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Diario Comandos
Diario Comandos
2ª Semana
A segunda semana foi bastante sugante tínhamos instruções até às 0100 horas, e sempre
rolava algumas recomendações para o dia seguinte para depois sermos liberados, à noite após o jantar
tínhamos instruções de lutas e natação (“brigas e afogamentos” como era chamado pela equipe de
instrução) três horas de cada instrução. Se houver uma preparação adequada o militar certamente não
vai ter problemas na piscina. Graças a Deus estou descansando durante as instruções de natação, às
vezes durante a natação com PPTM eu chegava a torar nadando . Aqui não pode afundar a cabeça
na água é interessante realizar alguns treinamentos sem afundar a cabeça para ir se acostumando com
esse processo. Deve se deixar um uniforme para o uso exclusivo nas instruções de natação (coturno,
gandola sem velcros, camiseta, calça sem bombacha), esse uniforme é bizu deixá-lo em cabides
identificado no varal para que ele fique seco durante o dia, eu usei um coturno calfesa nas
instruções de natação, pode-se usar uns botões de solturas rápidas no cadarço do coturno, o PPTM
deve ser identificado com o seu número , é bom ter umas formas pequenas para fazer os números para
realizar essa identificação e as nadadeiras devem possuir um cordel de velame para que possa ancorá-las
ao pé para evitar perdas. O PPTM deve ser conduzido em uma bolsa velame verde , é bizu comprar
uma bolsa velame grande para acondicionar todo o material.
Tem gente que toma vários medicamentos para não sentir dores, “eu cago para essa porra
toda” não acho interessante ficar me dopando. Estou sentindo dores no braço esquerdo, acho que é
tendinite, o Al 04 me disse que essa dor estava ocorrendo porque eu não realizei um preparação na
academia para fortalecer a musculatura dos braços (é bizu freqüentar uma academia para fortalecer a
musculatura dos braços, pernas, panturrilha e costas, só o que interessa ).
Meu treinamento não foi tão forte e eu não vejo a necessidade de o militar ficar se
matando realizando praticamente dois cursos sem necessidade, teve gente que veio aqui falando
que tinha treinado pra caralho e no entanto foi embora. O bizu é treinar bastante as nossas
dificuldades e mesclar com uma academia, lógico que nesse treinamento não pode faltar uma
corridinha básica, uma natação (com PPTM, pau de fogo e flutuar e desequipar com pau de fogo e
equipamento, a farda inclusive as meias devem ficar toda ancorada no equipamento por ocasião da
desequipagem).
Nessa semana consegui chegar junto com o instrutor de corrida nas duas corridas que tiveram
e graças a Deus consegui escapar da “Justiça dos Comandos” realizada na “subida dos comandos” (a
corrida foi realizada com o seguinte material pára-fal, pistola, equipamento com cantil pleno e
uma mochila pesando cinco quilos). Já a pista de cordas que são duas passagens com pára-fal, pistola,
equipamento com cantil pleno, capacete e uma mochila pesando cinco quilos, na primeira passagem eu
passo em todos os obstáculos com exceção do passeio do jacaré e na segunda passagem eu só
enrolo e passo somente nos mais fáceis e que não me sugam tanto . É bizu a mochila estar com o peso
previsto, pois eles pesam as mochilas e “se ela não tiver cinco quilos certamente depois mais de cinco
com certeza ela terá”, é bom você ter o material para deixar a mochila pronta para não ficar tendo que
prepará-la todos os dias e perdendo tempo de descanso (o material que deve estar na mochila de
média capacidade sem armação é uma farda de muda completa inclusive com um coturno, um
cantil e um poncho) eu usei um coturno velho.
Nas lutas até que estou aprendendo alguma técnica, mas sou muito descordenado para
realizar os movimentos, é bom aprender algumas técnicas de defesa pessoal e rolamentos para não
sentir dificuldades durante as execuções dos exercícios, o instrutor disse que eu era muito bruto e sem
técnica alguma. Para aqueles que “cagam o pau” ou estão na esquerda, no final da instrução de lutas têm
uma tal de “defesa contra grupo de homens” onde colocam 02 ou 03 Al contra 01 e aí a pancadaria
corre solta.
Realizamos também uma marcha de 16 Km com 15 Kg na mochila, foi tranqüilo, para
tirar nota dez era preciso fazer a marcha em até 3 horas, completei o percurso em 2 h e 56 min não
é interessante forçar o bizu é dosar o tempo.
Realizamos uma pista de orientação em Paracambi, o local era cheio de elevações e os
pontos todos no alto das elevações, a mochila pesava 15 Kg fora a água e a ração, devido ao terreno
ser bastante acidentado é fácil de se orientar, o bizu é não errar os pontos e subir as elevações usando os
caminhos que as vacas fazem. O tempo para realização da prova era de sete horas, o turno
combinou para que todas as equipes (01 Of e 01 Sgt) só chegassem após 06 horas de prova ,
felizmente o tempo estava nublado o que ajudou bastante, completamos toda a pista em quatro horas e
descansamos duas horas e meia para depois chegarmos ao final. Isso não é golpe segundo o Al 04, que
está fazendo o curso pela quarta vez, todo ano isso ocorre a equipe de instrução até sabe que isso é feito,
mas isso só não pode ser feito na cara dura tem que ser camuflado, não adianta se matar durante o
dia na orientação e fracassar na piscina. Tivemos instrução de PCL e TAI foram padrão, mas você fica
muito tempo na posição de segurança, que é com os joelhos no chão, os Al que eram repetentes no
curso se bizuraram usando joelheiras para não machucar o joelho eu acho bizu ter essas joelheiras pois
elas vão ajudar bastante.
