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Escândalo em

Greystone Manor
Mary Nichols

(Série Os Cavenhursts 01)

Jo, Nat, Cegina, Luna, Magui

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Sinopse

O que poderia ser mais chocante do que a verdade?

Jane Cavenhurst está feliz sozinha. Ela está mesmo. Mas quando o infeliz

casamento de sua irmã com o belo Mark Wyndham se aproxima, as barreiras protetoras

que cobrem seu segredo profundamente enterrado começam a se romper - pois Jane ama

Mark há anos.

Mas esse não é o único problema de Jane! Os Cavenhursts estão em dívida com o

vilão Lord Bolsover, e ele está de olho nela! Quando Mark percebe seus verdadeiros

sentimentos, ele sabe que não deveria ser ele a resgatar Jane, mas ele não pode se conter.

Na verdade, ele lutará com Bolsover, a alta sociedade e o escândalo para ganhar o que

seu coração mais deseja!

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Nota da Autora

O dilema central dos meus personagens principais pode parecer estranho para os
leitores modernos, que não hesitariam em romper um noivado, se percebessem que o
amor pelo qual haviam esperado estava faltando, mas no período em que minha história
se passa, os costumes sociais eram diferentes. O amor não era o único ou mesmo o
principal motivo para se casar. Título, riqueza, status, os desejos da família e a
necessidade de manter uma hierarquia ininterrupta, todos tinham seu papel. O divórcio
era apenas para os muito ricos e exigia uma Lei do Parlamento, e um compromisso era
um empreendimento solene. Uma dama podia enfrentar a censura da sociedade e
quebrar sua promessa de se casar, mas um cavalheiro nunca poderia. Era uma coisa
desonrosa de fazer e o deixava aberto a ser evitado pela sociedade, como um homem em
quem não se podia confiar para manter sua palavra.

Minha história é uma história de amor, e meu herói e heroína estão


profundamente apaixonados, mas os costumes da época os impedem de ficar juntos. Ela
tem sua lealdade à família e ele tem sua honra, os quais devem ser satisfeitos antes que
possam ter o final feliz que todos procuramos.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Um

Abril de 1817

— Fique quieta, Issie — disse Jane. — Como posso prender esta bainha
se você continuar pulando de um pé para o outro? E pare de se admirar no
espelho. Todos sabem que noiva linda você será.

Levou semanas de indecisão quanto à cor e estilo antes que a seda


pesada fosse comprada e, em seguida, eles não puderam decidir sobre quem
iria fazê-lo.

— Você faz Isabel — havia dito à irmã. — Você é uma costureira tão boa
quanto qualquer mantenedora de Londres e, muito melhor do que a pobre
senhorita Smith.

Jane riu do elogio.

— Muito bem, mas vamos pedir a senhorita Smith para fazer a costura
simples. — Ela poderia fazer o trabalho. A solteirona idosa vinha da aldeia três
vezes por semana para fazer anáguas para as mulheres, além de consertar
roupas rasgadas e consertar a roupa da casa.

Jane estava fazendo o máximo possível com casamento para economizar


um pouco nas despesas. Sua mãe estava decidida que seria o casamento do ano,
apesar dos pedidos de Sir Edward, eles não deveriam ser extravagantes demais.
Jane talvez fosse à única da família a notá-lo, mas isso não significava que o
casamento de Isabel seria nada menos que perfeito se ela pudesse evitar. Ela
havia se esforçado muito com o vestido, certificando-se de que ele se encaixasse
perfeitamente. Tinha a cintura alta da moda, mangas compridas soltas na parte
superior, mas apertadas do cotovelo para baixo, um decote em forma de
coração e uma saia esvoaçante, enfeitada com rendas e bordada com rosas
brancas e rosa. Tudo o que restava a fazer agora era costurar a bainha e
adicionar a decoração ao decote e mangas. Metros de fita e renda, entremeados
de minúsculas contas coloridas. Costuradas à mão com minúsculos pontos
invisíveis, eles levariam algum tempo para fazer. Ela não invejou o tempo, nem
a irmã, a felicidade, nem mesmo com o próprio sacrifício.

Isabel se casaria com Mark Wyndham, herdeiro de Lord Wyndham, que


morava com seus pais a menos de cinco quilômetros de Broadacres. As famílias
se conheciam há anos e frequentemente se visitavam, então as meninas e o

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irmão cresceram muito próximos e não havia formalidade entre eles. Um
casamento entre Mark e Isabel era discutido há anos como se fosse uma
conclusão precipitada, embora Mark não tivesse proposto formalmente até
voltar da Guerra Peninsular, onde se distinguira como assessor de Sir Arthur
Wellesley, agora o duque de Wellington. O noivado agradou as duas famílias e
aliviou os pais da menina, que não queriam que Isabel seguisse o caminho de
Jane e se tornasse uma solteirona. Ter duas filhas solteiras não era bom para sua
autoestima e nem, para seu bolso.

Jane talvez fosse à única da família, além de seu pai, que percebeu que
eles estavam vivendo além de suas possibilidades, tentando manter um status e
um estilo de vida não proporcionais à renda. A propriedade estava destruída,
as cercas precisavam ser consertadas, as valas precisavam ser limpas, algumas
das casas precisavam de reparos e a própria casa precisava urgentemente de
reforma. Greystone Manor era uma adorável casa antiga, solidamente
construída para resistir à devastação do vento leste que soprava do oceano
alemão, mas isso não impedia que ela fosse arriscada. Sua grande sala de estar
era gelada no inverno e fresca no verão; suas enormes cozinhas e laticínios, com
piso de pedra, eram duros para os pés dos criados. A família costumava usar a
sala menor como sala de estar e a sala de café da manhã como sala de jantar,
exceto em ocasiões formais. Hoje as meninas estavam trabalhando no quarto de
Isabel, cuja janela dava para a entrada da frente. Lá fora, o sol da primavera era
quente e convidativo, e todos esperavam que este fosse o ano em que houvesse
uma boa colheita, o que compensaria o terrível fracasso do ano anterior.

— Pronto, está pronto — disse Jane. — Você pode tirá-lo agora e eu


pedirei que a senhorita Smith costure a bainha enquanto recolho os babados
para a saia.

Ela ajudou a tirar Isabel do vestido e cuidadosamente o dobrou para a


costureira, quando ela chegasse naquela tarde.

Isabel a abraçou.

— Você é tão boa, Jane, gostaria de ser mais como você. Você é esperta
em tudo o que faz, costurando, cozinhando, administrando os criados e
também com as crianças da aldeia. Você deveria se casar também e ter seus
próprios filhos.

— Nem todos podemos ser esposas, Issie. — Disse Jane. Aos 27 anos,
todos, inclusive a própria Jane, sabia que já tinha passado da idade de se casar.

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Seu papel na vida era ser uma companheira de ajuda para a mãe, ocupar-se dos
preparativos para o casamento da irmã, acalmar a natureza empolgante da
outra irmã e tentar conter o desprezo do irmão Teddy. Adicionado as suas boas
obras na vila vizinha de Hadlea, era o suficiente para mantê-la ocupada. Ela
tinha pouco tempo para lamentar seu único estado.

— Mas você deve desejar isso às vezes?

— Na verdade não. Estou contente com a minha vida.

— Você nunca teve uma oferta?

Jane sorriu, mas não respondeu. Houve alguém uma vez, dez anos antes,
mas não deu em nada. O pai dela desaprovava, alegando que o jovem não tinha
título nem fortuna, nem família de posição nem perspectivas. Ela poderia ter
melhor que isso, ele disse a ela. Mas ela nunca teve e, o único outro homem por
quem ela tinha chegado a ter sentimentos não tinha correspondido a sua
loucura, era um segredo profundamente guardado que ela nunca havia dito a
ninguém. Ela não era bonita e, comparada às irmãs mais novas, era a simples
Jane.

Como seus pais haviam conseguido produzir três meninas tão diferentes
uma da outra, Jane não conseguia entender. Jane e Isabel tinham cabelos
escuros, mas a semelhança acabou aí. Jane era mais alta que a média, ela tinha
traços fortes, sobrancelhas bem definidas e um queixo determinado. Isabel, seis
anos mais nova que Jane, era considerada a beleza da família. Ela era um pouco
mais baixa e mais curvilínea que Jane, e seu rosto era mais redondo e muito
expressivo, ela não era de esconder seus sentimentos. Lágrimas e temperamento
eram frequentemente mostrados, mas ela logo se recuperava e se tornava o seu
habitual eu ensolarado. Jane era mais cautelosa e mantinha seus sentimentos
para si mesma. Quanto a Sophie, ela era de cabelos louros e olhos azuis e, aos
dezessete anos, ainda não tinha se livrado do que sua mãe escolheu chamá-la:
de seu filhote gordinho.

— Estou fazendo a coisa certa? — Isabel perguntou de repente,


afundando na cama em sua saia.

— Como assim?

— Casar-me com Mark.

— Você certamente não está duvidando agora, Issie?

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— É um grande passo. Fico me perguntando se devo fazê-lo feliz ou se
devo me contentar com ele.

— Mas você o conheceu a vida toda. Você sabe que ele é alto e bonito,
que é atencioso e gentil, que tem bolsos cheios e gosta de mais nada do que
satisfazer a você. O que mais você pode pedir?

— É isso mesmo. Talvez eu o conheça muito bem. E talvez tenha sentido


falta de outra pessoa, alguém por quem pudesse sentir a grande paixão.

— Isabel, você está falando bobagem, a grande paixão é um mito,


sonhado pelos românticos. É muito melhor casar com alguém confiável, alguém
que você conhece e não vai decepcioná-la. — As súbitas dúvidas de Isabel
estavam causando um efeito estranho em Jane. Foi preciso toda a sua
determinação para desejar felicidades à irmã, quando o noivado foi anunciado e
ela havia começado os preparativos para o casamento com o maior entusiasmo
possível. As dúvidas de sua irmã a preocupavam.

— Mark é confiável, é verdade — disse Isabel —, mas ele é quase como


outro irmão.

— Mark não é nada como um irmão.

— Não, claro que não. Eu estou sendo boba. Ele não é nem um pouco
parecido com Teddy, não é?

— Deus proíba! Um Teddy é suficiente.

Elas riram disso e a tensão diminuiu. Jane ajudou a irmã a vestir o


vestido do dia e estava apenas escovando o cabelo e amarrando-o com uma fita
quando ouviram o som de alguém chegando. Isabel pulou e foi para a janela
para ver quem poderia ser.

— É Teddy — disse ela. — Meu Deus, onde ele conseguiu esse casaco?
Ele parece uma abelha.

Jane se juntou à irmã na janela. O irmão delas, três anos mais novo que
Jane e três anos mais velho que Isabel, acabará de descer do show que ele tinha
contratado no Fox and Hounds, onde o palco de Londres sem dúvida o deixara a
menos de meia hora. O casaco que Isabel tinha comentado era de listras
amarelas e marrons. Tinha uma saia de punho e reverso profundas. Suas calças
eram castanhas e o colete amarelo com manchas vermelhas.

— Papai terá algo a dizer sobre isso — disse ela.

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Elas estavam descendo as escadas, quando um criado abriu a porta para
deixá-lo entrar. Ele balançou um chapéu de castor marrom para as ambas.

— Jane, Isabel, espero encontrar os duas bem.

— Muito bem — disse Jane.

— Onde você conseguiu esse casaco extraordinário? — Isabel exigiu.

— Gieves, onde mais? Você gosta disso? — Ele girou para exibi-lo. —
Onde está o papai? Eu preciso falar com ele. Ele está de bom humor?

— Oh, Teddy, não diga que veio pegar dinheiro com ele? — Jane disse.
— Você sabe o que ele disse da última vez.

— Bem, um sujeito não pode viver decente com o que ganho no


Halliday. — Halliday e Son era uma eminente firma de advogados que atuava
em Lincoln's Inn Fields. Teddy os procurara depois de deixar a universidade a
mando de seu pai, que não acreditava que seu filho deveria passar seus dias
ociosos. Ele ainda era muito jovem e não podia comandar as grandes taxas que
seus mentores cobravam.

— Então, tome um pequeno conselho meu irmão — continuou Jane. —


Troque esse casaco e colete antes de vê-lo. Não vai ajudar sua causa.

— Sábias palavras, como sempre, Jane — disse ele. — Vou para o meu
quarto e coloco algo monótono —. Ele pegou sua mala no chão onde a deixara
cair e subiu as escadas, dois degraus de cada vez.

— Ele não muda, muda? — Isabel disse.

— Infelizmente não. Receio que tenhamos um jantar desconfortável.

***

No que ela estava certa. Mesmo que Teddy tivesse mudado para um
casaco cinza escuro e uma gravata branca e um colete, ele evidentemente não
fora bem-sucedido com o pai. Ele estava ressentido, Sir Edward estava bravo e
Lady Cavenhurst chateada. Jane e Isabel tentaram aliviar a atmosfera pesada
conversando sobre o casamento e os feitos na vila e tiveram apenas sucesso
parcial, não ajudadas por Sophie exigindo saber qual era o problema de todos,
por que os rostos sombrios.

— Alguém poderia pensar que houve uma morte na família — disse ela.

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— Minha morte — disse Teddy, sombrio, o que fez seu pai bufar
zombeteiramente e sua mãe respirar angustiada. Mas ninguém comentou, e eles
continuaram a comer sua carne assada em um silêncio quebrado apenas
quando alguém pedia educadamente o molho ou o sal.

***

Depois que a refeição terminou, as damas foram para a sala de estar,


onde uma criada trouxe a bandeja de chá.

— Papai está com muita raiva de Teddy? — Jane perguntou à mãe deles
enquanto se arrumavam nos sofás.

— Ele está mais decepcionado do que zangado — disse sua senhoria. Ela
ainda era uma mulher bonita, com uma figura ereta que desmentia seus
quarenta e nove anos. — Teddy prometeu a ele que limitaria sua extravagância,
mas parece que não aconteceu. Mas não vamos falar disso. Sem dúvida, isso
será resolvido de alguma forma. — Era típico da mãe fechar os olhos para
problemas na firme crença de que alguém os resolveria.

Elas não estavam sentadas por muitos minutos quando Sir Edward e
Teddy se juntaram a elas, mas Teddy logo se desculpou para sair. Jane se
levantou e o seguiu.

— Teddy — ela disse, pegando o braço dele. — Os assuntos estão muito


ruins para você?

— Não poderia ser pior. E o velho se recusa a ficar bravo.

— Oh, querido, o que você vai fazer? — Eles entraram na biblioteca onde
havia um sofá confortável e sentaram-se lado a lado.

— Não sei o que fazer. Você não pode me ajudar, pode mana?

— Quanto você deve?

— Bem... — Ele parecia relutante em continuar. — São principalmente


dívidas de jogos e elas simplesmente precisam ser pagas.

— Continue, quanto?

— Cinco mil ou mais ou menos

— Cinco mil! Oh, Teddy, como isso aconteceu?

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— Você sabe como é. Você ganha e perde, e eu fiquei pensando em me
recuperar. A sorte estava contra mim.

— A quem você deve o dinheiro?

— Lorde Bolsover detém a maior das minhas dívidas de jogo, cerca de


três mil. Ele é o que mais faz barulho. Há um par de outros. Gieves e Hoby e o
vinicultor podem esperar.

— Esperar pelo quê? Até você ter outra sequência de vitórias? E eu


pensaria que era mais importante pagar seu alfaiate e criador de botas que têm
a vida para ganhar. Dívidas de jogos não são obrigatórias por lei. Você deve
saber disso, trabalhando em um escritório de advocacia como você trabalha.

— Mais um motivo para pagá-los. É uma questão de honra.

— Honra! Teddy, se você tivesse alguma honra , acataria o pobre papai,


que sempre fez o melhor por você. Ele não é feito de dinheiro, você sabe.

— Então ele me disse. — Ele deu um suspiro. — Ele sugere que eu


encontre uma esposa rica, de preferência viúva, com idade e independência
suficientes para conter meus excessos.

Jane não pôde deixar de rir e ficou aliviada ao ver uma leve contração
dos lábios do irmão em resposta.

— Ele só disse isso porque estava zangado com você.

— Ele estava falando sério, Jane.

— Você não gosta da ideia?

— Ah, eu gosto bastante, sempre supondo que a riqueza venha com um


rosto e uma figura bonita. Mas onde vou encontrar alguém que me queira?
Mesmo que eu fizesse, levaria tempo e eu não tenho tempo. Hector Bolsover
quer sua parte.

— Oh, Teddy, que bagunça você fez.

— Eu sei. Você pode me ajudar?

— Onde você acha que posso encontrar tanto dinheiro?

— Você ainda tem o legado que Matilda deixou, não é?

— Isso é para ser meu dote.

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— Mas Jane, você nunca vai se casar, vai?

Apenas um irmão seria tão franco. Doeu, mas ela não mostrou.

— Talvez não, mas tenho outros planos para minha herança.

— Mais importante do que resgatar seu único irmão do rio Tick1?

Ela suspirou profundamente. Ela sonhava em abrir um orfanato para


alguns dos filhos de homens perdidos na guerra recente. A ideia surgiu quando
ela esteve em Londres no ano anterior. Ela tinha visto algumas crianças
esfarrapadas e descalças correndo pelas ruas implorando e, quando falou com
uma delas, para consternação da mãe que a acompanhara, contou-lhe uma
história que fez seu coração sangrar por ele. Seu pai havia sido morto em uma
batalha na longínqua Portugal, sua mãe havia sido forçada a trabalhar onde
crianças não eram bem-vindas e, como ela era obrigada a morar no serviço, teve
que desistir da locação de seus dois pequenos quartos. Ele dormia nas portas ou
sob as árvores no parque. “Eu me saio bem”, ele disse, estendendo a mão por
dinheiro.

Quantos mais havia assim? Ela se perguntou, quantas crianças havia sem
casa, sem roupas adequadas e o suficiente para comer?

— Certamente o governo deveria fazer algo a respeito, dissera ela à mãe,


quando deixaram a criança segurando seis centavos. Seus pais lutaram pelo rei
e pelo país, e é assim que são recompensados. É uma vergonha.

— Não vejo o que podemos fazer sobre isso.

— Podemos falar com sir Mortimer para começar. — Sir Mortimer Belton
era o deputado local. — Se o problema lhe for colocado, ele poderá trazê-lo ao
Parlamento. Podemos fazer um barulho, chamar a atenção do público. Criar
uma assinatura para fornecer lares às crianças.

— Oh, querida — dissera a mãe. — Isso soa como uma cruzada.

E uma cruzada tornou-se, mas tentar fazer o governo se mover era como
fazer cócegas em uma tartaruga. Jane havia decidido que devia dar o exemplo,
não em grande escala, não podia pagar, mas podia fazer algo localmente. Um
pequeno internato para cerca de uma dúzia de órfãos de soldados nas

1 Alguns acreditam que as notas do devedor eram chamadas de bilhetes (Tickets),


encurtadas para Tick (carrapato), neste caso preferi deixar o nome original. Surgindo a
expressão afogado no Rio Tick - Afogado em dívidas.

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proximidades era o que ela tinha em mente. Isso poderia incentivar outras
pessoas a fazer o mesmo em suas próprias localidades. As cinco mil libras que
ela tinha não seria suficiente e ela tinha recrutado a ajuda do Reitor, o
reverendo Sr. Henry Caulder e sua esposa, para angariar fundos. Eles
decidiram que a melhor maneira de fazer isso era encontrar patrocinadores
filantrópicos. Para encorajá-los, ela colocaria seu próprio dinheiro no
empreendimento, ela lhes dissera. Se ela desse a herança a Teddy, acabaria com
os planos dela antes que eles começassem a tomar forma.

— Você não pode pedir ao lorde Bolsover por mais tempo, para que
possamos pensar em alguma coisa? — Ela perguntou.

— Você não conhece seu senhorio, ou nem sequer sugeriria isto.

— Se ele é um homem tão desagradável, por que você se associou a ele?

— Ele está no grupo com quem jogo.

— Teddy, você é um tolo e não me admira que papai esteja com raiva de
você.

— Você acha que pode trazê-lo de volta? Ele sempre ouve você. Eu vou
estar para sempre em dívida com você.

Ela riu.

— Você tem dívidas suficientes sem me adicionar à sua lista, Teddy, mas
verei o que posso fazer com o papai. Não hoje à noite, no entanto. Dê há ele
tempo para se acalmar. Quanto tempo você vai ficar?

— Não posso mostrar meu rosto em Londres até que pelo menos
Bolsover esteja satisfeito.

— Mas e sua posição no Halliday?

— Que posição?

Até a Jane quase inabalável ficou surpresa com isso.

— Oh, Teddy, não diga que foi demitido? Não admira que papai esteja
furioso.

— Ele não sabe sobre isso. Não diga a ele. Se você não puder me ajudar,
terei que ir para o exterior, para as Índias, ou algo assim.

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— Isso partirá o coração da mamãe. E será difícil sobreviver com a
vergonha. E há o casamento de Isabel daqui a um mês. O que você acha que
Mark dirá sobre um escândalo como esse que paira sobre as núpcias? Vá
embora, Teddy, faça-se útil em algum lugar e deixe-me pensar.

Ele se levantou e a deixou. Seu pensamento não a levou a lugar algum,


exceto à percepção de que ela teria que perder seu patrimônio. O pensamento
de todas aquelas crianças órfãs continuando a sofrer por causa do egoísmo de
seu irmão era mais do que ela podia suportar. Ela sempre foi tolerante com as
fraquezas de Teddy, mas desta vez ele realmente a irritou. Se não fosse a
angústia de sua mãe e o casamento de sua irmã, ela o deixaria cozinhar.

***

— Se não é Drew Ashton — exclamou Mark quando viu seu velho amigo
caminhando em sua direção ao longo de Piccadilly. — De onde você veio? Faz
anos desde que eu te vi.

— Estive na Índia, acabei de voltar.

— E parecendo muito próspero, devo dizer. — Mark olhou para o outro


homem de cima a baixo, contemplando a jaqueta perfeitamente adequada de
superfino cinza-clerical, o colete bordado, o alfinete de diamante em sua
gravata precisamente amarrada, o vidro de pérola pendurado em uma corrente
no pescoço e o relógio de bolso dourado. Suas calças estavam amarradas sob os
sapatos polidos da cidade.

— Você não costumava ser tão elegante.

— Eu me saí muito bem por aí. Você também não parece tão ruim assim.
O que você tem feito? Como estão a senhora sua mãe e lorde Wyndham?

— Ambos estão bem. Quanto a mim, tenho feito campanha com


Wellington. Cheguei em casa depois de Waterloo e agora estou prestes a me
casar. Estou em Londres para conversar com os meus advogados sobre os
pontos mais delicados do acordo de casamento e comprar uma roupa para o
casamento.

— Você tem tempo de se juntar a mim para uma refeição no Grillon’s,


certamente.

— Sim, claro. Seria um prazer.

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Mark voltou por onde tinha vindo e eles caminharam um pouco pela rua
até o hotel, onde logo se sentaram à mesa e pediram comida e vinho.

— Diga-me — disse Mark, enquanto esperavam a chegada da refeição. —


Por que a súbita vontade de visitar a Índia? Lembro que você deixou
Broadacres com certa pressa. Espero que não tenha nada a ver com a
hospitalidade da mamãe.

— Não, certamente não. A hospitalidade de Lady Wyndham é a das


melhores. Ela me fez muito bem-vindo. Foi um assunto de família que surgiu
de repente e teve que ser atendida. Eu expliquei isso na época.

— Sim você fez. Eu tinha esquecido. Então, o que você vai fazer agora
que está de volta a Inglaterra?

— Estou pensando em comprar uma participação em um Clipper 2 e


continuar negociando. Até agora isso me serviu bem.

— Comércio, Drew?

— Por que não? Não sou tão pretencioso a ponto de virar o nariz para
uma boa maneira de fazer fortuna. — Ele parou de falar enquanto o garçom
trazia as costeletas de porco, suculentas e cheias de gordura, junto com uma
grande tigela de legumes. Eles se serviram e se acomodaram.

— Você é um nababo3? — Mark questionou. Seu amigo certamente deu


essa impressão. Era a única maneira que ele poderia obter tal elegância sem
herdar a riqueza, que Mark sabia que não possuía.

— Você poderia dizer isso. Saí com a intenção de fazer uma fortuna e
nisso consegui. Não sou mais o parente pobre a ser lamentado, porque
nenhuma jovem de qualquer posição me consideraria.

— Tenho certeza de que isso não é verdade, Drew.

— Oh, é, acredite em mim. A jovem com quem eu queria me casar


levantou o nariz orgulhoso para mim. Não era bom o suficiente, você vê.

Mark detectou uma nota de amargura no tom de seu velho amigo.

2
Longo e rápido navio a vela
3 Uma pessoa de grande riqueza ou destaque.

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— Há muito mais peixes no mar.

— De fato, sim, embora, diferentemente de você, não tenho pressa de


ficar algemado.

— Eu não estou com pressa. Nós nos conhecemos desde a infância.

— Conte-me sobre ela. Ela é bonita? Ela tem um temperamento


agradável?

— Sim, para ambas as perguntas. Você a conheceu, Drew. O nome dela é


Isabel Cavenhurst.

— Cavenhurst!

— Sim, você parece surpreso.

— Não, não — disse Andrew apressadamente. — Eu me lembro do


nome. Os Cavenhursts não moram perto de Broadacres?

— Sim, do outro lado da vila, em Greystone Manor. Nós fomos lá várias


vezes enquanto você estava conosco. Certamente você se lembra disso?

— Sim, agora que você me falou, eu lembro. Havia três jovens senhoritas,
eu me lembro, embora a mais jovem, não mais do que uma criança e, o do meio
ainda em suas aulas. A mais velha tinha dezessete ou dezoito anos. Lembro que
o nome dela era Jane. Eu mal me lembro dos outros nomes —. Ele falou com
indiferença, como se isso fosse indiferente para ele.

— Isabel é a segunda filha. Ela é de longe a mais bonita das três, mas
Sophie é jovem e pode crescer em sua aparência. Quanto a Jane, ela tem
algumas qualidades muito boas que posso admirar, mas a boa aparência não é
uma delas.

— Então você escolheu o grupo e não a mais velha. Isso não é um pouco
incomum?

— Nós não estamos na Idade Média, Drew, meus pais nunca


presumiram me dizer com quem eu deveria me casar. Eu fui capaz de me
agradar. De qualquer forma, Jane não teria recebido bem meus avanços, mesmo
que eu decidisse fazê-lo. Eu acredito que houve algum tipo de decepção. Eu não
sei os detalhes, mas ela retirou-se da sociedade e eu vi mais Isabel. Depois, é
claro, fui para Portugal e fiquei seis anos fora. Isabel e eu ficamos noivos
quando voltei.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Então, quando será o casamento?

— No próximo mês. No décimo quinto dia.

— Então eu desejo a você felicidades.

— Obrigado. Você deve vir para o casamento.

— Oh, eu não sei sobre isso.

— Por que não? Você não tem um compromisso marcado, não é?

— Não, estou tão livre quanto o ar até encontrar meu Clipper.

— Então por que a relutância?

— Certamente cabe à família da noiva emitir os convites? Eles podem


não querer me incluir.

— Essa é uma desculpa fraca, se eu já ouvi uma. Eu posso apresentar


meus próprios convidados. Além disso, há algo que você pode fazer por mim...

— Ah, e o que pode ser isso?

— Jonathan Smythe era meu padrinho de casamento, mas ele teve que ir
à Escócia para visitar um parente idoso que está morrendo e, como sua herança
depende de sua presença no leito de morte, ele me abandonou para ir até ela.
Preciso ter alguém comigo no altar.

— Não vejo Jonathan desde que estudávamos juntos. O trio terrível, eles
nos chamavam, lembra?

— Sim. Sempre em travessuras, nós três.

— Minha tia-avó e o primo em segundo grau de Jonathan moram na


mesma área de Strathclyde, ambos assustadores.

— Eu sei, mas assustadores ou não, ele foi convocado e eu fiquei sem um


padrinho.

— Estou lisonjeado, Mark, mas por que eu?

Mark olhou para o amigo, a cabeça um pouco para o lado.

— Porque tenho certeza de que você fará o trabalho admiravelmente


bem e você é um dos meus amigos mais antigos, então quem melhor? Assim
que te vi descendo a rua, soube que meu problema estava resolvido. Você vai
fazer isso, Drew, não vai?

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— Vou pensar sobre isso.

— Não pense demais. Tenho que voltar para Norfolk depois de amanhã
e antes disso tenho que encomendar um terno adequado para um noivo. Você
vai me ajudar a encontrá-lo? Você pode me ajudar a escolher presentes para
minha noiva e sua acompanhante também, se você tiver uma em mente. É
sempre bom não fazer essas coisas sozinho. Um sábio conselheiro é o que eu
preciso.

Andrew riu.

— De não ter nada para me ocupar, além de um bom jantar e um jogo de


cartas, de repente encontro meu tempo repleto de tarefas onerosas.

— Me ajudar a comprar uma roupa de casamento não é oneroso. Não


tenho falta de franqueza. Posso pagar o melhor e, se ajudar, comprometer-me-ei
a ter uma mão de cartas com você. Nós podemos ir ao White's. Você é um
membro?

— Não, eu não voltei a tempo suficiente para ingressar em nenhum clube


e sem patrocinadores, dificilmente serei aceito.

— Não importa, eu vou apresentá-lo. Então, apertamos as mãos? — Ele


largou a faca e estendeu a mão direita.

Andrew pegou.

— Muito bem. Amanhã vamos às compras. Mas não prometo participar


do casamento.

Mark sorriu. Ele ficou satisfeito no momento. Ele não duvidou que fosse
capaz de convencer seu amigo ir a Broadacres e, em seguida, poderia descobrir
a verdade sobre o porquê de ter desaparecido tão repentinamente. Ele não
acreditava na história dos negócios da família, porque, até onde ele sabia, a
única família de Andrew era uma tia-avó solteirona, que não desejava cuidar do
órfão quando sua mãe e seu pai morreram com semanas de diferenças. Ela o
tinha posto com pais adotivos até que ele tivesse idade suficiente para ir à
escola. Pelas coisas estranhas que Drew lhe dissera, ele tinha sido exposto a
abuso físico e tormento mental. Mark sempre sentiu pena dele quando estavam
na escola, porque quando todos os meninos iam para casa nas férias, ele havia
sido deixado para trás. Ele o convidara para Broadacres, mas, até que Drew
tivesse idade suficiente para tomar suas próprias decisões, havia sido proibido

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de ir, o que lhe daria ideias acima de sua posição. Foi quando eles deixaram a
universidade que ele havia passado um tempo em Broadacres, antes de
procurar uma maneira de ganhar a vida. Por que, se foram os negócios da
família que o chamaram, porque ele se apressou a ir para a Índia?

***

Quando terminaram a refeição, pela qual Andrew insistira em pagar, eles


se separaram, prometendo se encontrar novamente em breve. Mark contratou
um hackney4 para levá-lo a Halliday e Son, para consultar o filho, Sr. Cecil
Halliday, sobre o acordo de casamento. Mark era um homem cuidadoso, mas
não era mesquinho, ele queria ter certeza de que Isabel teria dinheiro suficiente
para comprar o que quisesse em vestidos e roupas sem ter que apelar para ele
todas às vezes. Ele sabia que Sir Edward estava lutando, era óbvio pelo estado
da casa e dos terrenos e ele havia renunciado ao dote que lhe fora oferecido. Ele
sabia quanto sacrifício teria sido para os outros, sua senhoria, Jane e Sophie, que
poderiam sofrer como consequência. Era a última coisa que ele queria.

Ele ficou surpreso quando chegou às instalações do advogado e não


encontrar Teddy, que geralmente estava se coçando no escritório externo. Havia
outro homem sentado em sua mesa.

— Onde está o senhor Cavenhurst? — Ele perguntou depois que ele


tinha entrado no escritório de Cecil Halliday e eles trocaram cumprimentos e
apertos de mão.

— O Sr. Cavenhurst já não está entre nós.

— Não está trabalhando aqui? Onde ele foi?

O homem encolheu os ombros.

— Não faço ideia, talvez de volta aos alojamentos dele ou a casa de


Norfolk.

— O que aconteceu?

— Não cabe a eu dizer, senhor.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Entendo sua reticência, mas ele deverá ser meu cunhado. Devo
assumir que você dispensou os serviços dele?

— Você pode assumir isso — disse o homem de boca fechada. — Não


direi nada.

— Muito bem. Não vou constranger você fazendo mais perguntas.


Vamos ao que interessa?

***

Eles passaram a hora seguinte ajustando o contrato e Mark partiu para os


alojamentos de Teddy. O jovem fugiu do aluguel, disse-lhe o porteiro em tom
de luto. Mark pagou o aluguel em atraso e voltou para o seu hotel. Ele havia
conhecido Teddy toda a sua vida, eles tinham jogado juntos quando crianças e
ido para a mesma escola, embora Teddy fosse quatro anos mais jovem e tenham
tido muito pouco contato enquanto estiveram lá. Eles não haviam frequentado a
mesma universidade e, depois Mark tinha se alistado no exército em Portugal e,
posteriormente, Teddy assumiu o cargo de escriturário júnior de Halliday e
Son. Só recentemente, por causa do casamento, eles tinham visto mais um ao
outro.

Mark queria gostar de Teddy por causa de Isabel, mas ele sempre o
achara impetuoso e insensível, o que havia acontecido, ele supunha, porque ele
era o filho e herdeiro ansioso. Nascido entre Jane e Isabel, ele fora
completamente mimado por sua amada mãe. Então, o que ele fez para fazer
Halliday lhe dar a sacola 5? O que quer que fosse não agradaria sir Edward.

***

Ele conseguiu adivinhar mais tarde naquela noite, quando ele e Drew se
encontraram no White's e se juntaram a outros dois em um jogo de whist 6. Um
deles era Toby Moore, um antigo capitão do exército que Mark conhecera um
pouco durante a guerra, e o outro era lorde Bolsover. Eles não eram os dois com
quem ele normalmente escolheria jogar, mas todos os outros homens presentes
já estavam instalados nos seus jogos e ele dificilmente poderia recusar um
pedido educado para compor um quarteto.

5 Gíria para dizer que foi demitido


6 Whist é um clássico jogo de cartas inglês

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você é parente de uma das garotas de Cavenhurst, não é? — Bolsover
perguntou, enquanto esperavam que um novo baralho fosse trazido para a
mesa. Ele era um ou dois anos mais velho que Mark, vestido de forma
extravagante. Seu cabelo escuro estava curto e enrolado sobre a testa e as
orelhas. Sua pele estava bronzeada, o que era surpreendente, pois, até onde
Mark sabia, ele passava longas horas nas mesas de jogo.

— Sim — disse Mark. — Tenho a honra de estar noivo da senhorita


Isabel Cavenhurst.

— O casamento será em breve, não é?

— Dentro de pouco menos de um mês. Por que você pergunta?

— Curiosidade, meu caro companheiro. Conheço bem Cavenhurst.

— Sir Edward?

— Não, nunca o conheci. Eu quis dizer o filho. Tivemos algumas mãos de


cartas juntos. Receio que ele seja um pobre perdedor. Eu acredito que ele correu
para casa em um contrato de arrendamento para reparação. Espero que ele se
recupere rapidamente, não tenho o hábito de esperar pelo meu dinheiro.

Mark podia acreditar nisso e se perguntou para onde a conversa estava


levando.

— Sem dúvida, ele foi para casa para o casamento.

— Tão cedo? Eu acho que não. Espera-se que o pai dele consiga trunfos
porque no momento eu seguro todas as cartas. Comprei todas as dívidas do
homem e elas se espalharam por toda parte. Acho que Teddy Cavenhurst nunca
comprou nada com dinheiro. Todos sabem que os credores que não conseguem
fazer os seus devedores pagarem sua dívidas, costumam vende-las por uma
fração do valor original, a fim de se livrar delas.

Seu coração afundou, mas ele o escondeu com uma risada.

— Sir Edward sempre foi apaixonado por seu filho. Não tenha medo.

— Ouvi dizer que a propriedade está em péssimo estado e Sir Edward é


duro de roer. — Bolsover falou com indiferença ao pegar o maço que acabara de
ser colocado sobre a mesa na frente dele e quebrar o selo.

— Onde você ouviu isso? Não sei nada disso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Sua senhoria deu uma risada rachada.

— Preocupado que o dote da dama esteja em risco, não é?

— Não, claro que não. Não sei onde você obteve suas informações, mas
sugiro que você diga a quem quer que seja que elas estão erradas. Agora, como
temos as cartas, vamos jogar?

— Com certeza. — Sua senhoria terminou de embaralhar e as colocou


sobre a mesa. — Você quer ganhar trunfos, senhor Ashton?

O assunto de Teddy e suas dívidas foram abandonados, mas preocupou


Mark. Da maneira como Bolsover falou sobre o dote e a propriedade de
Greystone, o montante deveria ser substancial. Certamente não o suficiente
para arruinar Sir Edward? Quanto era? Ele poderia perguntar a Isabel ou,
melhor ainda, a Jane. Ela seria obrigada a conhecer a extensão dos problemas
de Sir Edward.

***

— Você não está se concentrando — murmurou Drew, durante o


intervalo entre uma partida e outra, enquanto a pilha de moedas no cotovelo de
Bolsover havia crescido. — Eu já havia vencido a segunda rodada, não era
preciso desperdiçar nada. Esse é um erro de iniciante.

— Eu sinto Muito. Isso não vai acontecer novamente.

— Sonhando com sua noiva, não é?

Mark sorriu, mas não respondeu. Ele pegou as cartas que Toby Moore
acabara de dar. Isso era melhor; ele tinha uma boa mão. Eles jogaram em
silêncio e recuperaram algumas de suas perdas. Drew era um jogador muito
bom, ele parecia saber onde estavam todas as cartas e no final da noite estavam
lucrando.

***

— Uma noite satisfatória — disse Drew, enquanto passeavam pela


Jermyn Street, onde ele estava hospedado.

— Acho que você deve ser um jogador experiente — disse Mark. —


Hector Bolsover tem uma reputação de agudo, mas você o fez parecer
desajeitado. Ele não vai gostar disso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O que você sabe do homem?

— Não é grande coisa. Eu acredito que ele é solteiro e passa o tempo


todo nos clubes e nos infernos dos jogos. Ouvi dizer que ele nem sempre joga
limpo, embora ninguém tenha achado conveniente desafiá-lo. Se ele tiver os
comprovantes de Teddy, isso pode prejudicar os Cavenhursts.

— Então era sobre isso que você estava em um escritório marrom7?

— É preocupante.

— Você está preocupado com o dote?

— Deus do céu, não! É a menor das minhas preocupações.

— Então, ainda vamos procurar a elegância do casamento amanhã?

— Naturalmente nós vamos. — Pararam em frente ao alojamento de


Drew. — E você vai voltar para Broadacres comigo, não é?

— Eu já disse isso?

— Não, mas você vai. Quero que você encontre Isabel novamente antes
do casamento. Convidaremos os Cavenhursts para jantar.

Drew riu.

— Diante de tal perspectiva, como posso recusar?

Mark foi a caminho da casa da cidade de Wyndham, na South Audley


Street, bastante satisfeito.

7Um humor em que você está muito envolvido com seus próprios pensamentos e não
presta atenção a mais nada

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Dois

— Papai, você pode me dar um minuto? — Jane encontrara o pai no


escritório da propriedade onde ele trabalhava quase todas as manhãs. A mesa
na frente dele estava cheia de papéis. Evidentemente, ele passara os dedos pelos
cabelos grisalhos; parte dele estava em pé.

— Oh, é você, Jane. Entre e sente-se. Eu pensei que era aquele meu filho
reprovável e dificilmente posso ser civilizado com ele no momento.

Jane avançou mais para a sala e sentou-se na cadeira, do outro lado da


mesa, uma posição geralmente ocupada pelo gerente da propriedade, mas ela
acabara de vê-lo sair e sabia que seu pai estava sozinho.

— Lamento ouvir isso, papai. É em seu nome que eu vim.

— Então, ele se rebaixou para enviar sua irmã para implorar por ele, não
é?

— Ele acha que você não compreendeu completamente o problema em


que está e que talvez eu possa explicar melhor do que ele.

Sir Edward conseguiu dar uma risada sem humor.

— Compreendo muito bem, Jane. O que ele não compreende é como é


impossível para eu cumprir suas exigências trágicas sem empobrecer o resto da
família.

Jane ofegou.

— Certamente não é tão ruim assim?

— É tão ruim quanto isso. Meus investimentos falharam. A colheita


arruinada do ano passado e as demandas de meus inquilinos por reparos, para
não mencionar o casamento de Isabel, foram à gota d'água. Nós vamos ter que
recuar. Sinto muito, mas Teddy terá que encontrar sua própria solução. Eu o
avisei da última vez que ele chegou à casa que era a última vez. Ele deve
entender que eu quis dizer isso.

— Mas o que ele deve fazer papai? Ele é jovem e impressionável, é


natural que ele queira abrir as asas e acompanhar seus amigos.

—Então ele deveria escolher seus amigos com mais sabedoria.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Mas, papai...

— Jane, você vai me desagradar se continuar. Você tem um coração


suave e gentil e isso é do seu crédito, mas neste caso você está apoiando uma
causa perdida. Você faria melhor em pensar em formas de contenção, maneiras
que sua mãe aceitará como razoáveis.

— Muito bem, papai. — Ela se levantou para ir embora, depois voltou. —


O casamento de Isabel não está em risco, está?

— Não, acho que podemos administrar isso.

Ela deixou o pai, mas não procurou imediatamente o irmão. Ela


precisava de um pouco de tempo para si mesma e precisava pensar na tarefa
que seu pai a havia designado. Uma coisa era muito séria: sua herança teria que
ser sacrificada e quanto mais cedo ela aceitasse isso, melhor. Ela foi até o quarto,
vestiu um xale leve e um gorro e partiu para a vila.

***

Mas, pelos problemas que a pesavam, ela teria desfrutado da curta


caminhada. O sol estava brilhando, os pássaros estavam cantando e as sebes
brilhavam com flores. A vila de Hadlea, situada no norte da região de Norfolk,
não era grande. Havia uma igreja, uma reitoria, um moinho de vento, duas
pousadas e vários chalés agrupados em torno de um vilarejo triangular com um
gramado, no qual havia uma bomba e alguns estoques antigos, embora
ninguém tivesse sido colocado em sua memória. As estradas laterais do
gramado levavam a um ferreiro e um fabricante de arreios, que também
consertava sapatos, um açougue e uma pequena loja de frente para o mercado
que vendia quase tudo o que as mulheres da vila precisavam, desde sal a açúcar
e sabão a velas, botas de trabalho a tecido de algodão. Para qualquer coisa como
musselina e seda, fitas e gorros, eles precisavam fazer uma viagem a Norwich
ou King's Lynn ou esperar até que o vendedor ambulante aparecesse
geralmente no final da colheita, quando seus clientes tinham um pouco de
dinheiro para gastar.

Jane foi até a reitoria e foi recebida com alegria pela Sra. Caulder.

— Entre, Jane, levarei chá e bolos para a sala. Está na hora de Henry sair
do escritório. Ele esteve lá à manhã toda, trabalhando no sermão de amanhã.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


A Sra. Caulder era muito gordinha, uma prova do amor pelos bolos de
sua cozinheira. Ela se mexia, dando as ordens e chamando o marido para se
juntar a elas, enquanto Jane se sentava em uma das cadeiras, e se perguntava
como ela explicaria que as cinco mil libras que prometera para o projeto não
seriam entregues. Ela não poderia divulgar o verdadeiro estado das coisas.

— Como esta você minha querida? — A Sra. Caulder perguntou. — Você


andou até aqui? Não ouvi o pônei e a charrete.

— Eu andei. Está um dia adorável. — Enquanto falava, ela se perguntou


se o pônei teria que ir, ou talvez a carruagem, ou os cavalos.

— Com certeza está. Ah, aqui está Henry.

O Reitor era de estatura mediana, com cabelos grisalhos, que ele usava
compridos e amarrados com uma fina fita preta. Ele era um homem jovial e
sorriu para Jane.

— Que prazer vê-la, minha querida senhorita Cavenhurst. Espero te


encontrar bem.

— Muito bem. Mas receio ter notícias decepcionantes.

— Certamente não é o casamento? — Exclamou sua esposa, entregando


uma xícara de chá a Jane.

— Oh, não, nada disso. Simplesmente não posso dar ao nosso projeto dos
órfãos os cinco mil que prometi. — Ela fez uma pausa, depois recorreu a uma
inverdade. — Acho que não posso tocá-lo até me casar ou atingir os trinta e três
anos. Eu tenho estourado meu cérebro tentando pensar em uma maneira de
seguir em frente sem ele.

— Minha querida menina, não pareça tão desanimada, não é o fim do


mundo — disse o Reitor, levantando a saia do casaco e sentando-se ao lado da
esposa para tomar uma xícara de chá. — Nós vamos conseguir de alguma
forma sem ele. Teremos que encontrar um patrono rico, mais de um, se
necessário. Nunca me senti muito à vontade com você dando-o em primeiro
lugar.

— Oh, estou muito aliviada — disse Jane. — Pensei que seria o fim de
todas as nossas esperanças. Você me deu um novo coração.

— Existem orfanatos em todo o país, alguns muito melhores que outros.


Devemos saber como eles gerenciam e elaborar uma lista de possíveis clientes.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Você com certeza poderia convencer as pessoas a doar. É uma boa causa e você
é tão apaixonada por ela.

***

Jane riu disso e o resto da visita passou alegremente. Ela ainda estava
sorrindo quando começou a atravessar o gramado a caminho de casa. Ela
abaixou a cabeça, pensativa, e não viu os dois homens até estar quase junto a
eles.

— Jane, que bom encontra-la — Mark gritou para ela.

Ela olhou para cima, assustada, e se viu recuando dez anos. O homem ao
lado de Mark era inconfundível. Os anos o haviam tratado gentilmente. Ele era
alto, largo, musculoso e vestido com perfeição em um casaco marrom de tecido
atoalhado e camurça dobrada em brilhantes com bordas. Uma corrente de
relógio de ouro pendia do colete cremoso de brocado e um enorme diamante
brilhava em sua gravata. Tudo isso ela notou antes de levantar os olhos para
olhar em seu rosto. Estava bronzeado e as únicas linhas estavam ao redor de
seus olhos castanhos, devido a risadas ou estrabismo ao sol. Ele estava olhando
para ela com um olhar que ela interpretou como diversão. Ela era uma figura
cômica? Certamente, seu vestido era liso, mas seu xale era bonito e as fitas em
seu gorro eram novas, mesmo que o gorro não fosse.

— Se lembra da senhorita Cavenhurst, não? — Mark disse a ele. Esta é


Jane, irmã da minha noiva.

— Claro que me lembro — disse Drew, tirando o chapéu. — Srta.


Cavenhurst, como vai?

— Eu estou bem. E você? — Ela sempre se perguntava como seria


encontrá-lo novamente e se a antiga atração ainda estaria lá. Ele era um homem
extremamente atraente, com certeza, e muito mais confiante do que o homem
que ela mandara embora, mas depois de dez anos, teria sido surpreendente se
ela não o encontrasse mudado.

— Estou com boa saúde, senhorita Cavenhurst, e feliz por reencontrar


com você. Já faz algum tempo.

— Dez anos — ela murmurou e depois desejou não ter mencionado o


tempo. Ele assumiria que ela estava contando e pensando nisso, que foi a última
impressão que ela quis lhe dar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Sim, e cada um deles dedicado ao objetivo de voltar um dia, tendo
feito a minha fortuna.

— E você fez?

— Eu acredito que sim.

— Ele é um nababo — disse Mark, rindo. — Mas por baixo ele é o mesmo
Drew Ashton que eu conhecia antes de ele ir embora. Ele veio ficar conosco em
Broadacres e ser meu padrinho de casamento.

— Pensei que você já tivesse alguém — disse Jane, virando-se para ele.
Ele era quase tão alto quanto Drew, mas mais magro e sua boa aparência
urbana contrastava fortemente com a aparência desgastada de seu amigo.

— Eu tinha, mas ele foi chamado e, quando encontrei Drew em Londres,


a solução para o meu problema era óbvia.

— Que sorte para você. — Ela voltou-se para Drew. — Então você veio
ver como todos nós continuamos em Hadlea, senhor Ashton? Somos uma
comunidade tranquila, poucas mudanças aqui.

— Exceto que todos envelhecemos e somos mais sábios — disse ele.

— Isso é verdade, é claro. — Isso era alguma referência à juventude dez


anos antes ou ele estava lhe dizendo que sua antiga paixão havia morrido uma
morte natural, como certamente a dela deve ter feito?

— Jane, eu preciso ter uma palavrinha a sós com você — disse Mark. —
Talvez Drew nos dê licença por um momento?

— Com certeza — disse Drew— Vou me divertir explorando a vila. —


Ele se curvou para Jane. — Bom dia, senhorita Cavenhurst. Estou ansioso para
renovar meu conhecimento com o resto de sua família enquanto estiver aqui.

Ela inclinou a cabeça em reconhecimento.

— Bom dia, senhor Ashton.

Ela o viu se afastar depois se voltou para Mark.

— Ele mudou muito e ainda não mudou nada.

— Exceto que ele é mais rico — disse Mark com uma gargalhada.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Sobre o que você queria falar comigo? — Ela não queria falar sobre
Andrew Ashton. Sua chegada repentina foi outra coisa com a qual ela teria que
lidar. Ele mencionaria o passado ou seria um livro fechado? Ela esperava o
último. Ela não queria ser lembrada disso.

O sorriso de Mark morreu e ele parecia relutante em continuar, o que era


tão diferente dele que ela se perguntou o que poderia ser.

— Conheci lorde Bolsover enquanto estava em Londres. Drew e eu


tivemos uma mão de Whist com ele e um amigo dele no White’s.

— Oh, certamente você não é um homem de apostas, Mark? O jogo é um


mal insidioso.

— Só jogo por diversão de vez em quando e nunca com apostas altas.


Você se diverte à noite, não é?

— Sim, quando temos companhia e então com tabuleiros, não com


dinheiro. Mas continue.

— Bolsover não é um homem com quem eu normalmente me associasse,


mas Drew queria um jogo.

— Mark, você está fazendo rodeios. Você vai me dizer que Teddy lhe
deve dinheiro, não é?

— Você sabe disso?

— Sou a primeira pessoa a quem meu irmão chega quando está com
problemas.

— Creio que ele deve muito ao lorde Bolsover. Você me diz quanto?

— Mark, eu sei que você tem boas intenções, mas Teddy não gostaria que
eu divulgasse os valores, nem mesmo para você. Por que você quer saber?

— Lorde Bolsover está dizendo que Teddy é um caloteiro e ele terá seu
dinheiro por bem ou por mal. Ele até sugeriu que teria a mansão.

Ela ofegou.

— Não é uma quantia tão grande, Mark. Ele não pode fazer isso, pode?

— Não enquanto seu pai estiver vivo, mas quando Teddy herdar, isso
será uma questão diferente. Isabel estará comigo, é claro, mas estou preocupado
com você, sua mãe e Sophie. Sir Edward pode pagar as dívidas?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela hesitou. Para sua vergonha, ela já havia contado uma mentira
naquele dia e não queria contar outra, especialmente para Mark, mas ele
realmente a assustava com a história de que lorde Bolsover havia comprado
todas as dívidas de Teddy, em toda a extensão da qual ela não sabia.

— Vamos, Jane, em breve serei da família e ajudaria se pudesse. Não vou


repetir o que você me disser.

— Se papai pode ou não, não é esse o ponto, Mark. Ele simplesmente se


recusa.

— Oh, querida, ele sabe o quão fundo Teddy está?

— Eu não sei, Teddy pode ter dito a ele, mas se as coisas forem tão ruins
quanto você diz, papai teria uma luta para resolver, eu acho. Como todo
mundo, ele foi gravemente atingido por impostos e colheitas ruins. Farei o que
puder por Teddy com meu próprio dinheiro e isso poderá impedir sua senhoria
por um tempo.

— Jane, você não pode fazer isso. Seu dinheiro é seu dote.

Ela deu um sorriso torto.

— É provável que eu nunca me case Mark, e todos sabem disso.

— Absurdo. Você seria uma esplêndida esposa para alguém e eu sei que
você ama crianças. Eu vi você com elas na vila. — Ele riu de repente. — Se eu
ainda não tivesse sido pego, poderia me oferecer.

Ela não pode evitar, as lágrimas derramaram dos seus olhos. Era tão
diferente da Jane realista que ele ficou alarmado. Ele colocou o braço sobre ela e
a puxou para ele, de modo que a cabeça dela se aninhou no ombro dele. — Não
achei que isso faria você chorar, Jane. Peço perdão.

Irritada consigo mesma, ela se afastou dele.

— Oh, não foi isso. Foi... —Ela engoliu em seco. — Foi o pensamento das
dívidas de Teddy nos deixando tão baixos. — Ela secou os olhos e conseguiu
rir. — Eu poderia alegremente espancá-lo.

— Eu também.

— Isabel não sabe de nada, então, por favor, não diga nada. Não
devemos estragar o casamento dela. Não tenho dúvida de que vamos resolver.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Vou acompanhá-la até em casa.

— Não, por favor, não. Eu ficarei bem. Volte para o Sr. Ashton; ele está
obviamente esperando por você. — Ela acenou com a cabeça em direção a
Drew, que estava parado do outro lado do gramado.

***

Era típico de Jane ser tão altruísta, pensou Mark quando se juntou a
Drew. Ela sempre pensou nos outros antes de si mesma e sua família cega
considerava isto certo. Até Isabel, enquanto cantava seus louvores, se
aproveitava dela. Quanto ao irmão, ele era um patife, sem um pingo de
consciência ou bom senso, e se utilizava da irmã sempre que estava em apuros
o suficiente. Ele podia pagar a dívida por eles, mas tinha certeza de que Sir
Edward era orgulhoso demais para aceitar, embora não duvidasse de que
Teddy o aceitaria ansiosamente e continuaria como antes. Seria como jogar
dinheiro em um poço sem fundo. Teddy precisava aprender uma lição. Mas o
que e como? Ele precisava pensar um pouco e ele não faria nada até depois do
casamento.

— Se eu não te conhecesse melhor, pensaria que você gosta demais de


sua futura cunhada — disse Drew, enquanto voltavam para Broadacres.

— Absurdo. Temo que, sem querer, a tenha perturbado.

— Não parecia assim para mim.

— A aparência pode enganar e não é da sua conta, Drew.

— É verdade, e tampouco não é verdade para aquelas velhas fofoqueiras


de pé junto ao portão do jardim, mas não tenho dúvidas de que o farão.

Mark olhou d na direção do aceno de Drew. A Sra. Stangate e sua


companheira, a Sra. Finch, estavam de pé no antigo portão do jardim,
observando-os.

— Ah, não, as duas maiores fofoqueiras da vila. Elas adicionam dois e


dois e fazem cinco.

— O que você disse a ela? Deve ter sido algo muito revelador para você
abandonar seu senso habitual de decoro.

— Expressei o desejo de bater no irmão dela.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Drew riu.

— Suponho que você tenha contado a ela sobre nosso encontro com lorde
Bolsover.

— Sim, mas ela já sabia um pouco do que Teddy estava fazendo, mas
suspeito que não o todo. Fico com raiva da maneira como todos da família se
apoiam em Jane e esperam que ela os busque em qualquer desabafo em que
tenham caído.

— É assim mesmo?

— Sim. Ela desistiu de tudo por eles e agora propõe usar seu próprio
dinheiro para pagar a dívida de Teddy.

— Ela sabe quanto é isso?

— Acho que não. Também não acho que ela tenha o suficiente. Segundo
Isabel, a avó deixou para cada uma das meninas um pouco de dinheiro por um
dote. Isabel já gastou o dela em seu enxoval, então não pode ter sido uma
grande quantidade.

— Diga-me — disse Drew, pensativo. — Por que você escolheu Isabel em


vez de Jane, quando você claramente tem uma grande consideração por ela?

Mark hesitou antes de responder, tentando encontrar uma resposta


satisfatória.

— Uma grande consideração não é amor, é? Jane tem muito a elogiá-la,


mas eu não pensei nela dessa maneira. Todo mundo, e isso me inclui,
simplesmente aceitou que ela não iria se casar e ficou fácil pensar nela como a
irmã solteira de Isabel. Injusto, talvez, mas essa é à maneira dela. — Quão
injusto ele estava agora começando a perceber.

— E Isabel?

— Isabel é linda e animada e me ama. O que mais um homem pode


pedir?

— O que é verdade — Drew murmurou.

— Você nunca se apaixonou?

— Frequentemente. Eu me apaixonei por todas as amantes enquanto


durou, mas nunca o fiz. Elas sempre revelam suas cores verdadeiras no final.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Então você não se apaixonou. O amor deve durar a vida inteira.

— É assim mesmo?

— Sim. Temo que você seja cínico demais, Drew. O que fez você assim?
Você ficou desapontado?

— Acabei de dizer isso. Frequentemente.

— Eu não estava falando de amantes e você sabe disso. Eu quis dizer


uma jovem de verdade. — Ele fez uma pausa, lembrando-se de algo que Drew
havia dito. — Oh, a jovem senhorita que desprezou você. Isso doeu, não foi?

— Na época, sim.

— Então você voltou para tentar de novo?

— Não. Isso aconteceu há muito tempo, nós dois mudamos.

— Quem é ela?

— Isso seria dizer.

— Então diga.

— Talvez um dia. Agora podemos mudar de assunto? Acho isso


extremamente chato.

Mark riu.

— Muito bem, guarde seus segredos. Gostaria de montar esta tarde?


