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Em Sete Partes: Creio sem hesitações que há mais O ouvinte contrafeito aqui bateu no peito,

naturezas invisíveis que visíveis no universo. Mas Mas é forçado a ouvir;


quem nos descreverá a família de todas elas, assim E sua fala prossegue o Marinheiro antigo
como os graus e as relações e as características e as De olhar a refulgir.
funções de cada uma? O que fazem? Que lugares "E eis que colheu os navegantes a borrasca,
habitam? A mente humana sempre desejou o Tirânica e violenta;
conhecimento dessas coisas, mas nunca o alcançou. Veio nas asas da surpresa, e nosso barco
Enquanto isso, é saudável, não nego, contemplar - Para o sul afugenta.
seja em espírito, seja num quadro, - a imagem de um Pendiam os seus mastros, mergulhava a proa...
mundo maior e melhor, para que o intelecto, Como quem, a dar gritos e golpes cm perigo,
acostumado às minúcias da vida atual, não se encolha Persegue e pisa a sombra do inimigo,
demasiado e não mergulhe por inteiro nas cogitações Curva à frente a cabeça,
triviais. Mas, ao mesmo tempo, devemos estar atentos O barco assim se evade; e ruge a tempestade
à realidade e preservar o senso de proporção, para Que ao sul nos arremessa.
que possamos distinguir as coisas certas das incertas, E de repente nos envolvem névoa e neve,
o dia da noite. Com um frio assassino;
(T. Burnett, Archaeol. Phil, pág. 68) E, alto de um mastro ao vê-lo, flutuava gelo
De um verde esmeraldino.
Argumento: Como um Navio, tendo atravessado o E, entre os blocos errantes, penhas alvejantes
Equador, foi impelido por tempestades à fria Terra a Dão espectral fulgor;
caminho do Pólo Sul; e como de lá fez seu trajeto Homens não vemos e animais que conhecemos...
para a Latitude tropical do Grande Oceano Pacífico; e Só há gelo ao redor.
das coisas estranhas que aconteceram; e de que modo O gelo estava aqui, o gelo estava ali,
o Velho Marinheiro retornou a seu próprio País. Só gelo no lugar;
E rangia e rosnava, e rugia e ululava,
- Os sons de um desmaiar.
A Balada do Velho Marinheiro Enfim passou por nós, bem no alto, um Albatroz,
por Samuel Taylor Coleridge Vindo da cerração;
Em nome do Senhor nós o saudamos, como
1 se fosse outro cristão.
Comeu o que jamais comera, e lá na altura
É um velho Marinheiro, Volteava sobranceiro;
E detém um, de três que vê: Rompeu-se o gelo então co'o estrondo de um trovão...
- "Por tua barba branca e cintilante olhar, Passou o timoneiro!
Tu me deténs por quê? E do sul um bom vento nos soprava alento;
Agora o noivo escancarou as suas portas, O Albatroz nos seguia,
E eu sou seu familiar. E à nossa saudação, por fome ou diversão,
O comensal se apresta, principia a festa; Buscava todo dia!
Ouve o alegre exultar." Em névoa ou nuvem vem, no mastro ou no ovém,
Com a escarnada mão ele o detém ainda; Por vésperas nove pousar;
"Houve um navio..."lhe disse. Enquanto a noite inteira, em bruma alva e ligeira,
"Solta-me! Solta-me barbado vagabundo!" Luzia o alvo luar."
Deixou que a mão caísse. "Velho Marujo! Deus te salve dos demônios
Com o olho cintilante ele o detém agora... Que de ti vão empós...
E, quieto, o Convidado Que olhar! Que te molesta?" Com a minha besta
Fica a escutar, como criança de três anos, Eu matei o Albatroz.
Pelo outro dominado.
O convidado vai sentar-se numa pedra: 2
Vê-se forçado a ouvir;
E sua fala prossegue o Marinheiro antigo Pela direita agora o Sol se levantava:
De olhar a refulgir. Do mar a se elevar
"O navio foi saudado, o porto evacuado; Ainda em meio à bruma; e adiante, à nossa esquerda,
Equipagem radiante, Deitava-se no mar.
