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Greystone Manor
Mary Nichols
Jane Cavenhurst está feliz sozinha. Ela está mesmo. Mas quando o infeliz
casamento de sua irmã com o belo Mark Wyndham se aproxima, as barreiras protetoras
que cobrem seu segredo profundamente enterrado começam a se romper - pois Jane ama
Mark há anos.
Mas esse não é o único problema de Jane! Os Cavenhursts estão em dívida com o
vilão Lord Bolsover, e ele está de olho nela! Quando Mark percebe seus verdadeiros
sentimentos, ele sabe que não deveria ser ele a resgatar Jane, mas ele não pode se conter.
Na verdade, ele lutará com Bolsover, a alta sociedade e o escândalo para ganhar o que
O dilema central dos meus personagens principais pode parecer estranho para os
leitores modernos, que não hesitariam em romper um noivado, se percebessem que o
amor pelo qual haviam esperado estava faltando, mas no período em que minha história
se passa, os costumes sociais eram diferentes. O amor não era o único ou mesmo o
principal motivo para se casar. Título, riqueza, status, os desejos da família e a
necessidade de manter uma hierarquia ininterrupta, todos tinham seu papel. O divórcio
era apenas para os muito ricos e exigia uma Lei do Parlamento, e um compromisso era
um empreendimento solene. Uma dama podia enfrentar a censura da sociedade e
quebrar sua promessa de se casar, mas um cavalheiro nunca poderia. Era uma coisa
desonrosa de fazer e o deixava aberto a ser evitado pela sociedade, como um homem em
quem não se podia confiar para manter sua palavra.
Abril de 1817
— Fique quieta, Issie — disse Jane. — Como posso prender esta bainha
se você continuar pulando de um pé para o outro? E pare de se admirar no
espelho. Todos sabem que noiva linda você será.
— Você faz Isabel — havia dito à irmã. — Você é uma costureira tão boa
quanto qualquer mantenedora de Londres e, muito melhor do que a pobre
senhorita Smith.
— Muito bem, mas vamos pedir a senhorita Smith para fazer a costura
simples. — Ela poderia fazer o trabalho. A solteirona idosa vinha da aldeia três
vezes por semana para fazer anáguas para as mulheres, além de consertar
roupas rasgadas e consertar a roupa da casa.
Jane talvez fosse à única da família, além de seu pai, que percebeu que
eles estavam vivendo além de suas possibilidades, tentando manter um status e
um estilo de vida não proporcionais à renda. A propriedade estava destruída,
as cercas precisavam ser consertadas, as valas precisavam ser limpas, algumas
das casas precisavam de reparos e a própria casa precisava urgentemente de
reforma. Greystone Manor era uma adorável casa antiga, solidamente
construída para resistir à devastação do vento leste que soprava do oceano
alemão, mas isso não impedia que ela fosse arriscada. Sua grande sala de estar
era gelada no inverno e fresca no verão; suas enormes cozinhas e laticínios, com
piso de pedra, eram duros para os pés dos criados. A família costumava usar a
sala menor como sala de estar e a sala de café da manhã como sala de jantar,
exceto em ocasiões formais. Hoje as meninas estavam trabalhando no quarto de
Isabel, cuja janela dava para a entrada da frente. Lá fora, o sol da primavera era
quente e convidativo, e todos esperavam que este fosse o ano em que houvesse
uma boa colheita, o que compensaria o terrível fracasso do ano anterior.
Isabel a abraçou.
— Você é tão boa, Jane, gostaria de ser mais como você. Você é esperta
em tudo o que faz, costurando, cozinhando, administrando os criados e
também com as crianças da aldeia. Você deveria se casar também e ter seus
próprios filhos.
— Nem todos podemos ser esposas, Issie. — Disse Jane. Aos 27 anos,
todos, inclusive a própria Jane, sabia que já tinha passado da idade de se casar.
Jane sorriu, mas não respondeu. Houve alguém uma vez, dez anos antes,
mas não deu em nada. O pai dela desaprovava, alegando que o jovem não tinha
título nem fortuna, nem família de posição nem perspectivas. Ela poderia ter
melhor que isso, ele disse a ela. Mas ela nunca teve e, o único outro homem por
quem ela tinha chegado a ter sentimentos não tinha correspondido a sua
loucura, era um segredo profundamente guardado que ela nunca havia dito a
ninguém. Ela não era bonita e, comparada às irmãs mais novas, era a simples
Jane.
