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PEQUENA CONTRIBUIÇÃO À

HISTÓRIA DOS JOGOS E


BRINCADEIRAS
ARIÈS, P
Importância do livro
 Ariès foi responsável pela obra que marcou
no rumo dos estudos sobre a infância
“História social da criança e da família”, obra
em que o autor nos aponta para o fato de que
a infância é uma construção histórica que
emerge em um dado momento e em um dado
grupo social, nessa perspectiva o autor
levanta a reflexão em torno da questão que
aponta para a existência de várias infâncias e
não uma única infância para todos os grupos
sociais em todos os períodos.
Feitos descritos por Heroard
 Graças ao diário do médico Heroard, podemos imaginar
como era a vida de uma criança no inicio do século XVII,
como eram suas brincadeiras, e a que etapas de seu
desenvolvimento físico e mental cada uma delas
correspondia.
 
 Embora essa criança fosse um Delfim de França, o futuro
Luis XIII, seu caso permanece típico, pois na corte de
Henrique IV as crianças reais, legitimas ou bastardas,
recebiam o mesmo tratamento que todas as outras
crianças nobres, não existindo ainda uma diferença
absoluta entre os palácios reais e os castelos fidalgos.
 Luis XIII nasceu a 27 de setembro de 1601. Seu
médico Heroard deixou-nos um registro minucioso
de todos os seus feitos e gestos.

 Com um ano e cinco meses, Heroard registra que o


menino "toca violino e canta ao mesmo tempo".
Antes, ele se contentava com os brinquedos
habituais dos pequeninos, como o cavalo de pau, o
cata- vento ou o pião.

 Com um ano e meio, porém, já lhe colocam um


violino nas mãos, percebe-se a importância do
canto e da música nessa época.
 
 Com um ano e dez meses começam a lhe ensinar
a falar: “Fazem-no pronunciar as silabas
separadamente, antes de dizer as palavras”. 

 O menino tem apenas dois anos, e eis que,


"levado ao gabinete do Rei, dança ao som do
violino todos os tipos de danças". Mais uma vez
observamos a precocidade da música e da dança
na educação dos meninos dessa época. 
 
 
 Nessa época, o Delfim começa a aprender a ler.
Aos três anos e cinco meses, "ele gosta de um
livro com as figuras da Bíblia: sua ama lhe nomeia
as letras e ele as conhece todas".Ensinam-lhe a
seguir as regras de etiqueta e de moralidade que
as crianças tinham de aprender de cor.

 A partir dos quatro anos, começa a aprender a


escrever: seu mestre é um clérigo da capela do
castelo chamado Dumont.
Cada vez mais, o Delfim se mistura com
os adultos e assiste a seus espetáculos.

Aos seis anos, joga o jogo dos ofícios e


brinca de mímica, jogos de salão que
consistiam em adivinhar as profissões e
as histórias que eram representadas por
mímica. Essas brincadeiras também
eram brincadeiras de adolescentes e de
adultos.
 As coisas mudam quando ele se aproxima de seu
sétimo aniversário: abandona o traje da infância e sua
educação é entregue então aos cuidados dos homens;

 Tenta-se então fazê-lo abandonar os brinquedos da


primeira infância, essencialmente as brincadeiras de
bonecas: "Não deveis mais brincar com esses
brinquedinhos (os brinquedos alemães), nem brincar
de carreteiro: agora sois um menino grande, não sois
mais criança". 

 Ele começa a aprender a montar a cavalo, a atirar e a


caçar. Joga jogos de azar: "Ele participou de uma rifa e
ganhou uma turqueza".  
Ele agora tem mais de nove anos: "Após a ceia,
foi aos aposentos da Rainha, brincou de cabra-
cega e fez com que a Rainha, as princesas e as
damas brincassem também". 