Passamos sob a igreja, sob o promontório, E do sul o bom vento nos soprava alento...
Sob o farol adiante. Mas ave não se via
À nossa esquerda então o sol se levantava, Que à nossa saudação, por fome ou diversão,
Do mar a se elevar; Acorresse algum dia!
Era um claro esplendor... Depois ia se pôr E meu ato infernal traria para todos
À direita no mar. A desgraça improvisa,
Sempre, sempre mais alto, até que sobre o mastro Pois, para toda a nave, eu fora a morte da ave
Pairava ao meio-dia..." Que faz soprar a brisa.
O ouvinte contrafeito aqui bateu no peito: Glorioso o Sol surgiu, nem rubro nem sombrio,
O alto fagote ouvia. Tal qual fonte divina;
Agora a noiva já ingressara no salão, E, para toda a nave, eu fora a morte da ave
Rubor rosa tem; Que traz névoa e neblina.
A inclinar as cabeças, menestréis alegres Justo era, em seu pensar, tal pássaro matar
À sua frente vêm. Que traz névoa e neblina.
A branda brisa arfava, a espuma alva voava, Vede! Vede! (Gritei) - Não mais vacila! Vem
E o sulco solto a esfiar... Salvar-nos certamente;
Jamais humana voz soara antes de nós Navega firme com a quilha levantada,
Naquele mudo mar. Sem vento, sem corrente!
E o vento cede, as velas cedem... Quem iria Agora o oceano no ocidente era um incêndio:
Tristeza mais triste encontrar? A tarde no arrebol!
E nós falávamos tão-só para romper Quase pousara sobre o oceano no ocidente
O silêncio do mar! Largo e luzente o Sol;
E num ardente céu de cobre, ao meio dia, Foi quando aquela forma estranha se interpôs
Em sangue o sol flutua, Justo entre nós e o Sol.
Pairando bem em cima do alto mastro, E com barras o Sol logo ficou listrado
Não maior do que a Lua. (Ó Mãe do Céu, socorre o crente!);
Dia após dia, o barco ali, dia após dia, Parecia espiar por grades de masmorra,
Sem sopro, ali, cravado; Com rosto enorme e ardente.
Ocioso qual uma pintada embarcação Ai de mim! (eu pensei, e o peito martelava)
Num oceano pintado. O espaço, como ganha!
Água, água, quanta água em toda a parte, Seriam suas velas o que ao sol cintila
E a madeira a encolher; Como teias de aranha?
Água, água, quanta água em toda a parte, O arcabouço talvez - que encerra a luz do Sol
Sem gota que beber. Em grades de madeira?
O próprio abismo apodrecia... Como, ó Cristo, Seria essa Mulher sua tripulação?
Aquilo foi se dar? Ela seria a MORTE? Ou ambas que lá estão?
Coisas viscosas e com pernas rastejavam A MORTE é a companheira?
Sobre o viscoso mar. Seus lábios eram rubros; seu olhar, lascivo;
Sant'Elmo urdia à noite um coriscar de açoite, Sua trança, auri-amarela;
Turbilhão e tropel; Sua pele, como a lepra, era de um branco forte;
A água - um óleo de bruxa - verde, azul e branca Ela era o próprio Pesadelo VIDA-EM-MORTE,
Ardia sob o céu. Que o sangue humano gela.
E alguns em sonhos garantiam ver o Espírito Chegou a nua carcassa; e o par, a jogar dados,
Que atormentar nos deve; fazia desafios;
Nove braças ao fundo, havia nos seguido "É o fim do jogo!" a Mulher diz, "Ganhei! Ganhei!"
Do lar de névoa e neve. E dá três assobios.
O calor e a aridez tinham secado a língua, A orla do sol mergulha; fogem as estrelas:
Que até a raiz afligem; É escuridão total.
E não podíamos falar, como se a nós Num sussurrar distante, sobre o mar dispara
Sufocasse a fuligem. O navio espectral.
