Você está na página 1de 6

Sistemas tableaux para lógica proposicional e para lógica de

primeira ordem
Lógica Aplicada
( Joel Luis Carbonera )

Em teoria da prova, os tableaux semânticos consistem em um procedimento de prova para fórmulas


em lógica proposicional, de primeira ordem, e derivadas. É considerado um método analítico
porque é fundamentado na decomposição/análise das fórmulas em sub fórmulas elementares,
enquanto em métodos sintéticos (como o axiomático) busca-se sintetizar uma prova a partir de
provas anteriores. Além disso, é um método que pode ser transformado facilmente em algorítmo,
por isso, mesmo estando sujeito à indecidibilidade da lógica de primeira ordem, é utilizado em
prova automática de teoremas.
A motivação dos sistemas tableaux reside na constatação de que toda a conjunção na forma
p∧¬ p é insatisfazível por qualquer estrutura. E que, além disso, uma fórmula na forma ∨ é
insatisfazível se e somente se α e β o forem individualmente. Assim, para verificar se uma
determinada fórmula ψ é insatisfazível, é possível converter ψ em sua forma normal disjuntiva e
verificar cada componente conjuntivo. Se cada um dos componentes conjuntivos for insatisfazível
(isto é, contém uma situação do tipo ) p∧¬ p então ψ é insatisfazível. Estas constatações
fundamentam os sistemas tableaux enquanto sistemas de refutação. Desta forma, para provar a
fórmula X, inicia-se com ¬X, que é expandido, decompondo as fórmulas em sub fórmulas, através
de regras de expansão, buscando-se produzir uma contradição. Deste modo, prova-se um teorema
pelo insucesso na tentativa de construção sistemática de um modelo para a sua negação. O que equivale
a dizer que pode-se derivar ψ de {Δ}, onde Δ é um conjunto de fórmulas tomadas como premissas,
se {Δ, ¬ψ} for insatisfazível.
Sistemas tableaux semânticos estão associados à forma normal disjuntiva (FND). Ou seja, os
tableaux operam implicitamente pautados pela normalização de uma fórmula lógica na forma de
uma disjunção de cláusulas conjuntivas. Onde, sendo sendo uma fórmula lógica f, f=FND ↔ f=uma
disjunção de uma ou mais conjunções de um ou mais literais. Mas isto não significa que fórmulas
não normalizadas não possam ser provadas pelos sistemas tableaux. As fórmulas são convertidas
implicitamente a FND utilizando equivalências lógicas (como as leis de De Morgan).
O processo de decomposição/análise de fórmulas pode ser representado como uma estrutura arbórea
construída a partir da aplicação de regras de expansão. Esta estrutura é formada por nodos e ramos,
onde cada nodo é rotulado com uma fórmula. e cada ramo representa a conjunção das fórmulas que
aparecem nele. Assim, a árvore como um todo representaria a disjunção dos ramos.

Regras de expansão para lógica proposicional:

Regras do tipo A:

Regras do tipo B:

A idéia fundamental é decompor uma conjunção em 2 sub-fórmulas elementares, adicionado ambas


ao final do mesmo ramo (da conjunção), utilizando a regra do tipo A. Enquanto, utilizando a regra
do tipo B, uma disjunção é decomposta em suas 2 sub-fórmulas constituintes, gerando dois novos
ramos na árvore, um para cada sub-fórmula. Com isto em mente, representa-se resumidamente essas
regras da seguinte forma:

Visando provar um teorema, é importante aplicar as regras de expansão, tendo em mente as


seguintes noções:

• Um ramo φ de um tableaux é dito estar fechado se contém ψ e ¬ψ.


• Um tableaux β é dito estar fechado, se todos os ramos constituintes estão fechados.
Exemplos:

Exemplo 1:

O tableau é fechado, pois seu único ramo é fechado pelas fórmulas 2 e 5. Logo, o teorema é
provado pelo método dos tableaux.

Exemplo 2:

O tableau é fechado, pois seus dois ramos são fechados pelas fórmulas 4,7 e 5,7. Logo, o teorema é
provado pelo método dos tableaux.

