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MEMÓRIAS de  Napoelão Bonaparte


Nasci na cidade de Ajaccio, em uma das mais belas ilhas mediterr â neas, a
Có rsega, em 1769. Esse foi um ano triste, pois foi o ano em que a minha ilha
foi conquistada pela França. Meu pai, Carlo Bonaparte, aliou-se aos franceses e
ocupou altos postos   administraçã o local. Graças à ajuda do governador
francê s da Có rsega, meu pai me inscreveu quando eu tinha dez anos na escola
militar de Brienne, na Champanha.
 
Foi em Brienne que comecei minha luta por um pouco de paz. Foi bom ouvir do
meu professor que achava   que eu era  "uma rocha de granito aquecida por um
vulcã o”. Mas foi na Escola Militar Real de Paris que, estudando com o
matemá tico Monge, minha habilidade com a matem á tica ficou mais conhecida.
  
Nada escapava à minha grande curiosidade. Al é m da minha paixã o pela
matemá tica, histó ria e geografia, devorei Voltaire, Rousseau, D'Alembert,
Mably e o padre Raynal. Com a mesma vontade li e reli os cl á ssicos antigos,
especialmente aqueles cujas linhas eram preenchidas pelas m ã os de Plutarco e
de Tito Lívio. També m fez parte do meu crescimento o meu grande amor pelo
teatro francê s encenado por Racine, Corneille e Moli è re.
 
Apó s sair da Escola Militar , eu me juntei ao corpo de artilharia, uma esp é cie de
elite intelectual do ex é rcito, cujo nível educacional era bem melhor. O meu
sangue menos azul e aguado do que o da alta nobreza que dominava o ex é rcito
francê s me fez destacar.   Uma das coisas que me lembro bem desse tempo de
escola foi o meu protesto que expus em forma de projeto. Definitivamente,
combati com a ajuda do papel e da pena para acabar com o maior dos inimigos
de um grande militar, o exagero de criados e de luxo que cercavam os alunos
tornando-os, ao meu ver, fracos e alvos f á ceis aos sofrimentos das guerras que
futuramente haver íamos de comandar.
 
Sofrimentos... Sofrimentos das guerras n ã o sã o difíceis para mim. O mais
difícil sã o as batalhas que travo comigo mesmo todo os dias. Depois da morte
de meu pai a batalha só aumentou. Eu, com apenas dezesseis anos, eis-me
oficial! Mas tendo de cuidar de minha m ã e que ficou sozinha para cuidar dos
meus irmã os José , Luciano, Carolina, Paulina, Elisa, Lu ís e Jerô nimo com
apenas aquele soldo do ex é rcito... Isso é o que chamo de grande carga, de um
grande passo.
 
Ah, a revoluçã o! Quando veio a Revoluç ã o Francesa, em 1789,   a recebi com
entusiasmo. Em 1793, a Inglaterra ocupou a C ó rsega e minha fam ília foi
exilada para o porto francê s de Toulon. Essa cidade rendeu-se a uma esquadra
inglesa, mas eu tive a sorte de ter meu plano de contra-ataque, recusado
inú meras vezes,  finalmente aprovado pelo governo franc ê s da é poca. Toulon
foi reconquistada por mim, o capit ã o-canhã o, como haviam me apelidado, e
graças a esse grande evento, minha vida mudou, tornei-me general-de-
artilharia.
 
Em 1794 fui preso por causa de minhas conex õ es políticas, mas logo fui solto,
apó s breves cinco dias, quando o governo da Convenç ã o caiu e o Diret ó rio,
muito menos radical, entrou em seu lugar. Quando houve uma rebeli ã o contra
o novo governo em Paris, o general comandante das forças leais ao Diret ó rio,
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Barras, chamou-me para comandar a artilharia do governo. A rebeli ã o foi


derrotada e, como recompensa, fui promovido a major-general.
 
 O primeiro comando chegou a minhas m ã os em março de 1796: o Diret ó rio,
confiante em minhas habilidades, nomeou-me para liderar o ex é rcito francê s
que lutava na It á lia. Lá , venci mais e mais batalhas, mas foi s ó depois da
vitó ria contra a Á ustria, em Lodi, que eu passei a me considerar um homem
superior, destinado a realizar grandes coisas. J á nessa é poca tinha tanto
prestígio e minhas vit ó rias davam tanto dinheiro à França, graças aos saques,
que eu me senti poderoso o suficiente para desafiar o governo do Diret ó rio.
 
