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PROCESSO DO TRABALHO

Unidade I
O CONSTITUCIONALISMO

Bacharelado em Direito
Prof. Esp. Emmanuel Rocha Reis
2º Período – 2018.1
EMENTA

 O CONSTITUCIONALISMO: CONCEITO
O CONSTITUCIONALISMO: EVOLUÇÃO
HISTÓRICA.
 O DIREITO CONSTITUCIONAL: NATUREZA E
CONCEITO
1. CONSTITUCIONALISMO

 Movimento histórico de origem político e filosófico
que defendeu desde sua origem e ao longo dos
séculos a necessidade de limitação do poder absoluto
com a consagração de um regime de garantia das
liberdades públicas fundamentais.

 A HISTÓRIA DO CONSTITUCIONALISMO É A
BUSCA DO HOMEM POLÍTICO PELA LIMITAÇÃO
DO PODER.
 PORTANTO, SE CONTRAPÕEM AO
ABSOLUTISMO
1.2 IDEIAS BÁSICAS

 I – PRINCÍPIO DO GOVERNO LIMITADO

 II – GARANTIA DE DIREITOS

 III – SEPARAÇÃO DOS PODERES


 “TODO AQUELE QUE DETEM O PODER E NÃO
ENCONTRA LIMITES TENDE A DELE ABUSAR”
(MONTEQUIEU)
2. Evolução da Teoria Constitucional
1ª FASE DO CONSTITUCIONALISMO:


Constitucionalismo Antigo

EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
(LIMITAÇAO DO PODER DO ESTADO –
MONARCA) QUE COMEÇAM NA
ANTIGUIDADE E VAI ATÉ O FINAL DO SÉC.
XVIII.

1º) ESTADO HEBREU:


- Marco histórico do nascimento do
constitucionaslismo – havia uma limitação do
HEBREUS. Civilização poder do monarca – Estado Teocrático – no qual o
Hebraica poder era limitado pelas Leis Divinas.
Cont. Evolução da Teoria
Constitucional

 Constitucionalismo Antigo:
. 2 – GRÉCIA

A teoria constitucional tem presença marcante


nas cidades-Estado gregas onde se consagrou um
regime político-constitucional de democracia
direta.

2. ROMA.
A República romana (V a II a.C.) também foi
palco importante para o amadurecimento das
ideias constitucionalistas, sobretudo em razão de
haver instituído um sistema de freios e
PARTENON (templo da Deusa Atena) contrapesos para dividir e limitar o poder
construído na Acrópole de Atenas político.
(século V a.C)
Cont. Evolução da Teoria
Constitucional

 Constitucionalismo Antigo:
. 3 – INGLATERRA.
-Idade média – absolutismo.
-primazia da lei
-Centralizada no princípio do Rule of Law
(primazia da lei ).
-Até o ano 2000 a constituição inglesa era
consuetudinária.
-Porém, há documentos escritos desde 1215
(Magna Carta – João Sem Terra); Petition Corpus
(1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights
(1689) ...

PARTENON (templo da Deusa Atena)


construído na Acrópole de Atenas
(século V a.C)
2.1 características do Constitucionalismo
antigo

 A) conjunto de princípios que garantem a existência
de Direitos perante o Monarca;
 B) constituições consuetudinárias;
 C) supremacia do parlamento (principalmente na
Inglaterra);
 D) forte influência da religião.
2.1 - 2ª FASE: CONSTITUCIONALISMO CLÁSSICO (LIBERAL)


 INÍCIO : FIM DO SÉC. XVIII
 VAI ATÉ: 1ª GRANDE GUERRA MUNDIAL.
 COMPREENDIDO ENTRE AS REVOLUÇÕES
LIBERAIS DO FINAL DO SÉC. XVIII.
 MARCO: SURGIMENTO DAS CONSTITUIÇÕES
ESCRITAS.
Evolução da Teoria Constitucional