O nosso turno começou com 33 Sgt e agora somos somente 16, tem alguns que não levam
jeito pra coisa, desses 16 que sobraram teve um que não foi para a instrução de “brigas e afogamentos” e
foi torar no alojamento e no outro dia pediu para voltar, mas esse não tem a vida longa porque é
vagabundo e mal visto até pelo turno, tem uns quatro que eu acho que não vão muito longe, ficam
sempre fazendo cara de coitadinho, dá vontade de descer a porrada neles!!!
Aqui quando o aluno fica meio aéreo pensando em ir embora, é chamado de “entrar em
banzo” nessa semana bateu um “banzo” no Pisco e ele ficou querendo pedir para ir embora, pois iria
perder a esposa e a filha (a esposa dele não o apóia a fazer o CAC), eu fui lá no alojamento disse que não
iria deixar ele pedir para ir embora peguei a mochila dele e carreguei comigo falei umas coisas para ele
e rapidinho ele veio atrás de min pegou a mochila e saiu puxando canção, se ele fosse embora eu iria
arrebentar com ele depois.
Sábado foi a entrega do gorro preto de aluno, estava previsto instrução até às 0100 horas
mas logo depois do jantar, os instrutores tocaram o zaralho, e nos mandaram para a água, e nos
entregaram o gorro, esse ano juntaram o turno de Sgt e Of logo no início, durante essas duas semanas
você é candidato pois ainda não foi matriculado, não se apresenta como comandos, “mas agora sou o
Comandos 36 e só vou deixar de ser comandos se eu quiser”. Fiquei sabendo que vão incorporar ao
turno mais dois Sgt da FAB, talvez meu número mude.
Nessa semana o Cap Soljenitsin e o Araújo pediram para ir embora. O curso de comandos é
tão foda que até para ir embora dá trabalho, a equipe de instrução arrebenta o Al, mas quando ele pede
para ir embora eles sempre tentam convencer o Al a voltar, caso eles não consigam essa missão passa
para o Cel Sinval, isso aconteceu com alguns Al.
Não é interessante o Al ficar no CIOpEsp nas liberações, ele tem que sair do ambiente do
Camboja para descansar a mente, porque quem fica no Camboja só fica pensando besteira, eu estou indo
com o Pisco para a casa de uma tia dele que mora aqui no Rio.
Percebi que as instruções são uma fudense para te sugar ao máximo na parte da manhã e na
parte da tarde são instruções de banquinho no auditório para o Al se recuperar.
3ª Semana
Essa é a chamada semana zero do curso, tivemos uma palestra com o pessoal da ESEFEx,
sobre alimentação e bizus para serem consumidos durante o curso. Fomos para o CEP para fazer
umas rolhas de exames psicológicos . Fizemos também o teste de sondagem inicial onde caiu
questões de orientação (erro da carta, escalas e declinação magnética), explosivos (destruição de
ponte), comunicações (620, criptografia e decriptografia e prescrições rádio), patrulhas (organograma
de emboscada e TAI) e primeiros socorros. O teste foi fácil não precisa estudar muito, o bizu é estudar
o modelo de teste de sondagem inicial que está disponível na no site do CIOpEsp.
A semana foi tranqüila, tivemos liberações todos os dias, a atividade mais ralada da
semana ocorreu na quinta feira, que foi o treinamento para o cerimonial, fizemos onze entradas no
pátio de cerimonial. Até o presente momento não foi necessário usar os kits para nada com exceção do
kit de manutenção do armamento, alguns Al brincantes aproveitaram essas semanas para montarem os
kits. Achei o cerimonial normal, o tempo de cinco minutos para desmontar o fuzil, a pistola e a mochila
foi suficiente, consegui desmontar dentro do tempo previsto. Graças a Deus até o presente momento não
estou aparecendo negativamente no curso, devido a isso fui revistado de maneira tranqüila, fui um dos
primeiros a serem revistados e logo após a revista você já inicia a montagem do seu material (bizu, a
bússola deve possuir ponto luminoso). Aqueles que cagam o pau e caem na esquerda, vão para a água
em um tonel que fica do lado do pátio de cerimonial é muito engraçado ficar olhando com o rabo de olho
os Al indo para água dentro daquele tonel, só não pode rir pois aqui “um homem que ri é um homem
sem medo”. Os kits devem estar envolvidos com dois sacos plásticos e o material deve ser exposto em
um poncho em uma ordem padronizada pelo turno (o bizu é numerar o poncho e os kits assim você
vai tirando da mochila e já deixando na ordem correta), os kits são de um lado e os materiais são do
outro lado, as peças do armamento ficam expostas em um lenço tático que é comprado na Vertical do
Ponto, esse lenço tem um zíper que é para caso você não consiga montar o armamento no tempo previsto
jogue as peças dentro do lenço e quando tiver tempo você termina de montar. Um grande bizu que eu
usei e todo mundo gostou inclusive a equipe de instrução, foi o desmuniciador que o subtenente Duran
fez, “eu dei o ninja no desmuniciador que estava no corpo guarda do CIGS, mas valeu a pena, ele me
ajudou bastante”. Você não precisa abrir os kits deve deixá-los com os sacos plásticos, só se o
inspecionador pedir para verificar o kit é que você deverá abri-lo, aquela história de que é jogada água
dentro dos kits é mentira, o que acontece é um teste de impermeabilização do kit se você fez uma
preparação adequada certamente não vai entrar água em seu material. Outro bizu é não consumir a
água dos cantis antes da revista, durante as entradas e saídas alguns Al consumiram a água dos cantis e
quem não estava com os cantis plenos levavam água na cara e ficavam gritando “os cantis devem estar
plenos, os cantis devem estar plenos”. Um bizu que o 01 nos mostrou é um porta kit que ele fez, ele
pegou uma bolsa de manta velame e costurou um elástico largo na parte interna da bolsa para prender os
kits, e deixar os kits presos na ordem padronizada , o uniforme de muda deve estar todo junto
(coturno, meia, calça, cueca, camiseta e gandola), bem como a roupa de contato (calça, cueca, sapato,
meia e camisa). A desmontagem em segundo escalão do armamento é realizada somente pelos Al
que os instrutores escolhem, geralmente aqueles que estão na esquerda, o bizu é levar no bolso do
braço da gandola uma chave de fenda e um toca pino , para não precisar abrir o kit e perder tempo,
caso você seja escolhido.
