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Tempo

histórico, da
narrativa e do
discurso

Memorial do
Convento,
José Saramago
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

1. O tempo histórico
Início da história: por volta de 1711 (três anos após o
casamento do rei D. João V com D. Maria Ana Josefa de
Áustria).

22 anos

Final da história: 1739 (realização do auto de fé em que


morreram António José da Silva e Baltasar Mateus).
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

1. O tempo histórico

Saramago respeita, na globalidade, os elementos históricos quando os


insere na diegese: datas, factos ou nomes.

Referências ligadas ao convento de Mafra


Respeito pelos anos, os dias e as horas: início das cerimónias da
colocação e bênção da primeira pedra – 7 horas da manhã do
dia 17 de novembro de 1717.

Verdade histórica

Fonte: Ana Margarida Ramos, Memorial do Convento, da Leitura à Análise, Porto, Edições Asa,
1999, p. 15.
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

2. O tempo da narrativa – 28 anos


Tempo da narrativa: algumas referências temporais
Início da ação
• «D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria»:
casamento em 1708; «um homem que ainda não fez vinte e dois anos»:
1711 nascimento em 1689; «S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há
quinhentos anos, em mil duzentos e onze»; Baltasar e Blimunda
conhecem--se no auto de fé.
Desenvolvimento da ação
• Regresso de Baltasar a Mafra e apresentação de Blimunda à família:
1713 «minha mãe foi degredada para Angola por oito anos, só passaram dois»;
partida do padre Bartolomeu para a Holanda.
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

2. O tempo da narrativa – 28 anos


Tempo da narrativa: algumas referências temporais
Desenvolvimento da ação
• Regresso do padre Bartolomeu da Holanda: «três anos inteiros haviam
1717
passado desde que partira».
• Procissão do Corpo de Deus: «sente-se o calor da manhã adiantada, oito de
1719
junho de mil setecentos e dezanove».
• Baltasar começa a trabalhar nas obras do convento: «Baltasar […] por estar
ainda na força da vida, trinta e nove anos» – idade de Baltasar, que no
1724
início da história tinha vinte e seis anos: «Baltasar respondeu, Vinte e seis
anos»
• Blimunda acompanha Baltasar, pela primeira vez, para ver o estado da
1727 passarola, após a sua queda: «em três anos é a primeira vez»; «Blimunda,
dezasseis anos passaram desde que a vimos pela primeira vez».
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

2. O tempo da narrativa – 28 anos


Tempo da narrativa: algumas referências temporais
Desenvolvimento da ação
• Decisão de D. João V de aumentar o convento – «Durante todos estes
1728
anos, onze já vão vencidos».
1729 • A «troca das princesas»: «janeiro de mil setecentos e vinte e nove».
• Sagração do convento: «chegou o mais glorioso dos dias, a data
1730 imorredoira de vinte e dois de outubro do ano da graça de mil setecentos e
trinta».
• Construção da passarola: ao longo de 13 anos: quando Baltasar foi a Pêro
Pinheiro, em 1711, a construção estava no seu início e o seu voo deu-se em
1711
1724: diálogo entre o padre Bartolomeu e Baltasar, no Terreiro do Paço –
a
«Pois eu faz dois anos que voei»; diálogo do clérigo com o casal, pouco
1724
antes do voo da passarola – «ainda há quinze anos voou um balão no
paço».
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

2. O tempo da narrativa – 28 anos

Tempo da narrativa: algumas referências temporais


Final da ação
• «Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar»: Baltasar desaparece na
passarola no dia anterior à sagração (1730) − «E Baltasar disse, Amanhã
vou ao Monte Junto […] estarei cá antes da noite, melhor é ir agora, depois
1739
são as festas da sagração»; data da morte: 18 de outubro de 1739 – «o da
ponta, é um que fazia comédias de bonifrates e se chamava António José
da Silva».
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

3. O tempo do discurso
O narrador principal, heterodiegético e afastado temporalmente da intriga que
organiza e controla, utiliza com alguma insistência anacronias * para fazer avançar a
ação.

Tempo do discurso: algumas referências


• O narrador anuncia o futuro de algumas personagens:
- morte do sobrinho de Baltasar, bem como a do infante D. Pedro; morte da
mãe de Baltasar.
Prolepse
• Comentários do narrador e comparações entre épocas históricas distintas:
- alusão à extinção dos autos de fé, à revolução do 25 de Abril; referência à
ida à Lua.
• A batalha de Jerez de los Caballeros, onde Baltasar perdeu a mão
Analepse esquerda.
• Juventude do padre Bartolomeu em Portugal.
* Anacronias: desencontros entre a ordem cronológica dos acontecimentos e a ordem por que são
narrados.
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

3. O tempo do discurso
Tempo do discurso: algumas referências
• Salto no tempo de nove anos: «Durante nove anos, Blimunda procurou
Elipse
Baltasar».
• busca de Blimunda, que se sabe ininterrupta e que todos os lugares do país
Sumário
foram percorridos.
Tempo histórico, da narrativa e do discurso

Consolida

1. Indica a importância do tempo histórico para a determinação do tempo da


narrativa.

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