Poderíamos dar a volta na propriedade e atravessar vila até o brejo. Posso
encontrar uma boa montaria.

— Uma excelente ideia.

Entraram nos portões de ferro forjado de Broadacres e subiram o


caminho de cascalho até a casa. Era uma casa muito grande, testemunho da
riqueza dos antepassados de Wyndham que a construíram. Quase um castelo,
tinha uma torre em cada um dos quatro cantos e um lance de escada em
suporte até uma enorme porta da frente de carvalho. Com quatro andares e um
teto com ameias decoradas com entalhes, as janelas compridas refletiam o sol e
brilhavam como uma miríade de espelhos. Mark adorava. Era sua herança e era
para este lar que ele traria sua noiva. Certamente era extenso o suficiente para
sustentar duas famílias. Ele não precisava ou queria encontrar outro lar para ele
e Isabel.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O que você acha de Broadacres? — Ele perguntou ao amigo. — É
como você se lembra?

— Sim. Melhor ainda. Lorde Wyndham tem um bom gerente de


propriedade, acho.

— O melhor, mas meu pai gosta de se envolver na administração e ele


sempre tenta me incluir em todas as decisões; portanto, quando chegar a hora,
embora eu reze para que seja um longo tempo de folga, eu poderei assumir o
controle com pouca ou nenhuma perturbação.

— Você planejou sua vida de maneira tão ordenada, Mark, nada jamais
perturbou seu equilíbrio?

— Ocasionalmente, mas tento não deixar. Estar constantemente


emocionado não é bom para a saúde.

Drew riu.

— Então você e eu devemos diferir. Gosto de um pouco de emoção,


fazendo algo fora do comum apenas para sentir que estou vivo.

— A Índia não foi empolgante o suficiente?

— Teve seus momentos.

— Conte-me sobre isso. Prometi a Isabel que viajaríamos muito em nossa


viagem de núpcias e a Índia talvez fosse o lugar certo.

— É um continente extraordinário. Há uma riqueza enorme e uma


pobreza abjeta lado a lado, e sempre há batalhas de um tipo ou de outro entre
os nativos e a Companhia das Índias Orientais. Também é muito bonito se você
pode tolerar o calor. O melhor lugar para estar nos meses de verão é nas
montanhas. Se você realmente pretende ir e eu tiver comprado meu navio, você
pode ir por ele. Será meu presente de casamento para vocês dois.

— Isso é muito generoso da sua parte, obrigado.

— De modo nenhum. Você e seus pais foram generosos comigo. Eu não


esqueci isso.

— Temos que encontrar uma noiva para você.

— Se eu precisar de uma noiva vou encontrar uma para mim — disse


Drew. — Abomino casamenteiros. Perdoe-me, meu amigo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Mark riu e eles subiram os degraus e entraram no interior frio da casa.

***

Jane voltou para casa com a cabeça em um turbilhão de emoções


misturadas. Os últimos dias perturbaram o teor uniforme de sua vida. De
ajudar sua irmã em seu casamento, determinada a fazer o melhor que podia, na
esperança de que isso acalmasse seus demônios, ela fora lançada no que só
poderia chamar de desordem. Primeiro, Teddy e seus problemas, que já eram
ruins o suficiente, depois a revelação de seu pai de que eles não estavam tão
confortáveis financeiramente quanto todos pensavam e agora a súbita chegada
de um fantasma do passado que a enervava. Ela era tão imune a ele como
sempre esperava que fosse se eles se encontrassem novamente? Somente o
tempo diria; ele a deixou sem fôlego e fez seu coração bater mais rápido, mas o
que isso significava, exceto surpresa? Quanto tempo ele pretendia ficar?
Segundo Mark, ele estaria no casamento, dali a três semanas. E ainda por cima,
Mark a viu chorar e a tomou em seus braços, e o demônio que estava sentado
em seu ombro fez uma pequena dança de alegria. A todo custo, ela teve que
dominar.

Ela tomou o longo caminho para casa, a fim de se acalmar e se concentrar


no que era importante, então virou uma rua tranquila que levava à floresta
antiga que protegia a casa do vento norte que descia do Ártico sem nada no seu
caminho para pará-lo.

A floresta estava silenciosa, mas havia sons se alguém se desse ao


trabalho de escutar. O canto dos pássaros, sempre mais forte na primavera; o
arrulhar dos pombos; o farfalhar de pequenos animais nas últimas folhas
mortas; o suspiro do vento nas copas das árvores; o latido distante de um
cachorro; seus próprios passos, quase silenciosos. E havia outras coisas para ver
e observar: os brotos nos castanheiros; o desenrolar das hastes pálidas e novas
da samambaia; campainhas com suas cabeças balançando a cabeça suavemente;
a estranha folha marrom pendurada no galho nu de um carvalho, ainda não em
folha nova; uma borboleta emergindo de sua crisálida e secando suas asas em
um trecho de luz solar filtrando através dos galhos. A primavera foi uma época
de novos começos, de esperança. Para onde iria à vida dela daqui? Ela
continuaria como vinha fazendo nos últimos dez anos ou tomaria uma direção
diferente? Como ela poderia ajudar melhor o pai?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela saiu para a rua, atravessou a estrada estreita e atravessou um portão
que dava para os fundos da casa. Ela ficou um momento parada para olhar. Era
antiga, mas não tão antiga quanto Broadacres, tendo sido construída pouco
antes da Guerra Civil, quando foi sequestrada pelos parlamentares e dada aos
ancestrais de seu pai por seus serviços à causa. Eles pareciam não ter sofrido
por sua lealdade, porque na restauração subsequente da monarquia, eles
tiveram permissão para manter o prêmio. Tudo aconteceu cento e cinquenta
anos antes e Sir Edward raramente falava disso. Jane deduziu que ele talvez
estivesse um pouco desapontado por seus antepassados não receberem um
título, o que o colocaria acima das pessoas comuns. Ele compensou isso com
aspirações para suas filhas, razão pela qual ele tinha sido tão contra qualquer
conexão entre Jane e Andrew Ashton. Jane, que adorava o pai e sempre o
obedecia, mandara o pretendente embora.

Seria falso dizer que ela lamentou a partida dele desde então. Ela ficou
triste por mais ou menos um ano e, depois se reuniu para se estabelecer em seu
papel de filha solteira e as esperanças de todos se voltaram para Isabel. Um
casamento entre Mark e Isabel era discutido há anos, mas ele não havia
proposto formalmente até voltar da guerra. Desde então, a atenção de todos
estava concentrada no casamento. Mas agora, ao que parecia aquilo estava
destinado a ser ofuscado por problemas financeiros. Seu pai pediu que ela
pensasse em formas de contenção e ela até agora não havia feito nada a
respeito. Ela faria isso naquela mesma tarde e elaboraria uma lista.

Levantando-se, ela acelerou o passo e logo estava dentro de casa. Depois


de largar seu xale e gorro no quarto, ela desceu as escadas para o pequeno
salão, onde encontrou sua mãe e Isabel examinando a lista de convidados para
o casamento. A maioria de seus amigos e vizinhos já sabia disso, mas havia
outros que Lady Cavenhurst achava que deveria ser convidado. No que eles
estavam em desacordo com Sir Edward.

— Papai diz que não precisamos convidar tantos — reclamou Isabel


quando Jane se sentou ao lado delas. — Ele diz que tudo está saindo do controle
e precisamos limitar o número a cinquenta, quando eu estava planejando cento
e cinquenta, pelo menos.

— Realmente conhecemos tantas pessoas? — Jane perguntou


suavemente.

— Claro que nós conhecemos. Papai está sendo irracional.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Sem dúvida, ele tem suas razões. Deixe-me ver a lista.

Isabel entregou a ela.

— Mas há aqui toda gente a quem só dissestes meia dúzia de palavras,


Issie — disse ela, examinando rapidamente. — Eles só virão se empanturrar no
banquete e não desejar boa sorte. Não seria melhor que fosse um pouco mais
íntimo, apenas com parentes próximos e amigos que ficariam felizes por você?
Mark, eu notei, não quer um grande número de convidados e você não quer
que os convidados dele sejam surpreendidos pelos seus, não é? Seria um
pequeno esforço reduzi-los.

— Seria? Eu não tinha pensado nisso. Agora você colocou uma dúvida
em minha mente. Mamãe vamos cruzar alguns deles?

— Talvez devêssemos dar outra olhada nisso — disse sua senhoria. —


Mas realmente não podemos limitar nossos convidados a cinquenta, isso seria
parcimonioso.

Era evidente para Jane que sua mãe não sabia, ou estava fechando os
olhos à extensão dos problemas financeiros deles ou que seu pai não teve
coragem de contar. A menos que ela tivesse julgado mal a situação, ele teria que
fazer em breve.

— Descobri que há um que não virá. Eu encontrei Mark na vila e ele me


disse que Jonathan Smythe foi chamado para o leito de morte de um parente e
ele nomeou um novo padrinho de casamento. Sem dúvida, ele lhe dirá quando
a vir.

— Que será amanhã à noite — disse Lady Cavenhurst. — Estamos todos


convidados para Broadacres para jantar.

— Todos nós? — Jane perguntou, seu coração estava afundando.

— Sim, claro. Lady Wyndham não deixaria ninguém de fora, deixaria?


Mark disse quem deve ser seu novo padrinho?

— Sim. Sr. Andrew Ashton. Ele estava com Mark quando eu o encontrei.

— Ashton! — Exclamou a mãe. — Por que diabos ele o escolheu?

— Ele é um velho amigo de Mark, mamãe, então por que não?

— Andrew Ashton — murmurou Isabel. — Ele não veio e ficou em


Broadacres anos atrás?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu acredito que ele fez. — Jane disse. — Ele mudou muito, tendo
voltado da Índia depois de fazer sua fortuna lá.

— Índia! Mark disse que podemos ir lá para a nossa viagem de núpcias.


Vou gostar de perguntar ao senhor Ashton tudo sobre isso. Mamãe, o que
vestiremos para esta festa? É para ser formal?

— Não, querida, Lady Wyndham diz informal no convite e deve haver


música e cartas.

— Então precisamos fazer algo para manter Teddy longe da mesa de


cartas — disse Jane, uma observação sobre a qual todos concordaram.

***

O interior de Broadacres era tão imponente quanto o exterior. Tinha um


grande hall de entrada onde à escada com suporte do lado de fora era repetida
com a adição de uma balaustrada de ferro forjado. Havia uma longa galeria
alinhada de um lado com pinturas, não apenas da família, mas de paisagens e
paisagens marítimas, cavalos, cães e gado. Havia longas janelas do outro lado,
que davam para a passagem do caminho de carruagens. Cadeiras e sofás eram
colocados a intervalos e um longo tapete turco colocado no centro cobria as
bandeiras de pedra. Fora desta galeria, havia várias salas de recepção
lindamente decoradas, uma biblioteca, uma sala de jantar formal e no outro
extremo, ocupando todo o andar térreo de uma ala, uma magnífica sala de
baile. No andar de cima, os quartos eram igualmente espaçosos e bem
equipados.

— Pensar que esta será a sua casa — Jane sussurrou para Isabel enquanto
eram conduzidas pela alameda e ao longo de um corredor até a sala de
descanso da família. À frente deles marcharam Sir Edward e Lady Cavenhurst e
um Teddy incomumente subjugado. — Você um dia será a senhora disso.

— Oh, não diga isso. Isso me aterroriza. Eu gostaria que pudéssemos ter
nosso próprio lugar, algo menor e menos grandioso, mas Mark não quer ouvir
falar disso. Ele diz que é tão grande que nunca vamos precisar encontrar seus
pais se não quisermos.

— Tenho certeza de que você vai se sair muito bem.

O criado que os conduzia abriu a porta da sala de recolhimento e os


anunciou um a um quando eles entraram. Quando Lady Wyndham se adiantou

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


para cumprimentar Sir Edward e sua esposa, Jane olhou em volta. Embora fosse
uma sala grande, tinha uma sensação confortável, como se pessoas reais
morassem nela e a usassem, ao contrário das salas públicas na frente dos
prédios que pareciam frias e impessoais.

Ela saiu do seu devaneio quando ouviu Lady Wyndham apresentando


Drew ao pai e à mãe e à resposta de Sir Edward.

— Acredito que nos conhecemos, senhor.

— De fato, você o conhece — acrescentou Mack. — O Sr. Ashton ficou


conosco por algumas semanas quando deixamos Cambridge. Isso foi... Há
quanto tempo, Drew?

— Acredito que foram dez anos — respondeu Drew. — Há tanto tempo


que não me surpreendo que Sir Edward tenha me esquecido. Eu estava apenas
começando com os bolsos vazios.

— Agora ele é um nababo — Mark riu. — Tão rico quanto a Bola de Ouro
e, certamente, nenhum adolescente.

— Isso é evidente — disse Sir Edward. Jane sabia que ele estava se
lembrando e se perguntando se ele havia retornado para renovar seu pedido.
Ela pensou em si mesma, mas descartou a ideia. Muita água fluíra sob a ponte
naqueles anos.

Lady Wyndham virou-se para Jane.

— Preciso apresentar-lhe a nossa convidada, Jane?

— Não, pois me lembro muito bem dela, mas duvido que Isabel e Sophie
o façam.

— Não, não — disse Sophie. — Também nunca conheci um nababo. O


que um nababo faz? — Ela dirigiu seu último comentário a Drew, que estava se
curvando na sua frente.

— Ele negocia na Índia, senhorita Sophie — disse ele. — Ele envia


artefatos, especiarias e joias da Índia de volta a essas ilhas em navios rápidos e,
eles retornam com itens de fabricação inglesa, móveis, ornamentos, vestidos,
esse tipo de coisa, e assim obtém lucro.

— E você obteve um bom lucro, senhor Ashton? — Isso veio de Isabel,


que estava ao lado de sua irmã, olhando para Drew fascinada.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele se curvou para ela.

— Tolerável, Srta. Isabel. Veja bem, eu me lembro de você, embora você


ainda estivesse em suas aulas na época.

— Vamos nos sentar até o jantar ser servido — disse Lady Wyndham,
conduzindo-os para as cadeiras e sofás.

Eles se arrumaram pela sala e Isabel conseguiu sentar-se ao lado de


Drew.

— Conte-me sobre a Índia — disse ela. — Mark prometeu me levar lá


depois que nos casarmos e eu gostaria de aprender tudo o que puder antes de
partirmos. Diga-me, é necessário falar a língua e vestir... Como chamam aqueles
vestidos que os nativos usam?

— Sáris, Srta. Isabel. Eles são mais intrincados do que parecem, mas são
muito frescos no calor e os tecidos são excelentes. Eu sei que as mulheres
europeias as levam quando o calor se torna demasiado.

— Oh, eu gostaria muito de experimentar um.

— Tenho certeza de que você ficaria encantadora — disse ele.

— E o idioma? É difícil aprender?

— Existem várias línguas na Índia, mas você não precisaria aprender


nenhuma delas. Os servidores nativos falam uma espécie de pidgin8 inglês e,
além das visitas ao bazar, você não precisa se comunicar com outros nativos. E
você nunca iria ao bazar a menos que estivesse acompanhado de alguém
familiarizado com o idioma e os costumes.

Jane assistiu a essa troca com alguma apreensão. Não foi educado para a
irmã monopolizar o cavalheiro, certamente não à custa de Mark, que estava
parado junto à janela, observando-os. Com o pretexto de olhar para o terraço e
jardins formais além dela, ela foi para o lado dele.

— Ela não faz por mal, Mark — ela sussurrou. — Ela está simplesmente
interessada porque você disse que a levaria para a Índia.

— Eu sei.

8 Língua de contato, nascida do contato entre falantes de inglês, francês, espanhol,


português etc., com falantes dos idiomas da Índia, da África e das Américas, servindo
apenas como segunda língua para fins limitados, esp. comerciais.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Um lacaio veio dizer que o jantar estava servido e eles entraram na sala
de jantar. Eles ficaram em silêncio enquanto os criados os esperavam, mas a
conversa recomeçou quando eles se afastaram desta vez liderada por Lord
Wyndham e Sir Edward, que começaram uma discussão sobre o terrível estado
da economia da nação. O ano anterior tinha sido miserável e, sem verão, as
colheitas fracassavam e os trabalhadores e os soldados retornavam do trabalho.
Havia agitação entre eles em todos os lugares. No final do ano, houve uma
reunião em massa em Spa Fields, dirigida por Henry Hunt, que tinha um dom
de agitar as massas, e a coisa toda ficou fora de controle e precisou ser
reprimida pela milícia. Conspirações revolucionárias estavam sendo
descobertas em todos os lugares, o que levou o governo a suspender o habeas
corpus e a proibir reuniões sediciosas.

— É uma misericórdia que tenhamos escapado aqui em Hadlea — disse


seu senhorio. — Consegui manter todos os meus homens empregados e até
assumir mais um ou dois. Sem dúvida é o mesmo com você, Cavenhurst?

— De fato — disse Sir Edward, embora não tenha elaborado. Jane sabia
que ele não empregava nenhum homem há algum tempo, nem mesmo quando
o velho Crabtree se aposentou aos oitenta anos de idade e um dos homens mais
jovens partiu para novos trabalhos.

— Pelo menos, há boas notícias — Lady Wyndham acrescentou. — A


princesa Charlotte está grávida de novo e há grandes esperanças de que ela
carregue este até o fim.

— Espero que sim — disse lorde Wyndham. — Um novo herdeiro do


trono desviará as pessoas da aversão ao regente. Uma tentativa de matar o
príncipe regente foi feita em janeiro, quando um assaltante desconhecido
disparou contra a sua carruagem no caminho de volta da abertura do
Parlamento, mas, felizmente, ele não foi ferido.

— Estou preocupada com os órfãos dos soldados — disse Jane. — Eles


estão vivendo nas ruas, aprendendo a ser nada além de mendigos e ladrões.
Eles precisam de casas e um pouco de educação para adaptá-los ao trabalho
quando tiverem idade suficiente.

— Sim, é triste — disse a mãe. — Mas, Jane tenho certeza de que lorde e
lady Wyndham não querem saber do seu projeto.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Pelo contrário — disse lorde Wyndham. — Eu, por exemplo, estou
interessado e gostaria de saber sobre isso. — Ele era um homem muito grande,
tanto em altura e largura, com um rosto redondo vermelho, mas sorria muito e
era fácil falar com ele.

Dado um ouvinte pronto, Jane começou a explicar o que ela esperava


fazer, enquanto o seu senhorio e o resto ouviam atentamente. Ela ficou contente
com o público, isso lhe deu a oportunidade de testar suas habilidades
persuasivas.

— Pretendo começar com algo pequeno, levando crianças locais — disse


ela. — Mas mesmo uma pequena casa custará caro para funcionar
corretamente. Temos que encontrar patrocinadores.

— Jane! — Sua mãe ficou chocada com essa conversa sobre dinheiro na
mesa do jantar.

Lorde Wyndham riu.

— Sua filha é indubitavelmente apaixonada pelo assunto. Gosto disso e


você pode contar comigo para uma doação, Srta. Cavenhurst.

— Obrigada, meu senhor, estou realmente agradecida.

— Eu também adicionarei seus fundos — disse Drew. — E você, Mark?

— A Srta. Cavendish explicou seus planos para mim há algum tempo —


disse Mark. — Eu já prometi minha contribuição.

— Todo mundo está sendo muito generoso com a sua bondade —


murmurou Teddy para Jane.

— Sim, não é maravilhoso? — Ela sussurrou de volta. — É melhor do


que jogar fora.

Irritado com essa farpa, ele se virou e se concentrou em comer.

— Agora vamos falar de assuntos mais agradáveis —disse Lady


Wyndham. Ela era uma excelente anfitriã e tinha visto o intercâmbio entre Jane
e seu irmão. — Como está o plano do casamento, Grace?

Lady Cavenhurst ficou satisfeita em responder, e a refeição terminou


agradavelmente e foi seguida na sala de visitas, com as meninas se revezando
para tocar piano e cantar, enquanto uma mesa de cartas era montada para

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


aqueles que desejavam jogar. Já era tarde quando a festa terminou e a
carruagem de Sir Edward foi levada até a porta para levá-los para casa.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Três

— O Sr. Ashton é um homem fascinante, você não acha? — Isabel


perguntou a Jane. — Ele esteve em toda parte e fez de tudo e é muito
interessante conversar com ele.

Era o dia seguinte à festa do jantar e as meninas e a mãe estavam


sentadas na pequena sala. Jane estava costurando pequenas contas na saia do
vestido de casamento, enquanto Lady Cavenhurst e Isabel estavam sentadas à
mesa, escrevendo os convites em cartões.

— Talvez ele seja — disse Jane —, mas acho que é ruim da sua parte
monopolizá-lo na conversa e ignorar o pobre Mark.

— Oh, Mark não se importa. Ele sabe o quanto eu quero viajar. — Ela
pegou um dos convites. — Aí, eu fiz uma mancha nesse. Passe-me outro,
mamãe, por favor.

— Quantos você riscou da lista? — Jane perguntou.

— Cerca de um quarto. Não poderíamos tirar mais nada sem ofender-nos


e não queremos que o papai pareça um coitado, não é?

— Não acho que dar de comer a cinquenta seja mau, Issie. Papai está
preocupado com o custo. Você sabe o que ele disse esta manhã.

Mais cedo naquele dia, Sir Edward havia entrado na propriedade com o
mordomo e encontrado sua esposa e filhas na sala da manhã, conversando
sobre o casamento. Aproveitando a oportunidade de encontrá-los todos juntos,
ele fez uma homilia sobre a necessidade de economizar. Era uma palavra
desconhecida para Lady Cavenhurst e Isabel. Jane havia produzido a lista que
haviam feito, começando com a noção de que todos podiam gastar menos em
roupas, gorros e sapatos, o que provocou um grito de protesto de Isabel e
Sophie. Uma segunda sugestão era que eles frequentemente desperdiçavam
comida e que Cook deveria ser instruído a não comprar produtos exóticos,
como limões e abacaxis, e apenas a usar frutas e legumes cultivados em suas
próprias hortas e a cozinhar somente o necessário para as pessoas sentadas
comer. Sua senhoria dissera que Cook não gostaria nada disso e as disposições
para o banquete de casamento já haviam sido encomendadas.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Infelizmente, mesmo isso não será suficiente — dissera Sir Edward. —
Receio que tenha que haver uma contenção séria.

Jane consultou sua lista novamente.

— Então poderíamos reduzir o número de empregados. Nós realmente


não precisamos de três camareiras e três copeiras, e se nós ajudarmos no jardim
nós não precisaríamos de tantos jardineiros. Eu, por exemplo, não me
importaria de fazer isso. E poderíamos ficar sem a carruagem, se precisássemos.

— Ficar sem a carruagem! — Sua mãe protestou. — Como vamos andar


sem uma? Diga-me isso.

— Nós poderíamos manter o pônei e a charrete — disse Jane. — Um


pônei é mais barato para manter do que quatro cavalos e, então, não
precisaríamos de mais do que um cavalariço; Daniel poderá gerenciar por conta
própria. Se precisássemos viajar para mais longe, poderíamos fazer paradas.

— Fazer paradas! — Sua mãe ficou ofendida. — Impossível.

— Talvez eu possa aceitar um emprego remunerado para ajudar —


continuou Jane, ignorando a exclamação de sua mãe. Ela se perguntou se sua
mãe realmente entendera a gravidade da situação ou se estava simplesmente
fechando os olhos para ela.

— Eu a proíbo! — Sua senhoria exclamou. — Você não foi educada para


trabalhar, Jane. E o que você pode fazer de qualquer modo?

— Eu posso costurar.

— Como a Srta. Smith, eu suponho.

— Não, não como a Srta. Smith, embora não haja nada errado com o que
ela faz. Eu quis dizer projetar e fazer vestidos de alta classe. Ou eu poderia
ensinar. Eu acho que poderia ser gratificante.

— Deus te abençoe, Jane — disse Sir Edward. — Espero que não chegue
a isso.

— Bem, não vou ouvir — disse a esposa. — Você fará de nós uma pessoa
pobre.

— Não há dúvida disso — disse ele, tentando sorrir. — Mas precisamos


encontrar maneiras de economizar substancialmente e, quanto mais adiarmos,
mais difícil será.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— E o meu casamento? — Isabel lamentou.

— Não pretendo restringir o seu casamento, Isabel — disse o pai. — Mas,


por favor, limite os convidados a cinquenta e tente não ser extravagante
durante o banquete.

— Adiaremos qualquer decisão sobre economia até depois do casamento.


— disse sua senhoria com firmeza. — Depois que Isabel se casar, sem dúvida
Sophie seguirá logo depois e nossas despesas não serão tão grandes. Podemos
sobreviver sem todas essas medidas.

Sir Edward desistiu e as deixou. Ninguém mencionou os problemas de


Teddy, mas ele teria que consertar seus caminhos, gostasse ou não. Jane não
tinha dúvidas de que sua herança teria que desaparecer.

Ela colocou o vestido de lado em uma cadeira próxima.

— Deixe-me olhar para a lista.

— Não — disse Isabel. — Você vai riscar todo mundo e mamãe aprovou.
Você não estragará meu casamento, Jane.

— Vai estragar tudo, se você tiver apenas cinquenta convidados?

— Claro que vai. Quero que todos me vejam em meu vestido de noiva,
casando-se com o solteiro mais elegível por quilômetros.

— O casamento não é o fim de tudo, Issie. Isso é apenas o começo.

— Eu sei disso. Você me considera uma tola? E o que você sabe disso?

— Meninas, parem de brigar — falou sua senhoria. — Não vai acontecer


e eu não consigo ver como um punhado de convidados pode fazer você se
sentir tão bem, Jane querida. É tão diferente de você.

A chegada de uma empregada para dizer-lhes que o Sr. Wyndham e o Sr.


Ashton haviam chegado e estavam perguntando se as damas estavam em casa
colocou fim ao diálogo e deixou Isabel em pânico.

— Mark não deve ver o vestido, Jane. Dá azar. Guarde isso rapidamente.
— Ela pulou da cadeira e derrubou o tinteiro. Seu conteúdo percorreu a mesa e
chegou à cadeira em que Jane colocara o vestido. O terrível grito de Isabel
trouxe os dois cavalheiros correndo para a sala.

— O que aconteceu? — Mark exigiu. — Você está machucada, Isabel?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Vá embora. Vá embora — ela gritou em um paroxismo de lágrimas de
raiva.

— Mas, minha querida, você está angustiada.

— Tivemos um pequeno acidente com o vestido de noiva — Jane disse a


ele. Ela estava tentando ficar calma, mas a visão daquela mancha negra na saia
do vestido fez seu coração afundar. O belo tecido e todas àquelas horas de
trabalho estavam arruinadas. Ela poderia ter chorado apressadamente, mas
uma mulher chorando era suficiente. — Vou acalmar minha irmã, se você nos
der licença por alguns minutos.

— É claro que iremos embora e voltaremos mais tarde.

— Seria melhor — disse Lady Cavenhurst, enquanto abraçava a filha


mais nova para confortá-la.

Quando eles saíram, Jane tocou a campainha para uma criada ir limpar a
mesa, então ela estendeu o vestido para inspecionar os danos.

— Pode sair se formos rápidos — disse ela.

— Não, está arruinado — gritou Isabel. — Como posso ir ao meu


casamento com um vestido lavado? É um mau presságio, um presságio muito
ruim.

— Não seja tão melodramática, Issie — Jane repreendeu. — Vou ver se


resta material suficiente para substituir esse pedaço —. Ela duvidava se havia,
mas ela tinha que consolar Isabel de alguma forma.

— Aí — disse a senhoria. — Jane não acha isso irrecuperável. Seque os


olhos e vá até o seu quarto para lavar o rosto, enquanto Jane vê o que pode ser
feito.

— Foi culpa dela — disse Isabel com um beicinho zangado. — Ela não
deveria estar sentada tão perto da mesa onde eu estava escrevendo.

Jane ficou surpresa e abriu a boca para protestar, depois fechou


novamente. Isabel não estava com disposição para ser razoável.

— Hoje não sei o que há com vocês, meninas — disse a mãe delas. —
Não ouvi vocês brigarem tanto desde que eram crianças. Este casamento está
deixando todos em desacordo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Uma criada chegou para limpar a mesa e o tapete, onde um pouco da
tinta havia derramado, e sua senhoria ajudou Isabel a sair da sala, deixando
Jane a recolher o vestido, tomando cuidado para não manchar a tinta em
nenhuma outra parte dele. Ela levou-o para a sala de trabalho da senhorita
Smith, para encontrar o material restante.

Havia vários pedaços pequenos, mas nenhum grande o suficiente para


um painel inteiro. Ela precisaria de alguma engenhosidade para refazer a saia.
Talvez uma junção pudesse ser disfarçada com uma faixa de fita, mas ela teria
que colocá-la em todos os painéis para fazer parecer que era para ser assim. Ela
teria que retirar alguns dos bordados e redesenhá-los em volta da fita. Isso
podia ser feito, mas o que a preocupava mais e já o fazia há algum tempo, era a
atitude da irmã em relação ao casamento. Ela não parecia capaz de olhar além
dela, como seria realmente a vida de casada.

— Mas o que eu sei sobre isso? — Ela murmurou para si mesma, quando
se sentou e começou a retirar. — Uma empregada velha, sem perspectivas de
gozar o papel de esposa.

***

Ela trabalhava lá talvez meia hora quando sua mãe se juntou a ela.

— Eu dei um chá a Isabel e ela foi dormir — disse ela. — Ela estava um
pouco mais calma e está contando com você para resgatar o vestido.

— Acho que posso, mas precisarei juntar o meio da saia. Pensei em


disfarçar com fita. Estou tirando a saia agora.

— Foi muita maldade dela culpar você. Tenho certeza de que ela se
desculpará quando acordar.

— Não importa.

— Jane, você está muito infeliz?

— Infeliz, mamãe, o que faz você pensar isso?

— Pensei que talvez a chegada do Sr. Ashton pudesse ter jogado você na
espuma.

Jane conseguiu rir.

— Depois de dez anos, mamãe? Certamente não.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Estou feliz. Sei que agora ele é rico e seguro de si, mas sua riqueza
veio do comércio; ele ainda não é um cavalheiro, nem jamais poderá ser.

— Não no sentido que você fala mamãe, mas o comportamento


cavalheiro e as boas maneiras podem ser aprendidos e eu duvido que os
antecedentes do Sr. Ashton, ou a falta deles, vai torná-lo menos popular no ton.

— Então, você ainda tem sentimentos por ele?

— Não, mamãe, eu não tenho. Eu estava simplesmente tentando ser justa


com ele. — Ela se deu conta de repente que o que ela tinha dito era verdade.
Não foi Andrew Ashton que perturbou seu coração, mas alguém muito mais
perto de casa.

— É tão você ver o bem de todos, Jane. Mas se não é o senhor Ashton, o
que está incomodando você?

— É Isabel. Ela parece não conseguir enxergar além do dia do casamento,


e temo que ela tenha um rude despertar.

— Não sei por quê. Mark é o melhor dos homens, ele pode fazer o
possível para fazê-la feliz. Você não deve invejá-la pelo dia dela, apenas por
que... — Sua senhoria parou no meio da frase.

— Porque nunca vou ter um, é isso que você ia dizer, mamãe? Não pense
isso. Eu não penso. Estou contente com minha vida como ela é.

— Mas toda jovem sonha em se casar.

— Nem toda jovem, mamãe. — Ela foi firme nesse ponto, tanto para se
convencer quanto à mãe.

— Você é uma boa filha e uma boa irmã, Jane. Eu não mudaria você pelo
mundo. Teddy me disse que você o ajudaria a sair da enrascada em que ele está,
já que seu pai não o fará, apesar das minhas súplicas.

— Eu não disse exatamente que sim, disse que pensaria sobre isso. Vai
levar todo o legado de tia Matilda e eu queria usá-lo no meu orfanato.

— Seu pai vai compensar você, quando ele se acalmar, tenho certeza —
Ela observou enquanto Jane desprendia o painel manchado da saia e o colocava
de lado. — Agora, guarde isso e desça para almoçar. Não tenho dúvida de que
os cavalheiros voltarão mais tarde, e devemos oferecer nossas desculpas por
Isabel e fazer pouco do episódio desta manhã.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


***

Jane fez o que ela tinha pedido e voltou a costurar na sala, enquanto a
mãe terminava os convites quando Mark e Drew voltaram.

— Desculpe-me por voltar tão cedo — disse Mark, curvando-se para a


senhoria. Mas eu estava preocupado com Isabel. Ela estava tão perturbada que
eu temia que ela ficasse doente.

— Foi o choque de ver a tinta em seu lindo vestido de noiva— disse sua
senhoria, acenando para os jovens se sentarem e instruindo a empregada a
trazer bebidas. — Ela está calma novamente, agora que ela sabe que Jane pode
arrumá-lo.

— Estou trabalhando nisso agora — disse Jane. — Espero que ninguém


saiba que isso foi alterado.

— Querida Jane — disse Mark. — Tão confiável e tão calma em uma


crise. Somos gratos a você.

Jane sentiu a cor inundar seu rosto.

— Você é um bajulador, senhor. Eu imploro que você desista. Só faço o


que qualquer irmã faria.

— Isso é para os outros julgarem. — Ter dito calmamente que resgataria


o vestido, depois que a própria Isabel o tivesse estragado e a tivesse culpado
por ter sido altruísta até certo ponto. Isabel não se incomodou em abaixar a voz
e ela se manifestou claramente quando eles estavam saindo. Isabel poderia ser
delicada, encantadora e bonita, mas ela também tinha um temperamento
ardente, que não levava em conta os sentimentos de outras pessoas. No entanto,
Jane estava sempre pensando em outras pessoas antes de si mesma. Por que ele
estava comparando-as? Ele vinha fazendo muito isso ultimamente e isso não
era um bom presságio.

— É melhor eu guardar isso. — Ela dobrou o tecido e colocou-o de lado.


— Agora podemos tomar chá sem medo de outro derramamento.

— Como isso aconteceu? — Drew falou pela primeira vez.

— Isabel está convencida de que é azar o noivo ver o vestido de noiva


antes que a noiva se junte a ele no altar. Ela estava com pressa de tirá-lo de vista
antes que você aparecesse e, assim, conseguiu derrubar o frasco de tinta.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu pensei que poderia ser isso — disse ele. — Fico feliz que o vestido
não esteja arruinado, mas trouxe isso para sua irmã, na esperança de compensar
um pouco a perda dela. — Ele pegou o próprio pacote de papel que estava
segurando no joelho e entregou a Lady Cavenhurst. — Se você tivesse a
gentileza de permitir que ela o aceite?

— O que é isso? — Perguntou sua senhoria, um pouco duvidosa.

— Não é nada demais, minha senhora. Um pedaço de seda para um sári.


Isabel manifestou interesse na noite passada. Se ela não quiser usá-lo como sári,
acredito que haja material suficiente para fazer um vestido. Chame de presente
de casamento.

— Que gentileza sua. — Sua senhoria desembrulhou o pacote para


encontrar um pedaço de seda em um rosa profundo que era muito semelhante
ao do vestido de noiva. Havia metros e mais metros, mas, por ser tão fina, podia
ser dobrada em um pacote muito pequeno.

— É lindo — disse Jane, estendendo a mão para tocá-lo. — Isabel ficará


emocionada com isso. Mark, o que você diz?

— Oh, sem dúvida — ele respondeu.

—Trouxe da Índia — disse Drew. — Não apenas esse, mas vários outros.
Quando soube que estava vindo para cá, coloquei-os na minha bagagem como
presentes para as damas. — Ele sorriu de repente. — É um bom negócio, você
sabe. As mulheres usam vestidos de seda e, quando lhes perguntam de onde
vieram, se referem a mim. Escolhi essa para Miss Isabel porque notei a cor da
que fora estragada.

— Que gentileza sua — murmurou lady Cavenhurst. — E se Mark não


fizer objeção, vou garantir que ela o tenha.

— Não tenho objeções, por que deveria? — Mark disse. — Drew já


presenteou uma para minha mãe.

— Gostaria de um, lady Cavenhurst? — Drew perguntou.

— É muito gentil da sua parte, senhor, mas acho que não. Eu não tenho a
figura para tal coisa.

— Como quiser. — Ele se virou para Jane. — E você, Senhorita


Cavenhurst? Você gostaria de um?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Como mamãe disse, é muito gentil da sua parte, mas eu não poderia
aceitar esse presente. Basta que você tenha prometido doar à minha instituição
de caridade para os órfãos. — Era a resposta esperada de uma senhora solteira,
mas ela não podia deixar de sentir uma pontada de decepção. Ela nunca tinha
visto ou tocado um tecido tão fino.

Isabel, que tinham ouvido e visto os senhores chegarem de sua janela do


quarto, tinha apressadamente renovado seu toalete e veio se juntar a eles. Os
dois homens se levantaram e Mark se apressou a segurar as duas mãos dela.

— Você está se sentindo melhor, minha querida?

— Sim, não se preocupe Mark. Fiquei chateada porque achei que meu
vestido estava arruinado, mas mamãe me disse que Jane pode consertá-lo,
parece que nem tudo está perdido, afinal. — Ela se virou para Drew. — Boa
tarde, senhor Ashton. Lamento não ter recebido você adequadamente antes. Por
favor me perdoe. — Isso foi dito com um sorriso deslumbrante.

Ele se curvou para ela.

— É compreensível, senhorita Isabel. Às vezes, os senhores não


entendem a importância do vestido de uma dama.

Ela deu uma risada estridente.

— Mas você sabe, não é mesmo?

Jane ficou chocada com o tratamento brusco que a sua irmã deu a Mark e
sua óbvia tentativa de flertar com Drew.

— Sente-se, Issie — disse ela. — Os cavalheiros não podem se sentar


novamente até que você o faça.

Jane estava sentada ao lado da mãe em um sofá, então Isabel se sentou


no outro. Mark sentou-se ao lado dela e Drew encontrou uma cadeira. Foi então
que Isabel notou a seda no colo da mãe.

— O que você tem aí, mamãe?

— É um sári, meu amor. Um presente de casamento para você do Sr.


Ashton.

— Um sári! Oh, mamãe, posso aceitar?

— Mark disse que você pode, então não tenho objeções.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Isabel estava de pé novamente e deixando o material cair em cascata
sobre o braço em ondas brilhantes.

— É adorável, disse ela — de olhos brilhantes. — Ah, obrigado, senhor


Ashton. Você é tão atencioso que estou impressionada.

— Pensei que poderia ser usado para um vestido de noiva novo se o


outro estivesse arruinado.

— Mas não está arruinado e quero manter isso como um sári. Existem
metros e metros dele. Como é usado?

— Acho que vai precisar da ajuda de sua criada. Há um talento nisto.

— Bessie não teria ideia. Você pode me mostrar?'

— Isabel, tenho certeza de que Bessie cuidará disso quando você estiver
no seu quarto — disse a mãe dela. — A sala de estar dificilmente é o lugar para
se vestir, especialmente com os cavalheiros presentes.

— Sr. Ashton pode me mostrar em si mesmo.

— Isabel! — A mãe dela ficou chocada.

— Sou muito grande e desajeitado — disse Drew, rindo. — Escrevi as


instruções com ilustrações para o benefício de mulheres europeias. Vou mandar
uma cópia para sua empregada estudar.

— Isso servirá admiravelmente — disse sua senhoria. — Isabel sugiro


que você dobre e leve para o seu quarto antes de derrubar o chá por cima dele
todo.

— Qualquer um pensaria que eu sou desajeitada — disse ela.

— Não, mas você está um pouco empolgada — disse a mãe. — Peço que
se acalme.

Isabel desapareceu com o sári e os outros beberam seu chá em silêncio


por um minuto ou dois. Jane ficou chocada pelo comportamento de sua irmã.
Ela não culparia Mark se ele a deixasse de lado quando conseguisse encontrá-la
sozinha. Que motivo o Sr. Ashton tinha para trazer o presente? Era
simplesmente como ele dissera um desejo de ajudar no acidente com o vestido,
ou havia mais? Ele estava evidentemente atraído pela irmã dela. Isabel estava
ciente disso? Mark estava? Ele nunca acreditaria mal de Isabel. Ou ela própria
estava vendo mais do que realmente estava lá?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O tempo estará bom nos próximos dias — disse Mark. — Prometi
mostrar a Drew mais do nosso condado e planejamos uma excursão a Cromer
amanhã. Gostaria de saber se a Srta. Cavenhurst e Isabel gostariam de se juntar
a nós. Se você e elas concordarem, minha senhora?

— Não vejo mal nisso — disse sua senhoria. — O que você diz Jane?
Você acha que Isabel gostaria?

— Tenho certeza de que sim — Respondeu Jane. Ela não tinha tanta
certeza de querer ir sozinha, mas se a irmã fosse, também teria que ir, ou a mãe
delas nunca permitiria.

— Está combinado então — disse Mark, levantando-se para sair. —


Amanhã chegaremos às dez horas com a carruagem.

Os homens curvaram-se para as damas e foram embora.

***

— Quando você pensou em uma excursão a Cromer? — Drew


perguntou, enquanto voltavam para Broadacres. — Você não mencionou antes
de virmos.

— Pensei que as mulheres gostariam. Pode servir para colocar Isabel em


um estado de espírito mais calmo e dar a Jane uma pequena recompensa pelo
trabalho duro que ela faz. Você não tem objeção, não é?

— Nenhuma mesmo.

***

A carruagem de Wyndham era tão confortável quanto qualquer coche


para viagem, havia espaço de sobra para quatro. Hadlea para Cromer não
estava a mais de trinta quilômetros e eles chegaram em pouco menos de duas
horas, depois de passarem o tempo em conversas ociosas, à maioria liderada
por Isabel, interrogando Drew sobre a Índia e suas viagens.

Eles se amontoaram em uma estalagem na parte baixa da vila, perto da


igreja, onde Jeremy, o cocheiro e os cavalos seriam cuidados, enquanto
passeavam pela praia. Estava quente na carruagem, mas assim que saíram, eles
sentiram a brisa fresca soprando do mar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Fico feliz por termos decidido trazer xales quentes — disse Jane,
envolvendo-a mais perto. Como sua irmã, ela usava um vestido de musselina e
uma pelisse9 de tafetá. O dela era listrado em dois tons de verde, o de Isabel era
branco. Elas usavam toucas de palha firmemente amarradas com fita.

— Você prefere ficar na carruagem? — Mark perguntou a ela. — Ou vai


para um hotel?

— Certamente não — Respondeu ela. — Vim buscar o ar do mar e é isso


que pretendo ter. E você, Issie?

— Eu também. Tenho certeza de que os cavalheiros não querem ficar


presos dentro do hotel e não estou com frio. Eu quero afundar na areia.

— Então você deve — disse Mark, oferecendo-lhe o braço.

Ela pegou, deixando Jane andar ao lado de Drew, apesar de não ter
segurado o braço dele. Eles caminharam por uma estrada estreita de
paralelepípedos no final da qual tiveram a primeira vista da praia e do mar.

— Parece frio — disse Jane.

— Quase sempre é — disse Mark, virando-se para ela com uma risada. —
Não há nada entre Cromer e o Ártico, exceto o mar. Mas pelo menos isso está
calmo hoje. Você gostaria de ir tomar banho? É suposto ser benéfico e existem
máquinas de banho10 lá embaixo, se você quiser. — Era o começo do verão,
embora algumas almas corajosas estivessem mergulhando.

— Não, acho que não — disse ela. — Ficarei satisfeita em assistir.

— Deve parecer ainda mais frio para você, Sr. Ashton, após o calor da
Índia — disse Isabel.

— Oh, eu sou uma alma forte, Srta. Isabel. Eu mesmo posso dar um
mergulho. O que você diz Mark? — Havia homens no mar um pouco mais ao

10

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


longo da praia, mas as meninas não se aproximavam deles, pois eles quase
sempre entravam na água nus, ao contrário das mulheres que eram
atrapalhadas por roupas volumosas e não se afastavam das máquinas de banho
onde elas se trocavam.

— Acho que devo ficar com as mulheres — disse Mark. — Mas você
pode ir, se quiser.

Drew não iria sozinho e os quatro desceram o caminho de um penhasco


até a areia. A praia não estava cheia e eles caminharam em direção à beira da
água. Jane estava mais inclinada a sair quando alcançaram a areia mais firme e
molhada e Mark a acompanhou. Drew, atrás deles, curvou-se para pegar uma
pedra redonda e plana, jogou-a no mar de tal maneira que saltou ao longo das
ondas duas ou três vezes antes de desaparecer.

Isabel bateu palmas.

— Ah, que inteligente, senhor Ashton! Mostre-me como fazê-lo.

Ele pegou outra pedra e colocou na mão dela.

— Você precisa se esforçar bastante e manter a trajetória baixa — disse


ele. — Coloque-o girando no plano enquanto deixar sua mão.

Ela tentou e falhou e tentou novamente.

— Não, faça assim — ele disse, pegando a mão dela e fechando os dedos
em volta da pedra. Mark e Jane, que haviam ido um pouco à frente, se viraram
para ver por que os outros dois não estavam logo atrás e foram recebidos com a
visão de Drew com os braços sobre Isabel, tentando direcionar sua mira. E os
dois estavam rindo.

— Oh, céus — disse Jane. — Isabel não tem senso de decoro. Também
não há ninguém na praia que nos conheça.

— Não é culpa dela — disse Mark. — Drew às vezes esquece que não
está mais na Índia, onde sem dúvida essa familiaridade é permitida.

Jane não sabia o quão exata era essa afirmação, mas era tão parecido com
Mark não ver mal em sua amada. Ela correu de volta para a irmã, seguida por
Mark.

— Drew está me ensinado a jogar uma pedrinha — gritou Isabel. —


Venha e experimente.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Jane não pôde repreender sua irmã na frente dos outros, mas, enquanto
caminhavam pela praia, ela conseguiu afastá-la dos ouvidos dos cavalheiros.

— Eu odeio te repreender, Issie, mas, na verdade, você não deveria ter


permitido que o Sr. Ashton a abraçasse, nem deveria se referir a ele pelo nome
dele. Certamente, você sabe disso muito bem.

— Oh, não seja tão barulhenta, Jane. Não havia mal algum em me
mostrar como girar uma pedra e Mark sempre usa o nome próprio do Sr.
Ashton. Apenas escapou.

— Tenho certeza que sim, mas tente ser mais cuidadosa.

— Você é ótima para falar. Você foi vista na vila com os braços de Mark
sobre você. Sophie falou com a amiga Maud Finch. A senhora Finch viu você
com os próprios olhos.

Jane tinha uma vaga lembrança de ver a Sra. Finch conversando com a
Sra. Stangate quando encontrou Mark e Drew no gramado da vila.

— Eu tropecei e ele me impediu de cair — disse ela. — Você pode confiar


que a Sra. Finch fará muito barulho por nada e Sophie não deveria ter repetido.

— Você arruinou bastante o meu dia com sua repreensão. — Isabel fez
beicinho. — Eu estava me divertindo tanto.

Mas não demorou muito para que ela estivesse segurando as saias na
mão e correndo sobre a areia até a beira da água, rindo enquanto as ondas
ondulavam sobre os sapatos de criança, que sem dúvida seriam jogados fora
quando chegassem em casa. Jane sentiu-se infeliz com a reprimenda. Isso a fez
parecer uma desmancha-prazeres e ela não pretendia que fosse assim. Sua
preocupação era por Mark. Ele não tinha dito nada e até tentou desculpar
Isabel, mas por baixo, ele deve ter se sentido magoado. E se as fofocas da Sra.
Finch chegassem aos seus ouvidos, ele ficaria duplamente envergonhado.

Mais ao longo da praia eles assistiram alguns barcos de pesca


descarregarem a sua carga de caranguejos e Mark comprou dois para as
meninas para levar para casa para o seu cozinheiro e, em seguida, eles voltaram
para o passeio para tomar refrescos no Red Lion. Uma curta caminhada ao
longo do topo da falésia se seguiu, quando todos usaram o telescópio de Drew
para examinar a praia e o horizonte.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Como tudo parece perto — disse Jane. — Bem, eu posso ver os
marinheiros no convés do navio e seu nome claramente. Chama-se Estrela da
Manhã.

— Esse é o navio que me trouxe da Índia — disse Drew. — É um navio


muito bom, bem dirigido e rápido. É algo que tenho em mente comprar.

— E então Mark e eu iremos para a Índia — disse Isabel. — Faltam mais


três semanas. Mal posso esperar. Você também vai velejar com ela, Sr. Ashton?

— Depende do que aparecer — disse ele. — Possivelmente.

— Acho que é hora de voltarmos para o coche — disse Jane. — Mamãe


vai se perguntar o que aconteceu com a gente.

***

O coche os deixou de volta no Manor às cinco horas. Jane e Isabel se


despediram de seus acompanhantes e levaram o pacote de caranguejos para
dentro de casa. Estavam cansadas, mas felizes, prontas para agradar sua mãe
com o que haviam visto e feito. Ninguém naquela noite pensou em tragédia e
Isabel deixou de gemer sobre maus presságios e fantasias semelhantes.

***

Elas não esperavam ver Mark novamente tão cedo, mas ele chegou em
uma hora inédita na manhã seguinte, parecendo tão triste que Jane
imediatamente se perguntou o que estava errado. Sir Edward tinha ido aos
estábulos para checar um dos cavalos que pareciam coxos, mas as damas ainda
estavam sentadas à mesa do café da manhã.

Ele se curvou para todos eles.

— Lamento incomodá-las tão cedo — disse ele. — Mas tenho medo de


trazer notícias terríveis e não queria que vocês ouvissem isso de mais ninguém.
— Ele parou e engoliu em seco, depois continuou. — Meu pai faleceu
dormindo, ontem à noite.

Lady Cavenhurst foi a primeira a se recuperar do choque. — Oh, pobre


homem — disse ela. — Que coisa terrível de acontecer. Seu senhorio parecia tão
bem quando jantamos com você na outra noite.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O criado o encontrou quando foi acordá-lo esta manhã e
imediatamente me alertou — disse ele. — Mandei chamar o Dr. Trench, embora
soubesse que era tarde demais para fazer qualquer coisa por ele. Seu coração
acabou de ceder, o médico me disse. Como você pode imaginar, minha mãe está
perturbada.

— Pobre senhora Wyndham — disse Jane. — Há algo que possamos


fazer?

— Eu penso que não. Mais tarde, talvez, ela possa gostar de uma visita.
— Ele se virou para Isabel, que estava olhando para ele como se ele fosse uma
aparição. — Isabel, sinto muito, mas o casamento terá que ser adiado enquanto
eu estiver de luto.

— Adiado — ela ecoou, depois começou a chorar.

Jane correu para confortá-la.

— Calma, Issie, você deve ser corajosa pelo bem de Mark. Ele terá muito
que fazer nas próximas semanas.

— Isso é verdade — ele concordou. — E eu tenho medo. Mais tarde vou


informá-los sobre as providências para o funeral. Isabel, você vai me
acompanhar até a porta da frente? Isto é, se a senhoria concordar.

— Claro. Vá em frente, Isabel. E, por favor, ofereça minhas condolências


à sua mãe, meu senhor.

Ele conseguiu dar um sorriso irônico.

— Suponho que vou ter que me acostumar com isso, mas, por favor, não
fique formal, minha senhora. Eu era Mark, continuo sendo Mark para você. —
Ele estendeu a mão para Isabel. — Venha, minha querida, gostaria de falar com
você.

Isabel pegou a mão e juntos eles saíram da sala. Jane e sua mãe foram
deixadas olhando uma para a outra, sem saber o que dizer.

— Essas são realmente notícias terríveis — disse sua senhoria. — Sinto


pela pobre senhora Wyndham. O deles era um verdadeiro casamento de amor.
Gostaria de saber quanto tempo demorará o período de luto?

— Um ano é o normal mamãe.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu sei. Teremos que ajudar Isabel a suportar. E suponho que é melhor
começar cancelando os convites de casamento e pedir a Cook que cancele os
pedidos do banquete. — Ela sorriu de repente. — Pelo menos, seu pai será
poupado das despesas por enquanto.

Jane supôs que alguém tivesse que pensar nos aspectos práticos, mas
estava mais preocupada com o que Mark e sua mãe estavam sentindo do que
com o que ela sentia. Perder alguém tão querido de repente deve ser muito
difícil de suportar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Quatro

Mark voltou a Broadacres, esmagado pela miséria e o peso da


responsabilidade que agora repousava sobre os ombros. Havia muito que fazer
e um casamento era a última coisa em sua mente. Isabel tinha ficado chateada, o
que era compreensível, supôs, mas ele tinha conseguido acalmá-la antes dele
sair, dizendo-lhe que o tempo de luto iria passar logo e, em seguida, eles teriam
o casamento que ela sonhou.

— Talvez não possamos ter a longa viagem de casamento que


planejamos — ele dissera a ela. — Haverá muito que fazer na propriedade. Mas
talvez consigamos ir mais tarde quando me estabelecer no meu novo papel.
Chegou tão de repente que não consigo entender tudo.

— Mamãe te chamou de "meu senhor". Isso realmente me trouxe ao que


aconteceu e como sua vida vai mudar. Você pode não ser a mesma pessoa.

— Absurdo. Não mudarei apenas porque herdei um título e um


patrimônio. Você, é claro, se tornará Lady Wyndham quando nos casarmos.

— E serei senhora de Broadacres?

— Naturalmente, você será.

— Não sei se serei boa nisso. Eu posso te decepcionar.

— Oh, sua tolinha — ele disse, dando um beijo na testa dela. — É claro
que você não vai me decepcionar e terá o período de luto para se acostumar
com a ideia. Agora eu devo ir. Vejo você novamente quando você e sua mãe
visitarem minha mãe.

***

Lady Wyndham, disseram-lhe quando ele chegou em casa e perguntou


por ela, que ela havia recebido um chá de sua criada e estava descansando em
seu quarto. Ele não a perturbou, mas falou com o administrador sobre os
assuntos da propriedade, dizendo-lhe para continuar como sempre, depois
começou a escrever cartas para todos que precisavam ser informados da morte
de seu pai. Foi um trabalho triste e ele teve que parar com frequência para
superar sua emoção. Seu pai era o melhor dos pais, passando um tempo com
ele enquanto crescia, ensinando-o a atirar, pescar e cavalgar, garantindo uma

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


boa educação, incutindo nele uma noção do que era certo e adequado, e
mostrando pelo exemplo de como cuidar das pessoas ao seu redor. "Alto e
baixo, somos todos seres humanos", ele dissera uma vez. “Devemos tratar
todos com a dignidade que eles merecem, sejam eles os trabalhadores mais
pobres ou o rei da Inglaterra”. Agora ele não existia mais.

As notícias já estavam se tornando conhecidas na vila e as pessoas


andavam com rostos tristes. Muitos dos empregados e até mesmo o pessoal
externo estavam chorando abertamente. Lorde Wyndham era uma figura
popular, conhecida por sua humanidade e justiça. Mark rezou para que ele
pudesse cumprir os ideais de seu pai.

***

Drew veio até ele enquanto terminava a última das cartas.

— Suponho que não haverá casamento ainda por um tempo — disse ele.
— E agora não é a hora de hóspedes na casa. Pretendo partir para Londres pelo
correio de hoje à noite.

— Sentirei sua falta, Drew.

— E eu de você. Mas voltarei para o funeral, se você quiser.

— Claro. Na próxima quinta-feira, aqui em Hadlea.

— Por favor, transmita minha gratidão a Lady Wyndham por sua


generosa hospitalidade. Escrevi um bilhete para ela, que pedi à empregada para
passar quando ela estiver com vontade de recebê-lo.

— Isso é gentil da sua parte.

— E expresso meus bons desejos e condolências à senhorita Isabel. Vai


ser difícil para ela adiar o casamento e lidar com uma vida muito diferente
daquela que ela imaginava. Como ela recebeu as notícias?

— Ela está muito triste, é claro, mas aceitou o suficiente, considerando


todas as coisas. Ela tem o apoio de sua mãe e Jane, pela qual sou grato, pois não
posso lhe dar a atenção que gostaria agora.

— Tenho certeza que elas entendem. Agora, se você me der licença, irei
fazer as malas.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Há algo que você pode fazer por mim — disse Mark, enquanto eles
apertavam as mãos. — Pode se certificar de que minhas cartas vão pelo correio?

— De bom grado.

— Só tenho mais uma para escrever. Vou enviá-los para você quando
estiverem prontas. Jeremy o levará até o Fox e Hounds.

Drew saiu e Mark puxou outra folha de papel para ele, mergulhou a
caneta na tinta e voltou a escrever.

***

Uma hora depois, ele estava livre para receber Lady Cavenhurst e suas
três filhas. Todas as quatro dobraram o joelho e se dirigiram a ele como “meu
senhor”, o que o fez se sentir completamente desconfortável e ele implorou para
que não mudassem em relação a ele.

— Como está sua querida mãe? — Lady Cavenhurst perguntou. — Eu


não invadiria sua dor se ela não o desejasse.

Enquanto ela falava, Lady Wyndham entrou na sala. Ela estava vestida
totalmente de preto, mas estava com os olhos secos e na posição vertical.

— Grace, obrigada por vir — disse ela.

Lady Cavenhurst correu em sua direção e segurou suas duas mãos.

—Helen, sinto muito, muito mesmo. Se houver algo que possamos fazer
por você, basta dizer.

— Não há nada em que eu possa pensar. Você gostaria de se sentar?

Elas se sentaram em um pequeno círculo, sem saber o que dizer até Jane
falar.

— Lorde Wyndham fará muita falta para todos que o conheceram — ela
disse. — Ele era um homem tão bom e gentil, sempre pronto para ouvir e muito
generoso também.

