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EL JUGUETE

RABIOSO
EM LIVRO E FILME
ALAN NORONHA
VIII COLÓQUIO SUL DE LITERATURA COMPARADA
OUTUBRO DE 2019
BUENOS AIRES, FINAL DO SÉCULO XIX
BUENOS AIRES, ANOS 20
CONTEXTO

• Em 1880 tinha 300 mil habitantes. Em 1900 já eram 600 mil. Nos anos 30 chegou a 2 milhões.
• Grande imigração europeia, especialmente de italianos. A maioria vinha do sul, de Napoli e da
Sicilia. Moravam em “conventillos” ou cortiços.
• Divulgação da milonga, do tango, do compadrito (gaucho urbano), do imaginário que se tem
até hoje.
• Grandes transformações urbanas. A Avenida 9 de Julio só foi aberta nos anos 30.
• Após haver explorado o conteúdo nativista em obras como Martín Fierro, a literatura argentina
estava às voltas com poesia de vanguarda (Leopoldo Lugones, Borges).
ROBERTO ARLT
GRUPOS RIVAIS
FLORIDA E BOEDO

• Florida - foi formado tendo como base grupos literários franceses, para atrair mais publicidade e ganhar
mais leitores. Publicavam uma revista literária chamada Martin Fierro, reuniam-se em um café da rua
Florida, e como todo bom grupo de vanguarda, lançaram um manifesto para romper a
“impermeabilidade hipopotâmica do honorável público”. Eram membros desse grupo intelectuais de
peso como Leopoldo Marechal, Victoria Ocampo, Ricardo Güiraldes e o próprio Borges, embora ele
não o levasse muito a sério. Tinham um perfil de elite.
• Boedo - era associado aos subúrbios devido à localização da editora que os publicava chamada
Claridad, que ficava na rua Boedo. Esse grupo estava mais envolvido com causas sociais e ideias de
esquerda, e tinha vínculos com o movimento operário. Embora Arlt não fosse frequentador assíduo,
declarava-se por vezes membro do grupo em algumas entrevistas.
PRIMEIRA EDIÇÃO
RECEPÇÃO

• Contemporâneos: recepção discreta, críticas negativas


• Anos 50: Raúl Larra, biografismo
• Anos 70: Viñas Jitrik, revista Contorno, Ricardo Piglia
• Anos 80: Afirma-se no cânone, é lido em outros países. Leitura psicanalítica (Maldavsky),
existencialista (Pio del Cono), comparações com Dostoievsky. Traduzido em vários idiomas.
• Anos 90 até hoje: recepção em língua inglesa - Aden W. Hayes escreveu sobre o uso de
estratégias e aspectos formais de sua narrativa, e Rita Gnutzmann escreve sobre seus ensaios
e aspectos biográficos de Arlt, apresentando-o ao público norte-americano.
COLM TOIBIN SOBRE ARLT

• “There is a particular edge to the novels and stories written in countries which lacked a
stable middle class or a clear sense of social continuity. It is as though the spirit of
uncertainty made its way into the very structure of the fiction which writers produced.”
• “In countries such as Ireland, Brazil and Argentina, places where poverty, social disruption
and fragile institutions reigned, where form and continuity were solely missing, the novel
also took on a new and strange shape.”
• “These writers believed, as did Machado de Assis in Brazil and James Joyce in Ireland, that
the real world could not be reflected in the pages of a book, but rather it could be re-made
there, or made more strangely real there”.
ALGUMAS EDIÇÕES BRASILEIRAS
FILMES E SÉRIE BASEADOS EM SUA OBRA
O LIVRO

• Bildungsroman latino.
• Primeiro romance urbano da literatura argentina.
• Linguagem popular, inédita na literatura da época. Uso de voseo, lunfardo porteño,
diálogos em italiano, napolitano, francês e broken English.
• Personagens marginais, pobres, desafortunados.
• Linguagem direta e crua, dostoievskiana, escrever como quem luta box.
• Existencialismo e punk avant la lettre. Anarquismo e expressionismo.
OS CAPÍTULOS

• Capítulo 1 – Os ladrões

Infância, grupo de amigos entre o crime, a literatura e as invenções. Contexto suburbano.


• Capítulo 2 – Os trabalhos e os dias

Trabalho em um sebo no centro


• Capítulo 3 – O brinquedo raivoso

Tentativa de ser mecânico no exército, cena na pensão, tentativa de suicídio


• Capítulo 4 – Judas Iscariote

Episódio com o Rengo


O FILME

• Roteiro feito pela filha dele, Mirta Arlt.


• Primeiro capítulo espalhado como flashbacks durante o filme.
• O Rengo já aparece desde o início.
• Alteração da ordem de várias cenas.
• As mulheres ganham voz e presença. Exemplos: diálogos da mãe com a irmã, conversa
com a namorada, desabafo da patroa, cena longa com a francesa.
O FILME

• Período na caverna: patrões italianos, decadência, desonestidade,


Dío Fetente, vergonha de andar com uma cesta, cortejo da mesa invertida.
• Descrições da cidade no livro: “Eram sete da noite e a rua Lavalle estava em seu mais
babilônico esplendor...as vidraças das ortopedias e joalherias mostravam em sua
opulência a astúcia de todos esses comerciantes, lisonjeando com requintes de malícia a
voluptuosidade das pessoas poderosas e endinheiradas” (p. 69)
• Recursos do filme: trilha sonora, seleção, ordenação e acréscimo de cenas, ênfase em
certos aspectos e personagens.
CINEMA IMPURO

• Nos anos 50, críticos buscavam um cinema que não tivesse contato com outras artes para
se estabelecer com linguagem própria. André Bazin foi na contramão e propôs um
cinema impuro.
• Robert Stam (2008) explica que, nas adaptações cinematográficas, ocorre um processo de
transformação e transmutação de sucessivas referências intertextuais, sem que exista um
ponto de origem visível. A criação torna-se inevitável também devido à mudança do
meio.
• Stam sobre Bazin: “Bazin argumentou que a adaptação fílmica não era uma prática
vergonhosa e parasítica, mas sim criativa e produtiva, um catalisador do progresso para o
cinema”.
CONTRA O CINEMA IMPURO

• O argumento de Truffaut contra as adaptações consistia em afirmar que os diretores de


cinema de qualidade se tornavam meros funcionários dos roteiristas, vítimas da ditadura
da dramaturgia, verificando aí uma atitude protocolar e subserviente diante do potencial
do estilo (MANEVY, 2009, p. 236).
• Influência – intertextualidade – dialogismo – adaptação – transmidiação
REFERÊNCIAS

• BAZIN, André. Por um Cinema Impuro. In: O Cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991. pp 82 # 104.
• LARRA, Raúl. Roberto Arlt, el torturado. Buenos Aires: Futuro, 1950; 3ª edición: Buenos Aires: Quetzal, 1962.
• MANEVY, Alfredo. Nouvelle Vague. In: MASCARELLO, Fernando (org.). História do Cinema Mundial.
Campinas, SP: Papirus, 2006.
• ONETTI, Juan Carlos. “Roberto Arlt”. En Requiem por Faulkner y otros artículos. Ed. Jorge Ruffinelli. Buenos
Aires: Calicanto, 1976. pp. 127-37; 1ª edición: Montevideo: Arca, 1975.
• PIGLIA, Ricardo. Crítica y Ficción. Buenos Aires: Editora Debolsillo, 1986.
• STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas: Papirus, 2009.
• _________. A Literatura Através do Cinema: Realismo, magia e arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2008.

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