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 CURSO BACHARELADO EM DIREITO


FAHESP/IESVAP
UNIDADE PARNAÍBA - PI

DISCIPLINA: FILOSOFIA E DIREITO


1º PERÍODO – 2020.1
TEMA:
Conceito, gênese, natureza

Prof. Espc.: Emmanuel Rocha Reis


Mestrando Direito UFPI
Linha de Pesquisa
Mudanças Institucionais na Ordem Privada e Econômica
(Lattes: 0173325731450357)

 Parnaíba - PI
2020
I
INTRODUÇÃO

• “A Filosofia do Direito não é
disciplina jurídica, é a própria
filosofia, enquanto voltada à
realidade jurídica” REALE,
Miguel. Filosofia do Direito,
19.ª ed., São Paulo, Saraiva,
1999, p. 286
EMENTA

Conceito, gênese, natureza, objeto e elementos


característicos da Filosofia (unidade, universalidade,
crítica). A Filosofia do Direito através da história e de
suas grandes formulações. Temas e questões da Filosofia
Jurídica basilares, especialmente dignidade humana
(Direitos Humanos). O papel da Filosofia na
Epistemologia jurídica. Dimensão axiológica do Direito e
a interdisciplinaridade da Filosofia do Direito. Elementos
filosóficos essenciais às teorias da justiça. Tendências
filosóficas atuais em Filosofia do Direito.
Competências Básicas:
• Compreender e defender os valores e princípios
gerais do direito, objetivando a justiça, a ética, a
moral, a equidade, a igualdade e a liberdade;

• Entender a filosofia do Direito através da história;

• Compreender o papel da filosofia na Epistemologia


jurídica
PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS
• N1 + N2 = 100 pontos.
• N1 = 50 pontos, composto por:
a) 30 pontos – aplicação de avaliação sem consulta com
desenvolvimento de questões no modelo ENADE.
b) 20 pontos – aplicação de atividades diversas de acordo com
as competências relacionadas à disciplina ofertada. (avaliação
continuada)

• Conteúdo da N1: todo o conteúdo que foi abordado no


1º bimestre. A N1 trata-se de uma prova escrita
contendo 12 (doze) questões objetivas valendo 2(dois)
pontos cada questão, além de 2 (duas) questões
subjetivas valendo 3(três) pontos cada.
• N2 = 50 pontos, composto por:
– a) 30 pontos- aplicação de avaliação sem consulta com
desenvolvimento de questões no modelo ENADE. Dentro desta
pontuação deve acontecer a aplicação de avaliação interdisciplinar
sem consulta envolvendo questões de todas as disciplinas que o
aluno está cursando no semestre.
– b) 20 pontos – aplicação de atividades diversas de acordo com as
competências relacionadas à disciplina ofertada. (Avaliação
continuada)
• Conteúdo da N2: tudo que foi abordado no 1º e 2º bimestre
(acumulativa).
• A N2 trata-se de uma prova escrita contendo 10 (dez)
questões objetivas valendo 2 (dois) pontos cada questão,
acrescida de 2 (duas) questões subjetivas, valendo 3 (três)
pontos cada e 1 (uma) questão subjetiva de conteúdo
interdisciplinar valendo 4(quatro) pontos.
• N1 = N2 = RESULTADO FINAL
• RF igual ou maior que 70 pontos e frequência
mínima de 75% (setenta e cinco por cento):
APROVADO
• RF menor que 70 pontos e/ou frequência inferior a
75% (setenta e cinco por cento): REPROVADO
• EXAME FINAL: 100 pontos
• MÉDIA FINAL: 100 pontos (60 é a média para
aprovação. Média entre Nota Semestral e Exame
final)
• EXAM FINAL: O aluno que atingir a média das
avaliações entre 40 – 69,9 pontos têm direito a fazer
exame final.
REFERENCIAL
• REF. BÁSICO:

• MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. 5. ed. São


Paulo: Atlas, 2016.