 Constitucionalismo clássico

No século XVIII, a teoria constitucional ganha


significativo reforço com as ideias iluministas, a
exemplo da doutrina do contrato social e dos
direitos naturais, de filósofos como John Locke
(1632-1704), Monstesquieu (1689-1755),
Rousseau (1712-1778) e Kant (1724-1804), que se
opunham aos governos absolutistas (luzes contra
trevas), e que serviram de combustível para as
revoluções liberais (EUA e França). Caracteriza-se
pelo surgimento das Constituições escritas (dos
EUA, de 1787; e da França, de 1791).
A Liberdade guiando o povo (1830, Louvre, Paris)
é uma das obras mais nitidamente românticas e
célebres de Delacroix. A tela, comprada pelo
governo francês, mas considerada
excessivamente incitadora, só foi exposta em
1848.
EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
DESSE PERÍODO


 i) Revolução de Independência das 13 Colônias
Inglesas na América do Norte (1776): Foi um
movimento de ruptura externo, quebrando a
submissão das colônias com a Coroa Britânica.
Somente depois dessa independência as ex-colônias
resolveram se juntar para formar os Estados Unidos
da América do Norte (1787) com a promulgação da
primeira Constituição Escrita.

 1ª Contribuição: 1ª Constituição Escrita; Formal;
Rígida e dotada de Supremacia.
 2ª contribuição: surgimento do *controle difuso de
constitucionalidade.
 * surge no Direito Norte Americano, sendo atribuído a
decisão paradigmática, proferida em 1803 no famoso caso
Marbury x Madison, pelo Presidente da Corte – Marshal.
Nesta decisão, o Marshal estabeleceu as bases do controle
difuso de constitucionalidade.
 Obs! A rigor já existiam dois precedentes, onde um tribunal do distrito declarou uma lei
inconstitucional; após, a Suprema Corte chegou a analisar a constitucionalidade, porém, ela
declarou constitucional, dando parâmetro para o controle de constitucionalidade.

 3ª contribuição: fortalecimento do poder judiciário.



 4ª Contribuição: República (aplicada em um país
grande)
 5ª contribuição: Federalismo.
 6ª contribuição: criação do presidencialismo.
 7ª contribuição: Declarações de Direitos formuladas
a partir de 1776 – Virginia Declaration of Rights
ii) Experiência Francesa
francesa se opôs ao regime
 Revolução Francesa (1789-1799): Foi um movimento de
ruptura interno, a revolução
totalitário de monarquia absoluta que existia na França.
Influenciada pelo pensamento Iluminista.
 A superação dos Estados Absolutistas, como consequência da superação
ocorreu o surgimento dos Estados de Direito. 2ª constituição escrita da
Europa – 1791
 Características:
 Supremacia do Parlamento: não havia controle repressivo de
constitucionalidade, somente havia o controle preventivo (conselho
constitucional). “o parlamento, a lei, era expressão da vontade geral.”
(russeal)
 Garantia de direitos e separação de poderes;

 Poder constituinte originário e derivado; (pergunta: quem foi o
principal formulador da teoria do poder constituinte – abade
Emmanuel Joseph Sieyés)  povo (3º estado) como detentor verdadeiro do
poder constituinte.
 Escola da Exegese: possui o auge no período em 1830 a 1880, surgindo
a partir do Código de Napoleão (1804). Característica – interpretação
atividade meramente mecânica (“o juiz deverá apenas revelar o
sentido que a lei já possui em si.”)
iii) Surgimento da 1ªgeração de
Direitos Fundamentais.

 Valores ligados a liberdade, conhecidos como direitos
civis (vida, liberdade, igualdade, propriedade ...) e
políticos.
 Tais direitos exigem do Estado uma ação negativa do
Estado, posto que exigem essencialmente uma abstenção
do Estado (Caráter negativo).
 São direitos individuais (assegurados ao indivíduo em
face do Estado).
 Eficácia vertical.
Obs! Surgimento do
Estado de Direito

 É termo sinônimo de Estado Liberal.
 Temos 3 experiências que demonstram o Estado
Liberal, anteriores à Revolução Francesa
 1ª Rule of Law: governo das leis (ING).

