1 - Peter Thiel
Criatividade S.A. - Ed Catmull
Roube como um Artista - Austin Kleon
A moda imita a vida - André Carvalhal
Antifrágil - Nassim Nicholas Taleb
Iludidos pelo Acaso - Nassim Nicholas Taleb
O Caminho do Artista - Julia Cameron
Watchmen - Alan Moore e David Gibbons
Desde que o Samba é Samba - Paulo Lins
O Zen e a Arte da Escrita - Ray Bradbury
As Leis da Simplicidade - John Maeda
O Corpo Encantado das Ruas - Luiz Antonio Simas
Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca
Links
● Creativity Is the New Productivity
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