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CIDADANIA DA UNIÃO EUROPEIA

Cidadania da União Europeia – significado

Cidadania e nacionalidade

• A cidadania europeia acresce à nacionalidade de um Estado


membro e não a substitui (cidadania reflexa e complementar)
• A atribuição da cidadania europeia é automática
• A criação da cidadania europeia levou o TJ a pronunciar-se
sobre os critérios de perda da nacionalidade dos Estados
membros (Ac. Rottmann, 2010)
• Está pendente no TJ um processo relativo à atribuição da
nacionalidade (passaporte gold – Comissão c. Malta)
• Desde a sua criação em 1992, prevê apenas direitos (20.º TFUE):
A. O direito de circular e permanecer livremente no território dos
Estados-Membros
B. O direito de eleger e ser eleitos nas eleições para o Parlamento
Europeu, bem como nas eleições municipais do Estado-Membro
de residência, nas mesmas condições que os nacionais desse
Estado (direitos de participação política eleitoral no Estado
membro de residência)
CIDADANIA DA C. O direito de, no território de países terceiros em que o Estado-
UNIÃO EUROPEIA Membro de que são nacionais não se encontre representado,
beneficiar da proteção das autoridades diplomáticas e consulares
de qualquer Estado-Membro, nas mesmas condições que os
nacionais desse Estado;
D. O direito de dirigir petições ao Parlamento Europeu, o direito de
recorrer ao Provedor de Justiça Europeu e o direito de se dirigir
Estatuto (isto é, um conjunto de às instituições e aos órgãos consultivos da União numa das
direitos e deveres) reconhecido a línguas dos Tratados e de obter uma resposta na mesma língua +
todos os NACIONAIS de um Estado iniciativa de cidadania (11.º TUE) (direitos de participação
membro da União Europeia cívica).
+ Princípio da não discriminação em razão da nacionalidade (artigo
- artigo 20.º; artigo 21.º TFUE;
- artigo 45.º CDFUE; Direitos de circulação
- directiva 38/2004

Titulares: Direito de entrada, saída e


permanência até 3 meses (4.º, 5.º,
Direito de Circulação

6.º)
- Cidadãos da União Europeia

- Membros da família do Direito de residência por mais de 3


meses (7.º)
cidadão (2.º da directiva
38/2004), que o
acompanhem (artigo 3.º da Direito de residência permanente
directiva 38/2004) (16.ºss)
DIREITO DE CIRCULAÇÃO

• O Direito de circular e permanecer é reconhecido, em primeira linha, aos cidadãos europeus


• O respeito pela unidade familiar destes cidadãos, por um lado, e a necessidade de garantir, que, na prática, exercem o seu direito, levou a
que o direito de circulação fosse também reconhecido aos familiares do cidadão europeu que o acompanhem.
• A directiva 38/2004 estabelece quem são esses familiares:
• a) O cônjuge;
• b) O parceiro com quem um cidadão da União contraiu uma parceria registada com base na legislação de um Estado-Membro, se a
legislação do Estado-Membro de acolhimento considerar as parcerias registadas como equiparadas ao casamento, e nas condições
estabelecidas na legislação aplicável do Estado-Membro de acolhimento;
• c) Os descendentes directos com menos de 21 anos de idade ou que estejam a cargo, assim como os do cônjuge ou do parceiro;
• d) Os ascendentes directos que estejam a cargo, assim como os do cônjuge ou do parceiro;
• NOTA: em relação a outros “familiares” dos cidadãos europeus, que já vivessem com este ou de quem este deveria cuidar, os Estados
devem “facilitar” que acompanhem o cidadão
DIREITO DE CIRCULAÇÃO

