Você está na página 1de 22

Aula 3

Como construir orações adequadas. 

Não adianta escrever para alguém, se ninguém lê o que você


escreve. Seu texto pode ser denso, sem ser enfadonho. As
pessoas devem ter prazer em ler seus textos, devem procurar pelo
que você escreve.
Orientações gerais:

1. Escolha do tema;
2. Escolha do título;
3. Capacidade descritiva;
4. Jogo de palavras (contrastes);
5. Humor.
Tati Bernardi é colunista da Folha de São Paulo, escritora e
roteirista de cinema e televisão, autora de “Depois a Louca Sou
Eu”. 
Muito amor para o fim do amor (escolha do título)
Separar é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida (subtítulo)
Desde que decidimos nos separar, diariamente fazemos o check-up
emocional um do outro. Acordo quase sempre com um "sobrevivendo
aí?", e ele vai dormir com a mensagem: "qualquer coisa tô por aqui".

Separar é a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, e olha que eu fiquei
42 horas tentando ter um parto normal. E olha que eu já fui a filha
pequena de pais se separando. E olha que meu apelido na escola era
"Fabi feia" (eu era a cara da popular Fabi, mas na versão mundo
bizarro)...
E olha que na infância eu tentava conversar com adultos sobre como eu
era angustiada e me mandavam parar de pensar besteira e comer –e então
eu fui um tantinho anoréxica por mais de uma década. E olha que em
2012 meu pai descobriu um câncer no dia em que um cara por quem eu
era alucinada de paixão me disse: "Foi tudo tanto e tão rápido que não
dei conta" (e já tinha ouvido essa frase mil vezes antes e ouviria mil
vezes depois e morreria em todas as vezes, porque eu gostaria de poder
ser amada pelo menos uma vez na vida sendo "tanto e tão rápido"). E
olha que eu já estive em um avião que arremeteu duas vezes e as
comissárias se deram as mãos. Enfim, nada, até hoje, foi mais doloroso e
complicado do que este exato minuto.
Hoje descobri que tenho um armário enorme e inteiro para espalhar
minhas roupas novas e cheias de más intenções, mas passei as últimas
seis horas olhando para esse vazio e pensando que ele é todinho meu
peito.

Pedro é minha família e vai ser para sempre. É o que repito no banho,
durante o jantar, dirigindo o carro, quando choro tanto que entro numa
espiral de soluços, espirros e soquinhos no esterno.
Na semana em que me separei, parentes me ligaram para perguntar se
não valia a pena eu aguentar até minha filha ter cinco anos, idade que eu
tinha quando quando meus pais se divorciaram: "Você ficou tão bem".
Fiquei? Na semana em que me separei, parentes quiseram saber quem
traiu quem, quem estava mais abatido e como eu dormia sabendo que, a
cada três dias, minha filha se apertava num quarto de hotel enquanto eu
caminhava por um apartamento confortável. Não aguento falar com
ninguém. Minha única família é justamente o homem de quem eu estou
me separando. Solidão em dezembro é para os muito fortes.
Na semana passada, resolvemos montar a árvore de Natal junto com
nossa filha. Porque seria positivo pra ela, porque seria divertido pra nós
(oi?) e porque eu liguei para o Pedro dizendo que não estava
conseguindo respirar. A cada enfeite que eu colocava, ia para o banheiro
e chorava tanto que, se meu muco nasal valesse alguma coisa, eu estaria
na próxima lista da Forbes.

Não foi positivo pra Rita, e sinto muito. "Mamãe não devia ter uma
síncope lacrimal na sua frente, mas mães são feitas pra cagar a psique
dos filhos e depois colocar na terapia, tá tudo bem." Rita aprendeu nesse
dia que eu amava o pai dela mesmo não querendo mais morar com ele.
Agora é complexo, mas um dia tal informação lhe servirá de algo.
A gente tentou se separar dezenas de vezes alegando falta de amor e no
dia seguinte continuávamos juntos. Pedro é meu melhor amigo, meu pai,
meu irmão, meu filho, meu personagem (desculpa por tudo que você teve
que aturar e obrigada por entender que eu sou uma escritora, você foi o
único até hoje!) e, por muitos anos, o cara com quem eu flertava nas
festinhas até perceber que era meu marido.