— Sim, ele era, não era? — Lady Wyndham sorriu de repente. —


Lembro-me de quando ele encontrou Jeremy quando criança correndo pelas
ruas de Londres e o levou para casa. Ele era imundo e preguiçoso, mas nada
faria senão receber um banho e roupas novas e ser alimentado. Ele dormiu nos
estábulos e está conosco desde então.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você quer dizer Jeremy, seu cocheiro? — Isabel perguntou.

— Sim, ele se tornou um homem leal e faria qualquer coisa por meu
marido e por Mark também.

— Foi por isso que sua senhoria ouviu minha história de querer criar um
lar para órfãos de guerra — disse Jane. — Ele entendeu.

— A promessa dele será honrada, Jane — disse Mark calmamente.

Ela virou-se para ele e notou o brilho das lágrimas nos olhos dele e seu
coração se voltou para ele. A pena era que ela não podia dizer isso a ele.

— Obrigada, Mark, mas você tem assuntos mais importantes a tratar,


tenho certeza.

— Você já decidiu sobre funeral? — Lady Cavenhurst perguntou a ele.

— Sim. Será em São Pedro, em Hadlea na próxima quinta-feira. O Bispo


de Norwich e o Reverendo Caulder irão oficiar. É claro que haverá refrescos
aqui depois e a leitura do testamento.

— Vou lamentar o resto dos meus dias — disse lady Wyndham. — Mas
não deixaremos Mark e Isabel esperando demais pelo casamento. Quero ver
netos brincando sobre o lugar antes de deixar este mundo. Acho que seis meses
serão suficientes para o luto oficial.

— Obrigada — disse Isabel. — Você é muito gentil.

— Não tenho dúvida de que você tem muito que fazer —disse Lady
Cavenhurst, levantando-se. — Vamos nos despedir. Por favor, não hesite em
nos chamar se houver algo que possamos fazer por você.

Quando estavam saindo, encontraram Drew no cascalho em frente à


casa. Ele estava prestes a entrar na carruagem que o levaria ao Fox e Hounds.
Ele se curvou para cada uma delas.

— Senhoras, lamento não poder parar e conversar. A correspondência


deve chegar em vinte minutos.

— Você está saindo? — Isabel perguntou com algo como desânimo em


sua voz.

— Sim, Srta. Isabel. Não me intrometeria na dor da casa, mas voltarei


para o funeral. Lorde Wyndham foi muito bom comigo, quando estava lutando

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


para fazer o meu caminho. — Ele curvou-se novamente, entrou na carruagem e
foi levado embora.

O pônei e a charrete em que Jane os levara a Broadacres as aguardavam


na porta. Era grande o suficiente para acomodar confortavelmente quatro. Ela
era uma motorista competente e gostava de ir à vila nele, embora sua mãe e
Isabel preferissem o coche.

— Lady Wyndham pensou em você, Issie — disse Jane, habilmente


virando o caminho para os portões de entrada. — No meio de sua tristeza, ela
ainda está pensando nos outros. Seis meses não demoram muito e o tempo logo
vai passar.

— Eu sabia que derramar a tinta no meu vestido e deixar Mark ver era
um mau presságio — disse Isabel. — E eu tenho provado que está certo.

— Isso é apenas uma superstição boba — disse a mãe. — Não pense


nisso.

— Não é a única sobre casamentos — Sophie falou. — Dizem que um


casamento adiado nunca acontece.

— Sophie, como você pôde? — Lady Cavenhurst protestou quando


Isabel explodiu em lágrimas. — Não havia o porquê repetir essas bobagens.
Você incomodou sua irmã, sem uma boa razão.

— Desculpe — ela murmurou.

Mas nada confortaria Isabel e ela continuou chorando até chegar em casa.

***

— Issie, seque suas lágrimas — disse Jane o mais gentilmente possível,


embora estivesse perdendo a paciência com a irmã. — Se Lady Wyndham e
Mark podem suportar, você também deveria. A perda deles é maior.

— Tudo bem para você, Jane — resmungou a irmã. — Você não teve seu
casamento arrancado de você.

— Isabel, não foi arrancada — disse sua senhoria. — Foi apenas adiado
por seis meses. É de se esperar que por esse tempo, você terá aprendido como
ser mais digna. Pense na posição que você terá como esposa de Mark. Você será
Lady Wyndham e senhora de Broadacres. Todo mundo vai olhar para você

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


para dar um bom exemplo. Mark não quer uma esposa que começa a chorar ao
menor revés.

Isabel não respondeu e Jane parou na frente dos estábulos e todos


desmontaram, deixando Daniel para desatar o cavalo e esfregá-lo. Eles
encontraram Teddy no corredor, enquanto subiam para tirar os casacos.

— Teddy, onde você esteve? — Sua mãe perguntou a ele. — Acabamos


de ir à Broadacres para oferecer condolências. Você deveria estar conosco.

— Eu tinha negócios em Norwich. Eu irei mais tarde.

Ele não detalhou qual seria o negócio. Jane tinha pouca esperança de que
ele estivesse procurando uma saída para seu dilema. Ela sabia que o pai havia
falado com ele sobre a necessidade de economizar, mas não fazia ideia da
reação do irmão. Ela suspirou enquanto continuava subindo para o seu próprio
quarto. Ela deveria escrever ao gerente do banco para pedir que ele liberasse
suas economias. E depois o que? Teddy entregaria uma nova folha?

***

O funeral foi assistido por quase toda a população masculina da vila e,


parentes e amigos distantes da família Wyndham vieram de toda parte,
incluindo Drew. Embora não fosse habitual as damas comparecerem aos
funerais, mas esperar em casa a volta dos homens. Lady Wyndham insistira em
estar presente no enterro de seu marido. Ela estava com os olhos secos o tempo
todo e com uma postura ereta em suas roupas pretas de viúva. Ela mantivera a
postura durante todo o serviço e mesmo depois, quando todos se reuniram para
tomar um refresco na longa galeria de Broadacres. Ajudada por Mark, sentou-
se, aceitando condolências e ouvindo os enlutados contando histórias do que
Lord Wyndham havia dito e feito, algumas das quais levantaram um sorriso
irônico. Mark estava aqui, ali e em toda parte, sendo o anfitrião perfeito, mas
Jane podia ver a tensão em seus olhos. Ser repentinamente catapultado para sua
herança, anos antes que ele esperasse que fosse. Uma perspectiva assustadora
para ele.

***

Um a um, os enlutados começaram a sair até que apenas a família e os


criados permanecessem para a leitura do testamento. Mark pegou Jane
enquanto ela se preparava para sair com o resto de sua família.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Fique, Jane — disse ele. A expressão de consternação no rosto de
Isabel o fez acrescentar: — E você também, Isabel. — Ele se virou para Sir
Edward. — Vejo-os em segurança em casa depois, sir Edward.

Deixando os pais, Sophie e Teddy, voltando para casa no coche da


família, as meninas sentaram-se perto de Mark e Lady Wyndham quando o
advogado pigarreou para começar. Não havia nada notável no testamento.
Todos os servos receberam legados, pequenos legados a sobrinhos e sobrinhas,
um subsídio generoso para a viúva e três mil libras para Jane usar com os
órfãos. A quantia a fez ofegar. O seu senhorio prometera uma doação, mas ela
nunca sonhou que seria tanto. Isso a fez perceber que teria que seguir em frente,
não poderia haver recuo agora. Mark, que estava parado ao lado da cadeira de
sua mãe, inclinou-se e sussurrou em seu ouvido.

— Eu vou combinar isso, Jane. Você terá seu orfanato.

O advogado estava chegando ao fim.

— Finalmente, para meu amado filho, Mark, deixo a propriedade de


Broadacres e todas as suas terras e propriedades, a casa de Londres na South
Audley Street, os investimentos no exterior e o resto de dinheiro depois que
todos os outros legados foram cumpridos. Ele olhou em volta para a plateia,
mas, como ninguém comentou, reuniu seus papéis e se preparou para sair.

Alguns dos parentes, que haviam se deslocado e ficariam em Broadacres


durante a noite, foram para seus quartos descansar e se trocar para o jantar, e os
que moravam localmente se despediram de Lady Wyndham e Mark, deixando
apenas Jane e Isabel.

— Drew, você terá a gentileza de escoltar as damas para casa? — Mark


perguntou. — Devo ficar com minha mãe e meus convidados.

— Não é nem um pouco necessário — disse Jane. — Está um bom dia e


podemos caminhar facilmente.

— Então eu irei com vocês — disse Drew. — Estou hospedado no Fox e


Hounds. A mansão não está muito longe do meu caminho.

— Oh, obrigado, senhor — disse Isabel antes que Jane pudesse protestar
novamente. — Eu, por exemplo, me sinto mais à vontade com uma escolta.

Era uma afirmação estranha de quem estava acostumada a andar pela


vila, tendo apenas Jane ou Bessie como companhia. Jane olhou bruscamente

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


para ela, mas não comentou. Com Drew entre elas, elas partiram. Ninguém
falou enquanto faziam o caminho e saiam dos enormes portões de ferro para a
estrada que era o caminho para a aldeia.

— Foi um dia triste — disse Jane. — Todos gostávamos muito de lorde


Wyndham. Sua senhoria enfrentou muito bem a ocasião, não acha, senhor
Ashton?

— De fato sim. Ela mostrou estoicismo invejável, mas, por baixo, tenho
certeza de que ela estava sofrendo. Eles eram tão devotados, um exemplo do
que deveria ser um casamento.

— Sim, é uma pena que todos os casamentos não sejam assim — disse
Jane. — Mas suponho que se deva encontrar sua alma gêmea, alguém com
quem você deseja passar o resto da vida. Muitas vezes, o casamento se torna
uma questão de conveniência. Marido e mulher levam vidas quase separadas,
cada um com seus próprios interesses e círculo de amigos.

— Infelizmente isso acontece com muita frequência — disse ele.

— Você nunca foi casado? — Isabel perguntou.

— Não. — Ele riu. — Nunca encontrei minha alma gêmea. Eu pensei que
tinha uma vez, mas não era para ser.

— Por que não?

Jane prendeu a respiração por sua resposta, rezando para que ele não
mencionasse o nome dela. Ele olhou para ela e sorriu.

— Nós dois éramos muito jovens, muito imaturos e eu ainda tinha que
fazer o meu caminho no mundo. — Ele riu de repente. — Desde então, tenho
estado muito ocupado fazendo minha fortuna para pensar em me casar.

— Você voltaria para ela se pudesse?

— Isabel — retrucou Jane —, você não deve questionar o Sr. Ashton


dessa maneira.

— Oh, eu não me importo — disse ele. — Isabel, para responder sua


pergunta, pensei que sim. Pensei que se nos encontrássemos novamente e ela
visse o quanto eu me tornara próspero, ela e seu pai poderiam pensar de
maneira diferente e eu a venceria. Mas pensei melhor desde então.

— Por que não? Ela não é tão bonita quanto você lembrava?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Oh, mais ainda. Não é isso.

— Issie, você notou como Mark estava tenso hoje? — Jane interrompeu a
conversa, que estava ficando muito embaraçosa para suportar. — Não é de se
admirar, mas espero que ele consiga dormir esta noite. Ele precisará de força
nas próximas semanas.

— Não haverá casamento — disse Isabel, ignorando a tentativa de Jane


de desviá-la. — Você sabia disso, senhor Ashton?

— Eu sabia que tinha sido adiado, mas acontecerá mais tarde, não
acontecerá?

Isabel suspirou.

— Não tenho mais certeza de nada.

— Isabel, o que você está dizendo? — Jane exclamou. — Certamente você


não mudou de ideia sobre se casar com Mark?

— Eu não sei. Estou tão confusa. Observando como todos se


comportavam hoje, especialmente Lady Wyndham, pensei que seria como ela,
para dirigir aquela imensa propriedade e permanecer calma, seja qual for à
crise, e acho que não consigo lidar com ela.

— Foi um dia difícil — disse Jane, desejando que a irmã não tivesse
expressado suas dúvidas na frente de Drew. — Você pensará de maneira
diferente quando tiver dormido uma noite e estiver mais bem disposta.

— Não é só hoje. Estou preocupada com isso há séculos.

— Oh, Issie, estou perdendo a paciência com você. Tudo isso por causa
da tinta derramada em seu vestido e da observação mal pensada de Sophie.

— Que comentário foi esse? — Drew perguntou.

— Não foi nada — disse Jane. — Uma superstição boba que nossa irmã
pegou de algum lugar.

— Casamentos adiados nunca acontecem — Isabel lhe disse.

Eles estavam caminhando lado a lado, mas agora ele se virou para Isabel.

— Estou inclinado a concordar com a Srta. Cavenhurst. É ilusão.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Oh, eu não me importaria se já não estivesse tendo dúvidas — disse
ela.

— Agora não é hora de expressá-los, Issie — Jane retrucou. — Pense no


pobre Mark. Ele já tem o suficiente para enfrentar sem isso.

— Ele sabe como me sinto.

— E o que ele disse?

— Que eu teria o período de luto para me acostumar com a ideia.

— Aí está você, então.

— Jane, eu gostaria que você não tentasse ser uma segunda mãe para
mim. Você está sempre me dizendo o que devo ou não fazer e estou cansada
disso. Você não pode saber como eu me sinto. Não acredito que você tenha
coração.

Jane ficou magoada, pois muitas vezes se magoava com a falta de


consideração de sua irmã, mas ela não demonstrou, certamente não na frente de
Drew.

— Issie, você sabia que, se aceitasse Mark um dia, seria Lady Wyndham
e senhora de Broadacres. Não é algo novo.

— Eu não pensei que fosse durante anos e anos, quando tivéssemos


envelhecido. E agora aconteceu...

— Mas se você realmente ama Mark, isso não importa. Agora, não
falemos mais disso. Tenho certeza de que o Sr. Ashton não quer ouvir.

Eles continuaram em silêncio. Jane ficou horrorizada com o que Isabel


havia dito e na frente de Andrew Ashton também. Mark realmente sabia como
Isabel estava se sentindo? Isso deveria ter aumentado sua tristeza pela perda do
pai. A noiva que ele escolhera não queria se tornar o tipo de esposa que um
homem em sua posição precisava. Ele estava esperando Isabel se acostumar
com a ideia ou ele estava realmente preocupado com isso? A pena era que ela, a
irmã solteira, não podia falar com ele sobre um assunto tão particular. O que ela
poderia dizer se fizesse? Nada. Seus próprios sentimentos, trancados no coração
que Isabel declarou que não tinha, nunca poderiam ser revelados.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela lançou um olhar de soslaio para Drew, imaginando se ele passaria o
que ouvira. Ele parecia sombrio como se estivesse debatendo a questão dentro
de si. Ele virou a cabeça na direção dela e a pegou olhando para ele.

— Não se preocupe — ele murmurou. — Seu segredo está seguro


comigo.

Ela desviou o olhar confusa. Que segredo? Isabel havia dito que Mark
sabia como se sentia, então isso não era segredo. Que ela e Isabel estavam
discutindo sobre isso? Isso também não era segredo. Certamente ele não tinha
adivinhado como ela se sentia em relação a Mark? Isso seria muito humilhante.

Eles chegaram à porta da frente da mansão. Drew recusou o convite de


Isabel para tomar um refresco, fez uma reverência e se despediu. Jane e Isabel
foram para dentro de casa e se juntaram aos pais e irmãos. Nada foi dito sobre a
conversa na estrada.

***

Jane havia recebido a promessa de dinheiro suficiente para comprar uma


casa às crianças sem a necessidade de usar o legado de sua tia, então ela
concordou em entregá-lo ao irmão.

— Faço isso pelo amor de papai, não pelo seu — disse ela, alguns dias
depois, quando o pegou entrando em casa no meio da manhã. Ele parecia
desgrenhado, como se tivesse ficado acordado a noite toda, e ela se perguntou
se seria esse o caso. Ele raramente estava em casa. — Pedi ao banco para pagá-lo
em sua conta, mas será o último. Use-o com sabedoria e sem mais jogos de azar.

— Obrigado, irmã. — Ele sorriu. — Suponho que um emprego seja um


preço pequeno a pagar, mas você sabe que está parecendo cada vez mais com o
papai.

— É porque nós dois nos preocupamos com você, Teddy. Você não
parece ter nenhum senso de responsabilidade.

Ele deu um suspiro melodramático.

— Eu sou um sofrimento para você, eu sei. Quanto é a propósito?

— Cinco mil libras e eu invejo cada centavo e não tenho vergonha de


dizer isso. Se tivesse sido por qualquer outra coisa, exceto jogos de azar...

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Pagará meu caminho para a Índia e me manterá até que eu faça minha
fortuna. — Ele a parou antes que ela pudesse começar a repreendê-lo
novamente.

— Índia! O que você está dizendo? Ninguém mencionou a Índia.

— Bem, podem ser as Índias Ocidentais. Não me decidi.

— Teddy, esse dinheiro é para você pagar a lorde Bolsover e suas outras
dívidas. Não lhe foi concedido para financiar sua viagem.

— Infelizmente não tenho escolha. Cinco mil não é o suficiente para me


ver bem e Hector Bolsover, por algum motivo, está comprando todas as minhas
dívidas, não apenas as dívidas do jogo, mas todo o resto. Eu não sei qual é o seu
jogo, mas não é bom ter todas as dívidas no mesmo pote. Se estão um pouco
espalhadas, elas podem ser gerenciadas pagando um pouco aqui e ali,
roubando Peter para pagar a Paul, por assim dizer, mas, como está, estou
enrascado. Não há nada para isso; preciso emigrar.

Ela ficou horrorizada.

— Teddy, você joga desde que voltou para casa?

— Eu só tenho tentado recuperar minhas perdas. Pensei que isso evitaria


que você tivesse que me defender...

— Agora você está mais fundo do que nunca. — Ela estava exasperada
que ele nunca parecesse aprender.

— Desculpe Jane.

— Você disse a papai e mamãe que vai embora?

— Estou a ponto de dizer.

— E quando você irá?

— No correio de hoje à noite. Deseje-me sorte, Jane.

— Sorte! Eu poderia puxar suas orelhas. Você trouxe desgraça para esta
família, Teddy, com toda essa conversa sobre sorte. Só espero que a magia do
exterior e algum trabalho real tragam um milagre.

— Oh, Jane, desista de sua palestra. Você não vai me ver de novo por
algum tempo, não vamos nos separar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Seu sorriso envolvente ainda era evidente e ela cedeu o suficiente para
abraçá-lo e dizer-lhe para tomar cuidado.

A família estava em desacordo, ela refletiu enquanto ele se afastava. Seu


irmão era um patife e sua irmã Isabel estava com sérias dúvidas sobre um
casamento que havia sido discutido há anos e recebido por ambas às famílias.
Seu pai estava preocupado com as finanças e a mãe cega. Até agora, não havia
nada errado com Sophie, exceto a tendência de falar sem pensar. Quanto a seus
próprios pensamentos e sentimentos, eles estavam tão desarrumados quanto os
de todos os outros. A melhor cura para isso, ela decidiu, era ocupar-se com algo
que valesse a pena.

Ela estava determinada a tornar seu orfanato um sucesso e, embora


tivesse o suficiente para começar a procurar um local, ainda precisaria de uma
renda regular para administrá-lo. Para descobrir isso, ela deveria arrecadar
mais dinheiro e o melhor lugar para fazer isso era Londres. Seu pai nunca
permitiria que ela fosse sozinha e ele estava preocupado demais para levá-la.
Ela iria precisar de alguma ideia.

***

Jane consultou o reitor e a Sra. Caulder e, embora o reverendo dissesse


que ele perguntaria sobre as instalações, ele a advertiu para não considerar
viajar para Londres sem uma escolta masculina.

— Em vez disso, você pode começar escrevendo cartas para pessoas


influentes — disse ele.

— Implorando em cartas? — Ela perguntou consternada.

— Bem, sim, mas por uma causa muito boa. Devemos dar um nome à
organização, se você não estiver se perguntando, mas em nome de todos os que
estão conectados à ideia? Eu pediria a lorde Wyndham que desse seu nome,
mas é muito cedo após seu luto. Vou sondar um ou dois outros.

Eles passaram algum tempo sugerindo e descartando nomes para o


projeto. Jane não queria que a palavra orfanato fosse usada.

— Será um lar — disse ela. — Uma casa e uma escola. — No final, eles
decidiram pela Casa das Crianças Hadlea e ela gastaria um pouco do dinheiro
imprimindo papel para cartas.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela estava voltando para casa, revirando as frases de sua carta quando
Mark a alcançou.

— Jane, eu estava a caminho de visitá-la.

A prática prolongada à fez se acalmar quando o encontrou. Ela se virou e


sorriu, observando o terno escuro dele e a gravata preta, a desolação do rosto
dele, e desejou poder confortá-lo. Não havia ninguém para fazer isso, exceto
talvez à mãe dele, que estava imersa em sua própria dor para fazê-lo. Isabel
parecia incapaz disso.

— Meu senhor — disse ela.

— Oh, pelo amor de Deus, Jane, não vamos ter nenhuma dessas
bobagens de “meu senhor”, ou ficarei muito irritado com você. — Ele deu um
passo ao lado dela. — No que você pensava tanto, que não me ouviu?

Ela contou a ele sobre seus planos para a Casa das Crianças Hadlea.

— Graças a você e seu pai, temos o suficiente para procurar instalações,


mas precisamos de alguns filantropos ricos para prometer renda futura — disse
ela. — Papai não pode me levar para Londres no momento, então devo escrever
cartas. Se eu pudesse mencionar uma ou duas pessoas influentes, ajudaria.

— Você pode usar meu nome, Jane.

— Oh, eu não quis dizer... Oh, céus, parecia que eu estava perguntando...
— Ela parou confusa porque ele estava rindo.

— Oh, sim, você estava, e descaradamente também.

— Mas você perguntou no que eu estava pensando.

— Sim, é verdade, e também é verdade que eu teria oferecido em


qualquer caso. Ajudarei da maneira que puder.

— Mas você tem muito que fazer, resolver problemas da propriedade e


se acostumar com seu novo papel.

— Não é tão difícil, Jane. Meu pai me envolveu nos negócios da


propriedade assim que eu tinha idade suficiente para entender. Ele me
preparou bem para o trabalho e os trabalhadores são todos bons homens que
sabem o que se espera deles. A dificuldade surge porque meu pai não está mais
aqui para me aconselhar e sinto falta disso. A mãe cuida da casa e dos criados,

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


mas nunca se interessou pelo que está acontecendo na propriedade. Estou
sozinho lá.

— Você tem nosso apoio para o que precisar.

— Obrigado, Jane.

Ela sentiu a cor inundar seu rosto.

— Você disse que estava a caminho de nos encontrar.

— Sim. Tenho que ir a Londres a negócios e me pergunto se Sir Edward


ou Lady Cavenhurst têm alguma pequena comissão que eu possa fazer por eles
enquanto estiver lá.

— Isso é gentil da sua parte. — Ela fez uma pausa, quando uma ideia
veio a ela. — Você poderia fazer algo por mim, no entanto.

— De bom grado. O que é isso?

— Leve- me com você. Tenho certeza de que papai me permitiria ir se


você me acompanhasse. Eu poderia ficar com Lady Cartrose, viúva do irmão de
minha mãe. Ela mora em Mount Street. Tudo que você precisa fazer é me levar
até ela.

— Não tenho certeza...

— Por favor, Mark. Eu poderia fazer meu levantamento de fundos com


muito mais facilidade na capital, marcar compromissos para conhecer pessoas,
imprimir o papel de carta, esse tipo de coisa. Tia Emmeline está bem na
sociedade e talvez possa me apresentar às pessoas. Tenho certeza de que posso
ser mais persuasiva face a face do que por correspondência.

— Oh, eu tenho certeza que você poderia — disse ele. — E eu aceitaria


você de bom grado se achasse que isso poderia ser realizado com propriedade.

— E por que não? Você deve ser meu cunhado, não é?

— Não tenho certeza de que isso garanta alguma coisa, Jane — ele disse
com um sorriso irônico. — Vamos ver o que Sir Edward pensa, não é?

***

Sir Edward, quando foi abordado, estava duvidoso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Minha filha pensa que é madura e independente — disse ele. — E até
certo ponto ela é, mas não podemos desrespeitar as convenções. Já é ruim o
suficiente que Teddy... Não, não vamos falar dele. — Teddy partiu com uma
enxurrada de lágrimas da mãe e raiva do pai, que lhe disseram que ele lavara as
mãos dele.

— Seria perfeitamente apropriado que Isabel fosse também — disse Lady


Cavenhurst. — Então Jane seria a acompanhante deles.

— Ah, sim, sim — disse Isabel, com os olhos brilhando. — Eu gostaria


muito disso.

— Sim, isso serviria — Sir Edward concordou, virando-se para sua


esposa. — Você acha que sua cunhada vai recebê-las?

— Tenho certeza que sim. Ela está sempre perguntando quando vamos
visitá-la. Escreverei para ela imediatamente. Meu senhor, você levará a carta
para o correio a caminho de casa?

— Com prazer, minha senhora. Há algo que você poderia fazer por mim
em troca. Você faria companhia para minha mãe enquanto eu estivesse fora? Ela
ainda está se sentindo muito triste e eu não gosto de deixá-la.

— Claro que sim. Quando você vai?

— Planejava ir amanhã, mas vou adiar até o dia seguinte para dar tempo
às mulheres para fazer as malas. Quero estar na estrada às oito e meia, por isso
vou apanhá-las com o coche, se não for muito cedo.

— Estaremos prontas — disse Jane.

Ele se curvou, deixando Isabel pulando de um lado para o outro em


emoção.

***

A jornada foi realizada em dois dias, com trocas frequentes de cavalos


nas várias estalagens ao longo do caminho e, um pernoite no meio do caminho.
Isabel passou boa parte do tempo olhando pela janela do coche e exclamando
sobre o que via, enquanto Jane e Mark discutiam a angariação de fundos de
Jane.

— Existem vários orfanatos em Londres — disse ele. — Alguns bons,


outros absolutamente ruins. Você deve visitar alguns deles e descobrir como

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


eles são administrados e como eles arrecadam dinheiro e, talvez aprender
algumas das atitudes a serem evitadas. Eles podem lhe dar algumas ideias.
Quando meus negócios terminarem, terei prazer em acompanhá-la. Talvez
amanhã à tarde.

— Sim, isso será conveniente, obrigada — disse Jane. — Dará tempo para
preparar algumas anotações pela manhã.

— Que chato — disse Isabel.

— Você não tem que vir Issie, querida — disse Jane. — Tenho certeza
que tia Emmeline encontrará algo para você fazer mais ao seu gosto. Você sabe
que vida social ocupada ela leva.

— Mas você vai tirar Mark de mim.

— Eu compensarei você, Isabel — ele disse. — Você deve permitir que


sua irmã tenha o lar dos filhos dela. Afinal, você tem o seu casamento pela
frente. — Ele sorriu. — Já se passaram duas semanas dos seis meses.

— Sim. Eu sou uma pessoa muito desagradável, não sou?

— Nem um pouco — disse ele. — Você gostaria de visitar o Museu


Bullock? Eu acredito que eles estão exibindo o coche de Napoleão capturado em
Waterloo. Todos nós poderíamos ir uma tarde.

***

Ela ficou apavorada com essa ideia e recuperou o bom humor quando o
coche parou diante da casa de Lady Cartrose em Mount St. Reet. Ciente de seus
deveres de escolta, ele pediu a Jeremy que levasse o coche até Wyndham House
e entrou na casa da cidade para entregar sua carga e a criada a sua senhoria,
que havia recebido a carta de sua cunhada e as esperava. Desde a última vez
que Jane a viu, ela tinha engordado muito e agora era uma mulher
rechonchuda. Ela estava vestida com um vestido roxo-escuro e usava uma toca
branca nos cabelos tingidos de vermelho.

— Entre e deixe-me olhar para você — disse ela, enquanto a empregada


que os levara à sala de visitas desaparecia para buscar bebidas e Issie foi
conduzida até seus quartos para desfazer as malas. — Meu Deus, você está bem
crescida agora e tão elegante. Eu não sabia que tinha sobrinhas tão bonitas.
Apresente sua escolta.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Tia Emmeline, este é lorde Wyndham — disse Jane.

— E estou certa ao pensar que ele é seu noivo? — Ela virou um rosto
sorridente e redondo para Mark.

Jane ficou consternada.

— Não, tia. Lorde Wyndham é o noivo de Isabel, não o meu.

— Oh, querida, que erro tolo de cometer. Devo ter interpretado mal a
carta da sua mãe. Meu senhor, por favor, me perdoe.

Mark curvou-se para ela.

— Minha senhora, isso não tem importância.

— Vamos nos sentar. — Ela acenou com a mão na direção de dois sofás e
algumas cadeiras. — Então podemos tomar um refresco confortavelmente com
algumas bebidas e você pode me contar tudo sobre vocês. — Ela se sentou em
um dos sofás quando uma criada trouxe a bandeja de chá e outra apareceu com
dois pratos cheios de bolos e doces.

Logo se revelou que sua senhoria era muito surda e que eles eram
obrigados a repetir quase tudo o que diziam em vozes muito altas, enquanto
sua senhoria se munia de dois grandes pastéis e vários bolos. As meninas
comeram um bolo cada uma e Mark sentiu o dever de administrar mais do que
isso, a fim de agradar à sua anfitriã.

***

Uma hora depois, quando sua senhoria se satisfez por saber que ela
havia aprendido tudo o que precisava saber sobre suas vidas e aspirações, Mark
se preparou para sair.

— Eu estarei ocupado em assuntos de negócios durante a manhã de


amanhã — disse ele à senhoria. — Mas telefonarei à tarde, se puder. Prometi a
Jane levá-la para visitar alguns orfanatos.

— Então você deve ir ao Hospital Foundling — disse ela. — É aberto ao


público e levantou quantias consideráveis para sua manutenção com obras de
arte e noites musicais.

— Sim, eu ouvi falar disso — disse Jane. — Eu gostaria de fazer isso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Enquanto isso, convidarei todos os conhecidos ricos que conseguir
espremer na minha sala de música, cartões e bebidas duas noites depois, para
que você seja apresentado a eles e converse com eles sobre à casa de seus filhos.
No entanto, não será fácil extrair dinheiro deles. Todo mundo está reclamando
de tempos difíceis. A guerra custou a todos queridos em impostos e o verão
sombrio do ano passado e a má colheita significam que suas propriedades e
investimentos não estão produzindo a renda que esperavam.

— Mais uma razão para as pessoas pensarem nos pobres órfãos — disse
Jane. — Se os tempos são difíceis para os ricos, são ainda mais difíceis para as
pessoas mais pobres.

— Tenho certeza de que sua língua de prata fará o truque — disse Mark.
— Até amanhã, então. — Ele se curvou e se foi, deixando as damas discutirem
assuntos sociais e trocarem fofocas.

***

O Foundling Hospital, criado pelo filantropo Thomas Coram a mais de


setenta anos, era muito maior do que Jane imaginara. A maioria das crianças era
filha de mulheres solteiras, embora houvesse alguns órfãos. As crianças
estavam bem vestidas, bem alimentadas e pareciam felizes em seu caminho,
mas Jane não podia concordar que dar-lhes novos nomes e afastá-los de seus
pais reais, mesmo que houvesse apenas um, era o caminho que ela seguiria. Foi
feito, disseram-lhe, para que a mãe pudesse se arrepender de seus pecados e
criar uma nova vida para si, sem ônus para os filhos.

— Prefiro encorajar as crianças a conhecerem e falarem sobre seus


parentes — disse ela, quando ela e Mark voltaram para Mount Street. — Mães
especialmente viúvas. As famílias são importantes.

Ele a apoiara por todo o caminho, de pé ao lado dela enquanto ela falava
com o administrador da casa e fazia perguntas pertinentes que ela talvez não
tivesse pensado em si mesma. Este tempo a sós com ele era precioso, tão
precioso, que era difícil dedicar sua mente ao propósito de sua visita. Toda vez
que o braço dela roçava a manga dele ou ele colocava a mão sob o cotovelo para
ajudá-la a subir um degrau, ela sentia o calor inundar todo o corpo. Ela
realmente devia se concentrar na conversa e não no fato de que eles estavam
sozinhos juntos na carruagem dele.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Acho que você está certa — disse ele. — As relações do pobre Drew
não queriam nada com ele quando ele era órfão. Eles o enviaram para uma boa
escola e acreditavam que esse era o fim de suas responsabilidades. Essa é uma
das razões pelas quais eu fiz amizade com ele e o trouxe para ficar em
Broadacres.

— Sim, lembro-me dele me contando. Ele se saiu bem desde então.

— Sim, e eu o ouvi dizer que ajudaria no seu projeto. Você deve mantê-lo
atualizado.

— Se eu o ver novamente. — Ela fez uma pausa. — Mark, você confia


nele?

— Naturalmente, sim. Por que você pergunta?

— Não há razão. — Ela respirou fundo e mudou de assunto. — O Coram


me deu outras ideias para arrecadar dinheiro, além de escrever cartas.
Poderíamos organizar noites musicais com músicos talentosos pelos quais o
público rico pagaria generosamente e poderíamos fazer uma feira na vila e
pedir doações para as barracas e prêmios para competições, cobrando uma
pequena taxa de entrada.

— Uma feira não atrairia os ricos — disse ele. — Isso significaria muito
trabalho para uma pequena recompensa.

— Eu sei, mas seria dar ao povo de Hadlea a oportunidade de se


envolver. Quero que a casa faça parte da comunidade, não seja escondida atrás
de sebes e muros. E toda pequena contribuição ajuda. Achei que o último
sábado de agosto seria a melhor chance de bom tempo e daria tempo para
organizar tudo.

— Então poderíamos fazê-lo no campo de dez hectares, no outro lado da


propriedade de Broadacres.

— Mas, Mark, isso seria sábio? Você está tão recentemente enlutado. O
que sua mãe vai dizer?

— Vou consultá-la, mas ela dirá que era o que meu pai desejaria. Seu
projeto estava perto do coração dele, como está do meu.

— O que eu faria sem você?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Tenho certeza que você conseguiria admiravelmente. — Ele se virou
para sorrir para ela, fazendo seu coração bater. Isabel percebia o quão
afortunada ela era?

***

Chegaram de volta ao Monte Street para ouvir de Isabel que ela e Lady
Cartrose estavam andando na carruagem aberta de sua senhoria em Hyde Park
e paravam frequentemente para que ela pudesse ser apresentada a alguns dos
muitos conhecidos de sua senhoria.

— Tenho certeza de que foi mais interessante do que visitar um orfanato


— disse ela. — E adivinhem com quem nos deparamos, cavalgando no Row? Sr.
Ashton, nada menos. Quando soube que você estava na cidade, Mark, ele disse
que chamaria por você. E tia Emmeline o convidou para vir amanhã. Falou-se
em passear juntos. — Seu rosto estava iluminado com entusiasmo e excitação, o
que encheu Jane com uma espécie de presságio.

Estranhamente, Mark não parecia ver seu perigo. Ele sorriu e disse que,
de qualquer forma, teria chamado Drew e certamente daria tempo para um
passeio, se era o que as mulheres desejavam. Então ele se curvava.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Cinco

O passeio foi marcado na manhã seguinte, quando os dois homens


chegaram à Mount Street ao mesmo tempo. Eles visitariam o Museu Bullock's
naquela tarde e participariam de um concerto no Pavilhão Chinês em Ranelagh
Gardens à noite, um plano que agradou a Isabel. Assim que eles se despediram,
ela começou a discutir o vestido que usaria.

— Meu sarsnet listrado de verde e rosa — disse ela. — Com um gorro


rosa e luvas.

— Issie, lembre-se de que Mark está de luto e que você, como prometida,
deve ser um pouco mais sombria com o que veste.

— Você quer dizer que eu deveria entrar em luto também? Ainda não
somos casados. Sua senhoria não era meu parente. Não vejo a necessidade.

— Não é luto, Issie, mas algo mais discreto por respeito aos sentimentos
de Mark.

— Você está sempre preocupada com os sentimentos de Mark, Jane.


Começo a me perguntar se você não está um pouco apaixonada por ele.

— Absurdo. — Sua resposta foi aguda, mas ela se virou para que sua
irmã não pudesse ver a consternação em seu rosto. — Tia, o que você acha?

— Achar sobre o que? — A senhora perguntou vagamente. Era óbvio que


sua surdez a impedira de seguir a conversa.

— Eu estava dizendo que Isabel não deveria usar cores brilhantes em


deferência ao estado de luto de Mark — disse Jane em voz alta.

— Você pode estar certa — disse sua senhoria. — Mas existem alguns
tons adoráveis de lilás e cinza.

— A única coisa que tenho de cinza é aquele vestido simples e antigo de


casamento que eu usava para vir aqui. Você não espera que eu use isso de novo,
não é?

— Serviria — disse Jane.

— Bem, eu não vou. Como posso brilhar na sociedade em algo tão


monótono assim? Os cavalheiros não vão gostar de mim.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Cavalheiros? — Jane perguntou. — Que cavalheiros?

— Ora, Mark e o senhor Ashton, é claro.

***

Ela não se comoveu e foi uma resplandecente Isabel de rosa e verde que
cumprimentou os cavalheiros quando eles chegaram. Jane estava em um lilás
claro enfeitado com renda branca. Ambos carregavam guarda-sóis porque o dia
estava quente.

O Museu Bullock estava alojado no Salão Egípcio de Piccadilly, a uma


curta distância, e eles decidiram caminhar. Havia exposições estranhas, muitas
vezes bizarras, no museu, coisas como esqueletos e ossos de animais, armas e
armaduras, uniformes com buracos de bala e plantas incomuns. Eles passearam
pelas exposições e depois passaram a inspecionar o magnífico coche de viagem
usado por Napoleão em suas campanhas. Ele o abandonou após sua derrota em
Waterloo e montou em seu cavalo branco para fugir. Quando ele sabia que a
fuga não era possível, ele pediu asilo ao rei George na Inglaterra, mas isso foi
recusado e, como a ilha de Elba não o segurava, ele foi enviado para Santa
Helena, no Atlântico. Seu coche havia sido comprado para o museu e as pessoas
se reuniam para vê-lo. Pintado de azul com ornamentos dourados era muito
grande e luxuoso, com uma cama dobrável, até uma mesa com canetas, papel e
tinta e compartimentos para mapas e telescópios. Tinha portas à prova de balas
e persianas nas janelas. Obviamente, precisava de uma equipe de cavalos fortes
para puxá-lo.

— O duque de Wellington andou de carruagem como essa? — Jane


perguntou a Mark.

— Ele tinha uma carruagem, embora não fosse nada tão ostensivo quanto
isso — respondeu ele. — De qualquer forma, ele preferiu andar.

— Você o encontrou?

— Sim, várias vezes, embora eu não ache que ele se dignou a me notar.

— Vou escrever uma das minhas cartas para ele. Supõe-se que ele
simpatize com a situação de seus homens e de suas famílias.

— Eu não sei como você se atreve — Isabel disse.

— Nada se aventurou, nada ganhou — disse ela rindo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Bem, acho que você está desperdiçando seu tempo — continuou a
irmã. — É um problema nacional. O que uma mulher pode fazer?

— Se todos pensassem que nada poderia ser feito, nada seria feito —
disse Mark.

— Simpatizo com as crianças, é claro que sim — disse Isabel. — E sempre


dou alguns cobres aos mendigos, mas você está falando de milhares de libras.
Você está ficando obcecada por isso, Jane, e eu, por exemplo, estou cansada de
ouvir sobre isso. Se você e Mark desejam continuar a conversa, o Sr. Ashton e
eu encontraremos outra coisa para conversar. — Ela pegou o braço de Drew. —
Venha, Sr. Ashton, mostre-me os animais.

Drew olhou para Mark, que respondeu com um leve aceno de cabeça e
Drew se deixou levar.

— Mark, não devemos segui-los? — Jane perguntou, olhando para as


costas desaparecendo em consternação.

— Ela está entediada, Jane.

— Isso não é desculpa. Estou chocada com o comportamento dela e só


posso me desculpar por ela.

— Cara Jane, não precisa se desculpar por nada. Você não é a


guardadora da sua irmã.

Seu afeto não significava nada para ele, mas tudo para ela, mas ela
deveria se proteger contra a deixá-lo saber disso.

— Não, mas estou preocupada que ela não esteja demonstrando a devida
consideração por seus sentimentos.

— E você sabe quais são meus sentimentos, Jane? — Ele perguntou com
um sorriso. — Você pode ler minha mente?

— Não, claro que não. — Ela sentiu o rosto corar e desejou terminar a
conversa. — Mas ainda acho que devemos segui-los pelo bem do decoro.

Ele riu de repente e foi à primeira risada verdadeira que ela ouviu dele
desde que seu pai morreu.

— Em que reputação você está pensando, Jane? Deles ou as nossas?


Quem é a panela e quem a chaleira?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela foi obrigada a sorrir com isso.

— Então, pelo bem de todos, vamos nos juntar a eles e tentar não discutir
a Casa das Crianças Hadlea.

***

Os bichos de pelúcia estavam em uma parte separada do museu, pela


qual tinham que pagar um xelim extra. A entrada era um corredor estreito de
aparência de uma caverna rochosa, que dava para uma floresta tropical, onde
os bichos de pelúcia eram colocados em poses naturais entre a vegetação. Drew
e Isabel não foram encontrados lá ou em qualquer outra parte do prédio.
Preocupados com o que aconteceu com eles, eles saíram para encontrá-los em
pé na passarela. Isabel estava agarrada ao braço de Drew com as duas mãos e
estava com a cabeça no ombro dele.

— Aí está você — disse Drew. — Isabel sentiu-se fraca e implorou que eu


a trouxesse para o ar fresco. Não ousei deixá-la buscar você.

— Oh, querida — disse Jane, afastando gentilmente a irmã do lado de


Drew e passando o braço pelos ombros. — Você se sente melhor agora?

— Sim, um pouco.

— Você acha que consegue voltar para Mount Street ou pediremos a


Mark que nos encontre um hackney?

Mark virou-se para um pequeno varredor de travessia 11, que estava


esperando ansiosamente para ver se eles queriam atravessar a rua, deu-lhe um
centavo e ordenou que ele corresse por um hackney. Ele acelerou e logo voltou
com o veículo alugado.

Assim eles voltaram a Mount Street e nos poucos minutos que a viagem
levou, Isabel recuperou seu espírito. Jane se viu imaginando se sua irmã havia
realmente se sentido fraca ou se foi uma encenação para tirar proveito de Drew,
e então se censurou por seu pensamento pouco caridoso.

— Issie — disse ela assim que ficaram sozinhos —, você não deveria ter
pedido ao Sr. Ashton que a afastasse de nós. Foi muito embaraçoso para Mark,

11Um varredor de travessia era uma pessoa que percorria um caminho à frente das
pessoas que atravessavam ruas urbanas sujas em troca de uma gratificação. Esta
prática foi uma ocupação informal entre os pobres urbanos, principalmente durante o
século XIX.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


e fiquei com vergonha de pensar que você poderia se comportar de uma
maneira tão avançada, e agravá-lo ao se agarrar ao braço do Sr. Ashton daquela
maneira. Temo pensar no que Mark achou disso.

— Quase desmaiei e não me importo com o que Mark pensa. E não quero
que você me repreenda.

— Issie! — Jane estava perdida com suas palavras.

— Bem, eu não vou. Quem me dera não ter dito que me casaria com
Mark. — E com isso ela saiu do quarto, deixando o coração e a mente de Jane
em tumulto. Era tão difícil dizer se Isabel realmente quis dizer o que disse, ou se
era uma birra da qual ela se arrependeria.

***

Sua irmã estava mais moderada do que o habitual quando se sentaram


para uma refeição leve com a tia às cinco horas, mas ela não queria ouvir falar
em adiar o passeio a Ranelagh Gardens por não se sentir bem no início do dia.

— Estou perfeitamente recuperada — disse ela. — Estamos na cidade


apenas por alguns dias e o céu sabe quando voltaremos, se o papai estiver tão
determinado que precisamos economizar, então pretendo aproveitar ao
máximo.

Jane estava com o coração pesado, preparada para a noite, quando


seriam novamente escoltados por Mark e pelo Sr. Ashton. Ela desejou que o
último fosse embora, de volta por aonde ele veio, mas seu desejo não era para
ser atendido.

***

Drew e Mark chegaram prontamente às oito horas na carruagem da


cidade de Mark e os quatro logo estavam a caminho de Chelsea.

Os jardins eram um lugar popular onde a aristocracia se misturava com


qualquer um capaz de pagar a taxa de entrada de dois xelins e seis centavos.
Tinha um pavilhão chinês, um lago ornamental e vários passeios. Concertos ao
ar livre também eram realizados lá. Mark e Drew, com as damas entre eles,
dirigiram-se ao pavilhão para ouvir a música, que não terminava antes que
escurecesse. A área ao redor do pavilhão era iluminada por lanternas
penduradas entre as árvores, mas os passeios arborizados com seus pequenos

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


arbustos estavam no escuro e eram, portanto, um local popular para encontros
românticos.

***

Na multidão de pessoas saindo no final do show, Jane se separou de seus


companheiros. Ela vagou por vários minutos tentando encontrá-los e estava
começando a pensar que seu melhor plano era sair e esperar que eles a
encontrassem, quando encontrou Mark.

— Onde estão o senhor Ashton e Isabel? — Ela perguntou. — Estou


procurando todos vocês há muito tempo.

— Eu não sei. Eu pensei que eles estavam com você.

— Não. Eu os perdi de vista logo depois que todos começaram a sair.


Para onde eles foram? Se eles foram separados, Issie ficará assustada; ela nunca
gostou do escuro. — Ela não acrescentou que, se estivessem juntos, era mais
uma indiscrição da parte de sua irmã.

— Nossa melhor opção é ir até as linhas de transporte e ver se eles


chegaram lá antes de fazer qualquer outra coisa.

— Então eu vou ficar aqui e continuar procurando.

— Não, Jane, ficamos juntos. Também não quero que você se perca.

Eles foram para onde as carruagens esperavam, mas Jeremy não tinha
visto o senhor Ashton ou a senhorita Isabel. Eles voltaram para os jardins, agora
na escuridão, porque quase todo mundo havia partido, e começaram uma busca
sistemática por todos os caminhos, levando uma das lanternas do pavilhão para
iluminar o caminho.

— Eles devem ter perdido o caminho tentando encontrar a saída — disse


Jane. — Embora isso pudesse acontecer quando quase todo mundo estava
saindo e eles tinham apenas que seguir, eu não sei.

Eles andaram um caminho após o outro, com Mark balançando a


lanterna de um lado para o outro e, no processo, conseguindo perturbar mais
de um casal de amantes para sua consternação ou indignação, mas não havia
sinal de Drew e Isabel. Eles voltaram para o pavilhão e ali encontraram Drew.
Ele estava sozinho.

— Onde está Issie? — A ansiedade de Jane a fez falar bruscamente.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu a levei para a carruagem. Ela está esperando lá por você.

— Ela não estava lá há meia hora.

— Não. Ela desmaiou e caiu no meio da multidão. Peguei-a e carreguei-a


de volta ao pavilhão para se recuperar, depois a escoltei até a carruagem e vim
procurar por você.

— Então vamos nos apressar e levá-la para casa — disse Mark. — Hoje já
é a segunda vez que ela se sentiu mal. Espero que ela não esteja enjoada de
nada.

Eles voltaram para a carruagem onde Isabel estava sentada esperando


por eles com Jeremy ao lado. Jane correu para se juntar a ela.

— Issie, o que aconteceu?

— Havia tanta gente empurrando e puxando, e eu não conseguia me


mexer e vocês me deixaram e eu desmaiei e teria sido pisoteada se Drew não
tivesse visto o que havia acontecido e me resgatado.

— Então estamos em dívida com ele — disse Mark, sentando-se à sua


frente. Drew juntou-se a eles e foram levados rapidamente a Mount Street. Os
cavalheiros não ficaram muito tempo depois de entregarem as senhoras em
segurança aos cuidados de sua tia, que se preocupava com Isabel e sugeria que
o médico fosse chamado, mas Isabel não queria ouvir falar. — Estou
perfeitamente bem agora — disse ela. — Foi o calor e a aglomeração de pessoas
que me fizeram desmaiar, nada, além disso. Vou para a cama. Amanhã vamos
cavalgar no Hyde Park. Eu não perderia isso de maneira nenhuma.

Jane foi para a própria cama, mas não conseguiu dormir. Sua irmã tinha
uma constituição robusta e nunca desmaiou em sua vida, então o que estava
acontecendo agora? Ela estava deliberadamente se jogando no caminho de
Andrew Ashton? Será que ela realmente queria não ter aceitado a proposta de
Mark? Causaria o escândalo mais terrível para ela recuar agora. Isso partiria o
coração de Mark e ele também seria contaminado com isso. Ele era um homem
bom demais para ser tratado dessa maneira.

***

Mark ficou ocupado com o advogado durante toda a manhã seguinte e


Jane passou a escrever mais cartas, enquanto Isabel e a tia foram fazer compras.
Elas não retornaram até que era quase tempo para os cavalheiros trazerem os

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


cavalos de montaria para a casa. Jane foi para o quarto para mudar seu traje de
andar, que sempre usava para andar em casa. Era simples e reparável em um
gorgorão verde-escuro. Ela ouviu os homens chegarem enquanto ela calçava as
botas. Depois de prender um chapéu verde nos cabelos escuros com um
alfinete, ela desceu para cumprimentá-los.

Estavam no corredor, quando Isabel saiu do quarto e desceu as escadas.


Ela estava usando um novo conjunto de montar em veludo malva, cortado no
estilo militar com linhas de trança e dragonas com franjas douradas. Sua cabeça
estava coroada com um alto chapéu de castor, com penas malvas ondulando em
torno da aba e tocando sua bochecha. Seus pés estavam envoltos em botas de
criança. Jane só podia encará-la.

— Sou eu, senhores — ela disse alegremente. — Como estou? — E ela


girou para mostrar seu conjunto, embora a saia muito longa a atrapalhasse.

— Adorável, como sempre — disse Mark.

— Magnífica — Acrescentou Drew.

Jane ficou em silêncio enquanto se dirigiam para frente da casa e


montavam. A estrada estava movimentada e eles só podiam andar em fila única
até entrarem no Hyde Park, quando passeavam com os cavalos em um ritmo
calmo ao longo da fileira. Não era ideia de Jane dar uma volta, mas ela não
podia deixar Isabel, que estava interessada em ver e ser vista.

***

Eles estavam cavalgando por talvez meia hora quando outro cavaleiro
vinha em sua direção e parou quando ele os alcançou.

— Wyndham, bom dia — disse ele. Ele era uma figura alta e elegante,
com cabelos escuros encaracolados e olhos quase negros, que olhavam Isabel
com apreciação, depois se voltaram para Jane e depois para Drew. — Ashton
nos encontramos novamente.

— De fato — disse Drew.

— Wyndham, você não vai me apresentar para as damas? — O recém-


chegado perguntou.

Mark parecia relutante, mas ele se virou para Isabel primeiro.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Isabel, posso apresentar lorde Bolsover. Senhorita Isabel Cavenhurst,
minha futura esposa.

Bolsover sacudiu o chapéu alto para ela.

— Minhas felicitações, senhorita Cavenhurst. Meu amigo Mark é um


homem de sorte.

Isabel respondeu com um sorriso pronto e um aceno de cabeça.

— Meu Senhor.

Mark virou-se para Jane.

— E esta é a Srta. Jane Cavenhurst.

Sua senhoria se curvou novamente, mas Jane não conseguiu sorrir para
ele. Ela inclinou a cabeça sem falar.

— Filhas de sir Edward, presumo —, disse ele. — E irmãs de Teddy. Fico


feliz em conhecê-las.

Isabel, que nunca ouvira falar de lorde Bolsover em conexão com o


irmão, estava inclinada a ser amigável com ele.

— Oh, você é amigo de Teddy?

— Eu o conheço bem — disse ele. — Mas tenho sentido falta dele


ultimamente. Espero que ele não esteja doente.

— Oh, não, ele foi para a Índia para fazer fortuna.

Bolsover riu alto.

— Então é aí que ele se escondeu. Não importa, existem outras maneiras


de esfolar um gato.

— Isabel, acho que não devemos deter lorde Bolsover — acrescentou


Jane rapidamente. — E devemos estar a caminho. — Ela juntou as rédeas para
sair.

— Sem dúvida nos encontraremos novamente — disse ele, tocando a aba


do chapéu. — Eu tenho negócios com Sir Edward.

— Eu não gosto do som disso — Jane disse a Mark enquanto eles


continuavam andando. — Parecia quase uma ameaça.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não se preocupe, ele não pode fazer nada enquanto Teddy estiver fora
do país.

— Ele pode ameaçar papai.

— Duvido que ele planeje deixar Londres para ir a Norfolk no meio da


temporada, Jane. Ele pode fazer uma fortuna depenando os sangues jovens que
vêm à cidade para se divertir. Ele não abriria mão disso.

— Você é mesmo amigo dele?

— Certamente que não, assim como ele não é meu. Eu detesto o homem.

— Por quê? — Isabel exigiu, pegando o final da conversa. — Eu o achei


muito civilizado.

— É a ele que Teddy deve dinheiro — disse Jane. — É esse homem que
levou nosso irmão a emigrar.

— Foi culpa de Teddy, se você me perguntar — disse Isabel. — Ele não


deveria jogar.

— Você está certa, é claro, mas temo que lorde Bolsover ainda não tenha
terminado conosco.

— O que ele pode fazer?

— Nada — Mark acrescentou. — Vamos esquecê-lo e aproveitar o resto


do nosso passeio.

— Sim, vamos — Isabel disse e chutou o cavalo para trotar e depois para
galope. — Vou levá-lo até a árvore ali. — E ela se foi a um galope louco.

Não havia nada que eles pudessem fazer além de seguir, liderados por
Drew, que era o único a montar sua própria montaria, o que lhe dava
vantagem. Jane era uma boa amazona, mas em um cavalo contratado não
conseguia pegar a irmã, muito menos acompanhar os homens. Ela estava bem
atrás deles, quando viu sua irmã sob a árvore que ela tinha apontado. Em um
esforço para puxar para cima, ela foi pega por um galho suspenso com tanta
força que a jogou no chão.

Drew saiu do cavalo em um instante e ajoelhou-se ao lado dela. Ele


estava com a sua cabeça nos braços quando Mark e Jane chegaram e
desmontaram. Jane caiu de joelhos ao lado deles.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Isabel estava inconsciente, com o rosto branco como papel.

— Receio que ela esteja gravemente ferida — disse Drew, com um tremor
incomum na voz. — Devemos levá-la de volta à Mount Street o mais rápido
possível e buscar um médico.

Ele deixou de se dirigir a Mark para olhar para Isabel e a expressão em


seu rosto encheu Jane de alarme. Era mais do que apenas a preocupação de um
cavalheiro em relação a uma senhora ferida, mais do que a de um amigo. Ele
amava Isabel. Ela olhou para Mark para ver se ele tinha notado, mas se ele
notou, ele não traiu nada de seus sentimentos enquanto se preparava para
montar o cavalo e procurar ajuda.

— Issie, acorde — disse Jane, com lágrimas nos olhos. — Por favor, Issie,
por favor, acorde.

As pálpebras de Isabel tremeram e então ela arregalou os olhos.

— Onde estou?

— Você caiu do seu cavalo — disse Drew.

Ela virou a cabeça na direção dele.

— Oh, é você. — As pálpebras dela tremeram e fecharam novamente


com um suspiro suave.

— Acorde Issie — implorou Jane. — Diga-nos se você está machucado.


Você está com dor?

— Minha cabeça está doendo.

— Não é de se admirar — disse Drew. — Você bateu com a cabeça e já


tem o começo de um caroço, mas não acho que haja ossos quebrados. Vamos
levá-la para casa e chamar um médico para ter certeza. Mark foi buscar uma
carruagem.

Ela lutou para se sentar, mas ele gentilmente a puxou de volta.

— Fique quieta ou você vai piorar a cabeça.

Ela se acalmou, deixando Jane preocupada com a posição deselegante em


que sua irmã estava e o fato de Andrew Ashton a embalar nos braços da
maneira mais amorosa. Será que Issie sabia o que estava acontecendo? Mark
sabia?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Uma carruagem contratada parou ao lado deles e Mark pulou. Drew
pegou Isabel e a levou até ele. Ele a colocou gentilmente no assento e Jane subiu
ao lado dela.

— Vamos trazer os cavalos — disse Mark, dirigindo-se a Jane. — Não


tente sair da carruagem até chegarmos para ajudar. Estaremos logo atrás de
você.

— Em breve estaremos em casa, Issie — disse Jane quando a carro


sacudiu enquanto se afastava, fazendo Isabel chorar. — Coloque a cabeça no
meu colo, se ajudar.

Isabel fez isso e Jane sentou-se, embalando-a, notando a contusão no lado


da cabeça de Issie crescendo e ficando roxa. Se ela tinha dúvidas sobre o
genuíno desmaio de Issie no Museu e nos jardins de Ranelagh, ela não tinha
dúvidas sobre este. Ela não teria caído de seu cavalo deliberadamente, mesmo
que a decolagem desse jeito tivesse causado um rebuliço. Oh, tola, tola Issie,
pensou enquanto rezava para que não houvesse danos permanentes à sua
adorável irmã.

***

Os dois homens estavam logo atrás delas quando pararam do lado de


fora da casa de Mount Street. Mark desmontou e correu para a carruagem para
ajudar Isabel. Ela estava instável demais para andar, então ele a levou escada
acima para a casa, seguida por Jane e Drew. O criado que os admitiu correu
para buscar Lady Cartrose, que imediatamente percebeu a situação.

