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14 A Escola Clássica de Economia
14 A Escola Clássica de Economia
(1772-1823)
Ricardo escreve:
“Quando o valor relativo dos bens se altera, seria
interessante dispor de meios que indicassem quais os que
descem e quais os que sobem em valor real.”
RICARDO SE PERGUNTA:
Se é possível comparação dos bens com um padrão de valor
invariável, o qual não estaria sujeito a nenhuma das flutuações
que afetam os outros bens.
Para ele, não existe bem que possa oferecer esse padrão,
mesmo a moeda.
Mesmo se a produção de moeda metálica consumisse sempre
a mesma quantidade de trabalho, a moeda ainda assim estaria
sujeita a variações derivadas de mudanças salariais devido às
diferentes proporções de capital fixo e circulante...
“Necessárias não só para produzir como para se obterem os
outros bens cuja alteração de valor desejamos calcular.”
POR UMA MEDIDA INVARIÁVEL
DO VALOR...
O ouro não é produzido com a mesma composição
de capital dos outros bens, nem utiliza capital fixo
de igual duração e nem leva o mesmo tempo para
ser colocado no mercado.
Assim, a importante questão da necessidade de uma
régua inflexível para se mensurar valores,
independentemente da divisão do produto social,
fica em aberto. Ela só seria resolvida de modo
consistente muito tempo depois por Piero Sraffa, em
pleno século XX.
NOVAMENTE A RELAÇÃO ENTRE
SALÁRIO E
LUCRO
A seção VII discute algo mais sobre a natureza do
dinheiro e argumenta que como o valor dele é variável
não se pode estabelecer uma relação mecânica direta e
inversa entre variações de salários e de lucros.
A DISTRIBUIÇÃO DOS RENDIMENTOS
Estabelecida a teoria do valor, Ricardo se lança a
examinar diretamente a questão central de como os
rendimentos são distribuídos na sociedade, tema dos
capítulos seguintes.
O lucro é determinado como resíduo, e assim o problema
da distribuição é atacado como um problema de
determinação de salários e renda da terra.
A TEORIA DE SALÁRIOS DE RICARDO
Ricardo toma emprestado a teoria da população de Malthus
argumentando que o salário real de equilíbrio deve se manter
no nível mínimo de subsistência.
Não há muito o que comentar desta hipótese. Ela foi muito
contestada na época e era uma ideia algo solta. Ricardo falava
que esse mínimo de subsistência não era o mínimo fisiológico
para a sobrevivência, mas correspondia a um certo padrão de
vida das classes subalternas estipulado pelas condições
históricas locais, dependente de fatores ligados ao hábito e ao
costume.
Um aumento de salário acima deste mínimo
elevaria a população trabalhadora e reduziria os
lucros. O efeito seria duplamente perverso: ao
mesmo tempo em que cresce a oferta de trabalho
se reduz a demanda de mão de obra, o que só
pode resultar em queda de salário trazendo-o
para o nível inicial de subsistência.
A TEORIA DA RENDA DA TERRA
DE RICARDO
A teoria da renda da terra é mais sofisticada e merece uma
consideração detalhada.
Na hipótese de livre concorrência, onde a mesma taxa de lucro se
impõe em diferentes propriedades rurais, a renda da terra devia-se
à escassez de terras e à diferenciação das produtividades entre
elas. No capítulo 2 dos Princípios, Ricardo começa definindo a
renda da terra como
“A porção do produto da terra paga ao seu proprietário pelo uso
das forças originais e indestrutíveis do solo.”
Que não deve ser confundida com a parcela paga pela utilização
do capital empregado para melhorar a qualidade da terra.
As leis da renda e do lucro são muito diferentes.
Em um país dotado de terras disponíveis ricas e férteis não
seriam cobradas rendas da terra. A diferença de qualidades
das terras dá origem à renda, regulada pela intensidade
dessa diferença.
Supondo-se a existência de três faixas de terras, em que o
emprego da mesma quantidade de fatores produtivos, dá
ensejo á produção de 100, 90 e 80 unidades de cereais.
100 90 80
A renda da terra é o excedente acima dos custos básicos de
produção na terra de pior qualidade das que foram
ocupadas.
O produtor da terra marginal que produziu apenas 80
unidades vende o cereal a um preço que deve cobrir
salários e lucros normais.
Este mesmo preço regula o valor nas vendas do produto
das outras faixas mais internas.