Como seus pais haviam conseguido produzir três meninas tão diferentes
uma da outra, Jane não conseguia entender. Jane e Isabel tinham cabelos
escuros, mas a semelhança acabou aí. Jane era mais alta que a média, ela tinha
traços fortes, sobrancelhas bem definidas e um queixo determinado. Isabel, seis
anos mais nova que Jane, era considerada a beleza da família. Ela era um pouco
mais baixa e mais curvilínea que Jane, e seu rosto era mais redondo e muito
expressivo, ela não era de esconder seus sentimentos. Lágrimas e temperamento
eram frequentemente mostrados, mas ela logo se recuperava e se tornava o seu
habitual eu ensolarado. Jane era mais cautelosa e mantinha seus sentimentos
para si mesma. Quanto a Sophie, ela era de cabelos louros e olhos azuis e, aos
dezessete anos, ainda não tinha se livrado do que sua mãe escolheu chamá-la:
de seu filhote gordinho.
— Como assim?
— Mas você o conheceu a vida toda. Você sabe que ele é alto e bonito,
que é atencioso e gentil, que tem bolsos cheios e gosta de mais nada do que
satisfazer a você. O que mais você pode pedir?
— Não, claro que não. Eu estou sendo boba. Ele não é nem um pouco
parecido com Teddy, não é?
— É Teddy — disse ela. — Meu Deus, onde ele conseguiu esse casaco?
Ele parece uma abelha.
Jane se juntou à irmã na janela. O irmão delas, três anos mais novo que
Jane e três anos mais velho que Isabel, acabará de descer do show que ele tinha
contratado no Fox and Hounds, onde o palco de Londres sem dúvida o deixara a
menos de meia hora. O casaco que Isabel tinha comentado era de listras
amarelas e marrons. Tinha uma saia de punho e reverso profundas. Suas calças
eram castanhas e o colete amarelo com manchas vermelhas.
— Gieves, onde mais? Você gosta disso? — Ele girou para exibi-lo. —
Onde está o papai? Eu preciso falar com ele. Ele está de bom humor?
— Oh, Teddy, não diga que veio pegar dinheiro com ele? — Jane disse.
— Você sabe o que ele disse da última vez.
— Sábias palavras, como sempre, Jane — disse ele. — Vou para o meu
quarto e coloco algo monótono —. Ele pegou sua mala no chão onde a deixara
cair e subiu as escadas, dois degraus de cada vez.
***
No que ela estava certa. Mesmo que Teddy tivesse mudado para um
casaco cinza escuro e uma gravata branca e um colete, ele evidentemente não
fora bem-sucedido com o pai. Ele estava ressentido, Sir Edward estava bravo e
Lady Cavenhurst chateada. Jane e Isabel tentaram aliviar a atmosfera pesada
conversando sobre o casamento e os feitos na vila e tiveram apenas sucesso
parcial, não ajudadas por Sophie exigindo saber qual era o problema de todos,
por que os rostos sombrios.
— Alguém poderia pensar que houve uma morte na família — disse ela.
***
— Papai está com muita raiva de Teddy? — Jane perguntou à mãe deles
enquanto se arrumavam nos sofás.
— Ele está mais decepcionado do que zangado — disse sua senhoria. Ela
ainda era uma mulher bonita, com uma figura ereta que desmentia seus
quarenta e nove anos. — Teddy prometeu a ele que limitaria sua extravagância,
mas parece que não aconteceu. Mas não vamos falar disso. Sem dúvida, isso
será resolvido de alguma forma. — Era típico da mãe fechar os olhos para
problemas na firme crença de que alguém os resolveria.
Elas não estavam sentadas por muitos minutos quando Sir Edward e
Teddy se juntaram a elas, mas Teddy logo se desculpou para sair. Jane se
levantou e o seguiu.
— Oh, querido, o que você vai fazer? — Eles entraram na biblioteca onde
havia um sofá confortável e sentaram-se lado a lado.
— Não sei o que fazer. Você não pode me ajudar, pode mana?
— Continue, quanto?
Jane não pôde deixar de rir e ficou aliviada ao ver uma leve contração
dos lábios do irmão em resposta.
Apenas um irmão seria tão franco. Doeu, mas ela não mostrou.
Quantos mais havia assim? Ela se perguntou, quantas crianças havia sem
casa, sem roupas adequadas e o suficiente para comer?
— Podemos falar com sir Mortimer para começar. — Sir Mortimer Belton
era o deputado local. — Se o problema lhe for colocado, ele poderá trazê-lo ao
Parlamento. Podemos fazer um barulho, chamar a atenção do público. Criar
uma assinatura para fornecer lares às crianças.
E uma cruzada tornou-se, mas tentar fazer o governo se mover era como
fazer cócegas em uma tartaruga. Jane havia decidido que devia dar o exemplo,
não em grande escala, não podia pagar, mas podia fazer algo localmente. Um
pequeno internato para cerca de uma dúzia de órfãos de soldados nas
— Você não pode pedir ao lorde Bolsover por mais tempo, para que
possamos pensar em alguma coisa? — Ela perguntou.
