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DEVEMOS ESCREVER COM...

Antes de uma resposta como “BIC”,


vamos tratar o assunto de um jeito mais em dia com nosso
idioma?

Se ninguém quer mais colocar trema, fica


linguiça, frequente, tranquilo e aguente agora escritos de maneira
mais fácil até de digitar, porque não precisamos mais dos
pinguinhos em cima do U. Só que temos ainda que falar o U
(escrever é uma coisa, falar é outra).

Mas, se o nome é estrangeiro e já traz da origem o U com os


pinguinhos, temos que conservar no português o trema, mesmo
nos derivados. Assim é com Müller e mülleriano, o que –
convenhamos – é raro. E a conclusão pode ser melhor do que a
encomenda: praticamente não temos mais trema!
E aqueles ditongos que tinham acentos como ÉI, ÉU e ÓI?

Um pouquinho de modificação, porque eles oscilam em Portugal,


mas apenas em uma posição. Qual?

Bem, vejamos:

Numerando as vogais de trás para frente:

Corrói
3 21

Paranoico
5 4 32 1

É fácl notar que o acento vale quando a pronúncia for aberta (como
O “O” de “moda”), só na vogal 2; quando estiver na 3, não acentua.
Assim é fácil aprender.
Daí,
Continuam com acento gráfico:
Véu, chapéu, fiéis, herói.

Não têm mais acento gráfico:


Ideia, heroico, paranoico,
assembleia.
Esbarrando com o que parece mudar , ms nem tanto,
constam agora oficialmente do alfabeto português
as letras K, W e Y.

Sabem como usá-las?


Em qualquer nome estrangeiro,
nos seus derivados e
nos símbolos e siglas internacionais (símbolos
químicos, medidas):
Darwin, darwinismo,
Yd (símbolo de jarda),
Byron, byroniano,
K (símbolo do potássio),
Kuwait, kuwaitiano.
Issa acho que até já era assim.
O hífen – ah, esse não cai.

E muda um pouco.

Mas não completamente.

A regra geral é
usar o tracinho quando promove
união de sentido, ligação forte
(o sentido com o hífen também é diferente
do sentido sem o hífen):

Água marinha é diferente de


Água-marinha.
O que muda, então, com o hífen?

Ele surge para separar


Arqui-inimigos
E
Pedir que o prefixo se separe em
Micro-ondas

Com um pouco de atenção, pode-se ver


que, em alguns prefixos em que
o primeiro elemento termina com a
mesma vogal com que o segundo elemento começa,
há hífen, agora.

Mas, nem sempre…


Porque há casos em que o uso já consagrou como muito
forte a união sem hífen (uma palavra): cooperar, coordenação.
É bom ter uma tabelinha de prefixos, para não haver
confusão.

Umas poucas exceções:

Os que terminam em R sempre levarão hífen diante de


H e R:
Super-homem, inter-racial.
Mas não com outras letras:
Superabundante, interestelar.

Ah, e se outros prefixos estiverem diante de um


segundo elemento iniciado com R ou S, na maioria dos
casos dobram o R e não usam mais hífen:
Contrarregra, antissemita
Se vogais são diferentes, não há mais hífen.

Então,

Autoescola
e
Autoajuda

Agora não isolam o “auto”.

Mas, na contramão (que nunca teve hífen), pode vir um paraquedista


trazendo um paralama, um
parachoque e um parabrisa - todos sem tracinho (e o “para”
sem acento gráfico).

Joguei tudo no porta-malas pra vender no


ferro-velho. O paraquedista com cara de
pão de mel ficou nervoso. Só acalmou quando
o banhei com água-de-colônia numa
banheira de hidromassagem.
E agora?
Um dicionário vai tirar as dúvidas.

Porque alguns nomes, mesmo designando as mesmas coisas,


Podem receber hífen ou não:

Bem-me-quer é uma flor


Que também se chama malmequer.

O uso é a regra que determina assim.

Vale o que está no Vocabulário


Oficial da Língua Portuguesa (VOLP)
Ele terá versão eletrônica na Internet,
No “site” da Academia Brasileira de Letras (www.academia.org.br)
As cores apelaram com um papo estranho sobre
estarem sofrendo discriminações sexuais e
conseguiram na justiça, o direito de gozarem
com o tracinho. Ficou tudo rosa-choque,
vermelho-acobreado, lilás-médio...

As donas de casa quando souberam da vitória da


comunidade GLS, criaram redes de novenas
funcionando por 24hs, para que a feira não se
unisse sem cerimônia – expressão da ausência -
aos dias da semana. Mas,
condenaram a sem-cerimônia – algo substantivo,
num sentido totalmente íntimo -
da medida. Foram atendidas
pelo próprio arcanjo Gabriel que fez uma aparição
numa das reuniões, dando ordens ao estilo Tropa de Elite:
- Deixe o traço!
Deu certo. As irmãs segunda-feira, terça-feira e as demais
mantiveram o hífen.
Os médicos e militares fizeram um lobby, gastaram
uma nota preta pra manter o tracinho. Alegaram que
sairia mais caro mudar os receituários e refazer as fardas:
médico-cirurgião, tenente-coronel, capitão-do-mar.