• ADEODATO, João Maurício. Filosofia do direito: uma critica a


verdade na ética e na ciência. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

• REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20. ed. São Paulo:


Saraiva, 2017.
REF. COMPLEMENTAR
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2003.
• BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de
Filosofia do Direito. 12ª ed. São Paulo, 2012.
• HERVADA, Javier. Lições propedêuticas de filosofia do direito. São Paulo:
WMF, 2008.
• MASCARO, Alysson Leandro. Introdução ao Estudo do Direito. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
• NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 23ª edição. São Paulo, 2012.
• ROSS, Alf. Direito e Justiça. Tradução de Edson Bini. Bauru - São Paulo:
Editora EDIPRO, 2000.
• REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO. Disponível em
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/index
• ROSS, Alf. Direito e Justiça. Tradução de Edson Bini. Bauru - São Paulo:
Editora EDIPRO, 2000
- II -
O que é filosofia?
• A palavra filosofia deriva do grego philo e
sophia.

• Philo deriva de philia que quer dizer


• “amor fraterno/amizade”.

• Sophia significa “sabedoria”.


• Logo, sophós = sábio.
• FILOSOFIA
•=
• “Amor pelo saber”
- III -
PARA QUE FILOSOFIA?

Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas,


da aceitação tácita de evidências que nunca
questionamos porque nos parecem naturais, óbvias.

Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na


qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença
entre ela e a subjetividade, na existência da vontade,
da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.
• “A leitura filosófica é por vezes desesperadoramente lenta e
demorada. Reside aí um dos motivos pelos quais muitas vezes os
alunos oriundos do ensino médio, empenhados num esforço
concentrado orientado para o vestibular, não encontrem neste tipo
de leitura um ritmo compatível a suas inquietações de
produtividade. Afinal, acabam de sair de um processo competitivo
de vestibular, o momento no qual se procura absorver a maior
quantidade possível de informação no menor tempo possível.
• Alguns tipos de textos, contudo, recomendam e demandam
leituras em ritmos distintos, por vezes mais lentos. (...) É difícil
convencer o leitor iniciante, que tem diante de si a mesma
angústia de quem recebe as promessas de um professor de língua
estrangeira, logo nas primeiras aulas, de que um dia poderá falar
com uma fluência que parecia inatingível no início de um curso”
(PORTO MACEDO JR., Ronaldo, “O Método de Leitura
Estrutural”, in Cadernos Direito GV 4, pp. 15-16).
ATITUDE FILOSÓFICA
• Perguntaram , certa vez, a um filósofo: Para
que Filosofia? E ele respondeu:

• Para não darmos nossa aceitação imediata às


coisas, sem maiores considerações
A ATITUDE CRÍTICA
• A primeira característica da atitude filosófica é
negativa, isto é, um dizer não ao senso
comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos
fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao
que “todo mundo diz e pensa” ao
estabelecido.
A segunda característica da atitude filosófica

• É positiva, isto é, uma interrogação sobre o


que são as coisas, as ideias, os fatos, as
situações, os comportamentos, os valores, nós
mesmos. O que é? Por que é? Como é? Essas
são as indagações fundamentais da atitude
filosófica.
OBS!
• A face negativa e a face positiva da atitude
filosófica constituem o que chamamos de
atitude crítica e pensamento crítico.
FILOSOFIA
• A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos
preconceitos do senso comum e, portanto, começa
dizendo que não sabemos o que se imaginava
saber;
• O patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava
que a primeira e fundamental verdade filosófica é
dizer: “Sei que nada sei”.
• Para Platão, a Filosofia começa com a admiração; e
para Aristóteles, a Filosofia começa com o espanto.
REFLEXÃO
• Em nossa cultura e em nossa sociedade
costumamos considerar que alguma coisa só
tem o direito de existir se tiver alguma
finalidade prática, muito visível e de utilidade
imediata.
QUESTÕES FILOSÓFICAS?
• Verdade, pensamento, procedimentos
especiais para conhecer fatos, relação entre
teoria e prática, correção e acúmulo de
saberes: tudo isso não é ciência, são questões
filosóficas.
• Os cientistas partem delas como questões já
respondidas, mas é a Filosofia que as formula
e busca respostas para elas.
ATITUDE FILOSÓFICA
• A Filosofia torna-se, então, o pensamento
interrogando-se a si mesmo.

