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Teologia da

Nova Vida
Teologia da Nova Vida | 419

TEOLOGIA DA NOVA VIDA

No início de sua jornada, a Nova Vida, através de seu fundador, o


pastor Roberto McAlister, produziu um número significativo de
literaturas apresentando as bases de suas doutrinas. Infelizmente, não
temos a atualização desses materiais, e com isso estamos cada vez mais
nos distanciando de nossas raízes. Para completar, recebemos vários
ministros formados em outras denominações, o que comprometeu
bastante nossa identidade denominacional. Além disso, muitos pastores
mais recentes, ainda que formados em nossa denominação, não
conhecem esses assuntos, pois não lhes foram ensinados na perspectiva
da Nova Vida.
A disciplina Teologia da Nova Vida tem a perspectiva de resgatar a
visão original da Nova Vida sobre temas que fizeram parte de sua
construção. Para isso, teremos como base literária, além da Bíblia, os
próprios escritos do bispo Roberto McAlister. Que Deus nos ajude!

OS ALICERCES

Assim como toda boa construção precisa um bom alicerce, a vida


cristã não foge a esta regra. Jesus usou a metáfora de uma casa para
ilustrar nossa vida espiritual. No sermão do monte, ele disse que o
homem prudente lançou seu alicerce sobre a rocha, mas o insensato,
sobre a areia. A tempestade caiu sobre as duas casas, mas a que fora
construída sobre a areia não resistiu. O bispo Roberto afirmou que
“muitas pessoas cometem o erro fatal de querer construir uma vida
cristã sem lançar base sólida, sem fazer alicerces firmes, sem encontrar
a rocha. Tal vida, inevitavelmente se enfraquecerá.”1
Ele afirmou que os princípios elementares das doutrinas de Cristo
que nos são apresentados em Hebreus 6.1-2, constituem-se nos
1
McALISTER, W. Robert. Os Alicerces da Fé. Rio de Janeiro, Emp. Gráfica Ouvidor S/A,
1970, p 4.
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alicerces da nossa fé. Não há como caminhar para o que é perfeito,


como diz a sequência do texto, sem lançar primeiro esses alicerces. Para
abordar alguns pontos básicos da nossa fé, o então pastor Roberto
escreveu uma trilogia: As dimensões da fé cristã, Os alicerces da fé e As
alianças da fé. Para conhecermos melhor as nossas doutrinas,
trataremos de alguns pontos importantes não só destas literaturas, mas
também de algumas outras que tiveram grande relevância na
construção da visão teológica da Nova Vida.

I. ARREPENDIMENTO

O primeiro passo para a salvação é o arrependimento. Em seu


discurso no areópago, Paulo afirmou “Ora, não levou Deus em conta os
tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em
toda parte, se arrependam...” (At 17.30). Pedro, em seus dois primeiros
discursos, foi enfático ao afirmar que a solução para aquelas pessoas era
o arrependimento. Em Atos 2.38 diz: “...Arrependei-vos... para remissão
dos vossos pecados...”. Em seu segundo discurso, ele afirmou
“Arrependei-vos...e convertei-vos, para serem cancelados os vossos
pecados...” (At 3.19). Pedro caminhou com Jesus, acompanhando seus
discursos, por isso compreendia bem os temas abordados pelo mestre.
Ele estava presente quando Jesus afirmou “... se, porém, não vos
arrependerdes, todos igualmente perecereis...” (Lc 13.3).
Arrependimento não é o mesmo que “levantar a mão para Jesus”. O
próprio termo significa mudança de mente, de direção. Em primeiro
lugar, é importante frisar que arrependimento é um dom de Deus. Após
o episódio na casa de Cornélio, Pedro precisou se explicar, e após sua
explicação os outros apóstolos reconheceram “...Logo, também aos
gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida” (At
11.18). O pastor Roberto explicou o arrependimento da seguinte
maneira:
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Veja a ordem do arrependimento: Deus chama e convence o


pecador dos seus pecados. O penitente abre o coração e afirma
desejar receber perdão e a purificação de seus pecados pelo
sangue de Jesus. Finalmente, Deus concede perdão total e perfeito.
Todos os arrependidos são perdoados. 2

Segundo o apóstolo Paulo, o arrependimento para a salvação é


produzido por uma tristeza causada pelo próprio Deus (2Co 7.10). É o
Espírito Santo quem convence o pecador e o arrependimento consiste
em:

• RECONHECER O PECADO
Reconhecer o pecado é o primeiro passo para o arrependimento.
Somente o Espírito santo é capaz de convencer o pecador de seu estado
miserável e perdido

• LAMENTAR O PECADO
Esta consciência de pecado traz tristeza. “...o pecador, depois de
reconhecer o seu pecado, precisa convencer-se de que todo ato
pecaminoso é praticado contra Deus... É este fato que o pecador tem de
lamentar.”3

• CONFESSAR O PECADO
Lamentar apenas não é o suficiente; é preciso confessar os pecados a
Deus. João afirma em sua primeira epístola que “Se confessarmos os
nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Muito embora faça parte do
processo de arrependimento, a confissão não é o suficiente para
resolver o problema do pecado, pois “reconhecer o pecado, lamentar o
fato de ter pecado contra Deus e a Ele confessar ainda não é

2
Op. cit. p. 8.
3
Ibid., 10.
422 | Curso de Formação Ministerial

arrependimento. Faltam ainda duas coisas vitais para receber o dom do


arrependimento.”4

• ODIAR O PECADO
A confissão deve levar o pecador a odiar o pecado. O pecador precisa
encarar o pecado de maneira diferente da que encarava antes de
confessá-lo. O salmo 97.10 diz: “Vós que amais ao Senhor, detestai o
mal.”

• ABANDONAR O PECADO
O ódio ao pecado deve ser o suficiente para abandoná-lo. O pastor
Roberto afirmou que “... o arrependimento verdadeiro e completo
envolve mudança de hábitos, de pensamentos e da própria natureza. A
prova de sinceridade é deixar o pecado e o resultado de uma confissão
honesta é dar as costas aos vícios.”5 Isso marcará o início de uma nova
vida.

II. FÉ PARA SALVAÇÃO

Todos nós possuímos fé. Se isso não fosse um fato jamais sairíamos
de casa; se não acreditássemos que o ônibus que tomamos vai para o
lugar o qual sua identificação mostra, jamais subiríamos nele. Sem esse
tipo de fé natural, a pessoa acabará se confinando a um quarto, por
medo de que alguma coisa lhe aconteça. A fé abordada no momento é a
fé concernente à salvação, a fé em Deus. A fé para salvação não é
oriunda de orientação religiosa; também não se trata de fé em virtudes
pessoais, tais como honestidade, moralidade e capacidade de fazer o
bem, pois o homem não é capaz de produzir fé. O pastor Roberto
apresenta a seguinte orientação sobre a fé em Deus: “A fé segue-se ao
arrependimento verdadeiro. Muitas pessoas acham que a ordem devia
ser inversa. A Bíblia afirma, no entanto, que antes de abandonar os seus
4
Ibid., 11.
5
Ibid., 13.
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pecados, o pecador não pode receber o precioso dom...”6. A fé é um dom


de Deus, o homem não pode produzi-la. O apóstolo Paulo afirmou a
seguinte verdade: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto
não vem de vós; é dom de Deus.” (Ef 2.8). Abordaremos este fato mais
adiante, quando tratarmos da visão teológica da Nova Vida a respeito da
doutrina da salvação. A fé genuína é um ato de entrega, envolve ação;
não se trata de palavras vazias, ou repetir orações, ou conhecer a
doutrina da salvação.

Muitas pessoas que se consideram cristãs creem que Jesus morreu


na cruz pela salvação do mundo, mas até hoje não confiaram nEle
por um ato pessoal de fé...Para ser salvo de seus pecados você
precisa depositar a sua fé só em Jesus; atirar-se como afogado,
nos braços do salva-vidas. A fé que salva não é fé na doutrina da
salvação, tampouco na igreja que prega sobre a vida eterna; ou na
tradição de uma família cristã. A fé é um ato de entrega. 7

Quem tem fé em Deus não vive no pecado; somente aos que


experimentaram um genuíno arrependimento Deus dá este dom
transformador. O então pastor Roberto aponta três razões porque o
homem precisa ter fé: para crer no que Deus diz, para fazer o que Deus
manda e para aceitar tudo o que Deus tem a oferecer.
Fazer o que Deus diz relaciona-se à confiança na Palavra de Deus (Jo
6.63; 17.7,8), pois a Bíblia é a Palavra de Deus e aponta o caminho para
a vida eterna, pois “Para crer nas gloriosas promessas da Bíblia e delas
tirar proveito é preciso ter fé, que é dom de Deus.”8
Fazer o que Deus manda está ligado à santificação, recusar a
influência do sistema do mundo, assim como Abrão fez ao ser chamado
por Deus, como é explicado por Estevão em seu discurso (At 7.2-4), “que

6
Ibid., p.15.
7
McALISTER Robert. As Dimensões da Fé Cristã. Rio de Janeiro, Carisma - Terceira
edição, 1982, p.146.
8
McALISTER, W. Robert. Os Alicerces da Fé. Rio de Janeiro, Emp. Gráfica Ouvidor S/A,
1970, p 17.
424 | Curso de Formação Ministerial

nos separemos do espírito desonesto deste mundo; da imoralidade ao


nosso redor; da mentira e do “jeito” que faz parte normal dos costumes
da nossa sociedade.”9 (2Co 6.7; Rm 6.13). Aceitar tudo o que Deus
oferece tem a ver com as bênçãos que Deus disponibiliza, além da
salvação, porque “A cura divina, o batismo nas águas, o batismo no
Espírito Santo e ainda outras bênçãos são o resultado da fé em Deus.”10
A fé é o firme fundamento da nossa vida espiritual, o padrão de vida
evidenciado pelos filhos de Deus. Ao explicar a parábola do semeador
que saiu a semear, Jesus disse que a semente semeada é a palavra de
Deus e Paulo também diz que “...a fé vem pela pregação, e a pregação,
pela palavra de Cristo.” (Rm 10.17). Enquanto a Palavra de Deus é
pregada, há uma atuação do Espírito Santo, convencendo o pecador de
seu estado, mostrando também a solução. Segundo a parábola do
semeador, a semente de fé, dada por Deus, pode ser aceita ou rejeitada.
As Escrituras Sagradas também são fonte de fé e nos tornam sábios para
a salvação (2 Tm 3.16-17). A fé constitui-se no estilo de vida daqueles
que foram justificados pelo sangue de Jesus, pois “o justo viverá pela fé”
e “olhando firmemente para o autor e consumador da nossa fé”. Além
de recebermos salvação pela graça mediante a fé, e a iluminação de
nossa alma através da luz da vida (Jo 12.46), encontramos nela, várias
bênçãos:

• Nossos pecados são perdoados (At 3.43; 26.17-17);


• Somos justificados (Rm 5.1; Gl2.16);
• Somos santificados (At 26.17-18);
• Recebemos o Espírito Santo (At 11.15-17);
• Somos adotados na família de Deus (Jo 1.12).

Jesus comparou a fé a um grão de mostarda que, sendo a menor das


sementes, desenvolve-se até tornar-se uma grande árvore. A nossa
salvação desenvolve-se à medida em que a nossa fé progride, pois ela é
o fundamento para outras práticas essenciais para a vida cristã genuína:

9
Op. Cit., 17.
10
Ibid., p.19.
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• Sem fé não existe oração verdadeira (Mt 21.22; Hb11.6);


• Deve ser unida ao amor (Tg 2.14-16);
• Vence o mundo (1 Jo 5.4-5);
• Apaga os dardos inflamados do inimigo (Ef 6.16);
• Resiste ao diabo (1 Pe5.9);
• Está ligada à obediência (Hb 11.7-10,17).

Dentro deste contexto de fé, seria de grande importância


abordarmos a visão teológica da Nova Vida no que diz respeito à
doutrina da salvação, pois há, desde o princípio, uma posição
doutrinária definida e clara sobre este tema tão controverso nos dias de
hoje.

A DOUTRINA DA SALVAÇÃO

A visão da Nova Vida sobre a doutrina da salvação é abordada em


linguagem simples e objetiva nas literaturas do bispo Roberto. Muito
embora a condução ao arrependimento seja fruto da bondade de Deus
e a fé seja um dom oferecido por Deus, o homem, através do seu livre
arbítrio, pode receber ou recusar. Em seu livro Bem-vindo ao Reino de
Deus, ele fez a seguinte afirmação:

... Ninguém se salva de seus próprios pecados. A salvação vem de


Deus. Mediante a nossa fé em Jesus Cristo como único e suficiente
salvador, somos “transportados” do império das trevas para o
reino de Deus. Ele nos dá a vida eterna. Nós não a operamos. Ela é
dom de Deus. O paradoxo a este respeito está no fato de que, não
obstante nada podermos fazer para operar a nossa salvação, ela
é, no entanto, recebida através do exercício da nossa vontade.11

Continuando sua argumentação, ele enfatiza que o poder que nos


transporta para o reino de Deus é divino, mas a vontade que nos leva a

11
McAlister, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro – Carisma. 1985,
p.76
426 | Curso de Formação Ministerial

entrar nesse reino é exclusivamente nossa. Ele reforça seu


pensamento da seguinte forma:

A vontade de Deus é que ninguém se perca, mas que todos


venham ao arrependimento. Grande parte da humanidade,
entretanto, ignora o convite para a salvação. Deus não impõe sua
vontade ao homem. Ele lhe permite escolher, e até ficar no império
das trevas, se esse for o seu desejo.12

Em seu livro As Alianças da Fé, ele ressaltou: “A graça que nos


perdoa, nos santifica. A graça de Deus vive em contraste eterno com as
obras da carne. Não pode haver mistura dos dois... Na nova aliança, a
graça de Deus é tudo; o sacrifício de Jesus é suficiente; a nossa parte é
aceitar a provisão divina e obedecer a Deus pela fé.”13. Sobre a doutrina
da segurança eterna do crente, o bispo Roberto fez questão de
salientar:

A graça de Deus, por um lado, tem sido mal compreendida. A


doutrina erradamente denominada “segurança eterna” garante
que, uma vez aceito o pecador como filho de Deus, nada do que ele
venha a fazer o pode arrebatar de Suas mãos. Se assim fosse, a
graça de Deus não passaria de simples licença para pecar.14

O fato é que, graça e santificação caminham juntas. Podemos


encontrar essas verdades em todos os escritos paulinos. Examinando
cada citação, não é difícil descobrir a visão da Nova Vida sobre a
doutrina da salvação.