— Teddy, você é um tolo e não me admira que papai esteja com raiva de
você.
— Você acha que pode trazê-lo de volta? Ele sempre ouve você. Eu vou
estar para sempre em dívida com você.
Ela riu.
— Você tem dívidas suficientes sem me adicionar à sua lista, Teddy, mas
verei o que posso fazer com o papai. Não hoje à noite, no entanto. Dê há ele
tempo para se acalmar. Quanto tempo você vai ficar?
— Não posso mostrar meu rosto em Londres até que pelo menos
Bolsover esteja satisfeito.
— Que posição?
— Oh, Teddy, não diga que foi demitido? Não admira que papai esteja
furioso.
— Ele não sabe sobre isso. Não diga a ele. Se você não puder me ajudar,
terei que ir para o exterior, para as Índias, ou algo assim.
***
— Se não é Drew Ashton — exclamou Mark quando viu seu velho amigo
caminhando em sua direção ao longo de Piccadilly. — De onde você veio? Faz
anos desde que eu te vi.
— Eu me saí muito bem por aí. Você também não parece tão ruim assim.
O que você tem feito? Como estão a senhora sua mãe e lorde Wyndham?
— Sim você fez. Eu tinha esquecido. Então, o que você vai fazer agora
que está de volta a Inglaterra?
— Comércio, Drew?
— Por que não? Não sou tão pretencioso a ponto de virar o nariz para
uma boa maneira de fazer fortuna. — Ele parou de falar enquanto o garçom
trazia as costeletas de porco, suculentas e cheias de gordura, junto com uma
grande tigela de legumes. Eles se serviram e se acomodaram.
— Você poderia dizer isso. Saí com a intenção de fazer uma fortuna e
nisso consegui. Não sou mais o parente pobre a ser lamentado, porque
nenhuma jovem de qualquer posição me consideraria.
2
Longo e rápido navio a vela
3 Uma pessoa de grande riqueza ou destaque.
— Cavenhurst!
— Sim, agora que você me falou, eu lembro. Havia três jovens senhoritas,
eu me lembro, embora a mais jovem, não mais do que uma criança e, o do meio
ainda em suas aulas. A mais velha tinha dezessete ou dezoito anos. Lembro que
o nome dela era Jane. Eu mal me lembro dos outros nomes —. Ele falou com
indiferença, como se isso fosse indiferente para ele.
— Isabel é a segunda filha. Ela é de longe a mais bonita das três, mas
Sophie é jovem e pode crescer em sua aparência. Quanto a Jane, ela tem
algumas qualidades muito boas que posso admirar, mas a boa aparência não é
uma delas.
— Então você escolheu o grupo e não a mais velha. Isso não é um pouco
incomum?
— Jonathan Smythe era meu padrinho de casamento, mas ele teve que ir
à Escócia para visitar um parente idoso que está morrendo e, como sua herança
depende de sua presença no leito de morte, ele me abandonou para ir até ela.
Preciso ter alguém comigo no altar.
— Não vejo Jonathan desde que estudávamos juntos. O trio terrível, eles
nos chamavam, lembra?
— Não pense demais. Tenho que voltar para Norfolk depois de amanhã
e antes disso tenho que encomendar um terno adequado para um noivo. Você
vai me ajudar a encontrá-lo? Você pode me ajudar a escolher presentes para
minha noiva e sua acompanhante também, se você tiver uma em mente. É
sempre bom não fazer essas coisas sozinho. Um sábio conselheiro é o que eu
preciso.
Andrew riu.
Andrew pegou.
Mark sorriu. Ele ficou satisfeito no momento. Ele não duvidou que fosse
capaz de convencer seu amigo ir a Broadacres e, em seguida, poderia descobrir
a verdade sobre o porquê de ter desaparecido tão repentinamente. Ele não
acreditava na história dos negócios da família, porque, até onde ele sabia, a
única família de Andrew era uma tia-avó solteirona, que não desejava cuidar do
órfão quando sua mãe e seu pai morreram com semanas de diferenças. Ela o
tinha posto com pais adotivos até que ele tivesse idade suficiente para ir à
escola. Pelas coisas estranhas que Drew lhe dissera, ele tinha sido exposto a
abuso físico e tormento mental. Mark sempre sentiu pena dele quando estavam
na escola, porque quando todos os meninos iam para casa nas férias, ele havia
sido deixado para trás. Ele o convidara para Broadacres, mas, até que Drew
tivesse idade suficiente para tomar suas próprias decisões, havia sido proibido
***
— O que aconteceu?
***
Mark queria gostar de Teddy por causa de Isabel, mas ele sempre o
achara impetuoso e insensível, o que havia acontecido, ele supunha, porque ele
era o filho e herdeiro ansioso. Nascido entre Jane e Isabel, ele fora
completamente mimado por sua amada mãe. Então, o que ele fez para fazer
Halliday lhe dar a sacola 5? O que quer que fosse não agradaria sir Edward.