Uma pequena pausa para a cultura, ocasionada pelo


trauma de ler muitas pérolas do Enem e
Vestibular. Só por precaução...

Almirante Barroso não tem tracinho. Assim era chamado


Francisco Manuel Barroso da Silva. Sim, o cara era
militar da Marinha Imperial. Foi ele quem conduziu a
Armada Brasileira à vitória na Batalha do Riachuelo,
durante a Guerra da Tríplice Aliança.

No centro do Rio de Janeiro há uma avenida com seu nome


(Av. Almirante Barroso). Na praia do Flamengo, há um
monumento, obra do escultor Correia Lima, em cuja
base se encontram os seus restos mortais. Fim da pausa!
Acho que algumas regras pra este tracinho, até que simpático,
foram criadas por algum carioca apaixonado. Será que
Thiago Velloso e André Delacerda tiveram alguma participação
nas novas regras?

O R no início das palavras vira RR na boca do carioca.


Não pronunciamos R (como em papiro, aresta e arara),
pronunciamos RR (como em ferro, arraso e arremate).
Falamos rroldana e não roldana, rrodopio e não rodopio,
rrebola e não rebola.

Pois bem, numa das tombada do hífen, o R dobra e


deixa algumas palavras com jeito carioca de ser:
autorretrato, antirreligioso, suprarrenal. Será fácil lembrar
desta regra. Se a palavra antes do tracinho (nem vou falar em
prefixo) terminar com vogal e a palavra seguinte começar com
R é só lembrar dos simpáticos e adoráveis cariocas.
Mais uma coisinha: a regra também vale para o S. Fico até
sem graça de comentar isso, pois todos sabemos que o S é
um invejoso que gosta de imitar o R em tudo. Ante-sala vira
antessala, extra-seco vira extrasseco e por aí vai...

Quem segurou mesmo o hífen, sem deixá-lo cair, foram os


sufixos terminados em R, que acompanham outra palavra
iniciada com R, como em inter-regional e hiper-realista.
Estes tracinhos continuarão a infernizar os cariocas.

O pré-natal esteve tão feliz, rindo o tempo todo


com o pós-parto de uma camela pré-histórica que
ninguém teve coragem de tocar no tracinho deles.

Já o pró - um chato por natureza, foi completamente


ignorado. Só assim manteve o tracinho:
pró-labore, pró-desmatamento. E sem, aquém, além e recém
Nos compostos com forte união, mantém o tracinho:
Os sem-terra (substantivamente) irão além-mar, porque
no aquém-Atlântico só há recém-expatriados.
A vogal e o h não chegaram a nenhum acordo, mesmo com
anos de terapia. Permanecem de cara virada um pro outro:
anti-higiênico, anti-herói, anti-horário. Estou
começando a achar que as vogais são semi-hostis
com as consoantes...

O interessante é que as vogais quando estão próximas


umas das outras, viram, então, arqui-inimigas. Fizeram
lipo juntas e conquistaram uma silhueta antiinflacionária de
Micro-organismo. Apareceram tracinhos, notaram?
Vogal igual-vogal igual (com as novas regras ficam separadinhas):
Micro-ondas, anti-ibérico, anti-inflamatório
Vogal12 (sem tracinho): intraescolar

Uma inovação interessante:


Podem esquecer o mixto , ele foi sumariamente
despedido. Puseram o misto no lugar dele (isso já foi bem antes
da nova regra – diga-se!).
Fiquei bolada com essa exceção: o prefixo co não vai usar
hífen. Seguiu os exemplos de cooperação e
coordenado, que sempre estiveram juntas.
Não haverá palavra que use co com tracinho.

Quem diria que o créu suplantaria a ideia!? Teremos que


nos acostumar com as ideias heroicas sem o acento agudo.
Rasparam também o acento da pobre coitada da jiboia.

O acento do créu continua porque tem o U logo depois.


Pelo menos a assembleia perdeu alguma coisa...

Resta o consolo em saber que continuamos vivendo


tendo um belíssimo céu como chapéu, e o herói continuará
com seus fiéis admiradores.
Crônica “Como será daqui pra frente?”
De: Elida Kronig

Aplicada pelas professoras Maria Helena e


Cecília com sucesso aos alunos das turmas do
- Centro Comunitário Meninos de Deus
- Jardim Escola João Vicente
- Colégio Bom Pastor
- Colégio Prof. Francisco Barros
- Centro Educacional Bom Saber
e tem sido um valioso auxiliar nas palestras e
seminários de atualização da Língua Portuguesa.
Revisão pelo professor Claudionor Aparecido
Ritondale, do Colégio Global
Esta foi a maneira que encontramos de homenagear
a escritora Elida Kronig, por ter tornado a matéria
mais fácil para nós.

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