— Ela deve ir para a cama imediatamente — disse ela, virando-se para


despachar um lacaio para procurar seu médico.

Mark tinha colocado Isabel em uma cadeira, mas a pegou novamente


para levá-la para seu quarto. Bessie foi enviada para ajudar Jane a despi-la,
enquanto Lady Cartrose e os dois homens esperavam na sala de estar. Nenhum
dos dois teve vontade de partir até conhecer a extensão do dano.

— O que aconteceu? — Perguntou sua senhoria, indicando que eles


deveriam se sentar. — Como Isabel caiu do cavalo? Eu entendi que vocês
estavam apenas saindo para um passeio leve no parque.

— Essa era a intenção — disse Mark. — Mas o cavalo de Isabel disparou


com ela. Drew e eu galopamos atrás dela para tentar parar, mas antes que

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


pudéssemos fazê-lo, ela foi atingida pelo galho de uma árvore que a derrubou
no chão. Foi tão repentino que ninguém teve chance de impedir.

— Ela foi nocauteada — Drew disse.

— O que fez o cavalo disparar?

— Eu realmente não sei — disse Mark. — Gostaria que estivéssemos


assistindo com mais cuidado.

— Também desejaria — disse Drew. — Espero sinceramente que não


haja danos permanentes. Eu nunca iria me perdoar.

O som das vozes no corredor avisou que o médico havia chegado. Sua
senhoria levantou-se para conduzi-lo ao quarto da paciente, deixando os dois
homens se encarando em um silêncio que durou vários minutos.

— Alguém deveria cuidar dos cavalos — disse Mark com voz plana. —
Não podemos deixar cavalos alugados na rua.

— Eu farei. — Drew levantou-se e saiu da sala, deixando Mark pensando


sozinho. Ele lamentou que Isabel tivesse sido ferida e não desejava isso a ela,
mas se ela não tivesse estimulado seu cavalo daquela maneira imprudente, o
acidente nunca teria acontecido. Por que ela fez aquilo? Por que ele estava
tendo que dar desculpas por ela e fingir que o cavalo era o culpado? A vida com
ela sempre seria assim? O que isso prenunciava para a felicidade futura deles
juntos?

Lady Cartrose voltou para a sala.

— Ela está confortável e o médico receitou algo para a dor de cabeça. Ele
disse que ela precisava descansar por pelo menos uma semana, mas não acha
que a vida dela está em perigo.

— Agradeça ao senhor por isso — disse Mark.

— Jane está sentada com ela. Ela está se culpando.

— Por quê?

— Eu não sei, algo sobre não conter a exuberância de Isabel.

— Exuberância — ele pensou em voz alta. — É assim que se chama? Eu


chamaria isso de obstinação. Isabel partiu para galopar e a égua ficou entre os
dentes e trancou. Não teve nada a ver com Jane.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você gosta muito de Jane, não é?

— De fato, eu gosto. Eu a admiro muito pela maneira como ela tenta


manter a família unida, fazendo sacrifícios por eles, o que eles parecem ter
como certo. Ela está sempre dando desculpas pelo mau comportamento deles.
Se não é Teddy, é Isabel.

— Você faz dela uma boa campeã, lorde Wyndham.

— Não há mais ninguém para fazê-lo.

— Nem mesmo o Sr. Ashton?

— Drew? — Ele perguntou intrigado. — Não, acho que não. Ela sempre
se comporta bem e corretamente com ele. O que a fez pensar isso?

— Ele está tantas vezes na sua companhia, vocês quatro juntos.

— Por que não? Drew é meu amigo.

— Ah eu vejo. Eu não entendi direito.

Ele não era capaz de analisar muito de perto seus próprios sentimentos,
mas os eventos dos últimos dias, em que ele esteve mais na companhia de Jane
abriram seus olhos para as diferenças entre ela e sua irmã e o que ele viu e
sentiu o encheu de dúvidas. Drew voltou antes que pudesse ponderar isso mais
profundamente.

— Como ela está? — Ele perguntou, depois de se curvar a Lady Cartrose


.

— Acordada e sente-se bem — respondeu sua senhoria. — Ela vai se


recuperar, mas deve ficar uma semana na cama.

— Graças a Deus, não é mais do que isso — disse ele, ocupando a cadeira
que sua senhoria indicava.

— Você conseguiu tratar dos cavalos? — Mark perguntou.

— Lorde Bolsover apareceu no momento em que eu os reunia e ofereceu


sua ajuda. Ele disse que viu o que aconteceu e estava a caminho de perguntar
sobre a acidentada.

— O que diabos o homem está fazendo?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não faço ideia, mas fiquei muito satisfeito com a ajuda dele. Quatro
cavalos em uma rua movimentada não são fáceis de manusear. Cada um de nós
montou um e liderou outro. — Ele se virou para Lady Cartrose. — Quando
poderemos visitar a senhorita Isabel?

— Acho que talvez amanhã Mark possa vê-la, se ela quiser. — Era
evidente que ela não achava apropriado que Drew visse a jovem enquanto ela
estava deitada na cama.

— Então vamos nos despedir — disse Mark, levantando-se para se


curvar a ela. Drew seguiu o exemplo.

***

— Não pretendia ficar na cidade por mais de três ou quatro dias — disse
Mark, enquanto caminhavam para a South Audley Street. — E devo voltar para
Hadlea e informar Sir Edward o que aconteceu. Sem dúvida, Jane vai querer
ficar com a irmã. Posso voltar para elas quando Isabel estiver bem o suficiente
para viajar.

Eles se separaram na esquina da Mount Street e South Audley Street,


combinando um encontro no White's para jantar naquela noite. Mark foi ao
estábulo para ordenar que sua carruagem estivesse pronta para retornar a
Norfolk na manhã seguinte, e depois entrou na casa para trocar de roupa e lidar
com alguma papelada. Mas ele não conseguiu se acostumar com isso e se viu
andando de um lado para o outro, pensando em Jane e Isabel. A última era
adorável, charmosa e sensível de várias maneiras, mas em outras,
completamente egoísta. Até recentemente, ele não percebia isso.

Quanto a Jane, ela estava longe da simples Jane que supostamente era.
Sua beleza estava em seu eu interior, em sua compaixão e altruísmo que
brilhavam em tudo o que ela fazia. Por que ele não tinha visto isso antes? Seria
porque todo mundo a ignorava e a tratavam como se ela não importasse, era tão
familiar e estática quanto os móveis? Ele tinha sido tão culpado quanto
qualquer um. Não era que ela não tivesse confiança, ela era mais independente
do que a maioria e capaz de se defender de uma discussão quando o assunto
era algo pelo qual ela se sentia apaixonada, principalmente os órfãos. Nem todo
mundo precisava ser animado e paquerador - de fato, às vezes, isso poderia
embaçar. Lá estava ele, comparando-as novamente. Isso significava que ele fez a

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


escolha errada? Ele parou de pensar abruptamente antes que eles o levassem
para onde era melhor não ir.

***

A caminho do White's, ele parou na Mount Street para perguntar sobre a


enferma e sua tia lhe disse que ela estava confortável e descansando.

— Jane está sentada com ela — disse a velha senhora . — Mas o


medicamento prescrito pelo médico a fez dormir e não podemos fazer nada
além de vigiá-la. O que o pai dela dirá sobre minha tutela de suas filhas, eu
temo pensar. Escrevi para minha cunhada e lhe disse que Isabel terá a melhor
atenção médica disponível.

— Devo voltar a Hadlea amanhã — disse ele —, e escreverei para o


Manor para avisar Sir Edward e Lady Cavenhurst do que aconteceu e
assegurar-lhes que Isabel está se recuperando. Presumo que Jane fique com a
irmã? Voltarei para levá-las para casa quando Isabel estiver bem o suficiente
para viajar.

— Obrigada, meu senhor. Não sei o que teríamos feito sem você.

— Eu não fiz nada. Por favor, transmita meus votos de felicidades às


duas senhoritas e diga a Isabel que desejo a ela uma rápida recuperação. — Ele
pegou o chapéu, fez uma reverência e saiu de casa para o encontro com Drew.

***

Se ele esperava uma ceia silenciosa e depois para casa, foi frustrada pela
chegada de lorde Bolsover.

— Posso me juntar a vocês? — Perguntou sua senhoria. Sem esperar pela


resposta, sentou-se à mesa onde Mark esperava Drew chegar. — Eu gostaria de
saber como vai à senhorita Cavenhurst.

— Ela está se recuperando na casa de sua tia.

— Estou contente de ouvir isso. Eu estava com medo de que ela tivesse
sofrido uma lesão grave. Uma garota bastante teimosa acredito. Ninguém disse
a ela que o terreno do parque longe do Row é muito irregular para uma dama
montada na sela lateral tentar galopar? Muito indecoroso, mas corajoso, mesmo
assim. — Ele sorriu de repente, mas era o sorriso de um tigre. — Sem dúvida,

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Andrew Ashton achou que sim, pois pude ver que ele foi muito solícito com
ela. Ajudei-o a levar os cavalos de volta aos estábulos, você sabe.

— Sim, eu ouvi. Estamos em dívida com você, meu senhor.

— Ele suporta assistir, esse seu amigo.

— O que você quer dizer com isso?

— Ora, você corre o risco de perder sua noiva, ou estou errado no meu
palpite.

Mark ficou furioso, mas conteve seu temperamento com um esforço.

— Você, senhor, é impertinente.

— Estou apenas afirmando um fato. Parece-me que todos os Cavenhursts


não são confiáveis.

— Por que você está tão interessado na minha noiva, Bolsover?

— Estou interessado em todas as ações dessa família. O irmão dela me


privou de uma quantia considerável de dinheiro e não posso deixar que isso
não seja contestado.

— O que você propõe fazer? Nem Sir Edward nem e nem as Senhoritas
Cavenhurst, são responsáveis pelas dívidas de Teddy.

— Não legalmente, talvez, mas tenho certeza de que Sir Edward gostaria
de evitar o escândalo de um filho patife fugindo de suas dívidas.

— Acredito que sir Edward considere que um período na Índia o


justifique.

— Só porque ele não tem a coragem de pagar as dívidas de seu filho,


pelo que ouvi dizer. É uma pena que eu não soubesse disso antes de adquirir
todas as dívidas. Agora, terei que repensar minha estratégia.

— Não sei como você conseguiu essa fofoca, mas você foi mal informado.

— Eu acho que não. Ah, aqui está seu amigo, senhor Ashton. — Ele
levantou-se. — Eu deixo você fazer o que quiser com o que eu disse, mas fique
tranquilo, por hedge ou por estilo, vou me vingar.

— O que ele queria? — Drew perguntou quando se sentou e chamou um


garçom.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Ele estava perguntando sobre a enferma. Eu não acho que ele se
importa nem um pouco em como Isabel está, ele estava simplesmente tentando
obter informações sobre Teddy.

— Você dificilmente pode culpá-lo por isso. Ele perdeu muito dinheiro.

— Então, por que gastar mais comprando o restante das dívidas de


Teddy? Acredito que é sir Edward que ele quer e pretende fazê-lo através do
filho ou das filhas.

— Não vejo como.

— Nem eu, mas ele falou de vingança, o que me deixa intrigado, pois
não vejo que ele tenha sido prejudicado por Teddy ou por qualquer outra
pessoa da família. Há mais do que a dívida.

O garçom veio anotar os pedidos e eles deixaram de discutir enquanto


decidiam o que comer.

— Gostaria que eu tentasse descobrir o que é enquanto estiver em


Hadlea? — Drew perguntou quando o garçom desapareceu. — Bolsover pode
ter confiado em alguns de seus associados, que podem não conhecer minha
conexão com você.

— Sim, por favor, faça isso. Ele parece prodigiosamente rico, o que é
surpreendente, porque o patrimônio que herdou de seu pai é apenas moderado
em Northampton Shire, insuficiente para suportar o tipo de vida que ele leva.

Eles conversaram sobre como as informações poderiam ser obtidas e


usadas enquanto comiam. Mark nunca mencionou a sugestão de Bolsover de
que ele poderia perder Isabel. Andrew Ashton era um homem honrado, um
amigo de longo prazo e ele não iria traí-lo dessa maneira. Mas, mesmo assim,
ele não conseguiu descartar a ideia, até porque Isabel estava se comportando
estranhamente desde que o conheceu. Se ela não tivesse esse acidente , todos
estariam no caminho de volta para Hadlea no dia seguinte e fora de perigo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Seis

Mark chamou no dia seguinte, antes que ele deixasse a cidade e foi
permitida uma breve visita ao quarto da doente, onde Jane sentou-se lendo para
sua irmã. Jane largou o livro e foi até a janela para olhar a rua movimentada e
dar-lhes um pouco de privacidade. Ela o ouviu perguntar a Isabel como estava
e a resposta baixa da irmã, mas a conversa parou. Eles ficaram em silêncio por
tanto tempo, ela arriscou um olhar. Mark estava sentado na cadeira que ela
estava usando e Isabel estava apoiada na cama, com as cobertas até o queixo.
Eles estavam simplesmente sentados lá sem nada a dizer, ambos olhando para
baixo, ambos infelizes.

— Estou voltando para Hadlea imediatamente — disse ele finalmente. —


Você tem uma mensagem para seus pais?

— Diga a eles que estou bem e que nenhum dano foi causado — disse
ela. — Diga a eles para não se preocuparem. Jane está cuidando de mim.

— Ah, a inestimável Jane. — Ele se virou para ela. — Você parece


cansada, Jane. Ninguém pensou em como você se sente?

— Eu me sinto bem — disse ela. — Não se preocupe comigo. Diga à


mamãe e ao papai que ficarei até Issie estar bem o suficiente para viajar.

— Eu vou voltar e buscá-las. — Ele se levantou, pegou a mão de Isabel


fora da colcha e beijou as costas dela. — Eu vou embora então. Não faça nada
precipitado enquanto estiver fora.

Isabel riu.

— Não posso fazer muito, presa aqui na cama, posso?

Ele se curvou para Jane e saiu. Logo que ele se foi, Drew chegou, mas
Lady Cartrose não achou apropriado deixá-lo entrar no quarto da enferma. Ela
o recebeu na sala de estar e contou-lhe o progresso da paciente, e ele teve que se
contentar com isso.

Dia após dia, Isabel se recuperava e, embora Jane passasse algum tempo
sentada com ela, tentando animá-la, ficou quieta e retraída. Drew se comunicou
regularmente para perguntar pela paciente; Isabel não o viu, apesar de Jane o
ter visto. Ele estava muito preocupado com a enferma, mais do que se
justificava na opinião de Jane, considerando que Isabel estava noiva de outro.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela poderia não ter pensado nisso, se não tivesse visto o olhar em seu rosto
enquanto ele embalava sua irmã em seus braços. Ela se perguntou se deveria
confrontá-lo sobre isso, mas decidiu não questionar. Uma vez que eles
retornassem a Hadlea, isto morreria de uma morte natural.

Quando ela não estava sentada com a irmã, Jane voltou à questão de
arrecadar fundos e continuou a escrever cartas e convidar pessoas para a festa
da tia Emmeline. Sua tia queria cancelá-la completamente, mas Isabel, sentindo-
se culpada pelo que havia acontecido, insistiu para que prosseguisse uma
semana depois do planejado, quando tinha certeza de que teria se recuperado o
suficiente para desempenhar seu papel. Jane a encorajou a andar pelo quarto
para fortalecer os músculos e, no sexto dia, Bessie a ajudou a se vestir e desceu
as escadas pela primeira vez. Ela estava lá quando Drew chegou em sua visita
diária.

— Fico feliz em vê-la tão bem — disse ele, depois de se curvar a Lady
Cartrose e Jane. — Eu temia que você tivesse sofrido uma lesão grave.

Isabel riu.

— Era uma pancada na cabeça, e já se foi. Eu sou o meu antigo eu.

— Então, estou mesmo aliviado.

— Você vai ao sarau da tia Emmeline amanhã à noite? Acho que vai ser
uma festa muito grandiosa.

— Não é para ser uma grande festa — disse Jane. — É para arrecadar
fundos para o meu orfanato.

— Bem, eu sei disso, mas tia Emmeline convidou muitas pessoas ricas,
então é provável que seja grande.

— Seja o que for, eu não perderia — disse Drew. — Se Mark não voltar a
tempo, eu o substituirei.

Depois que ele saiu, Isabel voltou para o quarto para descansar, mas
como ela não precisava mais de ninguém sentado com ela, Jane foi passear no
jardim, onde ensaiava baixinho as palavras que usaria para convencer as
pessoas de que os órfão dos soldados eram uma causa digna de sua caridade.

Foi lá que Mark a encontrou em seu retorno.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Jane, como vai? — Ele pegou as duas mãos dela e recostou-se para
olhá-la. — Você está pálida. Você não dormiu?

— Estou perfeitamente bem, obrigada. — Seu toque estava enviando


calafrios até o âmago dela. Seu amor por ele era algo que nunca poderia ser
curado e nunca deveria ser mencionado, então cada pequeno toque, toda
pequena conversa privada, era secretamente apreciada. — Você deveria estar
perguntando sobre Isabel, não sobre mim.

— Imagino que ela esteja totalmente recuperada — ele disse secamente.


— Bessie acaba de me informar que saiu com Lady Cartrose e Drew.

—Saiu? — Jane ecoou. — Pensei que ela tivesse ido descansar antes de ir
jantar. Eu nem sabia que o Sr. Ashton havia chegado. Espero que isso não a
esgote.

— Sua tia e Drew garantirão que ela não fique muito cansada.

— Você vai esperar por eles?

— Claro.

— Você viu meus pais?

— Sim eu vi. Eles estão naturalmente muito preocupados com Isabel,


mas eu consegui tranquilizá-los. Eles estão ansiosos para ter as duas em casa em
segurança novamente.

— Ficarei feliz em ir para casa também — disse ela. — Mas há o sarau


amanhã à noite. Eu devo ficar por isso.

— Você está indo em frente com isso, então.

— Sim, Isabel não quer que seja cancelado por conta dela, por isso
simplesmente informamos a todos que seria uma semana depois. Tenho
ensaiado o que direi para convencer as pessoas a se separarem do seu dinheiro.

— Enquanto esperamos, você me diz o que planeja dizer?

Eles se sentaram em um banco em uma árvore, sombreada pelo sol.

— Pensei em começar contando a todos sobre o menino mendigo que me


fez pensar e como me sentia insuficiente para as famílias dos soldados. Os
homens deixaram suas casas, esposas e filhos para arriscar suas vidas e morrer
pelo rei e pelo país, e não devemos forjar isso. O mínimo que podemos fazer é

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


lembrar do sacrifício e ajudar os filhos. Depois disso, direi a eles sobre o Lar
Infantil Hadlea e como planejamos administrá-los e quanto custará. Eu calculei
algumas despesas: comprar a casa, fornecê-la, contratar pessoal, administrar
despesas como comida, roupas, aquecimento.

— Gostaria que eu verificasse os números?

— Você faria? Isso seria uma grande ajuda, mas você pode dispor de
tempo?

— Para você, Jane, sempre terei tempo livre.

— Oh. — Ela ficou surpresa, mas se recompôs para rir. — Você quer
saber como será gasto o seu dinheiro?

— Não, claro que não. Eu confio em você implicitamente.

— Eu estava apenas brincando.

— Eu sei, mas outros colaboradores podem ser mais exigentes e é bom


ter as respostas na ponta dos dedos.

—Se eu conseguir outros colaboradores.

— Tenho certeza que vai.

— Vamos para dentro de casa? Minhas anotações estão todas lá.

Eles se levantaram e foram para a sala da manhã, onde Jane havia


deixado os papéis espalhados sobre a mesa.

***

Estavam absorvidos nos cálculos quando Lady Cartrose e Isabel


voltaram, acompanhadas por Drew.

— Mark — Isabel disse quando ele se levantou para cumprimentá-los. —


Eu não estava esperando você voltar tão cedo.

— Vim para assistir ao sarau amanhã à noite e levá-las para casa. Seus
pais estão ansiosos para tê-las de volta.

— Não tenho certeza se estou recuperada o suficiente.

— Você estava bem o suficiente para sair — disse Jane.

— Não fomos longe e fomos na carruagem.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Lady Cartrose convocou uma empregada para trazer bebidas e eles se
sentaram para conversar até chegarem.

— Eu queria uma fita rosa para combinar com meu vestido para amanhã
— Isabel continuou. — E Drew nos comprou sorvetes no Gunter's. Então vimos
o regente andando em sua carruagem. Ele se dignou a sorrir e levantar a mão
em saudação para nós, mas havia outros na estrada que o vaiavam. Ele é
imensamente gordo.

— Sabe-se que ele come quantidades prodigiosas — afirmou sua


senhoria, demonstrando sua própria capacidade naquela área quando uma
criada trouxe a bandeja de chá e um prato de bolos.

— E isso quando metade do seu povo está morrendo de fome —


acrescentou Jane, aceitando uma xícara de chá, mas recusando qualquer coisa
para comer. — Não é à toa que ele é vaiado.

— Existem rumores de que ele pretende se divorciar de sua esposa. —


Lady Cartrose acrescentou. — Ele quer um herdeiro, mas se a princesa
Charlotte conseguir levar a gravidez mais recente a termo, talvez tenhamos um
antes do que pensamos.

— Eu tenho uma mente boa para escrever para ele e apontar a situação
desesperadora dos órfãos dos soldados — disse Jane.

— Suponho que uma carta nunca vá além de uma segunda ou terceira


secretária — disse Mark, sorrindo para ela. — Você faria melhor apelando para
outras pessoas mais abaixo na escala social.

— Como o duque de Wellington — Isabel disse com uma risadinha. —


Você sabe, Mark, Jane recebeu uma resposta da secretária dele.

— Você recebeu Jane?

— Sim. Ela disse que o duque estava ciente do problema e participaria de


qualquer coisa que o governo pudesse fazer para aliviá-lo — respondeu ela —,
mas ele não achava justo ajudar uma pequena instituição de caridade acima de
outras, especialmente em uma parte do país com o qual ele não está
familiarizado. Sua Graça não pôde dar a todos e, portanto, deve declinar.

— Uma resposta evasiva, se alguma vez ouvi uma — disse Mark.

Eles terminaram de tomar seu chá e os homens se despediram,


caminhando rapidamente na direção da South Audley Street.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você tem sido um visitante constante de Mount Street, acredito —
disse Mark.

— Fui procurar a enferma na sua ausência, para ver se podia prestar


serviço às damas. Há algo de errado nisso?

— Não, claro que não, mas notei que Isabel se referia a você como Drew.

— Um deslize da língua, sem dúvida. Ela costuma ouvir que você me


chama assim. Eu não me importo, se você não se importar.

— Não, somos todos amigos. Você vem ao sarau amanhã à noite?

— De fato eu vou. Acho que a senhorita Cavenhurst precisará de todo o


apoio que puder obter. Receio que ela seja desapontada - há muitas pessoas,
como o bom duque, que pensam que o problema é para que os outros resolvam.

— Duvido que Sua Graça tenha visto a carta de Jane.

— Você provavelmente está certo, mas não é só isso. Houve rumores...

— Que rumores? — Mark perguntou bruscamente.

— Que essa senhorita Cavenhurst, está usando qualquer fundo que ela
reúne não para o benefício dos órfãos, mas para ajudar a resolver as
dificuldades financeiras de seu pai.

— Bom Deus! Quem está espalhando essas histórias? Não, deixe-me


adivinhar. Hector Bolsover.

— Você está certo. Ele está dizendo que não se pode confiar dinheiro a
nenhum dos Cavenhursts.

— Eu estava certo, não estava? Não se trata de Teddy e suas dívidas.


Você conseguiu descobrir o que está por trás disso?

— Não, mas acho que Toby Moore talvez saiba alguma coisa, então estou
cultivando o cavalheiro. Ele é um péssimo jogador de cartas.

Mark riu.

— É mais o caso de você ser excepcionalmente bom.

— No entanto, quando ele me deve uma grande quantidade de


franqueza, oferecerei magnanimamente dispensá-lo por informações. Eu me
comprometi a jogar hoje à noite. Você vem?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, tenho os números de Jane para verificar e sugestões para
preparar para amanhã. — Ele bateu na pasta de anotações que carregava. —
Quero dar a ela a melhor chance possível, principalmente em vista do que você
me contou.

Eles se separaram na esquina da estrada. Mark andou metade do


comprimento da South Audley Street, pensando, não na figura de Jane, mas em
Isabel e Drew e, imaginando se Bolsover, apesar de toda a sua maldade, estava
certo em sua insinuação. Ele deveria ter se sentido zangado e com ciúmes, mas
surpreendentemente não o fez, ou apenas na medida em que as fofocas
prejudicariam ambas as famílias se o noivado fosse interrompido. Seria
decididamente desonroso considerar quebrá-lo e, portanto, ele deveria
permanecer passivo e aguardar os eventos. A alternativa seria enfrentar Drew e
desafiá-lo para um duelo. Mas o que isso alcançaria? A morte ou ferimento de
um ou de outro e muitas pessoas infelizes. E talvez ele estivesse lendo mais do
que realmente estava lá. Ele encolheu os ombros e entrou em sua casa.

***

Na noite seguinte, com vinho e bebidas prontas na sala de jantar e na sala


de estar, livre da maioria de seus móveis e ornamentos para dar espaço às
pessoas, Jane se preparou para o que ela sabia que seria uma provação. O
vestido era de seda verde-clara, com um desenho simples, imediatamente com
fita de veludo verde escuro. Bessie, que arrumou seu cabelo, enroscou-o com
mais fita verde e usava as pérolas que o pai havia comprado para ela no
vigésimo primeiro aniversário.

Sua cabeça estava zumbindo com o discurso que ela pretendia fazer, que
considerou breve a favor de circular entre os convidados e falar com eles
individualmente. Mark chegou cedo para que pudessem dar uma última olhada
nas figuras dela e nas anotações que ela havia feito. As oito os amigos de Lady
Cartrose começaram a chegar e, sendo servidos com refrescos, ficaram em pé
comendo, bebendo e fofocando. Eles foram seguidos por outros, menos
conhecidos, e às nove horas a sala estava cheia. Foi então que Isabel entrou,
vestindo seu sári e causando alguma agitação, o que, é claro, ela sabia que faria.
Jane não pôde fazer nada quando a irmã se aproximou de Drew e perguntou se
ele aprovava. Nem Mark nem Jane ouviram sua resposta.

— Vamos começar — disse Mark, afastando-se da visão de sua noiva


flertando com o amigo. Ele chamou atenção e disse um pouco sobre o motivo

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


pelo qual eles estavam reunidos e apresentou Jane. Então ele a ajudou a ficar
em um banquinho para que ela pudesse ser vista e ouvida.

Ela estava tremendo de nervosismo, mas era tão apaixonada pelo


assunto que se esqueceu de todo o resto e logo ficou a todo vapor. A princípio,
a plateia ficou em silêncio, mas, enquanto ela continuava, os murmúrios
aumentaram até que ela foi forçada a parar para lidar com eles.

— Vocês tem perguntas? — Ela perguntou. — Vou respondê-los no


devido tempo.

— Responda agora — Um homem chamou.

— Muito bem. Quem deve ser o primeiro?

— Eu vou — disse o mesmo homem. — Como podemos ter certeza de


que o dinheiro que você coletar de nós será usado para o propósito que você
declara? Ouvi dizer que seu pai está quase na bancarrota e o dinheiro irá para
pagar suas dívidas.

— Essa é uma acusação monstruosa — Jane respondeu com raiva. —


Mesmo que meu pai estivesse falido, o que é uma mentira sincera e que, se eu
fosse homem, eu o desafiaria, isso não teria relação com a Casa Hadlea, cujas
finanças serão mantidas completamente separadas.

— Então você diz.

— Toby Moore — Drew deixou Isabel conversando com sua tia e veio
para o lado de Mark. — Sem dúvida, ele foi enviado por Bolsover para
interromper a reunião. Vamos jogá-lo fora.

Eles foram em direção ao interlocutor. Ao vê-los se aproximar, o homem


recuou e, alcançando a porta, passou por ela. Mas o estrago já havia sido feito.
Jane não conseguiu terminar o discurso por causa do incômodo, pois uma
pergunta após a outra foi disparada contra ela, não sobre a casa, que ela poderia
ter entendido, mas sobre o pai e o irmão. Ela fez o possível para desviar deles,
mas no final foi Mark quem a resgatou, ajudando-a a descer do banquinho e
subindo nele.

— Se vocês não querem ouvir a Srta. Cavenhurst, então me ouçam — ele


gritou acima do barulho. — Muitos de vocês sabem quem eu sou, mas para os
que não sabem, sou lorde Wyndham, de Broadacres, perto da vila de Hadlea.
Minha família mora ali há centenas de anos e é bem respeitada em Norfolk e em

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Londres. Eu e meu falecido pai apoiamos a Casa das Crianças Hadlea e garanto
pessoalmente a integridade da senhorita Cavenhurst.

— Você tem interesse, está noivo da irmã dela — alguém comentou em


voz alta.

— Estou, mas é mais uma razão para garantir que meu bom nome não
seja desonrado. Vou nomear meu próprio homem de negócios para estabelecer
uma relação de Trust 12 e supervisionar os fundos. Esta casa é importante para as
crianças pequenas que precisam, e eu acho vergonhoso que uma causa tão boa
seja manchada por insinuações e calúnias óbvias. Agora, se você gostaria de
fazer uma doação, Miss Cavenhurst está aqui para aceitá-la. Caso contrário,
dou-lhe boa noite.

Ele ficou de pé e observou várias pessoas escaparem, mas uma ou duas


se adiantaram para perguntar a Jane mais sobre o que ela planejava fazer e ela
foi capaz de expressar os pontos que havia sido impedida de fazer antes.

***

Somente quando todos se foram e ela teve algumas promessas, embora


não quase tantas quanto esperava, e uma pequena pilha de joias às quais
acrescentara suas próprias pérolas, ela conseguiu respirar livremente e
agradecer a Mark por sua pontual assistência.

— Você foi magnífico — disse ela. — Eu não poderia ter conseguido sem
você.

— Foi meu privilégio e prazer.

— O que esse homem quis dizer com meu pai falido? Onde começaram
esses rumores?

— De lorde Bolsover, imagino. — Ele fez uma pausa. — Jane, alguém da


sua família já lutou contra ele antes?

— Além de Teddy, você quer dizer?

— Sim. Talvez há algum tempo, algo que explique o rancor que ele
parece ter.

12 A palavra “trust” (fideicomisso) significa a custódia e administração de bens,


interesses ou valores de terceiros.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Teddy deve dinheiro a ele e escapou de suas garras, isso não é
suficiente rancor?

— Não tenho certeza de que tenha alguma coisa a ver com Teddy. Acho
que colocar os ganchos em Teddy foi apenas um meio para atingir um fim.

— Que fim?

— Isso eu não sei, mas vou me esforçar para descobrir.

— Não consigo pensar em nada. Papai sempre foi sincero e verdadeiro.


Tenho certeza de que você deve estar enganado.

— Possivelmente. — Ele fez uma pausa. — Você parece cansada, Jane.


Tudo isso foi demais para você depois de cuidar de Isabel também.

— Estou um pouco cansada, mas só preciso dormir uma noite. — Ela fez
uma pausa, apontando para as promessas, o dinheiro e as joias. — Você vai
cuidar disso? Não quero trazer mais acusações à minha cabeça se as mantiver
comigo.

— Sim, claro. Se você estiver de acordo, avisarei amanhã de manhã e


iremos a Halliday, teremos um trust e abriremos uma conta no banco em nome
do trust. Dessa forma, todo mundo pode ver que está tudo acima do limite.

— Sim, por favor. — Ela pegou uma bolsa de lona, colocou tudo nela e
entregou a ele. — Eu sabia que algo assim teria que ser feito, mas não achei que
fosse urgente. Esta noite me fez ver como eu fui ingênua. Eu precisarei de você.

— O prazer é meu. — Ele sorriu e tocou a mão dela. — Vá para a sua


cama, Jane. Darei boa noite a Isabel e sua senhoria e vou embora.

Quando ele se foi, ela deu boa-noite à tia e à irmã e foi para o quarto,
despiu-se e caiu na cama. Tinha sido um dia agitado e perturbador, mas acabou
e ela começou seu projeto principal. Ela não poderia ter feito isso sem a ajuda
de Mark. Aqueles rumores divulgados por Bolsover também eram
preocupantes. Eles poderiam ser muito prejudiciais, especialmente se soubesse
que os Cavenhursts estavam tendo que economizar. Como sempre acontecia
nesses casos, todos os credores que estavam preparados para receber seu
dinheiro agora estariam batendo à sua porta.

Mark havia dito que tentaria descobrir o que havia por trás da
animosidade de Bolsover e ela podia confiar que ele faria o melhor possível,
mas era injusto que ela se apoiasse nele com tanta força. Deveria ser mais

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


autoconfiante e isso significava combater Lord Bolsover ela própria. Se ela
pudesse fazê-lo ver o motivo das dívidas de Teddy e retratar da sua calúnia,
todos poderiam viver em paz e os problemas financeiros de seu pai não
precisariam ser tornados públicos. Teria que ser no dia seguinte, porque Mark
os levaria para casa no dia seguinte. Mas como fazer isso? Ela não sabia a
direção de sua senhoria e, mesmo que soubesse, certamente não era o caso de
uma senhora solteira visitar um cavalheiro em seus aposentos. Ele jogava no
White's e provavelmente em outros clubes, mas ela certamente não podia se
aventurar no St. James's.

Antes que ela pudesse decidir o que fazer, ela adormeceu.

***

Jane acordou na manhã seguinte muito cedo, com o problema ainda em


sua mente e isso não havia sido resolvido quando Mark chegou com seu coche.
Ela não achava que precisava de uma acompanhante, mas sua tia insistia em
uma e, como estava gorda demais para se espremer em um veículo destinado a
dois, Bessie foi orientada a acompanhá-la.

Mesmo assim, ficou apertado e Jane se viu tão perto de Mark, sua coxa
revestida de calças com força contra a dela, que ela pode sentir seu calor através
do vestido. Era tão enervante que ela não conseguia pensar em mais nada e se
viu quase perdida por palavras quando Mark falou com ela. Quando eles
chegaram, ele pulou para ajuda-la e ela se recompôs para precedê-lo no prédio.

Ao passar pelo escritório da frente, onde os juniores trabalhavam em


suas mesas, Jane foi lembrada de que seu irmão havia sido júnior aqui e que
havia deixado sob uma nuvem. Isso faria o Sr. Halliday menos inclinado a
ajudá-la? Um funcionário conduziu-os até o escritório do mais jovem do Sr.
Halliday, onde Mark foi recebido cordialmente.

— Trouxe Miss Cavenhurst para conhecê-lo, Cecil — disse Mark. — Ela


fará alguns negócios com você.

Jane balançou a cabeça, apertou a mão estendida e lhe ofereceram uma


cadeira.

— Os assuntos de Cavenhurst geralmente são tratados pelo meu pai, —


disse o advogado enquanto ele e Mark também se sentavam. — Se for sobre o
senhor Cavenhurst...

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não é sobre Teddy ou meu pai — disse ela. — Lorde Wyndham vai
explicar.

Enquanto Mark falava, a cautela inicial do advogado desapareceu e ele se


interessou pelo projeto de Jane e prontamente concordou em estabelecer o
Trust.

— Quem você pensava em administradores? — Ele perguntou.

— A Srta. Cavenhurst, é claro — disse Mark.

— É incomum uma senhora solteira servir dessa maneira — disse


Halliday.

— Sim, mas é o projeto da senhorita Cavenhurst, ela é a sua luz principal,


então acho que devemos permitir — disse Mark. — Mas deve haver outros que
não estão conectados com a família. Você seria um, Cecil? E talvez possamos
perguntar ao nosso gerente do banco.

***

Eles passaram a discutir os detalhes e, uma hora depois, saíram com tudo
na mão e sem a bolsa de lona contendo o dinheiro e as joias. Estas últimas
seriam leiloadas e os recursos adicionados aos fundos e Sr. Halliday se
comprometeu a tomar as providências para isso. Mark a acompanhou até a
carruagem e a viu em segurança.

— Tenho um pequeno negócio com o Sr. Halliday, Jane. Não vou


demorar. — Ele voltou ao prédio, deixando Jane sentada ao lado de Bessie.

A rua estava movimentada com pessoas correndo para cima e para baixo
na calçada e veículos de todos os tipos passando para cima e para baixo, dos
coches as grandes carruagens. Ela estava tão absorta em assistir a um conflito
entre um terrier magro e um gato ruivo cuspindo que não viu o homem que se
aproximou da carruagem e parou.

— Nos encontramos novamente, minha querida senhorita Cavenhurst.

Ela olhou em volta e encontrou lorde Bolsover tirando o chapéu para ela.

— Meu Senhor.

— Sozinha? Nenhum cavaleiro robusto para defendê-la?

— Lorde Wyndham está comigo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu não vejo ele.

— Ele voltou para dentro por um momento, mas estou feliz por termos
nos encontrado.

— Que lisonjeiro!

— Não pretendia lisonjear, senhor. Desejo falar com você sobre o boato
de que meu pai está falido.

— Rumores? Querida, querida, isso é cruel.

— Acredito que você os perpetrou para me desacreditar e me impedir de


arrecadar dinheiro para meus órfãos.

— Agora, por que eu faria isso, senhorita Cavendish? Sou tão solidário
quanto o próximo homem da situação dos órfãos, mas duvido que você possa
fazer algo a respeito.

— Por que não? Alguém tem que fazê-lo, para as crianças não crescerem
ladrões e mendigos. Tudo o que quero é dar uma chance a eles.

— A razão é óbvia, Srta. Cavenhurst. Você é uma mulher tentando se


dar bem no mundo dos homens e encontrará resistência a cada momento. As
mulheres não são construídas para lutar com a razão. Elas lutam com suas
emoções.

— E o que há de errado nisso?

— Então, elas tendem a tomar decisões erradas. Você descobrirá a


verdade disso no devido tempo.

— Meu senhor, isso parece uma ameaça. Eu me pergunto por que você
sente tanta aversão por mim. Só nos conhecemos recentemente e até algumas
semanas atrás eu nunca tinha ouvido falar de você.

— Você não tinha? Isso é surpreendente.

— Se meu irmão não tivesse sido tão tolo a ponto de jogar cartas com
você, eu ainda estaria ignorando o tipo de homem que você é.

— Atrevo-me a sugerir que você ainda está na ignorância. Há dois lados


em todos os argumentos e você ouviu apenas um.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Talvez, se você valoriza a verdade e a justiça, saiba que estava
enganado. Meu pai não está falido e você não tem motivos para acreditar que
não conduzirei os assuntos do Lar Infantil Hadlea honestamente.

— Você está assumindo que fui eu quem começou o boato. Você não tem
provas disso. — Ele sorriu de repente. — Mas se o boato for verdadeiro, eu seria
um tolo em negar.

— Claro que não é verdade.

— Devia perguntar ao seu pai quando chegar em casa, Srta. Cavendish,


ou pode voltar para dentro aquele edifício e perguntar ao senhor Halliday filho,
que é o advogado de Cavenhurst.

— Não farei isso!

— Você sabe — ele disse, ainda sorrindo —, você é muito bonita quando
está com raiva e seus olhos brilham em desafio. Sinto-me estranhamente em
simpatia por você e essa é uma fraqueza em que não posso me permitir entrar.
— Ele curvou-se para ela, recolocou o chapéu e foi embora.

Ela o viu partir com fúria e lutava contra as lágrimas de raiva quando
Mark se juntou a ela.

— Espero não ter demorado muito — ele disse, subindo ao lado dela. —
Vamos tomar um sorvete no Gunter's? Está um dia quente e... Jane, você está
chorando?

— Estou com raiva.

— Porque, porque eu deixei você? Sinto muito por isso, mas me demorei
apenas alguns minutos.

— Não, não é isso. Eu tive uma discussão com lorde Bolsover. Ele é um
homem odioso e se recusa a admitir que foi ele quem espalhou os boatos sobre
o meu pai e disse que meu projeto nunca pode ter sucesso porque sou uma
mulher governada pela emoção. — Ela deu uma risada rachada. — E aqui estou
eu, provando.

— Oh, Jane, por que falou com ele? Você deveria tê-lo cortado.

— Queria pedir que ele parasse os rumores.

— Você não pleiteia com homens como Bolsover, Jane. Eles veriam isso
como fraqueza. Agora vamos tomar um sorvete e esquecê-lo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Mas ela achou difícil fazer isso. As palavras do homem consumiram seu
cérebro e não desapareceram. Ela queria ir para casa, para a paz de Greystone
Manor e a presença reconfortante de seus pais. Mais do que tudo, ela queria ter
certeza.

***

O sorvete estava refrescante em um dia muito quente, mas eles não


demoraram muito no Gunter’s.

— Minha irmã e tia Emmeline vão se perguntar o que aconteceu conosco


— disse ela.

Longe de se perguntar o que havia acontecido, as damas foram dar um


passeio de carruagem, disseram-lhes um criado.

— Sr. Ashton veio e elas foram com ele.

— Então eu não vou ficar — disse Mark. Ele tirou as pérolas do bolso e as
colocou na mão dela. — Estes são seus, eu acredito.

Ela olhou para eles.

— Como você os encontrou? Deixei-os com todo o resto para ser


acionado.

— Sei que sim, mas acho que machucaria seu pai saber que você os
entregou. Mantenha-as em segurança, Jane.

— Outras pessoas estavam dando suas joias.

— Talvez, mas não aqueles que eles valorizavam. Seu auto sacrifício é
digno de crédito, Jane, mas o Trust pode sobreviver sem eles.

— Obrigada — ela disse simplesmente e estendeu a mão para beijar sua


bochecha. Foi um gesto impulsivo de gratidão, nada mais.

— Trarei a carruagem de viagem aqui às nove da manhã de amanhã, se


for conveniente, Jane, e se você acha que Isabel é forte o suficiente para uma
longa viagem. Caso contrário, poderíamos começar mais tarde e ir mais
devagar. Significaria passar duas noites na estrada em vez de uma, mas não me
importo com isso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— É claro que vou perguntar a ela, mas acho que Isabel é forte o
suficiente e não precisaremos prolongar a jornada. Estou ansiosa para voltar
para casa. Estaremos prontas.

Ele saiu e ela foi se juntar a Bessie, que subira ao quarto para começar a
fazer as malas. Jane não trouxe muitas roupas com ela e logo foi dobrada
ordenadamente no baú que ela e Isabel compartilhavam.

— Vou fazer a de Isabel, hoje à tarde — disse Bessie. — Mas eu não sei
como conseguiremos meter tudo dentro, ela comprou muitas roupas novas.

— Espero que lady Cartrose lhe empreste outro baú.

***

Lady Cartrose, Isabel e Drew voltaram logo depois disso. Drew não
parou, dizendo que estava arrependido por não ter encontrado Mark, porque
precisava falar com ele antes que todos partissem para Hadlea .

— Vou procurá-lo — disse ele. Ele se curvou diante de sua senhoria,


depois para Jane e finalmente Isabel, que parecia desolada. — Isabel — disse
ele. — Tenha uma viagem segura e minhas felicitações nas suas próximas
núpcias. — Então ele se foi.

— Foi uma coisa estranha de se dizer — disse Jane. — Parecia que ele
não iria no casamento.

— Ele não vai. — Isabel estava chorando abertamente. — Ele está indo
embora. Nunca mais vou vê-lo. Ele disse que era o melhor.

Jane estava inclinada a concordar com isso, mas absteve-se de dizê-lo em


vista da angústia de Isabel, mas percebeu que seus sentimentos haviam sido
justificados: Isabel imaginava-se apaixonada por Andrew Ashton. Quão
profunda e duradoura era, ela não sabia. Quanto antes eles estivessem em casa,
melhor.

— Mark vem nos buscar as nove da manhã — disse ela, voltando-se para
assuntos mais práticos. — Eu fiz minhas malas. Bessie está planejando fazer a
sua esta tarde, Issie. Tia, você acha que pode emprestar uma mala para Isabel?
Ela comprou tantas roupas novas que nem todas cabem no baú que trouxemos
conosco.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Estou certo que há um no sótão — sua tia disse e saiu para pedir um
lacaio trazê-lo para baixo.

— Não quero ir para casa — estourou Isabel, em meio às lágrimas.

— Por que não?

— Porque todo mundo vai falar sobre o casamento e eu não posso


suportar.

— Como pode ser? Há menos de um mês, você não estava falando de


mais nada e estava ansiosa pelo seu grande dia.

— Sim, e compreendo você dizendo que uma cerimônia não era o fim de
tudo de um casamento e você estava certa. Eu vejo isso agora. Eu só queria ser
noiva e Mark é tão bonito e rico, mas foi um erro dizer que me casaria com ele.

— Mas você fez e lamento muito se algo que eu disse fez você pensar
melhor. Só quis dizer que a cerimônia em si é apenas o começo e tem apenas
uma pequena parte no casamento.

— Eu sei o que você quis dizer, mas isso me fez pensar em ficar
vinculado a Mark pelo resto de nossas vidas e simplesmente não consigo vê-lo.
E, por favor, não diga que são nervos, pois sei que não. Não posso me casar com
Mark. Ele não é o amor da minha vida.

As palavras de sua irmã estavam machucando Jane mais do que ela


podia suportar. Sua irmã não podia imaginar uma vida com Mark, enquanto
dificilmente poderia imaginar a vida sem ele.

— Issie — disse ela lentamente. — Existe mais alguém?

Isabel levantou os olhos cheios de miséria para os de Jane.

— Você adivinhou?

— É Sr. Ashton?

— Sim. Eu me apaixonei por ele, Jane. Eu penso nele o tempo todo. Meu
coração se eleva quando ele entra na sala e cai novamente quando ele sai. O
toque da mão dele incendeia meu corpo e eu quero me agarrar a ele e nunca
deixá-lo ir.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Jane conhecia esse sentimento e sentia-se solidária com a irmã, mas
Isabel abandonar um pretendente em favor de outro quando o anúncio já
tivesse sido feito causaria o mais terrível escândalo.

— Será que o Sr. Ashton compartilha seus sentimentos, Issie? Ele falou
deles?

— Não diretamente, mas sei que sim. Eu sei pelo jeito que ele olha para
mim, o jeito que ele fala. Mas ele tem muito cuidado com sua amizade com
Mark para traí-lo, ele me disse isso. É por isso que ele está indo embora. Eu sou
tão infeliz, Jane. Se eu tiver que me casar com Mark, haverá três pessoas muito
infelizes, porque eu nunca poderia fazê-lo feliz.

Jane refletiu que haveria quatro, mas esse era o seu segredo.

— Não sei o que dizer Issie. Talvez quando voltarmos para casa e
voltarmos à nossa rotina habitual, você esqueça o Sr. Ashton e lembre-se por
que aceitou Mark em primeiro lugar.

— Você não entende.

— Ah, sim. Acredite em mim. — Ela levantou. — Vá ajudar Bessie com


sua bagagem e depois jantamos cedo e vamos dormir. Temos um começo cedo
pela manhã.

Lady Cartrose voltou quando Jane estava olhando para o terraço, sua
mente em um turbilhão.

— Enviei um baú para o quarto de Isabel — disse ela — Bessie está


fazendo as malas, mas Isabel está sentada na cama, chorando.

— Ela não quer ir para casa.

— Eu sei, mas não me lisonjeio porque ela quer ficar comigo.

— Você sabe?

— Sou surda, Jane, mas não sou cega. Tem sido óbvio para quem tem
olhos ver o que estava acontecendo.

— É muito preocupante, especialmente para Mark.

— Ele parece estar se saindo muito bem. — Ela fez uma pausa. — Não
acho que você deva forçá-la a prosseguir com o casamento, Jane. Isso seria um
desastre.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não depende de mim, tia. Espero que, quando voltarmos para casa, e
nossos pais participem do assunto, Issie verá que sua tendência para o senhor
Ashton é mera paixão, algo passageiro que ela pode deixar para trás.

— Eu imagino que você possa advogar isso, Jane, considerando seus


próprios sentimentos.

Jane ficou assustada.

— Meus próprios sentimentos não se manifestam tia Emmeline.

— Então eles deveriam. Você está se tornando uma mártir ignorando-os.

Jane não respondeu. Ela passou mais tempo do que o normal com Mark
ultimamente, o que nada mais tinha feito do que fortalecer seus sentimentos por
ele. Tornou-se tão óbvio?

***

Mark estava ocupado dando ordens para preparar a carruagem, fazer as


malas e fechar a casa quando Drew o encontrou.

— Como foi com os advogados esta manhã? — Ele perguntou.

— Muito bem. O Trust foi criado e as joias serão leiloadas. — Ele fez uma
pausa. — Depois que nossos negócios foram concluídos, deixei Jane na
carruagem para voltar para dentro. Eu queria resgatar suas pérolas do leilão.
Seu pai deu a ela aquelas pérolas em seu vigésimo primeiro aniversário e ela
não deveria tê-las sacrificado. Eu as comprei de volta. — Ele sorriu com a
lembrança daquele beijo na bochecha. — Enquanto eu estava fora, Bolsover
apareceu, ele e Jane tiveram uma briga pelos rumores, o que a fez chorar. Até
Jane está convencida de que é mais do que as dívidas de Teddy com ele.

— Sim, é. Custou-me a perda de mil libras e um garanhão no topo da


escala em ganhos, mas de acordo com nosso amigo Toby Moore, é uma queixa
de longa data, algo a ver com o fato de que seus antepassados possuíam
Greystone Manor e foram enganados por um ancestral de Sir Edward. Ele
prometeu se vingar e se estabelecer novamente como o Senhor da Mansão de
Hadlea. Ele não apenas comprou todas as dívidas de Teddy, mas está fazendo o
mesmo com as de Sir Edward . Ele está quase pronto para agir.

— É pior do que eu pensava.

— Eu me pergunto se Sir Edward sabe o que está acontecendo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu penso que não. Tenho certeza que nem Jane nem Isabel conhecem
a história, tenho certeza que Jane teria me contado. Vai causar o escândalo mais
terrível se for divulgado...

— O que não pode deixar de fazer.

— Pobre Jane, não sei como a casa órfã dela sobreviverá.

— E aí é o seu casamento.

— Sim. Devemos nos esforçar para resolver a situação antes disso. Sou
rico, mas não acho que possa chegar a uma quantia tão vasta sem pôr em risco
minha propriedade. Precisamos pensar em outra coisa.

— Se você quer dinheiro, então você o terá, mas é minha opinião que
Bolsover o recusará. Ele é prodigioso e está determinado a ter a mansão.

— Como ele conseguiu sua riqueza? Ele parece não ter uma grande
propriedade.

— Apostando na maior parte, apesar de que, se ele trapaceia é um


assunto de conjectura, ninguém nunca o pegou.

— Talvez, se pudéssemos provar isso...

— Por “nós”, você estava me incluindo?

— Só se você quiser ser incluído.

— Estou de volta às minhas viagens, Mark. Afinal, não há nada para


mim neste país. Eu vim me despedir.

— É por causa de Jane?

— Jane?

— Sim. Foi Jane quem te levou da última vez, não foi?

— Ela te contou isso?

— Não, eu imaginei. Você voltou para tentar de novo?

— Eu não tinha certeza, mas pretendia informar Sir Edward que eu havia
cumprido e, que ele havia tomado uma decisão errada ao recusar sua permissão
para nos casarmos.

— Jane compartilhou seus sentimentos?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Acredito que sim, na época, mas certamente não é mais verdade.

— Então você vai embora decepcionado novamente.

— Não, acabei com Jane.

— Quem então?

— Não importa, porque nada pode resultar disso. Vou embora por ela e
por você.

— Isabel!

— Cuide dela, Mark, e seja feliz. — E ele girou nos calcanhares e saiu.

Mark ficou um minuto tão confuso que não conseguia pensar


coerentemente. Quando ele se recompôs para ir atrás do amigo, a rua estava
vazia.

***

De alguma forma o dia terminou com Isabel com o rosto pálido e a tia
pensando em tentar ajudar. Jane ficou feliz quando todos os preparativos
estavam completos e ela poderia ir para a cama. Ela se despiu e rastejou entre os
lençóis, mas o sono a iludiu. Ela se comprometeu a convencer a irmã a seguir
em frente com o casamento, porque não fazer isso seria cruel com o homem que
amava e lhe causaria angústia. E isso incomodaria seus pais. Além das
preocupações com o dinheiro, isso poderia muito bem matar o pai dela.
Preocupações financeiras. Com o que lorde Bolsover estava brincando? Se ao
menos Teddy não tivesse apostado tanto, se ao menos sua irmã não tivesse
flertado com Andrew Ashton, se ela mesma não amasse tanto Mark. Querido
Mark. Ele não merecia ser envolvido em um escândalo de qualquer direção.
Como tudo isso ia acabar?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Sete

Durante a longa viagem para casa, Isabel estava tranquila e quieta, Jane
foi atenciosa e Mark foi invulgarmente taciturno. Era evidente que todos eles
tinham muita coisa em mente e quase não conversavam, exceto para pedir
comida e bebida em algumas das pousadas onde eles pararam para que os
cavalos fossem trocados e aprovar o alojamento, quando parassem para passar
a noite no White Hart em Scole. A estalagem era muito antiga, a qual já havia
providenciado acomodações para Charles II e Lord Nelson, para não mencionar
vários ladrões de estrada, parados na encruzilhada entre Norwich e Ipswich,
Bury St Edmunds e a costa de Norfolk.

Eles receberam uma comida excepcionalmente boa enquanto esperavam


que seus quartos estivessem preparados, mas ninguém estava com fome e a
conversa se limitou a comentários sobre as magníficas lareiras e a grande
escadaria, a comida e o vinho, e a hora em que deveriam estar na estrada na
manhã seguinte. Jane e Isabel, que dividiam um quarto, estavam cansadas
demais para conversar e, de qualquer forma, não tinham nada a acrescentar ao
que já havia sido dito. Mesmo assim, elas dormiram bem.

***

O segundo dia foi passado da mesma maneira que o primeiro e, graças à


previsão de Mark em organizar paradas frequentes para que os cavalos novos
fossem aproveitados, eles se divertiram e chegaram a Greystone Manor no
início da noite. Eles estavam em casa, para grande alívio de Jane; a
responsabilidade por sua irmã agora recairia sobre seus pais.

Mark ficou apenas o tempo suficiente para supervisionar a descarga de


seus baús e prestar homenagem a Sir Edward e Lady Cavenhurst, antes de
seguir para Broadacres.

— Oh, é tão bom ter vocês em casa — disse a mãe delas, abraçando as
duas. — Adiei a ceia e vocês nos dirão tudo o que fizeram enquanto comemos.
Isabel, você está totalmente recuperada de sua queda?

— Sim, mamãe, e nenhum dano foi causado. — Ela se virou quando


Sophie veio correndo pelo corredor para cumprimentá-las.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Senti falta de vocês — disse ela. — Foi muito chato aqui sozinha.
Desejo ouvir todas as suas notícias.

— Vão para os seus quartos e troquem essas roupas de viagem — disse


sua senhoria às duas meninas mais velhas. — O jantar será servido assim que
vocês descerem novamente.

Sir Edward olhou para os dois baús que haviam sido depositados no
corredor.

— Pelo que me lembro — ele disse —, você só levou um baú com você.
Devo assumir que você esteve fazendo compras?

— Bem , eu não podia sair pela cidade com tia Emmeline nos vestidos
surrados que eu levara comigo — disse Isabel. — Era diferente para Jane, ela
estava muito ocupada com seus órfãos para se preocupar com a aparência dela.

— E como você pagou por eles?

— Por sua conta, naturalmente. Eu só tinha dinheiro para alfinete.

Ele suspirou.

— É evidentemente inútil dizer para você ser frugal.

— Alguns vestidos e sapatinhos, papai, certamente não vão arruinar o


banco — disse ela.

— Você é impertinente, criança. Agora vá e se troque antes que eu perca


a paciência com você.

Isabel estava sorrindo enquanto subia com a irmã.

— Papai nunca perdeu a paciência comigo — disse ela. — Com Teddy,


sim, mas nunca comigo.

— Mas você tenta muito a paciência dele, Issie. Ele parece muito tenso e
me pergunto como as coisas realmente estão ruins.

— Você não acha que aquele homem odioso no sarau de tia Emmeline
estava dizendo a verdade, não é?

— Não, claro que não.

Quando ela foi para o quarto, Bessie já tinha desempacotado as coisas e


foi fazer o mesmo por Isabel. Jane sentou-se na beira da cama, imaginando

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


quanto, deveria contar aos pais sobre os rumores e lorde Bolsover. Isso poderia
servir apenas para perturbá-los. Por outro lado, antes prevenir que remediar.
Ela deixaria a decisão até o dia seguinte, quando todos estariam menos
cansados e se instalariam em casa novamente.

***

A ceia era hora de conversar, com Sophie dizendo às irmãs o que estava
acontecendo na aldeia na ausência delas, Isabel conversando sobre tudo o que
tinha visto e feito, evitando qualquer menção a Andrew Ashton, e Jane
avaliando sua visita ao Hospital Foundling e o progresso que ela havia feito
com seu projeto órfão.

— Mark foi uma grande ajuda — disse ela.

— Sim, ele nos contou sobre os fundadores quando nos chamou para
informar do acidente de Isabel — disse sua mãe. — Como isso aconteceu?
Passeios no parque geralmente não são cheios de perigo.

— Eu me abaixei para evitar o galho de uma árvore — disse Isabel. — E


minha sela escorregou e eu caí e bati minha cabeça.

— Estou surpreso que Mark não tenha verificado a circunferência antes


de você montar — disse Sir Edward.

