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Letras – 3° período
No ângulo que esta asa fazia com o resto da casa, havia uma coisa
que chamaremos jardim, e de fato era uma imitação graciosa de toda a
natureza rica, vigorosa e esplêndida, que a vista abraçava do alto do
rochedo.
“Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por
uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe
delgado e esbelto como um junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre, brilhava com reflexos dourados;os
cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos
para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem modelada e guarnecida
de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da
inteligência.
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas
plumas matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham rogar com as pontas negras o
pescoço flexível.
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma axorca
de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida.
Segurava o arco e as flechas com a mão direita calda, e com a esquerda mantinha
verticalmente diante de si um longo forcado de pau enegrecido pelo fogo.” (Pág 28)
“Com a mesma rapidez com que formulou este pensamento, tomou na cinta uma flecha
pequena e delgada como espinho de ouriço, e esticou a corda do grande arco, que excedia
de um terço à sua altura.” (Pág 30)
“Suspendeu-se a uma das palmeiras que servia de esteio à choça, e por um desses
movimentos ágeis que lhe eram tão naturais, de um salto segurou-se ao galho de um óleo
gigante que, elevando-se sobre a encosta fronteira, deitava alguns ramos do lado da casa.
Durante um momento o índio pairou sobre o abismo, balançando-se no galho fraco que o
sustinha; depois equilibrou-se e continuou essa viagem aérea com a mesma segurança e a
mesma firmeza com que um velho marinheiro caminha sobre as gáveas e sobre as
enxárcias.
Com uma ligeireza extraordinária ganhou o outro lado da árvore e, escondido pela
folhagem, aproximou-se até um galho que ficava fronteiro das janelas de Cecília cerca de
uma braça. [...]” (Pág 50)
“Por muito tempo seguiu as pegadas da índia pelo meio do mato com uma rapidez e uma
certeza incríveis para quem não conhecer a facilidade com que os selvagens percebem os
mais fracos vestígios que deixam as pisadas de um animal qualquer.” (Pág 74)
SENTIMENTO NATIVISTA
“Depois, vendo que esta expedição não se realizava, e que seu
braço e sua coragem de nada valiam ao rei de Portugal, jurou que
ao menos lhe guardaria fidelidade até a morte. Tomou os seus
penates, o seu brasão, as suas armas, a sua família, e foi
estabelecer-se naquela sesmaria que lhe concedera Mem de Sá.
Aí, de pé sobre a eminência em que ia assentar o seu novo solar,
D. Antônio de Mariz, erguendo o vulto direito, e lançando um olhar
sobranceiro pelos vastos horizontes que abriam em torno,
exclamou:
— Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um coração
leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra que me foi
dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço, nesta terra livre,
tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos. Eu o juro!”
(Pág 19)