Até o presente momento meus pés estão bem, diferente do COS que rapidamente ficam
rachados, não estou passando hipoglós, passo somente hidratante para que os pés não fiquem
ressecados e se rachem, graças a Deus está dando certo.
Na sexta feira ocorreu a aula inaugural que foi muito padrão falou sobre a história e origem
dos comandos o mais vibrante foi a conclusão que foi feita com a seguinte frase:
“Quando tudo parecer perdido
Quando até os melhores duvidarem
Quando ninguém mais acreditar
Quando os chefes deixarem de planejar
Alguém vai se lembrar e dizer....
Mande vir os COMANDOS!!!”
Nessa semana dois Al foram embora, não foi surpresa para mim pois eu achava que eles não
tinham o “jeito comandos de ser” e a partida deles era só uma questão de tempo, agora somos 14 Sgt do
EB e 02 da FAB que se apresentaram no início desta semana.
Um fato que aconteceu quando estávamos de 3° D, aguardando para irmos para o CEP ,
os instrutores perguntaram se o Pisco era guerreiro de selva e ele respondeu que sim, então perguntaram
porque ele não estava usando o brevê , o cara-de-pau disse que não tinha comprado o brevê ainda, a
equipe de instrução encheu o saco dele, o bizu é manter com o breve de guerreiro de selva , não
podemos nos amedrontar ou nos envergonharmos, temos que ter orgulho de sermos 3° Sgt guerreiros de
selva, que é um excelente curso.
“Que venha a quarta semana, eu só saio daqui comandos, não peço para ir embora nunca!!!”.
4ª Semana
A semana começou com um cerimonial, fizemos quatro entradas para poder iniciar a
preparação para a revista, fui revistado superficialmente, quem se ferra são os Al que estão na esquerda
da equipe de instrução, eles vão para a água, tem que abrir todos os kits e desmontar o armamento em
segundo escalão, depois eles ficam enrolados para montarem a mochila e o armamento, quem é
inspecionado primeiro pode auxiliar os demais na montagem , mas sempre ficam alguns que saem
sem montar todo o material, é um grande zaralho, armamento dentro do lenço tático e um monte de
material dependurado, kit nas mãos etc. Caso você seja escalado para desmontar o armamento em
segundo escalão, durante os cinco minutos que são concedidos, faça somente a desmontagem da mochila
e armamento em primeiro escalão, pois depois eles te dão mais tempo para você desmontar ou até
mesmo esquecem de mandar você desmontar em segundo escalão . Nesse primeiro cerimonial
somente o Pisco, o 29 e eu não fomos para a água.
Tivemos instrução com o pessoal da Artilharia pára-quedista sobre defesa antiaérea e com o
pessoal da FAB sobre defesa de aeródromo, tivemos também a realização de uma pista de orientação
diurna e noturna, após a realização dessa pista realizamos a prova da pista de cordas, para você estar
apto, tem que completar a pista em até doze minutos e queimar no máximo dois obstáculos . O
grande problema da semana foi o sono, somente no primeiro dia foi que dormimos duas horas e no
restante das noites até o início da atravessia da Serra dos Órgãos ficamos acordados zumbizados nas
instruções.
O farol da semana era a atravessia da Serra dos Órgãos , são um dia e meio para subir e
descer, parece até brincadeira mas o percurso é só subida tem uma ou outra descida, minha mochila
estava pesando 33 Kg, antes de iniciar a subida fica rolando a “justiça dos comandos” em um
igarapé que passa perto do local de espera, você sobe até chegar a Pedra do Sino e depois inicia a
descida. Existe trilha durante todo o percurso, em um ponto do percurso minha equipe pegou o
caminho errado e tivemos que atravancar um pedaço de mata fechada, “um juquiral bravo”, como
conseqüência nos tornamos a penúltima equipe, alguns integrantes da equipe ficaram desanimados, mas
eu tirei força não sei de onde e sai na frente abrindo um novo caminho até encontrarmos o caminho
correto. A equipe de instrução vai liberando as equipes e após um certo tempo eles vêm atrás
descendo a lamba nas equipes que eles alcançam . É proibido o deslocamento noturno quando dão
umas 1730 horas, é hora de parar e preparar aquela ração bizurada e aproveitar aquelas tão sonhadas
horas de sono, toramos até às 0530 horas. O bizu para você torar felpudamente é levar um saco de
dormir, uma lona preta e um agasalho (malvinão ) pois é muito frio na Serra, se não levar material
suficiente você vai penar a noite toda, felizmente torei felpudamente só não tinha a lona mas tinha além
de um malvinão uma japona. A descida da Serra é muito jangal, tomamos muita lamba, dois oficiais da
minha equipe começaram a passar mal e tivemos que reduzir o passo, e como conseqüência fomos
alcançados pelos “cães” que nos deram muito “incentivo” e “nitro” durante a descida, minha perna
ficou roxa. O bizu é descer correndo e torcer para não ser alcançado o caminho é cheio de zigue-zague e
tem muita pedra. Após chegar ao final, eles te dão um tempo para confeccionar ração e depois
começa a “justiça dos comandos” aqueles que estão devendo vão para a água (que é muito fria) graças a
Deus escapei desse justiçamento, porém antes do embarque para o retorno, todos vão para a água ,
isso ocorre todo ano já é previsto.
