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Relações sintácticas na expressividade da frase:

Concordância nominal e verbal,


Regência verbal

Por: António Tuzine


Tópicos

Concordância nominal, com referência a


sistemáticas construções erróneas

Concordância verbal, com referência a


sistemáticas construções erróneas

Regência Verbal, com referência a sistemáticas


construções erróneas
A boa formação da frase depende da aplicação de
regras sintácticas, entre as quais sobressaem as
regras de concordância.

Concordância é a correspondência de flexão entre


dois termos, podendo ser nominal ou verbal.

“Existe concordância entre duas expressões


linguísticas quando elas possuem determinadas
propriedades em comum e essa coincidência de
propriedades é uma condição necessária para a
gramaticalidade do discurso.” (Peres & Móia,
1995:443).
CONCORDÂNCIA NOMINAL

Em Português, a concordância “nominal” diz


respeito à variação em género (masculino e
feminino), número (singular e plural) e pessoa
(1ª, 2ª e 3ª).

Nos SNs, estabelece-se concordância do nome,


em género e número, com os artigos, numerais,
pronomes variáveis e adjectivos. Exemplos:

- Nos meus tempos livres, gosto de escutar


música.
- As pessoas de lá podem ser feiticeiras.
São mais frequentes os casos de falta de
concordância do adjectivo com o nome.
Exemplo:
- Fez a quarta classe antigo. (=antiga)

Ou com o nome predicativo do sujeito.


Exemplos:
- A barriga dela já está cheio. (=cheia)

- A física está muito puxado para mim.


(=puxada)
CONCORDÂNCIA VERBAL

A construção de uma frase gramaticalmente


correcta depende da aplicação de regras
sintácticas que tornem solidárias as relações
entre o verbo e o SN/Sujeito.

Essa solidariedade traduz-se na concordância


em que a forma verbal varia para se conformar
ao número (singular ou plural) e à pessoa (1ª,
2ª ou 3ª) do sujeito. Exemplo:

-Eu sei que ele está vivo.


São frequentes os casos de ausência de
concordância com o sujeito, na 1ª pessoa, em que
o verbo está flexionado na 3ª pessoa. Exemplo:

- Como eu trabalha, não tem tempo. (= trabalho...


tenho)

No que diz respeito à concordância em número, os


casos mais frequentes envolvem a ausência de
concordância com o sujeito, no plural, em que o
verbo está flexionado no singular.

Estes casos tanto ocorrem quando o sujeito


precede o verbo. Exemplo:
- Ultimamente os casamentos não dura. (=duram)
Como quando está posposto à forma verbal.
Exemplo:

Foi quando começou os problemas. (= começaram)

Relativamente aos sujeitos que envolvem nomes


colectivos, nomeadamente gente, registam-se
desvios na concordância da forma verbal em
número e/ou pessoa, com os referidos sujeitos, que
correspondem à 3ª pessoa do singular. Exemplos:

A gente vê televisão e queremos imitar. (= quer)

Muita gente já deixaram as igrejas e foram para ali.


(= deixou ... foi)
Por fim, estão os casos de ‘sujeitos nulos’, que
incluem três subtipos, nomeadamente casos em que o
sujeito não está lexicalmente realizado (exemplo (9a)),
um caso de inversão do sujeito (exemplo (9b)) e uma
frase em que ocorre um verbo impessoals (exemplo
(9c)).

a. Os rapazes também imitam esta tendência de [ − ]


se relacionar com mulheres mais velhas. (PE:
relacionarem)

b. [ − ] existiam [uma outra família] que se opunha a


esse relacionamento. (PE: existia)

c. Antigamente [ − ] haviam requisitos para que o


namoro fosse levado a cabo. (PE: havia)
SITUAÇÕES ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA

I - Quando o sujeito é formado por uma expressão partitiva


(parte de, uma porção de, metade de, a maioria de, a maior
parte de, grande parte de...) seguida de um nome/substantivo
ou pronome no plural,

 o verbo deve ficar no singular (no Português europeu).


Exemplos:
- Grande parte dos deputados votou a favor da conta geral do
Estado.
- A maioria de nós depende do salário.

 o verbo pode ficar no singular ou no plural (no Português


brasileiro).
Exemplos:
- Grande parte dos deputados votou/votaram a favor da
conta geral do Estado.
- A maioria de nós depende/dependemos do salário.
Semelhante situação acontece aos
nomes/substantivos colectivos, quando
especificados:

Exemplo:
Um bando de pássaros destruiu as culturas de
milho. (=PE)

Exemplo:
Um bando de pássaros destruiu/destruíram as
culturas de milho. (=PB)
II. Quando o sujeito é formado por uma expressão que
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos
de, perto de...) seguida de numeral e nome/substantivo,

 o verbo concorda com o nome/substantivo.


Exemplos:

- Cerca de cem atletas correram pela Paz na zona norte.

- Perto de duzentos colegas estiveram na festa.

- Mais de um estudante faltou ao teste

- Menos de metade da turma é formada por rapazes.


III. Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou indefinido plural
(quais, quantos, alguns, poucos, muitos, quaisquer, vários) seguido
por "de nós" ou "de vós",

 o verbo pode concordar com o primeiro pronome (na 3ª.pessoa do


plural) ou com o pronome pessoal. Exemplos:

- Quais de nós são /somos capazes?


- Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
- Vários de nós propusemos/propuseram sugestões inovadoras.

IV. Quando a expressão que indica percentagem não é seguida de


nome/substantivo,

 o verbo deve concordar com o número. Exemplos:


- 25% querem a mudança.
- 1% conhece o assunto.

Nota: comentar o carácter de inclusão ou exclusão do emissor.


"Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fizemos“ (inclusão);
"Alguns de nós sabiam de tudo e nada fizeram.“ (exclusão).
V - Quando o sujeito é formado por uma expressão que indica
percentagem seguida de nome/substantivo,

 o verbo deve concordar com o nome/substantivo. Exemplos:


- 25% do orçamento do país deve destinar-se à Educação.
- 55% dos entrevistados não aprovam o novo salário mínimo
- 1% do eleitorado aceita a mudança.
- 1% dos alunos faltaram à prova.

VI - Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver no singular,

 o verbo ficará no singular. Exemplo:


- Qual de nós é capaz?
- Algum de vós fez isso?
VII - Quando o sujeito é o pronome relativo "que", a
concordância em número e pessoa é feita com o
antecedente do pronome. Exemplos:

- Fui eu que paguei a conta.


- Fomos nós que pintámos o muro.
- És tu que me fazes ver o sentido da vida.
- Ainda existem mulheres que ficam vermelhas na
presença de um homem.

VIII - Com a expressão "um/a dos/as que",

 o verbo deve assumir a forma plural. Exemplo:


- Ajax foi uma das equipas que mais emoção trouxeram
à Liga dos campões .
- Se és um dos que admiram o escritor, vai comprar a
sua obra.
Regencia Verbal/ Selecção Categorial
Propriedades de “selecção categorial” dos items lexicais,
isto é, aqueles em que, relativamente ao PE, ou (i) é
alterada a categoria sintáctica dos complementos (vide
exemplos (15)), ou (ii) não é escolhida a mesma
preposição (vide exemplos (16)). Exemplos:
(15) a. Eu tinha de ir participar um curso na Suécia. (PE =
num curso)
b. Ensina a criança respeitar aos pais. (PE = os pais)
c. Não tem amor os filhos. (PE=aos filhos)
(16) a. Tem que passar da cidade (PE= na cidade)
b. Fico admirado naquilo que estou a ver. (PE = com
aquilo)
Neste sub-grupo de “erros”, salienta-se particularmente a
categoria verbo, ainda que ocorram alguns casos em que são
alteradas as propriedades de selecção categorial dos nomes
(vide (15c)) e dos adjectivos (vide (16b)).

Os casos do tipo (i) - que se apresentam como mais frequentes


no corpus - relacionados com a mudança categorial dos
complementos dos verbos, as alterações mais relevantes dizem
respeito à adopção do padrão [V SN] para verbos que no PE
regem complementos preposicionados (= [V SP]) (vide
exemplos (15a) e (17)), e à regência por preposição de orações
completivas que no PE são regidas por verbos (vide exemplos
(18)). Exemplos:
(17) a. Há filhos que batem os pais. (MF/13/SUR) (PE = nos
pais)
b. Não tive dinheiro para ir dar o professor. (PC/5/IDA) (PE =
ao professor)
(18) a. Sente de que (…) está fora da educação… (MX/1/MAT)
(PE = bastante que)
b. Exigia com que o aluno fizesse os apontamentos (PC/2/CEL)
No caso das orações completivas, a propriedade mais
saliente e estável diz respeito à regência de orações cujo
verbo se encontra no modo indicativo pela preposição de
(cf. exemplo (18a)).

Os casos do tipo (ii), exemplificados em (16), de verbos


com regência preposicional, em que é seleccionada uma
preposição diferente da que é requerida pela norma
europeia, ainda que muito numerosos, apresentam uma
selecção
grande dispersão. selecção

Os complementos verbais regidos no PE pela preposição


de aparecem no corpus-amostragem regidos pelas
preposições com, a e em. Exemplos:
(19) a. Foi na altura que eu separei com os meus pais.
(MX/1/MAT) (PE = separei dos)
b. Os alunos também abusam a eles. (AM/14/LUR) (PE =
abusam deles)
Referências

Cunha, C. & Cintra, L.F. (2001). Nova gramática do Português


Contemporâneo.3ª.ed.rev. RJ: Nova Fronteira.

Gonçalves, P. (2007). Pesquisa linguística e ensino do Português


L2: Potencialidades das taxonomias de erros. In: Revista de Estudos
Linguísticos da Universidade do Porto - Vol. 2, pp. 61-76.

Gonçalves, P; Moreno, A; Tuzine, A. (1998). Estruturas Gramaticais


do Português: Problemas e Exercícios. In: C. Stroud; P. Gonçalves
(Orgs.). Panorama do Português Oral de Maputo - Vol. III: Estruturas
Gramaticais do Português Problemas e Aplicações. Maputo: Instituto
Nacional do Desenvolvimento da Educação, 36-43.

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