12
Op. Cit., 78
13
McALISTER Roberto. As Alianças da Fé. Rio de Janeiro – Cruzada de Nova Vida, 1971,
p.82
14
McALISTER Robert. As Dimensões da Fé Cristã. Rio de Janeiro, Carisma - Terceira
edição, 1982, p.61
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UMA VISÃO ARMINIANA

A doutrina calvinista, também chamada de monergismo, está baseada


em cinco pontos (decretos de Deus) fundamentais, chamados de (TULIP)
em inglês. Depravação total – Os seres humanos estão mortos nos seus
delitos e pecados. Deus lhes regenera soberanamente e lhes dá a
salvação. Eleição incondicional – Deus elege alguns seres humanos para
salvar, independentemente de qualquer coisa que façam por conta
própria, o restante se perderá. Expiação limitada – A morte expiatória
não é universal, Cristo morreu para os eleitos. Graça irresistível – Não é
possível resistir à graça de Deus, os eleitos a receberão e serão salvos
por ela, os outros não a receberão. A perseverança dos santos – Os
eleitos perseveram inevitavelmente para a salvação final “segurança
eterna (uma vez salvo, para sempre salvo).”15
Não vem ao caso esmiuçar cada ponto em particular, pois a doutrina
é muito vasta em seu conteúdo. Convém apenas ressaltar que, na
doutrina monergista, o fato de crer e aceitar são obras humanas - sendo
assim, Deus dependeria do homem para salvá-lo. Segundo este
ensinamento, Deus é soberano e está acima das leis e noções humanas
de equidade, sendo predestinado por Ele, tanto a queda da humanidade
quanto o destino do ser humano. A relevância está na soberania de
Deus.
Toda a argumentação apresentada pelo bispo Roberto é
compatível com o arminianismo, doutrina também chamada de
sinergismo. Ao afirmar “o poder é de Deus, mas a vontade é humana”,
ele está dizendo que a graça pode ser resistida; ao escrever a respeito
de Deus, o bispo Roberto afirmou que “... Deus não tem prediletos. Ele é
o mesmo para todos.”16, isso refuta ao ensino da expiação limitada. O
sinergismo está baseado em quatro decretos absolutos de Deus, a
saber:

15
OLSON, Roger E. Contra o Calvinismo. São Paulo – Editora Reflexão, 2013, p.32.
16
McALISTER Robert. As Dimensões da Fé Cristã. Rio de Janeiro, Carisma - Terceira
edição, 1982, p.12.
428 | Curso de Formação Ministerial

1. Jesus Cristo é o Mediador, Redentor, Sacerdote e Rei – Todos os


seres humanos pecaram e Deus decretou que os salvaria por meio de
Jesus Cristo;
2. Deus recebe a todos os que se arrependem e creem em Cristo. Os
que não creem serão condenados - A predestinação se relaciona com
grupos e não indivíduos, com os que creem e com os que não creem. A
predestinação individual é condicional;

3. Deus administra os meios necessários ao arrependimento e à fé: A


Graça de Deus – Para o sinergismo existe a graça preveniente, ou seja,
já existia antes do pecado;

4. Deus decretou a salvação e a perdição das pessoas segundo a sua


presciência – Por sua presciência, Deus, desde a eternidade, soube
quais os indivíduos que pela graça creriam e pela graça subsequente
perseverariam.17

Ao explicar a teologia arminiana, principalmente sobre a graça


preveniente, o mestre Roger Olson, a partir de uma citação do próprio
Armínio, sintetiza:

A graça descrita por Armínio... é a graça preveniente. É a graça


que Deus oferece e concede a todas as pessoas de alguma forma e
é absolutamente necessária para que os pecadores caídos –
mortos em pecados e escravos da vontade – creiam e sejam
salvos. É a graça sobrenatural, auxiliadora e outorgante de Jesus
Cristo. Mas, por ser preveniente (acontece antes), pode ser
resistida. Se a pessoa não resistir à graça preveniente e permitir
que ela opere em sua vida pela fé, ela se tornará justificadora. A
mudança é a “conversão”, não uma boa obra, mas a simples
aceitação... A vontade humana, livre pela graça preveniente (a
operação do Espírito Santo dentro da pessoa), precisa cooperar
simplesmente aceitando a necessidade de salvação e permitindo
17
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001, p.479.
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que Deus outorgue a dádiva da fé. Ela não será imposta por Deus e
o pecador não pode merecê-la. Ela deve ser aceita livremente, mas
até mesmo a capacidade de desejá-la e de aceitá-la se torna
possível pela graça... O sinergismo de Armínio coloca toda a
iniciativa e capacidade de salvação a favor de Deus e reconhece a
total incapacidade do ser humano de contribuir para a própria
salvação sem a graça auxiliadora sobrenatural de Cristo.18

A visão teológica expressa pelo bispo Roberto, é arminiana.


Portanto, a Nova Vida é arminiana.

III. O ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é o membro mais desconhecido da Trindade. O


fato de ser chamado de a “Terceira Pessoa da Trindade” não significa
que tenha um valor inferior ao Pai e ao Filho. Na união intratrinitária
todos são iguais, não havendo o maior ou o menor - trata-se de três
Pessoas e uma só substância. O bispo Roberto ressaltou que “...muitos
acreditam ser Ele algo, quando na verdade Ele é alguém.” 19 A verdade é
que muitos cristãos imaginam que Ele seja meramente uma força ou
influência impessoal. O fato é que Ele é alguém e muito valorizado por
Jesus, que admitiu que tudo o que fazia, era por inspiração Dele.
Valorizava-o ao ponto de dizer que “Todo aquele que proferir uma
palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para o
que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão.” (Lc 12.10).

Estudar sobre o Espírito Santo é algo fascinante, pois vai muito


além do que a nossa mente finita possa alcançar, se tornando um tema
inesgotável.

18
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2001, p.481-482
19
McALISTER, Roberto (bispo). Fogo e Vento – Quem realmente é o Espírito Santo? Rio
de Janeiro: Carisma, 1992, p.8
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O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA


A Palavra de Deus nos mostra claramente que o Espírito Santo é uma
pessoa, pois:

1. Ele possui as características básicas da personalidade

• O Espírito Santo tem a capacidade de raciocinar. O apóstolo Paulo


afirmou que Ele perscruta e conhece as coisas de Deus, também nos
ensinando sobre elas. Jesus disse em João 14.26: “...mas o Consolador,
O Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”

• O Espírito Santo é sensível. Paulo afirmou: “E não entristeçais o


Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef
4.30). A respeito da sensibilidade do Espírito Santo, o bispo Roberto
disse que “O Espírito Santo é a Pessoa mais sensível da Trindade.”20 Ele
reforçou seu argumento da seguinte maneira:

... O Espírito Santo não mata, nem reprova. Quando entristecido, o


Espírito Santo meramente vai embora... não entristeça jamais o
Espírito Santo com palavras torpes, pensamentos inconvenientes
ou conduta que dê lugar ao diabo. Você continuará redimido pelo
sangue de Jesus, mas condenado a passar todos os dias de sua
vida sem a comunhão do Espírito Santo, limitado à exiguidade de
seus próprios recursos.21

Esta é uma síntese das coisas pelas quais podemos entristecer e até
mesmo afastar o Espírito Santo, nos deixando a mercê da nossa própria
carnalidade, e limitações, embora salvos.

• O Espírito Santo possui vontade e poder de decisão. A Palavra de


Deus nos ensina esta verdade de modo muito prático. Ao tomar a

20
Op. cit., p.11.
21
Ibid., p.13.
Teologia da Nova Vida | 431

decisão sobre as restrições aos gentios, Tiago admitiu que “... pareceu
bem ao Espírito Santo e a nós...” (At 15.28). Ele dirigiu todos os passos
do apóstolo Paulo, inclusive impedindo que ele pregasse em certa
região da Ásia, não permitindo também que fosse para Bitínia
(At 16.6-7).

2. Ele expressa sua personalidade

• Fala – Em vários textos das Escrituras encontramos a frase “disse o


Espírito Santo”. Foi assim com Filipe no deserto de Gaza, ao avistar ele,
um homem assentado num carro: “...disse o Espírito Santo a Filipe:
Aproxima-te desse carro e acompanha-o” (At 8.29). O final da história é
bem conhecido de quem lê a Bíblia.

• Exercita sua vontade – Enquanto os profetas e mestres da igreja de


Antioquia jejuavam e oravam, o Espírito Santo deu uma ordem que
deveria ser cumprida imediatamente “...Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (At 13.2). A partir de então
iniciaram-se as viagens missionárias de Paulo.

• Intercede – Paulo afirma que “...não sabemos orar como convém, mas
o Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis.”
(Rm 8.26). Isto significa que Ele nos ajuda a orar, potencializando nossos
recursos.

• Ensina – Foi o próprio Jesus quem afirmou isso, dizendo que ele não
só ensina, mas também nos lembra o que Jesus tem dito. O que
aprendemos com Ele “...também falamos, não em palavras ensinadas
pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas
espirituais com espirituais.” (1Co 2.13).
432 | Curso de Formação Ministerial

O ESPÍRITO SANTO É DEUS

Muito embora não encontremos a palavra ‘Trindade’ na Bíblia, em toda


ela vemos que Pai, Filho e Espírito Santo possuem as mesmas
características. Sobre o Espírito Santo, aprendemos que Ele possui os
mesmos atributos incomunicáveis de Deus, sendo também eterno,
onisciente, onipresente e onipotente. O Espírito Santo é associado com
o Pai e o Filho numa base de igualdade, pois a Bíblia também o chama
de Deus, o batismo nas águas deve ser realizado também em seu nome,
é apontado como o inspirador das Escrituras e Jesus o chamou de o
outro Consolador (o vocábulo outro significa um da mesma espécie).
Seus nomes revelam sua natureza divina, Ele é chamado de O Espírito
de Deus, sendo o agente da criação e preservação do Universo; O
Espírito de Cristo, sendo o continuador do ministério de Cristo na Terra;
O Consolador, palavra que significa ‘chamado para estar ao lado’ ou
‘advogado’; O Espírito Eterno, título que mostra que Ele não foi criado,
mas sempre existiu.

OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO

Seus símbolos falam de suas atividades, descrevendo suas diversas


manifestações. Nos deteremos a apenas cinco deles e é bom lembrar
que se tratam apenas de símbolos, pois, como vimos anteriormente, Ele
é alguém e não algo.

• FOGO (At 2.3) – Retrata seu poder purificador e renovador;


• ÁGUA (Jo 7.38-39) – Mostra seu poder para limpar e a abundante
satisfação que Ele proporciona;
• VENTO (Jo 3.8) – Indica sua capacidade de direcionar, sua força
sobrenatural e discrição, pois não podemos ver o vento, mas sentir seus
efeitos. A própria palavra Espírito no grego significa vento ou ar;
• ÓLEO (At 10.38) – Tem o sentido de unção e capacitação para operar
no Reino de Deus através de sinais;
• SELO (Ef 1.13) – Significa autenticação, marca, confirmação.
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A OBRA DO ESPÍRITO SANTO

A obra do Espírito Santo está relacionada à criação e sustentação do


Universo, ao homem Jesus, ao mundo e à Igreja, tanto no contexto
coletivo, como também na individualidade de seus membros. É
fascinante verificar que o Espírito Santo é o executor de todas as coisas
excelentes que procedem da parte do Pai e do Filho.

O Espírito Santo e a criação – O Espírito Santo é o criador e sustentador


de todas as coisas. A Bíblia nos mostra que, antes da criação, Ele pairava
sobre a face das águas, aguardando o momento de agir, trazendo à
existência tudo o que existe, como nos lembra o salmista ao afirmar:
“Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste;
cheia está a terra das tuas riquezas...Envias o teu Espírito, eles são
criados, e, assim, renovas a face da terra...” (Sl 104.24,30). Ao lermos
todo este salmo, percebemos que Ele não só criou, como sustenta,
preserva e renova. A formação do homem é atribuída ao Pai, ao Filho e
ao Espírito Santo. Eliú, o único bom conselheiro de Jó, disse a seguinte
verdade: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá
vida.” (Jó 33.4).

O Espírito Santo em Jesus – A ligação entre o homem Jesus e o Espírito


Santo era total, pois Jesus era completamente dependente Dele. Foi
concebido por obra do Espírito Santo; todos os seus milagres e curas
foram realizados pelo Espírito Santo, todo o seu ministério foi
sustentado pelo Espírito Santo, a capacitação para enfrentar sua morte
vicária foi concedida pelo Espírito Santo, e a sua ressurreição se deu por
obra do Espírito Santo. Tudo isso nos ensina como Jesus considerava
importante para Ele a Pessoa do Espírito Santo.