Depois da Itá lia, fui para o Egito. Ah, o Egito! Foi l á que tive a divina
inspiraçã o de fazer meu famoso discurso para meus soldados ao lado das
pirâ mides: “Soldados da França, do alto dessas pir â mides quarenta s é culos vos
contemplam!” Sim, tentei com todas as minhas forças cumprir minha
promessa. A minha miss ã o ao invadir o Egito, desembarcando em Alexandria,
era cortar o caminho brit â nico para a Í ndia, mas infelizmente meus
comandados nã o tiveram ê xito em contornar certos obst á culos.
 
Ao lado dos mil canh õ es havia um exé rcito de 175 sá bios, tais como:
astrô nomos, geô metras, matemá ticos, químicos, mineralogistas, t é cnicos,
pintores, poetas... Esses homens foram os grandes vitoriosos, pois tiveram que
“batalhar” para poderem trazer luz ao antigo Egito. Eu – tal como o
conquistador Alexandre, o Grande (que levara, em 334 a.C., um conjunto de
especialistas e de fil ó sofos gregos para estudar o Oriente) – queria somar à
conquista militar os ganhos cient íficos que iria revelar ao mundo. Foi assim
que abri o Egito aos olhos da ci ê ncia europé ia que iria trazer à luz o passado
daquela civilizaç ã o esquecida e enterrada nas areias milenares.
 
Soube mais tarde que graças à minha descoberta, desenterrada por um dos
meus soldados, a Pedra  Roseta como ficou conhecida, proporcionou a chave
que permitiu decifrar a escrita hierogl ífica egípcia. O texto que aparecia no
fragmento basá ltico era um elogio a Ptolomeu V e estava escrito em dem ó tico,
em grego e em caracteres hierogl íficos. A versã o grega permitiu que um
homem, a quem tive o prazer de conhecer, Jean François Champollion,
decifrasse a escrita eg ípcia. Este meu achado representou uma contribuiç ã o
fundamental para a arqueologia eg ípcia.
 
Apesar de minhas vit ó rias em terra, só consegui retornar à França apó s um
ano e meio, pois minha esquadra tinha sido massacrada na batalha naval de
Abouquir pelo almirante ingl ê s,  a pedra no meu caminho, Horatio Nelson.
Todavia, ao tomar conhecimento que o norte da It á lia que eu havia
conquistado fora recuperado pelos austr íacos tomei a sofrida decis ã o de
abandonar meus soldados momentaneamente. Mandei preparar duas fragatas e
duas pequenas embarcaç õ es e retornei secretamente a Paris. O governo do
Diretó rio pensou em me prender por ter abandonado meu ex é rcito no Egito.
Como ousariam! Eu já era tã o popular, que nada mais podia me barrar!
 
Em 10 de novembro de 1799 (dia 18 de brumário, segundo o calend á rio
republicano) eu, com o aux ílio de militares e membros do governo, derrubei o
Diretó rio. També m dissolvi a Assemblé ia e implantei o Consulado. Alguns a
chamaram de uma ditadura disfarçada, mas eu nem me importei.
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O Consulado foi o per íodo de 1799 a 1804, no qual eu promulguei uma nova
Constituiçã o, reestruturei o aparelho burocr á tico e criei o ensino controlado
pelo Estado. Enfim estava fazendo da França um pa ís cada vez melhor.
 
Em 1804 promulguei o C ó digo Napoleô nico, que garantia a liberdade
individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada e o
divó rcio, e també m o primeiro có digo comercial, que tratava o falido com
muito rigor. 
 
Em 1805, decidi adotar o calend á rio gregoriano novamente. Se realizei um
governo ditatorial? Ora s ó porque impus a censura à imprensa? Se perdesse o
controle da imprensa n ã o agü entaria nem mais trê s meses no poder. Outros me
acusaram de usar a repress ã o policial, com o apoio do meu Ex é rcito para
reprimir movimentos contra meu governo. Tamb é m esses acusadores nã o
entenderam porque tornei as greves ilegais. As pessoas a quem devo temer
nã o sã o as que discordam, mas as que discordam e s ã o covardes demais para
dá -lo a perceber.
 
Em 1804, apó s um plebiscito, eu coroei a mim mesmo e a minha Josefine,
tomando das mã os do Papa Pio VII a coroa, com o t ítulo de Imperador
Napoleã o I.
 