Ah! Então - ai de mim! - que olhares mais terríveis Tudo ao redor o ouvido escuta o e olhar perpassa!
Tive de velho e moço! Meu sangue vital sorve, como numa taça,
Como cruz para o algoz, ataram o Albatroz Em meu peito o temor!
Em torno a meu pescoço. Apagam-se as estrelas, densa é a escuridão;
Lívida a face do piloto à luz junto ao timão!
3 Nas velas o orvalho é um suor...
Até que a Lua sobe ao longe no oriente,
Um tempo de cansaço! A seca na garganta, Nos cornos envolvendo estrela refulgente
No olhar vidrado um véu. Junto à porta inferior.
Cansaço! E que luzir em cada olhar vidrado, Um por um, pela Lua que os astros acuam,
Cansado atrás de um véu. Sem tempo de gemer ou suspirar,
Quando eis que de repente, os olhos no poente, Todos viram-me o rosto, com horrenda angústia
Eu vi algo no céu. E maldição no olhar.
De início parecia uma pequena mancha, Quatro vezes cinquenta a soma de homens vivos
E depois uma bruma! Que, sem suspiro e sem gemido algum,
Avançava e avançava, até que certa forma Com um baque pesado, quais massas inertes,
Ele tomou, em suma. Caíram um por um.
Uma mancha, uma bruma, certa forma, em suma! Suas almas voaram... para a danação,
E sempre, sempre avança... Ou para a eterna paz.
Como a esquivar-se de um espírito marinho, E essas almas silvavam, ao passar por mim,
Mergulha e vira e dança. Qual minha seta o faz.
Com garganta insaciada, a boca negra assada
Riso e pranto cancela; 4
Nessa aridez, ante a equipagem muda e langue,
O meu braço mordi, suguei o próprio sangue, "Tenho medo de ti, ó velho Marinheiro!
E gritei: Uma vela! De tua mão escarnada!
Com a garganta insaciada e boca negra assada, E tu és alto, e esguio, e escuro como a areia
Atônitos parecem; Dos mares estriada.
Graças a Deus! exclamam; riem, riem bastante... Tenho medo de ti, do olhar teu cintilante,
E todos tomam fôlego naquele instante, E da escarnada, escura mão..."
Como se eles bebessem. Convidado Nupcial, não temas; este corpo
Não tombou. Ainda não! Foi ela quem mandou este suave sono
Ah, sozinho, sozinho, inteiramente só, Que desceu em minh'alma.
Num largo, largo mar! Sonhei que os baldes, tanto tempo no seu ócio
E nunca nenhum santo se apiedou Ditoso no convés,
De minh'alma a agoniar. Encheram-se de orvalho; mas, quando acordei,
Uma tripulação tão grande - e tão bonita! Era chuva ao invés.
E toda ali morreu; Molhadas minhas vestes, úmidos meus lábios,
E milhares, milhares de viscosos seres Minha garganta, fria;
Vivendo... e também eu. Por certo havia bebido nos meus sonhos,
Lancei os olhos sobre o oceano putrescente - E o corpo ainda bebia.
E os vazios desolados; Eu então me movi, mas não sentia os membros:
Ao convés putrescente desviei os olhos - Tão leve estava... Quase
E os mortos lá deitados. Imaginei que no meu sono havia morrido,
Olhei para o alto e quis orar, mas não jorrou E era espírito em êxtase.
Nem uma reza só; Mas logo ouvi um vento que rugia ao longe -
Um sussurro malvado fez que o coração Um rumor afastado;
Secasse como pó. Mas só este som já sacudiu todo o velame,
Cerrando as pálpebras, mantive-as comprimidas; Ressequido e esgarçado.
Como veias os glóbulos pulsavam, A vida irrompe no ar! Cem flâmulas-de-flama
Enquanto o mar e o céu, enquanto o céu e o mar Coriscam sobre os mastros,
Jaziam como um peso em meu cansado olhar... Indo e voltando, à frente e atrás, rapidamente;
E os mortos me rodeavam. E dentro e fora, para trás e para frente,
Os seus membros, nem fétidos nem pútridos, Dançam em meio aos astros.