• Por ser uma volta que o pensamento realiza


sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como
reflexão.
A REFLEXÃO FILOSÓFICA
• Organiza-se em torno de três grandes
conjuntos de perguntas ou questões:
• Quais os motivos, as razões e as causas para
pensarmos o que pensamos, dizermos o que
dizemos, fazermos o que fazemos?
AINDA ...
• O que queremos pensar quando pensamos, o
que queremos dizer quando falamos, o que
queremos fazer quando agimos?

• Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que


pensamos, dizemos ou fazemos?
PORTANTO
• Na cultura grega a filosofia significa a própria
sabedoria.
• Com Platão  filosofia = saber racional.

Saber reflexivo;
Adquirido mediante o método dialético.
FILOSOFIA:
UM PENSAMENTO SISTEMÁTICO

• A Filosofia trabalha com enunciados precisos e


rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre
os enunciados, opera com conceitos ou ideias
obtidos por procedimentos de demonstração
e prova, exige a fundamentação racional do
que é enunciado e pensado.
 EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
DA FILOSOFIA
• DEFINIÇÕES GERAIS DO QUE SERIA A FILOSOFIA:
• 1- Visão de Mundo;
• 2- Sabedoria de Vida;
• 3-Esforço racional para conceber o Universo
como uma totalidade ordenada e dotada de
sentido;
• 4- Fundamentação teórica e crítica dos
conhecimentos e das práticas.
O que é o Filósofo?
• São aqueles que se preocupam com o
significado e o propósito da vida. Não são os
que buscam a fama, o sucesso e o poder, pois
o seu objetivo é o de transformar pessoas.
• LIÇÃO SOCRÁTICA: conhecer-se a si mesmo.
• Ponto de partida para o verdadeiro
conhecimento*
MAS

• O QUE É O CONHECIMENTO?
O que é, afinal, conhecer?
• Conhecer é representar, cuidadosamente, o
que é exterior à mente.
• No processo de conhecimento, dois
elementos são indispensáveis: O Sujeito e o
Objeto.
• O sujeito é o elemento que conhece e o
objeto é o elemento conhecido.
• Sujeito: Nossa consciência, nossa mente.
• Objeto: A realidade, o mundo e os
fenômenos (e a nossa própria consciência,
quando nós refletimos).
POSSIBILIDADE DO CONHECER
CONHECIMENTO E SEUS GRAUS

• 1º GRAU:
• ORIGEM EMPÍRICA;

• SEM RIGOR FORMAL;

• EXPRESSÃO: BOM SENSO.


o conhecimento está baseado na experiência
sensorial
Características do Empirismo
• A verdade está na percepção dos sentidos;
• Não existem ideias inatas, isto é, toda ideia foi adquirida
pela percepção sensorial.

• “ Suponhamos, portanto, que a mente seja uma folha em


branco, desprovida de caratceres, sem qualquer ideia. De
que modo receberá as ideias? (...) Respondo: da
experiência. É este o fundamento de todos os nossos
conhecimentos; daí extraem a sua origem primeira.”
• (Ensaio sobre o entendimento humano, Livro II, Cap. 1, sec. 19)

• John Locke
• 2º GRAU:
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
– Leis da causalidade;
– Explicado através de uma lei geral;
QUESTÕES DOGMÁTICAS
• Função diretiva explícita;
• Acentuam o aspecto resposta:
visam possibilitar uma decisão
e orientar a ação
IDEIAS DO RACIONALISMO
• A razão humana é o único instrumento capaz de
conhecer a verdade;
• Os princípios lógicos fundamentais são inatos, ou
seja, não dependem da experiência sensorial;
• A experiência sensorial é uma fonte permanente
de erros;
• Ao nascermos, trazemos em nossa inteligência
alguns princípios racionais e ideias verdadeiras.
• “De sorte que, após ter pensado bastante nisso e
de ter examinado cuidadosamente todas as
coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante
que essa proposição, eu sou, eu existo, é
necessariamente verdadeira todas as vezes que a
enuncio ou que a concebo em meu espírito.”