***
Ele conseguiu adivinhar mais tarde naquela noite, quando ele e Drew se
encontraram no White's e se juntaram a outros dois em um jogo de whist 6. Um
deles era Toby Moore, um antigo capitão do exército que Mark conhecera um
pouco durante a guerra, e o outro era lorde Bolsover. Eles não eram os dois com
quem ele normalmente escolheria jogar, mas todos os outros homens presentes
já estavam instalados nos seus jogos e ele dificilmente poderia recusar um
pedido educado para compor um quarteto.
— Sir Edward?
— Tão cedo? Eu acho que não. Espera-se que o pai dele consiga trunfos
porque no momento eu seguro todas as cartas. Comprei todas as dívidas do
homem e elas se espalharam por toda parte. Acho que Teddy Cavenhurst nunca
comprou nada com dinheiro. Todos sabem que os credores que não conseguem
fazer os seus devedores pagarem sua dívidas, costumam vende-las por uma
fração do valor original, a fim de se livrar delas.
— Sir Edward sempre foi apaixonado por seu filho. Não tenha medo.
— Não, claro que não. Não sei onde você obteve suas informações, mas
sugiro que você diga a quem quer que seja que elas estão erradas. Agora, como
temos as cartas, vamos jogar?
***
Mark sorriu, mas não respondeu. Ele pegou as cartas que Toby Moore
acabara de dar. Isso era melhor; ele tinha uma boa mão. Eles jogaram em
silêncio e recuperaram algumas de suas perdas. Drew era um jogador muito
bom, ele parecia saber onde estavam todas as cartas e no final da noite estavam
lucrando.
***
— É preocupante.
— Eu já disse isso?
— Não, mas você vai. Quero que você encontre Isabel novamente antes
do casamento. Convidaremos os Cavenhursts para jantar.
Drew riu.
7Um humor em que você está muito envolvido com seus próprios pensamentos e não
presta atenção a mais nada
— Oh, é você, Jane. Entre e sente-se. Eu pensei que era aquele meu filho
reprovável e dificilmente posso ser civilizado com ele no momento.
— Então, ele se rebaixou para enviar sua irmã para implorar por ele, não
é?
Jane ofegou.
***
Jane foi até a reitoria e foi recebida com alegria pela Sra. Caulder.
— Entre, Jane, levarei chá e bolos para a sala. Está na hora de Henry sair
do escritório. Ele esteve lá à manhã toda, trabalhando no sermão de amanhã.
O Reitor era de estatura mediana, com cabelos grisalhos, que ele usava
compridos e amarrados com uma fina fita preta. Ele era um homem jovial e
sorriu para Jane.
— Oh, não, nada disso. Simplesmente não posso dar ao nosso projeto dos
órfãos os cinco mil que prometi. — Ela fez uma pausa, depois recorreu a uma
inverdade. — Acho que não posso tocá-lo até me casar ou atingir os trinta e três
anos. Eu tenho estourado meu cérebro tentando pensar em uma maneira de
seguir em frente sem ele.
— Oh, estou muito aliviada — disse Jane. — Pensei que seria o fim de
todas as nossas esperanças. Você me deu um novo coração.
***
Jane riu disso e o resto da visita passou alegremente. Ela ainda estava
sorrindo quando começou a atravessar o gramado a caminho de casa. Ela
abaixou a cabeça, pensativa, e não viu os dois homens até estar quase junto a
eles.
Ela olhou para cima, assustada, e se viu recuando dez anos. O homem ao
lado de Mark era inconfundível. Os anos o haviam tratado gentilmente. Ele era
alto, largo, musculoso e vestido com perfeição em um casaco marrom de tecido
atoalhado e camurça dobrada em brilhantes com bordas. Uma corrente de
relógio de ouro pendia do colete cremoso de brocado e um enorme diamante
brilhava em sua gravata. Tudo isso ela notou antes de levantar os olhos para
olhar em seu rosto. Estava bronzeado e as únicas linhas estavam ao redor de
seus olhos castanhos, devido a risadas ou estrabismo ao sol. Ele estava olhando
para ela com um olhar que ela interpretou como diversão. Ela era uma figura
cômica? Certamente, seu vestido era liso, mas seu xale era bonito e as fitas em
seu gorro eram novas, mesmo que o gorro não fosse.
— E você fez?
— Ele é um nababo — disse Mark, rindo. — Mas por baixo ele é o mesmo
Drew Ashton que eu conhecia antes de ele ir embora. Ele veio ficar conosco em
Broadacres e ser meu padrinho de casamento.
— Pensei que você já tivesse alguém — disse Jane, virando-se para ele.