Sob o meu comando, a França se tornou o primeiro pa ís da Europa cujo
exé rcito deixou de ser uma classe militar vivendo à margem da sociedade.
Todo francê s podia ser convocado para o ex é rcito, um dos lemas herdados da
Revoluçã o Francesa foi: todo cidad ã o é um soldado! Por isso, o pa ís mais
populoso da Europa na é poca, com mais ou menos o mesmo n ú mero de
habitantes que a R ú ssia, podia colocar em armas quase tanta gente quanto
todos os seus advers á rios juntos somados. Dizem que cheguei a me gabar, mais
tarde, que poderia dar-me ao luxo de perder 30 mil homens por m ê s, uma
quantidade absurda de baixas para a é poca. Deixem que digam o que
quiserem.  Os meus soldados sabem como me sinto, pois sempre antes da
batalha fazia quest ã o de relatar a verdadeira situaç ã o do que está vamos
prestes a enfrentar.
 
Meu estilo de guerra era uma grande inovaç ã o: fazia o poss ível para que
meus soldados andassem muito mais r á pidos do que os do inimigo: velocidade
era minha grande caracter ística. Para mim, lutar bem significava andar muito:
um bom soldado tinha que ser algu é m capaz de agü entar longas e á rduas
marchas.
Os meus soldados nã o eram tã o bem treinados quanto os inimigos, nem tinham
tanta disciplina, mas, em compensaç ã o, tinham muito mais iniciativa. Eu
sempre disse: muitas batalhas s ã o ganhas por uma simples lembrança de
guerras passadas. Eu nã o sou tã o bom estrategista como dizem, apenas sou um
estudioso de batalhas ocorridas em tempos idos. Eu conheço todo o
desenvolvimento e decis õ es tomadas pelos not á veis homens que faziam da
guerra uma arte, tais como: Alexandre – o Grande, An íbal – de Cartago, e Á tila
– Rei dos Hunos.
 
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Eu també m gostava de lembrar aos meus generais que n ã o se ganha uma


guerra sem cometer erros. Mas, para n ã o serem derrotados, tinham
obrigatoriamente de errar menos que o inimigo.
  
Os hábitos do imperador
 
Eu tinha o costume de calcular antecipadamente como seriam minhas guerras
e batalhas, e s ó entrava em combate depois de haver feito um planejamento
bastante preciso do que deveria ser feito, o que inclu ía possíveis modificaçõ es
em meus planos iniciais, em resposta à s açõ es do inimigo. Uma das coisas que
eu fazia bastante uso era de espi õ es e de patrulhas de cavalaria. Assim eu
conseguia sempre descobrir com anteced ê ncia o que o inimigo estava fazendo
e, se possível, os planos advers á rios. Gostava de atacar sempre, e nunca
deixava o inimigo derrotado recuar em ordem, mandando meus soldados
perseguir o inimigo para que ele n ã o pudesse recuperar-se. Depois de uma
batalha eu sempre dava aos meus soldados os meus sinceros parab é ns pela
vitó ria, mas nunca os deixava descansar; ao contr á rio, mandava que eles
perseguissem o inimigo, para que este n ã o se organizasse, ficando sem poder
receber reforços ou novos suprimentos e reiniciar a luta.
 
  Curiosidades sobre Napoleão
 
Uma das grandes curiosidades dessa minha figura enigm á tica seria minha
apreciaçã o por vinhos. Eu freq ü entava É pernay (cidade localizada no coraç ã o
da regiã o de Champanhe) com tanta freq ü ê ncia que Jean-R é my Moë t, entã o
dono da Moë t & Chandon, construiu duas casas de h ó spedes para mim e minha
comitiva.
 
Uma das minhas frases que ficaram famosas em relaç ã o a vinhos foi: "Sem
vinho, sem soldados. Nas vit ó rias é merecido, nas derrotas é necessá rio".
 
Um vinho tinto foi t ã o importante na minha vida que um dos donos da firma
parisiense encarregada do meu fornecimento sempre me acompanhava nas
campanhas militares. Eu elogiava o fato de o Chambertin ser um tinto
encorpado e exigia que tivesse de cinco a seis anos de envelhecimento,
consumindo meia garrafa por refeiç ã o. Mas, fiel a um há bito da infâ ncia,
misturava-o com um pouco de á gua.
 