 2ª Rechtsstaat: ALE (PRUSSIA)

 3ª ÉTAT LEGAL: FRANÇA


CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DE
DIREITO

 PODEMOS FALAR DO:
 LIBERALISMO POLÍTICO:
 IDÉIA DE ESTADO LIMITADO;
 CARACT.: A LIMITAÇÃO DO ESTADO PELO
DIREITO SE ESTENDE AO SOBERANO; A ADM
PÚBLICA TEM SUA ATUAÇÃO PAUTADA PELA
LEI; FRACIONAMENTO DAS FUNÇÕES ESTATAIS;
DIREITOS INDIVIDUAIS ASSEGURADOS CONTRA
O ESTADO.
LIBERALISMO ECONÔMICO:


 POSTULA UM ESTADO MÍNIMO;
 PAPEL DO ESTADO LIBERAL É BASICAMENTE:
ASSEGURAR A ORDEM E A SEGURANÇA.
2.2 Const. Moderno
 PÓS PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL –


 CRISE ECONÔMICA – aumento das desigualdades.
 Surgimento das constituições sociais: Constit. social
 BUSCA DA SUPERAÇÃO DO ANTAGONISMO
EXISTENTE ENTRE A IGUALDADE POLÍTICA E A
DESIGUALDADE SOCIAL – SURGE O ESTADO
SOCIAL
 MEXICO – 1917- Constituição primeira a incluir
direitos sociais – trabalhistas entre os
fundamentais;
 CONST. DE WEIMAR 1919 – 1ª REP ALEMÃ.
 DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO – VALOR
DA IGUALDADE: Direitos sociais, econômicos e
culturais


 Os direitos de 2ª geração exigem do Estado uma
atuação positiva, com prestações materiais por parte
do Estado.
 Direitos da coletividade –
 Nesta fase a interpretação começa a evoluir (1850),
surgindo os cânones interpretativos desenvolvidos
por Savigny: elemento gramatical, histórico, lógico e
sistemático.
 Surge o Estado Social* (Do Estado Liberal ao Estado
Social – Paulo Bonavides)
Estado Social

 Postura de intervenção em determinadas questões.
 Características:
 Estado abandona sua postura abstencionista e passa a
intervir nas relações sociais, econômicas e laborais;
 Papel decisivo na produção e distribuição de bens;
 Garantia de um mínimo de bem estar social:
WELFARE STATE (ex. sal. Social)
III – CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO


 MUDANÇAS DO CONSTITUCIONALISMO EUROPEU
APÓS A 2ª GUERRA MUNDIAL. (1945)
 PAUTA: INOVAÇÕES E RELEITURAS DE
EXPERIÊNCIAS ANTERIORES.
 Pós guerra trouxe a reflexão sobre a proteção à pessoa
humana – dignidade da pessoa humana.
 consagração de outros grupos de direitos fundamentais:
 3ª dimensão: direitos ligados à fraternidade
 4ª dimensão: democracia, informação e pluralismo
 5ª dimensão: direitos ligados à paz.
 A rematerialização constitucional: abrange também a
imposição de diretrizes políticas e amplas esfersas de
regulação jurídica estabelecidas em normas vagas e

imprecisas, as quais limitam o legislador.
 Transbordamento da constituição
 Força normativa da constituição: eficácia horizontal
dos direitos fundamentais.
 Estado Democrático de Direito:
 Princípio da soberania popular;
 Efetividade dos direitos fundamentais.
IV – CONSTITUCIONALISMO
DO FUTURO

 José Roberto Dromi (1997) – valores fundamentais
marcantes da constituição futura.
 Verdade: programas possíveis de cumprimento
 Solidariedade: entre os povos – tratamento digno e
justiça social.
 Continuidade: constituição sem modificações que
destruam sua identidade
 Participação: democracia participativa na vida
política.
 Integração: mecanismos supranacionais.
 Universalização: direitos humanos e fundamentais.
RESUMÃO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO
I – CONSTITUCIONALISMO Experiências Constitucionais:
ANTIGO (ANTIGUIDADE a)Estado Hebreu