Já ia me esquecendo fizemos a prova de natação, você tem que ser apto na piscina para
poder ir para a semana do mar, o teste é simples (para tirar dez é preciso alcançar os seguintes índices,
nadar mil metros armado e equipado sem tempo, flutuar armado e equipado por quarenta
minutos, vinte e cinco metros de nado submerso com pau de fogo e vinte e cinco metros de nado
indiano) esses índices são para o dez. Essa foi a última instrução de natação na piscina, graças a Deus
mais um obstáculo vencido.
No início desta semana aquele vagabundo que não foi para as instruções de “brigas e
afogamentos”, foi embora e eu aproveitei para comprar a mochila dele, pois a minha descosturou, ele me
vendeu por um preço bem baixo
.
5ª Semana
Tivemos instrução de ofidismo no IBEx e outra no CIOpEsp (rafe lafe), tivemos duas horas
de tora no primeiro dia, no segundo dia foi instrução de operação de ZP e ZL era para ter uma prática na
Base Aérea dos Afonsos, mas choveu e o salto foi cancelado e a prática foi no Camboja mesmo. Após
essa instrução veio a “ apoteose” que é uma forma de justiçamento onde de acordo com a quantidade
de FO que você tem é a quantidade de voltas que você terá de dar em volta de um percurso de uns
seiscentos metros. No turno dos sargentos somente o Neto, o Pisco e eu fomos liberados, nem acreditei,
ir para o alojamento às 2300 horas era tudo o que eu sempre quis. No dia seguinte realizamos a prova de
corrida para conseguir estar apto tem que correr 8 Km armado e equipado com a mochila pesando
cinco Kg em até sessenta minutos, eu e o Pisco chegamos em segundo, corremos bem tranqüilo o
tempo é suficiente para a realização da prova, caso você não esteja estourado. Tivemos instrução de
rapel e fast hope na torre do corpo de bombeiros, instrução tranqüila.
Após o jantar de terça-feira embarcamos para a Ilha da Marambaia para a chamada
“semana do mar”, ao chegarmos no porto fomos de cara para a água para nos ambientarmos, fomos
de bote até uma enseada, onde tivemos instrução dos botes de uso da Brigada de Operações
Especiais e depois partimos a remo até a base, chegamos lá 0300 horas e depois de desembarcar e tirar
os botes fora d´ água fomos liberados, alvorada foi sinistra os instrutores disseram que a alvorada
seria às 0600 horas mas ela ocorreu às 0430, fomos para a água e em seguida para o TFM, que foi
corrida ou melhor rastejo na areia, nós corríamos um pouco e rastejávamos outro, e quem está na
esquerda recebe areia no radiador, a alvorada de quinta-feira e sexta-feira foi da mesma forma ,
fizemos uma infiltração diurna de umas quatro horas e outra noturna de cinco horas (estilo
espinha de peixe, porem usando PPTM ), realizamos orientação noturna e diurna, movido a remo, é
fácil se orientar no local, as ilhas que existem no local são bem nítidas na carta e no terreno, instrução de
alagar e desalagar botes, motor de popa e tivemos a última instrução de lutas, brigas na areia. Eles
cautelam nadadeiras para serem usadas na semana do mar, é bizu ancorar a nadadeira no pé para
evitar perdas, pois se você perder terá que pagar e custa quatrocentos reais, essas nadadeiras são difíceis
de colar o esparadrapo para identificação, eu usei cola para fixar o esparadrapo . Também é bizu
comprar silicone para passar no armamento quando for para o mar, pois só com óleo o armamento
fica todo enferrujado.
Na sexta-feira retornamos para o CIOpEsp e no lugar de liberação fomos presenteados com o
teste de lutas, quando chegamos no Camboja todas as luzes do quartel estavam apagadas, era um
silencio de cemitério, sinistro mesmo, você tem instruçã o de defesa contra faca, pistola,
agarramentos, cacetetes, para depois aplicar as técnicas aprendidas em um teste , não posso
descrever os detalhes do teste, só passando por ele para saber como realmente é, uma coisa eu posso
garantir “dói pra caralho, mas passa”.
Comandos!!!
6ª Semana
Essa semana foi um pouco tranqüila, tivemos várias instruções de tiro com o armamento
não convencional de uso do Batalhão de Ações de Comandos , foi padrão, tiro de fração, tiro com
OVN, ação reflexa e muito mas muito tiro com a munição “M1 pou-pou calibre sete meia boca” até dar
câimbra na língua, porém instrução de tiro até que são vibrantes . Tivemos instrução com o GAC de
condução de tiro de artilharia por elementos de qualquer arma, e instrução com a FAB sobre GAA e
realizamos uma prática de GAA, instrução alto padrão mesmo, isso até quarta-feira.
Quinta-feira e sexta-feira, tivemos instrução sobre ações de comandos (infiltração,
exfiltração, ação no objetivo), instruções alto nível mesmo, aquela idéia de que o comandos é burrão e
que as instruções são de bolo deve ser apagada aqui tem hora de tudo, hora de aprender e hora de
ralar. Na sexta-feira tivemos instrução até meia noite sobre planejamento e ordem ao destacamento,
aqui o planejamento das missões é mais detalhado do que no COS e as ações de comandos são bem
mais complexas. Depois das instruções foi dada uma missão, tipo uma missão escola foi uma missão
onde foram dadas muitas orientações e bizus para os planejamentos.