Sua missão em relação à continuação da obra de Cristo – O Espírito


Santo veio para dar continuidade à obra de Cristo. Ele foi chamado por
Jesus de o “outro Consolador” e como já vimos, o vocábulo outro
significa ‘um da mesma espécie’. O Espírito Santo veio para dar
434 | Curso de Formação Ministerial

continuidade à obra que Cristo iniciou e dar testemunho na Terra de


que Jesus é o Cristo e sua obra é verdadeira. Jesus disse que se Ele não
fosse assunto ao céu, o Consolador não poderia vir (Jo 15.26; 16.13-14).

O Espírito Santo em relação ao mundo – “O Espírito Santo convence o


pecador do seu pecado... Sim, Ele nos convence dos nossos pecados e da
nossa necessidade de arrependimento e perdão.”22 Ele convence o
mundo do pecado, da justiça e do juízo. É Ele que mostra ao homem o
pecado de não crer em Jesus; que a única maneira de ser justificado é
através de Jesus; e que o diabo já está condenado, porém, para o
homem ainda há solução. Após ser convencido e ter se arrependido, o
homem recebe a graça mediante a fé, realizando o Espírito Santo uma
obra milagrosa: a regeneração. Regenerar significa gerar novamente, ou
novo nascimento, frisado por Jesus a Nicodemos (Jo 3.5-6). No início do
evangelho de João, ele ressalta que Jesus Cristo veio para o seu povo, e
este infelizmente não o recebeu “...Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem
no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (Jo 1.12-13).
O bispo Roberto demonstrou não ter dúvida nenhuma a respeito
deste fato ao ressaltar que “Deus-Pai traçou o plano da redenção do
pecado. Jesus tornou possível esse milagre; contudo a vida espiritual
chega até nós através da intervenção do Espírito Santo.” 23

O Espírito Santo e o cristão – No momento da regeneração, o Espírito


Santo passa a habitar no espírito do novo convertido, provocando
grande transformação. Isso é apenas o princípio de sua grandiosa obra
na vida daquele que se tornou cristão. Temos à nossa disposição uma
gama de benefícios oriundos da habitação do Espírito Santo em nós:
• Nos dá a convicção da salvação;
• Nos inspira a chamar Deus de Pai;
• Nos liberta da lei do pecado;

22
Ibid., p.28.
23
Ibid., p.7.
Teologia da Nova Vida | 435

• É o nosso advogado na Terra, intercede por nós;


• Nos ensina e guia a toda verdade;
• Nos santifica;
• Nos inspira a adorar a Deus;
• Derrama amor em nossos corações;
• Nos dá alegria plena;
• Nos ajuda em nossas fraquezas.

Muitos crentes não estão desfrutando desses benefícios por não


saberem que eles existem, e isso se dá por não lerem a Palavra de Deus
ou por não se interessarem por uma vida abundante. Infelizmente, há
décadas atrás isso já era denunciado pelo bispo Roberto:

Esta é uma geração de pessoas que sabem mais e sentem menos.


Ficamos paralisados por emoções falsas e informações tolas.
Sofremos às mãos de uma indústria montada para nos manter
vazios de Deus e de qualquer ética bíblica. A pessoa que se enche
das coisas deste mundo não tem muito espaço para o Espírito
Santo. Comunhão com Deus passa a ser uma atividade com hora
marcada, geralmente no culto dominical...24

Como podemos ver, as coisas não mudaram nada em nossos dias,


pelo contrário, pioraram ainda mais, pois os entretenimentos se
multiplicaram assustadoramente, afastando cada vez mais o povo de
Deus da comunhão com Ele e até do culto dominical.
Paulo alertou aos efésios, de forma imperativa, que eles não se
embriagassem com vinho, mas que fossem cheios do Espírito Santo. A
verdade é que coração sempre está preenchido com alguma coisa boa
ou ruim; se não o preenchermos com o Espírito Santo, o faremos com
outras coisas ou sentimentos que não são nada bons. Este alerta antigo
também é muito pertinente para os nossos dias:

24
Ibid., p.24-25.
436 | Curso de Formação Ministerial

Ninguém vive vazio. Ou estamos cheios do Espírito Santo, ou


estamos cheios de outras coisas, coisas essas que transformam a
vida num tormento. Quantos e quantos não são os crentes cheios
de medo e nervosismo! Os que assim vivem não estão cheios do
Espírito Santo, pois sabemos que Ele derrama em nossos corações
o amor de Deus. Este amor do Pai lança fora todo o medo.25

O Espírito Santo é uma Pessoa Divina, disposto a ter comunhão


conosco. “Essa comunhão com o Espírito Santo é chamada de “andar”, e
suas implicações envolvem uma interação com a presença de Deus.”26
Quando priorizamos a comunhão com Ele, recebemos sabedoria e vida
abundante.

VI. O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Todo cristão tem a Pessoa do Espírito Santo habitando em seu


espírito, pois Ele é o outro Consolador, que viria após ascensão de Jesus.
Após sua ressureição, Jesus apareceu aos discípulos, escondidos numa
casa, com medo dos judeus e assoprou sobre eles, concedendo-lhes o
Espírito Santo, dando-lhes também poder para perdoar e reter pecados
(Jo 20.22-23). Mesmo tendo feito isso, ordenou-lhes “... permanecei em
Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49). Pouco
antes de ser assunto ao céu, quando arguido sobre quando seria a
restauração de Israel, Jesus foi enfático em responder que saber isso
não era importante e acrescentou “... recebereis poder ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém,
como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (At.1.8).
Nos dois textos encontramos a palavra poder, isso quer dizer que o
batismo no Espírito Santo traz poder.
Batizar é o mesmo que imergir, mergulhar, envolver
completamente. O bispo Roberto ressaltou que:
25
Ibid., p.22.
26
Ibid., p.44.
Teologia da Nova Vida | 437

A frase “batismo no Espírito Santo” não aparece em lugar algum


da Bíblia. Pelas referências, entretanto, não pode haver dúvida de
que a frase é válida e expressiva da natureza desta experiência.
“Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que
vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias
não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo” (Mt 3.11). Depois da sua ressurreição, Jesus confirmou a
natureza do batismo, dizendo: “Porque João, na verdade, batizou
com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não
muito depois destes dias” (At 1.5).27

No Novo Testamento, encontramos outros termos que se


relacionam com o batismo com o Espírito Santo, tais como: “cheios do
Espírito Santo... (At 2.4); “dom do Espírito Santo...” (At 2.38); “dando o
Espírito Santo...” (At 5.32; 8.18); “receber o Espírito Santo...” (At 8.15;
10.47); “caindo sobre...” (At 8.16; 10.44; 11.15); “revestidos...” (Lc
24.48). Cada termo tem seu próprio significado e revela um aspecto
diferente da mesma experiência. O batismo com o Espírito Santo é:

• UMA PROMESSA – Pouco antes de ser assunto ao céu, Jesus disse que
enviaria sobre os discípulos a promessa do Pai. Pedro, em seu discurso
no dia de Pentecostes, citou o profeta Joel, que mencionara que o
Espírito Santo seria derramado sobre toda a carne. Além disso, Pedro
destacou que a promessa é para todos quantos o Senhor chamar
(At 2.39).

• UM REVESTIMENTO – Foi a afirmação de Jesus no evangelho segundo


Lucas. Revestir é o mesmo que vestir novamente. Isso quer dizer que
todo cristão é vestido com o Espírito Santo, ou seja, tem o Espírito Santo
habitando nele. Porém, quando a pessoa é revestida, o Espírito Santo se
apodera dela, tornando-a, acima de tudo, uma poderosa testemunha
em todo lugar. O discurso de Pedro no dia de Pentecostes é prova disso.

27
McALISTER, Roberto. A Experiência Pentecostal. Rio de janeiro: Igreja de Nova Vida,
1977, p.77.
438 | Curso de Formação Ministerial

• UM DOM - Por ser um dom, não é recebido por mérito pessoal e sim
pela graça de Deus.

Entendemos o batismo com o Espírito Santo como o “dom de


Deus”. Sendo assim, não pode ser ganho, merecido ou operado...O
conceito de “conseguir o batismo”, coloca o batismo no Espírito
Santo na categoria de “prêmio de santidade”, ao invés de ser o
que é: um dom gratuito de Deus.28

• UMA NECESSIDADE – No livro de Atos encontramos várias evidências


dessa necessidade. Pedro, em seu primeiro discurso, afirmou que é
importante se arrepender mediante a fé, ser batizado nas águas e no
Espírito Santo (At 2.38-39). Quando o povo de Samaria se converteu
através da pregação de Filipe, João e Pedro foram enviados para impor
as mãos sobre eles para que recebessem o Espírito Santo (At 8-14,15);
após a conversão de Saulo, Ananias foi enviado a orar por ele para que
fosse curado e cheio do Espírito Santo (At 9.17); pessoas foram
batizadas com o Espírito Santo antes de serem batizadas nas águas (At
10.44-48); Paulo, em sua terceira viagem missionária, deparou-se com
doze homens que só conheciam o batismo de João, ele os batizou nas
águas e impôs as mãos sobre eles para que fossem batizados com o
Espírito Santo e foi o que aconteceu (At 19.1-7). Esses relatos nos
mostram a importância que a Igreja primitiva dava ao batismo com o
Espírito Santo.

COMPREENDENDO O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Muito embora o batismo com o Espírito Santo seja uma experiência


inenarrável, convém fazer três considerações importantes, para que
possamos compreender melhor no que tange a sua dinâmica.

28
Op. cit., p.78
Teologia da Nova Vida | 439

1. É UMA EXPERIÊNCIA CONSCIENTE

Ninguém fica “fora de si” no momento do batismo com o Espírito Santo.


Em todos os episódios bíblicos, todos estavam conscientes de que
falavam em línguas, glorificando a Deus. O bispo Roberto afirmou que
“O batismo no Espírito Santo é uma experiência consciente. Todas as
narrativas bíblicas que registram o recebimento do Espírito descrevem
uma reação consciente nas pessoas batizadas... Não havia dúvida de
que o candidato recebera, de fato, o dom do Espírito Santo.” 29

2. A EVIDÊNCIA É O FALAR EM LÍNGUAS

Esta é uma afirmação muito controversa, tanto no meio pentecostal


como também entre os não pentecostais. No entanto, o bispo Roberto
fez questão de expressar o posicionamento da Nova Vida a respeito. Ele
afirmou que “Desde o início do movimento pentecostal e até o dia de
hoje, a grande maioria das igrejas pentecostais considera o falar em
línguas estranhas como a evidência ou a consequência inicial do batismo
no Espírito Santo. Esta é a nossa posição.”30 Ele utilizou os exemplos
bíblicos para fundamentar sua afirmação ao confirmar que:

A base da “evidência de falar em línguas”, se fundamenta


principalmente nos três registros do derramamento do Espírito
Santo sobre os três grupos diferentes, isto é, os judeus, os romanos
e os gregos. Em todas as três ocasiões o fenômeno de falar em
línguas estranhas foi registrado.31

Analisemos estes três episódios:

• O dia de Pentecostes – Jesus havia ordenado aos discípulos que


permanecessem em Jerusalém, pois seriam revestidos de poder. O início

29
Ibid., p.76
30
Ibid., p.86.
31
Ibid., p.87.
440 | Curso de Formação Ministerial

do capítulo 2 de Atos registra que a promessa se cumpriu na vida de 120


deles e “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em
outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falasse” (At 2.4).
Naquele momento todos os que foram batizados no Espírito Santo
falaram em outras línguas.

• A casa de Cornélio – Cornélio era um centurião romano que teve o


privilégio de receber Pedro em sua casa. Durante a pregação do
apóstolo, o Espírito Santo caiu sobre ele e todos os seus convidados que
ouviam a palavra. Os irmãos judeus que vieram com Pedro
“...admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom
do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a
Deus...” (At 10.45-46). Naquele momento, Pedro e os outros judeus
compreenderam definitivamente que tanto o evangelho quanto o
batismo no Espírito Santo também estão disponíveis aos gentios.

