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Intertextualidade

A paráfrase e a paródia
• Sabemos que a intertextualidade ocorre quando o texto faz menção a outro(s) textos já
produzido(s) e que faz(em) parte da memória social dos leitores.

• A paráfrase é uma nova representação de um texto (música, obra trecho, etc.) que visa tomá-
lo mais inteligível ou que sugere dar mais enfoque para o seu sentido. Em outras palavras, é
uma maneira de dizer algo que já foi dito com outras palavras.

• Os exemplos que veremos a seguir são memes, isto é, imagens viralizadas na internet que
buscam descrever com humor um conceito, uma ideia ou informação, copiada do original.
Uma das principais características dos memes são que eles podem ser modificados
dependendo da situação e por isso viralizam com facilidade.

• Desse modo, as imagens que você verá são frases de grandes pensadores traduzidas de forma
mais coloquial, mais inteligível para o público. Isto é, são frases que dizem a mesmas coisas
que os pensadores só que com outras palavras. Portanto, paráfrases.
Fonte:https://br.pinterest.com/pin/467811480034038085/#:~:text=Artigo%20de%20notaterapia.com.br
• A paráfrase ocorre também em provérbios:
A professora ajuda quem muito estuda. (Paráfrase de "Deus ajuda quem cedo madruga.")
De depósito em depósito, a conta fica cheia de dinheiro. (Paráfrase de "De grão em grão, a
galinha enche o papo.")
Fonte: https://www.todamateria.com.br/parafrase/

• Já a paródia consiste na recriação de um texto ou obra com objetivo jocoso, satírico ou crítico .
Vejamos como exemplo a paródia da música “Some que ele vem atrás” cantada por Anitta e
Marília Mendonça :

Filha do céu, que tosse que eu tô


Então fica aí e coloca isso, por favor
Diga Biel, porque que guardou?
Só tem isso aqui, ai que raiva, acabou
Eu que agradeço muito
Esqueci, cocei, assumo
Agora o que fazer?
Tome, tome, álcool em gel é bom demais
Irmãozinho, pé, dança, dá os três pulinhos pra trás
Irmãozinho, onde aprendeu como faz?
Quando, para e onde, não importa papai
Se não fizer bem, mal não faz

Filha do céu, me faz um favor


Lave isso aqui
Eu não posso, a unha não secou
Menina do céu
Você endoidou
Não saia daí, que eu fico onde estou
Não podemos ficar junto, um metro e meio não é muito
Vamos nos proteger

Corre, corre, vamos deixar o vírus pra trás


Irmãozinho, esfrega, anda, coloca um sabãozinho a mais
Faz biquinho, você é aluguel demais
Quanto mais cê come, a imunidade refaz
Ela só aumenta mais
A gente almoça junto, um metro e meio não é muito
Aqui senta você
Come, dorme, quarentena é bom demais
Um filminho, para a mana, quem perder a pipoca faz
Vai maninho
Hoje a tampa tá lá trás
Mano, trás, que fome
Já tá quase, já vai
Onde a cabeça tá meu Pai?

A gente almoça junto, um metro e meio não é muito


Aqui senta você
Come, dorme, quarentena é bom demais
Um filminho, para a mana, quem perder a pipoca faz
Vai maninho
Hoje a tampa tá lá trás
Mano, trás, que fome
Já tá quase, já vai
Onde a cabeça tá meu Pai?
Fonte: https://www.letras.mus.br/parodias/some-que-ele-vem-atras-coronavirus/
Observe que essa paródia é uma releitura cômica da música cantada por Anitta e Marília Mendonça
e que traz questões atuais, como os cuidados com a pandemia e o cotidiano no isolamento social.
Recomendo assistir ao clip dessa paródia para uma maior compreensão.
Como outro exemplo de paródia temos a imagem da Monalisa, emblemática obra de Leonardo
da Vinci:

Fonte: https://www.todamateria.com.br/parodia-e-parafrase/
Observe que a paródia alterou a ideia original. Nela vemos o rosto de Monalisa pintada de palhaço,
semelhante ao palhaço da rede de fast-food McDonald’s. Eis aí o tom crítico: a Monalisa moderna tornou-se
uma figura de exibição, uma espécie de “arte-fast”, denominada “Wack Donald’s” que traduzido para o
português seria o maluco do Donald’s. Além disso, temos os dizeres em inglês: “Culture Shock” que
significa choque cultural em português. Assim, a releitura da obra levanta uma crítica ao marketing da
empresa alimentícia e à cultura do seu consumo.
Como vimos as paródias servem para fazer humor e críticas.