Destilavam suor gelado; E o vento ao vir ruge mais alto; qual carriça,
Os seus olhares - os olhares que me olharam - Suspiram velas, cordas;
Jamais haviam passado. E a chuva se despeja de uma nuvem negra,
Mesmo à alma superior a maldição de um órfão Com a Lua em suas bordas.
Pode danar com seu poder; Inda lá estava a Lua, quando negra e espessa
Mais horrível, porém, é quando o olhar de um morto A nuvem se partiu:
A nós vem maldizer! Como de alto penhasco tomba a catarata,
Sete dias e noites vi tal maldição, O relâmpago veio numa linha exata,
E não podia morrer. Um fundo e largo rio.
A Lua viajante alçava-se no céu, Nunca atingiu o barco o rumoroso vento -
Nenhum lugar seu lar; E o barco era impelido!
Doce subia, acompanhada de uma estrela, Por sob a Lua e o coriscar, os mortos deram...
Ou duas, a brilhar... Sim, deram um gemido.
Qual geada de abril, zombavam os seus raios Gemeram, se moveram, e depois se ergueram,
Do mormacento oceano; Sem falar, sem olhar;
Mas, onde a sombra imensa do navio jazia, Mesmo em sonho, era estranho ver tanto homem
Ainda a água do mar enfeitiçada ardia, morto
Um rubro imoto e insano. Do chão se levantar.
Além da sombra do navio, serpentes d'água Manobra o Timoneiro, a nave se desloca,
Vejo em minha agonia: E sem nenhuma aragem;
Movem-se em trilhas de candura que fulgura, Os marujos se põem a trabalhar nas cordas,
E, quando se erguem, chispam lâminas de alvura E tal como antes agem;
Das luzes de magia. Instrumentos sem vida tornam-se seus membros...
Dentro da sombra do navio, as ricas vestes, Que tétrica equipagem!
Suas vestes ricas vejo:
De azul, negro-veludo, ou verde que rebrilha, Postado frente a mim, puxando a mesma corda,
Nadam e se enovelam, quando cada trilha Era-me companhia,
De áurea chama é um lampejo. Joelho com joelho, o corpo de um sobrinho;
Felizes criaturas! A beleza vossa Mas nada me dizia.
Não há quem represente... "Tenho medo de ti, ó velho Marinheiro!"
Uma fonte de amor jorrou deste meu peito. Por que, convidado, te espantas?
E as bendisse inconsciente. Em vez de seus espíritos atormentados,
Um bom santo de mim por certo se apiedara, Ora os cadáveres estavam animados
E as bendisse inconsciente. Por legião de almas santas:
Naquele mesmo instante orar eu já podia; Pois quando amanheceu, os braços de seus caídos,
E o albatroz, meu colar, Ao mastro envolve o bando;
Se desprendeu de meu pescoço, e mergulhou Das bocas se elevaram lentos sons suaves,
Como chumbo no mar. De seus corpos passando.
Voava à volta, à volta, cada som suave
5 E rumo ao Sol subia;
E lento eles tornavam - um por uma agora,
Ó Sono! Ó Sono, que é de pólo a pólo amado, Agora em harmonia.
Suave essência, e calma! Ouvia às vezes, como que a chover da altura,
Nós devemos louvar Maria no seu trono! A voz da cotovia;
Às vezes toda a passarada em seu gorjear, Em bonança e procela.
Gorjear que parecia encher o céu e o mar Eis ali, meu irmão! Quanta benevolência
Com doce melodia! Lhe transmite o olhar dela."
E ora lembrava alguma flauta solitária,
Ora instrumentos agrupados; Primeira Voz
Mais tarde se tornava um canto angelical,
Que os céus ouvem calados. "Porém o que, sem vento ou vaga, a esse navio
Cessou... Mas no velame, até o meio-dia, Ir tão depressa faz?"
segue um murmúrio ameno,
Igual ao do regato no frondoso junho, Segunda Voz
Que, oculto no terreno,
Embala a noite inteira os bosques a dormir, "Fendem-se à frente os ares para a sua passagem,
Com seu canto sereno. E fecham-se por trás.