CLÁSSICA b)Grécia
c)Roma
d)Inglaterra
Estado Absolutista
II – Constitucionalismo Moderno II.1) Constituições Liberais
(Final do Sec. XVIII a meados do Sec. -Dir. Fund. de 1ª geração
XX) -Valor: liberdade
-Direitos Civis e Políticos
-Estado de Direito (Liberal)
II.2) Constituições Sociais
-Dir. Fund. de 2ª geração
-Valor: Igualdade
-Direitos Sociais, econômicos e
culturais.
-Estado Social

Constitucionalismo contemporâneo N.D.Fund. – Estado Democrático de


Direito.
Evolução da Teoria Constitucional
Constitucionalismo Contemporâneo (Neoconstitucionalismo)
O Estado de Direito se baseia diretamente na própria Constituição, na centralidade,
supremacia. a Constituição passa a ser um documento dotado de valor e força jurídica


Movimento que surge na Europa após a 2ª Guerra Mundial, como superação do positivismo jurídico,
dando ensejo à consolidação de um Estado Constitucional, fundado na centralidade da Constituição
e dos Direitos Fundamentais. Identifica um conjunto amplo de transformações, em meio às quais
podem ser assinalados:

(i) como Marco Histórico → a formação do Estado constitucional de direito; modelo surgiu a partir
das Constituições pós Segunda Grande Guerra com os países (Alemanha, Itália, Portugal e
Espanha).

(ii) como Marco Filosófico → o Pós-positivismo, com a centralidade dos Direitos Fundamentais, a
partir do discurso normativo da Dignidade da Pessoa Humana e a reaproximação entre Direito e
Ética, Moral e Filosogia; e

(iii) como Marco Teórico → o conjunto de mudanças que incluem a força normativa da Constituição,
a normatividade dos princípios, a expansão da jurisdição constitucional, o desenvolvimento de uma
nova dogmática da interpretação constitucional, a ampliação do sistema de proteção dos Direitos
Fundamentais, tudo abrindo o caminho para a Constitucionalização do Direito.
O Neoconstitucionalismo e os Novos Paradigmas
do Direito Público Brasileiro


O Neoconstitucionalismo e os Novos Paradigmas
do Direito Público Brasileiro
Com a constitucionalização do Direito evidencia-se a posição de proeminência dos textos constitucionais,


que passam a transitar por todos os setores da vida política e social em Estado. Na formulação conceitual do
jurista italiano Riccardo Guastini, a constitucionalização do Direito é um processo de transformação de um
ordenamento jurídico ao fim do qual a ordem jurídica em questão resulta totalmente impregnada pelas
normas constitucionais, que passam a condicionar tanto a legislação como a jurisprudência, a doutrina, as
ações dos atores políticos e as relações sociais.

Guastini chega a apresentar uma lista de sete condições para a caracterização do fenômeno da
constitucionalização do Direito, a saber:
1) a existência de uma Constituição rígida;
2) a garantia judicial da Constituição;
3) a força normativa da Constituição;
4) a sobreinterpretação da Constituição;
5) a aplicação direta das normas constitucionais;
6) a interpretação das leis conforme a Constituição, e
7) a influência da Constituição sobre as relações políticas.
O Neoconstitucionalismo e os Novos Paradigmas
do Direito Público Brasileiro


A partir do novo Regime Jurídico-Administrativo, com o conteúdo que lhe deu a
Constituição, velhos paradigmas conhecidos no Direito Administrativo sofreram
profundas alterações nestas últimas décadas, visando a privilegiar os Direitos
Fundamentais do Cidadão, cumprindo mencionar os seguintes:

(i) A reconstrução do princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse


privado;

(ii) A possibilidade do controle judicial do mérito administrativo e da judicialização de


políticas públicas;

(iii) A vinculação imediata do agente administrativo à Constituição.