Ele era quase tão alto quanto Drew, mas mais magro e sua boa aparência
urbana contrastava fortemente com a aparência desgastada de seu amigo.
— Que sorte para você. — Ela voltou-se para Drew. — Então você veio
ver como todos nós continuamos em Hadlea, senhor Ashton? Somos uma
comunidade tranquila, poucas mudanças aqui.
— Jane, eu preciso ter uma palavrinha a sós com você — disse Mark. —
Talvez Drew nos dê licença por um momento?
— Exceto que ele é mais rico — disse Mark com uma gargalhada.
— Mark, você está fazendo rodeios. Você vai me dizer que Teddy lhe
deve dinheiro, não é?
— Sou a primeira pessoa a quem meu irmão chega quando está com
problemas.
— Creio que ele deve muito ao lorde Bolsover. Você me diz quanto?
— Mark, eu sei que você tem boas intenções, mas Teddy não gostaria que
eu divulgasse os valores, nem mesmo para você. Por que você quer saber?
— Lorde Bolsover está dizendo que Teddy é um caloteiro e ele terá seu
dinheiro por bem ou por mal. Ele até sugeriu que teria a mansão.
Ela ofegou.
— Não é uma quantia tão grande, Mark. Ele não pode fazer isso, pode?
— Não enquanto seu pai estiver vivo, mas quando Teddy herdar, isso
será uma questão diferente. Isabel estará comigo, é claro, mas estou preocupado
com você, sua mãe e Sophie. Sir Edward pode pagar as dívidas?
— Eu não sei, Teddy pode ter dito a ele, mas se as coisas forem tão ruins
quanto você diz, papai teria uma luta para resolver, eu acho. Como todo
mundo, ele foi gravemente atingido por impostos e colheitas ruins. Farei o que
puder por Teddy com meu próprio dinheiro e isso poderá impedir sua senhoria
por um tempo.
— Jane, você não pode fazer isso. Seu dinheiro é seu dote.
— Absurdo. Você seria uma esplêndida esposa para alguém e eu sei que
você ama crianças. Eu vi você com elas na vila. — Ele riu de repente. — Se eu
ainda não tivesse sido pego, poderia me oferecer.
Ela não pode evitar, as lágrimas derramaram dos seus olhos. Era tão
diferente da Jane realista que ele ficou alarmado. Ele colocou o braço sobre ela e
a puxou para ele, de modo que a cabeça dela se aninhou no ombro dele. — Não
achei que isso faria você chorar, Jane. Peço perdão.
— Oh, não foi isso. Foi... —Ela engoliu em seco. — Foi o pensamento das
dívidas de Teddy nos deixando tão baixos. — Ela secou os olhos e conseguiu
rir. — Eu poderia alegremente espancá-lo.
— Eu também.
— Isabel não sabe de nada, então, por favor, não diga nada. Não
devemos estragar o casamento dela. Não tenho dúvida de que vamos resolver.
— Não, por favor, não. Eu ficarei bem. Volte para o Sr. Ashton; ele está
obviamente esperando por você. — Ela acenou com a cabeça em direção a
Drew, que estava parado do outro lado do gramado.
***
Era típico de Jane ser tão altruísta, pensou Mark quando se juntou a
Drew. Ela sempre pensou nos outros antes de si mesma e sua família cega
considerava isto certo. Até Isabel, enquanto cantava seus louvores, se
aproveitava dela. Quanto ao irmão, ele era um patife, sem um pingo de
consciência ou bom senso, e se utilizava da irmã sempre que estava em apuros
o suficiente. Ele podia pagar a dívida por eles, mas tinha certeza de que Sir
Edward era orgulhoso demais para aceitar, embora não duvidasse de que
Teddy o aceitaria ansiosamente e continuaria como antes. Seria como jogar
dinheiro em um poço sem fundo. Teddy precisava aprender uma lição. Mas o
que e como? Ele precisava pensar um pouco e ele não faria nada até depois do
casamento.
— O que você disse a ela? Deve ter sido algo muito revelador para você
abandonar seu senso habitual de decoro.
— Suponho que você tenha contado a ela sobre nosso encontro com lorde
Bolsover.
— Sim, mas ela já sabia um pouco do que Teddy estava fazendo, mas
suspeito que não o todo. Fico com raiva da maneira como todos da família se
apoiam em Jane e esperam que ela os busque em qualquer desabafo em que
tenham caído.
— É assim mesmo?
— Sim. Ela desistiu de tudo por eles e agora propõe usar seu próprio
dinheiro para pagar a dívida de Teddy.
— Acho que não. Também não acho que ela tenha o suficiente. Segundo
Isabel, a avó deixou para cada uma das meninas um pouco de dinheiro por um
dote. Isabel já gastou o dela em seu enxoval, então não pode ter sido uma
grande quantidade.