• A directiva 38/2004 estabelece diferentes direito de circulação e residência


• Direito de entrada e saída dos Estados: só pode ser exigido um documento de identificação
• Direito de permanência até 3 meses: só pode ser exigido um documento de identificação
• Direito de permanência por mais de 3 e até se alcançar o direito de residência permanente: o cidadão europeu
(e os seus familiares) só podem residir no Estado de acolhimento se respeitarem certas condições (ver
diapositivo seguinte)
• Direito de residência permanente: em princípio, este direito obtém-se após uma residência por 5 anos
cumprindo as condições de residência previstas na Directiva para a residência por mais de 3 meses. Depois
de obtido o direito de residência permanente, essas condições deixam de ser exigíveis.
DIREITO DE CIRCULAÇÃO
Direito de residência por mais de 3 meses até obtenção do direito de residência permanente

• Trabalhador (assalariado ou não assalariado)

• Estudante
• Inscrição em estabelecimento de ensino reconhecido ou financiado pelo Estado membro
• Cobertura extensa de seguro de doença no Estado-Membro de acolhimento
• Garantia prestada à autoridade nacional competente de que dispõe de recursos financeiros suficientes para si próprio e para os
membros da sua família a fim de evitar tornar-se uma sobrecarga para o regime de segurança social do Estado-Membro de
acolhimento durante o período de residência;

• Outros cidadãos (cidadãos economicamente inactivos)


• Recursos suficientes para si próprio e para os membros da sua família, a fim de não se tornar uma sobrecarga para o regime de
segurança social do Estado-Membro de acolhimento durante o período de residência (8.º/4; 14.º/2,3 Dir.)
• Cobertura extensa de seguro de doença no Estado-Membro de acolhimento
A Directiva 38/2004 foi transposta para Portugal pela Lei 37/2006 . Esta lei prevê:
Artigo 7.
1-Qualquer cidadão da União tem o direito de residir no território nacional por período superior a três meses desde que reúna
uma das seguintes condições:
a) Exerça no território português uma actividade profissional subordinada ou independente;
b) Disponha de recursos suficientes para si próprio e para os seus familiares, bem como um seguro de saúde, desde que tal seja
exigido no Estado membro da sua nacionalidade aos cidadãos portugueses;
c) Esteja inscrito num estabelecimento de ensino público ou privado, oficialmente reconhecido, desde que comprove, mediante
declaração ou outro meio de prova à sua escolha, a posse de recursos financeiros suficientes para si próprio e para os seus
familiares, bem como disponha de um seguro de saúde, desde que tal seja exigido no Estado membro da sua nacionalidade aos
cidadãos portugueses;
Art. 14.º
1-Os cidadãos da União cuja estada no território nacional se prolongue por período superior a três meses devem efectuar o
registo que formaliza o seu direito de residência no prazo de 30 dias após decorridos três meses da entrada no território
nacional.

5-Para a emissão do certificado de registo do cidadão da União é exigido bilhete de identidade ou passaporte válido, bem como
a declaração, sob compromisso de honra, de que o requerente preenche as condições referidas nas alíneas a), b) ou c) do n.º 1
do artigo 7.º, consoante o caso.
DIREITO DE CIRCULAÇÃO
• O direito de residência de cada indivíduo pode ser restringido pelos seguintes motivos:
• Ordem pública
• Segurança pública
• Ameaça grave, actual (que exista no presente) e individual (tem de basear-se no comportamento
do indivíduo e não de grupos em que o mesmo se integre)
• Quanto mais tempo o cidadão tiver residido no Estado de acolhimento, mais grave tem de ser a
ameaça que coloca à ordem ou segurança públicas para que possa ser expulso desse Estado
• Saúde pública
• Doença contagiosa
• Só se surgir nos primeiros 3 meses
LIBERDADE DE CIRCULAÇÃO

• São, em princípio, proibidos os obstáculos à liberdade de circulação:


• Estes obstáculos são quaisquer medidas que tenham por objectivo ou por efeito tornar menos atractivo o
exercício do direito de circulação.
• Estes obstáculos podem ser discriminatórios ou não discriminatórios
• São, em princípio, contrários ao Direito da União Europeia, mesmo que se apliquem de igual forma aos nacionais
do Estado membro e aos outros cidadãos da União Europeia
• Os obstáculos podem ser impostos pelo Estado de acolhimento ou pelo Estado de origem
• A perda de um benefício por se “abandonar” o Estado de origem é uma restrição à liberdade de circulação
• Os obstáculos à livre circulação, que à partida são proibidos, podem ser admitidos, caso se cumpram certas
condições:
• O obstáculo tem de ser criado através de normas objectivas e claras
• O obstáculo tem ser imposto para se alcançar um interesse legítimo
• A medida tem de ser proporcional (nomeadamente adequada – isto é, capaz de realizar o objectivo pretendido – e
necessária – isto é, a que limite menos a liberdade de circulação, dentre aquelas que sejam capazes de realizar o
objectivo pretendido)
PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
EM RAZÃO DA NACIONALIDADE • São proibidas quaisquer medidas que “no âmbito de aplicação dos Tratados” estabeleçam uma
diferença de tratamento entre os nacionais de um Estado e os restantes cidadãos europeus
• O Tribunal de Justiça tende a considerar que, se um cidadão reside ou se encontra num outro Estado membro
está a exercer o direito de circulação e, por isso, se enquadra “no âmbito de aplicação dos Tratados”
• O direito de não discriminação abrange, hoje, situações muito diversificadas, por exemplo: Direito de
usar determinadas línguas num processo judicial, direito de receber prestações sociais, direito de usar
transportes gratuitamente…
• Poderá dizer-se que a regra é de que, em todas as situações o tratamento deve ser igual, havendo depois
algumas situações que são excepções a esta regra geral. Por exemplo: eleições para os órgãos de
soberania, acesso a “empregos na Administração pública”

• Excepções: O art. 24.º/2 da Directiva 38/2004 estabelece algumas situações às quais não se aplica o princípio
da proibição da discriminação (a excepção não se aplica a trabalhadores)
• Acesso a prestações sociais durante os primeiros 3 meses
• Apoio de subsistência aos cidadãos “à procura de emprego”
• Ajuda de subsistência para estudos, até se adquirir o direito de residência permanente
PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
EM RAZÃO DA NACIONALIDADE

• São proibidas quer as situações de discriminação directa, quer as situações de discriminação indirecta:
• Proibição de discriminação directa: o critério usado para fazer a distinção é o da nacionalidade
• Proibição de discriminação indirecta: o critério utilizado para fazer a distinção não é o da nacionalidade, mas favorece os nacionais do Estado
que o adoptou
• Exemplo: residência por um certo período no Estado, ou mesmo a simples exigência de residência

• As medidas discriminatórias podem, eventualmente, ser compatíveis com Direito da União Europeia, se cumprirem certos
critérios:
• Devem ser medidas objectivas e claras
• Devem visar um objectivo compatível com os Tratados
• Garantir a existência de uma “ligação” do indivíduo ao Estado que atribua uma prestação social é considerado um objectivo compatível
com os Tratados
• Devem ser proporcionais
• Na prática, os testes para verificar se uma medida discriminatória é admissível são os mesmos que para avaliar se um obstáculo à livre
circulação pode ser compatível com o Direito da União Europeia
PA RT I C I PA Ç Ã O N A S E L E I Ç Õ E S L O C A I S D O
E S TA D O D E R E S I D Ê N C I A , N A S ME S MA S
CO N D I Ç Õ E S Q U E O S N A C I O N A I S D E S S E E S TA D O

• 20.º/2/b TFUE + 22.º TFUE

• Directiva 94/ 80/ EC

• Conceito de autarquias locais: as unidades administrativas que constam do anexo e que, nos termos
da legislação de cada Estado membro, têm órgãos eleitos por sufrágio universal directo e dispõem
de competência para administrar, ao nível de base da organização política e administrativa e sob
responsabilidade própria, determinados assuntos locais

• Direito de sufrágio activo e passivo

• Direito de participação em condições de igualdade

• Possibilidade de os Estados reservarem certos cargos para os respectivos nacionais