Quando finalmente decidimos nos separar apesar de tanto amor,


conseguimos. Colamos nossas mãos com uma espécie de "superbonder
eterno e invisível", e agora elas conseguem tatear sozinhas o futuro. Todo
dia é inacreditável, mas a gente se liga chorando e fala: "Caceta, que dor
do inferno!". Até pra suportar ficar sem você, é você quem me faz
companhia. Essa é a história de um casamento que deu certo.
09/12/21
Orientações gerais:

1. Escolha do tema;
2. Escolha do título;
3. Capacidade descritiva;
4. Jogo de palavras (contrastes);
5. Humor.
Nizan Guanaes é empreendedor,
criador da N Ideias​.
Você aguenta ser feliz? (título)
Ser feliz é quase uma dieta, uma alimentação balanceada da alma. (subtítulo)
Eu fiz uma cirurgia bariátrica há muitos anos, de maneira estabanada,
para me livrar dos meus antigos 150 quilos. Meu pai morreu do coração
aos 45 anos, e eu não podia continuar com aquele peso. O médico diz
que você vai poder comer de tudo. O problema é que você passa a beber
de tudo também.

Eu quase virei alcoólatra. Como, aliás, acontece com muitas pessoas que
fazem bariátrica sem se preparar antes e sem supervisão depois. E foi
para cuidar dos meus excessos — de cigarros, bebidas, cafés,
refrigerantes e remédios para dormir — que eu, graças a Deus, conheci o
médico psiquiatra Arthur Guerra. Ele transformou a minha vida não me
entupindo de mais remédios, mas tirando esses remédios e me entupindo
de esportes.
Guerra me botou para fazer triatlos e maratonas e me fez descobrir um
mundo que acorda às 5 da manhã e dorme exausto e feliz às 10 da noite.

Mas, de tudo o que Arthur Guerra me ensinou, nada é mais brilhante do


que a pergunta dele que eu coloquei em cima da minha mesa de trabalho
e a que tento responder todos os dias: “Nizan, você aguenta ser feliz?”.
Esta, querido leitor e querida leitora, é a pergunta que dou de presente de
Ano-Novo depois de um ano de tantas tristezas, mas também superações.
Você aguenta ser feliz?
A pessoa luta para alcançar determinados objetivos na vida e, se e
quando consegue atingi-los, quer mais e mais. A gente sonha com uma
meta e, quando chega lá, começa a sofrer atrás de outra mais distante.
Pedimos aos céus o que não temos, em vez de agradecermos o que já
temos. E, quando atingimos o que tanto queríamos, aí queremos
neuroticamente um novo objetivo. Ou seja, estamos sempre deixando
para ser feliz na próxima conquista. Isso pode ser (e é) motivador, mas
muitas vezes é enlouquecedor também.

Então meu ponto aqui é que a felicidade, como tanta coisa nessa vida, é
uma questão de disciplina.
O dalai-lama diz que a felicidade é genética ou treinada. E de fato tem
gente que é feliz por natureza. Para nós, a grande maioria, ela é uma
conquista. É como se fosse uma outra carreira, interna: administrador de
si mesmo.

E essa pessoa insaciável retratada nesta coluna está, em maior ou menor


grau, dentro de todos nós. Os felizes não a escutam muito. Os infelizes
são dominados por ela.

Esse comportamento nos leva a fazer duas coisas que são absolutamente
inúteis: tentar corrigir erros de coisas que ficaram no passado e postergar
a felicidade para conquistas que enxergamos no futuro. Como passar
2021 tentando corrigir os fracassos de 2020 ou adiando a felicidade para
2022.
Por isso, a pergunta é necessária. Será que você aguenta ser feliz? Até
porque as melhores coisas da vida não têm preço: amor, família, amigos,
fé, respiração.

Ser feliz é quase uma dieta, uma alimentação balanceada da alma. Que
mistura bens materiais e, principalmente, imateriais.

Essa é uma reflexão para você, pessoa física, mas que pode ajudar muito
a pessoa jurídica. Por isso Harvard tem tratado tanto da administração da
pessoa ao tratar da administração da empresa.
O que desejo a você, leitor, é o que eu me desejo em 2021 e será o meu
desafio diário: que você lute para ser as coisas que queira ser, mas não
despreze o que é conquistado, o que já é. E que viva 2021, e não 2020 ou
2022.

Até porque o ano que começa será, tem que ser, um ano de cura, de
vacina, de virada e de vida. 2020 foi um ano de grande tristeza. De
muitas perdas. De muitas e duras lições.

Ficamos desesperados e muito tristes, e essa tristeza era inevitável. Mas a


vida precisa da felicidade, e a felicidade precisa da vida.

Feliz ano novo!


28/12/20

Você também pode gostar