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ESCRAVOS E

LIBERTOS NO
BRASIL COLONIAL
NEGROS E MULATOS LIVRES NA ECONOMIA DA AMÉRICA
PORTUGUESA
 À conduta comercial e social eram estabelecidas por uma minoria branca
 A pessoa de cor enfrentava o problema básico de como conseguir um grau maior
de integração neste que era, econômica e socialmente, um “mundo branco”
3 premissas pela participação igualitária e
pela integração:
 A primeira era que o negro ou mulato nascido livre tinha mais oportunidades que seu coetâneo nascido
escravo e que mais tarde ganhou ou comprou a liberdade. Isso se devia primariamente a razões psicológicas; a
instituição da escravatura sufocava a iniciativa, o potencial de tomar decisões, a oportunidade de demonstrar
liderança e a capacidade de autocontrole.
 “Uma segunda premissa era que, apesar do fato de serem iguais aos olhos da lei em virtude das cartas de
alforria, os escravos negros nascidos no Brasil tinham vantagens visíveis, quando libertados, sobre os negros
nascidos na África e transportados para a América portuguesa e para a escravidão e que só mais tarde foram
alforriados
 A terceira premissa era que, em termos gerais, um mulato ou uma pessoa de pele não muito escura tinha mais
possibilidade de ser assimilado pelo “mundo branco” do que um negro
3 possibilidades de ganhar a vida :

 A primeira era tirar a máxima vantagem de qualquer oportunidade comercial e


obter a independência financeira dentro da sociedade competitiva
 A segunda era fazer algumas concessões, permitindo-se a reabsorção no sistema
escravocrata como feitor ou trabalhador assalariado
 A terceira era rejeitar o desafio de enfrentar a pesadíssima desvantagem do
indivíduo de cor livre e descair para os biscates e a vagabundagem
Impedimentos comerciais:
 O papel do negro e do mulato livres na economia e no comercio do Brasil colonial era, até certo
ponto, restrito pela antipatia da população branca por indivíduos de ascendência africana que
buscavam participar do comercio, tornando-se, assim, concorrentes e rivais
 As medidas tributarias eram mais estritamente cobradas dos lojistas e comerciantes de cor que de
seus colegas brancos. As penas eram impostas com mais rigor. As tabernas e lojas pertencentes a
indivíduos de ascendência africana eram as primeiras a serem vasculhadas atrás da guarda ilegal e
distribuição de armas, pólvora e munição.
 A viagem de um comerciante mulato ou negro era vista como suspeita
 À posse de escravos por um escravo ou por uma pessoa de cor livre era vista com desconfiança
Formas de ganhar a vida:
 O comercio e a agricultura eram os dois campos em que o indivíduo de cor livre tinha mais oportunidades de ganhar a vida regularmente e até
obter certa prosperidade.
 A falta de capital impedia efetivamente que as pessoas de cor se envolvessem empreendimentos comerciais maiores, como os negócios de
importação e exportação com Portugal ou mesmo o comercio entre as capitanias. A posse de uma mercearia, que em geral fazia as vezes de
taberna, era o máximo a que uma pessoa livre de cor podia aspirar
 Na época, como hoje, essas vendas ofereciam de tudo
 essas vendas eram alvo de suspeitas das autoridades
 Nas áreas de mineração, elas serviam de ponto de encontro para escravos que voltavam das atividades extrativas
 A atividade clandestina incluía oferecer abrigo a escravos fugidos, promover a prostituição e fornecer ilegalmente armas e alimentos aos
quilombos
 Para cada pessoa de cor livre que conquistava a estabilidade financeira e a independência com o pequeno comercio, havia centenas que mal
conseguiam ganhar a vida como tabuleiras ou como intermediários na venda de alimentos: ou seja, ocupações igualmente práticas por escravos
 Os libertos de ascendência africana eram importantes como intermediários no mercado negro de alimentos, que era umas características muito
visível do Brasil colonial
 Em Salvador no final do século XVIII, a venda de carne e peixe era em boa parte dominada por estes intermediários. Mulheres de cor livres
mantinham ligações com soldados ou oficiais subalternos que simplesmente requisitavam a pesca com o pretexto de que era para seus
superiores, mas na verdade entregavam peixe para suas amantes venderem
 Praticas semelhantes estendiam-se à produção agrícola. Grupos de escravos e pessoas de cor livres reuniam-se fora das cidades e vilas para
comprar farinha, feijão, frutas, hortaliças e aves diretamente do pequeno produtor, para revende-los
Artesão:

 O negro ou mulato livre que fosse artesão especializado tinha um meio de vida
garantido, embora na maior parte pouco lucrativo.
 Para abrir a própria oficina, ´precisava obter uma licença da Câmara Municipal.
Esta só era concedida depois da avaliação dos juízes da guilda. A exigência básica
para todos os candidatos no relatório apresentado pelo “mestre”.
 Os juízes então recomendavam à Câmara Municipal que a licença fosse
concedida ou negada.
 Os artesões qualificados tinham de renovar a licença todo ano, obedecer às
normas de emprego e seguir os preços determinados pelo regimento da guilda,
modificados a cada ano
Barbeiro e Parteiras

 As profissões de “barbeiro” e parteira ambas eram praticamente monopolizadas por indivíduos de ascendência africana.
 Numa tentativa de reduzir o grande número de médicos charlatães que a lei exigiu que todos os “barbeiros” e parteiras
tirassem uma licença para praticar abertamente a profissão. Esta só era concedida a pedido e depois do pagamento de
uma taxa a uma banca examinadora composta de um comissário local, nomeado pelo cirurgião-mor do reino, e dois
médicos qualificados
 Embora a arte do “barbeiro” fosse igualmente praticada por escravos ou libertos, a da parteira costumava limitar-se às
negras e mulatas livres.
 Uma atividade similar, embora não sujeita a licença, era a das amas-de-leite. O grande número de enjeitados era um
aspecto importante de toda cidade ou vila colonial brasileira. Entre eles havia crianças brancas, assim como mulatas e
negras. Segundo a lei, sua criação era responsabilidade da Câmara Municipal da cidade ou vila; as câmaras contratavam
negras ou mulatas livres como amas-de-leite dessas crianças
 As câmaras costumavam negligenciar a realização desses pagamentos. Era frequente que as mulheres de cor livres,
muitas vezes totalmente dependentes dos pagamentos regulares para se manter, vendessem, negligenciassem ou até
matassem as crianças sob sua guarda
Agricultura:

 À agricultura oferecia limitada oportunidade para que o negro ou mulato livre


fosse seu próprio senhor e conquistasse a estabilidade financeira.
 O problema básico era que, caso o dono da propriedade quisesse obter algum
retorno que valesse a pena, era essencial o trabalho escravo para ajudar na
limpeza do campo, no plantio das sementes e na colheita. Poucos libertos de cor
poderiam comprar um escravo
 No Nordeste do Brasil era pratica comum que o dono de uma fazenda de açúcar
arrendasse parte de sua terra a meeiros, conhecidos como lavradores de cana.
Esses lavradores tinham prestigio, riqueza e alto grau de independência diante do
dono da fazenda
 Mas, praticamente sem exceções, tantos os senhores de engenho quanto os
lavradores de cana eram brancos e de origem portuguesa
Rendeiro

 Havia espaço para o negro ou mulato livre ser rendeiro de uma área modesta. O
acordo entre o rendeiro e o proprietário da fazenda podia assumir muitas formas.
Basicamente, a questão era se o rendeiro estava ou não obrigado, como parte de
seu contrato de arrendamento, a moer cana no engenho do dono da fazenda. No
primeiro caso, o custo do arrendamento podia ser reduzido em troca do
cumprimento do contrato. No segundo, rendeiro estava livre para moer sua cana
no engenho de sua preferência
Fumo:

 O cultivo de fumo também era viável para o negro ou mulato livre de meios
limitados
 Assim como havia lavradores de cana com riqueza e prestigio, o mesmo ocorria
com os donos de sítios ou arrendamentos de fumo (os rendeiros).
 Mas o fumo tinha duas vantagens distintas do açúcar: além de ser plantado em
grande escala, podia ser cultivado em escala modesta com pouca despesa
financeira; e dava flexibilidade. No segundo aspecto, o plantador podia colher
duas ou, possivelmente três safras por ano se quisesse, ou eliminar uma delas e
dedicar sua terra seu trabalho e seu tempo a outros objetivos mais lucrativos.
 Aparentemente havia mais oportunidade econômica para o liberto de cor na região
fumageira que na zona açucareira
Mandioca:

 O cultivo da mandioca era, da mesma forma, uma economia de pequenas


propriedades, mas, para a maioria dos produtores, não permitia um retorno além
da mera subsistência.
 Em sua maior parte, as famílias simplesmente se instalavam como ocupantes
ilegais nas partes mais distantes das plantações de cana
 Em meados do século XIX, as pessoas de cor livres formavam a classe de
pequenos fazendeiros conhecidos como roceiros. Ocupações secundarias, como a
pesca ou a criação de porcos, permitiam uma vida igualmente precária a libertos
de ascendência africana
Mineração:

 A mineração de ouro e lavagem de diamantes não parecem ter atraído muitos


negros e mulatos livres como empresários mineradores
 poucos negros e mulatos livres teriam capital suficiente para comprar e sustentar
escravos em número adequado para garantir o retorno da despesa inicial
 A maioria dos libertos que minerava se uniam à multidão de escravos faisqueiras,
batendo uns poucos grãos de ouro nos arredores das vilas
Empregos no Engenho de Açucar
 Um negro ou mulato livre que fosse inteligente (ladino) o bastante para compreender os processos mecânicos
de moer e preparar a cana de açúcar bruta ou as técnicas de mineração caminhava no sentido de deixar para
trás o “mundo negro" da senzala e pisar na soleira do “mundo branco” da casa-grande. Em boa medida, o grau
de aceitação na comunidade branca dependia de sua competência profissional, que significava, em alguns
casos, a diferença entre lucro e prejuízo para o fazendeiro
 os negros e mulatos livres eram responsáveis pelos vários processos técnicos que geravam o produto final da
cana de açúcar
 O cargo mais importante ocupado pelo negro ou mulato livre era o de “mestre de açúcar”, contratando durante
toda a safra ou pago de acordo com a quantidade de açúcar produzida
 A habilidade do mestre neste importante processo consistia em manter o caldo fervente na temperatura certa
 “O mestre era auxiliado neste trabalho quente e pesado por um liberto de ascendência africana conhecido
como banqueiro e um soto-banqueiro que costumava ser um escravo mulato ou crioulo.
 À plantação de cana oferecia aos negros e mulatos livres emprego e ocupações secundarias, como cuidar do
gado, pescar ou fornecer lenha. Havia vagas para os que fossem hábeis como pedreiros, calafates, azulejistas,
carpinteiros e ferreiros.
Vaqueiros:

 Vaqueiros de ascendência africana, escravos libertos trabalharam juntos de


mestiços e dos famosos gaúchos
 havia lugar para libertos de ascendência africana como feitores ou como vaqueiros
nas fazendas distantes
 Negros e mulatos livre também eram empregados como feitores nas regiões
auríferas e diamantíferas
 Os escravos muitas vezes tinham melhor conhecimento técnico básico que seus
senhores, muitos eram procedentes de regiões auríferas da África ocidental e
trouxeram consigo técnicas como uso de vasilhas de madeira (bateias) para lavar
o ouro em pó e de couros bovinos esticados em armações de madeira (canoas)
para retê-lo.
Condições:

 Apesar da gama de oportunidades abertas a elas, enfrentar a sociedade livre mostrou-se tarefa dura demais para
muitas pessoas de cor livres. Escorregavam do emprego para o biscate e do biscate para fazer parte do grande
número de mendigos e prostitutas que proliferavam em todas as vilas e cidades
 Apesar de suas cartas de alforria, este grupo heterógeno de negros, mulatos e mestiços era socialmente
marginalizado, praticamente desprovido de recursos financeiros e vivia em condições mais precárias que os
escravos
 Com excessiva frequência a renuncia e a autodestruição física e mental eram inteiramente voluntarias,
motivadas pela ideologia colonial predominante de que o trabalho manual era degradante e adequado apenas a
escravos. Os brancos, mulatos e negros nascidos livres, até mesmo ex-escravos que tinham comprado ou
recebido sua liberdade, obedeciam com firmeza este conceito.
 A Coroa Portuguesa e as autoridades municipais do Brasil Colonial deixaram de combater as causas sociais e
econômicas desta pobreza. Não havia política de recuperação social ou ajuda financeira.
 Os pedintes eram tratados como delinquentes. Presos e mendigos eram alistados à força no serviço militar em
qualquer emergência ou mesmo pelo pretexto mais tolo.

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