7ª Semana
A semana começou no domingo onde embarcamos para Taubaté, a viagem foi de ônibus o
Cel Sinval estava no ônibus e graças a Deus fomos torando durante toda a viagem, tivemos instrução de
LocAter, maguari, rapel e fast hope até terça-feira. É bizu aproveitar ao máximo o tempo que for
destinado para o descanso, aqui eu sou caracterizado por ser o Al que consegue torar mais cedo, eu
não fico enrolando, chego preparo minha farda e arrumo o material para o dia seguinte, faço
minha barba e higiene e durmo de calça e camiseta, no dia seguinte levanto termino de me
equipar, pego minha mochila e caso eu não esteja escalado de faxineiro vou torar lá fora enquanto
os outros se aprontam e fazem a faxina, tem gente que após a liberação fica fazendo happy hour,
junta um monte de Al para ficar comendo bizu em volta da cama, com a minha técnica de tora
vou ganhando minutos a mais de tora, que com certeza fazem a diferença.
O restante da semana foi só operações do grupo I, que é cobrado somente a ação no
objetivo, aqui a ordem ao destacamento é muito detalhada, nesta semana eu fui comandante de grupo
várias vezes, sempre o Cmt que era escolhido me colocava em alguma função importante, a equipe de
instrução escolhe o Cmt, SCmt, Enc Mat, H Carta, Cmt do Gp de Assalto e Cmt do Gp de tarefas
essenciais, o Cmt é sempre um oficial e o SCmt é um Sgt as demais funções podem ser um Sgt ou Of.
Durante a ordem se o comandos ficar torando ou cagar o pau, além de ir para a água recebe um
“corpo de prova”, que é um bloco de pedra de 12 quilos , para por na mochila, felizmente não recebi
nenhum durante toda a semana, recebemos a primeira missão no Camboja e fomos para a Ilha da
Marambaia para cumprirmos as outras missões da semana, na Ilha além de receber um corpo de
prova ir para a água tinha um rolamento na areia para pegar uma “cobertura” , a semana foi difícil
pois estava um pouco frio. A APA das missões eram realizadas com todo o turno na água , acredite,
tinha Al que conseguia roncar naquela água fria. Na segunda missão fui escolhido com SCmt e aloprei
geral, agi no “estilo comandos” (água, esporro e lamba) a equipe de instrução vibrou , o Of que era
o Cmt deu uma boa ordem preparatória, porém se enrolou um pouco na ordem ao destacamento, o
homem carta conseguiu se perder em um deslocamento de setecentos metros, ele é o oficial mais burro
que eu já vi, não sabe tirar um azimute na carta, fui o único SCmt a não ir para a água durante a ordem
preparatória, porém na ordem ao destacamento cada Al que era pego torando pelos instrutores, ia para
água eu e ele, às vezes eu nem chegava da água e já voltava novamente. O Cmt estava meio enrolado eu
quase dei o “golpe de estado”, mandavam ele para a água e eu assumia a ordem e desenrolava melhor
que ele, um monitor me disse depois que eu só não assumi o comando do destacamento porque os
oficiais instrutores não quiseram deixar, realmente ficaria muito feio um oficial perder o comando do
turno para o sargento mais moderno. Durante a APA foi dito que a única coisa que prestou na missão foi
a atuação do SCmt. Essa conclusão era óbvia, pois o homem carta se perdeu, o rádio-operador pediu
para ir embora, encarregado de material pediu para ir embora e o Cmt entrou em choque. Teve uma
missão em que foi escolhido quatro Al para cumprirem uma missão de reconhecimento e montagem de
um comitê de recepção, fui um dos escolhidos, realizamos o reconhecimento e o balizamento do
itinerário dos grupos no padrão e ainda sobrou um tempinho para “dar uma toradinha só para não perder
o costume”.
Graças a Deus consegui me sobressair bem, o coordenador do curso me chamou e disse
que eu estava muito bem no curso até o presente momento , e já tinha demonstrado vários atributos
que os comandos devem possuir e era só manter, e apartir daquele momento eu seria cobrado de maneira
diferente, pois não adiantava eu estar bem enquanto outros estavam muito mal, a partir daquele
momento, eu iria responder pela merdas que os outros Sgt fizessem, eu deveria orientá-los e fazer o
turno ficar mais coeso deveria estar atento a tudo liderar a vibração e auxiliar nos planejamentos,
diferente do COS aqui você pode fazer o planejamento em grupo o que facilita bastante , mas
mesmo assim tem gente muito treva em planejamento e é nessa hora em que vejo o quanto um Sgt
guerreiro de selva está a frente dos demais, quer sejam eles mais modernos ou mais antigos.
O que foi complicado nesta semana foi o pé, lá é praia e entra muita areia no coturno, e
fica roendo o pé, acho que durante essa semana é melhor usar uma meia grossa, eu usei uma meia
fina e o pé ficou todo vermelho, o bizu é usar permanganato de potássio para lavar o pé na
liberação. O grande bizu para a fase de operações são várias xérox para facilitar o preenchimento
da caderneta (PRPO, QOPM com legenda, Situação de contingência, quadro horário,
organograma e uma cola em bastão).
Graças a Deus dia a dia, semana a semana, estou conseguindo sobreviver a essa dura rotina
de Al do curso de comandos. Que venha a oitava semana, que venha o TRL, quanto mais obstáculos
ultrapassamos, mais perto nos aproximamos do final do curso.
8ª Semana
Essa é a semana do TRL, desde quando me propus a fazer a o curso de comandos sempre
quis saber como eu me comportaria nesse teste de tão grande dificuldade, ver qual seria o meu limite, o
curso de comandos tem três fases que são chamadas de pontos de inflexão, ou seja pontos de maior
dificuldade, o primeiro é o teste de lutas, o segundo é o TRL e o ultimo é o campo de concentração onde
são quitadas todas as pendências de todas as encarnações dos Al, então vamos ao relatório do TRL do
curso de comandos.