— Tenho certeza que sim, mas era uma montaria contratada e uma sela
contratada, que sem dúvida não se encaixavam corretamente.

— E acredito que sua tia organizou uma festa para você, Jane. Você
conheceu pessoas interessantes?

— Sim, a sala de estar da tia Emmeline foi um aperto. Eles sabiam que eu
estaria falando sobre à Casa das Crianças Hadlea. Fiquei muito nervosa no
começo, mas logo esqueci isso enquanto falava.

— Havia todo tipo de gente lá e algumas eram muito barulhentas —


acrescentou Isabel. — Havia um homem que disse...

— Isabel — disse Jane rapidamente. — Mamãe e papai não querem ouvir


isso.

— Ouvir o que? — Sua mãe exigiu.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Era apenas alguém tentando causar problemas — disse Jane. — Mark
e o Sr. Ashton logo se livraram dele.

— Problema? — Sir Edward perguntou. — Que tipo de problema?

— Ele duvidou da minha honestidade. Algumas pessoas pensam que


uma mulher não é capaz de lidar com dinheiro e Mark teve que explicar que os
fundos para a Casa das Crianças Hadlea seriam administrados por um Trust da
qual ele seria um administrador e pareceu satisfazer a maioria das pessoas.

— Não foi só isso que ele disse. — Isabel ignorou o olhar feroz que Jane
deu a ela. — Ele disse que você estava quase falido, papai, e o dinheiro que Jane
coletou para o orfanato dela pagaria suas dívidas.

— Issie! — Jane a repreendeu, notando o cenho franzido do pai e as


manchas vermelhas em suas bochechas e a rápida respiração da mãe. — Não
havia necessidade de incomodar papai com isso. Isso não tem importância.

— Parece-me que você está se misturando com um tipo muito ruim de


sociedade — disse sua mãe. — Estou surpresa por Emmeline permitir.

— Não culpe tia Emmeline — disse Jane. — Ela foi muito cuidadosa
sobre aqueles a quem nos apresentou. O homem chegou sem ser convidado.

— Ouvi D...o senhor Ashton dizer que fora enviado por lorde Bolsover
— Prosseguiu Isabel. — É para ele quem Teddy devia todo esse dinheiro. Ele
está evidentemente zangado por Teddy ter escapado.

— Bem, estou muito aliviado por vocês estarem em casa novamente e


longe de tudo isso — disse a mãe delas. — Vamos falar de outras coisas. Estive
várias vezes em Broadacres para visitar Lady Wyndham. Ela está se
comportando notavelmente bem e conversando alegremente sobre o casamento.
Jane, você deve terminar as alterações no vestido agora que está em casa.

— Vou trabalhar amanhã, mamãe, quando voltar da visita ao reitor e a


Sra. Caulder. Eles vão querer saber o quão bem eu fui levantando dinheiro.

***

O sol estava quente quando Jane caminhou até a reitoria na manhã


seguinte. Ela usava um vestido simples de algodão e um leve xale de renda. O
guarda-sol que ela carregava era de seda creme-clara com uma franja
correspondente. Em sua bolsa, estavam registradas todas as pessoas que

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


haviam doado para o fundo e as anotações que havia feito após sua visita ao
Hospital Foundling.

A Sra. Caulder estava em seu jardim cortando os primeiros botões de


rosa do arbusto que subia a rua do portão.

— Jane, você voltou. Como foi?

— Bem eu acho. Fiz algumas anotações para mostrar a você e ao


reverendo.

— Acredito que ele esteja na igreja. Eu ia levar essas rosas para o altar.
Vamos encontrá-lo. Ele tem algumas novidades para você.

— Novidades?

— Sim, acredito que ele encontrou instalações adequadas para a casa.

— Oh, que boas notícias. Espero que tenhamos tudo pronto e que os
primeiros filhos sejam instalados antes do inverno.

O reitor estava na sacristia, fazendo inscrições no registro, mas parou


quando viu Jane.

— Dê-me um minuto ou dois para terminar isso — disse ele depois de


cumprimentá-la. — Então podemos entrar em casa e conversar com chá e bolos.

Enquanto ele fazia isso, a Sra. Caulder arrumou as rosas em um vaso e as


colocou no altar, e Jane passou o tempo olhando a igreja. Ela conhecia todos os
cantos, tendo sido um membro regular da congregação desde que liderava as
cordas. Quando ela era jovem demais para participar do culto, banqueteava os
olhos com tudo o que estava ao seu redor. Ela conhecia as inscrições nas tábuas
das paredes e colocadas no chão, conhecia a adorável janela de vitral que
representava Jesus cercado por crianças e a escultura na fonte. Vagando pelo
cemitério da igreja, ela começou a ler as inscrições nas lápides. Havia seu avô e
avó, seus pais e vários outros com o nome de Cavenhurst. E havia os
Wyndham, gerações deles, e Stangate, Pages e Finches, e ali, em um canto
longínquo de uma pedra coberta de musgo, coberta de relva e silvas e cercada
do resto do adro da igreja, estava um nome que a fez parar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


“Colin Bolsover Paget, filho amado de Lord e Lady Paget, morreu por
sua própria mão, em maio de 1649, com vinte e tantos anos. Que Deus o
perdoe e permita que ele descanse eternamente.”

Ela limpou o musgo da pedra para se certificar de que o havia lido


corretamente e depois percorreu todas as sepulturas procurando os nomes
Bolsover e Paget. Havia um ou dois Pagets em mais túmulos recentes e ela sabia
que havia um memorial em uma parede dentro da igreja, mas não mais
Bolsovers. Era significativo? Ela tinha sido destinada pelo destino a encontrar
aquele túmulo? Lembrou-se de lorde Bolsover dizendo que ele se vingaria e
depois dizendo que ela não o conhecia. Ele acreditava que um de seus
ancestrais havia prejudicado o homem na sepultura? Mas foi tudo há tanto
tempo atrás.

— Ah, aí está Jane. — A voz calorosa do Reitor quebrou seu devaneio e


ela se virou para ver ele e sua esposa se aproximando. — Nós nos perguntamos
onde você estava.

— Eu estava lendo as inscrições nos túmulos. Alguns deles são muito


emocionantes, especialmente as crianças. E este aqui, quase escondido.

— Ah, sim, um suicídio e é por isso que está fora do solo consagrado.

— Você conhece a história por trás disso?

— Não, eu não conheço. Pode haver algo nos registros da paróquia.


Vamos para dentro de casa e você deve me contar suas novidades e eu direi as
minhas.

Jane seguiu os amigos até a reitoria, tomou um chá e comeu os bolos de


mel da Sra. Caulder. Ela colocou o mistério de Bolsover no fundo de sua mente
enquanto contava tudo o que havia feito em Londres para promover a Casa das
Crianças Hadlea, embora o fizesse sem mencionar as acusações feitas no sarau
de sua tia.

— Quando voltei para casa, encontrei várias cartas e pequenas doações


como resultado de minhas cartas — disse ela. — Estou otimista de que
podemos seguir em frente.

— Você fez bem — disse ele. — E também tenho novidades. Eu acho que
encontrei uma casa adequada. Está em Witherington e está vazia há algum

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


tempo, desde a morte do último ocupante. Ele era um homem velho, morando
sozinho com apenas um criado e uma governanta. Quando ele morreu, seus
herdeiros foram difíceis de encontrar e a casa foi deixada à devastação da
natureza. Os herdeiros se apresentaram recentemente e colocaram-na no
mercado. É grande, em ruínas e barata.

Witherington era uma pequena aldeia a cerca de oito quilômetros de


Hadlea. Era pequena demais para ter sua própria igreja e foi incorporada na
paróquia de Hadlea.

— Devo ir vê-la o mais rápido possível. Vou perguntar a lorde


Wyndham se ele vai me acompanhar, já que é um dos administradores e deve
aprovar nossa escolha.

Ela se despediu e os deixou. Ela já estava no meio do caminho entre


Manor e Broadacres, então decidiu que poderia seguir o resto do caminho e
falar com Mark.

***

Ela o encontrou nos estábulos, organizando a devolução do último


quarteto de cavalos e a carruagem limpa. Ele usava calças e camisa, o que
mostrava sua figura ágil e fazia coisas estranhas no coração e na barriga dela.
Ele se virou para ela com um sorriso pronto.

— Bom dia, Jane — disse ele, pegando o casaco pendurado em um


gancho perto da porta. — Você se recuperou de sua jornada?

— Oh, não foi nada. Estou muito bem e uma noite em minha própria
cama fez maravilhas, e também as notícias de que o Reverendo Caulder
encontrou algumas instalações para nossa casa. Acabei de chegar da Reitoria e
decidi vir para perguntar se você poderia dispor de tempo para me
acompanhar em uma inspeção. Os curadores terão que tomar a decisão final
sobre a compra ou não.

— Certamente. Vamos para dentro de casa e podemos decidir sobre um


dia e hora. Devo encaixar minhas obrigações aqui e meu dever para com minha
mãe.

— Se você estiver muito ocupado... — ela começou timidamente.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele sorriu para ela, um tipo especial de sorriso que ela gostava de
imaginar que era para ela apenas, mas que ela sabia que era fantasia de sua
parte.

— Jane, quando assumi a tutela, sabia o que isso implicaria e sempre faço
questão de cumprir minhas obrigações, então não pense mais nisso. Iremos o
mais breve possível. Talvez Isabel queira nos acompanhar?

Eles não tiveram que esperar para perguntar a ela. Lady Cavenhurst e
Isabel estavam sentadas na sala com Lady Wyndham. As duas senhoras mais
velhas estavam conversando animadamente sobre os planos para o casamento,
mas Isabel estava calada e parecendo triste, o que preocupou Jane. Quanto
tempo levaria até que ela superasse sua paixão por Andrew Ashton? Se ela
continuasse parecendo sombria por muito mais tempo, todos perceberiam. Mas
ela não podia condená-la completamente; ela sabia como era ansiar por alguém
que você não podia ter.

— Eu não sabia que você estava vindo aqui, Jane — disse a mãe. — Você
poderia ter dirigido à charrete, sabe como eu odeio dirigi-la. Estou sempre com
medo de que ela vire e nos coloque em um fosso. E seu pai positivamente nos
proibiu de prender os cavalos à carruagem por uma viagem tão curta.

— Fui à reitoria, mamãe, e decidi vir aqui depois. O reverendo Caulder


encontrou uma casa para a Casa das Crianças Hadlea e eu precisava consultar
Mark sobre isso.

— Jane querida — disse a mãe gentilmente —, acho que você deveria se


referir ao seu senhorio de uma maneira mais respeitosa. Você não é mais
criança.

— Ah, não — Mark acrescentou. — Eu odiaria isso. Significaria que eu


teria que chamar Jane de Srta. Cavenhurst e Isabel de Srta. Isabel. Seria muito
rígido para palavras. Vamos continuar como sempre fizemos.

— Honestamente, Jane — disse Isabel — você nunca pensa em mais nada


além desse seu projeto? Tenho certeza de que Mark está entediado até a morte.
Eu certamente estou.

— Sinto muito que você pense isso — disse Jane. — Eu ia perguntar se


você gostaria de vir conosco para ver a casa. É em Witherington.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, não gostaria. Eu tenho coisas melhores para fazer com meu
tempo. Tenho certeza de que você não precisa de acompanhante, já que é muito
velha para o namoro, como todos sabem.

— Meu Deus — disse lady Wyndham. — Receio, Isabel, você está


ficando um pouco nervosa. Deve ser o casamento brincando em sua mente.

— Sim, talvez seja — disse ela e caiu em silêncio.

Nada mais foi dito por vários segundos enquanto o ar aquecido esfriava
e então Lady Cavenhurst se levantou, seguida por suas filhas.

— Eu vou até a mansão mais tarde — disse Mark, obviamente falando


quando Isabel recuperou a compostura. — Podemos providenciar a saída para
Witherington então.

Jane seguiu a mãe e a irmã para a charrete, sentindo apenas


pressentimento. Se Isabel continuava difícil, temia pela felicidade de Mark.
Uma calamidade se desenrolava diante dela e ela não podia fazer nada além de
assistir impotente.

***

— Isabel, qual é o seu problema? — Lady Cavenhurst perguntou quando


elas chegaram em casa e sua filha mais nova não dissera uma palavra na curta
viagem de carro. — O que colocou você nessa tristeza?

— Nada — ela murmurou, olhando para o chão do corredor.

— Vá lá, eu não acredito nisso. Você tem estado distraída desde que
voltou para casa. Começo a pensar que você não está feliz por ter voltado e que
preferia ter ficado com sua tia.

Isabel levantou os olhos nadando com lágrimas.

— Não é isso.

Jane colocou o braço em volta do ombro.

— Issie é melhor você contar tudo a mamãe.

— Se há algo a dizer, então vamos para a sala e nos sentarmos


confortavelmente — sua mãe disse, liderando o caminho.

Isabel lançou um olhar para a irmã.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Venha também, Jane.

Lady Cavenhurst sentou-se em um sofá e deu um tapinha no assento ao


lado dela.

— Sente-se aqui, Isabel, e deixe-nos saber o que está deixando você tão
infeliz.

Isabel hesitou.

— Continue — disse Jane.

Sua irmã respirou fundo.

— Não posso me casar com Mark, mamãe.

— Não pode casar com ele? Por que não?

— Eu não o amo e não posso me ver como senhora de Broadacres.

— Absurdo! O que colocou essa ideia em sua cabeça? Você esteve


disposta a se casar com Mark desde que era criança. Você mal podia esperar
para crescer o suficiente para se casar com ele.

— Eu sei, mas eu era jovem e boba.

Sua mãe lhe deu um sorriso suave.

— Você quer dizer que não é mais jovem e boba? Você ficou velha e sábia
no espaço de duas semanas? Começo a desejar não ter sugerido que você fosse a
Londres com Jane. Sua cabeça foi virada pelo haut monde13.

— Não tem nada a ver com Londres ou o haut monde. Eu me senti assim
antes de ir. Jane lhe dirá isso.

Lady Cavenhurst olhou para a filha mais velha.

— Jane?

— Issie deu a entender que estava nervosa por se tornar Lady Wyndham
e ter que administrar Broadacres, mãe. Ela não me disse que não amava Mark.

— São apenas nervos — disse sua senhoria. — Você vai vencê-los.

— Não são nervos, mamãe. Se eu for obrigada a casar com Mark, ficarei
infeliz e ele também.

13 Alta sociedade

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Bem, é tarde demais para desistir agora. Você está noiva por mais de
um ano e é um compromisso solene. Você se colocará em exposição com uma
quebra da promessa.

— Mark nunca faria isso — Jane acrescentou.

— Não, talvez não, mas seria um golpe terrível, não apenas para ele, mas
para sua mãe, que não é forte o suficiente para resistir, não depois de perder o
marido tão repentinamente. É apenas o pensamento do casamento que a
mantém em pé. Ela me disse isso. Por isso ela encurtou o período de luto.

— Mamãe, eu não posso continuar com isso, simplesmente não posso —


lamentou Isabel, lágrimas derramando.

— Você vai pensar de maneira diferente quando chegar a hora. Mark não
é um monstro. Você não poderia desejar um marido mais gentil e atencioso. É
mais importante do que estar apaixonada. Há muitos casamentos bem-
sucedidos que começaram sem o amor. Isso virá mais tarde.

— Não vai. — Isabel estava chorando agora. Jane se sentou ao lado dela e
abraçou-a, mas não tinha nada a acrescentar ao que sua mãe havia dito e
reiterar isso seria hipócrita.

— Vá para o seu quarto e lave o rosto — disse Lady Cavenhurst ,


decididamente zangada. — Vou encontrar seu pai. Ele precisará saber, apesar
de ter problemas mais do que suficientes sem que você os adicione. — Ela
levantou. — Jane, veja se você consegue fazê-la entender, talvez ela a ouça.

Jane ajudou a irmã a ir para o quarto, onde estava sentada na cama, não
chorando agora, mas com o rosto branco e os olhos vermelhos. Jane derramou
um pouco de água do jarro no lavatório em uma tigela e mergulhou um pano
nela. Ela torceu e deu para Isabel.

— Limpe seu rosto, Issie. Chorar tanto vai estragar sua aparência.

— Eu não ligo. Talvez isso vire Mark contra mim.

— Uma coisa de que você pode ter certeza é que Mark nunca
interromperá o noivado, faça o que você fizer. Ele é honrado demais e o
escândalo arruinaria as duas famílias.

— Você não entende.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Garanto que sim e sinto por você. Com o tempo, você superará sua
paixão pelo Sr. Ashton e se perguntará o que você já viu nele.

— Ela fez uma pausa, imaginando se deveria continuar. — Eu fiz.

— Você? — Isabel ficou tão surpresa que parou de chorar.

— Sim, quando ele ficou com Mark anos atrás, logo depois que eles
deixaram a universidade. Papai não concordou em deixar me casar com ele. Ele
disse que o Sr. Ashton não tinha família nem perspectivas e que eu poderia ter
coisa melhor. Ele foi para a Índia e eu superei isso muito rapidamente.

— Eu não sabia disso.

— Não há razão para que você deva.

— Não pode ter sido amor verdadeiro.

— Não, não era, mas eu não percebi na época. Agora eu sei que o pai
estava certo, não por causa da falta de status e riqueza do Sr. Ashton, mas
simplesmente porque eu apenas pensava que estava apaixonada. Não era real.

— Aí você e eu somos diferentes. Para mim, é real e durará toda a minha


vida.

— Você não contou isso para mamãe.

— Qual era o objetivo? Drew desapareceu e não sei para onde ele foi,
provavelmente de volta à Índia. Eu serei uma velha empregada como você.

— Você vai partir o coração de Mark.

— Eu duvido. Ele passa mais tempo com você do que comigo.

— Isso é só porque ele está me ajudando com a Casa das Crianças


Hadlea, e você pode se juntar a nós e se interessar, se quiser.

— Eu não quero.

Elas foram interrompidas por uma batida na porta e Bessie veio dizer a
Isabel que seu pai estava na sala de livros e que ela deveria ir imediatamente.

Isabel se levantou.

— Jane? — Ela perguntou.

— Não, você deve ir sozinha — disse Jane. — Ele só quer que você repita
o que disse à mamãe.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Isabel a deixou e Jane foi para o próprio quarto e tentou se concentrar em
costurar contas no vestido de noiva. Mas sua atenção vagou e a agulha
escorregou de seus dedos. O que ela poderia fazer? Ela queria ajudar sua irmã e
proteger Mark de escândalos, mas tinha uma terrível sensação de que, se Isabel
persistisse, o escândalo seria inevitável e as duas famílias sofreriam. Além da
fuga de Teddy de suas dívidas e das acusações de lorde Bolsover, seria a última
tentativa da qual eles nunca poderiam se recuperar. Ela ouviu uma porta bater
no andar de baixo, passos correndo e depois silêncio. Isabel evidentemente
fugiu. Ela não subiu as escadas e Jane pensou em ir encontrá-la, mas realmente
não podia continuar tentando convencer sua irmã a seguir em frente com o
casamento, quando todos os seus próprios sentidos estavam chorando em
desespero. Era mais um sacrifício que ela estava sendo solicitada a fazer e
estava começando a se sentir um pouco rebelde. De qualquer forma, Isabel, que
quase sempre conseguia seguir seu próprio caminho, não a ouvia.

***

Mark não conseguia entender o humor de Isabel. Ele nunca soube que ela
era irritável. Ela se levantava ocasionalmente, mas sua natureza ensolarada
geralmente logo se reafirmava, mas agora parecia que nada que ele podia fazer
estava certo. E ele ficou horrorizado com a grosseria dela com Jane. Ele podia
ver que Jane havia se machucado, embora ela não demonstrasse, exceto pela
tristeza em seus olhos. Ele esperava que, quando chegasse à mansão, Isabel
tivesse feito as pazes com a irmã e estivesse pronta para acompanhá-los a
Witherington. O projeto Casa das Crianças Hadlea era importante para Jane e
ele queria ajudá-la, Isabel estava com ciúmes? Se ela não iria a Witherington
com eles, ele deveria compensar isso de outras maneiras.

Ele seguiu o caminho através dos bosques que cercavam a mansão. O sol
se filtrava através da copa das árvores, fazendo faixas de luz dançantes ao
longo do caminho à sua frente. Acima, um melro sentado num galho, avisava-o
que ele estava invadindo seu território. Também havia outros sons, o barulho
do vento, o farfalhar, o guinchar, o latido distante de um cachorro, mas eram
apenas pequenos sons e não interferiam na tranquilidade. E então ele ouviu
outro som que não era pacífico. Alguém estava chorando não muito longe,
alguém em terrível sofrimento. Ele correu para encontrar a fonte do som e
encontrou Isabel caída no chão sob um carvalho antigo, enrolada em uma bola
apertada.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele correu para frente.

— Isabel, qual é o problema? — Ajoelhou-se, abraçou-a e ajudou-a a


levantar. — Porque você esta chorando?

— Ah é você. — A voz estava aguada.

Ele tirou um lenço do bolso do casaco e entregou a ela.

— Você caiu? Você está machucada?

— Eu não caí e não estou machucada, pelo menos, não do jeito que você
quer dizer. — Ela fungou e enxugou os olhos.

— Então, o que é?

— Nada.

— Nada? — Ele perguntou, erguendo o queixo dela, fazendo-a olhar


para ele. — Você não chora por nada, é melhor você me dizer. Afinal, em breve
serei seu marido, aquele a quem você se dirige em relação ao que a estiver
incomodando, aquele cujo privilégio é resolver todos os seus problemas.

— Você é o problema — ela explodiu e começou a chorar novamente.

— Eu? O que eu fiz? Se eu te machuquei, peço perdão, não foi


intencional. Você está zangada porque passo tanto tempo no orfanato de Jane?
Vou compensar você, prometo.

— Não ligo quanto tempo você passa com Jane e o orfanato dela.

— Continue.

— Não posso me casar com você, Mark. Eu não quero ser Lady
Wyndham. Eu vou deixar você infeliz.

— Você deve me deixar decidir sobre isso.

— E eu também seria infeliz.

— Ahh. Há mais do que isso. Venha, fale sobre isso.

— Mamãe e papai dizem que não posso interromper o noivado, isso


causará um escândalo terrível.

— Nem metade do escândalo, se eu acabasse com ele.

— Você deseja?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Isabel, minha querida, eu nunca te obrigaria a um noivado que você
considerasse repugnante. Você pode me recusar, se quiser, e eu não vou
reclamar, mas eu gostaria de saber o motivo disso.

— Eu não te amo, não posso te amar.

Ele deu um sorriso irônico.

— Bem, isso é um golpe no meu ego.

— Sinto muito. Eu gosto muito de você. Você é como um irmão mais


velho e eu odiaria estar em desacordo com você, mas a verdade é... — Ela parou
de repente.

— Você colocou seus afetos em outro lugar, é isso?

Ela assentiu.

Ele considerou isso apenas por um momento antes que a verdade lhe
ocorresse. Isabel havia flertado com Drew, estava animada e feliz na presença
dele e não queria voltar para casa. E o próprio Drew admitiu que era por isso
que ele estava indo embora. Como ele estava cego!

— É meu amigo Drew, não é?

— Sim, mas ele disse que não o trairia. Por isso ele foi embora.

— Oh!

— Jane diz que eu vou superá-lo porque ela fez. Ele pedira permissão ao
pai para se casar com ela, mas o pai não permitiria isso por falta de fortuna. É
por isso que Jane nunca se casou. Ela diz que logo o superou, mas não tenho
tanta certeza, porque não posso acreditar que mais ninguém lhe perguntou, não
quando ela era jovem e casadoira.

— Talvez Jane esteja certa.

— Ela é ciumenta. Drew me disse que havia mais alguém assim, mas já
havia superado isso há muito tempo e estava feliz com isso.

Mark lembrou-se de Drew dizendo algo do tipo, mas não fazia ideia de
que fora Jane. Ele encontrou suas emoções agitadas e não tinha nada a ver com
ser rejeitado por Isabel. Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la a se
levantar.

— Venha, vamos ver seu pai e discutir isso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela ficou ao lado dele, apenas alcançando seu ombro. Havia pedaços de
grama e folhas mortas agarradas ao vestido de musselina e ela as limpou com
mãos impacientes.

— Você não precisa vir comigo.

— Eu estava indo ver você e Jane sobre ir a Witherington, ou você


esqueceu?

— Oh, aquele orfanato irritante. Sim, eu esqueci.

***

Sir Edward e Lady Cavenhurst estavam na sala de estar com Jane e era
evidente que eles estavam conversando sobre o comportamento extraordinário
de Isabel, mas pararam quando viram que Mark estava com ela.

— Entre e sente-se, meu garoto — disse Sir Edward, indicando uma


cadeira. — Vejo pela sua aparência que minha filha tola lhe contou essa noção
boba dela.

— Não considero bobagem — disse Mark.

— Não, você não considera, mas tenha certeza de que é apenas uma
fantasia passageira. São os nervos provocados pela morte de seu pai e a
perspectiva de se tornar Lady Wyndham e o papel que se espera que ela
cumpra. Vamos educá-la no que se espera dela e, sem dúvida, sua mãe também
o fará.

— Acho que talvez seja mais do que isso, sir Edward, e eu não a
obrigaria a um noivado que é repugnante para ela.

— Mas o escândalo... — protestou sua senhoria.

— Podemos terminar com o consentimento mútuo — disse ele. É uma


decisão de Isabel, é claro, mas é uma decisão que devo aceitar com graça.

— Mas por que você deveria? — Sir Edward perguntou. — Ela superará
a relutância em quanto você e sua mãe estiverem de luto. Se não fosse a morte
prematura de Lord Wyndham, vocês já estariam casados. Menos de um mês
atrás, ela não falava de mais nada.

— Isso foi antes de ela conhecer meu amigo, Drew Ashton.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O que? — Sir Edward explodiu, virando-se para Isabel, que se sentara
em uma cadeira perto da porta, quase como se estivesse preparada para fugir
novamente. — Aquele charlatão virou a sua cabeça exatamente como virou a da
sua irmã?

— Ele não é um charlatão — gritou Isabel. — Ele é um homem honrado.


Eu o amo e ele me ama.

— Não vou ouvir isso — disse o pai. — Já o mandei fazer as malas uma
vez e voltarei a fazê-lo. Você não precisa pensar que eu vou consentir que você
se case com ele.

— Espero que seja por isso que ele foi embora — ela disse
miseravelmente.

Lady Cavenhurst virou-se para Mark.

— Lamento que você tenha ouvido isso, meu senhor. Isabel não costuma
dar birras, como você deve saber. Sem dúvida, ela estará em um estado de
espírito melhor amanhã.

— Eu vim para ir a Witherington — disse ele. — Estou livre amanhã à


tarde, se for conveniente para Jane?

— Sim, muito conveniente — disse Jane.

— Então eu venho às duas horas —. Ele se levantou e saiu, deixando


uma silenciosa e sombria família Cavenhurst. Ele não tinha dúvida de que
continuariam discutindo com a pobre Isabel. Ele não queria uma esposa
relutante e a libertaria feliz. Na verdade, ele não sentiu nada além de uma
enorme sensação de alívio. Por outro lado, a revelação de que Drew e Jane
queriam se casar havia sido um choque para ele, mas, refletindo em silêncio,
lembrou-se de que aproveitaram todas as oportunidades para ficarem sozinhos
quando Drew veio para Broadacres. Às vezes, seu amigo andava sozinho. Ele
fora encontrar Jane? Jane ainda estava ansiosa por ele? Ela estava com ciúmes
da irmã? Elas brigaram por ele? Jane ficou muito quieta enquanto todo mundo
falava. Ele desejou ter interrogado Drew um pouco mais antes de sair. Agora
ele não sabia onde ele estava.

***

Ele voltou para casa para procurar sua mãe, que estava descansando em
seu quarto. Ele deveria contar a ela o que havia acontecido. Seria um choque

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


terrível para ela e ele odiava a ideia de perturbá-la, mas se Isabel cancelasse o
casamento, sua mãe teria que saber e, a notícia seria mais bem vinda dele.

Ela estava sentada em uma cadeira perto da janela, olhando para o


parque. Um livro estava descartado em seu colo. Ele puxou outra cadeira e
sentou-se ao lado dela.

— Mamãe, como vai você?

— Não há nada de errado comigo, Mark. Estou apenas um pouco


cansada. Eu gosto de ver Grace, ela é um grande conforto para mim, mas a
explosão de Isabel me perturbou. Ela não deveria ter falado com a irmã assim.
Não consigo pensar no que aconteceu com ela.

— Ela estava preocupada e com medo, mamãe. Acabei de ir à Mansão e


entendi o motivo... — Ele fez uma pausa, imaginando se deveria continuar.

— É melhor você me contar logo.

— Isabel me disse e ao resto de sua família que ela não deseja mais se
casar comigo.

— Não quer casar com você! O que você está dizendo, Mark?

— Só isso. Ela mudou de ideia. Ela diz que não me ama. — Ele sorriu. —
Foi um golpe no meu orgulho, mas vou superar isso.

— Pretenciosa! Ela é uma garota tola. Ela quer se casar com você há anos,
não pode ter mudado repentinamente.

— Mas ela mudou.

— O que você vai fazer sobre isso?

— Ora, mamãe. Não depende de mim, não é?

— Você deve conversar com ela, convencê-la das vantagens.

— Oh, acho que ela conhece as vantagens. Elas são aparentemente


superadas pelas desvantagens. Ela não me ama e, por isso, não está preparada
para aceitar ser senhora de Broadacres. — Ele sorriu. — Então, mamãe, você
permanecerá em seu lugar aqui como castelã por mais um tempo.

— Você quer dizer que vai permitir que ela cancele tudo? Você será
motivo de chacota.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Melhor do que levar uma noiva que não me quer.

— Ela vai mudar de ideia. Faltam algumas semanas para o casamento.

— Mamãe, acho que não quero que ela mude de ideia. Estou contente em
deixá-la quebrar o noivado. Poderíamos ir viajar, você e eu, quando você se
sentir mais forte, é isso. As fofocas logo desaparecerão quando os linguarudos
encontrarem outra coisa para conversar.

— Você não se importa?

— Você sabe, mãe, eu não acho que me importo.

— Mas você deve se casar, Mark. Cabe a você.

— Talvez eu vá, um dia, quando o furor acabar.

— E isso será difícil de entender. Todas as jovens de quem você se


aproximar vão se perguntar o que há de errado com você.

— Espero que nem toda jovem, mamãe.

Ela suspirou e colocou a mão sobre a dele.

— Enquanto você não se importar, estou contente. Eu estava começando


a mudar de ideia sobre a senhorita Isabel Cavenhurst.

Ele riu e se inclinou para beijar sua bochecha.

— Então estamos de acordo.

Deixou-a para descansar e se ocupou com a propriedade, depois visitou


o reitor para conhecer um pouco mais sobre a casa em Witherington.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Oito

Depois que Isabel recusou-se a acompanhá-los e o tempo continuou bom


e quente, Mark buscou Jane de cabriolé na tarde seguinte, conduzindo-a
sozinho. Ela estava pronta e esperando, vestida com um vestido matinal de
sarsnet cor de prímula, enfeitado com rendas amarelas e um casaco
correspondente. Em seus caracóis escuros ela tinha amarrado um chapéu
camponês de palha.

— Eu falei com Henry Caulder ontem — Mark disse a ela enquanto eles
corriam pelas ruas do campo, agora à sombra das árvores. Ele me contou o que
sabia sobre a Witherington House. Ele disse que estava em ruínas, e é por isso
que está tão barato.

—Sim, ele me disse isso. Por todas as contas, isso significará uma grande
quantidade de trabalho para torná-lo habitável. Talvez o custo dos reparos
supere o baixo preço de compra.

— Que teremos que ver.

— Quanta terra existe? Gostaria que as crianças tivessem um lugar para


brincar.

— Muito pouco. A maior parte foi vendida aos agricultores locais como
arável e pastagem, mas há um hectare de horta. Não deveríamos querer mais
do que isso ou teríamos que empregar jardineiros.

— Os meninos poderiam ajudar na jardinagem. Se você se lembra, o


Hospital Foundling nos disse que as crianças recebiam tarefas à medida que
envelheciam o suficiente para fazê-las. Eu acho que é uma boa ideia dar-lhes
uma pequena ideia do mundo do trabalho. Quero ajustá-los para ganhar a vida,
fazer da mendigagem e do roubo uma coisa do passado.

— Você precisará de alguns funcionários: uma matrona, professores,


uma empregada doméstica, uma empregada ou duas e um faz tudo.

— Eu sei. Podemos usar pessoas locais que estão desempregadas.

Eles continuaram conversando sobre a Casa das Crianças Hadlea o


tempo todo e Jane ficou feliz com isso. Era mais fácil do que falar dos eventos
do dia anterior, ainda presentes em sua mente e, suspeitava, também na mente
de Mark. Depois que ele os deixou, seus pais se recusaram terminantemente a

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


ouvir qualquer outra súplica de Isabel e lhe disseram que ela mudaria de ideia e
não desonraria a família com fofocas. Já era bastante ruim que Teddy os tivesse
envergonhado e sido forçado a fugir do país, mas isso seria pior e eles não
ouviriam falar em terminar com isso. Isabel havia chorado com Jane e
implorando para que ela intercedesse em seu nome. Jane não poderia fazer isso,
não poderia machucar Mark. Ele tinha sido muito compreensivo, mas ela se
perguntava como ele realmente se sentia, principalmente sobre a confissão de
Issie de que se acreditava apaixonada por Drew, mas é claro que não podia
perguntar a ele.

Passaram por algumas cabanas espalhadas, uma estalagem e um


pequeno gramado triangular, onde duas mulheres fofocavam em uma bomba,
depois se transformaram em um caminho coberto de vegetação, cujos portões
estavam permanentemente abertos e presos em ervas daninhas e grama alta.
Uma curta viagem e a casa apareceu. Era uma casa grande e quadrada, não
muito menor que a Greystone Manor , coberta de hera, que pairava sobre as
janelas em longos fios. Havia várias chapas faltando no telhado e uma das
chaminés tinha perdido a sua cobertura. Mark parou na porta da frente, e eles
ficaram observando o prédio em silêncio antes de Mark pular e dar a volta no
veículo para ajudá-la a descer. Ele a precedeu uma dúzia de degraus até a porta
de carvalho escurecido com a sua aldrava de cabeça de leão enferrujada e bateu.

— Ninguém mora aqui, com certeza — disse ela.

— Disseram-me que há um zelador —. Ele bateu novamente e esperou,


mas ninguém veio. Ele tentou a porta, mas estava trancada por dentro. —
Vamos tentar dar a volta — disse ele.

Eles encontraram um homem velho no quintal cortando lenha.

— Você é o zelador? — Mark perguntou.

— Quem quer saber?

— Eu quero. Eu sou lorde Wyndham e esta é a senhorita Cavenhurst.


Viemos ver a propriedade.

O homem enfiou o machado no bloco de corte.

— É melhor vir comigo, então, se você está esperando um palácio, veio


ao lugar errado. Não é adequado para viver.

— Sabemos disso — disse Jane. — Qual é o seu nome?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Silas Godfrey, senhorita.

Ele liderou o caminho para dentro da casa pela cozinha. Havia uma
mulher parada à mesa cortando uma lebre.

— Minha esposa, Dotty — disse ele, então para ela: — Essas pessoas
vieram ver a casa.

Ela deu uma rápida olhada neles e continuou seu trabalho. Silas os levou
da cozinha para um corredor estreito no final do qual uma porta dava para a
frente da casa.

— Você está aqui há muito tempo? — Jane perguntou a ele, quando


atravessaram um salão de azulejos preto e branco e entraram no que seria a sala
de jantar. Era forrada de carvalho com uma janela profunda com vista para um
terraço. Ervas daninhas cresciam nas rachaduras da pavimentação.

— Toda a minha vida. Vim para cá quando criança.

— Então você saberá como era a casa nos velhos tempos.

— Isso eu saberei. Era grandiosa. Também estava bem guardada, com


inúmeros criados. Sir Jasper e sua senhoria usavam para dar jantares nesta sala.
Sempre havia algo acontecendo. A maioria de Lunnon costumava vir para ficar
na casa —. Eles o seguiram até a sala de estar, uma grande sala com tetos altos e
cornijas e, janelas esculpidas nos dois lados, um dos quais dava para o terraço, o
outro para um emaranhado de grama alta, ervas daninhas e roseiras crescidas,
que um dia fora um jardim. — Tudo parou quando sua senhoria ficou doente
— continuou, enquanto Mark inspecionava tudo, batendo nas tábuas do chão e
enfiando o dedo nas molduras das janelas. — Ele ficou doente há muito tempo
e, quando ela morreu, Sir Jasper deixou tudo ir. Ele não tinha ninguém aqui. Ele
se acabou, e começou a agir de maneira estranha. — Eles foram para outro
quarto menor, que cheirava a pó e sem ar, fez Jane torcer o nariz. Obviamente já
fora uma sala de estar, mas havia uma cama estreita encostada na parede perto
da janela. Uma porta externa dava para o jardim lateral infestado de ervas
daninhas. — Fechou-se nesta sala aqui, e nunca saiu dela dia ou noite. Vamos
subir agora, mas cuidado, faltam alguns degraus e o corrimão não é seguro.

Subiram as escadas. O velho obviamente achou a subida um esforço,


porque estava sem fôlego ao final. Ele se recuperou rapidamente e logo estava
conversando novamente.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Os criados se foram um a um. Não fazia muito sentido mantê-los. Só
restavam eu e a Dotty quando ele morreu. O advogado que veio de Lunnon nos
pediu para ficar e manter o olho no local enquanto ele encontrava os herdeiros
de Sir Jasper. Parece que ele não tinha família próxima. O lugar tem ficado
ainda pior desde então. Não posso fazer o trabalho nem Dotty. — Todo o tempo
que ele estava falando, ele estava indo de sala em sala, mantendo portas
abertas. Os quartos estavam na semiescuridão por causa da hera, que já estava
invadindo os quartos através de janelas quebradas. No final do amplo corredor
havia mais escadas. — Há outro andar — disse ele, relutante em subir.

— Podemos gerenciar por conta própria — disse Mark. — Você desce


novamente, nós o encontraremos quando estivermos prontos para partir.

Ele os deixou e eles subiram mais escadas para o próximo andar, onde os
empregados teriam sido alojados.

— Está em estado deplorável — disse Jane. — Começo a me perguntar se


vale a pena enfrentá-lo.

— Acho que é sólido o suficiente, a alvenaria é sólida e os danos


razoavelmente superficiais. Com um pequeno exército de trabalhadores logo
teria melhoras.

Ela riu.

— Onde posso encontrar um exército de trabalhadores?

— Em qualquer lugar, dada à situação de desemprego. Posso arrumá-los


e supervisionar o trabalho, se desejar. Se decidirmos avançar imediatamente
poderemos ter tudo pronto no inverno.

— Mas, Mark, você já tem muito que fazer. Sinto que estou me
aproveitando de você e sobrecarregando-o com mais problemas.

— Absurdo. Você nunca se aproveitou de mim, Jane, e se é um fardo, o


que eu discuto, eu o carrego de bom grado.

— Eu me pergunto, por que você é tão gentil e prestativo dado à maneira


terrível como foi tratado.

— Tratado, Jane? Você quer dizer por Isabel?

— Sim. Eu sinto muitíssimo. Eu gostaria que ela nunca tivesse ido a


Londres conosco. Tudo saiu da cabeça dela.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Acho melhor que ela tenha me contado agora e não depois do
casamento, não é?

— Mas papai está determinado que ela continue com o casamento.

— Espero que ele não insista. Isabel pode acabar com isso sem causar
muitos danos. Eu certamente não posso.

Ela olhou para ele surpresa.

— Você gostaria?

— Não quero uma esposa que não me queira Jane.

— Oh. — Ele realmente quis dizer que queria o fim do noivado? Era
estranho se ele o fizesse, porque as duas famílias estavam conversando sobre
isso desde que Isabel deixou a sala de aula. Lembrou-se disso especialmente
porque ela própria tinha sofrido na época e isso a tinha tornado ainda mais
infeliz. Ela tinha sido tola, sabia disso agora.

Ele sorriu para tranquilizá-la.

— Vou falar com sir Edward.

— Papai não a deixa se casar com o Sr. Ashton, eu sei.

— Mas Drew não é o homem que ele era há dez anos, Jane.

—Oh! Então você sabe?

— Sim. Você...? Você está...? — Ele parou de repente.

— Ainda estou apaixonada por ele? Não, Mark, eu nunca fui, não de
verdade. Ah, eu ansiava por um tempo, mas depois recuperei o juízo e fiquei
agradecida por ter escapado. Ele é rico e seguro de si e virou a cabeça de Issie.
Ela sem dúvida vai superar isso, como eu fiz.

— Talvez, talvez não. Agora vamos descer novamente e inspecionar as


dependências. E então faremos um pequeno piquenique antes de voltarmos
para casa. — Ele começou a liderar o caminho pelo lance superior, falando por
cima do ombro. — Pedi à minha governanta que fizesse uma pequena cesta de
comida e uma garrafa de vinho.

Ela sabia que o assunto de Isabel e o casamento estavam encerrados e ele


não iria se referir a ele novamente, mas deixou nela o desejo de saber como ele
realmente se sentia. Ele estava apenas sendo cavalheiresco ou quis dizer que

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


não queria mais se casar com Isabel? O que aconteceria se, dentro de alguns
meses, Isabel sucumbisse aos pedidos de seu pai e concordasse em se casar com
Mark, afinal? Ela tinha começado há esperar um pouco, mas percebeu o quanto
isso era inútil. Mesmo que ele não se casasse com Isabel, não havia razão para
pensar que ele se voltaria para ela. Havia um grande número de jovens mais
bonitas para ele escolher.

Ela o seguiu. Seu cabelo escuro enrolava na nuca da maneira atraente, ela
sentiu uma vontade inexplicável de estender a mão e puxar os dedos por eles,
para endireitar e observar quando ela soltava de volta. Enraizada nisso, ela não
olhou para onde estava indo e seu pé ficou preso em um degrau quebrado. Ela
estendeu os braços para se salvar, empurrando-o pelas costas. Ele só conseguiu
se salvar de cair e assim fazendo, amorteceu a queda dela, para que ela não
percorrer todo o caminho escada abaixo. Ele a levou para o próximo degrau e
sentou-se ao lado dela, o braço em volta dos ombros dela.

— Jane, você está bem? Você se machucou?

— Meu tornozelo. Eu acho que eu o torci. Foi aquele degrau podre.

Ele olhou para o pé dela. O tornozelo já estava inchado.

— Você acha que pode descer o resto da escada se eu te apoiar?

— Vou tentar.

Ela tentou, mas estremeceu e soltou um grito abafado quando colocou o


peso no pé.

— Eu vou carregar você — ele falou. — Coloque os braços em volta do


meu pescoço.

— Você vai tropeçar comigo. Eu posso fazer isso.

— Não, você não pode. — Ele a pegou nos braços e a carregou até o
térreo e de volta pelo corredor até a cozinha. Ela podia sentir o cabelo que a
havia fascinado, enquanto abraçava o pescoço dele. Era macio e maleável.

A Sra. Godfrey acabara de colocar a lebre em uma panela no fogão e


esfregava a mesa. Ela olhou para cima quando eles entraram.

— Misericórdia, o que aconteceu?

Mark abaixou Jane cuidadosamente em uma cadeira.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— A Srta. Cavenhurst prendeu o pé em um degrau podre e torceu o
tornozelo. Precisará fazer compressa em água fria e amarrar.

— Essas escadas são a morte de alguém há muito tempo — disse a


mulher, quando foi a um balde e despejou água em uma tigela que colocou aos
pés de Jane. — Aqui, tire sua meia, senhorita, e ponha o pé nisso. Vai esfriar,
enquanto eu pego alguma atadura.

— Vou esperar lá fora, Jane — disse Mark. — A Sra. Godfrey vai me


chamar quando acabar e eu vou levar você para o cabriolé.

***

— Eu me sinto tão tola — disse Jane quando isso foi feito e ela estava
sentada no cabriolé pronta para ser levada para casa, um tornozelo muito
enfaixado, o sapato no chão aos seus pés. — Fomos avisados de que as escadas
não eram seguras, eu deveria ter prestado mais atenção ao local onde estava
colocando os pés. Graças a Deus você estava lá para amortecer minha queda. Eu
machuquei você?

— Não, eu só queria ter tomado mais cuidado com você.

— Não foi sua culpa. E nós não olhamos para os anexos afinal.

— Sim, olhei, enquanto a Sra. Godfrey atendia você. — Ele sacudiu as


rédeas para incitar o cavalo na jornada de volta para casa. — Há alguns
estábulos, uma cocheira e um galpão. O senhor Godfrey estava no jardim, onde
plantara algumas fileiras de repolhos e feijões e me mostrou as redondezas. Há
uma pequena casa do lado oposto do jardim, incluída na venda.

— Você acha que a casa está em péssimo estado para o nosso propósito?
— Seu tornozelo estava doendo de modo abominável, mas ela tentou ignorá-lo.

— Não se o preço estiver certo.

— Tenho uma visão dela, reparada, redecorada e mobiliada, com as


janelas brilhando e o jardim limpo e arrumado. E o riso das crianças ecoando
por toda parte. Quero que as crianças sejam felizes.

— Claro que sim, eu também.

— Os quartos do primeiro andar são espaçosos o suficiente para formar


dormitórios, os quartos superiores, os aposentos dos empregados e talvez uma

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


pequena enfermaria, se alguma criança estiver doente. No andar de baixo pode
ser o refeitório e as salas da escola.

— Você estava pensando em tudo isso enquanto passávamos, não


estava? É como se já fosse seu.

— Não meu, Mark, do Trust.

— Como você diz. Gostaria que eu negociasse com o Sr. Halliday por
você? Receio que você precise descansar esse pé por um tempo.

— Sim, maldição! — disse ela— Mas, por favor, faça o que puder. — Ela
fez uma pausa — Não tivemos o nosso piquenique, tivemos?

— Não, mas ainda não é tarde. Está com fome?

— Um pouco.

Ele virou o cabriolé da estrada para o abrigo de algumas árvores, onde o


parou.

— Sente-se lá — ele disse, pulando e removendo uma cesta de vime


debaixo do assento. Ela o viu colocar debaixo de uma árvore. Ele tirou o casaco
e o colocou na grama, depois voltou para ela.

— Posso descer — disse ela, colocando o pé bom no degrau e tentando se


levantar.

— Eu acho que não. — Ele a pegou como se ela não pesasse mais do que
uma pena e a carregou até a árvore, onde ele gentilmente a abaixou sobre o
casaco e sentou-se ao lado dela, tão perto que ela podia sentir a coxa de sua
calça por seu vestido fino. Era altamente impróprio, mas não havia ninguém
para vê-los e o próprio Mark parecia desconhecer a impropriedade. Ela sabia
que deveria se afastar, mas ficou onde estava deixando sua imaginação brincar
com uma visão deles como um casal e, era quase certo ele abraçá-la, carregá-la,
sentar-se tão perto quase a tocando.

— Confortável? — Ele perguntou.

— Sim, obrigada.

Ele puxou a cesta para mais perto e começou a desembalá-la, trazendo


presunto e coxas de frango, pão e doces, dois pratos, uma garrafa de vinho e
duas taças.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— É um banquete — disse ela.

— Sim, a Sra. Blandish vive com medo de que hei de morrer de fome, por
isso ajude-me ou vou estar em apuros se eu levar alguma coisa de volta. — Ele
estava servindo vinho enquanto falava e lhe entregou uma taça.

— É champanhe — disse ela enquanto as bolhas faziam cócegas em seu


nariz.

— Sim, perfeito para um piquenique de verão, você não acha?

— É adorável.

— Você merece o melhor.

Ela olhou bruscamente para ele e percebeu que ele estava olhando
intensamente para ela, como se estivesse estudando seu rosto, esperando por
uma reação. Por um segundo ou dois, ela se perguntou se ele tentaria seduzi-la
e o que ela faria, mas depois descartou a ideia como absurda. Ela estava
perfeitamente segura com ele. E em algum lugar nas profundezas dela, onde
mantinha seus pensamentos mais secretos, desejava não estar. Ela tentou uma
risada leve, mas parecia rachada.

— Esse é o tipo de coisa que você deveria estar dizendo a Isabel para
fazê-la mudar de ideia.

— Mas talvez eu não queira que ela mude de ideia.

— Você está machucado e quem pode culpar você? Ela tem sido muito
cruel com você.

— Não foi cruel, foi honesta e que eu possa admirar, mas se ela não me
ama, não há como tentar convencê-la a se casar comigo, se ela não quiser. Eu
não tenho que implorar pelo favor de uma dama, Jane. Eu tenho mais orgulho
do que isso. Agora beba e coma e não voltemos a falar de Isabel, estou ficando
cansado de ouvir falar do nome dela.

Ela obedeceu e eles comeram em silêncio por alguns minutos, mas o


silêncio a deixava consciente de outras coisas: o calor do sol filtrando-se pelas
folhas; a canção de um tordo cantando seu coração; as ovelhas, tosquiadas do
seu velo de inverno, cortando o prado atrás deles; a sua proximidade; seu
desejo e, acima de tudo, a dor no tornozelo, que estava ainda mais inchado e
latejando dolorosamente. Ela tinha que se distrair disso.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O que precisa ser feito primeiro na Witherington House? — Ela
perguntou, surpresa com o quão normal sua voz soava.

— Quando tivermos a posse, você quer dizer? Acho que o telhado deve
ser o primeiro, para torná-lo à prova de intempéries, depois as escadas...

— Definitivamente as escadas — disse ela, rindo um pouco.

— Sim, então qualquer alteração nos quartos, pintura e decoração.


Depois, encontrar móveis e contratar pessoal.

— Você realmente acha que podemos fazer tudo antes do inverno?

— Não vejo por que não.

— E teremos dinheiro suficiente?

— Devemos continuar a levantar mais.

— Posso escrever mais cartas e organizar a feira da qual falamos.

— Em uma perna, Jane? — Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha


para ela.

— Isso vai curar em breve e eu ainda serei capaz de conduzir a charrete


ao redor da vila e reunir alguma ajuda.

Ele olhou para o membro em questão. Não havia dúvida de que estava
mais inchado.

— Acho que é melhor acalmarmos isso antes de continuarmos. — Ele se


ajoelhou para soltar o curativo, desenrolando-o com cuidado. O pé estava
começando a ficar roxo. — Você deve consultar um médico assim que
voltarmos. Sente-se quieta. Vou ensopar isto em água.

Fique quieta! Ela mal conseguia se mexer. Ela comeu um pouco do pão
com presunto e lavou-o com vinho, o que parecia estar indo à sua cabeça.

Ele voltou com o pano torcido de um riacho que havia encontrado.

— Isso deve ajudar — disse ele, ajoelhando-se para enfaixar o pé dela.

Apesar de seus cuidados, ela não conseguiu conter um grito de dor


misturado com prazer ao seu toque. Oh, ela era uma massa de contradições.

— Serei o mais gentil possível — disse ele.

— Você está sendo gentil, Mark, e eu estou sendo covarde.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você certamente não é isso. Agora está melhor?

— Muito obrigada.

— Acho melhor levá-la para casa. Você já teve o suficiente para comer e
beber?

— Sim, obrigada. Estava uma delícia.

Ele guardou os restos e colocou a cesta de volta no cabriolé, depois


voltou para ela. Colocando as mãos nos braços dela, ele a puxou na vertical em
um pé e depois a pegou.

— Sinto muito ser um incômodo — disse ela.

— Você não é um incômodo. Não é muitas vezes que sou chamado a


carregar uma linda moça nos braços e você é um prazer e um privilégio.

Linda, ele dissera. Ela não acreditou nem por um minuto; ela era
simplesmente, Jane, sempre fora, sempre seria, mas era adorável ouvir isso.
Apesar de sua lesão, tinha sido um dia maravilhoso. Tê-lo perto de si foi um
deleite para ser saboreado e lembrado nos próximos anos.

Mark dirigiu com muito cuidado, tentando evitar buracos e solavancos


na estrada, mas, ou ela bebeu muito champanhe ou a dor estava fazendo sua
cabeça flutuar por mais que tentasse, ela não conseguia manter-se na posição
vertical. Os olhos dela se fecharam e ela pendeu no ombro dele.

Ele se virou para sorrir para ela e transferiu as rédeas para a outra mão,
para que o movimento de seu braço não a perturbasse. Por que ele havia notado
recentemente como ela era adorável, ele não sabia, e não era simplesmente um
rosto adorável, ela tinha um temperamento adorável, quieto, cuidava dos
outros, muitas vezes em detrimento de suas próprias necessidades, e ele a
amava. Ele não podia dizer isso enquanto estava noivo da irmã dela, Jane, ela
própria nunca aceitaria isso, mas assim que estivesse oficialmente livre, teria
que falar sobre isso. Ele a queria, ele a queria tanto que doía.

Ele podia imaginá-la como Lady Wyndham, administrando sua casa de


forma eficiente e sem problemas, ficando do lado dele nas funções oficiais,
sendo uma mãe maravilhosa para os filhos, amando-o. Isso era possível? Ele
ficou irritado ao pensar que tudo dependia do capricho de Isabel. Era uma pena
que Sir Edward fosse tão contra Drew. Onde estava Drew?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


***

Sua reflexão acabou quando ele parou na porta da frente da Manor


Greystone. Gentilmente ele tocou a mão dela para acordá-la.

— Estamos em casa, Jane.

Ela parecia assustada, como se não tivesse certeza de onde estava.

— Eu estava dormindo?

— Sim. Provavelmente foi bom. Agora temos que enfrentar seus pais e
eles, sem dúvida, me darão um sermão por não cuidar de você.

— Não seja bobo, é claro que não.

Ele a levantou e a carregou escada acima.

— Você pode alcançar a aldrava?

A porta foi aberta por Ruby, a empregada do andar de baixo.

— Senhor... — disse ela. — O que aconteceu?

— A Srta. Cavenhurst teve um acidente — disse Mark. — Vá buscar


Lady Cavenhurst, sim?

A empregada se apressou e Mark colocou Jane no chão, mas ele manteve


o braço em volta dela. Eles estavam assim quando Sir Ed Ward e Lady
Cavenhurst vieram correndo na direção deles, seguidos de perto por Isabel e
Sophie.

— O que aconteceu? — Disse sua senhoria, olhando para o par e depois


para os pés de Jane.

— Torci meu pé em uma escada quebrada na casa — disse ela. — Está


um pouco inchado e doloroso, mas amanhã estará melhor.

— Eu acho que a Srta. Cavenhurst deve ser levada para o quarto dela —
disse Mark. — Ela pode contar-lhe tudo quando ela estiver confortável e o
médico for chamado.

— Sim, sim, é claro — disse Sir Edward. — Vou mandar chamar um


lacaio e...

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não precisa, eu posso carregá-la. Lidere o caminho. — Ele se inclinou
para pegar Jane de novo, evidenciando um pouco de 'oh' de Jane e um maior de
Isabel.

— Vou mandar alguém chamar o médico — disse Sir Edward, virando-


se, deixando sua esposa preceder Mark com seu fardo subindo as escadas.
Ninguém falou até Jane ser depositada em segurança em sua cama e o pé
machucado colocado em uma almofada.

— Obrigada Mark — disse ela. — Eu não poderia ter conseguido sem


você.

— Com sua permissão, Lady Cavenhurst , virei amanhã para ver como a
paciente está.

— Claro, você não precisa perguntar.

Ele se curvou e se despediu.

— Bem, este é um bom estado de coisas — disse sua senhoria, sentada na


cama ao lado da filha. — É melhor você me contar exatamente como aconteceu.
E acredito que você andou bebendo.

— Tomamos um pouco de vinho com o nosso piquenique.

— Piquenique? Fui informada de que você procuraria uma casa para seu
projeto.

— Foi o que fizemos, mas Mark trouxe uma cesta de piquenique. Afinal,
íamos ficar fora por algum tempo. Acredito que foi ideia da senhora Blandish.
Ela pensou que Mark estaria com fome.

— E você tropeçou antes ou depois de beber o vinho?

— Mamãe, o que você está dizendo? Você acha que eu estava bêbada?
Como você pode? Se você parar de me interrogar por um minuto, eu lhe direi
exatamente como aconteceu.

Houve uma batida na porta e suas irmãs entraram na sala.

— Você está gravemente ferida, Jane? — Sophie perguntou. — Como foi


ser carregada por um homem e um homem bonito, neste caso? Aposto que Issie
está com ciúmes.

— Não estou — protestou Isabel.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Se você quer saber, foi humilhante e embaraçoso — disse Jane.

— Então conte-nos tudo. — Sophie se sentou do outro lado da cama,


fazendo Jane chorar quando sua perna foi perturbada. — Desculpe, Jane. — Ela
se afastou.

— Está muito dolorida? — Isabel perguntou, pairando ao lado da cama.

— Sim, está.

— Eu sempre achei que a ideia de orfanato era ruim.

— Não é e, isso não vai me parar. Nós decidimos comprar a casa. Pode
ser consertada.

— Por 'nós' você quer dizer você e Mark, suponho.

— E o senhor Cecil Halliday. Ele também é administrador.

— Se está em um estado tão lamentável que tenha degraus das escadas


se quebrando, então, talvez não seja uma boa ideia. Você poderia ter sido morta.

— Mas eu não estou morta, estou? Mark estava na minha frente e ele
amorteceu minha queda.

— Parece que temos muito a agradecer a Mark.

— Sim, de fato. Ele diz que a casa pode ser facilmente recuperada e será
o lar ideal para as crianças.

— Mark isso, Mark aquilo. Você nunca se cansa de dizer o nome dele? —
Isabel exigiu de Jane.