• Os discípulos em Éfeso – Em Éfeso foi a vez de doze homens gregos


que só conheciam o batismo de João. Paulo pregou o evangelho e
mostrou a necessidade do batismo nas águas. Em seguida, “...impondo-
-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em
línguas como profetizavam” (At 19.6).
As pessoas que são contrárias a esta ideia afirmam que no
avivamento em Samaria não é mencionado o fenômeno do falar em
línguas. No entanto, implicitamente o texto mostra que houve um sinal
visível do batismo no Espírito Santo, pelo menos é o que indica o
contexto e a sequência do episódio. Vejamos os versículos de Atos 8.17-
19: “Então, lhes empunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo.
Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos,
era concedido o Espírito [Santo], ofereceu-lhes dinheiro, propondo:
Concedei também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu
impuser as mãos receba o Espírito Santo.”
O texto deixa claro que Simão viu que alguma coisa diferente
aconteceu naquele momento e que houve um sinal visível na
manifestação do Espírito Santo sobre aquelas pessoas. No caso em que
Teologia da Nova Vida | 441

Ananias impôs as mãos sobre Paulo para que ele fosse cheio do Espírito
Santo, o texto não diz que ele falou em línguas, mas isso não significa
que ele não tenha falado, pois posteriormente Paulo fez questão de
afirmar: “Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que
todos vós...” (1Co 14.18). O bispo Roberto reconhecia que nem todas as
passagens bíblicas relacionadas ao batismo no Espírito Santo
mencionam o falar em línguas, mas trazia o seguinte argumento:

Nem todas as ocasiões nas quais é mencionado o batismo no


Espírito Santo há menção de línguas estranhas. Por que então as
consideramos como evidência inicial do batismo? Nem todas as
narrativas registradas nos Atos dos Apóstolos são completas em
seus mínimos detalhes. O historiador da Igreja primitiva, Lucas,
achou importante, entretanto, destacar a presença de línguas
estranhas toda vez em que caiu o Espírito Santo sobre cada um dos
grupos que iriam formar a Igreja. Aceitamos esta prova como
suficiente para esperar o mesmo sinal do batismo no Espírito Santo
nos dias atuais.32

Conforme mencionado anteriormente, os grupos a que se


refere são os judeus, os romanos e os gregos. Ao explicar por que é
necessária a evidência da língua estranha, o bispo Roberto afirmou que:

A língua do homem é o leme que dobra e controla sua vida. É o


último membro do corpo que oferecemos a Deus. Damos a Ele
nosso coração, mas não a língua. Damos-Lhe nossos pés, mãos e
olhos, mas não a língua. A língua é a última fortaleza que se
rende...Quando submetemos esse minúsculo, mas poderoso
membro de nosso corpo ao controle do Espírito Santo, então
aprendemos a última lição da rendição total ao Espírito de Deus.

32
Ibid., p. 89-90.
442 | Curso de Formação Ministerial

Por isso Deus escolheu a evidência da língua para ser a prova


desta entrega completa ao Espírito Santo.33

3. O ESPÍRITO SANTO NÃO FALA EM LÍNGUAS, MAS CONCEDE O DOM

O Espírito Santo não fala em línguas por ninguém, Ele põe as palavras na
mente da pessoa, mas é ela quem fala. Quando o Espírito Santo caiu
sobre os discípulos no dia de Pentecostes, o relato bíblico diz o seguinte:
“E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou
uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e
passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia
que falassem” (At 2.3-4). A sequência apresentada é:

 Apareceram línguas que pousaram sobre cada um deles (na mente


deles);
 Todos ficaram cheios do Espírito Santo (foram totalmente
preenchidos, envolvidos, batizados);
 Passaram a falar em outras línguas (foram eles quem falaram em
línguas);
 Conforme o Espírito lhes concedia que falassem (o Espírito colocava
as palavras na mente deles).

Em todos os outros relatos contidos no livro de Atos, as pessoas


falavam em línguas e algumas falavam em línguas e profetizavam.

PARA QUEM É O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

O principal requisito para receber o batismo no Espírito Santo é a


regeneração. É importante lembrar que, no momento da regeneração, a
Pessoa do Espírito Santo passa a habitar em nós, passamos a ser
santuário do Espírito Santo, somos gerados novamente. No entanto, não

33
McALISTER, Robert. A Plenitude do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Emprevan Editora,
1969, p.33.
Teologia da Nova Vida | 443

somos revestidos do poder de Deus, pois isso se dá no momento do


batismo no Espírito Santo. Nos relatos bíblicos, as pessoas se
arrependiam, eram batizadas nas águas e depois batizadas no Espírito
Santo; apenas na casa de Cornélio a sequência foi quebrada, pois foram
batizados no Espírito Santo antes do batismo nas águas. Com base nas
Escrituras, podemos dizer que o batismo no Espírito Santo é:

• PARA TODOS OS CHAMADOS – A promessa do batismo no Espírito


Santo não foi apenas para a Igreja primitiva, mas como disse Pedro:
“Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os
que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus,
chamar...” (At 2.39). A promessa foi feita também à posteridade,
envolvia o presente e o futuro, portanto, para os nossos dias.

• PARA OS QUE CREEM – Recebemos esta promessa pela fé. Ao proferir


a grande comissão, Jesus foi enfático em afirmar “Estes sinais hão de
acompanhar aqueles que creem: Em meu nome...falarão novas
línguas...” (Mc 16.17).

• PARA QUEM PEDE - Jesus disse que todo aquele que pede, recebe; o
que busca, encontra; e ao que bate; abre-se. Completando esse
precioso ensinamento sobre intercessão, afirmou: “Ora, se vós, que sois
maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai
celestial dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem?” (Lc 11.13).

• PARA QUEM OBEDECE A DEUS – Essa foi frase usada por Pedro
quando enfrentou o Sinédrio: “Ora, nós somos testemunhas destes
fatos, e bem como o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe
obedecem” (At 5.32). Ao observarmos o contexto e os versículos
anteriores, esta obediência mencionada por ele se relaciona com o
arrependimento para remissão de pecados.

O batismo no Espírito Santo não foi apenas para o tempo da Igreja


primitiva e sim para os nossos dias também. Não só o batismo no
444 | Curso de Formação Ministerial

Espírito Santo, mas também curas e milagres são pertinentes para os


dias de hoje.

Nós esperamos a manifestação do Espírito Santo hoje, como


aconteceu nos dias primitivos. Por exemplo, à declaração: “Os dias
de milagres já passaram”, nós respondemos: “Quem disse tal
coisa?”. Certamente o mundo continua precisando da
demonstração do poder divino, apesar de todo o nosso progresso.
O evangelho do Reino de Deus não sofreu alteração desde os
tempos em que ele era a manifestação do poder de Deus para
salvação. Temos certeza de que Jesus Cristo é o mesmo ontem,
hoje e para sempre... A insistência pentecostal na evidência bíblica
do batismo no Espírito Santo em o falar em línguas faz parte da
nossa crença de que todas as manifestações do Espírito Santo,
registradas no Novo Testamento, se repetem em todos os lugares
e em todos os séculos desde que haja uma percepção de sua
presença divina e uma antecipação de sua manifestação
sobrenatural.34

A seguir veremos os benefícios que o batismo no Espírito Santo traz


para a vida do cristão.

AS CONSEQUÊNCIAS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

O batismo no Espírito Santo traz muitos benefícios para a vida cristã; a


experiência produz riquezas preciosas, tais como:

• PODER PARA TESTEMUNHAR – Em Atos 1.8 Jesus diz: “mas recebereis


poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas...”. A pessoa batizada no Espírito Santo recebe mais
ousadia para falar de Cristo. Sabemos que a principal missão da Igreja é
pregar o evangelho, e o poder do Espírito Santo nos capacita e inspira a
isso. Pedro, após receber o revestimento de poder, pregou
34
Ibid., p.90-91.
Teologia da Nova Vida | 445

ousadamente a mais de três mil pessoas, tendo como resultado a


conversão de quase três mil.

• CAPACITAÇÃO ATRAVÉS DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO – O batismo


no Espírito Santo é uma porta que se abre para uma nova dimensão de
vida cristã, pois somos capacitados a edificar o corpo de Cristo através
dos dons do Espírito Santo. Esses dons nos permitem servir a Deus em
uma dimensão além de nossos próprios recursos.

Os dons do Espírito Santo permanecem na igreja, não pertencendo


aos indivíduos, mas sendo exercidos conforme a vontade do
Espírito, e com a finalidade de edificar a igreja e cumprir a sua
missão. Antes, porém, de exercer estes dons é necessário receber o
batismo no Espírito Santo, que cria uma relação vivente entre o
homem e Deus, a ponto de lhe dar a capacidade de entender os
mistérios divinos e exercer poder sobrenatural.35

Sobre os dons do Espírito Santo, comentaremos detalhadamente no


próximo capítulo.

• MAIS FERVOR NA ORAÇÃO – A palavra de Deus diz que o Espírito


intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26). Passamos ter
uma arma poderosa em nossa vida devocional: a oração em outras
línguas.

• MAIS INTENSIDADE NO LOUVOR A DEUS – No dia de Pentecostes, ao


serem batizados no Espírito Santo, eles louvavam e falavam das
grandezas de Deus; na casa de Cornélio eles falavam em línguas e
engrandeciam a Deus. “Neste nível de comunicação direta com Deus
através do batismo no Espírito Santo encontramos um ponto alto em
louvor.”36

35
Ibid., p.93
36
Ibid., p.91.
446 | Curso de Formação Ministerial

• MAIOR COMPREENSÃO DAS ESCRITURAS – Nossa capacidade de


entender a Bíblia é potencializada, pois a nossa sensibilidade espiritual é
aumentada. Foi Ele quem inspirou as Escrituras. Quando somos cheios
do Espírito Santo, recebemos a iluminação divina em textos que
passavam despercebidos aos nossos olhos.

O batismo no Espírito Santo é uma bênção disponível a cada


membro do Corpo de Cristo. Uma experiência marcante, que nos leva a
viver mais intensamente a nossa vida com Deus e nos capacita a sermos
mais usados por Ele, para que ministremos na vida dos irmãos e dos não
crentes também. É bom frisar que não nos tornamos com isso super-
espirituais. É preciso continuar buscando, para que a chama permaneça
sempre acesa, procurando com zelo os melhores dons, tema que
veremos a seguir. Ao terminar este capítulo, se faz necessário enfatizar
que o batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta do momento
da regeneração, conforme podemos ver na declaração precisa do bispo
Roberto:

As Escrituras Sagradas não deixam pairar dúvida alguma sobre a


distinção entre o batismo no Espírito Santo e arrependimento de
pecados conducente ao perdão. Esta “experiência separada” e
distinta é afirmada pelos exemplos supracitados no Novo
Testamento. Os discípulos nasceram de novo quando, após a
ressurreição, Jesus apareceu em seu meio, soprou sobre eles e lhes
disse: “Recebei o Espírito Santo” (João 20.22). Foi isto o batismo no
Espírito Santo? Evidentemente que não. Mais tarde Jesus lhes
ordenou a voltar a Jerusalém e esperar a promessa do Pai,
realizada no dia de Pentecostes. A salvação dos discípulos de Jesus
e seu batismo no Espírito Santo foram experiências distintas,
embora partes do mesmo processo que os levaria à vida
espiritual... Paulo se converteu a Jesus na estrada de Damasco, ao
Teologia da Nova Vida | 447

tornar-se obediente à voz de Deus. Três dias depois, em outro


local, foi batizado nas águas e no Espírito Santo.... 37

V. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

Vimos anteriormente que um dos benefícios do batismo no Espírito


Santo é o uso dos dons do Espírito Santo. Paulo nos mostra em 1Co
12.1-11 a identificação dos dons e explica no capítulo 14 como funciona
a dinâmica da utilização desses dons. Paulo começa sua argumentação
dizendo: “A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes...” (1Co 12.1). Não conhecer o que a Bíblia diz sobre os dons
poderá trazer muita confusão. Convém ressaltar que os dons do Espírito
Santo são diferentes dos cinco dons ministeriais registrados em Efésios
4.11, também chamados de “dons de Cristo”, que são apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres (embora alguns digam que
pastores e mestres referem-se ao mesmo dom). No momento não
vamos explicar detalhadamente sobre cada um deles, mas é bom
ressaltar que a pessoa usada em um ou mais desses dons, na verdade
possui o dom. O texto de Efésios diz: “Ele mesmo concedeu uns para...”.
Quem é pastor, o é em todo lugar, assim também quem é profeta,
apóstolo, evangelista ou mestre. Outro detalhe é que a profecia no caso
do dom ministerial é diferente da profecia como dom do Espírito Santo.
No caso do ministério profético ela é preditiva (prevê o futuro), já como
dom do Espírito Santo, não é. O bispo Roberto fez a seguinte observação
sobre os dons do Espírito Santo:

...Carisma é a palavra grega traduzida como “dom”, e refere-se às


manifestações do Espírito Santo na igreja... É importante
acrescentar ainda que estes dons são diferentes dos talentos
naturais que Deus outorga. Não negamos que o crente usa seus
dons naturais no desempenho do serviço para o Senhor, portanto,

37
McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1987,
96.
448 | Curso de Formação Ministerial

afirmamos que os dons do Espírito são sobrenaturais em sua


origem, em sua manifestação e em seus resultados.38

Também se faz necessário considerar três fatos importantes sobre


os dons do Espírito Santo.

1. O OBJETIVO DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO É A EDIFICAÇÃO

Os dons do Espírito Santo não podem ser instrumentos de confusão,


mas de edificação. Nenhuma das manifestações dos dons do Espírito
Santo acontece por acaso e sim para trazer aproveitamento para o
corpo de Cristo. Paulo orienta aos coríntios que “A manifestação do
Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (1Co 12.7).
Ele utilizou o capítulo catorze da mesma epístola para corrigir a Igreja,
pois estava havendo muitos abusos no uso dos dons. Em meio à
correção, ele lembrou que tudo deve ser feito para edificação:
“...porque Deus não é de confusão, e sim de paz...” (1Co 14.33).
Ninguém fica “fora de si” ou incontrolável quando é usado nos dons do
Espírito Santo, pelo contrário, a experiência é consciente, pois “Os
espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas...” (1Co
14.32). Os dons sempre visam trazer graça para outras pessoas; o único
dom para edificação pessoal é o de línguas estranhas.

2. OS DONS SÃO DO ESPÍRITO SANTO E NÃO NOSSOS

Ao falar sobre os dons do Espírito Santo, Paulo também usa a expressão


“manifestação do Espírito”, indicando que os dons são Dele e não
nossos; em se tratando dos dons do Espírito Santo, Ele apenas nos
empresta. Paulo confirma isso com a seguinte frase: “Mas um só e o
mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe
apraz, a cada um, individualmente” (1Co 12.11). Em todos os dons
citados no capítulo 12 de Coríntios, Paulo faz questão de frisar que eles

38
McALISTER, Roberto. A Experiência Pentecostal. Rio de janeiro: Igreja de Nova Vida,
1977, p.106.
Teologia da Nova Vida | 449

acontecem “mediante o Espírito... segundo o mesmo Espírito... no


mesmo Espírito”, deixando bem claro que tudo pertence e é concedido
por Ele.

3. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO SÃO CIRCUNSTANCIAIS

Os dons do Espírito Santo são distribuídos conforme a necessidade do


momento. Há diversidade nos dons, bem como nos serviços e nas
realizações, mas Ele distribui seus dons a cada um, conforme acha
necessário. Tudo o que Jesus realizou foi por obra do Espírito Santo e
supriu necessidades específicas, tais como a multiplicação de pães, cura
de enfermos, libertação de endemoninhados e ressurreição de mortos.
Eles acontecem quando termina a nossa capacidade natural, sendo
necessária, na ocasião, uma capacitação sobrenatural.

O apóstolo Paulo listou os dons do Espírito Santo da seguinte forma:

Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria;


e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento;
a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo espírito,
dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia;
a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e
a outro, capacidade para interpretá-las. (1Co 12.8-10)

Na listagem apresentada, encontramos nove dons do Espírito Santo.


O bispo Roberto enfatizava que “os nove dons, dividem-se naturalmente
em três categorias.”39 Os dons de revelação, os dons de inspiração e os
dons de poder. Cada uma delas apresentam três dons, os quais
abordaremos individualmente a partir de agora.

39
Op. cit., p. 107.
450 | Curso de Formação Ministerial

DONS DE REVELAÇÃO

Os dons de revelação nos capacita a SABER de maneira sobrenatural.


São eles a palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento e o
discernimento de espíritos.

1. PALAVRA DA SABEDORIA

A palavra da sabedoria é um fragmento da sabedoria divina que é


sobrenaturalmente transmitida pelo Espírito Santo. Este dom nos
fornece sabedoria imediata para sabermos o que dizer em determinada
situação. A palavra de sabedoria também se relaciona com as tomadas
de decisões na Igreja. Paulo repreendeu os irmãos de Corinto pelo fato
de que, por faltar este dom, eles estavam se acusando em tribunais:
“...Não há porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa
julgar no meio da irmandade?” (1Co 5.5). Não é sabedoria natural ou
adquirida pela instrução, conhecimento bíblico ou experiência de vida.

Este dom diz respeito a situações singulares e específicas quando,


após esgotar toda sabedoria que nos foi dada, vem o Espírito
Santo revelar a sabedoria divina. O Espírito Santo se manifesta
pelo dom da palavra de sabedoria em diversas áreas do nosso
serviço para Deus: na pregação da sua Palavra, na administração
da sua Igreja como em situações de emergência... Todos os que
são batizados no Espírito Santo podem esperar a função deste dom
quando ele se torna necessário.40

Trata-se de uma palavra só e não toda a sabedoria de Deus. Uma


palavra inquestionável, que põe fim a qualquer oposição, confusão ou
desorientação, resolvendo uma situação específica. Quando foi
questionado se era lícito ou não, pagar tributo a César, Jesus, usado
pelo Espírito Santo com uma palavra de sabedoria, fez calar os
40
Ibid., p.112.
Teologia da Nova Vida | 451

emissários dos escribas e principais sacerdotes com uma resposta


precisa: “Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e inscrição?... Dai,
pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Não puderam
apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua
resposta, calaram-se” (Lc 20.24-26). Este dom às vezes é usado de forma
discreta em diálogos particulares, como em gabinetes pastorais ou
evangelismo pessoal.

Quantas vezes, em gabinetes pastorais, este dom tem sido


exercido, sem ser identificado como tal. Quantas vezes, durante
um diálogo com incrédulos, a pessoa fala além da sua sabedoria,
através da manifestação do Espírito Santo. Quantas vezes,
testemunhando de Jesus Cristo a um amigo ou parente ainda não
salvo, uma palavra de sabedoria é colocada na boca do servo de
Deus para derrubar o argumento do incrédulo e levá-lo à
salvação.41

Muitas vezes, até mesmo a pessoa que foi usada nesse dom fica
surpresa com a forma com a qual respondeu a perguntas capciosas e
difíceis, não percebendo que foi o Espírito Santo quem atuou de forma
sobrenatural.

2. PALAVRA DO CONHECIMENTO

A palavra do conhecimento é uma pequena parte do conhecimento de


Deus que nos é transmitido pelo Espírito Santo.

Entre as palavras descritivas do verbo conhecer, encontramos as


seguintes: “ter noção de”, “saber”, “ter ouvido”, “distinguir” e
“julgar”. A definição do dom não pode fugir da definição
gramatical das palavras usadas para descrevê-lo. Destarte, em
palavras simples, o dom da palavra do conhecimento significa o

41
McAlister Robert. Os Dons do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Indústrias Gráficas
Taveira Ltda, p.19.
452 | Curso de Formação Ministerial

seguinte: Saber, através da revelação do Espírito Santo, de um fato


que está fora do conhecimento humano.42

No episódio em que Ananias e Safira foram mortos, Pedro proferiu


uma palavra do conhecimento quando afirmou “...por que encheu
Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando
parte do valor do campo?” (At 5.3). Jesus também foi usado nesse dom
no diálogo com a mulher samaritana, pois revelou fatos sobre sua vida
conjugal, que humanamente ele não sabia. A palavra do conhecimento
não é obtida pela lógica, dedução, raciocínio, ou pelos sentidos naturais.
Essa revelação é recebida pela fé, em nosso espírito, mostrando coisas
ocultas.

3. DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS

O dom de discernimento de espíritos nos dá uma compreensão


sobrenatural sobre a natureza e atividades dos espíritos. Esse dom não
apenas nos faz discernir a presença de demônios, ele também nos
capacita aperceber a presença do Espírito Santo como também o
espírito humano (carnalidade). O bispo Roberto ressaltou a importância
desse dom em relação à presença do Espírito Santo e a ação de Deus.

A largura deste discernimento de espíritos tem uma aplicação


ministerial de grande importância. Quem dirige um culto, um
estudo bíblico ou reunião qualquer na igreja deve pedir ao Espírito
este dom de discernimento. Uma sensibilidade além da capacidade
humana é necessária para liderar a obra de Deus. Nisto não pode
faltar o discernimento de espíritos. Quem está em nossa frente? O
que é que estas pessoas precisam? Como ministrar a gente que
não conhecemos? O que é que o Espírito quer que eu fale para
estas pessoas? Qual a “mente do Espírito” para esta ocasião?
Perguntas como estas são respondidas pelo dom de discernimento,

42
Op. cit., p.20.
Teologia da Nova Vida | 453

pois Deus também é um espírito e o dom tem sua função mais


sublime quando nós discernimos a vontade dEle. 43

Por discernir o espírito humano, esse dom tem grande importância


para o povo de Deus, principalmente para quem exerce liderança, pois
nem todos são o que aparentam ser, e o exercício deste dom nos livra
de cair nas ciladas que o inimigo prepara através de pessoas maliciosas,
dissimuladas, ciumentas, invejosas e mentirosas.

Poderíamos fazer uma lista bem longa dos problemas existentes


nas comunidades cristãs (inclusive pentecostais), provenientes de
espíritos carnais, ciumentos, impuros, gananciosos etc.
Imaginemos como seria se, através deste dom, estes espíritos
destruidores pudessem ser identificados. Assim, o problema seria
enfrentado antes de se tornar um grande vexame, destruindo
vidas e até igrejas inteiras.44

Que Deus nos use neste dom!

DONS DE PODER

Os dons de poder nos capacitam a FAZER de modo sobrenatural. São


eles a fé, os dons de curar e as operações de milagres.

1. FÉ

A fé como dom do Espírito Santo é diferente da fé para a salvação, da fé


que nos justifica e da fé nas promessas de Deus. O dom da fé é a
capacitação concedida pelo Espírito Santo para suprir uma necessidade
em circunstâncias especiais. Isso nos capacita a realizar os propósitos de

43
McALISTER, Roberto. A Experiência Pentecostal. Rio de janeiro: Igreja de Nova Vida,
1977, p.115.
44
Op. cit., p. 114-115.
454 | Curso de Formação Ministerial

Deus, apesar de todas as circunstâncias contrárias e contraditórias. Não


podemos esquecer que, assim como os outros dons do Espírito Santo, o
dom da fé e circunstancial, ou seja, se manifesta em momentos
específicos. “Este dom é limitado pelas circunstâncias e pelo tempo
limitado à sua manifestação, não aumentando, irreversivelmente, o
nível da fé atingida pela maturidade do crente.”45
O dom da fé geralmente funciona em operação com os outros dons,
principalmente os outros dons de poder. “Sendo um dos dons de poder,
o dom da fé tem sua expressão maior na obra de evangelização e
combate às forças negativas, diabólicas e demoníacas que enfrentamos
na realização da obra de Deus...”46 Notamos este dom quando Pedro
tomou o paralítico na porta do templo e o levantou. Naquele momento
o dom da fé operou juntamente com o dom de milagre manifesto
naquela ocasião. Todos os outros episódios de curas e milagres tiveram
a manifestação concomitante do dom da fé na vida daqueles que foram
usados por Deus naquele momento.

2. DONS DE CURAR

Em se tratando de cura divina, a epístola de Tiago nos mostra que ela


pode ocorrer através da oração da fé: “... e a oração da fé salvará o
enfermo...” (Tg 5.15). No que tange à cura divina pelo dom do Espírito
Santo, a maneira de Deus agir é diferente. Não encontramos nos
evangelhos nenhuma passagem em que Jesus ora pelos enfermos; Ele
simplesmente ordenava que as enfermidades saíssem dos corpos de
seus hospedeiros e elas saiam. Ele ordenava que as pessoas fossem
curadas e elas eram; mandava os aleijados tomarem seus leitos e
andarem e eles andavam; disse ao leproso “...fica limpo! E
imediatamente ele ficou limpo da sua lepra” (Mt 8.3). Todo o ministério
de Jesus foi marcado pela unção do Espírito Santo, que atuou

45
McAlister Robert. Os Dons do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Indústrias Gráficas
Taveira Ltda, p.46.
46
Op. cit., p.46.
Teologia da Nova Vida | 455

abundantemente através dos dons de curar e outros sinais miraculosos.


Jesus afirmou que o texto de Isaías 61.1-2 se referia a Ele. Pedro, em
seu discurso na casa de Cornélio, afirmou que “...como Deus ungiu a
Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por
toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo,
porque Deus era com ele...” (At 10.38). O mesmo padrão de ação do
Espírito Santo nos é apresentado no livro de Atos, começando com a
cura do coxo à porta do templo, estendendo-se para Samaria onde “...
muitos paralíticos e coxos eram curados.” (At 8.7). Uma das passagens
mais interessantes, que mostra claramente a operação desse dom,
acontece na cura de Eneias, paralitico há oito anos. Pedro disse: “Eneias,
Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma o teu leito. Ele imediatamente
se levantou” (At 9.34). Nas três passagens citadas, percebemos o
aspecto evangelístico deste dom; no caso da cura do coxo, quase duas
mil pessoas se converteram; em Samaria, a cidade se converteu; no caso
de Eneias “viram-no todos os habitantes de Lida e Sarona, os quais se
converteram ao Senhor” (At 9.35).
Um outro aspecto desse dom de poder é que ele é descrito no plural
“dons de curar”. O bispo Roberto fez o seguinte comentário sobre esta
particularidade:

Nota-se, logo, que este dom do Espírito Santo está na forma plural:
(o único dos nove dons que tem esta forma). Não é o “dom de
curar”, mas sim “os dons de curar”. Será que existe um dom de
curar correspondente a cada tipo de doença ou enfermidade? Esta
teoria encontra argumento pelo fato de que algumas pessoas que
exercem os dons de curar têm tido sucesso marcantes com certo
tipo de doenças enquanto que suas orações não são atendidas
quando oram por pessoas com outras enfermidades.47

Na verdade, em algumas ministrações de cura divina, testificamos


várias curas de uma determinada doença e outras não. A realidade é
que os dons de curar funcionam sobrenaturalmente para curar doenças,
47
Ibid., p.36-37.
456 | Curso de Formação Ministerial

sem a ajuda de meios naturais de nenhum tipo. É o poder do Espírito


Santo que vem sobre o corpo da pessoa, após uma palavra de ordem,
dissolvendo as suas enfermidades e expulsando as suas dores para curá-
las. O uso dos substantivos na forma plural “dons de curar” enfatiza a
abundância dos dons de cura pelo poder do Espírito Santo.

3. OPERAÇÕES DE MILAGRES

Operação de milagres é a capacitação dada pelo Espírito Santo para


fazermos algo completamente fora dos limites da capacidade humana.
Encontramos a operação desse dom tanto na vida de Jesus quanto,
posteriormente, na vida dos apóstolos. No caso de Jesus, os evangelhos
registram três tipos de milagres realizados por ele, lembrando que esses
milagres não aconteceram espontaneamente, por intervenção direta
dele.

• Alteração na natureza – Temos o clássico evento em que Jesus dormia


no barco enquanto atravessava com seus discípulos para Gadara e
formou-se uma grande tempestade. Desesperados, os discípulos o
despertaram. O texto diz que “...ele, despertando, repreendeu o vento e
disse ao mar: Acalma-te e emudece! O vento se aquietou, e fez-se
grande bonança” (Mc 8.39). O primeiro milagre de Jesus, em Caná da
Galileia foi transformar a água em vinho.