Mínimo existencial vs reserva do possível


CONCLUSÃO
A Constituição de 1988 foi o marco zero de um
recomeço, da perspectiva de uma nova história. Sem as
velhas utopias, sem certezas ambiciosas, com o caminho
a ser feito ao andar. Mas com uma carga de esperança e
um lastro de legitimidade sem precedentes, desde que
tudo começou. E uma novidade. Tardiamente, o povo
ingressou na trajetória política brasileira, como
protagonista do processo, ao lado da velha aristocracia e
da burguesia emergente..

DICAS DE ESTUDO
 
BARROSO, Luís Roberto. Temas do direito constitucional – Tomo III.
Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 4-6.
 
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 25ª edição. São
Paulo: Malheiros Editora, 2009, p. 361-370.
1. Direito Constitucional

Conceito e Importância. Natureza, Objeto e Conteúdo


Científico. Fontes. Relação com os demais ramos do
direito.
Evolução do Constitucionalismo.
Evolução Histórica

A expressão “Direito Constitucional” surge na



Itália no fim do século XVIII.
Surge com a idéia fundamental de limitação da
autoridade governativa (constitucionalismo
liberal).
Limitação imposta pela separação dos poderes e
declaração de direitos (tese liberal mais
importante).
O neoliberalismo do século XX acolhe a tese de
Tutela dos Direitos Humanos e limitações do
Poder do Estado.
Evolução Histórica

 Primeira cadeira de Direito Constitucional – França,



1834. A partir de então, a expressão passou a
designar o estudo sistemático das regras
constitucionais.
 No século XIX o Direito Constitucional caracterizou-
se por ser, na prática, uma espécie de Direito Público
do Liberalismo.
 No século XX, pode-se dizer que o Direito
Constitucional alcançou grau de ciência jurídica.
 No Brasil, a disciplina se fixou definitivamente
depois de 1940 no ensinamento didático.
Conceito e importância do Direito
Constitucional


Importância do Direito Constitucional: mais
importante ramo das ciências jurídicas no
contexto do estudo do Direito.

 Posição hierárquico-normativa superior relativa aos outros


ramos do direito;
 A superioridade normativa das normas constitucionais
implica na necessidade de conformidade de todos os atos
dos poderes políticos com a Constituição.
Direito Constitucional

 : é um ramo da Ciência do Direito que tem por objeto
o estudo dos preceitos Constitucionais. O direito
constitucional não estuda apenas a Constituição, mas
também as instituições políticas do Estado, estuda a
sociedade, os valores sociais. Há assuntos estudados
por D.C que não está na Constituição. Exemplo: o
constitucionalismo.
Conceito de Direito Constitucional

“É o conhecimento sistematizado das regras jurídicas relativas


à forma do Estado, à forma do governo, ao modo de aquisição e
exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos
limites de sua ação.” (Ferreira Filho)

“Configura-se como Direito Público Fundamental por referir-


se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à
articulação dos elementos primários do mesmo e ao
estabelecimento das bases da estrutura política.” (José
Afonso da Silva)
Conceito e importância do Direito
Constitucional


Importância do estudo da “Teoria da
Constituição”: forma de elucidar muitos
problemas jurídicos-constitucionais que, na
maioria das vezes, necessitam de conhecimento
explicativo e justificativo que só pode ser
fornecido por uma reflexão teórica.

“A Teoria da Constituição possibilita a


clarificação dos problemas do Direito
Constitucional”. (J. J . Gomes Canotilho).
Conceito e importância do Direito
Constitucional
 Exemplos da necessidade do estudo teórico para

compreensão do problema do Direito Constitucional
positivo:
i) Características do Poder Constituinte;
ii) Força normativa da Constituição e classificação das
normas constitucionais;
iii) Métodos de interpretação constitucional e concretização
das normas;
iv) Análise dos Direitos Fundamentais da CF/88 e a Teoria
dos D. Fundamentais;
v) organização do Estado e o estudo dos princípios
fundamentais, no que tange à Federação, forma e sistema
de governo, etc.
Conceito e importância do Direito
Constitucional


 Nem sempre os dois planos: o teórico e o dogmático; o
da teoria da Constituição e o do Direito Constitucional
positivo são facilmente isoláveis.