— Cala-se, Isabel — disse a mãe. — Não há como ter ciúmes de Jane.

— Não tenho ciúmes, nem um pouquinho, então você pode esquecer


isso.

No silêncio que se seguiu, ouviram a batida da porta da frente. Lady


Cavenhurst foi cumprimentar o médico e Isabel a seguiu da sala.

— Não ligue para Issie — disse Sophie. — Ela tem sido uma péssima
cruzada desde que vocês voltaram de Londres. Nem uma palavra civilizada
dela.

— Ela está infeliz, Sophie, não pode evitar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você não deve dar desculpas a todos, Jane. Às vezes você é muito
gentil e todo mundo tira vantagem de você.

Jane riu.

— E você não, suponho.

— Eu tento não tirar. O problema com Issie é que ela não consegue se
decidir, principalmente quando mamãe e papai continuam em cima dela.

Antes que Jane pudesse responder, sua mãe trouxe o médico para o
quarto e Sophie saiu dali.

Enquanto o médico removeu o curativo agora seco, Jane refletiu sobre o


que Sophie havia dito. Issie estava realmente sendo persuadida? Em caso
afirmativo, quão genuíno era? Isso pôs em perspectiva a euforia do seu dia feliz
com Mark. Foi um interlúdio, um intervalo, uma pausa em sua vida monótona,
uma memória, nada mais, e ela ficou com a dor.

***

Mark foi para casa, deixou o cavalo e o cabriolé com Thompson, um dos
cavalariços, e foi para dentro pela porta da cozinha, carregando a cesta de
piquenique. A senhora Blandish estava lá, preparando a refeição da noite.

— Você voltou, mestre Mark... Opa, eu deveria ter dito “meu senhor”,
não deveria? Não consigo me acostumar com isso.

— Não importa senhora Blandish. — Ele colocou a cesta na mesa.

— Você gostou do piquenique?

— Muito, embora a Senhorita Cavenhurst teve um ligeiro acidente na


escada na casa.

— Lamento ouvir isso, senhor. Espero que ela não tenha sido gravemente
ferida.

— Um tornozelo torcido. Mas ela gostou da comida e desejou que eu lhe


dissesse.

— Obrigada, senhor. É sempre bom ser apreciada. Sua mãe está na sala
de estar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele seguiu seu caminho. Era bom ser apreciado e Jane também tinha
apreciado a sua ajuda, mas será que todos a apreciaram? Ela quase não percebia
o quanto todos se apoiavam nela, irmão, pai, irmãs, todos exigiam dela, mas
talvez agora que ela não pudesse fazer tanto, talvez eles percebessem. Uma
coisa em que ele estava decidido era ajudá-la em seu orfanato, tanto quanto ele
pudesse. Haveria algumas despesas pesadas e o Trust poderia ficar sem
dinheiro, mas ele sempre poderia ajudá-lo, não apenas com seus próprios
fundos, mas chamando seus muitos amigos ricos.

Sua mãe deixou de olhar pela janela para sorrir para ele quando ele
entrou na sala e lhe deu um beijo na testa.

— Como vai mamãe?

— Eu estou bem. Como foi?

Ele se sentou perto dela e se lançou em um recital de tudo que ele e Jane
tinham visto e feito, e o fato de Jane ter sido ferida.

— Eu devo visitar a mansão amanhã — disse ela.

— Eu vou te levar, mamãe. Eu disse que iria ver como Jane está e
precisamos conversar novamente sobre como angariar mais fundos. Jane
sugeriu realizar uma feira na vila, com barracas e competições e prêmios
doados. Eu disse que poderíamos usar o campo de dez hectares como local, se
você concordar. É longe o suficiente da casa para não incomodá-la.

— Claro, mas você é o senhor aqui, Mark, não precisa me perguntar.

— E você ainda é a senhora dela e eu não faria nada para desmotivá-la.

— Isabel ainda persiste em sua noção tola?

— Eu acredito que sim. Não a vi hoje, ela está entediada com todo o
projeto e não veio conosco.

— Isso é uma pena. Sair com Jane desacompanhada pode causar fofoca,
por mais inocente que seja.

— Haverá uma certa quantidade de fofocas em qualquer caso, se o


noivado for cancelado.

— Mais uma razão para não convidá-la mais.

— Mas Jane precisa da minha ajuda.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Assim ela deve fazer, mas, até que você receba notícias de Sir Edward
de que o noivado foi oficialmente interrompido, recomendo que seja um pouco
mais cauteloso. Você pode até tentar ficar um pouco mais atento a Isabel. — Ela
sorriu e deu um tapinha na mão dele. — Agora, vá embora. Eu deveria estar
descansando.

Ele a deixou e foi à biblioteca para escrever para Cecil Halliday,


sugerindo que os curadores fizessem uma oferta para Witherington House e,
em seguida, fazendo uma lista do que precisava ser feito, em um esforço para
tirar Jane de sua mente. Ele conversara com a mãe calmamente, mas estava se
sentindo longe da calma. Ele se sentiu impotente, esperando que algo
acontecesse. Era como uma tempestade se acumulando no horizonte e sem
saber exatamente onde ou quando ocorreria.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Nove

Jane estava reclinada em um sofá na sala de manhã, conversando com


sua mãe e Isabel sobre suas propostas para angariação de fundos quando Lady
Wyndham chegou com Mark. Isabel imediatamente se levantou, fez uma
reverência para os dois, murmurou algo sobre precisar encontrar Sophie e saiu
da sala.

— Por favor, não tente se levantar — Lady Wyndham disse, colocando a


mão no ombro de Jane enquanto ela tentava se levantar e ignorando a partida
apressada de Isabel.

As duas senhoras mais velhas se beijaram.

— Tudo bem, Helen? — Grace perguntou, tocando para um servo. —


Você parece um pouco melhor.

— Eu estou. Eu acho que nunca vou me recuperar completamente da


perda do meu querido Richard, mas a vida tem que continuar, você sabe.
Viemos ver como Jane está. Lamento saber do acidente dela.

Sentaram-se e Mark sentou-se em frente à Jane e se inclinou para frente.

— Como vai você, Jane? Você conseguiu dormir?

— Sim, obrigada. O doutor Trench deixou um remédio para dormir para


mim. Tenho que manter o membro elevado por alguns dias e depois andar um
pouco para ver se consigo —. Ela sabia que parecia rígida e formal, mas sentiu-
se envergonhada pelo que acontecera no dia anterior: bebendo muito
champanhe; o toque dele, que incendiava seus membros; a maneira como seus
corpos se fundiram quando ele a levantou dentro e fora do cabriolé; a conversa
que, às vezes, tinha sido talvez muito pessoal, especialmente quando se falava
de Isabel. Também a fazia se sentir culpada, como se tivesse sido desleal.

A empregada voltou com uma bandeja contendo um bule de chá, e


xicaras e Grace começou a distribuir o chá, enquanto continuava a conversa.

— Eu questiono se uma casa em um estado tão degradado é adequada


para se transformar em uma casa, mesmo para órfãos — disse ela, dirigindo-se
a Lady Wyndham, como se os órfãos não merecessem uma casa como as outras
pessoas desfrutam.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu também, mas Mark me garante que isso pode ser arrumado, mas é
uma responsabilidade enorme que uma dama solteira assuma o cargo.

— A responsabilidade é dividida entre os curadores, dos quais eu sou


um — acrescentou Mark. — E eu disse a Jane que ajudarei em tudo que puder.

— Agradeço — disse Jane calmamente. — Tentarei não chamar você


mais do que preciso.

— Me chame quantas vezes quiser.

— Acho que é uma pena que Isabel não se interesse pelo esquema —
disse Helen. — Um homem precisa de uma esposa que se interesse pelas coisas
em que ele está interessado, caso contrário, eles também podem viver vidas
separadas.

— Ah, então... — Grace parou e olhou para Mark.

— A mãe sabe — ele disse a ela. — Ela é da opinião que Isabel vai mudar
de ideia.

— É claro que vai — disse Lady Cavenhurst rapidamente. — É uma


fantasia boba, porque ela está nervosa com as responsabilidades que terá como
Lady Wyndham. Eu disse a ela que sua mãe estará lá para guiá-la.

— Naturalmente, sim — concordou sua senhoria.

— Obrigada — disse Grace. — Você é muito compreensiva.

— De modo algum. Lembro-me de como fiquei aterrorizada quando me


casei com Wyndham. Foi sua mãe quem me ajudou.

Jane olhou de relance para Mark, que não participara da conversa. O


rosto dele estava de madeira. Ele tomou um gole de chá e olhou para qualquer
lugar, menos para ela. Ficou contente quando a curta visita terminou e pôde
retornar aos planos da feira que havia iniciado. Ela precisava envolver toda a
vila e o reverendo Caulder era o melhor para ajudá-la. Ela pediria que ele
fizesse uma referência a ela no púlpito no domingo. O inchaço no tornozelo
teria diminuído até amanhã e ela seria capaz de mancar para a charrete e dirigir
até a vila. Havia uma muleta em algum lugar das dependências que Teddy
havia usado quando ele quebrou a perna anos antes; se pudesse encontrá-la,
ajudaria a caminhar até a charrete e a sair com ela.

***

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela estava dirigindo de volta aos estábulos ao voltar da aldeia na tarde
seguinte, quando notou uma carruagem no quintal e se perguntou quem seria o
visitante. Não Mark ou sua mãe, ela conhecia os veículos deles; ninguém na
aldeia era grande demais e estava coberto de poeira o suficiente para ter
percorrido alguma distância. O cocheiro estava dando aos cavalos baldes de
água ajudados por Daniel. Ela parou e usou a muleta para apoiá-la enquanto
descia. Daniel viu sua situação e correu para ajudá-la.

— Quem é o nosso visitante? — Ela sussurrou, quando ele a ajudou a


entrar na casa perto da porta da cozinha. Os degraus da frente estavam além
dela.

— Sr. Halliday.

— Oh — Com a ajuda de sua muleta, ela mancou pela casa até a sala de
estar, onde encontrou sua mãe e irmãs.

— Aí está Jane — disse a senhorita. — Temos uma visita.

— Sim, eu percebi. — Ela afundou agradecida em um sofá ao lado de


Sophie e colocou a muleta no chão ao lado dela. Sua perna estava começando a
doer abominavelmente após seus esforços. — É o Sr. Halliday?

— Sim. Ele e seu pai estão trancados na sala do livro há horas. Todos nós
fomos solicitados a esperar aqui até que surjam.

— Você sabe por que ele está aqui? Papai mandou chamá-lo?

— Eu penso que não. Ambos pareciam muito sérios. — Ela parecia estar
sempre calma, mas Jane podia ver que estava tremendo. — Eu suspeito que eles
estão falando sobre nossas economias.

— Ugh, eu odeio essa palavra — disse Isabel.

— Papai nos avisou — disse Jane.

— Foi o que ele fez, mas não acho que ele quis dizer isso. Pessoas como
nós simplesmente não economizam.

— Pessoas como nós? — Jane perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Aristocratas.

— Issie, aristocratas ou não, temos que cortar nosso casaco de acordo


com nosso tecido.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— E isso é uma coisa boba de se dizer.

— Como foi sua manhã, Jane? — Sua mãe perguntou, mudando de


assunto abruptamente. — Como você administrou?

— Administrei muito bem. Todo mundo foi útil. O reverendo Caulder


vai falar sobre o lar Hadlea para crianças após seu sermão no domingo quando
ele faz os anúncios habituais. Ele solicitará à congregação que ofereça seus
serviços para ajudar a organizar a feira e fazer doações para as barracas e os
prêmios. Decidimos tê-lo no último sábado de agosto, no campo de dez acres.

— Você tem certeza de que não vai exceder sua força? — Sua senhoria
perguntou.

— Mamãe, sou tão forte quanto um boi e minha perna estará bem
reparada até lá.

Eles ouviram uma porta abrir e fechar, então o pai, seguido pelo senhor
Halliday, entrou na sala. Ambos pareciam sombrios. Sir Edward convidou o
advogado para sentar e depois puxou uma cadeira para se sentar perto de sua
esposa. Houve silêncio por um momento, enquanto todos olhavam para ele
com expectativa.

Ele limpou a garganta.

— Minha querida — disse ele, dirigindo-se à esposa —, a situação é


muito pior do que eu pensava. Receio que tenhamos que fazer mudanças em
nosso modo de vida. Grandes mudanças.

— Mas por quê? — Ela perguntou. — Não é como se você fosse um


jogador como Teddy.

— Não jogo na mesa de cartas, é verdade, mas joguei no Change 14. As


colheitas estão ruins há algum tempo, mas o ano passado foi o pior. As colheitas
falharam, os agricultores arrendatários não puderam pagar seus aluguéis e a
Home Farm15 não obteve lucro algum em três anos. Na verdade, ela ficou no
prejuízo. Meu capital estava diminuindo e eu pensei que comprar e vender
ações poderia nos ver passar pelo pior. Fui mal aconselhado, não pelo Sr.
Halliday, mas por outros —. Ele suspirou profundamente e parecia estar à beira

14Não entendo muito sobre o assunto, mas ele se refere a jogar com taxas de ações na
bolsa. Jogou o que iria lucrar com a alta, mas perdeu dinheiro com a recessão.
15 Agricultura familiar

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


das lágrimas. — Perdi tudo e, para manter nosso estilo de vida, pedi
emprestado e permiti que as dívidas aumentassem. Elas estão sendo cobradas e
não posso honrá-las.

— O que devemos fazer? — Ela perguntou, enquanto as filhas olhavam


de uma para a outra em choque. — Devemos fazer o que Jane sugeriu há
algumas semanas, livrar-nos da carruagem e dos cavalos e dispensar os
criados?

Theodore Halliday interrompeu com uma tosse suave.

— Minha senhora, receio que essas economias não sejam suficientes. É


lamentável que todas as dívidas de sir Edward tenham passado para as mãos
de uma única pessoa.

— Lorde Bolsover. — Jane estava quase prendendo a respiração e deixou


escapar o nome do homem.

— Receio que sim. — Ele não escondeu o fato.

— O que o homem tem contra nós? — Jane perguntou. — Você sabe Sr.
Halliday?

— Acho que não.

— Você sabe papai?

Ele balançou a cabeça sem falar. Seu rosto estava branco e suas mãos
tremiam.

Ela voltou-se para o advogado.

— As alegações de seu senhorio são válidas?

— Eu receio que elas sejam. — Ele fez uma pausa. — A menos que esteja
fora de seu alcance, ele reivindicará toda a propriedade.

— Greystone Manor? — Grace ofegou. — Ele não pode fazer isso, pode?

— Receio que ele possa, se seu marido não fizer nenhum esforço para
recompensá-lo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Mas é a nossa casa. Os Cavenhursts vivem aqui há gerações, desde o
Interregno16.

— Estou inclinada a pensar que os motivos dele podem voltar até aqui —
Jane acrescentou. — Encontrei uma pedra tumular ao lado do cemitério. Dizia...
— Ela fez uma pausa para se certificar de que tinha as palavras corretamente. —
“Colin Bolsover Paget, filho amado de Lord e Lady Paget, morreu por sua
própria mão, em maio de 1649, com 27 anos. Que Deus o perdoe e permita que
ele descanse eternamente.” Você acha que isso pode ser significativo?

— Talvez, mas se é ou não, não vai ajudar a situação atual — disse o


advogado.

— O que vai ajudar?

— Temos que vender a mansão e nos mudar para uma casa menor, onde
podemos viver mais economicamente — acrescentou Sir Edward, falando em
voz embargada. — Não temos alternativa.

— Então Bolsover venceu — disse Jane.

— Nem por isso — disse Halliday. — Se é a mansão que ele quer, vendê-
la e pagá-lo com o dinheiro vai privá-lo disso e deixar o suficiente para você
viver em ambientes mais modestos.

— Onde? — Exigiu Isabel. — Nunca mais conseguiremos levantar a


cabeça em Hadlea.

— Por que não? — O pai delas exigiu. — Você vai se casar com Mark
Wyndham e vai sair de casa. Teddy já foi embora e, sem dúvida, Sophie logo o
seguirá até o altar, por isso é fácil dizer que sua mãe, eu e Jane não precisamos
de uma casa tão grande.

— A mansão é a primogenitura de Teddy — disse Sophie.

— Teddy perdeu isso — retrucou o pai. — Se ele não tivesse entrado nas
garras de Bolsover, o homem também não pensaria em pagar nossas dívidas.

— Acho que talvez Teddy fosse simplesmente um meio para um fim —


disse Jane calmamente. — Acredito que o seu senhorio esteja conduzindo
algum tipo de vingança. Penso em descobrir o que é.

16Um período em que o governo normal é suspenso, especialmente entre reinados ou


regimes sucessivos.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não vai ajudar — disse ele, seu desânimo evidente em cada palavra.
Ele era um homem derrotado e o coração de Jane ficou com ele.

— Então devemos fazer planos para o futuro — disse ela brilhantemente.


— Para onde você acha que gostaria de ir? Bath é um bom lugar para se
aposentar.

— Muito caro — disse o advogado.

— Temos de ir para casa na Escócia — disse a mãe de repente. — Há


muito espaço no Cartrose Hall.

Cartrose Hall era a casa de seus pais, visconde e viscondessa Cartrose.


Estava em um local remoto nas Highlands, que possuía campos gloriosos,
milhares de ovelhas, mas poucas pessoas. A família fazia visitas frequentes lá
quando as crianças eram pequenas, mas elas não aconteciam com tanta
frequência quando cresceram e desenvolveram outros interesses. Além disso, a
viagem levava vários dias e Lady Cavenhurst, que era uma péssima viajante,
passou a temê-la.

— Mas essa é a outra extremidade da terra — lamentou Isabel

— Mas você não vai conosco, vai? — Sua mãe disse. — Você ficará aqui
como Lady Wyndham.

— Então nunca mais vou te ver. — Afinal, parecia que ela estava
adotando essa ideia e Jane se perguntou o que Mark pensaria disso.

— Bobagem, Mark vai trazer você para nos visitar, tenho certeza.

— Eu também não vou — disse Jane calmamente. Nos últimos minutos,


ela estivera pensando em como um movimento a impactaria. Ela estava
comprometida com o projeto Casa das Crianças Hadlea, e não podia abandoná-
lo. — Vou me mudar para a Witherington House.

— Sozinha Jane? —Sir Edward perguntou. — Fora de questão.

— Eu não vou ficar sozinha. Terei um conjunto completo de


funcionários. Tenho que ficar para ajudar a administrar e continuar levantando
fundos.

— Outras pessoas podem fazer isso.

— Mas é o meu projeto. É importante para mim.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Lady Cavenhurst começou a chorar e o marido abandonou a briga com
Jane para confortá-la.

— Não chore, minha querida. Não será tão ruim. Nossas filhas estavam
fadadas a se casar e sair de casa em algum momento e você teria se acostumado
a ficar sem elas.

— Mas não Jane — ela soluçou. — Jane não.

Deixado desconfortável pelo choro dela, Theodore Halliday se levantou


para sair.

— Vou colocar a casa a venda para você, senhor Edward. Eu não acho
que precisamos divulgá-lo amplamente. Vou contar a algumas pessoas
selecionadas e a coisa toda pode ser gerenciada discretamente.

— Sim, faça isso. — Sir Edward mal se afastou da esposa para lhe dar um
bom dia. Ninguém pensou na necessidade de acomodação do homem, até Jane
mencionar.

— Oh, sim, você pode ficar — disse Sir Edward. — Mas seremos uma má
companhia.

— Agradeço, mas reservei um quarto no Fox e Hounds para começar


cedo de manhã.

Jane se levantou e foi com ele até a porta da frente.

— Sinto muito por ter sido portador de notícias tão ruins — disse ele,
enquanto ela lhe entregava o chapéu da mesa no corredor. — Estou certo de
que sua família precisará de seu bom senso nas próximas semanas.

— Eu sei. — Um lacaio que logo perderia o emprego abriu a porta e o


advogado desceu as escadas correndo e subiu na carruagem. Ela suspirou e se
virou para voltar para o resto da família.

— Pensar que chegamos a isso — dizia a mãe. — Eu, filha de um


visconde, reduzida à caridade.

— Caridade, mamãe? — Jane disse. — Ninguém disse que você está


reduzida a isso. Você está simplesmente mudando de casa para sua própria
conveniência.

— Sim, devo dizer, e pelo bem da minha saúde, mas isso não me fará
sentir melhor.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Lady Wyndham e Mark precisarão ser informados.

— Oh, não, certamente não?

— Eles acharão muito estranho se não confidenciarmos porque estamos


vendendo repentinamente nossa casa, você não acha? Lady Wyndham é sua
amiga desde que você se casou e veio morar aqui. Seria descortês não contar a
ela.

— Sim, suponho que você esteja certa. Ela me fez sentir bem-vinda
quando eu era nova na área. Sentirei mais a falta dela do que qualquer outra
pessoa.

Jane sorriu.

— Mais que eu?

— Ah, você realmente não quis dizer que não viria conosco, não é?

— Sim, mamãe. Não posso administrar a Witherington House da


Escócia, posso?

— Deixe alguém assumir. Eu preciso de você.

— Mas os órfãos também. — Ela estava cansada de discutir, cansada de


percorrer o mesmo terreno repetidas vezes, cansada de sempre ceder. — Devo
levá-la a Broadacres amanhã?

Lady Cavenhurst suspirou profundamente.

— Sim, vamos acabar logo com isso, embora não tenha ideia do que
direi a Helen.

— A verdade, mamãe. Foi você quem nos ensinou que as inverdades


sempre voltarão para nos assombrar.

— Se eu pudesse conhecer esse terrível lorde Bolsover — disse a mãe —,


certamente teria algo a dizer a ele.

— Então fico feliz que você não possa, mamãe, ele sem dúvida riria de
você. Ele é um homem odioso.

— Você o conheceu? — Sua mãe perguntou surpresa.

— Sim, brevemente quando estávamos em Londres. Eu não gostei dele.

— Eu o odeio! — Isabel declarou. — Ele tem sido a nossa ruína.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— A menos que deixemos — disse Jane. — Agora, anime- se, mamãe, e
vamos começar a fazer planos de como a mudança será realizada sem perder o
prestígio.

— Não quero ser pobre — disse Isabel. — Não serei pobre, não serei. Eu
não quero viver contando meus tostões e não ser capaz de ter um vestido novo
ou novos sapatos quando eu quiser. Afinal, prefiro me casar com Mark.

O coração de Jane afundou como uma pedra e sua alegria de repente


perdeu a força.

***

O pensamento de deixar sua casa de infância, o lugar em todo o mundo


em que ela havia sido feliz, era assustador para Jane, mas ela se recusou a
chorar como todo mundo parecia estar fazendo. Lágrimas não alteravam nada e
era melhor ser positiva. Quando ela disse isso a Isabel na manhã seguinte, no
café da manhã, sua irmã disse: — Tudo bem para você, Jane, você está casada
com a casa de seus filhos. Você não precisa se preocupar com maridos e
casamento, é uma empregada idosa e deve se contentar com os filhos de outras
pessoas. Estou sendo forçada a casar com um homem que não amo, porque o
homem que amo escolheu ser cavalheiresco e deixar o campo.

Jane se recusou a morder a isca, mas se perguntou se havia alguma


verdade no que Isabel disse. Ela estava usando o lar das crianças para
preencher um vazio em sua própria vida? Ela encolheu os ombros; se fosse,
também beneficiaria os órfãos que ela pretendia ajudar, então o que importava?
Ela foi aos estábulos para pedir a Daniel que usasse o pônei na charrete, para
que ela pudesse levar a mãe para Broadacres.

***

— Seu pai vai contar aos criados hoje — disse a mãe enquanto saíam da
estrada para a entrada da vila. — Ele concordou que posso ficar com Bessie, se
ela estiver preparada para ficar comigo quando nos mudarmos para a Escócia,
mas o resto deve ser avisado.

— Talvez o novo proprietário os deixe ficar?

— Talvez, mas não sabemos quem ele será não é? Seu pai diz que eles
devem ter a oportunidade de encontrar novas posições, caso ele não encontre.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Eles seriam capazes de encontrar novas posições? Jane se perguntou.
Todo mundo estava tendo que apertar o cinto hoje em dia, ter mais empregados
do que o necessário era uma coisa do passado, a menos que você fosse
extremamente rico. Apenas homens teimosos como o pai gostavam de manter
as aparências. Ela precisaria de alguma ajuda em Witherington House, talvez
ela pudesse levar alguns deles. Pode ser visto como um degrau descendente por
Saunders, o mordomo, e a Sra. Driver, a governanta, que estava com eles desde
que ela conseguia se lembrar, mas era melhor do que ficar sem emprego e sem
casa. O problema era que Witherington House talvez não estivesse pronta
quando chegasse a hora.

Mark os ouviu chegar e saiu para encontrá-los. Ele estava vestido para
caminhar, embora sem chapéu.

— Bom dia, minha senhora — disse ele alegremente. — Não pensei em


ter o prazer de te ver de novo tão cedo. — Ele a ajudou a descer e depois se
virou para ajudar Jane a descer. — Como vai você, Jane? — Ele perguntou,
procurando o rosto dela.

Seu olhar terno de preocupação a desconcertou.

— Estou bem, obrigada — disse ela, de pé em uma perna enquanto


procurava sua muleta. Ele pegou e entregou a ela com um sorriso. Era tudo o
que ela podia fazer para voltar o sorriso dele e agradecer.

— Lady Wyndham está em casa? — Grace perguntou.

— Sim, eu vou te levar até ela.

— Vou esperar aqui — disse Jane. Ela não queria testemunhar o que
sabia que sua mãe considerava humilhação, nem achava que sua mãe gostaria
que Mark estivesse presente. — Preciso falar com você, Mark, se você puder me
dar um tempo.

— Claro. Você consegue chegar até o jardim murado? Há um assento em


uma árvore lá.

— Sim. Estou me tornando bastante hábil em usar isso. — Ela levantou a


muleta.

Ele introduziu Lady Cavenhurst na casa e Jane fez seu caminho


lentamente para o caramanchão do jardim e sentou-se pesadamente. Andar
com uma muleta não era tão fácil quanto parecia e fazia seu ombro doer, mas

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


esse era o menor dos seus problemas. Havia uma madressilva subindo pela
boca do caramanchão enchendo suas narinas com seu cheiro e ela respirou
fundo, mais para se acalmar do que para cheirar a flor. Quanto dizer quanto
deixar de fora?

Ela podia vê-lo enquanto ele descia o caminho em sua direção e podia
admirar sua figura esplendidamente musculosa; a maneira como ele andava,
não rigidamente, mas de pé com uma graça fácil; o corte esplêndido de suas
roupas; o jeito que ele sorriu. Isabel se casaria com ele? Sua irmã não pensaria
duas vezes em mudar de ideia novamente, se isso significasse que ela não
precisava ir para a Escócia. Jane doeu pensar que ele seria machucado de
qualquer maneira. As fofocas seriam terríveis se ela não o fizesse. Pode- se dizer
que ele renegou quando era tão óbvio que não haveria dote e a família foi
perdida. Por outro lado, se ela se casasse com ele, eles poderiam ser felizes?

— Agora, Jane — disse ele, sentando-se ao lado dela. — O que posso


fazer para você?

— Minha mãe vai contar à sua mãe uma notícia que terá consequências
para todos nós — ela começou. — E me foi dada a tarefa de lhe falar porque
Isabel se recusa a fazê-lo.

— Isso parece ameaçador.

— Receio que seja.

— Continue.

— Oh, céus, isso é difícil.

— Minha querida Jane — disse ele, colocando a mão sobre a dela e


aumentando os nervos. — Nada pode ser tão ruim que você não possa confiar
em mim, com certeza? O que sua irmã fez agora?

— Isabel não fez nada. É o meu pai Ele está em dificuldades financeiras e
deve vender a Greystone Manor. Meus pais vão dizer que não precisam mais
morar em uma casa tão grande e vão para a Escócia para a saúde de mamãe.

— Bom Deus! — Ele disse. — Eu sabia que Sir Edward estava lutando,
mas não fazia ideia de que era tão ruim assim. Como isso aconteceu?

Ela contou o que o pai havia dito no dia anterior, sem guardar nada, ela
sentiu que ele merecia conhecer o todo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Isabel não quer ir para a Escócia e nem eu. Vou morar na
Witherington House. Isabel, é claro, manterá sua promessa de se casar com
você. Ou seja, se você ainda a tiver.

— Deixando você para trás? — Ela notou que ele não fez nenhum
comentário sobre sua declaração de que Isabel ainda se casaria com ele.

— A escolha é minha.

— Mas Witherington House não é habitável.

— Espero que seja, ou pelo menos parte dela, quando a mansão for
vendida. A casa vai precisar de uma governanta, então por que não eu?

— Jane, eu não gosto nada dessa ideia.

— Você não precisa gostar disso. Mas agradeceria sua ajuda para fazer as
coisas funcionarem.

— É óbvio. Eu já escrevi para Cecil Halliday.

— Sem dúvida, ele conhecerá nossa situação. Você acha que isso fará
alguma diferença?

— Não vejo por que deveria. Os assuntos de seu pai não são da conta,
cujos fundos são seguros.

— E você acha que talvez pudéssemos contratar alguns empregados da


Mansão se eles não encontrassem posições para si?

— Querida Jane — ele disse gentilmente. — Sempre pensando em outras


pessoas e não em você. Deve ter sido um golpe terrível para você.

Ela tremeu com o carinho. Ela não devia deixá-lo ver como ela foi afetada
por isso, ela realmente não devia. Ela forçou um sorriso.

— Meu caminho é claro, Mark. Vou pisar com firmeza.

— Você acha que Sir Edward aceitaria minha ajuda financeira?

— Tenho certeza de que ele não faria e imploro que você não mencione
isso. Seu orgulho já foi gravemente ferido. De qualquer forma, as dívidas estão
todas nas mãos de um homem, e vender a Mansão para pagar a ele é a única
maneira de papai ter mais alguma coisa.

— Você não pode estar falando de lorde Bolsover?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Sim. Ele fez exatamente o que fez com Teddy.

— O homem é mau. Não consigo entender o motivo dele.

— Não, mas encontrei algo interessante outro dia — disse ela. — Eu


acredito que ele tem uma conexão com Hadlea.

— Eu nunca ouvi falar disso.

— Encontrei uma lápide no cemitério, não na área consagrada, mas fora


dela. Era em memória de Colin Bolsover Paget, filho de Lord e Lady Paget, que
morreu em 1649. Ele tinha apenas 27 anos. Havia outros memoriais antigos de
Paget, mas nenhum com o nome de Bolsover que eu podia ver.

— Provavelmente era o nome de solteira de sua mãe.

— Mas certamente significa que há uma conexão?

— Pode ser coincidência.

— Acho que não. Lorde Bolsover falou da mansão, de vingança, lembra-


se?

— Sim. — Ele fez uma pausa. — Duvido que faça alguma diferença, mas
estou curioso o suficiente para querer descobrir a história por trás desse
suicídio. Existem livros antigos em Broadacres que meu pai recolheu sobre a
história da região. Vou ver o que posso descobrir.

— Obrigada. Não sei o que faria sem você.

— Você disse isso antes.

— Eu quis dizer isso.

Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.

— É melhor voltarmos para a casa. Lady Cavenhurst estará esperando


por você.

***

— Você contou a Mark? — sua mãe disse quando o pequeno pônei os


levou de volta à mansão.

— Sim. Ele merecia a verdade. — Ela ficou em silêncio por um momento


e acrescentou: — O que Lady Wyndham disse?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Ela estava chocada. Nós choramos juntas. Sentirei sua falta mais do
que posso dizer, mas ela diz que somos bem-vindos a visitar quantas vezes
quisermos. Afinal, Mark será nosso genro.

Jane contemplou essa ideia, mas isso a deixou tão infeliz que ela a
empurrou. Ela realmente deveria parar de pesar nele; ele não era para ela e
nunca seria. Se ela pudesse se separar dele, ela faria isso, mas ambos estavam
tão envolvidos no projeto Casa das Crianças Hadlea, não havia nada a fazer
sobre além de fazer o que ela havia lhe dito que faria: trilhar firmemente o
caminho escolhido. Mas, oh, como seu coração doía.

— Helen disse que precisaria de um mordomo e de uma empregada


doméstica quando se mudasse para a casa do dote e ficaria feliz em empregar
Saunders e a senhora Driver. Daniel também, porque ela precisaria de um
cocheiro e não queria privar Mark de seus servos.

— Isso foi gentil da parte dela.

— Gostaria que você não fosse tão teimosa por não vir conosco, Jane.
Parece que uma dama solteira não mora sozinha.

— Não vou ficar sozinha. Vou ter pessoal, talvez alguns dos funcionários
da Manor venham comigo. Além disso, já superei a idade de precisar de um
acompanhante.

A senhorita suspirou.

— Se você acha, mas pelo menos estará perto de Isabel e Mark.

Jane não respondeu a isso.

***

Os dias seguintes em Greystone Manor foram infelizes. Todo mundo


andava com rostos preocupados e olhos cheios de lágrimas enquanto
começavam a lidar com a bagagem daqueles pertences que levariam com eles.
Lady Cavenhurst recebeu uma carta de seus pais dizendo que todos seriam
bem-vindos, que, se eles preferissem uma casa própria, um dos agricultores
arrendatários estava se mudando e eles poderiam mudar para a casa dele.

— O lugar é um celeiro — ela resmungou. — Sem nenhuma


conveniência. E congela no inverno. Estou começando a me sentir como uma
péssima relação.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Jane se absteve de apontar a verdade e, em vez disso, sugeriu que sua
mãe decidisse o que levar para torná-la mais caseira. Sua senhoria gostaria de
levar tudo - sofás, quadros, ornamentos, louças, talheres, roupa de cama, mas
foi avisada pelo marido de que não pretendia contratar mais do que uma
carroça grande, e era melhor ela decidir o que era essencial e o que poderia ser
deixado para trás seria vendido. Jane observou que ele era incomumente
perspicaz com todo mundo e ela sabia que a tensão estava lhe dizendo. Sophie
estava jogando roupas por todo o quarto e lamentando o fato de que ela não
podia levar seu pônei. Isabel, que já havia decidido se casar com Mark, estava
revendo seu guarda-roupa, sabendo que podia comprar o que quisesse em
roupas quando se tornasse Lady Wyndham, mas certamente não parecia feliz
com isso.

Quanto a Jane, ela descartou o uso da muleta e levou a charrete para a


Witherington House para inspecioná-la mais de perto e conversar com o Sr. e a
Sra. Godf sobre o futuro, dizendo a eles o que ela pretendia e pedindo que
ficassem.

— Teremos todo o prazer, senhorita — disse Silas.

— Vai ser bom ter crianças no local novamente — acrescentou o senhor


Godfrey. — Sempre havia crianças nos velhos tempos, rindo e se metendo em
travessuras. Sir Jasper deixava-os fugir para o lugar e Lady Paget sempre lhes
dava guloseimas.

— Paget? — Jane perguntou. — Você disse Paget?

— Sim, preocupa o nome deles. Você não sabia disso?

— Não, quando você falou de Sir Jasper, não mencionou o sobrenome


dele.

— Eu pensei que todo mundo soubesse disso.

— Você disse que havia crianças. Entendi que Sir Jasper não tinha
parentes próximos e foi por isso que os advogados tiveram tanto problema em
encontrar seus herdeiros.

— Eles eram filhos de primos. Eles cresceram e se afastaram. Pararam de


vir.

— Por quê?

— Eu não sei, não é? Não é da minha conta e faz muito tempo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você já ouviu o nome Bolsover em conexão com a família?

— Não posso dizer que ouvi. Por quê?

— Oh, sem motivo. — Ela se afastou deles, pretendendo fazer as


medições dos quartos do primeiro andar e tomar nota de quantas camas cada
um poderia acomodar, mas ela não conseguia se concentrar no que estava
fazendo. Ela desistiu e saiu para inspecionar as dependências que nunca tinha
visto antes. Silas estava dando a Bonny um pouco de aveia.

— Ele é um sujeito robusto — disse ele.

— Sim, e muito fácil de dirigir.

— Costumávamos ter meia dúzia de cavalos aqui, uma vez — continuou


ele —, e carruagens e coisas do gênero. Eu tinha ajuda para tomar conta deles.
Mas Sir Jasper se livrou deles, quando sua senhoria morreu, mas ele manteve
um par de éguas para engate com uma velha carruagem, mas quando ele caiu
de cama, eles se foram, se livrou deles também.

Jane estava começando a sentir pena do velho Sir Jasper, sozinho e infeliz
em seus anos decadentes, mas ele tinha uma ligação com lorde Bolsover? Isso
faria diferença nos planos dela? Mal podia esperar para contar a Mark,
esquecendo sua decisão de não chamá-lo, mais do que poderia ajudar.

***

Mark estava sentado na biblioteca com a cabeça nas mãos. Sobre a mesa à
sua frente havia vários livros antigos que ele tirara das prateleiras que
procurava, quando um lacaio lhe dissera que a senhorita Cavenhurst havia
chegado e o chamava. Ela estava esperando na sala de estar. Pensando que era
Jane, ele se apressou em ir até ela, com um sorriso no rosto. Ela estaria
interessada no que ele descobrira.

Mas não era Jane, era Isabel. Ele manteve o sorriso, embora tenha sido
um pouco fixo quando ele se curvou para ela.

— Isabel sente-se. Eu não estava te esperando. Como você chegou? Você


viu minha mãe? Foram solicitadas bebidas?

— Bom dia, Mark. — Ela se sentou em um dos sofás e alisou a saia do


vestido de seda verde com as mãos enluvadas. — Caminhei até aqui, e não, não
vi sua mãe e não preciso de refrescos. Não fizemos nada a não ser tomarmos

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


chá em casa à manhã toda. Alguém poderia pensar que é a cura para todos os
males.

— Lamento profundamente o que aconteceu, Isabel. Se eu puder ajudar


de alguma forma, você sabe que eu o ajudarei.

— Obrigada —. Ela virou um sorriso atraente para ele. — Fui muito


boba, pelo que peço perdão.

— Tenho certeza de que não há necessidade disso.

— Mas há necessidade. Veja bem, eu lhe disse que não queria mais me
casar com você e você foi tão galante a ponto de me dizer que iria me apoiar
nisso.

— Sim eu fiz.

— Mas, como eu disse, fui tola, cega por sentimentos e, refletindo,


gostaria de retratar...

— Você quer dizer que não deseja mais interromper nosso noivado? —
Seu intestino estava agitado com uma mistura de decepção, fúria e desamparo.
Se ele pudesse ter dito a ela que não aceitaria a mudança de opinião dela e que,
no que dizia respeito, o noivado estava encerrado e fora, desde que ela o
mencionara pela primeira vez, ele diria. Mas esse curso não era aceitável. Uma
dama pode, com pequena perda de reputação, romper um noivado, mas um
cavalheiro nunca poderia fazê-lo. Isso o deixaria aberto à condenação e ao nojo
de todos no haut monde e ele seria evitado. Ele era obrigado a honrar sua
proposta, como se tivesse dito seus votos de casamento.

— Sim. Sinto muito. Eu deveria ter pensado nisso com mais cuidado
antes de falar.

— E o Drew?

— E ele? Ele me deixou para você, não foi?

— Mas seus sentimentos por ele? Eles não foram sinceros?

— Não é sincero o suficiente para eu enfrentar penúria por conta dele.

Ele riu sem humor.

— Você certamente me colocou no meu lugar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Sinto muito, eu não quis fazer isso. Gosto muito de você, Mark.
Crescemos juntos, tenho certeza de que vamos lidar bem juntos e você não vai
segurar meu lapso contra mim.

— Não, claro que não. — O que mais ele poderia dizer? Ele puxou a
corda do sino ao lado da lareira. Quando um criado chegou, ele pediu que ela
informasse Lady Wyndham que a senhorita Isabel Cavenhurst estava aqui e ela
gostaria de vê-la.

Dois minutos depois, sua mãe entrou no quarto.

— Isabel, que bom ver você. Eu não sabia que você estava aqui ou teria
chegado mais cedo. Sua mãe não está com você?

— Não, minha senhora. Estou sozinha. Eu precisava falar com Mark.

— Sem acompanhante? Querida, querida.

— Eu não pensei nisso. Jane nunca se incomoda.

— Nós não contamos Jane. — Sua senhoria sorriu. — Mas não importa,
você ainda está noiva do meu filho, não é?

— Sim, lady Wyndham, eu estou.

Mark não aguentou mais. Ele deu desculpas e voltou para a biblioteca,
onde se jogou em uma cadeira e, gemendo, colocou a cabeça nas mãos. As
palavras de sua mãe queimaram em seu cérebro. “Nós não contamos Jane”.
Como eles poderiam ser tão depreciativos? Como eles poderiam tirar tudo dela
e não dar nada em troca? Ele a amava, amava sua natureza quieta, seu
altruísmo, a maneira como ela se importava com todos, sacrificando sua própria
felicidade por isso, por seus adoráveis olhos expressivos quando o olhava, seu
doce sorriso, seu pé no chão, honestidade, sua coragem. Quem se casasse com
ela se casaria com um tesouro e ele desejava que fosse ele.

Ele ouviu sua mãe se despedir de Isabel, depois um lacaio escoltando


Isabel pela longa galeria até a porta da frente e então sua mãe veio procurá-lo.

— Você nos deixou às pressas, Mark.

— Não suportava ouvir você falar de Jane dessa maneira improvável,


mãe. Ela conta.

— Ah. — Ela ficou pensativa ao se sentar ao lado dele. — Então é Jane.


Oh céus.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Mãe, você sabe que fiquei aliviado quando Isabel disse que queria
interromper o noivado, eu te disse.

— Sim, mas você não mencionou Jane e eu pensei que você estava
apenas sendo corajoso.

— Não, eu quis dizer isso, mas eu mal podia pular de um noivado para
outro, poderia? Jane nunca teria concordado em nenhum caso. Eu precisava de
tempo. E agora parece que não tenho tempo.

— Jane sabe?

— Claro que ela não sabe.

— Melhor que ela nunca saiba. Você não pode se afastar do fato de estar
noivo da irmã dela. Talvez seja melhor você não ver Jane com tanta frequência.

— Isso vai parecer estranho, considerando que somos ambos curadores


da Casa das Crianças Hadlea e já estamos trabalhando nisso há algum tempo.
Será como se tivéssemos brigado.

— Então, você continuará se torturando quando estiver planejando seu


casamento. Isabel me diz que quer isso antes que seus pais partam para a
Escócia e eu disse que seria melhor. Não sei a data em que a mudança está
planejada, mas essas coisas levam tempo e acho que não será antes dos seis
meses de luto terminar.

— Isabel é uma pequena senhora egoísta. Ela só está fazendo isso porque
não quer ir para a Escócia com os pais. Ela não tem amor por mim, apenas o que
posso lhe dar, ela foi tão boa que disse isso.

— Oh, querido, gostaria que você tivesse me confidenciado mais cedo,


Mark.

— Por quê? O que você poderia ter feito?

— Eu poderia ter aceitado a situação em vez de concordar com Grace,


que Isabel mudaria de ideia e assumido que sim. Isabel poderia ter percebido
que não havia volta.

— Tarde demais, mamãe, e duvido que isso faça alguma diferença.

— Talvez não. — Ela se levantou para deixá-lo. — O que você está


fazendo com isso? — Ela perguntou, notando os livros empoeirados sobre a
mesa.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Algumas pesquisas sobre a família Paget. Halliday me disse que Sir
Jasper Paget era o proprietário anterior da Witherington House e pensei que
tinha encontrado o nome em algum lugar.

— Sem dúvida você encontrou. Existem túmulos no cemitério e uma


tabuleta na parede dentro da igreja. Você deve ter visto dezenas de vezes. Está
sobre o banco ao lado do nosso.

— O que você sabe sobre eles?

— Nada mesmo. Os túmulos são muito antigos. Isso importa?

— De modo nenhum.

— Então guarde-os e ande comigo no jardim. Está um dia adorável e


tenho vontade de colher algumas rosas.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Dez

Jane parou no cruzamento da aldeia, com a intenção de virar para


Broadacres quando viu Isabel caminhando daquela direção. Ela parou e
esperou por ela.

Isabel subiu ao lado dela.

— Estou feliz que você veio Jane — disse ela. — Meus sapatos novos
estão apertando como o diabo.

Jane sacudiu as rédeas e o cavalo correu em direção a casa. Contar a


Mark sobre Sir Jasper teria que esperar.

— São os que você comprou em Londres?

— Sim. Eles ficam bem quando estou andando de carruagem, mas não
quando estou andando.

— Onde você esteve?

— Em Broadacres.

— Sem a mamãe?

— Sim. Eu precisava falar com Mark.

— Oh. E você falou?

— Sim. Chegamos a um entendimento.

Embora ela estivesse meio preparada para isso, as palavras de Isabel


acabaram com qualquer esperança que Jane pudesse ter. Mais tola por até
diverti-la, ela disse a si mesma ferozmente.

— Com isso, suponho que você quer dizer que o noivado está novamente
em pé.

— Sim, ele está.

— E o que Mark disse?

— Ele ficou encantado, é claro, e me perdoou por minhas dúvidas.

— E agora você não tem dúvidas?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Nenhuma. Devemos nos casar antes de mamãe e papai partirem para
a Escócia, então você acha que pode deixar de lado seu fascínio pelo projeto de
orfanato por um tempo e terminar meu vestido de noiva?

— Claro. Em todo caso, há pouco a ser feito.

***

Eles mal haviam entrado na casa quando Sir Edward correu na direção
deles.

— Jane, onde você esteve? Eu tenho procurado em todos os lugares por


você.

— Estive em Witherington, papai. Aconteceu alguma coisa?

— Há pessoas que vêm visitar a casa esta tarde e sua mãe se recusa a
encontrá-las. Você terá que substituí-la. — Ele se virou para a filha mais nova.
— Isabel vá e fique em companhia de sua mãe. Ela está em seu quarto. Sophie
está lá fora andando.

Isabel os deixou e ele se virou para Jane novamente.

— Eles estarão aqui em menos de meia hora.

— Então devo trocar de roupa e pedir a Bessie que arrume meu cabelo. A
Witherington House é tão empoeirada que é impossível não sujar a roupa. Serei
o mais rápido que puder.

***

Meia hora depois, ela voltou à sala de estar, vendo-a com os olhos de um
estranho e percebendo que não daria uma boa impressão. Os móveis eram
pobres e havia manchas escuras no papel de parede onde sua mãe tinha
retirado às pinturas. Papai dissera que não podia leva-los, mas ela não os tinha
colocado de volta. Eles estavam no chão, encostados na parede. As prateleiras
do armário onde outrora havia uma exibição de figuras de porcelana estavam
vazias e pareciam abandonadas. E as flores no vaso da lareira estavam caídas.
Ela pegou e colocou do lado de fora da janela no terraço, assim quando eles
ouviram a batida da porta da frente.

O Sr. e a Sra. Somerton eram indubitavelmente novos e ricos . Ele era


corpulento e usava um casaco verde-escuro, colete amarelo, cujos botões

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


passavam por seu estômago e calça creme, amarrada sob os sapatos. Ela era
ainda mais gorda, com tafetá e carregada de joias. Ela e Jane fizeram uma
reverência enquanto Sir Edward explicava que ele havia pedido à filha que os
recebesse por causa da saúde debilitada da esposa.

— É por isso que estamos saindo daqui — disse ele. — Nós já


começamos a reunir nossos pertences, como você pode ver.

— Esperávamos que fosse mobiliado — disse Somerton, olhando em


volta com desgosto.

O resto da casa, além do quarto de sua senhoria, foi visto com a mesma
reação e o casal partiu, deixando bem claro que não estariam comprando.

***

O mesmo aconteceu com as próximas duas pessoas que Halliday lhes


enviou. Tendo se empenhado em perder a casa, agora descobriram que
ninguém queria comprá-la. Lady Cavenhurst, Isabel e Sophie estavam
secretamente satisfeitas, embora Jane fosse mais realista e Sir Edward estivesse
em desespero, porque ele sabia que não poderia segurar Lorde Bolsover por
muito mais tempo.

***

Então o próprio homem terrível chegou. Ele chegou em uma carruagem


extravagante puxada por quatro cavalos excelentes e bateu na porta da frente
com sua bengala.

Jane estava no andar de cima, na galeria do primeiro andar, depois de


chegar da sala de costura onde estava dando os retoques finais no vestido de
noiva de Isabel, quando viu Saunders, com a dignidade de sempre, admiti-lo e
pedir seu nome.

— Vá e diga ao seu senhor que Lorde Bolsover que está aqui para ver a
propriedade.

Jane ficou surpresa. Por que o homem queria ver a propriedade?


Certamente o Sr. Halliday não o enviou? Ela desceu as escadas da maneira mais
imponente e calma possível, embora por dentro estivesse tremendo. Ele a viu e
ficou observando ela descer. Até que ela chegou ao fundo, ela falou.

— Lorde Bolsover, boa tarde.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele se curvou.

— Srta. Cavenhurst, espero vê-la bem?

— Muito bem, obrigada. Por que você está aqui?

— Vou dizer ao seu pai quando ele se apresentar.

— Espero que alguém tenha ido buscá-lo. Ele pode estar na propriedade
em algum lugar. Você vai entrar na sala de espera para esperar por ele?

— Muito bem, mas espero que ele não demore.

Ela liderou o caminho e ofereceu uma cadeira a ele.

— Se você tivesse nos avisado de que viria, estaríamos esperando pelo


senhor.

Ele riu de repente.

— Eu duvido. Vocês todos teriam se escondido.

— Não temos nada a esconder, lorde Bolsover.

— Não? O fato de Greystone Manor estar à venda? Isso foi uma coisa
secreta a se fazer.

— O que você esperava que meu pai fizesse? Ele tem dívidas a pagar,
como você bem sabe.

— Duvido que a venda as cubra. Quanto ele está pedindo? Dez mil, eu
acredito. Preço está supervalorizado em pelo menos três mil.

— Como você sabe o valor?

Ele sorriu.

— Tenho minhas fontes. Eu conheço as dívidas de Sir Edward até o


último centavo, eu sei das dívidas de seu irmão e eu sei o quanto Sir Edward
espera obter com a venda. A menos que minha aritmética esteja com defeito, os
números não se somam.

Ela fingiu indiferença, mas não conseguiu reprimir a sensação de


desespero que a dominava. Ele estava certo?

Seu pai chegou e a salvou de ter que responder.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Papai — disse ela —, este é Lorde Bolsover. Meu senhor, sir Edward
Cavenhurst.

O pai ignorou a mão estendida de Bolsover e ficou de frente para ele.

— O que você quer? — Ele demandou. — Por que você está aqui? Minha
esposa está doente e sua presença a perturbará. Por favor, saia.

— Vou quando terminar. Eu gostaria de ver as instalações.

— Por quê? — Jane exigiu. — Você certamente não está pensando em


comprar?

— Eu não preciso, preciso? — Ele estava se dirigindo a Sir Edward. —


Sua dívida comigo cobre facilmente o preço que você pagou pela propriedade,
que me disseram que está muito acima do seu verdadeiro valor de mercado.
Você não conseguiu vender, conseguiu?

— Tenho muito tempo.

— Não, senhor Edward, não há tempo. Estou cobrando a dívida


imediatamente.

Jane ofegou e seu pai ficou mortalmente pálido.

— Por quê? Por que você está fazendo isso conosco? Não fizemos nada
para prejudicá-lo.

— Ah, mas aí você está errado. — Ele sorriu de repente, um sorriso que
enviou um calafrio nas veias de Jane. — Preciso de uma casa e acho que a
Greystone Manor me servirá muito bem, mas preciso olhar em volta para ver se
ela cobre as oito mil libras devidas a mim.

— Não devo nada assim — disse Sir Edward.

— Se você adicionar as dívidas de seu filho às suas e há juros a serem


adicionados todos os dias a dez por cento. Então, você vai me mostrar o
caminho, ou devo andar sozinho?

— Jane irá acompanhá-lo. Eu devo ir para minha esposa. — Ele se


afastou, deixando Jane encarando lorde Bolsover.

— Devemos ir? — ela disse, liderando o caminho.

Ela o levou de quarto em quarto, no andar de baixo e no andar de cima,


evitando o quarto da mãe, onde o murmúrio de vozes podia ser ouvido através

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


da porta fechada. Então eles voltaram para o andar de baixo e ela o levou pela
cozinha até o estábulo e as dependências, que ele inspecionou.

— Essa é a casa e dependências imediatas — disse ela quando isso foi


feito. — Há um parque de trezentos acres, alguns bosques, três fazendas com
casas de fazenda e os prédios habituais, e algumas casas de fazenda. Se você
quiser vê-las, sugiro que contrate um cavalo e passeie por conta própria, mas
acredito que já tenha visto o suficiente.

— Eu estava certo — disse ele, rindo de seu tom agudo. — Você é a única
da família com fogo. Eu gosto disso.

— Gostaria de saber por que você está tão decidido a nos arruinar.

— Em breve, se tudo correr bem, vou lhe contar. Agora gostaria de falar
com Sir Edward novamente.

Ela o precedeu de volta à sala de estar onde o deixou enquanto


procurava seu pai. Ele estava com a mãe e Isabel.

— Ele foi embora? — Sua mãe perguntou.

— Não, mamãe, ele quer ver o papai.

Sir Edward se levantou da cadeira e as deixou.

— O que esse homem quer? — Isabel perguntou.

— Ele diz que está cobrando as dívidas de papai imediatamente e queria


ter certeza de que a propriedade as cobria.

— Você quer dizer que ele nem vai nos dar tempo para vender? — Sua
mãe perguntou.

— Não, a menos que papai possa convencê-lo disso. Ele adicionou as


dívidas de Teddy às de papai e está cobrando dez por cento de juros.

— Mas isso é ultrajante!

— Sim é — concordou Jane. — Eu acho que é um meio para um fim. Ele


quer a Greystone Manor e está determinado a tê-la. Quando Teddy se
endividou, viu uma maneira de obtê-la.

— Mas por quê?

— Eu perguntei a ele e ele se recusou a dizer.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O que nós vamos fazer? — Lamentou Isabel. — E o meu casamento? O
que Mark dirá? E Lady Wyndham? Ela pode ser muito intimidadora.

— Tenho certeza de que não fará diferença para Mark — disse Jane.

— Mas onde vou morar até o casamento? Eu esperava me casar daqui.

— Seu pai vai pensar em uma solução — disse sua senhoria, com uma fé
simples em seu marido, que Jane achou mal fundada. — Ele não vai nos ver ser
despejados.

Houve uma batida na porta que, em seu estado de nervosismo elevado,


fez todos pularem, mas era apenas Bessie com uma mensagem para Jane.

— Sir Edward disse para se juntar a eles — disse ela. — Eles estão na sala
de livros.

Jane relutantemente foi. Sir Edward estava sentado em sua mesa, com
papéis que pareciam muito com ações espalhadas na frente dele. Lorde
Bolsover estava parado na janela, de costas para o quarto. Ele se virou quando
Jane entrou.

— Jane, minha querida — Começou o pai e havia um tremor distinto em


sua voz. — O seu senhorio sugeriu uma saída do nosso dilema e isso diz
respeito a você. Quero que você ouça com muita atenção o que ele tem a dizer.
—Ele se levantou para sair. — Você pode não concordar e eu não a oponho a
você, se não quiser, mas imploro que pense em sua pobre querida mãe e suas
irmãs. — E com isso ele se afastou, fechando a porta atrás de si, deixando Jane
encarando lorde Bolsover.

— Vamos nos sentar? — Ele sugeriu agradavelmente e, pegando a mão


dela, levou-a para o sofá, onde se sentaram lado a lado.

Perplexa, ela puxou a mão da dele e não disse nada. As palavras de seu
pai haviam consumido seu cérebro e só podiam ter um significado. Ela esperou.

— Não desejo que sua família seja perdida — ele começou.

— Então você tem uma maneira estranha de mostrar isso.

— Estou de olho em Greystone Manor há vários anos, toda a minha vida,


na verdade. Sempre considerei meu direito de primogenitura.

— Por quê? Os Cavenhurst viveram aqui por gerações.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu sei. Desde 1649.

A data ecoou em sua cabeça. A data na lápide.

— Colin Bolsover Paget — murmurou.

— Ah, então você encontrou.

— Sim, mas eu não sei o motivo disso.

— Colin Bolsover Paget era tão tolo a ponto de se apaixonar pela filha de
uma Roundhead17. Os Pagets eram monarquistas até o âmago. Eles se
recusaram a permitir que Colin se casasse com sua Gabrielle, mas ele os
desafiou e mudou de lado. Ele se viu opondo-se aos primos de Paget e Bolsover
na batalha. Gabrielle tentou ficar entre eles e, consequentemente, perdeu a vida.
Colin sobreviveu à batalha, mas ele foi excluído de sua família e seus sogros
Roundhead o culparam pela morte da filha e tornaram sua vida uma miséria,
ele acabou com ela. Os Roundheads reivindicaram a casa de Paget.

— Greystone Manor.

— Sim. O último Paget viveu sua vida na Witherington House, que


acredito que você descobriu.

— Onde você entra nisso tudo?

— A mãe de Colin era Bolsover, filha do ancestral de meu pai, o primeiro


lorde Bolsover. Eu ouvi a história no joelho do meu pai como toda geração.
Cada um de nós jurou vingança, mas ninguém conseguiu isso até agora.

— Eu nunca ouvi essa história.

— Não há razão para que você deva. Não é algo de que os Cavenhursts
possam se orgulhar, não é? Os Pagets que restavam esperavam que suas
propriedades lhes fossem devolvidas com a restauração da monarquia, mas não
foi assim. Colin Paget não foi o único a mudar de lado.