— E Isabel?
— É assim mesmo?
— Sim. Temo que você seja cínico demais, Drew. O que fez você assim?
Você ficou desapontado?
— Na época, sim.
— Quem é ela?
— Então diga.
Mark riu.
— Você planejou sua vida de maneira tão ordenada, Mark, nada jamais
perturbou seu equilíbrio?
Drew riu.
***
Seria falso dizer que ela lamentou a partida dele desde então. Ela ficou
triste por mais ou menos um ano e, depois se reuniu para se estabelecer em seu
papel de filha solteira e as esperanças de todos se voltaram para Isabel. Um
casamento entre Mark e Isabel era discutido há anos, mas ele não havia
proposto formalmente até voltar da guerra. Desde então, a atenção de todos
estava concentrada no casamento. Mas agora, ao que parecia aquilo estava
destinado a ser ofuscado por problemas financeiros. Seu pai pediu que ela
pensasse em formas de contenção e ela até agora não havia feito nada a
respeito. Ela faria isso naquela mesma tarde e elaboraria uma lista.
— Seria? Eu não tinha pensado nisso. Agora você colocou uma dúvida
em minha mente. Mamãe vamos cruzar alguns deles?
Era evidente para Jane que sua mãe não sabia, ou estava fechando os
olhos à extensão dos problemas financeiros deles ou que seu pai não teve
coragem de contar. A menos que ela tivesse julgado mal a situação, ele teria que
fazer em breve.
— Sim. Sr. Andrew Ashton. Ele estava com Mark quando eu o encontrei.
***
— Pensar que esta será a sua casa — Jane sussurrou para Isabel enquanto
eram conduzidas pela alameda e ao longo de um corredor até a sala de
descanso da família. À frente deles marcharam Sir Edward e Lady Cavenhurst e
um Teddy incomumente subjugado. — Você um dia será a senhora disso.
— Oh, não diga isso. Isso me aterroriza. Eu gostaria que pudéssemos ter
nosso próprio lugar, algo menor e menos grandioso, mas Mark não quer ouvir
falar disso. Ele diz que é tão grande que nunca vamos precisar encontrar seus
pais se não quisermos.
— Agora ele é um nababo — Mark riu. — Tão rico quanto a Bola de Ouro
e, certamente, nenhum adolescente.
— Isso é evidente — disse Sir Edward. Jane sabia que ele estava se
lembrando e se perguntando se ele havia retornado para renovar seu pedido.
Ela pensou em si mesma, mas descartou a ideia. Muita água fluíra sob a ponte
naqueles anos.
— Não, pois me lembro muito bem dela, mas duvido que Isabel e Sophie
o façam.
— Vamos nos sentar até o jantar ser servido — disse Lady Wyndham,
conduzindo-os para as cadeiras e sofás.
— Sáris, Srta. Isabel. Eles são mais intrincados do que parecem, mas são
muito frescos no calor e os tecidos são excelentes. Eu sei que as mulheres
europeias as levam quando o calor se torna demasiado.
Jane assistiu a essa troca com alguma apreensão. Não foi educado para a
irmã monopolizar o cavalheiro, certamente não à custa de Mark, que estava
parado junto à janela, observando-os. Com o pretexto de olhar para o terraço e
jardins formais além dela, ela foi para o lado dele.
— Ela não faz por mal, Mark — ela sussurrou. — Ela está simplesmente
interessada porque você disse que a levaria para a Índia.
— Eu sei.
— De fato — disse Sir Edward, embora não tenha elaborado. Jane sabia
que ele não empregava nenhum homem há algum tempo, nem mesmo quando
o velho Crabtree se aposentou aos oitenta anos de idade e um dos homens mais
jovens partiu para novos trabalhos.
— Sim, é triste — disse a mãe. — Mas, Jane tenho certeza de que lorde e
lady Wyndham não querem saber do seu projeto.
— Jane! — Sua mãe ficou chocada com essa conversa sobre dinheiro na
mesa do jantar.
— Talvez ele seja — disse Jane —, mas acho que é ruim da sua parte
monopolizá-lo na conversa e ignorar o pobre Mark.
— Oh, Mark não se importa. Ele sabe o quanto eu quero viajar. — Ela
pegou um dos convites. — Aí, eu fiz uma mancha nesse. Passe-me outro,
mamãe, por favor.
— Não acho que dar de comer a cinquenta seja mau, Issie. Papai está
preocupado com o custo. Você sabe o que ele disse esta manhã.