• Cura de doença congênita – O episódio de destaque em relação a este


tipo de milagre está na cura do cego de nascença registrado em João 9.
Após a cura, seus pais foram interrogados e disseram “...sabemos que
este é nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos com vê agora;
ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos... Desde que há
mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de
nascença...” (Jo 9.20-21,32).
Teologia da Nova Vida | 457

• Ressurreição de mortos – Jesus realizou esses milagres de várias


maneiras. Ele clamou a Lázaro, morto há quatro dias, dizendo: “Lázaro,
vem para fora!” (Jo 11.43) e ele veio; à filha de Jairo, ele tomou pela
mão e ordenou que a menina se levantasse e ela se levantou; na saída
de Naim, tocou no esquife do caixão que levava um morto e o rapaz
ressuscitou.
Em Atos dos apóstolos, encontramos milagres em relação à
natureza, mas foram espontâneos. Filipe foi transladado; em Filipos, a
prisão onde estavam Paulo e Silas tremeu e as cadeias de todos os
presos se soltaram; Paulo foi mordido por uma cobra e não morreu.
Temos também registros de cura de doença congênita e ressurreição de
mortos.

• Cura de doença congênita – A primeira vez que Deus usou Pedro com
o dom de poder foi a “...um homem, coxo de nascença, o qual punham
diariamente à porta do templo...” (At 3.2); neste caso, não houve
apenas cura e sim um milagre. Outro caso interessante aconteceu em
Listra onde “...costumava estar sentado certo homem aleijado, paralitico
desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar.” (At 14.8); Paulo
ordenou-lhe em alta voz: “...Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e
andava” (At 14.10); infelizmente essa história acabou em confusão e
Paulo foi apedrejado.
• Ressurreição de mortos – Aconteceu em Jope, através de Pedro,
ressuscitando a discípula Tabita (Dorcas); ele mandou todos saírem do
recinto, orou de joelhos “...e voltando-se para o corpo, disse: Tabita,
levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se.” (At 9.40).
Paulo também foi usado para ressuscitar Êutico (At 20.9-12).

Não podemos pensar que as operações de milagres aconteceram


apenas na época apostólica, pois:

Quem afirma que os milagres foram somente para a época


apostólica, confina a operação do Espírito Santo aos tempos de
outrora e fecha a porta a tais acontecimentos nos dias atuais. A
458 | Curso de Formação Ministerial

falta de percepção da presença do Espírito Santo e de antecipação


da sua manifestação, priva uma grande parte da Igreja de Jesus
Cristo de um ministério, que de maneira incontestável, dá
testemunho do poder de Deus e da compaixão divina... declaramos
que, quando é preciso, a operação de milagres ainda é a vontade
de Deus, mesmo neste século mecanizado e materialista em que
vivemos... Deus concede o dom da operação de milagres para que
o seu povo possa participar, de maneira sobrenatural, da sua
obra.48

Milagres são para os dias de hoje, pois Deus é o mesmo ontem,


hoje e sempre!

DONS DE INSPIRAÇÃO

Os dons de inspiração nos capacitam a FALAR de modo sobrenatural,


mas são motivo de debates e controvérsias. São eles: variedade de
línguas, interpretação de línguas e profecia.
1. VARIEDADE DE LÍNGUAS

O falar em línguas é um dom de grande valor para a vida devocional,


mas também pode ser usado na igreja - não podemos limitá-lo às quatro
paredes de um quarto. Por ser um dom de edificação pessoal - “O que
fala em outra língua a si mesmo se edifica...” (2Co14.4) -, dependendo
do dom de interpretação de línguas para que a igreja receba edificação,
isso não significa que não deva ser usado na igreja, pois esta não foi a
orientação paulina quando doutrinou a igreja de Corinto. Muito pelo
contrário, apenas corrigiu os exageros praticados por aquela
comunidade, era uma questão de disciplina. Naquela comunidade, uma
pessoa se levantava sozinha e falava em língua alto como se estivesse

48
McALISTER, Roberto. A Experiência Pentecostal. Rio de Janeiro: Igreja de Nova Vida,
1977, p.120-121.
Teologia da Nova Vida | 459

no momento da pregação e isso acontecia sucessivamente, às vezes


atropelando outros momentos da reunião. Os incrédulos ficavam
perplexos e, quando não havia interpretação, saiam dali bastante
confusos, conforme nos mostram os versículos 22 e 23 de 1Co 14. Por
isso a frase “...não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto
sucessivamente, e haja quem interprete. Mas, não havendo intérprete,
fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus.” (1Co
14.27-28).
Havia abundância de dons na igreja de Corinto e os irmãos
participavam do culto sendo usados em seus dons, de forma distinta.
Não havia apenas uma pessoa ministrando, todos tinham a liberdade de
ministrar. Havia o momento das profecias, proferidas por pelo menos
duas pessoas (1Co 14.29) e as palavras eram julgadas pelos demais;
quem recebia revelação tinha a oportunidade de falar (1Co 14.30). O
falar em língua para a edificação da igreja também tinha seu momento
distinto, mas em seguida precisava haver interpretação. Como a pessoa
poderia FICAR CALADA na igreja, FALANDO consigo mesma e com Deus?
Isso quer dizer que a pessoa poderia falar em línguas baixinho, sem uma
manifestação pública individual naquele momento específico em que se
falava em línguas para a edificação da igreja - pelo menos é o que o
texto dá a entender. Muito embora tenha dito que preferia falar na
igreja cinco palavras com entendimento, para instruir outros, a falar dez
mil palavras em outras línguas (1Co 14.19), Paulo valorizava o dom de
línguas também no culto público, pois também afirmou: “Eu quisera que
vós todos falásseis em outras línguas...” (1Co 14.5), além disso, deu uma
ordem à igreja de Corinto: “...procurai com zelo o dom de profetizar e
não proibais o falar em outras línguas. Tudo, porém, seja feito com
decência e ordem.” (1Co 14.39-40). O texto deixa claro que ele estava se
referindo ao culto e não à vida devocional. Como disse o bispo Roberto
sobre os textos apresentados e outros referentes a 1Coríntios 14: “Cada
uma destas declarações é qualificada, é disciplinada. Muitas pessoas,
por diversas razões, enfatizam a disciplina e ignoram a verdade.” 49 Se
não examinarmos com cuidado, todo o contexto do capítulo, tanto
49
Op. cit., p.99.
460 | Curso de Formação Ministerial

bíblico como histórico, isolando seus versículos, acabaremos proibindo a


mulher de fazer qualquer coisa no culto público (1Co 14.34-35), o que
seria um grande desperdício.
A língua estranha é um importante dom, mas precisa ser bem
compreendido e valorizado, pois deve ser usado em nosso cotidiano.
Por isso, convém esclarecer algumas verdades sobre este dom:

• Quem fala em línguas fala exclusivamente com Deus – O apóstolo


Paulo nos ensinou que “...quem fala em outra língua, não fala a
homens, senão a Deus, visto que ninguém entende, e em espírito fala
mistérios” (1Co 14.2). A direção do falar em línguas é sempre vertical,
sempre a Deus, nunca aos homens. Na verdade, até mesmo quem está
falando não sabe o significado do que está dizendo, a não ser que seja
capacitado pelo Espírito Santo a interpretar.

• Línguas estranhas são expressões de louvor a Deus - Paulo diz


“...cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente...Se tu
bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da
tua ação de graças?... porque tu...dás bem as graças, mas o outro não é
edificado” (1Co 14.15-17). No dia de Pentecostes, aquelas pessoas que
os ouviam falar em línguas se admiraram dizendo “...Como os ouvimos
falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2.11). Na
casa de Cornélio, quando o Espírito Santo caiu sobre eles, os irmãos que
estavam com Pedro ficaram admirados “...pois os ouviam falando em
línguas e engrandecendo a Deus” (At 10.46). Quando nosso vocabulário
de louvor se esgota, temos a fonte inesgotável para nos ajudar a louvar
ao Pai com mais profundidade: o Espírito Santo.

• Línguas estranhas são expressões de oração a Deus – “Porque se eu


orar em outra língua, o meu espírito ora de fato...” (1Co 14.14). Quando
oramos em línguas, certamente o Espírito Santo está intercedendo por
nós com “gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26); Ele pode também nos usar
para que intercedamos por outra pessoa através de línguas estranhas.
Teologia da Nova Vida | 461

• O falar em línguas é de suma importância na vida devocional – Falar


em língua edifica o nosso espírito, nos proporcionando forças
espirituais, renovando o nosso homem interior dia após dia, nos
proporcionando momentos profundos com Deus. Isso está disponível a
nós todos os dias.

2. INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS

Este dom só ocorre quando há o dom de falar em línguas. É importante


frisar que a língua estranha falada no momento do batismo no Espírito
Santo não carece de interpretação. Em suas orientações à igreja de
Corinto, Paulo disse que “...o que fala em língua deve orar para que a
possa interpretar” (1Co 14.13). A finalidade dos dons é progredir para a
edificação da igreja. Infelizmente, este é um dom pouco utilizado na
igreja e poucos, pouquíssimos, se preocupam em orar para que possa
interpretar a língua estranha. Além disso, este dom tem sido mal
utilizado, sendo confundido com profecia, através do que dizem ser
“mensagem em línguas”, o que é antibíblico.

Para que o dom de interpretação de línguas seja usado conforme a


vontade do Espírito, precisa expressar exatamente aquilo que Deus
entende, ou seja, interpretar o que fora dito em línguas estranhas.
Embora não sendo uma “tradução”, trocada palavra por palavra o
que foi dito em outras línguas, PRECISA SER FIEL ao que está sendo
interpretado. Não pode desligar-se e funcionar independente-
mente das línguas estranhas. Será fiel quando de fato for a
interpretação do que foi dito pela primeira voz, isto é, pelas
línguas estranhas.50

Após esta citação, se faz necessário fazer alguns apontamentos:

50
McALISTER, Robert. Os Dons do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Indústrias Gráficas
Taveira Ltda, p.9.
462 | Curso de Formação Ministerial

• Trata-se de uma interpretação e não tradução – Na interpretação de


línguas, não há uma repetição palavra por palavra, mas a essência do
que está sendo expresso através do dom de línguas.

• A interpretação é fiel ao que está sendo falado – Quem fala em


línguas não fala a homens, mas a Deus, portanto, a interpretação não
pode trazer mensagem para as pessoas, pois o sentido da língua
estranha é vertical e não horizontal. São as grandezas de Deus que estão
sendo expressas.

3. PROFECIA

Antes de comentar sobre este dom de inspiração, convém diferenciá-lo


do dom ministerial de profeta ou o ofício de profeta. Em Atos dos
Apóstolos, algumas pessoas foram reconhecidas como profetas.
“Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia,
e, apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo
Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual
sobreveio nos dias de Cláudio” (At 11.27-28). Neste caso, Lucas cita
Ágabo, que previu uma grande fome pelo mundo e aconteceu como
previsto; este mesmo Ágabo, previu o que iria acontecer a Paulo em
Jerusalém (At 21.10-11) e assim aconteceu, conforme temos registro a
partir do versículo 27 do mesmo capítulo. Em Antioquia também havia
outros profetas: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres:
Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém,
colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo” (At 13.1). A principal
característica da profecia como dom ministerial é que ela é preditiva
(prevê o futuro). Este dom não é circunstancial, muito pelo contrário, a
pessoa que Deus usa desta maneira é considerada profeta.
A profecia como dom do Espírito Santo não é preditiva (não prevê o
futuro). Este é um dos dons do Espírito Santo o qual Paulo incentivou os
irmãos de Corinto a buscar. Ele recomendou: “Portanto, meus irmãos,
procurai com zelo o dom de profetizar...” (1Co 14.39). Ele incentivou aos
irmãos que buscavam ser usados nos dons com as seguintes palavras “...
Teologia da Nova Vida | 463

procurai progredir, para a edificação da igreja” (1Co 14.12);


considerando o dom de profecia, no sentido coletivo, superior ao de
falar em línguas pelo fato de edificar a igreja: “O que fala em outra
língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja.... quem
profetiza é superior ao que fala em língua” (1Co 14.4-5). Assim como
todos os dons do Espírito Santo, a profecia é circunstancial, ou seja,
depende da necessidade do momento; a pessoa que é usada neste dom
não recebe o título de profeta, pois o dom não pertence a ela, mas lhe é
emprestado pelo Espírito Santo naquele momento oportuno. A profecia
apresenta sempre um sentido horizontal, ou seja, às pessoas e não a
Deus, pois “... o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e
consolando” (1Co 14.3). Este versículo nos mostra a tripla finalidade da
profecia que é edificar, exortar e consolar.

EDIFICAR
Edificar é o mesmo que construir, levantar; também tem a conotação de
instruir e fazer crescer. A profecia, como dom do Espírito Santo, traz
crescimento espiritual, nos conduz em direção à maturidade espiritual.
O bispo Roberto retrata este fato da seguinte maneira:

O fator edificante da profecia, talvez seja o aspecto mais


importante deste dom de inestimável valor. Todos precisamos
crescer. Carecemos todos nós de maturidade espiritual.
Provocamos esta edificação uns nos outros por profecia, falando
uns aos outros pelo Espírito Santo. Portanto, esta edificação
acontece em qualquer situação quando um crente batizado no
Espírito Santo fala a outro crente. Pela mensagem pregada do
púlpito; pelo testemunho pessoal que falamos no culto devocional;
pela conversa entre apenas duas pessoas, o dom poderoso de
profecia pode operar.51

Como podemos observar, até mesmo numa simples conversa, este


dom pode se manifestar; a pregação da Palavra de Deus é um momento
51
Op. cit., p.13-14.
464 | Curso de Formação Ministerial

muito oportuno para o Espírito Santo trazer edificação a todos aqueles


que a ouvem.