                        
 
 
Vá rios episó dios da minha vida se entrelaçam com minha bebida favorita. Para
a ocupaçã o do Egito, por exemplo, levei uma provis ã o tã o grande de
Chambertin que nã o consegui terminar. Retornei à França com ela, em boas
condiçõ es, e elogiei muito a resist ê ncia do vinho. Quando invadi a R ú ssia,
carreguei outro estoque enorme, pois sabia que a campanha seria dura. Com
copos do grande tinto festejei a minha vit ó ria contra as tropas do general
Kutuzov , na batalha de la Moscova, batalha de Borodino como os vencidos
russos a fizeram ficar conhecida e se dizem vitoriosos. Mas, da í por diante,
nã o tive muito a que brindar. Entrei em Moscou e a noite eu a vi em chamas.
Esperei a rendiçã o dos russos, mas n ã o veio. Em seu lugar veio o rigoroso
inverno russo que obrigou a mim e meu grande ex é rcito a recuar. Na operaç ã o
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desastrosa, os inimigos cossacos me tomaram parte do vinho, que


especuladores ofereceram mais tarde em Paris como "Chambertin retour de
Russie".
 
Você acredita que fui derrotado em Waterloo, pelo ingl ê s Wellington e o
prussiano Blü cher, por ter sido a ú nica batalha na qual nã o levei meu vinho
preferido?! Pois acredite, muitos at é sustentavam que morri na ilha de Santa
Helena, onde
fiquei exilado nos ú ltimos seis anos da minha vida, por falta de Chambertin!
Como puderam dizer tais zombarias?
 
É verdade que eu preferia comer com as m ã os e nos banquetes oficiais
esfregava o pã o no molho que sobrara no prato, como se estivesse na minha
casa na Có rsega. Eu també m gostava de receitas vigorosas e pesadas. Eu
adorava sopas consistentes e o cozinheiro de origem su íça Dunand, que
trabalhou para mim a partir de 1805, esmerava-se nessas preparaç õ es Uma
das receitas que desenvolveu para mim recebeu nome militar: "sopa do
soldado". Era uma mistura de feij ã o branco, batata, e legumes e era cozinhada
com pouco líquido, pois eu a apreciava bem espessa.
 
 
Afinal, por que perdi o poder? Mea culpa!
 
 
        1) O meu grande erro pol ítico foi com relaçã o à Inglaterra, meu inimigo
nú mero um. A Inglaterra foi o primeiro pa ís do mundo a industrializar-se, e
precisava do mercado europeu para vender seus produtos, principalmente
tecidos. Como eu queria que a ind ú stria francesa, mais nova e mais fraca, se
desenvolvesse, eu fiz o poss ível para fechar a Europa aos produtos ingleses, o
que foi chamado mais tarde de Bloqueio Continental. A fam ília real
portuguesa, por exemplo, veio para o Brasil porque os meus ex é rcitos
invadiram Portugal como castigo pelo fato dos portugueses ainda estarem
negociando com a Inglaterra. Mas esse tipo de aç ã o transformou a minha
guerra contra a Inglaterra, numa guerra contra toda a Europa. T ã o logo tinha
uma vitó ria, os ingleses conseguiam juntar um novo grupo de pa íses, em
coligaçõ es, para enfrentar-me de novo. Em 1805, eu estava absorto nos
preparativos destinados à invasã o da Inglaterra com um formid á vel exé rcito
que reduziria os ingleses a pedaços, mas a grande derrota naval francesa em
Trafalgar pô s por terra o meu sonho da invas ã o. A esquadra inglesa era
comandada pelo almirante Horatio Nelson, que morreu nessa batalha, tr ê s
horas depois de receber um tiro de mosquete de um atirador de elite, um
mosqueteiro a bordo do navio Redoutable.

          2) Em toda a minha carreira, nunca lutei uma batalha apenas me


defendendo: eu amava atacar. Como eu decidia tudo, os outros n ã o mandavam
nada, sem minhas ordens, meus ex é rcitos ficavam impotentes: praticamente
nenhum outro general franc ê s teve a chance de desenvolver por completo
minhas habilidades militares. Com o passar dos anos, os inimigos da França
foram aumentando e seus ex é rcitos tornaram-se maiores e melhores. As
operaçõ es militares ficaram cada vez mais complexas e nem eu seria capaz de
planejá -las sozinho. Nessa hora, passei a sentir cada vez mais a falta de um
grupo de oficiais experientes que pudesse planejar as batalhas
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antecipadamente (o que os ex é rcitos chamam de Estado-Maior). O ex é rcito


francê s, como o de todas as pot ê ncias, també m tinha o seu Estado-Maior, mas
esse nunca mandou sem mim.