Mais cedo naquele dia, Sir Edward havia entrado na propriedade com o
mordomo e encontrado sua esposa e filhas na sala da manhã, conversando
sobre o casamento. Aproveitando a oportunidade de encontrá-los todos juntos,
ele fez uma homilia sobre a necessidade de economizar. Era uma palavra
desconhecida para Lady Cavenhurst e Isabel. Jane havia produzido a lista que
haviam feito, começando com a noção de que todos podiam gastar menos em
roupas, gorros e sapatos, o que provocou um grito de protesto de Isabel e
Sophie. Uma segunda sugestão era que eles frequentemente desperdiçavam
comida e que Cook deveria ser instruído a não comprar produtos exóticos,
como limões e abacaxis, e apenas a usar frutas e legumes cultivados em suas
próprias hortas e a cozinhar somente o necessário para as pessoas sentadas
comer. Sua senhoria dissera que Cook não gostaria nada disso e as disposições
para o banquete de casamento já haviam sido encomendadas.
— Eu posso costurar.
— Não, não como a Srta. Smith, embora não haja nada errado com o que
ela faz. Eu quis dizer projetar e fazer vestidos de alta classe. Ou eu poderia
ensinar. Eu acho que poderia ser gratificante.
— Deus te abençoe, Jane — disse Sir Edward. — Espero que não chegue
a isso.
— Bem, não vou ouvir — disse a esposa. — Você fará de nós uma pessoa
pobre.
— Não — disse Isabel. — Você vai riscar todo mundo e mamãe aprovou.
Você não estragará meu casamento, Jane.
— Claro que vai. Quero que todos me vejam em meu vestido de noiva,
casando-se com o solteiro mais elegível por quilômetros.
— Eu sei disso. Você me considera uma tola? E o que você sabe disso?
— Mark não deve ver o vestido, Jane. Dá azar. Guarde isso rapidamente.
— Ela pulou da cadeira e derrubou o tinteiro. Seu conteúdo percorreu a mesa e
chegou à cadeira em que Jane colocara o vestido. O terrível grito de Isabel
trouxe os dois cavalheiros correndo para a sala.
Quando eles saíram, Jane tocou a campainha para uma criada ir limpar a
mesa, então ela estendeu o vestido para inspecionar os danos.
— Foi culpa dela — disse Isabel com um beicinho zangado. — Ela não
deveria estar sentada tão perto da mesa onde eu estava escrevendo.
— Hoje não sei o que há com vocês, meninas — disse a mãe delas. —
Não ouvi vocês brigarem tanto desde que eram crianças. Este casamento está
deixando todos em desacordo.
— Mas o que eu sei sobre isso? — Ela murmurou para si mesma, quando
se sentou e começou a retirar. — Uma empregada velha, sem perspectivas de
gozar o papel de esposa.
***
Ela trabalhava lá talvez meia hora quando sua mãe se juntou a ela.
— Eu dei um chá a Isabel e ela foi dormir — disse ela. — Ela estava um
pouco mais calma e está contando com você para resgatar o vestido.
— Foi muita maldade dela culpar você. Tenho certeza de que ela se
desculpará quando acordar.
— Não importa.
— Pensei que talvez a chegada do Sr. Ashton pudesse ter jogado você na
espuma.
— É tão você ver o bem de todos, Jane. Mas se não é o senhor Ashton, o
que está incomodando você?
— Não sei por quê. Mark é o melhor dos homens, ele pode fazer o
possível para fazê-la feliz. Você não deve invejá-la pelo dia dela, apenas por
que... — Sua senhoria parou no meio da frase.
— Porque nunca vou ter um, é isso que você ia dizer, mamãe? Não pense
isso. Eu não penso. Estou contente com minha vida como ela é.
— Nem toda jovem, mamãe. — Ela foi firme nesse ponto, tanto para se
convencer quanto à mãe.
— Você é uma boa filha e uma boa irmã, Jane. Eu não mudaria você pelo
mundo. Teddy me disse que você o ajudaria a sair da enrascada em que ele está,
já que seu pai não o fará, apesar das minhas súplicas.
— Eu não disse exatamente que sim, disse que pensaria sobre isso. Vai
levar todo o legado de tia Matilda e eu queria usá-lo no meu orfanato.
— Seu pai vai compensar você, quando ele se acalmar, tenho certeza —
Ela observou enquanto Jane desprendia o painel manchado da saia e o colocava
de lado. — Agora, guarde isso e desça para almoçar. Não tenho dúvida de que
os cavalheiros voltarão mais tarde, e devemos oferecer nossas desculpas por
Isabel e fazer pouco do episódio desta manhã.
Jane fez o que ela tinha pedido e voltou a costurar na sala, enquanto a
mãe terminava os convites quando Mark e Drew voltaram.
— Foi o choque de ver a tinta em seu lindo vestido de noiva— disse sua
senhoria, acenando para os jovens se sentarem e instruindo a empregada a
trazer bebidas. — Ela está calma novamente, agora que ela sabe que Jane pode
arrumá-lo.