Exercícios
1. Muitas vezes um texto literário pode citar outro de maneira implícita, isto é, o poeta não indica o autor
ou a obra de onde ele retirou a passagem, pois pressupõe que o leitor já sabe. Sabendo disso leia os
trechos dos textos abaixo:

"Nosso céu tem mais estrelas, "Do que a terra mais garrida,
Nossas várzeas têm mais flores, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.“ Nossa vida no teu seio mais amores."
Trecho do poema “Canção do Exílio” Trecho do Hino Nacional Brasileiro
(1909), de Gonçalves Dias
Fonte: DIAS, Gonçalves.
Canção do exílio. In: Primeiros cantos, 1847.
Inscrito 63 anos após a publicação do poema de Gonçalves Dias, o Hino Nacional Brasileiro está
relacionado ao poema, como vocês podem perceber.
a) Identifique esses versos e transcreva.
b) Que tipo de intertextualidade nós temos? Paráfrase ou paródia? Justifique sua resposta.

2. Veja a imagem a baixo e em seguida responda à pergunta.

Fonte da imagem:
https://www.ofuxico.com.br/noticias-sobre-famosos/xuxa-hebe-e-ana-maria-viram-estatuas-para-museu-de-cera/2011/01/13-95454.html#:~:text=Xu
xa,%20Hebe%20e%20Ana%20Maria%20viram%20est%C3%A1tuas%20para%20museu%20de
a) a)Levando em conta as diferenças entre paráfrase e paródia, determine que tipo de
intertextualidade nós temos na imagem, justificando sua escolha.
b) b) Geralmente, um texto cita outro texto com as seguintes finalidades:
I. Para reafirmar alguns dos seus sentidos do texto citado;
II. Para inverter, contestar e deformar alguns do sentidos do texto citado para causar polêmica.
De acordo com seus conhecimento sobre paráfrase e paródia, a imagem apresentada se utiliza de qual
meio?

3. Leia os texto e depois responda às perguntas:


"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.“

Fonte: DIAS, Gonçalves. Canção do exílio. In:


Primeiros cantos, 1847.
Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


onde cantam  gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade


e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Mendes, Murilo. Poesias (1925-1955). Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.


a) Podemos afirma que o texto de Murilo Mendes é intertextualidade? Por quê?

b) Que tipo de conversa Murilo Mendes que estabelecer com a canção de Gonçalves Dias?

c) Identifique no texto de Murilo Mendes palavras ou frases que exemplificam a subversão realizada
pelo poeta.

d) Explique as diferenças entre paráfrase e paródia.


Gabarito
1.
a) “Nossos bosques têm mais vida”, / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”
b) Temos uma paráfrase, porque o hino faz uma nova interpretação do poema, utilizando até as mesmas palavras
e mantendo o sentido original do texto, que é dar ênfase as qualidades do país.
2.
a)Nós temos uma paráfrase. As estátuas, tão fiéis às figuras replicadas, são paráfrases. Elas mantêm a mesma
estrutura do ser humano original, contudo, com outras “palavras”, que, nesse caso, seria outro “material” – em
vez de seres humanos feitos de carne e osso, a paráfrase é a figura de um ser humano, mas feito com cera. Logo,
as figuras de cera da Xuxa, Hebe e Maria Braga são uma paráfrase das verdadeiras personalidades.
b)A paráfrase artística foi um recurso para homenagear as personalidades, portanto, ela está reafirmando a
significação dessas pessoas na sociedade brasileira.
3.
a)Sim, o texto de Murilo Mendes estabelece uma conversa com a canção de exílio de Gonçalves Dias, porque
levantou referências que já faziam parte da memória do leitor, isto é, pressupões que o poema de Gonçalves Dias
já era conhecido.
b) O texto de Murilo subverte as ideias do poema de Gonçalves Dias. Assim, podemos concluir que seu texto é uma
paródia.
c) Nota-se que Murilo ironiza o poema de Gonçalves Dias ao traçar um panorama um pouco mais realista do seu
país. Diz que os poetas da sua terra “são pretos que vivem em torres de ametista,”
que “os filósofos são polacos vendendo a prestações.” Que na sua terra as flores são mais bonitas
as frutas mais gostosas / “mas custam cem mil réis a dúzia.” Ironizando e criticando a
idealização da pátria feita por Gonçalves Dias.
D) A paródia subverte as ideais do texto matriz. Já a paráfrase reescreve o texto matriz,
procurando manter as mesmas ideais, sem a menor intenção de subverte-las.

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