— E você acha que esse conto de Banbury18 vai me fazer olhar mais
favoravelmente em você?

— Espero que sim, porque tenho uma proposta a fazer.

17Roundheads: Nome dado a puritanos e outros apoiadores do Parlamento durante a


Guerra Civil Inglesa.
18 Uma história que não faz sentido ou que divaga sem fim aparente.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Proposta? — Ela ecoou.

— Sim. Você deve ter adivinhado.

— Nunca! — Ela estava quase gritando e baixou a voz. — Nunca em mil


anos. Não consigo pensar por que você pensou nisso.

Ele riu levemente.

— Me ocorreu quando te conheci em Londres. Você me atraiu de uma


vez. Minha mãe viúva está ansiosa para me ver casado antes de partir desta
vida e insiste que eu me case e estabeleça meu próprio lar. Preciso de uma casa
e uma esposa e acho que encontrei as duas aqui.

— O que diabos faz você pensar que eu concordaria com isso?

— Sir Edward pediu que você me ouvisse e é apenas cortês fazê-lo.

Ela não entendia por que ela deveria ser cortês com ele, mas por seu
amor ao pai ela não disse nada, permitindo-lhe continuar.

— As dívidas de seu pai e irmão somam quase nove mil libras,


consideravelmente mais do que o valor da propriedade, então vendê-la e pagar-
me o deixariam ainda em dívida. Ele fez uma pausa. — Ah, isso te choca,
entendo. Mas estou preparado para contar apenas o que paguei pelas dívidas,
que é naturalmente muito menor que o valor nominal, e permitirá que o valor
mais baixo seja comparado ao valor de Greystone Manor. Se o acordo for
alcançado rapidamente, restará o suficiente para que seus pais saiam daqui com
um pouco de dinheiro na mão e com a dignidade intacta, o que é algo que seu
pai dá muita importância. Você, é claro, continuará a viver aqui como minha
noiva.

— Não.

— Não? Seu pai não pediu para você pensar sobre isso com cuidado?
Certamente você pode ver as vantagens para todos? Terei um lar e uma esposa
encantadora, a quem tratarei com cortesia e respeito, minha mãe ficará
satisfeita, seus pais terão um pouco de dinheiro para viver suas vidas com um
conforto modesto, seu irmão pode voltar ao seio de a família dele e você, minha
querida, poderá continuar seu trabalho para os órfãos. Eu posso até ajudá-la
com isso.

Ela não respondeu. Tudo o que ele disse estava cravando um prego em
seu coração e quase o impedindo. A ideia toda era repugnante para ela e o pior

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


era que seu pai esperava que ela concordasse. Como ele podia? Como ele
poderia perguntar isso a ela? Ele achava que ela estava tão ansiosa para se casar
que aceitaria isso... Isso...? Um epíteto adequado falhou com ela.

— Eu choquei você em silêncio — ele acrescentou —, mas darei uma


semana para você se decidir. Nesse período, espero que você considere
cuidadosamente as consequências da recusa. Sua família será pobre e eu ainda
possuirei a mansão. E caso você estivesse pensando em mudar todo mundo
para Witherington, eu também poderia interromper a venda.

Ela se levantou e correu para fora da sala, determinada a que ele não
visse suas lágrimas. Ela parou no corredor. Em qualquer outra circunstância, ela
teria buscado conforto e consolo do pai e da mãe, mas não podia fazer isso,
desta vez eles eram a fonte de sua angústia. Não havia ninguém a quem
recorrer, nem mesmo Mark, que sem dúvida tentaria confortá-la, mas ele estava
noivo de sua irmã e ela jurou não o chamar mais do que poderia ajudar pelo
bem de Isabel.

Ela saiu correndo pela porta da frente e contornou a lateral da casa sem
nenhum destino em mente. Como ela acabou nos estábulos, ela não sabia, mas
se viu soluçando no pescoço de Bonny. Ele estava quente e nunca a
decepcionara, nunca a exigira; seus olhos brilhantes pareciam dizer que ele
entendia. Ainda chorando, ela encontrou arreios e sela e os colocou sobre ele,
mesmo que ele fosse um pônei raso e não acostumado a uma sela. Ela usou uma
velha ferramenta de ordenha para montar e galopou para fora do quintal,
ignorando o grito de Daniel.

Ela não sabia para onde estava indo. Não se importava. Ela nem
percebeu outros veículos na estrada, nem que uma carruagem teve que puxar
para o lado para permitir que ela passasse. Ela galopou, passou pela Fox e
Hounds, atravessou a encruzilhada, ignorando a curva para Witherington e
estava nos portões de Broadacres e subindo a estrada antes que de repente
recuperasse a razão. Ela não deveria estar aqui!

— Uoa! — ela gritou e puxou bruscamente as rédeas, fazendo Bonny


parar de correr. Ele se levantou por ser tão mal usada e a jogou no chão.

Naquele momento, Mark apareceu dirigindo sua charrete e apenas com a


sua habilidade conseguiu parar antes de atropelá-la. Cavalos, pônei e charrete
estavam em uma pilha emaranhada. Ele se livrou e correu para ela. Jane estava
inconsciente e mortalmente pálida e vestida com um vestido da tarde, não um

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


traje. Ela não usava chapéu, o que poderia oferecer um pouco de proteção para
sua cabeça. Algo terrível deve ter acontecido para trazê-la assim.

— Oh meu Deus! — Ele caiu de joelhos ao lado dela. — Jane! Jane,


acorde. Acorde, por favor. — Ele resistiu ao impulso de sacudi-la para acordá-la
e apalpou todo o seu rosto e a cabeça. Sua mão saiu coberta de sangue. — Por
favor, Deus, não a deixe morrer — ele orou em voz alta. — Deixe-a viver. Eu
preciso dela... — Ela não se mexeu. Ele deveria pegá-la e carregá-la para dentro
de casa? Ou deveria deixá-la deitada na estrada até que uma maca pudesse ser
trazida para carregá-la? Ele olhou em volta. Não havia ninguém disponível
para pedir uma. Ele se levantou, inclinou-se para pegá-la e caminhou o resto do
caminho até a casa.

Ele foi recebido por Thompson, que ouvira o som do acidente e o


relinchar dos cavalos e estava a caminho de investigar. Mark contou
rapidamente o que havia acontecido e o mandou cuidar das charretes e dos
cavalos, depois, levou Jane para dentro de casa e chamou sua mãe.

— Mark, o que aconteceu? — Ela disse, olhando para o fardo dele.

— Ela estava subindo a estrada e caiu. Eu quase a atropelei. Mande


chamar o Dr. Trench, por favor.

— Sim, claro que sim. E lady Cavenhurst também. — Ela se virou para
um lacaio para lhe dar instruções. Depois, para Mark: — Se ela estava andando,
por que ela está vestida assim?

— Não sei, mamãe, mas algo terrível deve ter acontecido na mansão.
Talvez ela estivesse nos pedindo ajuda.

— Grace nos dirá quando chegar. Leve-a para o quarto azul. Vou mandar
Janet até você. Janet era sua antiga enfermeira, que já tinha passado da idade da
aposentadoria, mas não tinha mais para onde ir e continuou a morar em
Broadacres, fazendo-se útil de muitas maneiras, principalmente quando alguém
da casa estava doente.

No quarto de dormir, sempre referido como o quarto azul por causa de


suas cortinas e colchas serem da cor de um céu de verão, ele colocou Jane
gentilmente na cama. Ela ainda estava profundamente inconsciente e ele tinha
medo por sua vida. Se ela morresse, ele não sabia o que faria. A culpa era dele,
ele não deveria ter dirigido o carro tão rápido. Ele caiu de joelhos ao lado da
cama e acariciou seu rosto branco como papel.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Jane, você deve viver — ele murmurou. — Eu te amo. Sem você, eu
não sou nada. Por favor, minha querida, acorde. — Ele estendeu a mão e
gentilmente beijou sua bochecha. Ela não se mexeu e não deu nenhuma pista de
que tinha ouvido. Seu coração estava batendo muito rápido e depois quase
parando, antes de bater novamente. Ele respirou fundo para se acalmar e pegou
a mão dela.

Ele tinha sido um tolo, deixando a convenção ditar o que ele fazia. Por
que ele não tinha visto o valor de Jane antes de pedir a Isabel? Por que ele
aceitou a ideia de todos, de que ela era a simples Jane e não deveria ser
considerada? Ela estava longe de ser simples, ela era linda. Ela tinha uma
profundidade de beleza que Isabel nunca teria, vinha de dentro dela e brilhava
em tudo que ela fazia. “Jane não conta.” As palavras queimaram em seu
cérebro. Ela contava para ele, mais do que qualquer outra coisa, mais do que a
vida, mais do que riquezas, certamente mais do que a opinião do haut monde. O
problema era que a própria Jane nunca o aceitaria, mesmo que ele a
convencesse a admitir que ela também o amava. Ela nunca trairia sua irmã,
assim como Drew nunca o trairia. Onde estava Drew?

Sua mãe entrou no quarto acompanhada pelo Dr. Trench e Janet.

— Ela acordou?

— Não.

Ele se levantou e, relutantemente, saiu do quarto.

***

Os olhos de Jane se abriram, fecharam novamente e se abriram


completamente. Onde ela estava? Ela estava em uma cama, mas não era a sua
própria cama. Ela virou a cabeça e viu Mark sentado em uma cadeira ao lado
dela. Ele parecia cansado e desgrenhado, mas seu sorriso era amplo.

— Você está finalmente acordada.

— Onde estou?

— Em Broadacres. Você caiu do cavalo na estrada, lembra?

— Não. O que eu estava fazendo?

— Eu acho que você estava vindo me ver.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu estava? — Ela lutou para se sentar, mas ficou surpresa com o quão
fraca ela se sentia e sua cabeça parecia engraçada. Ela levantou a mão e tocou
um curativo espesso. — Sobre o que?

— Eu esperava que você me dissesse.

— Sir Jasper — ela murmurou. — Eu descobri que ele era um Paget e


aparentava ser o homem do cemitério.

— Eu sei. Eu não acho que foi isso. Você não teria saído de casa com
tanta pressa sem mudar a roupa apenas para me dizer isso.

— Eu fiz isso?

— Sim.

— Mamãe sabe que estou aqui?

— Sim, ela tem estado todos os dias.

— Todo dia? — Ela ecoou. — Há quanto tempo estou aqui?

— Uma semana.

— Uma semana!

Ele sorriu.

— Sim, sete dias e em delírio a maior parte.

Ela ficou alarmada.

— O que foi que eu disse?

— Nada que fizesse sentido. As únicas palavras que consegui decifrar


foram Papai, Roundhead, monarquista, casamento e algo que soou como
Bolsover. Tivemos o diabo de um trabalho para parar de se debater e reabrir
sua ferida.

— Oh. Quem somos nós?

— Eu, minha mãe, Janet e sua própria mãe quando ela veio. Ela estava
angustiada como todos nós, mas o Dr. Trench disse que esperava que você se
recuperasse totalmente, a tempo.

— Tempo! — Ela chorou, quando a memória voltou à tona. — Eu não


tenho tempo. Eu tenho que ir para casa.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, você não tem. — Ele a pressionou gentilmente de volta no
travesseiro. — Você não vai sair daqui até eu estar satisfeito de que você está
bem o suficiente. Você está mais segura aqui.

— Mais segura?

— Lorde Bolsover não pode tocá-la enquanto estiver aqui, pode? — Foi
dito com um sorriso.

— Você sabe?

— Sua mãe nos contou. A ideia toda é absurda. — Ele havia encontrado
referências em sua própria biblioteca à Guerra Civil e ao segundo Barão Paget
que morava em Greystone Manor. Ele havia sido um monarquista leal em uma
área de East Anglia que ficava amplamente do lado do Parlamento. Quando os
realistas finalmente foram derrotados, ele perdeu sua mansão em Cavenhurst.
Uma segunda busca nos registros da igreja havia revelado a história do suicida
e a mãe de Colin Paget era uma Bolsover, uma família sediada em
Northampton Shire. Isso pode explicar a determinação de Bolsover em
recuperar a mansão, mas não o motivo que ele havia oferecido a Jane. Não era
amor, ele tinha certeza disso.

— Eu não tenho escolha.

— Quanto mais tempo você estiver aqui, fora do alcance do homem,


mais tempo teremos que pensar em uma solução.

— Não há solução, Mark. Por favor, não me dê falsas esperanças. Meu


dever é claro.

— Dever! Por que você sempre deve ser a filha obediente? — Ele disse
quase com raiva. — Por que você não consegue pensar no que quer às vezes?

Ela suspirou.

— Mark, eu amo demais minha família para vê-los abatidos, se posso


impedi-lo.

— E quanto a mim?

— E quanto a você? Você é meu amigo querido, meu confidente, parceiro


em meus empreendimentos de caridade. Não consigo imaginar perder tudo
isso. Espero que isso continue.

— Claro que vai continuar, aconteça o que acontecer, mas eu...

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Por favor, não mais, Mark. Você vai enviar alguém para me ajudar a
me vestir? Eu gostaria de ir para casa.

Ela tinha que ser forte e resoluta, porque seria muito fácil deitar-se nos
travesseiros e fingir que estava enferma, deixando Mark sentar-se ao lado dela e
segurar sua mão quando ele não deveria estar fazendo nada disso, e esperando
que Lorde Bolsover desistisse e fosse embora. Era uma esperança perdida, e
insistir na bondade e preocupação de Mark por ela só a fez querer chorar.

— Muito bem. — Ele colocou as costas da mão que estava segurando nos
lábios e saiu da sala.

Ela esfregou a mão contemplativamente. Ele parecia genuinamente


angustiado com a situação dela e a maneira como ele procurou em seu rosto e
segurou sua mão a fez pensar... Ela tinha sonhado que ele disse que a amava? A
voz estava distante, como um eco distante, penetrando em sua mente
inconsciente. Não, ela não deve pensar nisso, não deve se esforçar para torná-lo
real. Não era pra ser. Isabel se casaria com ele dentro de algumas semanas e ele
se tornaria seu cunhado. Ela fechou os olhos, mas uma lágrima escapou e
deslizou por sua bochecha.

***

— Jane está determinada em se vestir e ir para casa — Mark disse à sua


mãe quando ele a encontrou na saleta fazendo as contas domésticas. Eles eram
ricos o suficiente para não se preocuparem com o custo de alimentos e velas e
coisas assim, que poderiam facilmente ter sido deixadas para a Sra. Blandish,
mas ela insistia em fazê-las ela mesma. “Minha mãe sempre fazia as dela e a mãe
antes dela”, ela havia dito a ele há muito tempo atrás, quando ele tinha
protestado. “E seu pai aprovava. Seu pai não estava mais lá para aprovar ou
desaprovar”, mas ele a deixou continuar.

— Certamente não? Ela ainda não está forte o suficiente e Grace pediu
que você a mantivesse aqui, de qualquer forma, para ganhar um pouco de
tempo.

— Eu sei. Tentei lhe dizer isso, mas ela não quis ouvir.

— Pobre Mark — disse ela.

— Não é o pobre Mark, é a pobre Jane. Veja se consegue convencê-la,


mamãe. Tenho vontade de falar com Bolsover.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, Mark, você não deve. Ele fará um jogo com você. Você vai acabar
lutando com ele e quem ganhará com isso? Além disso, já há bastante fofoca nas
rodadas e você apenas adicionará a ela. Brigar por uma mulher quando você
está noivo de outra simplesmente não serve.

— Eu preciso fazer alguma coisa. Se ao menos eu soubesse antes do


verdadeiro estado das coisas na Mansão, poderia ter feito algo, emprestado a
Sir Edward algum dinheiro para dispensá-las.

— Você não pôde Mark. No momento em que seu pobre e querido pai
faleceu e você entrou em sua herança, já era tarde demais.

Ele sabia que ela estava certa, não apenas sobre o dinheiro, mas sobre o
confronto com Bolsover. O que ele achou tão difícil de entender era porque um
homem como Hector Bolsover, que desfrutava da vida da capital e passava a
maior parte do tempo em mesas de cartas, gostaria de vir morar em um local
rural como Hadlea. Não fazia sentido.

— Você vai ficar com Jane? Vou até Greystone para dizer que Jane
recuperou a consciência. Vou trazer sua senhoria de volta comigo. Sem dúvida,
ela vai querer ver a filha.

***

Os danos no cabriolé não foram grandes e logo foram reparados, e seu


cavalo e Bonny não sofreram nenhum dano. Em pouco tempo, ele estava
dirigindo pela rua da vila, em direção à mansão. Ao passar pela igreja, viu o
reitor no portão, que acenou para ele parar.

— Como está a enferma? — Ele perguntou, ficando com a mão ao lado


do cabriolé.

— Fazendo um bom progresso, eu acho. Ela recuperou a consciência e é


capaz de falar. Vou contar a Lady Cavenhurst as boas notícias.

— Isso é um grande alívio para todos nós. Em breve ela voltará ao seu
antigo estado de espírito?

— Espera-se que sim.

— Ouvi dizer que ela deverá se casar com o cavalheiro do Fox e Hounds.
As pessoas da vila estão muito empolgadas com isso. Dizem que Srta.
Cavenhurst merece sua felicidade.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— É verdade que sim — disse Mark, com os dentes cerrados.

— Encontrei lorde Bolsover vagando pelo cemitério da igreja. Ele se


apresentou a mim e desejou que eu limpasse o túmulo de Colin Paget de ervas
daninhas e a lápide limpa. É um ancestral dele, acredito.

— Sim, eu ouvi.

— Talvez haja um casamento duplo. Seu senhorio parecia divertido com


a ideia, mas ele não disse que não iria gostar.

— Sinto muito — disse Mark, ansioso para terminar a conversa. — Devo


ir buscar lady Cavenhurst.

— Claro. Não devo detê-lo. — Ele deu um passo atrás. — Por favor, diga
à senhorita Cavenhurst que estou pensando nela e desejo-lhe tudo de bom.
Diga a ela que recrutei alguns voluntários para ajudar a limpar a Witherington
House quando ela estiver pronta.

— Eu vou, mas não precisamos esperar até a senhorita Cavenhurst sair e,


mais uma vez, podemos começar pela casa. Acho que vai agradá-la.

— Sim, é uma boa ideia.

— Falo com você quando tiver mais tempo.

Então foi isso que sua mãe quis dizer sobre rumores, pensou Mark,
enquanto continuava seu caminho. Mesmo que não tivessem sido perpetrados
por Bolsover, o que parecia provável, ele certamente não os negou. Havia um
escândalo todo-poderoso que estava prestes a acontecer e ele não sabia como
evitá-lo.

***

Lady Cavenhurst parecia desconhecer os rumores quando ele foi levado


à sala de visitas do Manor e deu a notícia de que Jane estava acordada e que seu
estado mental não havia sofrido por causa do ferimento na cabeça.

— Ela deseja voltar para casa — disse ele.

— Por mais que eu a queira em casa, ela não deve fazer isso — disse sua
senhoria. — Lorde Bolsover vem todos os dias e está tão determinado como
sempre. Ele praticamente a acusou de fingir estar doente para atrasar a
conversa com ele. Eu tive que pedir ao Dr. Trench para confirmar que ela estava

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


profundamente inconsciente e incapaz de tomar uma decisão. Eu até sugeri que
ela poderia ter perdido algumas de suas faculdades mentais na esperança de
que ele desistisse do processo, mas Sir Edward estava com muita raiva de mim.
Ele diz que Jane é a nossa única esperança, por isso não devemos dizer a lorde
Bolsover que ela voltou.

— Então Jane deve ficar onde está. Gostaria de voltar comigo e conversar
com ela?

— Sim, por favor. Vou colocar meu chapéu. — Ela saiu da sala e ele
vagou, esperando por ela. Até agora, ele não havia percebido como tudo estava
gasto, especialmente com as fotos abaixadas e as prateleiras vazias.

— Ah, é você, Mark. — Ele se virou para encarar Isabel. — Pensei ter
ouvido um visitante chegar. — Como está Jane?

— Ela acordou há cerca de uma hora. Ela está muito fraca, mas por outro
lado não está pior.

— Eu estou tão feliz. É terrível aqui sem ela, todo mundo andando com
rostos de sexta-feira. Ficarei feliz quando ela voltar para casa.

— Mas então ela terá que dar a resposta a lorde Bolsover.

— Por que não? Ela terá que ceder, no final.

Ele estava com raiva.

— Isabel, você certamente não condenaria sua irmã a se casar com aquele
homem terrível?

— Ele não é tão terrível, não quando você o conhece melhor, ele pode ser
muito charmoso e é a nossa única esperança. Ela tem sorte de encontrar um
marido na idade dela e ele é muito rico.

Ele ficou tão irritado que ficou sem palavras, mas felizmente Lady
Cavenhurst voltou, usando seu chapéu e luvas, e ele a acompanhou até a
charrete.

Ele ainda estava fervendo e se perguntou se sua senhoria tinha a ouvido


falar e, se ela concordava com a filha. Isabel era totalmente egocêntrica. Ele não
podia se casar com ela, ele simplesmente não podia. Mas como ele conseguiria
sair com alguma honra?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Onze

Entre elas, as duas senhoras e Mark, com a conivência de Dr. Trench,


convenceram Jane que ela deveria ficar onde estava por mais uma semana, pelo
menos. Jane estava convencida da necessidade disso quando tentou deixar sua
cama sem ajuda e caiu no chão. Mark estava passando no corredor e ouviu seu
grito agudo. Ele se apressou e a ajudou a se levantar, tentando não notar que ela
usava apenas uma camisola frágil que não fazia nada para esconder suas
curvas, nem o inchaço suave de seus seios subindo e descendo com sua
respiração. Ele ficou de pé, segurando-a contra ele, saboreando a sensação dela
em seus braços, seu corpo se encaixando tão perfeitamente no dele e sua fome
por ela se tornou quase insuportável.

É verdade que ele a abraçara antes, uma vez na vila verde quando Drew
estava com ele. “Se eu não o conhecesse melhor, pensaria que você gosta demais da sua
futura cunhada”, o seu amigo tinha dito, o que era perspicaz de sua parte,
considerando que ele próprio não havia percebido isso naquele momento.
Então, quando ela torceu o tornozelo na escada quebrada e, depois, quando
caiu do cavalo no caminho dele, ela sempre estava completamente vestida.
Mesmo quando ela estava tão doente e ele a observava hora após hora, ela
estava bem coberta, Janet cuidara disso.

Ele a virou nos braços e inclinou o queixo para que ele pudesse olhar em
seu rosto.

— Parece que estou destinado a sempre buscá-la do chão — disse ele,


tentando o humor. E então ele a beijou.

Era para ser apenas um beijo gentil, um beijo afeiçoado para que ela
soubesse que ele estava do seu lado, para tentar transmitir que ele não sabia o
quê, mas isso se aprofundou em algo muito mais e ela ficou deitada nos braços
dele e deixou acontecer. Não houve grito de protesto quando seus lábios
encontraram os dela, não o afastando com fúria indignada. Ela se derreteu nele
e ele sabia, ele sabia então, que nunca poderia se casar com mais ninguém, não
importa o quê.

— Jane? — Ele murmurou, deixando de beijá-la, mas continuando a


abraçá-la, sabendo que ela iria se dobrar se ele não o fizesse. Além disso, ele
queria. — Oh, Jane, o que vamos fazer? Eu não posso deixar você ir.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, porque eu poderia cair de novo.

— Eu não quis dizer isso.

— Nem eu.

— Eu te amo.

— Não pode ser — disse ela, quando uma lágrima escorreu por sua
bochecha. Dizendo a ela que, quando já era tarde demais, era o maior tormento
de todos.

— É um fato. — Ele beijou a lágrima.

— Mark, não, por favor, não.

— Por quê? Você vai me dizer que não me ama?

— Eu... — Ela parou confusa.

— Seja honesta comigo, Jane.

— Sempre serei honesta com você.

— Bem então?

— Quaisquer que sejam meus sentimentos, ainda não podem ser — ela
murmurou. — Há Isabel e... e Lorde Bolsover. — Ela estremeceu.

Maldito Bolsover. Ele a pegou beijou-a novamente e a colocou de volta


na cama, puxou as cobertas sobre ela e sentou-se na beira, segurando a mão
dela.

— Nós poderíamos fugir e nos casar em segredo.

— Mark, você está brincando, você deve estar. Pense no escândalo, pense
em sua mãe, seus amigos e os moradores, que olham para você e respeitam
você. Você perderia isso? E tem Isabel. Você partiria o coração dela?

Ele ficou tentado a dizer 'Maldita Isabel', mas se absteve. Em vez disso,
ele disse: — Eu não acho que isso iria quebrar seu coração, Jane. Ela terminou o
noivado uma vez, talvez o faça novamente.

— Não com a falência de papai pairando sobre nós e lorde Bolsover


estabelecendo a lei. Precisamos fazer o que é certo para todos.

— Por que não podemos fazer o que é certo para nós?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela deu um sorriso pálido.

— Mark, não me sinto forte o suficiente para discutir com você, por
favor, não diga mais nada. O que aconteceu aqui esta tarde é o nosso segredo,
para nunca ser divulgado a uma alma, embora eu sempre o lembre e pense nele
nos próximos anos, como uma época em que soube que já fui amada. — Ela
tentou sorrir.

Foi tudo demais. Ele fugiu da sala antes que ela pudesse ver suas
lágrimas masculinas.

***

Jane sabia que tinha feito à coisa certa, mas, oh, quão difícil tinha sido
mandá-lo embora. Ele deve ter percebido a correção também, porque ele não a
visitava mais todas as manhãs como vinha fazendo, aparecendo por alguns
minutos para ver como ela estava e perguntando se precisava de alguma coisa.
Ela sentiu falta do seu sorriso alegre e do sentimento que ele lhe dava e de que
ela era importante. Bem, ela teria que viver sem isso. Sua cabeça doía e ela se
sentia fraca como uma gatinha recém-nascida, mas, a menos que quisesse
passar o resto da vida na cama, teria que fazer algo a respeito. Estava na hora
de fazer uma jogada.

Todos os dias ela saía da cama e cambaleava pelo quarto, agarrando-se


nos móveis. Ela ia e voltava, parando quando chegava à janela para contemplar
os jardineiros que cuidavam das floreiras, na esperança de vislumbrar Mark.
Então ela continuava de novo, até que ela ficava exausta. Dia após dia, suas
pernas se fortaleciam até poder andar sem apoio. O curativo foi retirado de sua
cabeça, deixando um pequeno pedaço nu onde seus cabelos foram cortados,
mas a cicatriz estava quase cicatrizada e os cabelos voltariam a crescer. Janet
havia inventado um estilo que usava o comprimento do cabelo para disfarçá-lo.

O próximo passo foi se vestir e descer as escadas para sentar-se na sala,


às vezes sozinha, às vezes com Lady Wyndham, costurando, lendo ou
conversando baixinho. Ela começou a tomar as refeições na sala de jantar, o que
significava que ela via e falava com Mark, mas a mãe dele e os criados estavam
sempre presentes e eles faziam pouco, mas trocavam gentilezas. Mesmo assim,
ela sentiu a tensão na atmosfera, as restrições que os impediam de se olhar
adequadamente. Era uma espécie de tortura requintada.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Sua mãe vinha com frequência para vê-la, trazendo suas roupas, e Isabel
e Sophie também. O humor de alegria de Isabel se alternava com a melancolia e
a tagarelice brilhante de Sophie a exauria.

— Lorde Bolsover foi a Northampton Shire para contar as boas novas à


mãe — informou Isabel em uma visita. — E ele também vai procurar seu
advogado sobre a transferência das ações e elaborar um contrato de casamento.

— Mas eu não concordei em me casar com ele.

— Ele está assumindo que você vai e o papai também. Você não pode
recusá-lo, Jane, você realmente não pode. Tudo depende disso. Ele até
prometeu pagar pelo meu café da manhã do casamento e podemos convidar
quantos quisermos.

— Você sabe quanto tempo ele pretende ir embora?

A irmã encolheu os ombros.

— Quanto tempo leva para fazer algo assim? Ouvi papai dizer à mamãe
que ele havia retido alguns documentos sobre direitos de propriedade e sem os
quais seu senhorio não podia prosseguir. Mas ele os chamará, sem dúvida, por
isso está apenas adiando o inevitável.

Jane havia decidido voltar para casa no dia seguinte e estava preparada
para caminhar, mas Mark não quis saber disso e insistiu em levá-la em sua
charrete. Foi a primeira vez que eles ficaram sozinhos juntos desde o dia em
que ele a pegou do chão e a beijou. Ela ficou sentada em silêncio ao lado dele,
observando as mãos capazes nas rédeas e ocasionalmente olhando para ele, mas
ele manteve o olhar firme na parte de trás do cavalo. Em vez de descer a rua
principal quando chegou à encruzilhada, ele seguiu para a estrada de
Witherington.

— Por que você está indo por esse caminho? — Ela perguntou,
quebrando o longo silêncio.

Ele se virou para ela com um sorriso gentil.

— Para que eu possa ficar um pouco mais a sós com você.

— Oh.

— E também porque tenho algo para lhe mostrar.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Em Witherington? — Que ele queria ter tempo com ela ao mesmo
tempo a deixava satisfeita e preocupada. Mas se ela mantivesse sua mente
firmemente na Casa das Crianças Hadlea e continuasse profissional, ela poderia
apenas envelhecer para manter a compostura.

— Sim.

— A venda foi concluída, então? Gostaria de saber se lorde Bolsover


pode tentar atrasá-lo.

— Ele era apenas um dos beneficiários e os outros estavam interessados


em vender. Ele não é tão poderoso quanto gostaria que pensássemos Jane.

— Poderoso o suficiente.

— Não vamos falar dele. Agora, o quê você vê? Ele havia entrado nos
portões da Witherington House, que haviam sido substituídos nas dobradiças e
estava aberto para revelar um caminho limpo de ervas daninhas. A própria casa
havia sido despojada de seus festões de hera.

— Mark, que transformação! Há vidros novos nas janelas quebradas e


todos foram pintados.

— Também há telhas novas no telhado.

— Você conseguiu?

— Eu não fiz nada, exceto apontar o que precisava ser feito. Foi o povo
de Hadlea. Eles amam e respeitam você, Jane, e quando ouviram do Reitor o
que você queria fazer com o local, todos os homens saudáveis e algumas
mulheres e crianças se apresentaram e passaram o tempo livre aqui.
Simplesmente comprei a tinta, o vidro e as ferramentas.

— Eles devem ser pagos.

— Eles disseram que não queriam pagamento, mas eu insisti em lhes dar
alguma coisa. — Ele dirigiu pela lateral da casa e parou no quintal onde a Sra.
Godfrey estava alimentando galinhas. Estas também eram novas. — Eu pensei
que a casa deveria ser o mais autossuficiente possível — disse ele, pulando e
ajudando Jane a descer. — Bom dia, Sra. Godfrey. Onde está Silas?

— Ele está no jardim em algum lugar com algumas pessoas de


Witherington. Eles decidiram que não iriam ser superados por Hadlea e vieram
para ajudar. Devo buscá-lo?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não, deixe ele. Só quero mostrar à senhorita Cavenhurst o que
fizemos.

— Fizemos uma transformação, foi isso — disse ela, e depois a Jane —


Senhorita Cavenhurst, soube que você teve outro acidente. Espero que você
tenha se recuperado.

— Sim, obrigada. Foi inteiramente minha culpa. Estou muito bem agora.

— Vou fazer chá, devo?

— Quando terminarmos de olhar em volta, daremos as boas-vindas ao


chá, obrigado — disse Mark, liderando o caminho para dentro de casa.

O interior também tinha sido limpo e pintado em creme e verde claro e,


com a hera desaparecida, os quartos eram claros e arejados.

— Oh, Mark, pensar que tudo isso foi feito enquanto eu estava ociosa em
Broadacres.

— Você tem amigos, Jane, muitos amigos — ele disse suavemente. —


Não só eu.

Ela ficou tentada a dizer que ele era mais que um amigo, mas decidiu
que seria imprudente. Ela foi de sala em sala, todos os lugares estavam iguais.

— Está pronto para receber — disse ela, enquanto subiam as escadas


reparadas. — Temos dinheiro suficiente?

— Acho que sim, mas precisamos continuar levantando mais. Há a feira,


é claro. E minha mãe disse que abrirá a casa e os terrenos e fará um recital
musical para seus amigos. Tenho certeza de que eles podem ser persuadidos a
dar livremente.

— Lady Wyndham é muito gentil, mas ela ainda está de luto, Mark.

— Ela diz que vai esperar até os seis meses terminarem, mas tem certeza
de que é isso que meu pai gostaria. Ele era todo a favor da sua ideia, como você
sabe. Enquanto isso podemos continuar com a feira.

Eles estavam parados na janela do quarto maior, olhando para um grupo


de pessoas limpando o jardim e empilhando o lixo para uma fogueira. Ela
estava certa; concentrar-se na casa tornava quase suportável sua infelicidade
pessoal, mas ela se perguntava o que todas essas pessoas boas diriam se
soubessem a verdade.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


***

Eles terminaram a turnê e conversaram sobre móveis e a feira enquanto


estavam sentados na cozinha bebendo chá, depois voltaram para Hadlea.

— Não posso agradecer o suficiente, Mark — disse ela. — Você tornou


possível um sonho.

— Há outro sonho que eu gostaria de tornar possível...

— Não, Mark. Por favor, não.

Eles estavam passando pelo local onde fizeram o piquenique e ele parou,
exatamente como antes.

— Vamos andar um pouco.

Ele a ajudou a sair e eles entraram no campo, onde uma trilha percorria o
perímetro. Havia trigo crescendo nele, quase maduro o suficiente para colher,
mas até Jane, que não era agricultora, podia ver que não seria abundante e
provavelmente não seria bom o suficiente para fazer pão. Mas não era o estado
da colheita que a ocupava agora, mas o fato de que Mark segurava sua mão e a
puxava para seus braços.

— Mark, você não deve.

— Sim, devo. — Ele se inclinou para beijá-la. Ele beijou seus lábios, suas
pálpebras, seu pescoço, a cintura tão alta no topo de seus seios, espiando por
cima do decote do vestido listrado de algodão que ela usava. Ele enviou uma
onda de sensação através de seu corpo e em sua virilha. Ela se agarrou a ele,
não querendo que ele parasse. Foi ele quem se afastou, respirando
pesadamente.

— Sinto muito, Jane, meu amor, meu querido amor, não tenho facilitado
para você, não é?

— Não, você não tem, mas não se desculpe, a menos que se arrependa.

— Me arrepender! Oh meu amor. Como eu poderia? — Ele foi atraí-la


para ele novamente, mas ela deu um passo para trás.

— Não Mark. Não mais. Leve-me para casa antes que ambos façamos
algo de que lamentemos.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Muito bem. — Ele colocou a mão sob o cotovelo dela para guiá-la de
volta para a carruagem. — Tem que haver uma maneira de sair dessa bagunça,
tem que haver e eu a encontrarei, prometo a você.

***

Todos ficaram satisfeitos por tê-la em casa, contando o quão bem ela
parecia.

— Agora você não deve sair correndo como tem feito — disse a mãe,
sentada ao lado de Jane em sua cama, enquanto Bessie desempacotava os
poucos pertences que haviam sido levados para Broadacres. — É por isso que
você sofre esses acidentes. Tome mais cuidado no futuro.

— Mamãe, não posso ficar ociosa. Me deixa muito tempo para pensar.

— Ah, eu entendi. Você sabe que lorde Bolsover deixou a vila?

— Isabel me disse. Suponho que é demais esperar que ele tenha desistido
e não volte mais.

— Receio que seja.

— E você ainda acha que eu deveria me casar com ele?

— Se me restasse opção, eu diria que não, deixe que ele faça o pior, mas
não depende de mim. — Ela colocou a mão no braço de Jane. — Seu pai não vê
outra saída para nossa situação. E há Isabel e Sophie a considerar. Sophie nunca
encontrará um marido adequado se formos pobres. E tem Teddy. Quero ele em
casa, Jane, quero meu filho em casa.

— Eu sei. — Ela suspirou e acrescentou, bruscamente: — Pretendo


aproveitar meus últimos dias de liberdade.

— Ótimo.

— Você sabia que os moradores estão trabalhando na Witherington


House?

— Sim, todo mundo está falando sobre isso. É bom que Lorde Bolsover
tenha dito que você pode continuar Jane.

— Certamente será uma condição da minha aceitação. — Enquanto


falava, ela se perguntou se estaria em posição de insistir nas condições.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


***

Ainda havia muito a ser feito. Nos dias seguintes, ela formou um comitê
na aldeia para organizar a feira e escreveu mais cartas pedindo prêmios e
doações e examinou dezenas de catálogos, procurando móveis úteis para seus
órfãos. O Sr. Halliday Junior escreveu para ela, perguntando quando ela
pretendia admitir seus primeiros órfãos. Sua resposta foi que ela conhecia um
irmão e uma irmã em Hadlea, cujo pai havia se perdido na guerra e cuja mãe
achava difícil ter que ir trabalhar e cuidar dos filhos. Havia outros na
vizinhança que ela abordaria. Eles seriam os primeiros a receber a oferta da
casa. Quanto ao resto, ela simplesmente visitaria cidades próximas e manteria
os olhos e os ouvidos abertos.

Seus dias estavam cheios e por um tempo ela conseguiu deixar de lado a
perspectiva de se casar com lorde Bolsover, mas era diferente à noite. Cansada
de suas atividades diurnas, nunca estava cansada o suficiente para dormir
profundamente.

Ela tinha pesadelos, que envolviam lorde Bolsover a perseguindo, às


vezes por pradarias planas que de repente se embotavam, sugando seus pés e a
desacelerando, às vezes por bosques à noite com formas estranhas aparecendo
na escuridão, outras vezes ao longo de falésias altas com o mar batendo nas
rochas abaixo deles. Isso foi pior. Com a ameaça atrás dela e a ameaça à sua
frente, ela não sabia para onde ir. Ela sempre acordava quando Lorde Bolsover
estendia a mão para agarrá-la. Outras vezes, ela sonhava que estava usando o
vestido de noiva de Isabel e sua irmã estava tentando arrancá-lo dela, gritando:
“É meu! É meu!” Isso a fez se sentir pior de tudo e, ela acordou com lágrimas
escorrendo pelo rosto e suas roupas de cama em um emaranhado.

Ela não via Mark há algum tempo. Ela não tinha ideia se ele havia se
resignado a se casar com Isabel, mas supôs que sim. A própria Isabel falava
sobre isso o tempo todo: seu vestido, seu enxoval, o que havia sido pedido para
o café da manhã do casamento, como ela reorganizaria Broadacres assim que
Lady Wyndham se mudasse para a casa do Dote. Era como se ela não ousasse
parar de falar.

— Issie, você tem certeza de que quer se casar com Mark? — Jane
perguntou um dia quando estavam sozinhos na sala da manhã. — Não faz
muito tempo, você declarou que não podia suportar a perspectiva. Você disse
que não o amava.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não faço mais, mas muitos casamentos sobreviveram sem amor,
principalmente se houver compensações: um marido bonito, riqueza e posição.
Você deveria pensar nisso. — Ela fez uma pausa. — Não ouse dizer a Mark que
eu disse isso.

— Eu não vou.

***

A temporada de Londres terminou bem e verdadeiramente, todas as


grandes famílias haviam reparado suas propriedades no país, onde a colheita
estava sendo realizada. Todos concordaram que seria uma colheita pobre e que
o preço do pão iria subir novamente. A colheita nas fazendas de Broadacres
foram melhores do que as maioria, mas nada tão bom quanto deveria ter sido.
Mark acenou com os aluguéis de seus arrendatários para o período de inverno.
Era uma postura que eles apreciavam e o recompensavam com lealdade
genuína, prometendo ajudar a feira da maneira que pudessem.

Mas Mark não estava em Londres para vender seus grãos, mas para
tentar encontrar uma saída para seu dilema mais premente. Sua primeira
ligação foi com Cecil Halliday, que estava trabalhando em um processo judicial
envolvendo o roubo de um xale de seda, mas deixou para cumprimentar Mark.

— Hoje não estava à tua espera, meu senhor — disse ele apertando as
mãos. — Não há nada errado em Broadacres, eu espero.

— Não, nada. Minha visita diz respeito à Greystone Manor e lorde


Bolsover.

— Meu pai está lidando com isso, meu senhor. Eu sei pouco disso.

— Talvez você possa pedir ao seu pai para se juntar a nós.

Ele desapareceu e voltou em poucos minutos com Theodore, que se


curvou à moda antiga.

— Meu senhor, meu filho diz que você está interessado em Greystone
Manor. Você está pensando em comprá-lo?

— Não, Sr. Halliday, eu não estou. Preciso descobrir tudo o que puder
sobre lorde Bolsover. Você tem certeza de que as reivindicações dele são justas e
honestas?

O velho sorriu.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Justas e honestas? Dificilmente. Mas se você está me perguntando se
eles são legais, devo dizer-lhe que, tanto quanto posso ver, elas são. Você tem
informações em contrário?

— Não, eu esperava que você tivesse. Você sabia que ele intimidou Sir
Edward a permitir que ele propusesse à senhorita Cavenhurst, ou seja, a
senhorita Jane Cavenhurst, quero dizer, e seu senhorio pretende levar ela e a
mansão em vez da dívida?

— Não. Eu não sabia. Essa é realmente uma notícia preocupante.

— Acho que Sir Edward acredita que Bolsover tem seu apoio. E Jane,
Miss Cavenhurst, está convencida de que não tem escolha a não ser concordar.

— Bom Deus!

— Você conhece alguma coisa que possa desacreditar sua senhoria?

— Só que ele é um jogador e joga muito, mas se ele escolhe viver dessa
maneira, é assunto dele.

— Gostaria que você cavasse um pouco, veja o que pode descobrir.

— Meu senhor - disse Theodore com certa pompa -, sir Edward


Cavenhurst é meu cliente. Não posso fazer nada sem a permissão dele.

Mark virou-se para o homem mais jovem.

— E você, Cecil? Você aceita minhas instruções?

— Eu faria — disse ele, duvidoso. — Se soubesse por que você estava


perguntando.

— Logo vou me casar com a família e não os deixaria abatidos se eu


puder evitar. Eu mesmo pagaria a dívida de Sir Edward, mesmo que isso
tivesse um efeito prejudicial sobre meus próprios recursos, mas Sir Edward é
muito orgulhoso para aceitar. Além do mais, se lorde Bolsover é desonesto,
quero que ele seja levado à justiça, não pagar para ele.

— Verei o que posso fazer — disse Cecil.

— Então você deve fazer isso no seu tempo livre — disse o pai. — Não
duvido que tenhamos problemas para convencer Sir Edward a acertar sua
conta. Não estou inclinado há gastar mais tempo em seu nome.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Mark saiu irritado que até o advogado de Sir Edward estivesse se
voltando contra ele. As perguntas de Cecil podem levar algum tempo e ele
estava impaciente demais para esperar. Sua próxima parada foi no White's,
onde esperava encontrar Toby Moore, mas Toby, como o resto da sociedade de
Londres, havia se mudado para o campo. O homem não tinha uma propriedade
rural, mas sem dúvida estava indo à rodada de amigos. Frustrado, Mark foi
para a Horse Guards, onde conheceu seu antigo comandante de batalhão.

— Você pode me contar algo sobre lorde Hector Bolsover e o capitão


Tobias Moore? — Perguntou-lhe quando haviam terminado de dar tapinha nas
costas e o coronel Bagshott o parabenizou por sua elevação enquanto se
compadecia dele pela morte de seu pai. — Em que regimento eles estavam?

— Eu não faço ideia. Eu acredito que eles serviram na Península, se não


em Waterloo. Toby Moore se chama "Capitão". Eu o conheci uma vez antes da
batalha de Ciudad Rodrigo. Nunca mais o vi depois disso.

— Vou demorar um pouco para pesquisar os registros. Há quanto tempo


você está na cidade?

— Só hoje e amanhã. Devo voltar para Hadlea no dia seguinte.

— Vamos nos encontrar amanhã à noite para jantar. Stephen às oito


horas combina com você?

— Sim, eu estarei lá.

Mark voltou à South Audley Street para passar uma noite em casa. Ele
poderia ter ido ao seu clube, mas não tinha vontade de ser sociável. Ele estava
pensando demais. Se ele pudesse encontrar algo para desacreditar Bolsover, ele
poderia salvar Jane de ser forçada a se casar com ele. Agradaria a Jane e a seus
pais, mas não era suficiente. Não o libertaria de seu noivado com Isabel. Isso era
algo completamente diferente.

***

Na noite seguinte, ele encontrou o coronel Bagshott, conforme


combinado. Passaram uma hora e meia frustrante, conversando sobre os velhos
tempos e velhos camaradas e revivendo velhas batalhas, antes que o assunto de
Hector Bolsover fosse abordado.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Pelo que sei lorde Bolsover nunca esteve no exército — disse o
coronel. — Acredito que ele foi para a Península como civil, embora não saiba
por quê.

— Ele é um jogador — disse Mark. — Sem dúvida, ele estava fugindo


das tropas. E quanto a Toby Moore?

— Ele foi multado por covardia após a Batalha de Ciudad Rodrigo. Ele
não tem o direito de se chamar capitão. — Ele fez uma pausa. — Você vai me
dizer do que se trata?

Mark contou a mesma história que contou aos advogados.

— Eu esperava desacreditar Bolsover o suficiente para fazê-lo sair do


campo — disse ele, mas até agora não descobriram nada, exceto que ele é um
charlatão de primeira ordem.

— Lamento não poder ajudá-lo mais. Se eu descobrir mais alguma coisa,


certamente o informarei.

Mark teve que ficar satisfeito com isso e eles passaram para outros
tópicos, o que o desviou por um tempo, mas a realidade era que ele havia feito
muito pouco progresso. Tanto por sua promessa a Jane que ele encontraria uma
solução.

***

Todos os arranjos para a feira foram concluídos. Mark havia enviado


seus homens para cortar a grama, marcar as linhas das corridas e montar
algumas das barracas no dia anterior. Um arco decorado com bandeirinhas fora
construído no portão onde a Sra. Caulder se sentava à mesa para receber o
dinheiro da entrada. Outros estariam cuidando de barracas de produção e
supervisionando as competições. Mark doou um porco e um prêmio para uma
competição de boliche e outros doaram prêmios para várias competições e
feitos de força. Haveria tigelas e maçãs balançando e, mais tarde, danças com
música de um violino e um alaúde. Lady Wyndham concordara em abrir os
trabalhos. Tudo o que eles precisavam era de tempo bom.

No dia, Jane foi acordada cedo por Bessie abrindo as cortinas. A luz do
sol entrou no quarto. Ela se levantou e foi até a janela. O céu estava azul, não
tinha uma nuvem para ser vista.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Um bom presságio, fomos abençoados com o bom tempo — disse ela
a Bessie. — Vou me vestir e tomar meu café da manhã na cozinha, depois vou
de charrete até o campo de dez hectares.

— Ainda é muito cedo, senhorita Jane.

— Eu sei, mas ainda há muito que fazer. A musselina azul pálida, eu


acho, e a peliça combinando.

Ela não foi a primeira a chegar. Os moradores estavam acostumados a


acordar cedo, especialmente no verão, e já estavam realizando suas tarefas.
Mark estava lá, com as mangas da camisa dobradas, ajudando a erguer um
estrado para a cerimônia de abertura e a entrega de prêmios. Seu casaco e
gravata estavam pendurados em um poste próximo. Ele sorriu para ela, um
pouco triste, mas era um sorriso.

— Você preparou seu discurso? — Ele perguntou.

— Eu? Ah, não, Mark, eu não vou fazer um discurso — protestou ela,
tentando em vão desviar os olhos da visão do peito nu sob o pescoço aberto da
camisa.

— Mas é o seu projeto. Sem você, isso nunca teria acontecido.

— É seu, também, Mark. Você faz o discurso.

Ela seguiu em frente, checando isso, checando aquilo, falando com todo
mundo, seu espírito subindo um pouco enquanto ela passava. Se nada mais
estava certo em sua vida, esse projeto estava. A Sra. Caulder chegou e sentou-se
na entrada do campo, um pote para o dinheiro em uma mesa à sua frente.

— Henry estará aqui a tempo de fazer as orações — disse ela a Jane, que
estava ficando ansiosa caso ninguém chegasse.

***

Um por um, eles chegaram, pagaram seis centavos e andaram para ver o
que havia em oferta. Não foram apenas os moradores de Hadlea e
Witherington, mas pessoas de outros lugares que chegaram em uma variedade
de carruagens. Jane não tinha pensado no que fazer com todos os veículos, mas
Mark, como sempre, foi em seu socorro sugerindo que se alinhassem ao lado da
estrada em Broadacres e que seus meninos do estábulo cuidariam dos cavalos,
por uma pequena taxa a ser adicionada aos fundos.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Vou contar aos rapazes e trazer minha mãe de volta — ele disse a
Jane, pendurando a gravata no pescoço e enfiando os braços no casaco.

Enquanto ele se foi, seu pai, mãe e irmãs chegaram. Apesar da terrível
nuvem que pairava sobre eles, eles estavam determinados a dar uma boa cara
por causa de Jane e as mulheres estavam elegantemente vestidas e carregando
guarda-sóis, pois o sol estava quente.

— Lorde Bolsover está de volta — Sophie sussurrou para ela. — Nós o


vimos chegando ao Fox e Hounds. Paramos para que papai pudesse descer e
falar com ele. Eu acho que eles discutiram. Papai parecia muito corado e sua
senhoria zangada.

— Onde está Mark? — Isabel exigiu. — Espero que ele me acompanhe.

— Ele foi buscar sua mãe — disse Jane, desejando que Sophie não tivesse
falado sobre lorde Bolsover e esperando que ele não decidisse patrocinar a feira.
— Ele voltará em breve.

Ela deixou sua família para garantir que tudo estivesse pronto no estrado
para sua senhoria. O Reitor estava lá, sentado em uma das cadeiras fornecidas.

— Vamos nos sair bem disso, Jane — disse ele. — A Sra. Caulder já
arrecadou três libras no portão, embora eu tema que alguns garotos tenham
conseguido se espremer pela cerca sem pagar.

— Deixa para lá. Eles precisarão pagar se quiserem participar das


competições.

A charrete de Mark chegou e ele ajudou sua mãe a descer e depois subir
para o estrado, onde ela ficou, completamente de preto, olhando dela para a
multidão colorida, real, mas não distante. Mark ajudou-a a sentar-se e depois
deu um passo à frente, acenando para um garoto ao lado da plataforma que
segurava um sino de bronze junto ao badalo. O garoto começou a tocar,
observando com alegria quando as pessoas pararam o que estavam fazendo e se
viraram para ele.

— Chega — ordenou Mark, enquanto todos se reuniam em volta da


plataforma. O som parou em um último eco.

— Senhoras e senhores — começou Mark —, estamos aqui para nos


divertir, mas também para lembrar os soldados e marinheiros perdidos na
guerra recente e, para ajudar as crianças que deixaram para trás. Todo o

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


dinheiro arrecadado será destinado à manutenção da Witherington House
como lar de algumas dessas crianças. Não estaríamos aqui hoje, se não fosse a
Srta. Jane Cavenhurst, de quem foi à ideia e que trabalhou incansavelmente
nesse sentido. — Ele parou e olhou em volta enquanto todos aplaudiam. —
Miss Cavenhurst. — Ele chamou Jane para subir na tribuna.

Ela ficou surpresa e queria afundar no chão, mas ele estava estendendo a
mão para ela e as pessoas mais próximas a estavam pedindo. Relutantemente,
ela se aproximou de Mark.

— Você pagará por esse truque, Mark Wyndham — ela sussurrou.

— O crédito é seu — ele sussurrou de volta. — Conte a eles sobre o órfão


que você encontrou em Londres, toque o coração deles.

Ela começou instável, mas quando seu fervor pela causa assumiu sua voz
se fortaleceu e ela viu mais de uma lágrima ser enxugada.

— Temos sorte de que o falecido lorde Wyndham tenha feito uma


doação muito generosa para começar — concluiu ela. — E outros também
doaram. A casa já foi comprada, como muitos de vocês sabem, mas ainda
precisamos de fundos para mobiliá-la e mantê-la; portanto, comprem os
produtos, entrem nos jogos e aproveitem o dia.

O Reitor se levantou e os conduziu em oração. Depois, Mark pediu à mãe


que declarasse a feira em funcionamento. Foi enquanto ela estava de pé ao lado
de sua senhoria, olhando por cima da multidão, que Jane viu lorde Bolsover
vindo em sua direção. Ela procurou uma maneira de escapar, mas logo
percebeu que não podia fugir sem criar uma cena e não queria estragar a
atmosfera feliz da tarde.

Mark também o tinha visto.

— Coragem, meu amor — sussurrou. — Não concorde com nada.

Ela estava tremendo quando desceu do tablado para encarar o homem de


que ela tinha tanta aversão. Ele sorriu e tirou o chapéu em um arco exagerado.

— Srta. Cavenhurst. Você está recuperada, eu vejo, e é uma senhora do


castelo. Escolhi bem minha noiva, acho eu.

Ela não se dignou a responder a isso. Em vez disso, ela disse: — O que
você está fazendo aqui?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Ora, minha querida, vim para a minha resposta. Você me deixou
esperando o tempo suficiente. Vamos dar um passeio. — Ele pegou a mão dela
e a enfiou embaixo do cotovelo. — Pronto, assim está melhor, agora podemos
agir como o casal feliz. Sorria, minha querida. Todos vão pensar que a nossa
união não é do seu agrado.

— Não estou com vontade de sorrir, lorde Bolsover.

— Agora isso deve ser lamentado, mas vamos culpar o seu acidente, não
é? Ainda não é você.

— Gostaria que você fosse embora e deixasse minha família em paz.

— Agora, minha querida, você sabe que não posso fazer isso. O seu pai
também não gostaria que eu fizesse isto, apesar de ele ter retido um documento
importante. Muito tolo da parte dele. Nada mais fez do que me causar o
inconveniente de voltar para buscá-lo. Meu advogado se recusou a prosseguir
sem ele e eu não confiaria em ninguém além de mim para buscá-lo. O que seu
pai parece não ter considerado é que o atraso de cada dia aumenta o interesse, o
que não é desprezível. Peço que lhe aponte isso quando você lhe disser que
aceitou minha proposta.

— Eu não aceitei.

— Oh, mas você vai, não duvide. Vamos conseguir que o garoto com o
sino dê uma chance e anuncie nosso noivado para toda a multidão? Tenho
certeza de que todos ficarão muito felizes por você.

— Não, por favor não. — Ela odiava implorar, mas podia ver Mark
marchando intencionalmente em direção a eles com uma expressão furiosa no
rosto e ela temia uma briga pública. — É muito cedo. Eu preciso de mais tempo.

— Você teve mais de um mês.

— Eu não pude deixar de estar doente.

— Mas você está bem agora.

— Depois do casamento da minha irmã daqui a três semanas — disse ela,


tateando. — Vou lhe dar uma resposta então.

Mark estava quase chegando quando a Sra. Caulder veio correndo até
Jane.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Desculpe, senhor — disse ela, dirigindo-se a lorde Bolsover —, mas
devo falar com a senhorita Cavenhurst. É urgente.

O alívio de Jane pela interrupção foi palpável. Virou-se para a Sra.


Caulder com um sorriso que deixou seu rosto quando viu como a dama estava
angustiada.

— O que aconteceu?

— Alguém roubou o dinheiro do portão. Virei às costas apenas um


minuto para ouvir os discursos e, quando voltei, tudo se foi.

Lorde Bolsover riu alto.

— Vou deixar você resolver o problema, minha querida, mas são apenas
alguma libras. Eu posso compensar isso facilmente para você. — E com isso, ele
se afastou, sorrindo para si mesmo.

Os ombros de Jane cederam quando a tensão que a estava endurecendo


escapou dela. Suas mãos tremiam e seus joelhos pareciam desossados.

— Estou mortificada — prosseguiu a Sra. Caulder. — Sinto muito, mas se


seu senhorio estiver preparado para compensar, não perderemos com isso.

— Esse não é o ponto — Mark entrou. — É isso e precisamos descobrir


quem é o responsável. Não podemos ter pessoas pensando que vale a pena
roubar.

— Não, suponho que você esteja certa, mas não tenho ideia de quem foi.

— Eles levaram apenas o dinheiro ou o pote? — Mark perguntou

— A jarra. Tudo. Havia uma doação de cinco libras de Sir Mortimer


Belton, também.

Jane não tinha visto o deputado chegar.

— Isso foi generoso da parte dele.

— Sim, mas agora está perdido. Algumas pessoas deram mais de seis
centavos para entrar também. Eles disseram que era por uma causa nobre. Há
quase dez libras no total.

— Você viu alguém vagando por perto? — Mark perguntou.

— Não que eu me lembre.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Deixe comigo — disse Mark. — Vamos guardar isso por enquanto.
Não queremos causar confusão.

— Não direi uma palavra. Obrigada, meu senhor. — Ela se apressou,


deixando Mark de frente para Jane.

— O que ele tinha a dizer? — Ele perguntou.

— Quem?

— Bolsover. O que ele disse?

— Nada que ele não tenha dito antes. Eu implorei que ele me desse mais
tempo. Eu disse que daria a resposta dele depois do seu casamento.

— Meu casamento! Ele concordou?

— Ele não concordou nem discordou. A Sra. Caulder nos interrompeu.

Ele riu.

— Muito bem, senhora Caulder.

— Não tem graça, Mark.

— Não, mas se ela nos deu mais tempo...

— Nós, Mark?