 Importância de se buscar o equilíbrio entre o estudo


teórico da Constituição e as normas formais/práticas
da Constituição: “Sem o adubo teórico, o Direito
Constitucional dificilmente passará de vegetação
rasteira, ao sabor dos “ventos”, dos “muros” e do
praticismo vazio e pobre” (Canotilho).
Conceito e importância do Direito
Constitucional
 Disciplina Autônoma;

 Principal ramo do Direito Público (interesses


imediatos do Estado) Interno (normas concernem
apenas ao direito de um Estado);

 Base para todas as áreas do Direito;

 Direito Público x Direito Privado (fins didáticos).


Natureza, Objeto e Conteúdo Científico do
Direito Constitucional


 Natureza: A doutrina classifica o Direito Constitucional
como ramo do Direito Público ao lado do Direito
Administrativo, Urbanístico, Tributário, Processual, Penal,
etc.
 É um direito que gravita sobre si mesmo.

 Objeto: Normas relativas à estrutura do Estado, direitos


fundamentais a regras básicas de ordem econômica e social.
(Base jurídico-positiva).
Conteúdo Científico do Direito Constitucional
Conteúdo Científico:


 Direito Constitucional Positivo: estudo dos princípios e
normas de uma Constituição concreta, de um determinado
Estado.
 Direito Constitucional Comparado: “Estudo teórico das
normas jurídico-constitucionais positivas de vários Estados,
destacando as singularidades e os contrastes entre eles ou
entre grupos deles”.
 Direito Constitucional Geral: “Estuda uma série de
princípios, de conceitos e de instituições que se acham em
vários direitos positivos ou em grupo deles para classificá-
los e sistematizá-los”. Visa generalizar os princípios teóricos
do direito constitucional positivo.
Natureza, Objeto e Conteúdo Científico do
Direito Constitucional
 Estudo científico e sistemático das normas
constitucionais;
 Estrutura do Estado e Governo;
 Direitos e Garantias Individuais;
 Ordem Social e Econômica.

→ Duas abordagens possíveis:


- DOGMÁTICA: Doutrina do Direito Constitucional
- TEÓRÉTICA: Teoria da Constituição
Fontes do Direito Constitucional

 ESCRITAS: Normas Constitucionais e


infraconstitucionais, a Jurisprudência e a Doutrina;