O TRL balança o psicológico dos alunos, a apresentação era segunda-feira as 0400 horas,
muita gente inclusive eu ficamos enrolados a noite toda arrumando material, não soubemos aproveitar
direito a liberação, como conseqüência no primeiro dia tivemos que planejar uma missão bem complexa,
só emitimos a ordem e ensaiamos e não executamos essa missão, porém durante a ordem acho que era
devido ao pensamento no TRL e a noite anterior mal dormida, estava todo mundo zumba sem motivos.
O TRL inicia com um cerimonial onde é recolhido todo o material líquido e pastoso que o Al possui
na mochila (remédio, camuflagem, óleo, graxa etc.) para que ele não caia em tentação e faça
besteira, pois a sede é muito grande.
Na segunda-feira a água e a comida são liberadas à vontade, o bizu é comer e beber
igual louco que certamente futuramente você irá sentir falta, todos os planejamentos são realizados em
pé ou de joelhos, não pode sentar durante o planejamento e nem na viatura, são todos os Al em pé
com a mochila nas costas sendo ensandecidos com tapas, contagem etc. Na segunda-feira tivemos
trinta minutos de tora.
Na terça-feira tomamos meio copo de leite e dois pães , após o café recebemos dois cantis
de água para passar o dia, no almoço recebemos algumas colheres de arroz e feijão , recebemos uma
missão que era para subir o Morro da Pedra Branca, era só subida, muita gente com corpo de
prova na mochila e muito material coletivo e para completar o Pisco foi escalado como SCmt, “eta
caboclinho chato!!!”. Minha tática para o consumo da água era beber um cantil após as refeições e no
decorrer do dia de forma que sobrasse um cantil para consumo após o cumprimento da missão.
Quarta-feira, recebemos uns dois dedos de café com leite e um pão , o ressuprimento de
água foi após o café, não é bizu estar com água no cantil na hora do ressuprimento , pois os
instrutores derramam a água, nesse dia recebemos um litro de água para passar o dia , o almoço
foram algumas colheradas de arroz, tinha um suco geladinho que foi jogado no chão, era só para
mexer com psicológico do Al, dá vontade de pular na lama e beber o suco, mas nessa semana você só
pode consumir a água que for paga pela equipe de instrução , se eles te pegarem consumindo outro
tipo de água é desligamento na hora. Não sei porque motivo eu estava suando muito, e lógico lambia
todo o suor para não desperdiçar nenhum tipo de líquido , os instrutores diziam que os alunos
estavam me olhando e se eu desse mole eles iriam me lamber. Recebemos uma missão para subir o
Morro de Camuri, mas quando íamos iniciar a subida começou a chover, era tudo o que o aluno
queria, uma chuvinha para poder beber algumas gotinhas de água, porém os instrutores nos levaram
para um local coberto e depois retornamos para o Camboja e no balanço geral era bem melhor ter
subido o morro, pois ficamos a noite toda andando em volta do campo carregando um míssil
chamado de “rolando” era pesado pra caralho, e já estava todo mundo com “corpo de prova” na
mochila e muito material coletivo. Quando todos estavam abatidos, e tudo dando errado, o Cmt pediu
para ir embora e o instrutor Cap Brandt determinou que eu assumisse o comando do turno, não sei como
aquilo foi possível, mas comecei motivar os Al falando algumas coisas e operando a mente dos deles “e
o turno mudou da água para o vinho”, frase dita pelo instrutor, e começamos a dar as voltas na apoteose
correndo o instrutor gostou da reação do turno e a cada volta que a gente dava ele nos dava cinco
minutos de tora, que era muita coisa era muito bom se jogar no chão sentir o peso da mochila saindo da
sua costa e torar jogado no chão igual a “sei lá sabe o que” não dá para definir uma cena dessa Só
passando por ela para saber o que eu quero dizer. Foi muito bom para eu ter liderado a reação do
turno daquela forma, deu uma grande satisfação e motivação, eu me senti como um verdadeiro
líder. Como sempre deixei o máximo de água possível para consumir após a execução da missão.
Quinta-feira, recebemos somente um pão, nada de almoço e muito menos água, a
missão era para subir a Serra do Mendanha, foi pago um corpo de prova para cada Al o ensaio foi
numa solaca, durante toda a ordem, ensaio e execução estávamos de mochila o tempo todo e todos
estavam totalmente zumbas desidratados teve aluno que já havia perdido quatorze quilos, neste dia
cinco Al pediram para ir embora, uma coisa eu digo, foram embora porque estavam com a cabeça
fraca, teve gente que pediu para ir embora no topo da elevação, nada justifica alguém pedir para
ir embora depois de ter passado por todas as dificuldades, faltou determinação, cinco minutos
após pedirem para ir embora já estavam chorando arrependidos o sofrimento a sede o cansaço são
coisas momentâneas, deve ser bom ir para a ambulância e beber água pra caralho, mas eu tenho
certeza que é melhor ainda conseguir superar a preparação para o TRL sem cair nenhuma vez.
Após descermos a Serra do Mendanha chega ao fim a preparação para o TRL, eu ainda tinha
energias para o TRL, estava cagando para a sede, em minha cabeça eu só pensava em tomar água,
suco e dois milk sake de morango no Mac Donalds a noite após o fim daquele sofrimento, minha
cabeça e meu corpo estavam preparadas para isso , o TRL começou às 0830 horas e foi até às 1450
horas, os Al ficam sem mochila e o turno é dividido em grupos de cinco Al cada, são vinte oficinas,
de dez minutos mais ou menos cada em cada oficina , os instrutores escalam um Cmt para cada
oficina são missões simples é só para testar as capacidades de raciocínio dos Al em condições de
extremos cansaço, acho que comandei umas seis oficinas, minha equipe foi a única que não teve
nenhum integrante baixando durante a execução do TRL, ela estava bem unida e a gente dividia
bem as missões.