        3) No início, as minhas tropas francesas at é chegaram a ser recebidas em


muitos lugares, inclusive na It á lia, como libertadoras. Beethoven e Goethe, os
maiores artistas da é poca na mú sica e na literatura, ambos alem ã es, eram
meus admiradores. Beethoven comp ô s a sinfonia nº3 em 1803, denominada
“Heró ica” porque glorificava um her ó i ideal, ou seja, era dedicada a minha
pessoa. No ano seguinte, o m ú sico arrancou a dedicat ó ria porque ficou
sabendo que eu me coroei pelas minhas pr ó prias mã os como imperador.   Com
o passar dos anos, de libertador passei a ser considerado um tirano, um
ditador, cuja derrota seria prioridade para que os povos da Europa tivessem
paz novamente. Como dizia a mim mesmo: “No exterior e na França eu s ó
consigo governar graças ao medo que inspiro”. Meus soldados passaram a ser
vistos como saqueadores. Se ordenasse assassinar um inimigo pol ítico, ou
quebrar um acordo de paz, ou oprimir um pa ís inimigo, todas essas coisas
acabavam juntando-se e formando uma multid ã o de inimigos que tudo fariam
para derrotar-me. Assim, com o passar dos anos, fui adquirindo, aos olhos dos
outros povos, a imagem de ser o pior dos monarcas. De nada me adiantou
casar, pela segunda vez, com a jovem princesa da Á ustria, Maria Luiza que,
com apenas 18 anos, da fam ília dos Habsburgo, da mais tradicional nobreza
europé ia, teve de me aceitar. Eu a amava muito. Tivemos um filho, um menino
que tanto desejava para me suceder, que ficou conhecido como rei de Roma...
Mas o casamento que pensei ser a aliança perfeita entre a França e a Á ustria... 
Isso o casamento n ã o conseguiu manter por muito tempo.
 
4) A campanha contra a R ú ssia
  
Foi o grande desastre que mudou o rumo das minhas conquistas. Tudo
começou com os russos quebrando o acordo com a França de apoiar o Bloqueio
Continental contra os ingleses. Os russos, governados pelo Tzar Alexandre,
achavam que nã o seria possível deixar de negociar com a Inglaterra. Por causa
dessa quebra de palavra, eu organizei mais uma de minhas expediç õ es
militares, a fim de puni-los. Para isso, organizei o Grande Ex é rcito, perto de
600 mil homens, que deveriam acabar com a raça dos russos.
Os russos me enfrentaram sob o comando do marechal, comandante-chefe,
Kutuzov . Apesar de nã o conseguirem vencer-me na Batalha de de Moscova, e
mesmo tendo nó s franceses conseguido ocupar a cidade de Moscou, os russos
nã o se renderam. Fiquei a esperar demais pela rendiç ã o. Que erro! J á
está vamos com falta de suprimentos e o frio estava cruelmente chegando. O
frio era um advers á rio imbatível. A minha recusa em reconhecer que
está vamos sumariamente sendo derrotados pelos caprichos da natureza, e at é
eu e meus homens sentirmos na pele que a R ú ssia era muito longe da França,
longe de tudo que conhec íamos, levou todos os meus planos à bancarrota. O
meu exé rcito encontrou-se isolado do mundo, foi ficando sem abastecimentos
e, por fim, tivemos que abandonar Moscou. A volta dos meus soldados no
inverno, por azar o mais rigoroso dos ú ltimos anos, foi uma cat á strofe: no
total, o meu exé rcito napoleô nico teve mais de 400 mil baixas, e nunca mais
voltei a ter um exé rcito tã o forte. A guerra na R ú ssia foi um pé ssimo negó cio.
Eu me enganei, nã o quanto ao objetivo e à oportunidade pol ítica dessa guerra,
mas quanto à maneira de faz ê -la.
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A grande decisão: A batalha das Nações
 