Até o meio-dia o navegar foi calmo... Mas não nos retardemos! Cada vez mais alto,
Mas sem nenhuma brisa: Foge, irmão - como eu fujo!
impelido por baixo, lenta e livremente Sempre mais devagar irá navio andar,
Nosso navio desliza. Despertado o Marujo."
Nove braças ao fundo, sob a sua quilha, Voltei a mim, e, como quando o tempo é calmo,
Do lar de névoa e neve Seguia o barco avante;
O Espírito se esgueira; é quem empurra o barco Plácida a noite, era alta a lua; e vi reunidos
Num movimento leve. Os mortos nesse instante.
O canto do velame pára ao meio-dia, Todos de pé lá no convés, que deveria
E o navio parar deve. Ossário se chamar;
A pico sobre o mastro, o Sol o havia cravado Todos em mim fixavam seu olhar de pedra,
Naquele oceano manso; Que brilhava ao luar.
Mas num minuto ele voltou a se mover, Jamais havia passado a angústia de sua morte -
Num breve e duro avanço... A dor, a maldição;
À frente e atrás, não mais que o meio de seu casco, Meus olhos de seus olhos não podia tirar
Num breve e duro avanço. E erguer em oração.
Então, como um cavalo escarvador que é solto, E eis que me é dado ver de novo o oceano verde...
Saltou inesperado; Rompera-se a magia;
Fez que o sangue à cabeça me subisse, Perscrutei o horizonte, mas eu vi bem pouco
E caí desmaiado. Do que ver se podia...
Quanto tempo durou o desfalecimento Era eu como quem vai, com medo e com temor,
Eu não sei afirmar; Por deserto lugar,
Mas, antes de vivente vida novamente, E, tendo olhado à pressa para trás, prossegue
Eu pude ouvir e discernir em minha mente Sem nunca mais olhar
Um par de vozes no ar. Porque bem sabe que um demônio assustador
"Este?" disse a primeira, "O homem então é este? Pisa em seu calcanhar.
Por Cristo, que morreu por nós! Entanto, logo sopra um vento sobre mim,
Sua mão funesta é que prostrou com uma besta Sem moção, sem barulho;
O inocente Albatroz. O seu caminho não passava pelo oceano,
O Espírito, que habita inteiramente só Na sombra ou no marulho.
O lar de névoa e neve, Agitou-me os cabelos, abanou-me a face,
Amava aquele pássaro que amava este homem Como a aura faz na primavera...
Que o mataria em breve." Mesmo a mesclar-se estranhamente aos meus
A segunda, entretanto, era uma voz mais doce, temores,
Doce quanto o maná; De boas vindas era.
Disse ela: "Este homem fez bastante penitência, Veloz, veloz voava a nave - suavemente
E muito mais fará". Velejando porém;
E branda, branda a brisa para mim soprava -
6 Para mim, mais ninguém.
Ó sonho jubiloso! É o topo do farol
Primeira Voz O que avisto afinal?
Aquilo é promontório? Aquilo é mesmo a igreja?
"Mas diz-me, diz-me! Narra mais, e continua É o meu país natal?
Teu doce replicar... Cruzando a barra, entrávamos no porto; e, em pranto,
Por que veleja tão veloz esse navio? A Deus orei assim:
Que está fazendo o mar?" Senhor, desperta a mim agora, ou então dá-me...
Dá-me o sono sem fim!
Segunda Voz A baía brilhava como um claro espelho,
Tão lisa a face sua!
"A mar, imóvel como o escravo ante o senhor, E por sobre a baía o luar se distendia,
Sopro algum tumultua; E o reflexo da Lua.