Sistemas tableaux para lógica de primeira ordem:

O sistema de tableaux para lógica de primeira ordem pode ser compreendido como uma extensão do
sistema para lógica proposicional. Esta extensão, necessária para tratar as quantificações, se
apresenta na forma de duas novas regras de expansão.
Para lidar com a lógica de primeira ordem, existem duas abordagens de tableaux: sem unificação e
com unificação.
Tableaux para lógica de primeira ordem sem unificação:

Reras de expansão para lógica de primeira ordem

Regra do tipo C:

Regra do tipo D:

A regra para quantificadores universais é uma regra não-determinística, porque não especifica que
termo instanciar. Além disso, enquanto as outras regras são aplicadas apenas ma vez por fórmula,
esta pode exigir múltiplas aplicações. Assim, é importante notar que fechar um tableau envolve uma
política adequada de aplicação das regras, visando, desta forma, evitar a construção de tableaux que
crescem infinitamente, sem nunca fechar.

Tableaux para lógica de primeira ordem com unificação:

Visam contornar o problema do não-determinismo apresentado pelos tableaux sem unificação. O


principal problema dos tableaux sem unificação é como escolher o termo t adequado na aplicação
da regra do quantificador universal. Qualquer termo pode ser escolhido, mas nem todos são úteis
para fechar o tableau.
Para compreender melhor como a unificação contorna este problema, podemos supor 2 termos, t e
u, cada um contendo variáveis. A idéia fundamental é encontrar uma substituição σ, tal que t σ = u
σ, onde σ é chamada de unificador para t e u. Determinar σ, envolve determinar o conjunto de
soluções para a equação t=u.
Visando encontrar unificações, utiliza-se um artifício que consiste em “atrasar” a escolha do termo
substituto para o momento em que o resultado da aplicação da regra permita fechar pelo menos um
ramo do tableau. Isto pode ser obtido gerando-se uma variável em vez de um termo, na aplicação da
regra para quantificadores universais, De modo que  x  x  gera γ(x`) permitindo substituições de
x` por um termo adequado, no momento adequado, visando o fechamento dos ramos abertos que
dependem do valor de x`. Desta forma, a regra para quantificadores universais na abordagem com
unificação, tem a forma:

Para exemplificar, pode ser provado insatisfazível, primeiramente gerando-


se P(x`), em seguida, substitui-se x` por a . Desta forma, onde temos P(x`), substitui-se por P(a).
Obtendo P(a) e ¬P(a) no mesmo ramo, este pode ser fechado. É importante notar que esta regra
insere variáveis livres no tableau. Estas variáveis são implicitamente consideradas universalmente
quantificadas. Cabe ressaltar também que, com a aplicação de regra, as substituições devem ser
propagadas para todo o tableau. Ou seja, se alguma variável x` for substituída por um termo t, todas
as variáveis x` do tabelau devem ser substituídas pelo mesmo termo t ao mesmo tempo. De modo
que cada variável x` pode ser considerada um termo que não foi decidido ainda.
Os quantificadores existenciais, por sua vez, estão associados à Skolemização. Ao contrário do que
ocorre no tableau sem unificação, termos de Skolem podem não ser simples constantes. De modo

que se uma fórmula estiver dentro do escopo de um quantificador universal, o termo de


Skolem deixa de ser uma simples constante, definindo-se como um termo feito por um novo
símbolo de função e as variáveis livres do ramo:

A suposição de que variáveis livres são universalmente quantificadas é o que faz da aplicação de
um unificador mais geral uma regra correta: y(x`) significa que y é verdadeiro para cada valor
possível de x`, assim y(t) é verdadeiro, no caso da substituição de x` por t ocorrer devido ao
unificador geral.
Ao contrário do que ocorre no tableaux sem unificação, a aplicação de substituições pode vir a
modificar a parte do tableau que já existe. Neste sentido, quando a aplicação de uma substituição
permite fechar pelo menos um ramo, pode também acarretar a impossibilidade de fachar os outros
ramos. Para contornar esta situação, atrasa-se a instanciação, de modo que nenhuma substituição
seja aplicada até que se encontre uma que feche todos os ramos ao mesmo tempo (em soluções
computacionais, isto significa manter todo o tableau em memória até esta instanciação).

Exemplo:

Referências

[SMULLYAN 1968] - Smullyan, Raymond M.. First-Order Logic. New York. City University of
New York. Stringer-Verlag. 1968
[FITTING 1996] - Fitting, M.. First-Order Logic and Automated Theorem Proving. Graduate Texts
in Computer Science. Springer-Verlag, 1990. 2nd edition 1996.

Você também pode gostar