A idéia de homogeneidade de salários, lucros e preços,
entre as diferentes terras, assegurada pela hipótese de livre
concorrência e intensa arbitragem entre mercados, leva ao
aparecimento de um resíduo excedente nas terras de
qualidade superior.
Tal resíduo dá origem ao pagamento da renda da terra,
que equivale exatamente ao seu valor in natura. Assim,
paga-se 20 de renda na faixa central e 10 na faixa
intermediária. A terra marginal não percebe renda.
RENDA POR DIFERENÇAS NA APLICAÇÃO
DO CAPITAL
As diferenças entre as forças produtivas da terra também
regulam a renda no caso em que a mesma faixa de terra é
usada em quantidades cada vez maiores de capital.
Indo-se de k a 2k unidades de capital aplicado, o produto
aumenta 85% (na primeira unidade de capital aumentara
100%); paga-se uma renda de 15% do produto associado ao
primeiro lote de capital.
O retornos decrescentes nas aplicações de capital fazem com
que terras com cultivo menos intensivo, com maior retorno
por unidade de capital, paguem uma renda pelo critério
explicitado anteriormente.
A RENDA É COMPONENTE E NÃO
RESÍDUO
Em qualquer caso, o fenômeno que se observa é
o de que com terras de pior qualidade ou de uso
mais intensivo o produto se torna mais caro, já
que a produtividade dos fatores diminui. É a
elevação de preço com a progressão no uso da
terra que resulta no pagamento da renda da terra.
“O trigo não encarece por causa do pagamento de
renda, mas, ao contrário, a renda é paga porque o trigo
torna-se mais caro.”
O preço é fornecido pela produtividade da última porção
do capital. Depende, portanto, da produtividade do
capital.
A renda não é componente do preços das mercadorias
como em Smith. Preços dependem apenas de salários e
lucros.
COMO EVOLUEM OS RENDIMENTOS?
A distribuição da renda com o processo de acumulação de
capital pode ser vista na dimensão temporal a partir da
articulação das teorias básicas de salário e renda da terra. À
medida que novas inversões de capital são feitas, os preço
dos alimentos tende a crescer pela queda na produtividade
dos fatores.
Com isso, os salários por unidade de capital crescem, mesmo
que os salários reais permaneçam constantes no nível de
subsistência. A renda, também medida em unidade de capital,
cresce acompanhando o volume ampliado de excedentes
nas condições inframarginais nas quais o capital é mais
produtivo.
Jáque os lucros são obtidos como resíduo, dada
a diferença entre o produto total e os custos em
salários e renda da terra, os lucros por unidade
de capital decrescem não apenas porque parcelas
dos custos estão se ampliando, mas também
porque o produto por unidade de capital é
decrescente (pela fertilidade inferior das terras
marginais e pela lei da produtividade
marginal decrescente no cultivo intensivo).
O GRÁFICO ABAIXO ILUSTRA ESSA
IDÉIA
Produto/K
Variável/K .................................................
............................................................................
..............................................................................................
......................................................................................................
..................................................................................................
Lucros/K
.............................................................................
................
.......................................................................................
.............................................................................. (Salário + Renda)/K
......................................................................
........................................................
...........................................
Salário/K
Capital K
VISÃO PESSIMISTA:
O lucro por unidade de capital tenderia a zero com o avanço
na acumulação de capital. A taxa de lucro agrícola
determinaria a taxa geral de lucro, por arbitragem, e sendo
assim, também haveria a queda na taxa de lucro na indústria.
A queda do lucro leva ao estado estacionário, no qual a
economia deixaria de crescer (K constante).
Tal situação poderia ser adiada pelas inovações tecnológicas
na agricultura ou pela abertura ao comércio internacional que
baratearia os preços dos cereais, argumento teórico também
usado por Ricardo contra a Lei dos Cereais.
Em suma, há uma visão pessimista no modelo de Ricardo, mas
o resultado final pode-se postergar.
MODELO:
Passando ao largo das questões monetárias e interpretando
Ricardo como um modelo de um único pro- duto, suas
conclusões podem ser facilmente formalizadas.
Começando pela teoria do valor. Sendo w o salário e T a
quantidade de trabalho incorporado, ambos em unidade de
tempo, e sendo r a taxa de lucros, o valor v de um bem é a
soma do custo da produção direta mais o custo do capital