Seu grande olho brilhante imerso no silêncio Cintilava o penhasco - e assim a igreja no alto,
Volta ele para a Lua Que é seu coroamento;
Para o caminho descobrir, pois ela o guia E o plenilúnio mergulhava na quietude
O imóvel catavento. O bote veio e se encostou junto ao navio:
E toda aquela alvura à muda luz fulgura; Eu não falei nem me movi.
E da luz vêm por fim O bote veio e se encostou sob o navio;
Vultos variados, que eram sombras, ostentando E um som súbito ouvi.
As cores do carmim. N'água um surdo rumor, sempre mais alto e horrível,
As sombras de carmim se apressam rumo à proa, O abismo todo inunda;
E se postam ali; Ele corta a baía, ele alcança o navio,
Nesse instante voltei os olhos ao convés... Que como chumbo afunda.
Cristo meu! O que vi! Aturdido deixou-me o som alto e medonho,
Cada corpo, estirado... exânime e estirado; Que sacudiu o oceano e o céu;
E - pela santa cruz! Como afogado há sete dias (eu suponho)
Por sobre cada corpo havia um serafim, Boiou o corpo meu;
Um homem todo luz. Porém, com o Piloto, rápido qual sonho,
Com as mãos acenando, o seráfico bando No bote vejo-me eu.
Era visão superna! No redemoinho do naufrágio o bote gira
Sinaliza para a terra em seu fulgor, Ao redor, ao redor;
Cada um, uma lanterna. Depois, silêncio... Exceto o monte, que defronte
E o seráfico bando as mãos ia acenando Repetia o fragor.
Em silêncio perfeito... Movi meus lábios... O Piloto deu um grito
Em silêncio; mas ó! caía este silêncio E tombou desmaiado;
Qual música em meu peito. O Ermitão santo ergueu os olhos e rezou,
Nisto, o bater de remos e o brado do Piloto Ali mesmo, a seu lado.
Fazem que me alvorote... Tomei os remos: o ajudante do Piloto
Fui forçado a lançar os olhos para o mar, Se pôs a delirar;
E vi surgir um bote. Longo tempo arrastou ruidosa uma risada,
O Piloto, a seguir - com o ajudante seu - Os olhos a rolar;
Ouvi se aproximar; "Ha! Ha!" disse ao cabo, "agora sei que o Diabo
Era alegria - ó Deus do Céu! - que nem os mortos Também sabe remar."
Podiam arruinar. E por fim eis-me ali, pisando em terra firme
E lá vi um terceiro: era o Ermitão piedoso! Na própria terra minha!
Escutei sua voz, Quando o Ermitão depois abandonou o bote,
A alta voz com que entoa os seus hinos de loa De pé mal se sustinha.
Que nos bosques compôs. "Absolve-me, santo homem!" E o sinal da cruz
Ela há de me absolver, ele há de me lavar O Eremita me fez.
Do sangue do Albatroz. "Diz me depressa," inquiriu ele, "diz, te peço:
Que espécie de homem és?"
7 Esta carcassa desde então foi torturada
Por atroz agonia;
Vive o Ermitão piedoso nesse bosque anoso E apenas quando eu relatava a minha história
Que desce para o mar. Livre dela me via.
Quão doce eleva a sua voz altissonante! Sempre aquela agonia - e sempre em hora incerta -
Com marinheiros vindos de qualquer quadrante Retorna desde então;
Ele ama conversar. E enquanto a minha história tétrica não conto,
De manhã se ajoelha, e ao meio-dia, e à tarde... Queima-me o coração.
Tem fofo travesseiro: Tenho um estranho dom do verbo; e, como a noite,
O velho e apodrecido toco de carvalho Errar de terra em terra é meu destino;
Que o musgo envolve inteiro. No momento em que vejo um rosto num lugar,
O bote aproximou-se; e ouvi as suas vozes: Eu sei que é o homem que precisa me escutar,
"Ora, é estranho, é irreal! E meu caso lhe ensino.
As belas luzes onde estão, que ainda há pouco Quem suporta o clamor que jorra aquela porta!?