— Sim nós. Você não acha que eu vou deixar você se casar com aquele
canalha, não é? Eu tentei encontrar algo para desacreditá-lo, mas, embora ele
não seja nada apreciado, ninguém parece saber nada contra ele. Existem
rumores de práticas afiadas, mas nada para substanciar os rumores. Vou
continuar tentando.

— Mark, por favor, não aumente minhas esperanças, para elas serem
frustradas. Acho que não aguentaria. Realmente, você deveria estar
acompanhando Isabel pela feira e comprando suas bugigangas, sem falar
comigo. Eu posso vê-la ali e ela está olhando para nós. Vá até ela, por favor.

***

— Você está me negligenciando — reclamou Isabel assim que ele se


juntou a ela. — As pessoas estão começando a perceber.

— Sinto muito, Isabel, mas tive muito a fazer com a organização desse
evento e ver se que tudo estava indo bem e, tive que escoltar minha mãe de

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


volta para casa; ela acha eventos como esse cansativos. Agora aconteceu outra
coisa que exige minha atenção imediata, por isso sou obrigado a deixá-la
novamente.

— Teremos um ótimo casamento, se você sempre sair e me deixar.

— Se você quiser mudar de ideia sobre isso de novo, por favor, diga.

— Não, não, eu não quis dizer nada — disse ela rapidamente. — Vá e


faça o que for necessário. Mas espero que não demore muito. Papai disse que
podemos ficar para dançar, então espero que você dance comigo.

***

Ele se curvou e a deixou assistindo às corridas com os pais enquanto


passava a próxima hora e meia percorrendo todas as barracas, perguntando se
alguém havia gasto de forma anormal, mas ninguém tinha. Talvez o ladrão não
estivesse mais no campo, talvez nunca tivesse ido além do portão. Se assim
fosse, seria duplamente difícil prendê-lo. Ou ela.

Ele foi até o portão para perguntar a Sra. Caulder se alguém se


aproximou e não entrou, mas a boa senhora deve ter decidido que não haveria
mais chegadas e tinha deixado seu posto. Ele se virou e foi então que viu a
mulher pelo canto do olho. Ela estava carregando uma jarra perto do peito, que
parecia muito com a que a Sra. Caulder tinha usado. Ele se escondeu atrás da
cerca e a observou. Ela se aproximou da mesa deserta e, olhando furtivamente
ao seu redor, colocou o pote sobre a mesa. Mark deixou seu esconderijo e a
confrontou.

— É a senhora Butler, não é?

— Sim.

— O que você estava fazendo com isso? — Ele pegou o pote. Estava
pesado com moedas.

— Colocando de volta.

— O que você estava fazendo com isso em primeiro lugar?

— Nada. Colocando de volta, eu te disse. Eu encontrei.

— Oh, senhora, senhora, você não espera que eu acredite nisso, espera?
Devo lhe dizer o que penso? Acho que seu garoto pegou.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ela ofegou.

— Ele não queria roubar, não senhor. Ele é apenas um garotinho e queria
me ajudar. Eu perdi meu homem para a guerra, sabe, e agora eu perdi meu
trabalho, por conta de ficar em casa para cuidar de Lizzie, que estava doente.
Você não vai entregá-lo, vai?

— Não, acho que não. Temos o dinheiro seguro. Vá para casa e cuide da
sua família.

— Obrigada, meu senhor. Deus te abençoe. — Ela fez uma reverência e


fugiu.

Ele levou o pote de volta para Jane.

— Está tudo aqui — disse ele. — Nenhum dano está feito.

— Oh, graças a Deus. Eu não queria que o dia fosse marcado por algo tão
desagradável. Quem pegou?

Ele disse a ela o que tinha acontecido.

— Você não disse que estava pensando em oferecer um lar às crianças


Butler? —Ele perguntou.

— Sim. Ainda não o mencionei com a senhora Butler, mas farei isso em
breve. Ela pode não querer se separar dele.

— Eu acho que ela pode. Ela acabou de perder o emprego e suas chances
de encontrar outra pessoa enquanto ela tem dois filhos para cuidar são
pequenas.

— Ela poderia trabalhar em Witherington House, em seguida, então eles


podem estar juntos. Eu preciso recrutar pessoal.

— Boa ideia. Vamos nos juntar aos seus pais e irmãs?

Jane olhou em volta e os viu assistindo a competição de boliche, Lorde


Bolsover estava com eles.

— Não, acho que não. Vou ver a senhora Butler. Você vai.

Mas ele também não queria se juntar a eles e foi procurar a esposa do
pároco para lhe dar as boas novas e, devolver o pote depois de esvaziar o
conteúdo em uma sacola de lona que Jane havia guardado sob o estrado para
esse fim. Havia dinheiro sendo gasto em todas as bancas e ocorreu-lhe que

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


poderia ser uma boa ideia tirar a tentação fora do caminho e recolhê-lo. Ele o
levaria para casa e o guardaria no cofre até que pudesse ser depositado na conta
do Lar Infantil Hadlea. Quando terminou, a sacola estava pesada. Eles haviam
se saído bem, mas ele não iria contar, era um prazer que deixaria para Jane.

***

Mark estava quase em casa quando viu uma figura familiar vindo em sua
direção, uma figura ligeiramente rechonchuda vestida com uma roupa azul de
estilo militar, adornada com tranças prateadas.

— Jonathan Smythe, seu cachorro velho — disse Mark, sorrindo de


prazer. — De onde você veio? — Eles bateram palmas nas costas.

— Escócia, onde mais? Fui até sua casa e sua mãe me disse onde
encontrar você.

— Vou voltar para lá assim que colocar isso em um lugar seguro. — Ele
levantou a bolsa. — Venha comigo.

Jonathan se virou e eles caminharam lado a lado.

— Lamento saber da morte de seu pai, Mark.

— Obrigado.

— O primo de minha mãe também morreu. Eu herdei uma pilha de


pedras, tão fria quanto à caridade, mas ela vem com uma fortuna considerável,
por isso não devo resmungar. Suponho que seu luto tenha atrasado seu
casamento?

— Sim. Muito aconteceu depois que você saiu.

— Se você ainda quer que eu seja seu padrinho, sou seu a comandar.

Mark não conseguiu pensar em nada a não ser agradecer novamente.

— Você nunca vai adivinhar quem eu encontrei enquanto estava no


Norte. Drew Ashton. Eu não o via desde que estávamos juntos na escola. Ele
apareceu no mundo de todas as formas.

— Drew está na Escócia?

— Sim. Ele estava visitando sua tia-avó. Devo dizer que fiquei surpreso
com isso. Ela nunca se preocupou com ele quando ele era menino e ele não

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


precisa dela agora. Eu acho que era um buraco conveniente. Ele não estava
muito feliz quando perguntei.

— Ele sempre jogava suas cartas perto do peito. Você não tem a direção
dele, tem?

Acho que tenho no meu baú. Deixei em Broadacres, a propósito. Presumi


que você me convidaria para ficar, com o casamento e tudo mais.

— Claro, fique o quanto quiser. Há uma feira no campo de dez acres que
eu tenho ajudado a organizar, e é por isso que estou carregando uma sacola de
trocados. Eu tenho que voltar assim que o colocar no cofre. Haverá uma dança
country esta noite à qual devo participar. Venha se quiser.

Era incrível como ele se sentiu subitamente alegre. Por fim, ele viu uma
saída para seu dilema.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Doze

O campo era iluminado por lanternas nos postes para o baile à noite.
Todos se juntaram inclusive as crianças, e isso provou ser o mais divertido do
dia inteiro, até porque era impossível dançar adequadamente na grama. Jane e
Mark fizeram uma parceria entre os dois, o que significava ocasionalmente dar
as mãos à vista de todos. Ela tinha plena consciência de que não devia de forma
alguma trair o que sentia por ele, mas o leve aperto que ele dava a seus dedos
toda vez que eles se encontravam e circulavam juntos dizia que ele também
estava ciente disso. Ele parecia extraordinariamente alegre, sorrindo e
brincando com todos. Depois, ela se sentou com os pais, observando-o dançar
com Isabel, enquanto seu amigo, Sr. Smythe, dançava com Sophie.

Ela estava silenciosamente se parabenizando com o sucesso do


empreendimento e apreciando o espetáculo de todos se divertindo quando
Lorde Bolsover se aproximou dela para reivindicar uma dança. Ela alegou
cansaço, mas ele não aceitou o não como resposta e a levou para a multidão.

Ele era desajeitado e tropeçou mais de uma vez.

— Eu não consigo entender isso — disse ele, desistindo depois de apenas


alguns minutos. — Se é isso que você chama de dança...

— É para ser divertido — disse ela. — Este não é um salão de baile em


Londres. Se é isso que você quer, sugiro que retorne à capital.

— Não sem a minha resposta.

— Já lhe disse quando lhe darei isso.

— E eu te segurarei nisso, nunca antes. Minha mãe está impaciente por


ter um neto. — Ainda sorrindo, ele se curvou e se afastou. Jane soltou um longo
suspiro de alívio.

***

O resultado da feira foi quarenta libras para adicionar aos fundos, o que
era muito mais do que Jane se atreveu a esperar. Ela e Mark passaram a manhã
de domingo em Broadacres, contando os centavos e o ocasional soberano do
ouro.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— As pessoas têm sido tão generosas — disse Jane. — Posso comprar
camas e móveis de quarto suficientes para encher os dormitórios de
Witherington. Vou pedir ao reitor para anunciar o resultado na igreja.

***

O anúncio depois da canção trouxe suspiros de prazer e foi sugerido que


deveria ser um evento anual, o que a agradara. Hoje em dia havia muito pouco
para agradá-la; ela estava se tornando desesperadamente resignada a se casar
com lorde Bolsover. Ele estava hospedado no Fox e Hounds, mas estava
constantemente em Greystone, aparentemente inconsciente de como não era
bem-vindo. Ele falava das alterações que pretendia fazer, da reforma, das festas
que organizaria, sorrindo o tempo todo com aquele sorriso oleoso dele, que
deixava Jane enojada, se ninguém mais. A única maneira de evitá-lo era passar
o máximo de tempo possível na Witherington House, onde poderia mergulhar
no que estava acontecendo ali e, por um tempo esquecer o destino que estava
por vir.

Gradualmente, os móveis chegaram e foram colocados no lugar até


começarem a parecer uma casa real. Ela foi ajudada pela senhora Butler, que
aceitou sua oferta e foi morar com Robert, de 10 anos, e Lizzie, de dois anos,
que havia sido concebida quando o seu marido votou para casa em 1814. Ele só
voltara para casa para morrer de suas feridas em semanas, sem saber que sua
esposa estava grávida de outro filho. A família viveu com pouco alívio até a Sra.
Butler encontrar um emprego trabalhando nos campos. Era um trabalho
fragmentado e, a pobre mulher estava tão exausta que não conseguia ganhar
mais do que uma ninharia. Jane ouviu a história aos poucos enquanto
trabalhavam juntos.

Jane e Mark juntos entrevistaram várias pessoas locais para cargos e


contrataram um casal para ser diretor e governanta. Eles vieram de uma escola
e teriam que avisar seus empregadores atuais que não chegariam até o final de
setembro. A Sra. Godfrey permaneceu como cozinheira e o velho Silas cuidava
do lado de fora. O que eles estavam fazendo já estava se tornando conhecido, e
homens e mulheres estavam aparecendo pedindo emprego. Eles precisariam de
mais funcionários quando mais crianças fossem acolhidas, então ela pegou seus
nomes e disse que os informaria quando chegasse a hora.

Um deles era português e disse que se chamava Paolo Estaban. Ele disse
a ela que tinha sido criado de um oficial britânico no final da guerra e havia

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


retornado à Inglaterra com ele. O oficial não o pagou por várias semanas e ele
precisava de emprego. Ele estava acostumado a cuidar de cavalos e a tinha visto
montando charretes do lado de fora. Ela estava prestes a dizer que não eram
dela e não pertencia a casa, mas então percebeu que poderia muito bem precisar
de um meio de transporte para se locomover como estava fazendo. Ela
perguntaria a Mark se os fundos poderiam comprar de seu pai. Ela disse ao
homem para voltar na semana seguinte.

As notícias do que ela estava fazendo se espalharam e ela também foi


abordada por várias instituições de caridade que pediam lugares para crianças.
Três dos mais necessitados já haviam chegado. Harry, Tom e Emma estavam
mendigando em Norwich quando foram apanhados por um pastor local que
tinha ouvido falar sobre seu empreendimento e veio vê-la. O resultado foi que
as crianças foram colocadas na carroça e chegaram imundas, com fome e
vestidas com uma variedade de trapos. Eles também estavam muito cautelosos
com ela e com o novo ambiente e não queriam ser banhados ou trazidos para a
cozinha com esse objetivo. Ela pediu a Robert e Lizzie para fazê-los se sentir em
casa e, isso funcionou melhor do que qualquer coisa que os adultos pudessem
fazer. Banhados, com os cabelos emaranhados lavados, escovados e vestidos
com roupas novas, eles eram crianças diferentes. Ela começou a procurar um
professor porque eles precisavam ser educados.

Todo o projeto mantinha Jane tão ocupada que ela não teve tempo de
pensar no fato de que os seis meses de luto em Broadacres estavam chegando
ao fim, que metade do conteúdo de Greystone Manor estava pronta para a
mudança tão logo quando o casamento terminasse, não apenas o casamento de
Isabel com Mark, mas o seu com Lorde Bolsover. Ela se recusou a fazer
qualquer preparação para isso, rezando como nunca havia rezado antes que
algo acontecesse para impedi-lo.

Mark havia dito que pensaria em algo, mas não havia mencionado
novamente. Depois da feira, ele parecia mais alegre, fazendo piadas com as
crianças e lisonjeando a Sra. Godfrey escandalosamente. Ela não perguntou
como ele estava lidando com Isabel, mas presumiu que tudo estava bem entre
eles. Ela tentou desesperadamente esquecer que ele havia dito que a amava.
Parecia que ele tinha feito isso, pois ele parou de vir para Witherington. Ela
disse a si mesma que era assim que deveria ser; ela não podia continuar
confiando nele para obter ajuda. Ele tinha outros assuntos mais próximos de

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


casa para assistir. Ela deveria suportar o sofrimento da melhor maneira
possível.

***

Mark certamente não havia esquecido. Ele estava em um estado à beira


do pânico. Faltavam apenas duas semanas para o casamento que ele queria
muito evitar e Drew não respondeu à carta. Supondo que ele seguiu em frente e
a carta nunca o alcançou, o que aconteceria agora? Ele teria que fazer algo
sozinho, algo drástico como fugir com Jane. Ele sabia que ela nunca concordaria
com isso. Ele poderia sequestrá-la? Isso seria desonroso e ilegal. E o que ele
fizesse teria que ser feito com o consentimento de Isabel. Ele não acreditava que
ela o desse. A euforia que ele sentiu quando Jonathan chegou havia evaporado
há muito tempo.

Ele andava pela casa, vigiado por sua mãe preocupada, cavalgava com
Jonathan, percorrendo quilômetro após quilômetro, esgotando suas montarias
até que, uma manhã bem cedo, eles pararam na beira do pântano. Havia uma
pista de aterragem e uma habitação desnivelada onde o barqueiro morava. Os
prados de ambos estavam secos no verão e eram usados para o gado pastar, que
engordava na grama exuberante. Havia um pequeno aumento no chão à direita,
não realmente grande o suficiente para chamar de colina, e em cima dela uma
velha cabana que tinha sido, muitos anos antes, a habitação de um Finlandês.
Era um lugar que Mark conhecia bem, pois costumava passear por aqui quando
criança, frequentemente na companhia de Teddy e suas duas irmãs mais velhas,
colhendo flores silvestres, procurando sapos e rãs, tendo batalhas imaginárias
nas quais o casebre era um forte. Momentos felizes em que o futuro era
desconhecido.

— Qual é o seu problema, Mark? — Jonathan disse, enquanto


desmontavam. — Você certamente não está agindo como o noivo feliz. Sou
forçado a concluir que você não quer este casamento.

— Não, eu não quero.

— Você vai me dizer por quê?

Mark suspirou e enfiou a cabeça no pescoço do cavalo.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Suponho que devo —. Ele parou, imaginando por onde começar. —
Suponho que tudo começou quando me ofereci para ajudar Jane em seu projeto
órfão.

— Jane?

— Sim, Jane. — Ele passou a informar seu amigo de tudo o que havia
acontecido desde que Jonathan partiu para a Escócia.

— Meu Deus, você está enrolado — disse o amigo quando terminou.

— Fiz o meu melhor para desacreditar Bolsover e negligenciei Isabel


profundamente, a fim de ajudar Jane, na vã esperança de que ela se cansasse de
mim e desistisse de tudo, mas ela parece não se importar. Jane não é uma rival
em sua mente. Se você tem alguma ideia de como eu posso abordar, ficarei feliz
em ouvi-lo.

— Sequestro e deixando sua noiva no altar, você quer dizer.

— Eu não posso fazer isso.

— Não eu posso ver que você não pode. Você pode tentar se jogar à
mercê da senhorita Isabel.

— Também pensei nisso, mas não vai dar. Eu seria visto como um
canalha maior do que Bolsover, Isabel poderia processar por quebra de
promessa e nunca ousaria mostrar meu rosto em Hadlea novamente. — Ele não
acrescentou que, o pior de tudo, Jane o odiaria por isso e certamente não
concordaria em se casar com ele. Bolsover venceria. Era uma pílula amarga de
engolir.

— Vamos, vamos voltar — disse Jonathan. — Ainda faltam duas


semanas. Algo pode aparecer.

Eles montaram novamente e levaram seus cavalos exaustos de volta aos


estábulos, aproximando-se da casa pela retaguarda. Mark parou para olhar para
ela, tendo em suaves tijolos Tudor, as chaminés torcidas, as janelas gradeadas, o
bloco estável com seu ornamentado relógio que não tinha contado o tempo em
anos. Ele amava sua casa, cada centímetro dela, fora e dentro. Ele amava sua
mãe e lhe devia sua lealdade e ele tinha responsabilidades na aldeia. Sua honra
estava em jogo e isso contava para tudo. Não havia alternativa a não ser
continuar com o casamento. "Jane, me perdoe." Seus lábios se moveram sobre o
nome dela, mas ele não fez nenhum som.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Com os ombros curvados e a cabeça inclinada, ele seguiu em frente,
deixou o cavalo com Thompson, ordenou que a charrete fosse preparada e
entrou na casa. Ele não sabia, nem se importava se Jonathan o seguia. Ele tinha
que se trocar e encontrar Jane. Ela deveria ser avisada imediatamente, enquanto
ele ainda tinha coragem.

***

Harry e Tom haviam desaparecido. Jane não tinha ideia para onde eles
foram. Nem Robert nem Emma podiam lhe contar nada, exceto que eles
estavam sussurrando juntos naquela manhã. Ela vasculhou cada centímetro da
casa antes de sair para procurar nos banheiros e nos estábulos. Certamente eles
não fugiram? Para onde eles iriam? Eles tentariam voltar para Norwich?

Silas estava vindo em sua direção; o velho estava quase correndo,


agitado, para lhe dar algumas notícias.

— Srta. Cavenhurst — ele disse entre suspiros para respirar. — Alguém


roubou a velha charrete. Fui dar um pouco de aveia a Bonny e ela sumiu, Bonny
com ela.

Jane mal podia acreditar. Os meninos poderiam ter pegado? Eles sabiam
colocar os arreios em Bonny? Eles poderiam dirigir? A resposta era sim, eles
provavelmente poderiam. Eles odiavam ficar dentro de casa e, desde que
chegaram a Witherington, passavam a maior parte do tempo fora, seguindo
Silas. Eles o teriam observado com o pônei e visto como o velho colocava os
arreios. Ele até os levou em passeios curtos para pegar suprimentos para ela.

— Você viu Tom e Harry? — Ela perguntou a ele.

— Eles estavam no jardim comigo no início, mas desapareceram depois


de um tempo. Não sei para onde eles foram.

— Você acha que eles poderiam ter pegado a charrete?

— Por que eles fariam isso, senhorita?

— Para uma brincadeira, talvez.

— Não sei. Ela não é difícil de conduzir e Bonny é uma coisa velha
plácida. Eu suponho que podiam.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Pelo que sabia, ninguém havia ido a casa naquela manhã, certamente
ninguém que tivesse motivos para ir aos estábulos. Tinha que ser os meninos.
Mas para onde eles foram? E sem a charrete, como ela poderia ir atrás deles?

— Vou buscar ajuda — disse ela. — Se eles voltarem agarre-os e não os


deixe fora de vista.

Sem sequer parar para colocar um chapéu, ela partiu a pé para


Broadacres. Era uma emergência e ela precisava da ajuda de Mark. A cada
passo, ela se castigava. O que havia lhe dado à ideia de que ela estava apta a
cuidar de crianças, especialmente crianças prejudicadas pela vida que foram
forçadas a levar? Ela tinha sido uma tola presunçosa ao pensar que os percalços
que viviam nas ruas da cidade se estabeleceriam em uma vida plácida no
campo. Ela deveria ter contratado um professor para lhes dar algo positivo a
fazer, em vez de esperar até que ela tivesse uma turma completa. Se a
negligência dela se tornasse de conhecimento comum, apenas as fofocas
garantiriam que ela não recebesse mais filhos.

Ela estava quase correndo, tropeçando em sua pressa. O que Mark diria?
O que alguém diria? Ela estava envolvida demais em sua própria miséria para
cuidar adequadamente das crianças, é isso.

— Que ele esteja em casa — ela rezou.

Ela atravessou os campos para cortar caminho e correu pelo parque


Broadacres em direção ao lado da casa. Jeremy estava no quintal, colocando os
arreios na charrete. Quase sem fôlego para falar, ela parou na frente dele.

— Srta. Cavenhurst, o que está acontecendo?

— Procure Lord Wyndham, por favor, é urgente.

O homem desapareceu enquanto ela ficava parada com a mão ao lado do


corpo dolorido, recuperando lentamente o fôlego. Mark se juntou a ela quase
imediatamente.

— Tom e Harry fugiram e pegaram Bonny e a charrete. Temos que


encontrá-los.

Ele estava admiravelmente calmo quando a ajudou a entrar na charrete,


subiu ao lado dela e atiçou os cavalos rapidamente.

— Não sei o que os possuiu para fazer isso — disse ela. — Eles nunca
deram a menor dica de que estavam infelizes.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Todos os garotos gostam de travessuras — ele disse. — Duvido que
tenham ido longe. Voltaremos à Witherington House primeiro. Eles podem ter
voltado.

No cruzamento ele foi forçado a abrandar. Havia uma série de atividades


no Fox e Hounds quando um condutor de coche apareceu para trocar de cavalo,
deixar os passageiros e levar os outros. O trabalho da pousada estava pronto,
pronto para levar os visitantes ao seu destino final. Assim que a estrada ficou
limpa, ele seguiu em frente e entrou na pista para Witherington.

— Estou tão agradecida por você estar em casa.

— Vamos encontrá-los, pare de se preocupar.

— Não posso evitar. É tudo culpa minha. Eu deveria ter tomado mais
cuidado com eles. Eu deveria ter contratado o professor de que falamos. Nunca
me perdoarei se algo ruim lhes acontecer. Eles podem ter tombado em uma vala
e estar ali, incapazes de se mover. Eles podem até ter... — Ela não sabia dizer.

— Jane, pare, pare imediatamente. Você não tem culpa e eles têm
quantos anos?

— Harry tem dez anos e Tom, nove.

— Eu estava fazendo travessuras por toda a propriedade naquela idade.


Eles são velhos para a sua idade, Jane. Não pense neles como crianças, eles são
muito pequenos, mas adultos muito astutos, acostumados a se defender dos
demônios.

Ela conseguiu sorrir.

— Vamos torcer para que você esteja certo.

***

Eles estavam quase na Witherington House quando viram a charrete sair


de uma faixa estreita na frente deles. Os meninos estavam lá, mas estavam
sendo dirigidos por um homem.

— Não grite — disse Mark enquanto se afastava um pouco atrás deles,


combinando a marcha do cavalo com a de Bonny. — Não queremos assustar o
sujeito a galopar. Quando saírem da pista para a alta estrada, eu vou procurar
uma oportunidade para ultrapassar e impedi-los. Não posso fazer isso aqui, a
estrada é muito estreita.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Mas eles não pegaram a estrada, a charrete entrou nos portões da
Witherington House e continuou subindo a estrada, seguida de perto pelo
coche. Assim que os dois pararam, Jane saiu correndo e correu para os meninos,
com a intenção de confrontar o homem. Ele pulou e se curvou para ela.

— Senhora acredito que estes lhe pertencem.

— Sr. Estaban! — ela exclamou.

Mark estava ao lado dela.

— Você conhece esse homem, Jane?

— Sim, ele veio me procurar por um emprego.

Todos começaram a conversar de uma só vez. Jane expressando sua


gratidão, os meninos contando suas aventuras com entusiasmo e Mark
acusando o homem de sequestrar as crianças e roubar o pônei e a charrete.

— Desculpe senhor — disse Paolo. — Eu nego isso. Encontrei os jovens


cavalheiros tentando virar o veículo em um portão de campo. Uma roda ficou
presa no poste do portão. Eu reconheci o pônei e os ajudei a libertá-la, então os
persuadi a permitir-me trazê-los de volta.

— Isso é verdade? — Mark perguntou a Harry.

— Sim — ele disse, envergonhado. — Só queríamos tentar dirigir.

— Então é melhor você entrar e nos contar sobre isso — disse Mark,
conduzindo-os pela porta da cozinha.

— Aqui estão eles — Jane disse a Sra. Godfrey e à Sra. Butler, que
estavam sentadas à mesa da cozinha discutindo a situação. — Sãos e salvos.
Tenho certeza de que eles estão com fome e sede, então você pode encontrar
algo para comer e beber e levar para a pequena sala? — A sala, que antes era o
antigo quarto de Sir Jasper, havia sido completamente limpo e agora era uma
sala de estar confortável, que Jane gostava de considerar seu escritório.

***

Não demorou muito para estabelecer a verdade do que o Sr. Estaban


havia dito e ouvir o relato dos garotos sobre sua aventura. Eles pretendiam ir à
cidade mais próxima apenas para olhar em volta, disseram, mas perceberam
que haviam tomado uma curva errada quando a estrada terminou em uma

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


vasta extensão de água. Ao tentar dar a volta, eles ficaram presos. O cavalheiro
os ajudou.

— Expliquei a eles a preocupação que causariam a você — disse Estaban.


— Você é mulher sozinha em uma família de mulheres com apenas um
empregado idoso. Isso não é bom. Você precisa de um homem.

Jane olhou para Mark e sentiu a cor inundar suas bochechas.

— O Sr. Estaban está certo, você sabe — disse ele. — Você precisa de um
homem.

— Mas você vem quando pode.

— Receio que não seja suficiente. Deve haver alguém aqui o tempo todo.
Sr. Estaban, acredito que você se inscreveu aqui? Você ainda deseja isso?

— Sim.

— Fale-me sobre você.

— Este é lorde Wyndham — explicou Jane. — Ele é um dos


administradores da Casa das Crianças Hadlea.

Paolo contou a Mark a mesma história que contara a Jane.

— Eu posso gerenciar cavalos e crianças — ele terminou.

— Pensei em comprar o pônei e a charrete para o Lar — Jane


acrescentou. — Acho que vou precisar.

— Boa ideia. Farei uma oferta a Sir Edward em nome dos curadores. —
Ele voltou-se para Estaban . — Onde você está ficando?

— Em uma pousada ao longo da estrada de Lynn.

— Vá buscar suas coisas. Você pode começar imediatamente. E vocês,


rapazes, levem esses pratos vazios de volta para a cozinha e fiquem atentos até
eu decidir qual castigo dar a você. Vocês podem começar cuidando de Bonny e
do meu cavalo.

Eles obedeceram e Mark e Jane estavam sozinhos. Ele mudou para


sentar-se ao lado dela e colocou a mão sobre a dela.

— Pare de tremer, Jane, meu amor, tudo acabou. Eles estão seguros e o
Sr. Estaban será um trunfo, tenho certeza.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Ele não pode tomar seu lugar.

— Espero que não!

Foi uma tentativa de humor e ela sorriu obedientemente.

— O que você tem feito ultimamente?

— Isso e aquilo. Fazendo perguntas, procurando um milagre.

— Milagres quase nunca acontecem. Seria imprudente colocar nossa


confiança em milagres.

— Oh, eu não sei... — Ele não pôde continuar. Ela já estava chateada o
bastante por um dia e ele não conseguiu acrescentar nada. — Você gostaria que
eu te levasse para casa?

— Não, obrigada. A charrete está aqui e devo esperar o Sr. Estaban


voltar. Além disso, passo pouco tempo em Greystone atualmente. Lorde
Bolsover está sempre lá, exultante.

— Não case com ele, Jane, por favor. Eu não aguentaria.

— Mark, não depende de você. Você vai se casar com Isabel. E há


algumas pessoas que acham que estarei bem por encontrar um marido rico na
minha idade e um com um título também. Eu sei que muitos dos moradores
pensam assim.

— Certamente você não.

— É algo que tenho que ter em mente.

— Eu não acredito nisso.

Ela suspirou.

— Não adianta recorrer ao mesmo terreno novamente, isso não vai


alterar nada. Vá para casa, Mark, por favor.

Relutantemente, ele a deixou. Como um autômato, ele subiu na charrete


e pegou as rédeas. Como, quando ele estivesse casado com Isabel, ele poderia
suportar ter Jane tão perto e tão longe de seu alcance? Ela estava determinada a
aceitar Bolsover? Ele não sentiu nada além de fúria em relação a Sir Edward
Cavenhurst e todo o seu clã por trazê-la para essa situação. Ele sentiu fúria por
Drew, aparentemente ignorando sua carta, provavelmente porque Isabel não

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


estava mais no alto de seus afetos e ele não queria encontrá-la novamente.
Acima de tudo, ele estava furioso consigo mesmo por sua impotência.

***

A carruagem tinha saído do Fox e Hounds e tudo estava quieto quando


ele virou a esquina e partiu para Greystone Manor. O que ele queria dizer a
todos quando ele chegou, ele não tinha ideia, mas ele ia explodir se ele não
contasse como ele se sentia. Ele esperava que isso fizesse Isabel pensar
novamente. Ele mal ouviu o cavalo até que estivesse quase em cima dele.

— Mark! Espere aí! Pare, está bem?

Ele se virou e viu Jonathan galopando atrás dele e parou o cavalo.

— Como você sabia para onde eu estava indo?

— Jeremy me disse. Volte para Broadacres, Mark. Drew está lá.

— Drew?

— Sim. Ele era a favor de sair correndo para Greystone Manor assim que
chegasse, mas eu o convenci de que ele deveria falar com você primeiro. Ainda
bem que eu te vi ou teria ido a Witherington e perdido você.

Mark virou a charrete em um portão da fazenda e logo estava voltando


para Broadacres com Jonathan andando ao lado dele. Assim que chegou, correu
para dentro de casa, deixando seu amigo para cuidar dos cavalos. Drew estava
na sala de estar, saboreando chocolate quente e bolo com a mãe.

— Drew, onde você esteve? — Ele demandou.

— Mark, isso dificilmente é uma saudação adequada. —disse a mãe. —


Sente-se e pegue algo para comer e beber. Tenho certeza de que você saiu sem
tomar café da manhã.

Ele se sentou e observou a mãe servir uma xicara de chocolate para ele.
Ele a pegou, mas recusou a comida. Ele estava tenso demais para comer. Ele se
virou para Drew.

— Você recebeu minha carta?

— Eu recebi.

— E?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu mal podia acreditar no que estava lendo. Claro que vim embora
imediatamente.

— Mas isso foi há semanas.

— Sim, me ouça, sim?

— Continue.

— Quando consultei os horários, parecia mais fácil ir para Londres e


depois sair novamente para Norfolk, e foi o que fiz. No caminho, comecei a
pensar no que você havia dito em sua carta e me pareceu que Hector Bolsover
tinha algo de desonesto, algo que ele preferia que não soubéssemos. De onde
veio toda a sua riqueza quando seu patrimônio é modesto? Tudo isso poderia
ter sido adquirido no jogo? Ele trapaceou em grande escala? Por que ele
gostaria de viver em um lugar rural como Hadlea, quando ele obviamente
gostava dos atrativos da cidade? Ele não me parece um homem que seria
particularmente sensível ao passado de sua família. Ele estava apenas usando
isso como desculpa?

— Pensei em tudo isso — Mark acrescentou. — Fui a Londres


pessoalmente e fiz longas investigações sobre quem o conhecesse. Tudo o que
eu consegui entender era que ele nunca havia servido no exército, embora
tivesse passado algum tempo na Península e que, ao voltar, sua mãe lhe dera
um ultimato para se casar. Parece que, o que quer que ele seja, ele é um filho
obediente.

— Sim. Ele nasceu quando sua mãe havia perdido toda a esperança de
ter um filho. Seu pai morreu quando ele era menino e ele olhou por sua mãe em
tudo. A palavra dela é lei.

— Continue.

— Decidi descobrir o que podia antes de ir para Hadlea e começar com


Toby Moore. Quando falei com ele antes, senti que ele estava escondendo
alguma coisa.

— Procurei eu mesmo, mas ele estava fora da cidade. Ninguém sabia


onde.

— Ele voltou. Sem dúvida, ele ficou sem anfitriões generosos. Decidi
colocar o temor de Deus nele. Ele sorriu. Ele não é um homem valente, Mark.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não. Wellington o afastou por covardia. Ele teve sorte de não levar
um tiro.

— Foi nessa época que ele conheceu Bolsover, que morava em Lisboa.
Eles se uniram para jogar, nem sempre honestamente. Bolsover era casado com
uma garota portuguesa, filha de um conde rico. Ela herdou uma grande fortuna
com a morte de seu pai e ele estava ocupado gastando-a. Quando parecia que as
autoridades os estavam apanhando por suas práticas violentas, ele e Toby
fugiram do país e voltaram para a Inglaterra.

— O que aconteceu com a esposa dele?

— Estou indo para isso. Você se lembra de que eu disse que estava
comprando um navio? Bem, eu comprei um, um lindo Clipper, muito rápido,
chamado Andorinha, que estava pronto para uma viagem à Índia. Naveguei nele
até Lisboa e encontrei Lady Bolsover. Ele a espancara até ela quase perder sua
vida, e ela fugira para a tia e o tio e, como você pode imaginar, eles querem se
vingar. Eles enviaram o filho, primo de Juanita, para a Inglaterra para localizá-
lo, mas não há notícias dele há algum tempo. Acho que Bolsover soube disso e
queria um lugar para se esconder. As dívidas de Sir Edward e a velha história
de família de Colin Paget lhe deram a ideia.

— Ele é casado — disse Mark, incapaz de esconder a emoção de sua voz.


— Ele já é casado! Ele não pode se casar com Jane. — Ele pulou e torceu a mão
de seu amigo. — Obrigado, Drew, obrigado.

— E Isabel? — Lady Wyndham entrou. Estava ouvindo atentamente,


mas não havia participado da conversa. — E há as dívidas de sir Edward. Você
solucionou apenas metade do problema.

Mark virou-se para Drew.

— E Isabel?

— Pretendo ir para Greystone Manor assim que descansar. Só voltei


ontem à Inglaterra e estou cansado como o diabo. Minha senhora, se você
pudesse me fornecer uma cama por um ou dois dias, ficaria agradecido. Eu
preciso estar novo e ter o meu juízo sobre mim, se quiser convencer Sir Edward
a me aceitar. Se for preciso dinheiro, então ele terá. Eu já disse ao capitão do
Andorinha para encontrar Teddy quando ele chegar em Calcutá e trazê-lo para
casa. Isso deve adoçar Sir Edward um pouco, mas, se não Sir Edward, sua
esposa.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Eu preciso voltar para Jane — disse Mark.

— Hoje não, Mark — disse lady Wyndham. — Vocês podem ir a


Greystone juntos amanhã. — Ela tocou uma campainha ao seu lado para
chamar um criado para conduzir Drew para um quarto. Assim que ele se foi,
ela se virou para Mark. — Seja como for, isso causará um enorme escândalo.

— Eu sei mamãe, mas nada como o que poderia ter acontecido se eu


tivesse fugido com Jane ou se Drew tivesse fugido com Isabel.

— Espero sinceramente que você não tenha pensado nessa ideia.

— Eu nunca poderia ter feito isso, mesmo que Jane concordasse o que
tenho certeza de que ela não faria.

— Então, esperemos que sir Edward seja agradável.

***

Na manhã seguinte, os dois homens, ambos nervosos, partiram para


Greystone Manor. Mark vestia um casaco de cauda longa azul superfina e calça
pantalonas, e Drew usava um fraque e calças de nanquim dobradas abaixo do
joelho. Ambos passaram um tempo incontável amarrando suas gravatas e
ajustando as mangas de suas camisas. Para uma visita tão formal, eles
escolheram pegar o coche de Wyndham, dirigido por Jeremy.

— Vamos assustar Bolsover da cama dele? — Mark sugeriu quando eles


se aproximaram do Fox e Hounds. — Eu tenho uma ideia para fazê-lo rastejar.

— Nada me daria maior prazer.

Mark pediu a Jeremy para estacionar na estalagem e os dois jovens


entraram e perguntaram pelo quarto de lorde Bolsover. Dois minutos depois,
eles abriram a porta e viram o homem assustado sentado na cama com uma
bandeja de café da manhã no colo.

— Que diabo...? — Ele começou, mas foi interrompido quando Drew


removeu a bandeja e a colocou em uma mesa próxima.

— O café da manhã acabou, senhor — disse ele. — É hora de dizer adeus.


O jogo acabou e temos todos os trunfos.

— Eu não sei do que você está falando.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Estamos falando de uma pequena questão de tentativa de bigamia —
disse Mark. — É muito contra a lei. Sei que o príncipe regente se safou disso,
mas você não é o príncipe regente.

— Você está falando besteira. — Ele estava claramente agitado, mas com
os dois homens em pé sobre ele, um de cada lado da cama, ele não podia se
mover.

— O nome da dama é Juanita — disse Drew —. Juanita Estaban é o nome


dela. Tenho uma cópia da certidão do casamento realizada na catedral de
Lisboa. Gostaria de vê-la, para refrescar sua memória?

— Não.

— Não, claro que não. Você sabe exatamente o que diz. Você a deixou
quase morta e fugiu de volta para este país. Mas você está seguro? Você sabia
que os parentes de sua esposa estão procurando por você? Sim, claro que sim, é
por isso que você está se escondendo aqui. Imagino que eles gostariam de saber
onde você está. Eu não gostaria de estar no seu lugar se eles o encontrarem.

— Você está falando besteira. — Ele estava claramente agitado.

— É bigamia ou assassinato? — Mark perguntou para Drew. — Seja o


que for nosso homem está com problemas.

— Ele certamente está — concordou Drew. — Vamos prendê-lo até que


possamos levá-lo perante a justiça?

Mark riu.

— Eu sou a justiça.

— Eu tinha esquecido. Existe uma carceragem na vila?

— Sim, perto da igreja. Ele estará seguro o suficiente lá, enquanto


enviamos as relações de sua esposa. Ou poderíamos contar à mãe dele. Eu me
pergunto por que ele nunca disse a ela, já que ela quer que ele se case.

— Talvez ela não goste de damas portuguesas — disse Drew. — Alguns


desses velhos aristocratas são assim, eles querem sangue inglês bom na sua
linhagem.

— Não, eu imploro, não. — Bolsover tremia de terror.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Então você tem apenas um curso aberto para você — disse Mark. —
Deixe Hadlea, abandone o seu tormento à Srta. Cavenhurst e vá embora para
onde a lei não o encontrar. Não vou responder pelas consequências, se não o
fizer. Esteja na carruagem da tarde.

— Se eu não fizer?

— Depende de você, é claro — disse Mark. — Mas não gostaria de estar


no seu lugar quando Estaban o encontrar. — Ele se virou para Drew. — Vamos
deixá-lo pensar sobre isso?

— Você é muito indulgente, meu amigo, mas como estou ansioso para
seguir meu caminho, vamos dar a ele a mesma chance que damos à raposa.
Corra ou sofra as consequências.

Mark ficou pensativo quando eles voltaram para a carruagem.

— Há um homem chamado Estaban trabalhando na Witherington


House, disse ele. — Não pode ser uma coincidência, pode?

— Improvável, devo dizer.

— Ele deve saber onde está Bolsover ou por que ele estaria aqui?

— Não é problema nosso, meu amigo. — A carruagem parou junto à


mansão. — Vou deixar você contar as boas notícias a Sir Edward. Pretendo
levar Isabel para algum lugar onde possamos ficar sozinhos.

A porta foi aberta por Sophie, que gritou ao ver Drew e correu de volta
para a sala de estar.

— Papai, mamãe, Issie. Lorde Wyndham está aqui e ele tem o senhor
Ashton com ele.

Isabel correu para o corredor e parou para encarar Drew.

— É realmente você?

Ele sorriu.

— Se não for, não sei quem mais pode ser. — Ele pegou a mão dela e
curvou-se sobre ela. — Como você está coração?

Ela olhou dele para Mark.

— Mark?

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Não se importe comigo — disse ele. — Vou falar com seus pais e Jane.

— Jane não está aqui, ela foi para Witherington. Agora ela passa o tempo
todo lá.

Ele gostaria de ter se virado e ido direto para ela, mas a cortesia exigia
que ele falasse primeiro com Sir Edward e Lady Cavenhurst. Ele entrou na sala
e curvou-se para os dois.

— Bom dia, Sir Edward. Minha senhora. Espero que vocês me perdoem
por ter chegado tão cedo, mas tenho boas notícias e não pude esperar para lhe
contar.

— Sophie disse que o Sr. Ashton estava com você.

—Ele está. Ele está conversando com Isabel. Sem dúvida, eles se juntarão
a nós em breve.

Sir Edward se levantou com raiva.

— Você quer dizer que os deixou sozinhos juntos?

— Sim, mas permita-lhes alguns minutos enquanto explico.

Sir Edward estremeceu, mas aceitou.

— A primeira coisa que preciso lhe dizer é que você não tem mais nada a
temer de lorde Bolsover. Seu passado covarde foi descoberto e ele foi
desacreditado. Ele não incomodará vocês de novo. Você está sem dívidas e
Greystone está em segurança.

— Senhor misericordioso — disse sua senhoria.

— Essas são realmente boas notícias — acrescentou Sir Edward. — Mas


como isso aconteceu?

— Através dos bons ofícios do meu amigo, senhor Ashton. É ele que você
tem que agradecer.

— Oh. É melhor você nos contar o que houve.

— Vou deixar isso para Drew, ele conhece os detalhes. Pretendo ir à


Witherington House para falar com Jane, se você me dá licença.

— Sim, claro — disse Lady Cavenhurst —. Ela ficará muito aliviada.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Ele curvou-se e saiu, passando por Drew e Isabel no hall. Eles estavam
abraçados e se beijando.

— Toda sua — disse ele, rindo, e foi até a carruagem com o coração mais
leve do que estivera há muito tempo.

***

Paolo Estaban estava provando ser ativo. Ele era jovem e forte e se
tornou útil de todas as maneiras. Ele já havia identificado o que precisava ser
feito antes que Jane pudesse perguntar. Prateleiras bambas, janelas trancadas,
legumes para serem trazidos do jardim, Bonny para ser arrumada, tudo tratado
como que por mágica. E o nome Witherington House logo seria pintado na
lateral da charrete. Ele conversara com Jane de sua casa e insinuou que houve
um erro terrível, mas na maioria das vezes mantinha seus pensamentos para si.

— Conte-me sobre sua família — ela perguntou um dia, quando eles


estavam trabalhando juntos no jardim. — Você sente falta deles?

— Sim senhora, sim.

— Fale-me sobre eles.

— Tenho pai e mãe, duas irmãs e uma prima que moram conosco. Ela é
casada com um inglês.

— O oficial que trouxe você para a Inglaterra?

— Não. Este homem não é um oficial. Ele se diz um cavalheiro, mas ele
não é um cavalheiro. Ele tratou Juanita cruelmente e quando ela o confrontou
sobre suas apostas e suas amantes, ele a espancou tanto que ela quase morreu.
Eu a encontrei e a levei para casa para meus pais. Quando fomos procurar por
ele, descobrimos que ele tinha voltado para a Inglaterra, tendo a sua fortuna
com ele. É de admirar que desejemos vingança?

— Você sabe onde ele está?

— Oh, sim, eu sei onde ele está. Não vai demorar muito agora.

— O que você pretende fazer?

— Não me decidi. Posso enfiar uma espada em seu coração maligno, ou


atirar nele, mas primeiro tenho que ter o dinheiro.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Você não deve tomar a lei em suas próprias mãos, senhor Estaban —
disse ela, completamente alarmada. — Diga às autoridades. — Ela tentou.

— E você acha que eles vão acreditar em mim? Dirão que o homem tem o
direito de espancar a esposa e fugir com o dinheiro e as joias dela. Talvez ele
tenha um acidente. Ou talvez eu o desafie a um duelo.

— Oh, não — ela exclamou. — Duelos são ilegais neste país e você pode
ser morto. Sua vida é valiosa demais para ser jogada fora assim. Conte a Lorde
Wyndham sua história. Tenho certeza de que ele fará justiça.

Ele sorriu devagar.

— Não, senhora, devo fazer o que devo fazer. Agora vou colocar esses
espinhos na fogueira.

Ela o observou enquanto ele empilhava a fogueira, tirou uma caixa de


pavio do bolso do casaco e acendeu a tocha para levar junto a pilha. Algumas
delas estavam ali há semanas e estavam secas e quebradiças. Logo havia um
bom fogo. Ela se virou para voltar para casa, imaginando o que fazer pelo
melhor. Ela deveria tentar impedi-lo de fazer o que quer que ele tivesse em
mente. Um ou outro deles seria ferido, se não morto, e embora ela não tivesse
simpatia pelo inglês, quem quer que fosse, ela não podia ficar parada e deixá-lo
ser morto. Essa emergência era suficiente para chamar Mark? Mas Paolo não
tinha feito nada de errado até agora e pode até mesmo negar sua conversa com
ela. Ela apenas teria que observá-lo e tentar convencê-lo a não fazer nada
precipitado.

Ela olhou para cima e viu a Sra. Butler vindo em sua direção.

— Você tem uma visita, senhorita Cavenhurst. Deixei-o em sua sala


andando como um animal enjaulado.

— Ele disse o nome dele?

— Não. Mas já o vi na vila Hadlea uma ou duas vezes.

Não poderia ser Mark, a Sra. Butler conhecia Mark, nem seu pai, pois ele
não teria retido seu nome. Havia o amigo de Mark, Jonathan Smythe, mas o que
ele iria querer com ela? Aconteceu alguma coisa com Mark? Ela correu para
dentro de casa.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Capítulo Treze

A última pessoa que ela esperava ver era Lorde Bolsover, mas foi quem a
confrontou quando ela foi para o salão.

— O que você está fazendo aqui? — Ela exigiu.

— Isso dificilmente é uma saudação civilizada. — Ele parecia um pouco


desgrenhado, como se tivesse se vestido às pressas. Seu cabelo não estava tão
bem penteado quanto costumava estar e sua gravata estava torta.

— Estou muito ocupada — disse ela. — Por favor, indique o seu negócio
e esteja a caminho.

— Meu negócio é com você.

— Você não tem negócios comigo até depois do casamento da minha


irmã, e não se eu pudesse pensar em uma maneira de sair disso sem arruinar
minha família.

— Não estou disposto há esperar tanto tempo. Preciso me casar e quanto


antes melhor, para agradar minha mãe. Agradar minha mãe é fundamental,
você vê. Não creio que possamos ter as núpcias na igreja de Hadlea, o
reverendo de lá é obrigado a chamar os proclamas ou ter a bênção do bispo e
não queremos que toda essa bobagem nos atrase, não é? Uma declaração
simples e uma consumação serão suficientes.

— Se você pensa que me comportarei dessa maneira vergonhosa, pode


pensar novamente, meu senhor. Você deve esperar até minha irmã se casar. Fiz
um compromisso para lhe dar uma resposta então. Agora, por favor, vá.

— O problema é — disse ele, sem se mexer para fazer o que ela pediu —,
não acho que lorde Wyndham se case com sua irmã, afinal, o que é uma pena.
Significa que tenho que mudar meus planos.

— O que você quer dizer?

— Isabel acho que tem outras ideias. Temo que ela esteja prestes a fugir
com o Sr. Ashton.

— Eu não acredito em você.

Ele encolheu os ombros.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— Isso depende de você. Haverá um escândalo terrível, é claro. Quanto a
Lorde Wyndham... — Ele deu uma risada embargada —. Ele perderá a noiva e a
amante.

— Não seja ridículo. Você está bêbado. — Ela estava apavorada, mas
tentando não demonstrar. Se ela gritasse por ajuda, alguém iria ajudá-la? Ela
abriu a boca para gritar, mas ele bateu a mão no rosto dela, empurrando a
cabeça com força contra a parede.

— Eu disse à minha mãe que havia encontrado uma noiva adequada e


ela naturalmente deseja conhecer você. — Ele a agarrou pelo braço. — Minha
carruagem está esperando.

— Me deixe. — Sua cabeça estava girando com o impacto na parede. —


Eu não vou a lugar nenhum com você.

— Infelizmente, minha querida, você não tem escolha. — Ele começou a


arrastá-la para a porta externa. Ela abriu a boca para gritar, mas ele antecipou
isso e colocou uma mão sobre a boca e com a outra empurrou o braço para trás
das costas. Ela lutou, mas ele simplesmente deu outro puxão em seu braço. Foi
terrivelmente doloroso e a forçou a seguir em frente. Ele a levou para o caminho
do jardim e contornou a lateral da casa em direção à carruagem. Seu motorista
estava parado perto dela e abriu a porta. Ela se sentiu sendo levantada e
largada no banco. Livre da mão dele sobre a boca, ela gritou e continuou
gritando. Ele levantou a mão para golpeá-la. Então ela viu outra mão surgir
atrás dele, uma mão brandindo um tição.

Bolsover a abandonou para lidar com essa nova ameaça. A única arma
que Paolo tinha era o bastão em chamas e ele se deparou com dois adversários.
Ele os segurou, acenando de um para o outro e gritando em português,
cutucando-os. Estavam todos muito perto da carruagem para ela sair. Então o
pano do martelo19 pegou fogo. Em um piscar de olhos, chamas lambiam ao
longo do corpo e pegavam nas cortinas.

Os cavalos entraram em pânico e começaram a empinar, ameaçando


derrubar a carruagem. O pandemônio se seguiu quando outras pessoas
chegaram e tentaram apagar as chamas. Jane não podia vê-los pela fumaça, mas
tinha certeza de que era a voz de Mark que ouvia dando instruções. Então

19Um pano ornamentado, muitas vezes com franjas, pendia do assento do cocheiro,
especialmente de um cocheiro cerimonial.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


alguém a alcançou e a puxou para fora. Ela se sentiu sendo levada do calor e
gentilmente colocada na grama a alguma distância.

Ela tossiu.

— Mark é você?

Ele se sentou ao lado dela.

— Sim meu amor. Você está segura agora.

— Lorde Bolsover?

— Superado pela fumaça. Ele se recuperará para ser julgado.

— E Paolo?

— Suas mãos estão queimadas e seus cabelos chamuscados, mas a Sra.


Butler está cuidando dele. Você está machucada?

— Não, só um pouco. Estou morrendo de sede.

— Você deve tomar um licor.

Ele a pegou e a levou para dentro de casa.

— Traga à Srta. Cavenhurst um chá calmante e uma dose de licor — ele


instruiu a Sra. Godfrey enquanto passava pela cozinha até a sala de estar. Ele
colocou sua carga no sofá e sentou-se ao lado dela, colocando o braço sobre os
ombros dela. — Acabei de chegar a tempo. Estaban não poderia aguentá-los por
muito mais tempo e a carruagem estava bem acesa.

— Ele é um homem corajoso. Eu acho que ele conhecia Lorde Bolsover.


Ele tinha contas a acertar e falou em vingança, mas afinal não era vingança, ele
fez isso para me salvar.

— Ele fez mesmo.

A Sra. Godfrey chegou com uma dose generosa e um chá. Ele gradeceu e
ajudou Jane a beber.

— Foi terrível, Mark. Lorde Bolsover disse que me levaria para conhecer
sua mãe e não teríamos problemas com um casamento na igreja.

— Está tudo acabado, meu amor. Tudo. Ele não pode machucá-la agora.

— Ele tem uma esposa. Paolo me contou sobre o marido inglês de sua
prima, mas eu não sabia que ele estava falando de lorde Bolsover.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


— O seu senhorio tinha a impressão de que ele a matara. Ele fugiu para a
Inglaterra para escapar da justiça portuguesa, mas ela se recuperou.

— Ele disse que Issie iria fugir com o Sr. Ashton.

Ele riu.

— Não, acho que eles não farão isso. A menos que eu perca o meu
palpite, eles obterão o consentimento total de Sir Edward. — Ele parou para
beijar a ponta do nariz dela. — Estamos livres para casar, Jane, minha querida.
Ou seja, se você me quiser.

— Claro que sim, mas o escândalo...

— Não deve haver escândalo, Jane.

— Oh, Mark. — A cabeça dela pousou no ombro dele quando o licor


entrou em vigor. Ele sorriu e beijou o topo da cabeça dela e a abraçou. Eles
teriam muito tempo para conversar quando ela acordasse. No momento, ele
ficou feliz em sentar-se com o corpo adormecido dela nos braços e contemplar
um futuro róseo em casa com a mulher que amava.

***

Tudo foi explicado e meditado em Greystone Manor, enquanto todos


davam sua própria versão dos eventos. O Sr. Bolsover, com o rosto gravemente
marcado pelo fogo, retirara-se para morar com a mãe, escondido da sociedade,
e Paolo Estaban voltara a Portugal satisfeito com sua vingança. Até o escândalo
foi reduzido a um simples murmúrio. Tinha sido dado a conhecer que Lorde
Wyndham e a Srta. Isabel Cavenhurst tinha concordado em terminar o noivado
por mútuo consentimento o que foi seguido, algumas semanas mais tarde por
um anúncio do noivado de Srta. Isabel Cavenhurst e Sr. Andrew Ashton e o do
Barão Wyndham de Broadacres com a Srta. Jane Cavenhurst , filha mais velha
de Sir Edward e Lady Cavenhurst de Greystone Manor.

O anúncio foi feito em um recital dado em Broadacres por Lady


Wyndham. Todos os seus amigos aristocratas haviam sido convidados e ficou
claro para eles que a noite ajudava a Casa das Crianças Hadlea e que eles
deveriam doar generosamente. Era um assunto brilhante, com todos vestidos
com elegância para ouvir os melhores músicos e solistas do país. Eles não
haviam sido avisados do anúncio e foram recebidos com surpresa e parabéns.
Várias centenas de libras foram levantadas para os órfãos, que agora contavam

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


quinze. O mestre e a governanta haviam chegado à Witherington House, assim
como um professor, um jovem entusiasmado que Mark havia encontrado.

Os moradores de Hadlea receberam as notícias do duplo compromisso


com muito alívio e sem surpresa. Para eles, era algo que todos poderiam ter
previsto semanas antes.

***

Dois casamentos ocorreram no mesmo dia na igreja de São Pedro, para


os quais todos foram convidados. Isabel usava o vestido de casamento que Jane
havia feito para ela e Jane fizera outro para si mesma em um rico cetim creme.
O café da manhã do casamento, realizado em Greystone, foi a esplêndida
ocasião que Isabel esperava que fosse. A casa havia sido reformada, não porque
Drew pagou, embora estivesse disposto a fazê-lo, mas porque Teddy havia
voltado da Índia como um homem rico. Na viagem para a Índia, ele teve tempo
para pensar em sua vida e aonde isso levaria se não se arrumasse e, lembrando-
se do que Drew havia dito sobre fazer fortuna no comércio, havia virado as
costas para a mesa de cartas e tentou sua mão no comércio. Sua chegada às
vésperas dos casamentos tornara o dia mais feliz ainda.

***

— Bem, Jane, meu amor — disse Mark mais tarde naquela noite. —
Tivemos o nosso milagre, não tivemos?

— Só porque você e Drew fizeram isso acontecer. — Ela estava sentada


na cama de dossel em Broadacres, observando-o se despir. Dispensando a
empregada e o camareiro, eles começaram a se despir, pouco a pouco, até que
ela estava nua e ele vestia apenas as calças. Foi então que ela ficou tímida e ele
se levantou para se desfazer do último ponto de suas roupas. Então ele deitou
na cama ao lado dela.

— Você está feliz com o nosso milagre? — Ele perguntou.

— Eu não poderia estar mais feliz.

— Ah, mas acho que você pode e vou mostrar como, minha adorável
esposa.

Ela riu um pouco nervosa quando ele a alcançou, mas depois se esqueceu
de estar nervosa quando ele a puxou para ele e começou a beijá-la e acariciá-la

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


com carinho e ternura até que ela foi despertada para o êxtase de prazer,
respondendo tão naturalmente que ele estava encantado. Demorou muito
tempo até que se falassem de novo e então eles estavam saciados e sonolentos e
as palavras ‘eu te amo’, ditas por ele e repetidas por ela, ditas em um murmúrio
sonolento.

*****

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor


Mary Nichols

Nascida em Cingapura, Mary Nichols veio para a Inglaterra quando


tinha três anos e passou a maior parte de sua vida em diferentes partes de East
Anglia. Ela trabalhou como radiografista, secretária de escola, oficial de
informações e editora industrial, além de escritora. Ela tem três filhos adultos e
quatro netos.

Mary Nichols – Escândalo em Greystone Manor

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