PA RT I C I PA Ç Ã O N A S E L E I Ç Õ E S PA R A O PA R L A M E N TO
E U R O P E U N O E S TA D O D E R E S I D Ê N C I A

• O Parlamento Europeu é eleito por sufrágio universal e directo desde 1979


• Pelos nacionais dos Estados membros
• A inovação da cidadania europeia foi a consagração, nos Tratados, do direito de votar e ser eleito nas eleições para o
Parlamento Europeu do Estado de residência, em alternativa à participação no Estado de nacionalidade
• 223.º TFUE : possibilidade de adopção de regras uniformes
• Ainda não adoptadas
• Directiva 93/109 – com base no artigo 22.º TFUE
• Cada Estado membro continua a definir as regras que disciplinam estas eleições, no respeito por certos limites e
orientações estabelecidos no direito europeu
• Directiva 93/109
• Acto de 20 de setembro de 1976 relativo à eleição dos representantes ao Parlamento Europeu por sufrágio universal
direto, anexo à Decisão 76/787 alterado pela Decisão Decisão 2002/772/CE (Euratom) do Conselho e pela Decisão
(UE, Euratom) 2018/994 do Conselho
PA RT I C I PA Ç Ã O N A S E L E I Ç Õ E S PA R A O PA R L A M E N TO
E U R O P E U N O E S TA D O D E R E S I D Ê N C I A

1. O sufrágio deve ser universal, livre, directo, secreto e PROPORCIONAL

2. As eleições europeias realizam-se na primeira quinzena do mês de Junho

3. Incompatibilidade, a partir das eleições de 2004, do mandato de deputado ao Parlamento Europeu com o de
membro do Parlamento nacional, salvo derrogações aplicáveis à Irlanda e ao Reino Unido

4. Os Estados-Membros podem prever um limite mínimo para a atribuição de mandatos, mas não pode ser
superior a 5% dos votos expressos
D I R E I TO D E P R O T E C Ç Ã O D I P L O M Á T I C A E C O N S U L A R

• artigo 23.º TFUE, 46.º CDFUE

• Previsto desde o Tratado de Maastricht

• Actualmente, esta questão é disciplinada pela Directiva 2015/637

• Âmbito da assistência
• a) detenção ou pena ou medida privativa de liberdade;
• b) ser vítima de crime;
• c) acidente grave ou doença grave;
• d) morte;
• e) ajuda e repatriamento em caso de emergência;
• f) necessidade de títulos de viagem provisórios tal como previsto na Decisão 96/409/PESC
INICIATIVA DE CIDADANIA

Procedimento
• Organização prévia
• Registo da iniciativa
11.º/4 TUE + REGULAMENTO 788/2019
• Pedido
• Decisão pela Comissão
TRATADO DE LISBOA • Recolha de assinaturas
• Verificação das declarações de apoio
EXCLUSIVO DOS CIDADÃOS
EUROPEUS • Apresentação da iniciativa à Comissão
• Exame
DIREITO DE EXERCÍCIO COLECTIVO
• Reunião com a Comissão Europeia
• Apresentação da Iniciativa ao Parlamento Europeu
• Resposta da Comissão
CIDADANIA EUROPEIA E SITUAÇÕES
PURAMENTE INTERNAS

• O Direito da União Europeia, tradicionalmente, não se aplicava a situações


puramente internas (aquelas em que todos os elementos relevantes se ligam a
um único Estado membro)
• Em 2011, no acórdão Ruiz Zambrano, o TJ permitiu que se aplicasse a uma
situação puramente interna, porque, se assim não fosse, seria posto em causa o
“gozo efectivo do essencial dos direitos de cidadania”
• Um cidadão europeu, menor, seria obrigado a abandonar o território da União
Europeia
• Em acórdãos posteriores, o TJ tem assinalado que esta jurisprudência só se aplica em
situações muito excepcionais

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