Nos faziam sinal?" Os comensais lá estão;
"Estranho, à fé!" disse o Eremita... "Nem resposta Mas no jardim a noiva e as damas de honra cantam
Deram a nosso brado! Sob o camaranchão;
A tabica empenada! e vede o seu velame Ó, escuta o humilde sino do ângelus que agora
Ressequido e esgarçado! Me convida à oração!
Nunca vi nada igual em minha vida, a menos Convidado Nupcial! Esta alma esteve só,
Que seja comparado Num largo, largo mar...
Aos espectros das folhas mortas, essa turba Era tão vasto e tão vazio, que o próprio Deus
Que ao leito do regato entope e rouba, Lá não devia estar.
Quando na moita de hera a neve se demora Ó, bem mais doce do que as bodas para mim -
E o mocho pia para o lobo que devora Porque a maior doçura -
Os filhotes da loba." É encaminhar-me em companhia para a igreja,
"Meu Deus! Meu Deus! Como é sinistro seu Na devoção mais pura!
aspecto..." É encaminhar-me em companhia para a igreja,
(É do outro a voz aflita.) Na devoção mais pura!
"Estou morto de medo..." - "Avante, avante!" clama É encaminhar-me em companhia para a igreja
Animado o Eremita. E orar à luz das velas,
Enquanto cada qual ao Pai dobra os joelhos - Through wood and dale the sacred river
Bons amigos, crianças, jovens, velhos ran,
e as alegres donzelas! Then reached the caverns measureless to
Adeus, adeus! Porém... acrescentar convém, man,
Convidado Nupcial: And sank in tumult to a lifeless ocean :
somente reza bem aquele que ama bem And 'mid this tumult Kubla heard from far
Homem, ave e animal. Ancestral voices prophesying war !
Somente ora melhor quem sabe amar melhor
A tudo, grande e miúdo; The shadow of the dome of pleasure
Pois o bondoso Deus, que tem amor por nós, Floated midway on the waves ;
Ele fez e ama tudo. Where was heard the mingled measure
E foi-se o Marinheiro - cintilante o olhar From the fountain and the caves.
E a barba branca e vasta; It was a miracle of rare device,
E das portas do noivo o Convidado agora A sunny pleasure-dome with caves of ice !
Lentamente se afasta. A damsel with a dulcimer
Caminhou como alguém a cujo senso aturdem In a vision once I saw :
Desvario e ressábio... It was an Abyssinian maid,
E, na manhã seguinte, levantou-se um homem And on her dulcimer she played,
Mais sombrio e mais sábio. Singing of Mount Abora.
Could I revive within me
Her symphony and song,
To such a deep delight 'twould win me,
Samuel Taylor Coleridge That with music loud and long,
I would build that dome in air,
That sunny dome ! those caves of ice !
Kubla Khan And all who heard should see them there,
And all should cry, Beware ! Beware !
OR, A VISION IN A DREAM. His flashing eyes, his floating hair !
A FRAGMENT. Weave a circle round him thrice,
And close your eyes with holy dread,
Coleridge's published note and another note on its For he on honey-dew hath fed,
composition And drunk the milk of Paradise.

In Xanadu did Kubla Khan


A stately pleasure-dome decree :
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.
So twice five miles of fertile ground
With walls and towers were girdled round :
And there were gardens bright with sinuous rills,
Where blossomed many an incense-bearing tree ;
And here were forests ancient as the hills,
Enfolding sunny spots of greenery.

But oh ! that deep romantic chasm which


slanted
Down the green hill athwart a cedarn
cover !
A savage place ! as holy and enchanted
As e'er beneath a waning moon was
haunted
By woman wailing for her demon-lover !
And from this chasm, with ceaseless
turmoil seething,
As if this earth in fast thick pants were
breathing,
A mighty fountain momently was forced :
Amid whose swift half-intermitted burst
Huge fragments vaulted like rebounding
hail,
Or chaffy grain beneath the thresher's flail :
And 'mid these dancing rocks at once and
ever
It flung up momently the sacred river.
Five miles meandering with a mazy motion

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