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ENTREVISTA COM O PACIENTE

PSICÓTICO
Fernanda Soares
Liga Acadêmica de Psiquiatria - UFPel
PACIENTE PSICÓTICO AGUDO

Distúrbios genéricos no PENSAMENTO, AFETO e


COMPORTAMENTO.
Determinantes
• Distúrbios neurobiológicos
– Acentuação da consciência
– Intensificação da experiência sensorial normal
– Invasão de modalidades perceptivas e cognitivas

• Determinantes individuais
– Personalidade, história e conflitos neuróticos

• Contexto psicossocial da vida atual


– Determina a apresentação clínica atual
Sintomas
Positivos Negativos
• Alucinações • Distanciamento afetivo
• Delírios • Retração social
• Comportamento bizarro • Empobrecimento de linguagem e do
• Agitação psicomotora pensamento (alogia)
• Ideias bizarras •  fluência verbal
• Neologismos e parafasias •  vontade e hipopragmatismo
• Negligência quanto a si mesmo
• Lentificação e empobrecimento
psicomotor
“Exagero” dos processos
psicológicos normais Maior resistência ao tratamento
+
 Sofrimento

Têm significado! Pior prognóstico
DISTÚRBIOS DO PENSAMENTO E
AFETO
Paciente Maníaco
“Tempestade psíquica”: tempestuoso, selvagem e
errático.

• Conceito psicodinâmico: “é uma defesa contra as


frustrações e contra os desapontamentos
dolorosos da vida”.

• Processo secundário geralmente ainda funciona,


ainda que de forma acelerada e irreal
Na entrevista com o maníaco..
• Fluência intensa de ideias, palavras e
associações tangenciais  sensação de
opressão

• Grandiosidade, humor expansivo e energia


inesgotável  “consome” a todos

• Irritável quando desafiado ou contrariado


Paciente Esquizofrênico
• Incoerente, de difícil compreensão

• Fantasias de fim de mundo  projeção da catástrofe


mental interna

• Ideias delirantes  função narcisista  não tem sucesso


no propósito de acalmar o paciente  ansiedade e
agitação

• As fantasias dão significado para a experiência da psicose.


DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES

• Tem função restauradora  tentativa de reparo psicológico e de explicar o “caos”


que ocorreu.

• Contêm elementos da história do indivíduo (infância – Freud)  não descartar! -


“Qual será seu significado latente?”  ajuda a direcionar psicoterapia após psicose

• Incorporam desejos e preocupações centrais  “estrada real para o inconsciente”

• Projeção do superego  perseguidor observa e critica

• Nos pacientes: Fluidez x Cristalização

• Lembrar que os delírios não são só paranoides! Podem ser hipocondríacos,


niilísticos, grandiosos..
A entrevista com o paciente psicótico é um
DESAFIO.

• “Caos interno”, “tempestade emocional”,


“mundo secreto”...

• Sensibilidade intensa à rejeição  proteção


através do isolamento e retraimento
A RESPOSTA?

EMPATIA!

“O que o paciente está vivenciando?”


“Como ele entende isso?”
“O que isso significa para ele?”
Entrevistador  EGO EXTERNO para o
paciente
• Suporte psicológico, “continente” para sentimentos disruptivos, através de
abordagem calma, comedida e empática.

• Postura ativa para ajudar o paciente a experimentar e expressar seus


sentimentos.

• Se agir de forma empática neutra, como é o costume, o paciente se sentirá


rejeitado.

• O entrevistador deve transmitir seu entendimento de forma mais ativa e


expressar sua própria resposta emocional.

• Fase inicial: contato emocional limitado  aceitar os termos do paciente!


• Cuidar para não se “contaminar” pela ansiedade do
paciente.

• Avaliar potencial para violência ou comportamento


autodestrutivo.

• Quando agitação declinar, explorar evento


precipitador.

• Quando questionado, responder de forma direta,


fornecendo a informação sem outras interpretações. –
Analisar desejos inconscientes
Comportamento Bizarro ou Destrutivo
• Desconcertante para o entrevistador.

• Ajudar a controlar o comportamento, indicar que espera algo diferente  indica


que não está impressionado ou intimidado pelo comportamento.

• Mas, se estiver perturbado, é melhor explorar primeiramente os aspectos hostis ou


provocantes do comportamento do paciente.

• Não ceder a demandas irrealistas.