 Com um pouco mais de 13 anos, ainda brinca de


esconder, após essa idade: a mudança se faz
insensivelmente nessa longa sequência de
divertimentos que a criança toma emprestada dos
adultos ou divide com eles.
Observações a respeito da infância
 A criança na Idade Média (séculos XIV, XV), era
considerara um adulto em miniatura, período
em que a criança era ignorada e vivia à margem
da sociedade, ou seja, não tinham lugar nem
vez e muitas foram às atrocidades cometidas
contra a infância neste período. Seu universo
era restrito ao mundo adulto e lhes era negado
o direito de ser criança, sendo muitas vezes
utilizadas como forma de diversão, como se
fossem bichinhos de estimação, fato esse
denominado por Ariès de ‘paparicação’.
 De acordo com Ariès, na Idade Média
denominava-se infância o período
correspondente entre o nascimento até aos
sete anos, “[...] a primeira idade é a infância
que planta os dentes, essa idade começa
quando a criança nasce e dura até os sete
anos, e nessa idade o que nasce é chamado
de enfant (criança), que quer dizer não
falante [...]” (ARIÈS, 2006, p. 6).
 Qual a importância que os jogos, brincadeiras
e divertimentos tinham nas sociedades
antigas?

 Estreitar os laços entre a comunidade


 Os meninos brincavam com as meninas. Dentro dos
limites da primeira infância, a discriminação moderna
entre meninas e meninos era menos nítida: ambos os
sexos usavam o mesmo traje, o mesmo vestido.
 A infância tornava-se o repositório dos costumes
abandonados pelos adultos. 
 Por volta de 1600, a especialização das brincadeiras
atingia apenas a primeira infância, depois dos três ou
quatro anos, ela se atenuava e desaparecia.
 Em geral eram jogos de cavalaria, como a caça, mas
havia também jogos populares.
 As crianças praticavam a música muito cedo.A
mesma precocidade é observada na prática da
dança.
 De um lado, os jogos eram todos admitidos
sem reservas nem discriminação pela grande
maioria. Por outro lado, e ao mesmo tempo,
uma minoria poderosa e cuIta de moralistas
rigorosos os condenava quase todos de forma
igualmente absoluta, e denunciava sua
imoralidade, sem admitir praticamente
nenhuma exceção.
 A indiferença moral da maioria e a intolerância

de uma elite educadora coexistiram durante


muito tempo.
 Temos inúmeras cenas de crianças jogando
cartas, dados, gamão etc., que a arte
conservou até nossos dias.
Ojogo sob todas as suas formas -
o esporte, o jogo de salão, o jogo
de azar - ocupava um lugar
importantíssimo, que se perdeu
em nossas sociedades técnicas,
mas que ainda hoje encontramos
nas sociedades primitivas ou
arcaicas : quadras de péla, as
salas de bilhar e as pistas de
boliche.
 Os humanistas do Renascimento, já haviam
percebido as possibilidades educativas dos jogos.
Mas foram os colégios jesuítas que impuseram
pouco a pouco às pessoas de bem e amantes da
ordem uma tolerância com relação aos jogos.

 Assim disciplinados, os divertimentos


reconhecidos como bons foram admitidos e
recomendados, e considerados a partir de então
como meios de educação tão estimáveis quanto
os estudos.
 Admitiu-se cada vez mais a necessidade dos exercícios
físicos.

 No fim do século XVIII, os jogos de exercícios receberam


uma outra justificativa, desta vez patriótica: eles
preparavam os rapazes para a guerra. Compreenderam-
se então os benefícios que a educação física podia trazer
a instrução militar. Nessa época, que assistiu ao
nascimento dos nacionalismos modernos, o treinamento
do soldado tornou-se uma técnica quase cientifica.
Estabeleceu-se um parentesco entre os jogos educativos
dos jesuítas, a ginástica dos médicos, o treinamento do
soldado e as necessidades do patriotismo.
 No fim da Idade Média, os jogos de desafio
estavam em grande moda.

 Esse tipo de brincadeira se originou nos costumes


da corte. Em seguida passou para a canção
popular e para as brincadeiras infantis. Mas os
adultos e os jovens que já haviam deixado a
infância não abandonavam inteiramente esses
jogos.
Conclusão
 Partimos de um estado social em que os mesmos jogos
e brincadeiras eram comuns a todas as idades e a todas
as classes. O fenômeno que se deve sublinhar é o
abandono desses jogos pelos adultos das classes
sociais superiores, e, simultaneamente, sua
sobrevivência entre o povo e as crianças dessas classes
dominantes.

 É notável que a antiga comunidade dos jogos se tenha


rompido ao mesmo tempo entre as crianças e os adultos
e entre o povo e a burguesia. Essa coincidência nos
permite entrever desde já uma relação entre o
sentimento da infância e o sentimento de classe.

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