No inverno de 1812-13 houve uma pausa nas lutas para que os ex é rcitos
recuperassem suas perdas maciças. Retirei-me at é a Alemanha onde consegui
reunir 130.000 tropas. Mas, desgraçadamente, uma grande coaliz ã o estava
sendo formada contra a França. Os alem ã es, percebendo que o ex é rcito francê s
tinha sofrido enormes perdas na R ú ssia, juntaram-se à aliança formada pela
Rú ssia, Inglaterra, Espanha e Portugal.
No início, infligi uma sé rie de derrotas aos aliados, culminando com a batalha
de Dresden, em 26 de agosto de 1813, que causou quase 100.000 baixas à s
forças da coaliz ã o, enquanto nó s somente tivemos 30.000.
Apesar do sucesso inicial, entretanto, os n ú meros continuaram a aumentar
contra a França, pois a Sué cia e a Á ustria juntaram-se à coalizã o.  Fomos
derrotados por uma força duas vezes superior na maldita batalha das Naç õ es,
em 16 a 19 de outubro em Leipzig. E fomos tra ídos nessa batalha, pois alguns
estados alemã es, que ainda estavam do nosso lado, no meio da batalha
mudaram para o lado da coaliz ã o, comprometendo inapelavelmente nossa
posiçã o. Essa foi de longe, a maior batalha da guerra, a batalha que decidiu
definitivamente a guerra e custou mais de 120.000 perdas para os dois lados.
Depois dessa derrota, retirei o restante do ex é rcito para a França, por é m
reduzido para menos de 100.000 soldados, logo cercado em territ ó rio francê s
por um exé rcito de mais de meio milhã o de soldados da coaliz ã o. A diferença
era imensa e a derrota tornou-se inevit á vel.
Assim, meus inimigos forçaram-me a renunciar ao trono de Imperador em
abril de 1814. Pelo tratado, decidiram exilar-me na ilha de Elba.
 
 
O canto do cisne em Waterloo
 
No ano seguinte, enquanto a Europa decidia seu futuro pol ítico no Congresso
de Viena, eu consegui arquitetar uma fuga com ê xito de minha prisã o pouco
vigiada, apó s uma festa onde tive a triste not ícia de que minha Josefine
falecera. Cheguei na França e dessa vez a resposta de meus inimigos foi
rá pida: mal tive tempo de preparar um novo ex é rcito, tive de enfrentar meus
inimigos em novas batalhas a acabei sendo derrotado na Batalha de Waterloo,
em 18 de junho de 1815, 100 dias ap ó s o meu retorno à França.
Trê s exé rcitos foram envolvidos na batalha: o franc ê s, um exé rcito
multinacional sob o comando de Wellington e um ex é rcito da Prú ssia,
comandado por Bl ü cher.
Tínhamos ao redor de 69.000 homens, sendo 48.000 de infantaria, 14.000 de
cavalaria e 7.000 artilharia, com 250 canh õ es. Wellington tinha 67.000
homens, com 50.000 de infantaria, 11.000 de cavalaria e 6.000 de artilharia,
com 150 canhõ es, mas ainda contava com a ajuda dos prussianos, que tinham
48.000 homens.
 
O 18 de junho de 1815 foi um dia injusto para a França. Tinha chovido muito
nos dias anteriores, o solo estava muito fofo e assim perdi a mobilidade da
minha artilharia, que seria a principal vantagem t á tica do meu exé rcito
naquela batalha e, al é m disso, os soldados e alguns oficiais, entre eles o meu
estimado marechal Ney, estavam emocionalmente esgotados por tantos anos
de campanha. Assim, alguns erros de comando ocorreram, como a precipitaç ã o
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do marechal que destruiu completamente a nossa valente cavalaria ao lanç á -la


a um ataque imprudente e mal planejado contra posiç õ es inimigas muito bem
protegidas.
Meu retorno foi uma tentativa ingl ó ria. A verdade é que, mesmo que vencesse
em Waterloo, eu nã o poderia vencer a pró xima batalha, porque o ex é rcito que
estava sendo formado pelos outros pa íses seria insuper á vel, pois a França
estava exaurida apó s tantos anos de guerra.
 Eu fui novamente forçado a renunciar ao trono e dessa vez fui levado para
uma ilha bem mais distante da Europa, a ilha de Santa Helena. L á eu envelheci,
engordei e fiquei apenas cercado de alguns amigos e de minhas lembranças
sobre minhas conquistas...
Foi um triste fim para um homem como eu, Napole ã o Bonaparte. Morrer seja
por um erro mé dico, seja por envenenamento, é muito desanimador. Por que
nã o consegui morrer num combate? Por que n ã o morri logo pelas mã os dos
meus carcereiros ingleses? Eles n ã o tiveram essa ousadia porque temiam meu
nome ser exaltado novamente agora sob a forma de m á rtir? Será ? Seja como
for, fiz o que deveria ter feito e agora tenho o grande consolo de ver que meus
inimigos nã o conseguiram tirar a minha maior conquista: meu nome foi
eternizado na hist ó ria, junto de homens como Alexandre, o Grande.
 