• O paciente que tiver permissão para continuar com um comportamento destrutivo,


ficará envergonhado e se sentirá culpado quando estiver menos psicótico.

A comunicação de expectativas pelo profissional tem grande


impacto!
Dificuldade na Organização dos Pensamentos
• Pode ser usada defensivamente para evitar comunicação com outras pessoas

• Pode causar confusão ou irritação no entrevistador.

• A desorganização testa o interesse e a atenção do entrevistador e serve para bloquear


uma comunicação efetiva  revelar dificuldade em compreender o paciente.
– Evitar afirmações que tendam a repreender ou culpar o paciente.

• Demonstrar interesse em entender o paciente, em vez de estabelecer um diagnóstico,


julgar ou condenar  auxiliar a definir problemas e em quais questões focar
– Mesmo quando paciente não tiver desorganização grave

• Buscar tópicos que se repitam.


Qualidades e Áreas de Funcionamento
Saudável

• Dar atenção!

• Mudar ênfase da exposição das deficiências


para o apoio.
INTERPRETAÇÃO DOS PADRÕES DEFENSIVOS

• Paciente pode usar termos “de livro”  não


encorajar. Perguntar o motivo!

• Compreensão bem sucedida do entrevistador pode


intensificar medo do paciente de ter sua mente lida
ou perder sua identidade  reconhecer inabilidade
de compreensão!
– “Medo da terapia representar uma ameaça à sua
integridade pessoal, afinal, enquanto ela fosse a
paciente, não poderia manter seus limites pessoais.”
E nos delírios?
• Não debater a respeito da irracionalidade do
delírio.

• Ter curiosidade em relação ao seu conteúdo e


significado para o paciente.

• Cuidar para não sugerir que acredita neles ao


demonstrar interesse verdadeiro.
Delírios Paranoides
• É impossível persuadir o paciente a sair do delírio através da
lógica.

• Perguntar o porquê da perseguição, sem concordar ou desafiar


o delírio  NÃO FAZER AFIRMAÇÃO ENGANOSA PARA
GANHAR A CONFIANÇA MOMENTANEA DO PACIENTE!!
– “Eu sei que você se sente exatamente da forma como descreve e que
está me contando a verdade da forma como a vê; contudo, o
significado que atribui aos seus sentimentos será alvo de um
posterior esclarecimento.”

• O paciente terá ansiedade em convencer o entrevistador da


veracidade da sua história.
Delírios Paranoides
• Quanto mais bizarro o material delirante, mais claro o
entrevistador deve ser ao questionar diretamente a
interpretação do paciente sobre as experiências.

• Entrevistador deve declarar fundamentos lógicos por trás


de sua própria posição → evitar debater com o paciente.
Isso pode envolver desafiar sua grandiosidade.

• O entrevistador pode apontar a discordância dos familiares


do paciente em relação ao seu sistema delirante.
Delírio x Realidade
• Os delírios paranoides costumam ter algo de verdade.
• Não se deve tentar determinar quanto da produção do paciente é
delirante e quanto é realidade. Isso não importa!

“Os aspectos mais importantes do delírio são as preocupações do


pcte sobre o própro delírio, sua certeza irracional de que é
verdadeir e o uso que faz disso para explicar suas frustrações,
desapontamentos e falhas.”

• Ao sugerir que as preocupações com o delírio interferem em uma


vida útil, o entrevistador pode evitar discussões relativas ao grau
de veracidade do delírio.
Ansiedade do Entrevistador
• Não conduzir a entrevista sem presença de atendente ou segurança
caso se sinta apreensivo com o potencial agressivo do paciente.

• O paciente necessita um terapeuta seguro, cuja auto-estima não


será desafiada por suas críticas.

• No caso do paciente paranoide, o entrevistador deve avisar o


paciente que, em algum momento, ele suspeitará do terapeuta, mas
que isso não justifica o fim do relacionamento → é uma indicação
para a exploração, melhor comunicação e compreensão mútua dos
sentimentos dos dois.

• É necessário muita paciência!


Resumindo...
Lembrar sempre da EMPATIA!

O entrevistador terá mais sucesso se perceber o mundo


como ele é aos olhos do paciente e, também, admitir
suas próprias emoções a ele quando necessário.

Lembrar que não é o sistema delirante que necessita de


tratamento, mas a pessoa assustada ou raivosa que o
criou.

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