• (Regras para direção do Espírito)


• René Descartes
• 3º GRAU:
FILOSÓFICO
• CRÍTICO
• CRITÉRIO DE VALOR:
• toda crítica se distingue por sua natureza axiológica;
PREMISSAS KANTIANAS
CONHECER PENSAR
DÁ RIGOR AO DIREITO PERMITE ATINGIR A CRÍTICA DOS SEUS
PRESSUPOSTOS

Obs! Direito positivo muda A tarefa da filosofia do direito é o parar


para pensar o conhecimento do direito
positivo e aperfeiçoá-lo (Miguel
Reale/Norberto Bobbio).
FILOSOFIA PARA O DIREITO TEM UM MISSÃO

a missão da Filosofia do direito é de crítica da


experiência jurídica, no sentido de determinar as suas
condições transcendentais, ou seja, aquelas condições
que servem de fundamento à experiência, tornando-a
possível. (REALE, Miguel. Filosofia do direito, 20ª. ed.,
São Paulo, Saraiva 2002.p.10 )
O QUE SERIA O DIREITO?
Direito e Sistemas de ideias gerais
• FILOSOFIA DO DIREITO: valores

• TEORIA GERAL DO DIREITO: análise e


conceituação dos elementos

• SOCIOLOGIA DO DIREITO: conexão do Direito


com a sociedade, indo além da busca da
efetividade do mesmo no seio social.
CONCEITO DE DIREITO
• “Direito é a concretização da ideia de
justiça na pluridiversidade de seu
dever ser histórico, tendo a pessoa
como fonte de todos os valores”
(Miguel Reale, Lições Preliminares de
Direito, p. 67, Saraiva, S. Paulo, 2005).
APLICAÇÃO DA TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO
MIGUEL REALE

• FATO – VALOR – NORMA (COEXISTENCIA)


 
• Havendo um fenômeno jurídico há sempre um fato
subjacente (fato econômico, geográfico, demográfico, de
ordem técnica ...); um valor, que confere determinada
significação a esse fato, inclinando ou determinando a
ação dos homens no sentido de atingir ou preservar
certa finalidade ou objetivo; e, finalmente, uma regra,
norma, que representa a relação ou medida que integra
um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor.
Norma Jurídica:

• Norma Jurídica:
• bilateralidade;
• generalidade;
• abstratividade;
• imperatividade;
• coercibilidade
O direito como ciência - Tercio Sampaio
Ferraz Jr.

• Ciência do direito funciona como uma


tecnologia para administrar e reduzir a
complexidade social, criando condições para a
decisão de conflitos. (Raciocínio dogmático)
• Mas, se problematizarmos os pontos de
partida, questionando os seus pressupostos?
Raciocínio filosófico
CLASSIFICAÇÃO
Questões zetéticas Questões dogmáticas*
Dissolve as opiniões Revela o ato de opinar
Pondo-as em dúvida Ressalva algumas das opiniões
Função especulativa explícita Função diretiva explícita
São infinitas São finitas.
FERRAZ JR. Tércio. Introdução ao estudo do direito, ob.cit. p.18

Na perspectiva dogmática o problema tematizado é configurado


como um ser (que é algo?), possibilitando uma decisão para
orientar uma ação.

Na perspectiva zetética a investigação põe em dúvida as


premissas, os axiomas do sistema, confrontando-os com
problemas que não almejam uma única solução, os
questionamentos são formulados tendo em vista os seus
fundamentos.
• Luiz Fernando Coelho, arremata de forma
categórica:

• “(...) o Direito existe, não para manter a


ordem, mas para transformá-la; a ciência do
Direito existe, não para constatar uma ordem
imanente, revelada nas instituições, mas para
transformá-las...” COELHO, Luiz Fernando.
Para uma ciência crítica do Direito. p. 224
Para continuar caminhando

Certa vez, um cosmonauta e um neurologista russos


discutiam sobre religião. O neurologista era cristão, e o
cosmonauta não. “Já estive várias vezes no espaço”,
gabou-se o cosmonauta, “e nunca vi nem Deus, nem
anjos”. “E eu já operei muitos cérebros inteligentes”,
respondeu o neurologista, “e também nunca vi um
pensamento”.

O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995

E você? Só acredita no que vê?

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