EXORTAR
O sentido da palavra exortar é animar, encorajar. “Exortar” não dá
margem, nem enseja de maneira nenhuma, às ordens ou à disciplina que
os crentes aplicam uns aos outros.”52
Exortar também não é repreender. É interessante lembrar a postura
de Barnabé, enviado à Antioquia para encorajá-los, pois “Tendo ele
chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos, com
firmeza de coração, que permanecessem no Senhor (At 11.23). Paulo
também percorreu várias cidades “... fortalecendo a alma dos discípulos,
exortando-os a permanecer firmes na fé; mostrando que, através de
muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). O
dom da profecia, além de nos edificar tanto no sentido individual como
no coletivo, também fortalece o Corpo de Cristo, animando os crentes a
prosseguirem, a despeito de tantas lutas e tribulações. Em uma
conversa particular, o Espirito Santo pode usar o crente através da
exortação, a promover uma mudança de atitude e conduta por parte da
pessoa que ouve a palavra inspirada pelo Espírito Santo. A exortação
também é de grande valor no sentido coletivo.

Entendemos a palavra exortar como significando: inspirar, elevar a


novas alturas espirituais. Neste sentido, percebemos que a
revelação da Palavra de Deus, iluminando-nos com respeito de
doutrinas e verdades encobertas por dogmas e tradição, faz parte
do trabalho profético de exortar.”53

A exortação sempre estará alinhada com a Palavra de Deus, nos


encorajando a pôr em prática o que estamos aprendemos naquele
momento através de sua ministração.

52
Ibid., p.14.
53
Ibid., p.14.
Teologia da Nova Vida | 465

CONSOLAR
Consolar é o mesmo que confortar e faz jus à própria pessoa do Espírito
Santo, que é chamado por Jesus de “o outro Consolador”. Este é um
aspecto muito interessante, pois muitas vezes vamos à igreja
preocupados, ansiosos e sobrecarregados, mas ao ouvirmos uma
palavra de um irmão ou através da pregação, algo inexplicável enche o
nosso coração ao ponto de transformar todos estes sentimentos em paz
e esperança. Quantas vezes a pessoa vem à igreja com o intuito de
conversar com o pastor a respeito de algo que a está perturbando, mas
ao ouvir a palavra pregada, desiste de conversar, pois recebeu o
conforto de Deus. Tudo isso acontece devido à consolação, a uma das
nuances deste dom tão precioso chamado profecia.
O apóstolo Paulo diz que todas as profecias devem ser julgadas e
três fatos não podem passar despercebidos com respeito a isso: a
profecia nunca contradiz a Bíblia; sempre exalta a Jesus e nunca
quebra o espírito da reunião.
O bispo Roberto chama a profecia como dom do Espírito Santo de
“profecia simples”, considerando um importante dom, para o
crescimento espiritual do povo de Deus.

Quando um crente conforta com palavras inspiradas um irmão que


sofre, isto é profecia. Ao fortificar em seu andar no Senhor os
membros de uma congregação, o pregador, ungido pelo Senhor
em seus ensinamentos ou pregações, está profetizando. Quando
pronuncia uma palavra de encorajamento para fortificar uma
pessoa caída, fraca ou oprimida, este ministério “simples” é
também profecia, e das mais autênticas. Esta qualidade de
profecia deve sempre fazer parte do ministério do povo de Deus.54

Encerramos este capítulo frisando que os dons do Espírito Santo não


devem ser apenas estudados, mas principalmente praticados,
obviamente dentro dos parâmetros da Palavra de Deus. Nos dias de

54
McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1987,
p.115.
466 | Curso de Formação Ministerial

hoje, vemos muitos abusos do uso destes dons, com manipulações,


mentiras e até subornos, o que tem levado muitos a assumirem uma
postura completamente extrema que é a de ignorá-los. Uns enfatizam
muito o poder, mas desprezam a disciplina, transformando suas práticas
em esoterismo, espiritismo e fanatismo. Outros, em nome da disciplina,
estão transformando seus cultos em verdadeiros cemitérios, com
pregações até muito bonitas ou carregadas de autoajuda, mas sem a
mínima inspiração do Espírito Santo, não passando de letra morta. Jesus
identificou o erro destes dois extremos ao dizer: “...Errais, não
conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). É
importante conhecer as Escrituras, mas da mesma importância
conhecer também o poder de Deus. O que Deus espera de nós é o
equilíbrio.
Teologia da Nova Vida | 467

O REINO DE DEUS

No mundo espiritual existem dois reinos completamente


antagônicos: o reino de Deus e o império das trevas. “Estas oposições
representam as duas forças que controlam a alma do homem: Deus e
Satanás.”55 O homem faz parte de um destes dois reinos, não há
neutralidade nem parcialidade; ou ele é dominado por Deus ou pelo
diabo. Antes de ingressarmos neste fascinante tema chamado Reino de
Deus, convém tecer alguns comentários sobre o outro reino chamado
império das trevas.

O IMPÉRIO DAS TREVAS

Por ser um império, as trevas também têm um governo, um governante.


E, se há um governante, certamente existem os que são governados. O
império das trevas é um sistema onde há autoridade e controle,
soberano e súditos. O império das trevas é um sistema maligno,
governado pelas forças de Satanás; os homens sem Cristo, ou seja, os
incrédulos, por melhores que sejam, lhe prestam lealdade e têm como
fim a perdição. O padrão deste império é o sistema deste mundo,
representado pelo poder político e econômico, um sistema repleto de
toda sorte de corrupção e imoralidade. Paulo denunciou esse sistema de
dominação ao dizer: “Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é
para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século
cegou o entendimento dos incrédulos, para que não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.3-4).
Como comentou o bispo Roberto:

Tal verdade se torna confusa quando se fala em “gente boa”,


como se esta não fosse pecadora Quantos são conhecidos como
bons vizinhos, pessoas honestas, cidadãos responsáveis, e, no

55
Op. cit., p.39.
468 | Curso de Formação Ministerial

entanto, nunca aceitaram Jesus como salvador de seus pecados!


Convivendo com essa “gente boa” – parentes, amigos, conhecidos
– esquecemo-nos de que estão perdidos em seus pecados, são
cidadãos do reino das trevas vivendo debaixo do domínio de
Satanás.56

Temos uma missão em relação a essas pessoas, a de proclamar o


evangelho do reino, dizendo às pessoas que elas precisam abandonar
seus pecados e se converterem, para que possam nascer na família da
Deus. É o poder de Deus manifestado através da pregação do evangelho
que traz libertação para o homem que está nas trevas, pois o evangelho
“é o poder de Deus para a salvação de todo aquela que crê... visto que a
justiça de Deus se revela no evangelho...” (Rm 1.16-17).

O ASPECTO TEMPORAL DO REINO

O reino de Deus foi o tema central tanto dos sermões de Jesus quanto
dos apóstolos. Ao explicar a parábola do semeador, Jesus comparou as
sementes lançadas pelo semeador à palavra do reino: “A todos os que
ouvem a palavra do reino...” (Mt 13.19). Mateus registra que “Percorria
Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho
do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”
(Mt 4.23). No avivamento em Samaria, a mensagem pregada por Filipe
era sobre o reino de Deus: “...Filipe, que os evangelizava a respeito do
reino de Deus e do nome de Jesus...” (At 8.12); bem como a mensagem
de Pedro e de Paulo. Em suas pregações, Jesus sempre deixou bem claro
que o reino de Deus é uma realidade do passado, do presente e do
futuro. Em relação ao passado ele citou: “... quando virdes, no reino de
Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas” (Lc.13.23-28). O bispo
Roberto afirmou que “Se os patriarcas a os profetas estão no reino de
Deus, presume-se obviamente que ele já existia na dispensação da Velha

56
Ibid., p. 41-42.
Teologia da Nova Vida | 469

Aliança”.57 Nabucodonosor declarou a eternidade do reino de Deus ao


afirmar que “...O seu reino é reino sempiterno, e o seu domínio, de
geração em geração” (Dn 4.3); o salmista também afirmou: “O teu reino
é o de todos os séculos, e o teu domínio subsiste por todas a gerações”
(Sl 145.13). Deus sempre reinou, Ele é o criador, preservador e
governador do Universo. Sobre a realidade futura do reino, ninguém
duvida de que seja verdade, Jesus falou sobre ela em suas mensagens e
parábolas, pois “Em muitas parábolas, tal como a da grande ceifa, em
Mateus 13.24-20, é possível verificar-se o aspecto futuro do reino,
quando haverá separação entre joio e trigo.”58 No momento, nosso foco
será no aspecto presente do reino.

A REALIDADE DO REINO HOJE

O reino de Deus está presente em nossos dias, mas não está relacionado
a um trono material, um templo ou a uma cidade santa. O reino de Deus
é espiritual, não poder ser visto pelos nossos olhos naturais. Quando os
fariseus interrogaram Jesus sobre a manifestação do reino de Deus,
Jesus respondeu: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem
dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós”
(Lc 17.20-21). O reino de Deus se manifesta dentro do coração humano.
O reino de Deus está relacionado ao senhorio de Cristo, pois o reino é
dele. Onde Jesus é o Senhor, o reino de Deus está presente, pois o reino
é dele. Escrevendo aos colossenses, Paulo afirmou que “Ele nos libertou
do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor, no qual temos a redenção, a remissão de pecados” (Cl 1.13-14). O
texto apresentado nos mostra que somos libertos do império das trevas
e transportados para o reino de Deus, através do perdão de nossos
pecados. Nós não temos poder para entrar nele sozinhos, mas libertos
transportados pelo poder de Deus. Consideremos que:

57
McALISTER, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro – Carisma. 1985,
p.33
58
Op. cit., p.34.
470 | Curso de Formação Ministerial

• O reino de Deus é lugar do senhorio de Cristo – O reino de Deus é


lugar de obediência absoluta a Cristo. Ele afirmou que quem quiser ir
após ele deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo; frisando
também que é preciso considerar todos os outros relacionamentos
secundários, seja com mãe, pai, irmão, cônjuge, filhos ou qualquer outra
pessoa, pois, como Senhor, ele requer a primazia.

• É uma posição espiritual - Paulo diz que Deus “...nos fez assentar em
lugares celestiais, em Cristo Jesus...” (Ef 2.6) e que “...nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em
Cristo...” (Ef 1.3). Mudamos de senhor e de posição na hierarquia
universal: no império das trevas, o homem está sujeito a todos, inclusive
aos demônios; no reino de Deus, o homem está acima de todas as
coisas, sujeito a Cristo, fazendo parte do Corpo de Cristo, a Igreja: “E pôs
todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu a Igreja, a qual é o seu corpo, plenitude daquele que a tudo
enche em todas as coisas” (Ef 1.22-23). Aleluia!

• O reino de Deus é poder e autoridade – “Porque o reino de Deus


consiste não em palavra, mas em poder” (1Co 4.20). Jesus afirmou que
toda autoridade lhe foi dada no céu e na terra. Ele tem autoridade sobre
as doenças e enfermidades, como vimos em (Mt 4.23); os demônios não
podem resistir ao poder de Jesus, o Senhor do reino: “Se, porém, eu
expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino
de Deus sobre vós.” (Mt 12.28); nem mesmo a morte pode resistir ao
poder de Jesus, ele ressuscitou mortos, dentre ele Lázaro, morto há
quatro dias. A maior manifestação de poder do reino é a transformação
de uma vida através da conversão.

• Os cidadãos do reino também receberam autoridade - Toda vez que


Jesus comissionou os discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos
malignos e sobre as enfermidades, conforme vemos em Lucas 9.1 e
10.19. Antes de ser assunto ao céu, comissionou aos discípulos a darem
continuidade ao seu trabalho, finalizando com as seguintes palavras:
Teologia da Nova Vida | 471

“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: Em meu nome,


expelirão demônios, falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se
alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as
mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados.” (Mc16.17-18). Vemos
essa autoridade sendo exercida no decorrer de toda história, inclusive
durante nossos dias.

• Os cidadãos do reino são propriedade exclusiva de Deus – Os


cidadãos do reino foram transportados de um lugar de trevas e anarquia
para um lugar de luz, onde o amor e cuidado de Deus trazem segurança,
pois o Senhor desse reino é bom: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9).

• Os cidadãos do reino foram comissionados – O texto de Pedro diz que


ele nos chamou para que proclamemos suas virtudes para que outros
também sejam libertos e transportados para o reino de Deus. Quando
Paulo se converteu, na estrada de Damasco, as palavras de Jesus foram
muito claras: “Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto
te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em
que me viste, como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te
do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os
olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás
para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança
entre os que são santificados pela fé em mim” (At 23.16-18). Esta
comissão também foi dada a nós. Paulo chama esta incumbência de
ministério da reconciliação.