 NÃO-ESCRITAS: Representadas pelos usos e costumes


constitucionais.
Fontes do Direito Constitucional

 NÃO-ESCRITAS: São, essencialmente, duas: o costume e os usos


constitucionais.
 O costume forma-se quando a prática repetida de certos atos induz
uma determinada coletividade à crença ou convicção de que esses atos
são necessários ou indispensáveis. Sua importância para o Direito
Constitucional é imensa.
 Os usos constitucionais compõem a segunda categoria das fontes
não-escritas. Sua relevância é maior nos países desprovidos de
Constituição escrita ou que a possuem em textos sumários.
Ex.: Anulação do Testamento do Rei Luiz XIV, que alterava a lei de
sucessão do trono e fora feito pelo rei, sem audiência dos Estados
gerais, no exercício de uma função legislativa ordinária. 
O testamento foi cassado pelo Parlamento de Paris.  Com esse ato, ficou
comprovada a rigidez e superioridade do costume constitucional. 
ÉPOCAS CONSTITUCIONAIS DO BRASIL
(distintas em relação aos valores políticos, jurídicos e ideológicos)
1ª. CONSTITUCIONALISMO DO IMPÉRIO (a presença da
inspiração francesa e inglesa)
● Período de 1822 (Proclamação da Independência) a 15 de novembro
de 1889 (advento da República)
● Os fatos políticos mais relevantes:
- Decreto de 3 de julho de 1822 convocando “Assembleia Luso-
Brasiliense” (Assembleia Geral Constituinte e Legislativa);
- Instalação da Assembleia Constituinte em 3 de maio de 1823, com a
presença de D. Pedro I, que já se assinava Imperador Constitucional do
Brasil;
- A dissolução da Constituinte, em 12 de novembro de 1823, por um golpe
de Estado, de raízes militares, encabeçado pelo próprio Imperador;
- A outorga da Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março
de 1824, por ato de D. Pedro I;
- o Ato Adicional, de 12 de agosto de 1834, durante a Regência, aliás a
única emenda introduzida no texto constitucional da monarquia; e
- Finalmente, a Lei de 12 de maio de 1840, instrumento conservador de
interpretação de alguns artigos da reforma constitucional de 1834.
● Os documentos constitucionais mais importantes (deixando
transparecer a natureza jurídica, política e ideológica do sistema
institucional cuja concretização se pretendia alcançar):
- O chamado Projeto Antonio Carlos, elaborado, discutido e
parcialmente votado nas sessões da Constituinte;
- A Carta outorgada em 1824, ou seja, a Constituição do Império, vigente
por espaço de 65 anos, a mais longeva das Constituições brasileiras;
- O Ato Adicional de 1834, já referido; e
- A Lei da Interpretação de 1840, também há pouco mencionada.