 
O meu legado
 
Deixo aqui a lista de algumas das minhas in ú meras obras e que a humanidade
seja meu testemunho.
Fiz grandes reformas internas na França obedecendo ao princ ípio da igualdade
jurídica surgido da revoluç ã o francesa.
Normalizei as relaçõ es do estado franc ê s com a igreja, completei a obra
jurídica de codificaç ã o das leis – principalmente o avançado, para aquela
é poca que vivi, c ó digo civil de 1804.
Centralizei e racionalizei a administraç ã o em torno da figura do prefeito.
Implantei um sistema educativo p ú blico amplo e eficaz e inaugurei a
Universidade da França.
Reorganizei a administraç ã o da justiça estabelecendo uma hierarquia ú nica de
tribunais estatais.
Criei o Banco da França e impus o Franco como unidade monet á ria nacional.
 
 
 A MATEMÁTICA NAS ESTRATÉGIAS MILITARES
Para mim, o avanço e o aperfeiçoamento da matem á tica estã o ligados à
prosperidade do estado. Sempre gostei da matem á tica. Afinal, ela foi uma
grande aliada. Sempre inovadora.
 
Para fugir dos complicados c á lculos usualmente empregados para determinar
as melhores posiç õ es e assim escapar do fogo da artilharia inimiga, o meu
grande professor matem á tico Gaspard Monge, por exemplo, desenvolveu uma
té cnica revolucioná ria. Ele me contou que ainda adolescente, ap ó s fazer um
mapa elogiado por especialistas, foi incentivado a ingressar na escola militar,
onde desenvolveu sua t é cnica para representar no papel as manobras
militares, de tal forma que nada ficasse sob a mira do inimigo.
Ao perceberem a genialidade e a import â ncia bé lica do novo mé todo, os
militares o mantiveram em segredo por 15 anos. S ó era permitido ensin á -lo
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aos futuros engenheiros militares. Somente em 1794, em plena Revoluç ã o


Francesa, Monge pô de divulgar sua invenç ã o em escolas civis de Paris.
Assim começou o estudo da geometria descritiva, que hoje vejo se aplica n ã o
só na engenharia, em desenhos e projetos t é cnicos, mas tamb é m nas artes e
nessa tal fotografia. Afinal, quadros e fotografias s ã o projeçõ es, e geometria
descritiva é na verdade um estudo das perspectivas.
O matemá tico, alé m de ter sido meu professor,  foi um grande amigo, chegando
a me acompanhar na invas ã o do Egito. Monge é pouco conhecido ou lembrado
nos dias mortais de hoje. Mas ele est á por trá s de quase todos os projetos de
engenharia e de todos os livros e trabalhos de geometria descritiva. Como
membro  Acadé mie des Sciences participou juntamente com Legendre, Carnot,
Condorcet e Lagrange do famoso Comit ê de Pesos e Medidas (1790-1799) que
implantou o sistema decimal de pesos e medidas.
 
                          
QUEM FOI A PEDRA NA BOTA DE NAPOLEÃO?
 
Quem mais senão os britânicos 
    
     
     Todas as coalizõ es, as guerrilhas na Espanha, o exército russo... Tudo isso foi financiado
pelo ouro inglês. Os atentados contra a vida de Bonaparte também tinham o dedo inglês no
gatilho.
 
Por muito tempo Napoleã o combateu seus fervorosos adversá rios, usando como arma, a
censura prévia na imprensa. Dessa forma, Napoleã o acreditava que estava ocultando de seus
sú ditos a verdadeira situaçã o militar, política e econô mica. Como contra-ataque os jornais
ingleses, que se mantinham fora de alcance do ditador, publicavam e espalhavam por toda
Europa boatos, caricaturas e principalmente notícias sobre a grande derrota napoleô nica em
Trafalgar.
 