DIFERENÇAS ENTRE O REINO DE DEUS E A IGREJA

Reino de Deus e Igreja instituição são duas coisas distintas; nem todos
os que são membros da Igreja fazem parte do reino de Deus.
472 | Curso de Formação Ministerial

A falta de compreensão de grande parte do povo de Deus, sobre o


reino, hoje, deve-se ao fato de se fazer desse “reino” sinônimo de
Igreja. Apesar de ser possível que a Igreja faça parte do Reino, não
é verdade que ambos são idênticos. Pelo contrário, são diferentes
em quase todos os detalhes... Afirmar que todas as pessoas que
assistem aos cultos, ouvem as mensagens e cantam os hinos são
cidadãs do reino de Deus é puro engano...59

O bispo Roberto apresentou algumas diferenças entre o reino de


Deus e a Igreja:

• A autoridade do reino de Deus é divina – A autoridade na Igreja é


humana.
• Quem é servo tem influência no reino de Deus – Quem possui talentos
para liderança tem influência na Igreja.
• Sucesso no reino de Deus é fruto de humildade – Sucesso na Igreja é
avaliado por estatística, qualidade, gabarito, popularidade dos líderes,
entre outras coisas.
• O evangelho sempre é o evangelho do reino de Deus – O evangelho
nunca é o evangelho da Igreja.60
• O reino de Deus é absoluto – A Igreja é relativa.
• O reino de Deus é eterno – A Igreja é temporária.
• Jesus nos pede que busquemos em primeiro lugar o reino – Ele não nos
pede que busquemos em primeiro lugar a Igreja.61

Para ser membro da igreja o processo é se batizar, fazer uma


ficha de membro, receber aulas de como se procede na instituição. Será
que a partir de então, ingressamos no reino de Deus? Certamente que
não! O acesso ao reino de Deus é bem diferente. Jesus demonstrou isso
a Nicodemos, homem religioso, assíduo na sinagoga, um homem
59
McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1987,
p.47.
60
Op. cit., p.48-49.
61
McALISTER, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro – Carisma. 1985,
p.120.
Teologia da Nova Vida | 473

importante entre a liderança religiosa dos judeus. Ele foi procurar Jesus
na calada da noite, elogiou-o por seus ensinamentos e teve como
resposta, uma declaração que o deixou confuso quanto à sua convicção:
“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Ao ouvir isso, Nicodemos
percebeu que estava diante de uma afirmação que era incompatível
com tudo aquilo que aprendera, pediu mais explicações e ouviu de
novo: “...quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do
Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de
novo” (Jo 3.5-7). Nicodemos ficou admirado, perplexo, ávido para saber
como isso poderia acontecer. Na sequência, Jesus falou sobre sua obra
na cruz, que resolveria o problema do pecado, trazendo salvação para o
homem. Citou o famoso trecho que está em João 3.16 (fé), falou sobre a
necessidade de abandonar as obras das trevas (arrependimento).
Nicodemos então pôde compreender o plano da salvação, pôde
entender que entrar no reino significa ser salvo, receber a vida eterna, a
vida de Deus. Quando o homem se arrepende de seus pecados e crê no
Senhor Jesus, em seu interior acontece um milagre: a regeneração. A
palavra regeneração significa gerar novamente, ou nascer de novo.
Quando o homem pecou, recebeu a sentença da morte física, mas
também experimentou um outro tipo de morte, a espiritual. Morte
espiritual significa separação de Deus e isso aconteceu com Adão e
estendeu-se para toda a raça humana. Nosso corpo precisa de
nutrientes para se manter vivo; nossa alma precisa de afeto para que
esteja saudável; o espírito humano só pode manter-se vivo através do
contato com Deus; é a presença de Deus que o sustenta. O ser humano
se separou de Deus, mas ao experimentar o arrependimento e fé, seu
espírito então é gerado novamente, nasce de novo e o agente desta
obra milagrosa é o Espírito Santo. Alguns textos bíblicos expressam o
fato da regeneração:

• “Mas, a todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos


filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não
474 | Curso de Formação Ministerial

nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do


homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13). – Ao nascer de novo, somos
adotados na família de Deus, nascemos através da vida de Deus que
passa a operar em nosso espírito.

• “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados...
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus...” (Ef 2.1,8) – Nossos pecados faziam separação entre nós
e Deus, mas Jesus pagou pelos nossos pecados. Mediante a fé
recebemos a vida de Deus e não andamos mais segundo o curso deste
mundo, seguindo o príncipe da potestade do ar, nem segundo nossas
próprias inclinações.

• “...em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o


evangelho da nossa salvação, tendo nele crido, também fostes selados
com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança,
até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-
14). É o poder da palavra do evangelho inspirada pelo Espírito Santo que
traz salvação. Quando cremos, somos selados, marcados, recebemos o
selo de propriedade exclusiva de Deus: a pessoa do Espírito Santo. Ele
habita no coração do cidadão do reino, como garantia de que Jesus, um
dia virá buscá-lo.

• “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita
em vós?...” (1Co 3.16). Neste versículo Paulo está lembrando aos irmãos
do privilégio e responsabilidade em ser santuário de Deus. O cidadão do
reino de Deus se tornou uma morada de Deus, ele está no reino, mas o
reino também está dentro dele, na pessoa do Espírito Santo.

• “E pôs todas as coisas debaixo de seus pés e, para ser o cabeça sobre
todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele
que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.22-23). Ao entrarmos no
reino de Deus, também nos tornamos membros do corpo de Cristo, a
verdadeira igreja, formada por todas as pessoas que foram regeneradas
Teologia da Nova Vida | 475

e nasceram na família de Deus. A Igreja de Jesus não é a instituição, mas


as pessoas que que entraram no reino de Deus pela regeneração. Esse
Corpo, chamado Igreja, tem como cabeça o próprio Cristo.

SEMELHANÇAS ENTRE O REINO DE DEUS E A IGREJA

O reino de Deus e a Igreja são compatíveis em vários aspectos porque


“A Igreja de Jesus Cristo é a assembleia dos que aceitaram o Evangelho
do reino de Deus. Há cabritos entre as ovelhas. Há joio no meio do
trigo... mas nem por isso deixa a Igreja de ser preciosa para Deus.”62

• Os cidadãos do reino de Deus sentem o desejo de unir-se à assembleia


dos santos aqui na Terra e ter comunhão com o Corpo de Cristo, cuja
expressão visível é a Igreja.

• Jesus ama a Igreja e por ela se entregou. Não é correto desprezá-la por
causa de suas imperfeições. A Igreja é a Noiva de Cristo, e é nesse
ambiente que os que vivem no reino de Deus buscarão comunhão com o
Senhor.

• Através dos ministérios que Jesus concedeu à Igreja, recebem os


membros instruções e disciplina sobre como ser cidadãos dignos do reino
de Deus.63

A Igreja, como o Corpo de Cristo está completamente inserida no


contexto do reino de Deus. É bom lembrar que ninguém é igreja sozinho
e sim membro dela e, como membro, é necessário estar inserido no
corpo, pois separado do corpo acabará morrendo.

62
Op. cit., p.121.
63
McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1987,
p.49-50.
476 | Curso de Formação Ministerial

AS TRÊS CARACTERISTICAS DO REINO

Ao instruir os irmãos da igreja de Roma sobre a liberdade cristã e o


cuidado para não escandalizar ou causar tristeza aos irmãos pela nossa
conduta, Paulo acabou mencionando também o reino de Deus,
apontando três características concernentes a ele: “Porque o reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito
Santo” (Rm 14.17). Estas três características devem fazer parte do
cotidiano do cidadão do reino de Deus.

• JUSTIÇA

A conduta do cidadão do reino de Deus é pautada pela justiça. No caso


de Romanos 14, Paulo está dizendo que aqueles irmãos deveriam ter
equilíbrio para não escandalizarem os outros e nem fazerem
julgamentos precipitados. A justiça se coaduna com retidão e
honestidade. Ser justo é usar a liberdade com equilíbrio, não sendo
libertino nem legalista. Fomos justificados pelo sangue de Jesus, fomos
tornados justos não por nossos méritos. Paulo diz que “... os que
receberam a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida
por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17). A partir de então, o
cidadão do reino não deve mais ser escravo do pecado, mas ser um
instrumento de justiça. “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo
mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada
um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumento de
iniquidade; mas oferecei-vos a Deus como, ressurretos dente os mortos,
e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça” (Rm 6.12-
13). Quem vive no reino de Deus anda como filho da luz, cujo fruto é
bondade, justiça e verdade (Ef 5.9). A justiça do reino implica em tratar
a todos com igualdade, sem acepção; amar o que Deus ama e odiar o
que Deus odeia.
Teologia da Nova Vida | 477

• PAZ

Os irmãos de Roma estavam brigando por causa de comida e bebida,


por isso Paulo fez questão de lembrá-los que o reino de Deus é paz. A
base dessa paz é o relacionamento com Deus e tem como companheira
a justificação mediante a fé: “Justificados, pois, mediante a fé, temos
paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). Justiça e
paz andam juntas; aliás, a própria Bíblia diz que a justiça e a paz se
beijam (Sl 85.10). A paz do reino não está relacionada às circunstâncias,
mas é a paz de Jesus: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la
dou como a dá o mundo” (Jo 14.27), e em Jesus: “Estas coisas vos tenho
dito para que tenhais paz em mim...” (Jo 16.33), a mesma paz que a
Igreja primitiva tinha, mesmo em meio às tribulações (At 9.31). Essa paz
está relacionada com a segurança de pertencer e ter a vida nas mãos de
Deus. Isso também implica em ter paz uns com os outros o quanto
depender de nós.

• ALEGRIA NO ESPÍRITO SANTO

Assim como a paz, a alegria no Espírito Santo não é fruto das


circunstâncias, também é algo que só existe no reino de Deus.

É muito importante saber alguma coisa sobre a “alegria do Espírito


Santo”, uma das marcas registradas da pessoa que vive no reino
de Deus. Alegria não é emoção superficial. Nem implica em sorrir
vinte e quatro horas por dia. Não produz gargalhadas... Quem
sabe você já experimentou as alegrias mundanas provocadas por
festas, folias e futilidades. Depois das quais vem sempre a quarta-
feira de cinzas. Sim, a alegria deste mundo tem um prazo fixo, e
deixa cinzas na boca. Não nasce da alma nem do espírito, apenas
dos lábios.64

64
McALISTER, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro – Carisma. 1985,
p.95.
478 | Curso de Formação Ministerial

A alegria do reino procede de uma pessoa, o Espírito Santo. É fruto


de suas consolações nas horas mais tristes da vida, quando vamos à
presença de Deus às lagrimas e elas se transformam em doxologia, em
lágrimas de alegria pela presença e de Deus e consolações do Espírito
Santo. Por incrível que pareça, experimentamos essa alegria em maior
intensidade nos momentos em que a dor e a tristeza são mais intensas,
pois são nestes momentos que mais precisamos da presença de Deus
também com mais intensidade. Isto é sobrenatural!
Na verdade, tanto a justiça quanto a paz estão relacionadas com
o Espírito Santo. Como o bispo Roberto bem afirmou:

Não teria sido incorreto se Romanos 14.17 fosse escrito desta


maneira: “O reino de Deus é justiça no Espirito Santo, e paz no
Espírito Santo”. Temos conhecimento das bênçãos e privilégios do
reino de Deus por intermédio do Espírito Santo.65

A paz e a alegria fazem parte do que Paulo chama de fruto do


Espírito e fruto é o produto da semente plantada. Fomos selados pelo
Espírito Santo, o que se espera é que produzamos seu fruto. “Perguntei-
me ainda se é possível viver no reino de Deus sem paz e alegria, e
imediatamente me veio a resposta: Não! Isto por serem estas duas
virtudes inatas, constantes e embutidas na vida de quem habita este
lugar glorioso que é o reino de Deus.”66
O reino de Deus também vigora nos dias de hoje. Que Deus
abençoe a todos!

65
McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora Carisma, 1987,
p.47.
66
McALISTER, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro – Carisma. 1985,
p.91.
Teologia da Nova Vida | 479

CONCLUSÃO

Os temas supracitados foram pregados várias vezes pelo bispo


Roberto. Procuramos abordá-los porque são doutrinários e se
amalgamam com a identidade na Nova Vida. Alguns deles foram
bastante polêmicos no tempo em que foram escritos, pois eram
novidade na época. Cabe a nós verificar se aquilo que pregamos hoje se
coaduna com as bases lançadas pelo fundador da denominação. Afinal
de contas, não somos um grupo de guerrilheiros, somos soldados;
somos uma denominação, com uma história, identidade e parâmetros
que precisam ser respeitados para o bem de nosso legado e
posteridade. É tempo de voltar às bases!
Que Deus abençoe rica e abundantemente!
480 | Curso de Formação Ministerial

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida.


Revista e Atualizadano Brasil. 2ª edição. Barueri, São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2009, 1664p.
• McALISTER, W. Robert. Os Alicerces da Fé. Rio de Janeiro, Emp. Gráfica
Ouvidor S/A, 1970.
• McALISTER, Roberto. A Experiência Pentecostal. Rio de Janeiro: Igreja
de Nova Vida, 1977.
• McALISTER Robert. As Dimensões da Fé Cristã. Rio de Janeiro, Carisma
– Terceira Edição, 1982.
• McALISTER Robert. Os Dons do Espírito Santo. Rio de Janeiro:
Indústrias Gráficas Taveira Ltda.
• McALISTER Roberto. As Alianças da Fé. Rio de Janeiro – Cruzada de
Nova Vida, 1971.
• McALISTER, Robert. A Dimensão Oculta da Fé. Rio de Janeiro: Editora
Carisma, 1987.
• McALISTER, Roberto. Bem-vindo ao Reino de Deus. Rio de Janeiro –
Carisma. 1985.
• OLSON, Roger E. Contra o Calvinismo. São Paulo – Editora Reflexão,
2013.
• OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Editora Vida,
2001.

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