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1944 O POEMA LONGO Novembro, l0 - Excelente carta de Otto Maria Carpeaux, sobre a questo do moderno poema longo, que,

na sua opinio, no sendo mais apoiado pela mtrica, s o poder ser pelo "enredo", ou seja, o "contedo intelectualmente concebido". Ele acha que algumas tentativas minhas, ultimamente, se aproximam "do mximo compatvel com o verso livre. E discorre: "A meu ver, a forma no um enfeite delicioso nem uma quantit ngligeable, mas pertence substncia da poesia: como esta, meio voluntriaconsciente-intelectual, meio involuntria-inconsciente-emocional. Quer dizer, o poeta no muda de forma, no pode mudar; e a forma de voc e ser o verso livre. Agora, o verso livre se mantm em equilbrio numa poesia de tamanho curto, at mdio. Os poemas de tamanho grande precisam dum apoio formal, para no se dilurem; o caso de Walt Whitman, em que admiro sempre muito a primeira ou as primeiras linhas, para achar detestvel, retrico e loquaz o resto. A meu ver, voc nunca pode cair nisso, porque a sua natureza anti-retrica e antiloquaz. Mas como, ento, fazer poema longo? So poucos os poemas longos, na literatura inteira, dos quais gosto. Mas o meu gosto pessoal no juiz; eu reparo bem o trend para o poema de hlito pico no momento atual, e tenho que conformar-me, convencido de que esse trend tambm pode produzir grandes obras. Os ingleses esto, nisso, num caso mais feliz: eles podem aplicar at a mtrica tradicional (ultimamente vi sonetos de Auden, Spender e Barker!!), sem se tornarem pernsticos, porque a tradio potica da lngua inglesa no asfixiante; em lngua portuguesa, a volta mtrica tradicional seria uma desgraa, impossvel. Ento, lembro-me de que aqueles poucos poemas longos dos quais gosto (alis, todos ingleses) so poemas narrativos." A meditar. (ANDRADE, Carlos Drummond de. O observador no escritrio. In _____. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 970).

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