● Concluindo sobre as influências que ficaram sujeitos esses textos e


as ideias básicas que neles se refletem:
- O Projeto da Constituinte obedecia basicamente em matéria de
organização de poderes ao célebre esquema de Montesquieu:
Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário;
- Garantia os direitos individuais e políticos, sob a inspiração da
Constituição francesa de 1791 e ao mesmo passo formulava com
originalidade um capítulo sobre os "deveres dos brasileiros", no
qual admitia o direito de resistência e declarava “dever do
brasileiro negar-se a ser o executor da lei injusta", reputando
como tal a lei retroativa ou oposta à moral, mas unicamente "se ela
tendesse a depravá-lo e a tomá-lo vil e feroz”;
- No tocante à reforma da Constituição, o texto proposto introduziu
em dois artigos um conceito de constitucionalidade, mantido depois
pela Constituição outorgada em 1824. Dizia o art. 267: “É só
constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições
respectivas dos poderes políticos e aos direitos políticos e
individuais”. Já o art. 268, seguinte, completava essa doutrina em
aspectos relativos ao processo de mudança da norma
constitucional: “Tudo o que não é constitucional pode ser alterado
pelas legislaturas ordinárias, concordando dois terços de cada uma
das salas”;
- Dominada pelas sugestões constitucionais provenientes da França,
a Constituição Imperial do Brasil foi a única Constituição do mundo,
salvo notícia em contrário, que explicitamente perfilhou a repartição
tetradimensional de poderes, ou seja, trocou o modelo de
Montesquieu pelo de Benjamin Constant, embora de modo mais
quantitativo e formal do que qualitativo e material;
- Com efeito, ao Executivo, Legislativo e Judiciário, acrescentou o
Poder Moderador, de que era titular o Imperador e que compunha a
chave de toda a organização política do Império. Em rigor, como
redundou de sua aplicação constitucional, era ele o Poder dos
Poderes, o eixo mais visível de toda a centralização de Governo e de
Estado na época imperial.
2ª. O constitucionalismo da Primeira República (a adoção do modelo
americano, com o federalismo e o presidencialismo)
● Período constitucional que se dilata de 24 de fevereiro de 1891, data
da promulgação da primeira Constituição republicana do Brasil, até
o Dec. n. 19.398, de 11 de novembro de 1930, que marcou
juridicamente o fim da chamada Primeira República.
● Os fatos mais relevantes:
- Com o advento da República, o Brasil ingressou na segunda época
constitucional de sua história. Mudou-se o eixo dos valores e
princípios de organização formal do poder;
- Os novos influxos constitucionais deslocavam o Brasil
constitucional da Europa para os Estados Unidos, das Constituições
francesas para a Constituição norte-americana, de Montesquieu para
Jefferson e Washington, da Assembleia Nacional para a Constituinte
de Filadélfia e depois para a Suprema Corte de Marshall, e do
pseudoparlamentarismo inglês para o presidencialismo americano.
- Na sociedade o trabalho livre do imigrante, nomeadamente o italiano
das lavouras de café, substituiu o braço servil do africano –
prolongamento humano da era colonial nas instituições imperiais
extintas em 1889.
- Converteu-se com a Constituição de 24 de fevereiro de 1891 num Estado
que possuía a plenitude formal das instituições liberais, em alguns
aspectos deveras relevantes, trasladadas literalmente da Constituição
americana, debaixo da influência de Rui Barbosa, um jurista
confessadamente admirador da organização política dos Estados
Unidos.
3ª. O constitucionalismo do Estado social (o advento da influência das
Constituições de Weimar e Bonn)
● Período da Segunda República (1934-1937); a da Terceira República –
promulgada em 18 de setembro de 1946, e que regeu o Brasil até 9 de
abril de 1964; e a recém-promulgada Constituição de 5 de outubro de
1988.
● Os fatos mais importantes:
- A efêmera Segunda República (1934-1937), estreada com a Constituição
de 16 de julho de 1934 e que não passou de um período agônico e
transitório de reconstitucionalização do País, feito em bases precárias,
debaixo de uma tempestade ideológica e logo tolhida pelo golpe de
Estado de 10 de novembro de 1937; o “curto período” – Vargas assim o
denominou – da ditadura unipessoal do Estado Novo, regime de governo
em que nem mesmo a Carta outorgada, de cunho extremamente
autoritário, foi cumprida pelos titulares do poder;
- O golpe de Estado de 29 de outubro de 1945, que introduziu outra
fase de restauração constitucional do sistema representativo, por
obra de uma Assembleia Constituinte, eleita em 2 de dezembro do
mesmo ano e autora de uma nova Constituição – a da Terceira
República – promulgada em 18 de setembro de 1946, e que regeu
o Brasil até 9 de abril de 1964, ocasião em que principiam os Atos
Institucionais da chamada “revolução” de 1964 dos militares.
- Em 1934, 1946 e 1988, em todas essas três Constituições domina
o ânimo do constituinte uma vocação política, típica de todo esse
período constitucional, de disciplinar no texto fundamental aquela
categoria de direitos que assinalam o primado da Sociedade
sobre o Estado e o indivíduo ou que fazem do homem o
destinatário da norma constitucional.
- Mas o homem-pessoa, com a plenitude-de suas expectativas de
proteção social e jurídica, isto é, o homem reconciliado com o
Estado, cujo modelo básico deixava de ser a instituição
abstencionista do século XIX, refratária a toda intervenção e
militância na esfera dos interesses básicos, pertinentes às
relações do capital com o trabalho.
A PRÉ-HISTÓRIA CONSTITUCIONAL
☻ A experiência política
BRASILEIRA
e constitucional do Brasil, da
independência até 1988, é a melancólica história do
desencontro de um país com sua gente e com seu destino.
Quase dois séculos de ilegitimidade renitente do poder, de
falta de efetividade das múltiplas Constituições e de uma
infindável sucessão de violações da legalidade
constitucional. Um acúmulo de gerações perdidas.
● A ilegitimidade ancestral materializou-se na dominação de uma elite
de visão estreita, patrimonialista, que jamais teve um projeto de país
para toda a gente.

● A falta de efetividade das sucessivas Constituições brasileiras


decorreu do não reconhecimento de força normativa aos seus textos e
da falta de vontade política de lhes dar aplicabilidade direta e imediata.

● O desrespeito à legalidade constitucional acompanhou a evolução


política brasileira como uma maldição, desde que D. Pedro I dissolveu
a primeira Assembleia Constituinte.

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