A fome durante o TRL é algo insignificante, dá para superar tranqüilamente, o maior
dilema é a sede, e o segredo para superá-la é preparar o seu psicológico , muita gente fica com a boca
seca e nem conseguem falar direto, alguns ficam variados fazendo e falando coisas absurdas, depois que
passa é muito engraçado mas na hora é foda. Mas como tudo tem seu fim o TRL não foi diferente, após
o fim do TRL tem muito suco, soro, água de coco e muitas frutas, comi e bebi até vomitar e mesmo
assim não parava de comer e beber.
9ª Semana
Essa semana foi tranqüila, foi a semana da montanha, estava fazendo um pouco de frio
somente na parte da noite, durante o dia o tempo até que estava bom. O turno ficou a disposição da
Seção de Instrução de Montanha até a quarta-feira , nesse período tivemos as instruções previstas
para o estágio de escalador militar, e passamos pelas rotas que eles têm no Campo Escola de
Montanhismo (CEMONTA). Durante as instruções na sala de instrução o instrutor Cap Marques
ficava com uma máquina tirando fotos dos alunos que ficavam torando para depois na hora do
intervalo realizar o justiçamento, mandando os Al p ara a água em uma torneira que fica do lado da
sala de instrução, é bizu dá o gás para não torar porque a noite é muito frio. Se você conseguir alcançar
os objetivos mínimos que eles cobram, no final da semana você é brevetado escalador militar .
Para essa semana o bizu é ter um coturno apropriado para escaladas , pegue um coturno
queixo duro um número menor que o que você calça e mande colocar solado de pneu de avião. É
interessante conduzir um pouco de dinheiro pois o deslocamento foi de ônibus e houve uma parada e
os alunos foram autorizados a comprar bizu em uma lanchonete. Quando o curso de comandos chega
em outra Unidade causa um grande alvoroço, todos param para ver os comandos e geralmente sempre
há algum conhecido, principalmente os oficiais que tem muito companheiro de tuma e na montanha não
foi diferente, tinha um Al que servia no Batalhão de montanha e os amigos dele deixaram vários bizus
no alojamento (pizzas, refrigerantes e doces).
Nós éramos liberados às 2330 horas e a alvorada era às 0530 horas , exceto no primeiro dia
em que a alvorada era para ser às 0600 horas mas ela foi antecipada pela equipe de instrução para as
0400 horas, fomos rebocados para fora do alojamento na base de cabo solteiro e pontapé , nem sei
como eu saí da minha cama, quando percebi já estava lá fora com as costas ardendo , logo após esse
“bom dia legal”, partimos para um corridão de calça e coturno pela cidade de São João Del Rei .
Na quinta-feira voltamos a ficar a disposição dos “cães”, e ele s vem cheios de maldade e
vontade de cobrar as dívidas, durante o planejamento somente os que fazem merda vão para água,
durante a operação estava muito frio, mas felizmente só fomos para água no final da missão. “A água
aqui na montanha parece que sai de um freezer”.
A verdade é a seguinte “estou louco para chegar na selva para rever aquela gente amiga.......”
10ª Semana
Durante essa semana recebemos somente duas missões, missões bastante complexas com
infiltração motorizada, de bote, nado de superfície, terrestre e uma grande exfiltração, missões
que era necessário realizar infiltração aquática de superfície, foi jangal devido ao frio, o bizu na
hora do planejamento é pedir roupa de neoprene, os instrutores disseram que iriam nos pagar, mas o
comandante não havia previsto em seu QOPM e nós tivemos que ir só na pele mesmo, dentre todos os
Al, fui único que pediu roupa de neoprene, alguns disseram que eu ia ser esculachado, mas o correto na
hora de planejar é pensar na missão real e em uma missão real certamente todo o meu destacamento
estaria com roupa de neoprene.
A segunda missão foi a missão do Rio Saí, onde deveríamos destruir três pontes, a ordem
preparatória foi emitida com todo o turno flutuando na piscina e tínhamos que ficar realizando o
rodízio de uma pedra, tava frio pra caralho, após chegarmos na praia pegamos o explosivo que estava
em um cachê, eram vinte e cinco quilos de explosivo mais a nossa mochila, era peso pra caralho, mas o
deslocamento não era muito grande até chegarmos na ponte, após o cumprimento da missão demos
início a uma exfiltração felpuda, por um caminho que é só subida, você sobe, sobe, sobe..... até chegar
no Colo do Pinheirinho e depois inicia a descida até o local previsto para a exfiltração motorizada.
Graças a Deus sobrevivi a mais uma semana, falta pouco, Comandos!!!
11ª Semana
A semana da caatinga começou com atraso, era para sairmos no sábado, mas o avião da FAB
só saiu na segunda-feira o que causou uma grande correria nas instruções para não prejudicar as
operações, na caatinga são os sargentos que comandam a maioria das operações.