    Arthur Wellesley, o famoso duque de Wellington apesar de nã o ser inglês, ele era
irlandês, foi uma 'pedra na bota', especialmente para os marechais de Napoleã o,  que
tomaram surra atrá s de surra na Guerra Peninsular em Portugal e na Espanha em 1814.
Numa série de batalhas, o duque sucumbiu os franceses e obrigou Napoleã o a manter um
enorme exército na Espanha. Contudo a fama do duque atingiu o topo depois do seu maior
feito militar que consistiu na derrota definitiva imposta à s tropas de Napoleã o Bonaparte em
Waterloo em 1815
 
     Horatio Nelson também foi uma verdadeira rocha, bloqueando nas á guas todas as
investidas de Napoleã o, obrigando-o sempre a mudar seus planos. Assim foi no Egito, na
batalha do Nilo como na batalha de Trafalgar.
 
    Sem o ouro, a perseverança, o controle dos mares e a capacidade comercial e industrial dos
ingleses, certamente, as engrenagens  das rodas do tempo tomariam um novo rumo e, quem
sabe, Napoleã o teria morrido sentado em seu trono.
  Napoleã o ainda em seu exílio foi prisioneiro de ingleses e em seu testamento de 1821 deixou
isso bem claro:

"Eu morro prematuramente, assassinado pela oligarquia inglesa e seu sicário; o povo inglês não
tardará a me vingar."
 
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 Erro médico matou Napoleão 
   
PARIS - Apó s as teses de assassinato e doença como causas da morte de Napoleã o Bonaparte,
agora um estudo dos EUA reivindica que o imperador francês morreu devido a um erro
médico.
  A pesquisa que será publicada na revista britâ nica New Scientist confirma a tese divulgada
em 2002, na qual se eliminava a possibilidade de assassinato por arsênico, porque os restos
da substâ ncia que estava no cabelo de Napoleã o eram de origem exó gena. Eram, portanto, de
cola, pintura ou armas de fogo e nã o foram ingeridos.
  O coordenador da pesquisa, Steven Karch, afirma que o imperador morreu por excesso de
zelo de seus médicos, que lhe aplicavam doses fortes do medicamento composto de potá ssio e
antimô nio contra a dor da ú lcera. O remédio induz ao vô mito e pode provocar problemas
cardíacos e de irrigaçã o do cérebro.
  Os arquivos mostram que, à s vésperas de sua morte, 05/05/1821, na Ilha de Santa Elena,
aplicavam-lhe 600 mg do medicamento cinco vezes ao dia. Isso aumentou seus níveis de
potá ssio e o matou em 5 de maio de 1821, aos 51 anos.  (artigo do Jornal do Brasil 23/07/04)

CONCLUSÃO
    
   Napoleã o era um líder, um ditador, calculista - um competente estrategista- e sabia como
“vender seu peixe” aos soldados... Enfim, um homem que teve a chance e a agarrou do seu
jeito, com unhas, dentes e palavras.O duque de Wellington, que venceu Napoleã o em
Waterloo, dizia que a presença do Imperador no campo de batalha valia por um exército de
40 mil homens.

Guerra e Paz de Leon Tolstoi.

   O pró prio Napoleã o disse de si mesmo: "que romance é a minha vida". Como ele acertou! O
escritor russo Léon Tolstoi mostrou que ele estava certo ao escrever o clá ssico e grande
romance "Guerra e Paz". Logo no começo da segunda parte do livro, Tolstoi usa seu gênio
literá rio para mostrar um Napoleã o imensamente vaidoso e convencido de si mesmo. É
inesquecível as cenas das batalhas fundidas com os conflitos da protagonista Natasha. Cenas
onde Napoleã o mente ao dizer que os poloneses irã o fornecer-lhe cerca de duzentos mil
soldados para o ajudarem a esmagar a Rú ssia, "lutando como leõ es", ou ordenar que seja
impresso em qualquer papel o dinheiro para que os seus soldados saqueadores e os
oprimidos comerciantes russos possam “negociar” as mercadorias. O pró prio Tolstoi, para
escrever as cenas da Batalha de Borodino que aparecem em Guerra e Paz, inspirou-se no livro
do escritor francês Stendhal. A cena do incêndio em Moscou é comovente e poética.
 
 

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