O estágio na caatinga para mim foi a pior fase do curso, lá não é permitido conduzir bizu,
a água é controlada, somente dois cantis por dia, a solaca é muito quente, lá deixamos de ser o curso
de comandos e nos tornamos o “Curso de Muares”, era como éramos chamados devido a grande
quantidade de material que conduzíamos, o encarregado de material sofre para distribuir
corretamente o material, se ele não tomar cuidado chega a hora da partida e ainda falta material
para ser pago e ele acaba tendo que levar, quando você anda a noite sai faísca quando você pisa
nas pedras. Essa foi a fase em que eu mais me aproximei do meu limite, no início do curso um instrutor
falou que com certeza todos, mais cedo ou mais tarde, um dia iriam cair, posso me orgulhar a dizer que
durante todo o curso somente o 15 ( Ten Frota ) e eu não caímos nenhuma vez, teve uma missão que
cumprimos somente com uns oito Al o restante ficou caído no PRPO tomando soro, foi onde eu me vi
mais perto do meu limite, um sol de rachar, muito peso no lombo, gente caindo e você tendo que
carregar, na hora do assalto eu dava lanços quase engatinhando e me escorava nos tocos de árvores
para aproveitar sua sombra, somente a determinação é que me fazia avançar , mas graças a Deus
passou.
Em uma missão na caatinga quando o oficial que foi escalado como comandante estava
levando o destacamento para o barro os instrutores tiraram o oficial do comando e me escalaram como
Cmt, comecei fazendo coisas simples que ninguém fazia ( tinha Al que tava na cara que ia cair e
ninguém fazia nada, então quando assumi o comando perdi um tempinho distribuindo o material
da mochila deles, pois com certeza dentro de pouco tempo teríamos de carregar eles e todo o
material, eu passava para o destacamento o quanto tínhamos andado e quanto faltava ), não é
embuste foi melhor ação no objetivo que o turno cumpriu, realizamos uma captura sem dar um
tiro sequer, pegamos a figuração totalmente desapercebida, teve Al que passou rastejando do lado
dos instrutores sem ser visto, quem contribui muito para o cumprimento dessa missão foi o 15 (Ten
Frota) que era o homem carta e se orientou bem pra caramba. Depois da ação no objetivo o coordenador
do curso disse que os oficiais deveriam aprender a como comandar um destacamento comigo, coisas
simples eles estavam deixando de fazer naquele dias os oficiais apanharam muito ficavam os cinco
sargentos em pé e o 15, único oficial que escapou da surra, olhando eles quebrarem vara de “favela
de galinha” no lombo dos oficiais que estavam de joelhos e com a bunda para cima , fiquei só
pensando como seria o campo de concentração!!! Na missão seguinte que era a última enquanto
todos se preparavam para o cumprimento da missão eu e o 15, recebemos ordem para ir torar, na
hora da partida os instrutores disseram que eu e o 15 não precisávamos ir para a missão e que nós
iríamos de viatura, nós recusamos e após muita insistência ele nos deixou ir com o turno porém
não deveríamos carregar material coletivo algum, fomos só com nossa mochila, aqui na caatinga é
bizu trazer bastante tangue, único bizu permitido, para você colocar nas coroas de frade para
beber, aqueles que estão em melhor condições vão na frente caçando coroa de frade e cortando e
dividindo para o turno, também é bizu trazer uma verbazinha para na liberação ir para o
“Bodódromo” comer uma carne de carneiro assada e até mesmo dormir em um hotel só para se lembrar
de como é bom ser gente normal.
Um fato que maçou bastante e sempre vou me lembrar dele, foi quando acabaram as missões
na caatinga, e nós embarcamos na viatura para retornar para o batalhão, todos os Al choraram, era
muita alegria e satisfação ter terminado aquela dura fase, graças a Deus nada dura para sempre.
A saída da caatinga teve muito atraso, eu estava ansioso para chegar logo na selva, mas só me
restava uma coisa, esperar, nada mais do que esperar!!!
12ª Semana
Ao embarcar no Hércules em direção à Manaus, começava a passar um filme na minha
cabeça, relembrava dos treinamentos, das marchas, corridas.... e das conversas com o “Louco da PE” ,
quando a gente imaginava como seria a nossa passagem pelo CIGS como Al do curso de comandos, de
repente aquilo que estava tão longe e era só sonho, estava virando a minha realidade. Não tem como
descrever a enorme satisfação do dever cumprido chegar à selva sempre foi meu objetivo no curso de
comandos, olhar aqueles soldados que eu formei me olhando, aquele bando de instrutores “Zé Ruelas”
que se acham superiores e duvidavam de mim tendo que engolir “o comandos 36 vibrando na selva com
o gorro preto de aluno do curso mais difícil do Exército”, e rever todos os camaradas e irmãos que
sempre acreditaram em min, eles inclusive fizeram um churrasco, mas infelizmente não pude
comparecer mas agradeço pela boa intenção e tenham certeza de que minha alma esteve presente. As
palavras do soldado Castro, que foi lá na 3ª Cia FE me visitar, e disse que estava torcendo por mim, se
eu tivesse ido embora do curso depois dessa semana eu iria feliz porque foi bom demais passar pelo
CIGS como aluno do curso de comandos.
Bom, vamos ao que interessa, esse ano o estágio na selva foi diferente dos anos anteriores,
quem não era guerreiro de selva teve instruções de vida na selva enquanto os guerreiros de selva
realizaram uma missão de reconhecimento da clareira do avião partindo do “Tapiri do Mateiro ”,
fui o homem carta desta missão, “andamos para caralho demontão bastante a béssa”. Depois desta
missão o turno se juntou novamente e todos os Al realizaram a onça aérea, a pernada que é feita em
duas jornadas realizamos praticamente em uma jornada, ninguém acredita , mas aquela frase
realmente faz sentido “e não sabendo que era impossível eles foram lá e fizeram”. Depois retornamos da
clareira do avião para o 1º BIS de helicóptero, depois fomos para a 3ª Cia FE , onde só fomos
liberados no domingo, passamos o sábado todo lá. O retorno para o RJ atrasou mais uma vez, a FAB
tava demais esse ano não queria trabalhar final de semana, devido a isso começamos a planejar uma
missão em Manaus e finalizamos o planejamento no RJ.