—Trouxe da Índia — disse Drew. — Não apenas esse, mas vários outros.
Quando soube que estava vindo para cá, coloquei-os na minha bagagem como
presentes para as damas. — Ele sorriu de repente. — É um bom negócio, você
sabe. As mulheres usam vestidos de seda e, quando lhes perguntam de onde
vieram, se referem a mim. Escolhi essa para Miss Isabel porque notei a cor da
que fora estragada.
— É muito gentil da sua parte, senhor, mas acho que não. Eu não tenho a
figura para tal coisa.
— Sim, não se preocupe Mark. Fiquei chateada porque achei que meu
vestido estava arruinado, mas mamãe me disse que Jane pode consertá-lo,
parece que nem tudo está perdido, afinal. — Ela se virou para Drew. — Boa
tarde, senhor Ashton. Lamento não ter recebido você adequadamente antes. Por
favor me perdoe. — Isso foi dito com um sorriso deslumbrante.
Jane ficou chocada com o tratamento brusco que a sua irmã deu a Mark e
sua óbvia tentativa de flertar com Drew.
— Mas não está arruinado e quero manter isso como um sári. Existem
metros e metros dele. Como é usado?
— Isabel, tenho certeza de que Bessie cuidará disso quando você estiver
no seu quarto — disse a mãe dela. — A sala de estar dificilmente é o lugar para
se vestir, especialmente com os cavalheiros presentes.
— Não, mas você está um pouco empolgada — disse a mãe. — Peço que
se acalme.
— Não vejo mal nisso — disse sua senhoria. — O que você diz Jane?
Você acha que Isabel gostaria?
— Tenho certeza de que sim — Respondeu Jane. Ela não tinha tanta
certeza de querer ir sozinha, mas se a irmã fosse, também teria que ir, ou a mãe
delas nunca permitiria.
***
— Nenhuma mesmo.
***
Ela pegou, deixando Jane andar ao lado de Drew, apesar de não ter
segurado o braço dele. Eles caminharam por uma estrada estreita de
paralelepípedos no final da qual tiveram a primeira vista da praia e do mar.
— Quase sempre é — disse Mark, virando-se para ela com uma risada. —
Não há nada entre Cromer e o Ártico, exceto o mar. Mas pelo menos isso está
calmo hoje. Você gostaria de ir tomar banho? É suposto ser benéfico e existem
máquinas de banho10 lá embaixo, se você quiser. — Era o começo do verão,
embora algumas almas corajosas estivessem mergulhando.
— Deve parecer ainda mais frio para você, Sr. Ashton, após o calor da
Índia — disse Isabel.
— Oh, eu sou uma alma forte, Srta. Isabel. Eu mesmo posso dar um
mergulho. O que você diz Mark? — Havia homens no mar um pouco mais ao
10
— Acho que devo ficar com as mulheres — disse Mark. — Mas você
pode ir, se quiser.
— Não, faça assim — ele disse, pegando a mão dela e fechando os dedos
em volta da pedra. Mark e Jane, que haviam ido um pouco à frente, se viraram
para ver por que os outros dois não estavam logo atrás e foram recebidos com a
visão de Drew com os braços sobre Isabel, tentando direcionar sua mira. E os
dois estavam rindo.
— Oh, céus — disse Jane. — Isabel não tem senso de decoro. Também
não há ninguém na praia que nos conheça.
— Não é culpa dela — disse Mark. — Drew às vezes esquece que não
está mais na Índia, onde sem dúvida essa familiaridade é permitida.
Jane não sabia o quão exata era essa afirmação, mas era tão parecido com
Mark não ver mal em sua amada. Ela correu de volta para a irmã, seguida por
Mark.
— Oh, não seja tão barulhenta, Jane. Não havia mal algum em me
mostrar como girar uma pedra e Mark sempre usa o nome próprio do Sr.
Ashton. Apenas escapou.
— Você é ótima para falar. Você foi vista na vila com os braços de Mark
sobre você. Sophie falou com a amiga Maud Finch. A senhora Finch viu você
com os próprios olhos.
Jane tinha uma vaga lembrança de ver a Sra. Finch conversando com a
Sra. Stangate quando encontrou Mark e Drew no gramado da vila.
— Você arruinou bastante o meu dia com sua repreensão. — Isabel fez
beicinho. — Eu estava me divertindo tanto.
Mas não demorou muito para que ela estivesse segurando as saias na
mão e correndo sobre a areia até a beira da água, rindo enquanto as ondas
ondulavam sobre os sapatos de criança, que sem dúvida seriam jogados fora
quando chegassem em casa. Jane sentiu-se infeliz com a reprimenda. Isso a fez
parecer uma desmancha-prazeres e ela não pretendia que fosse assim. Sua
preocupação era por Mark. Ele não tinha dito nada e até tentou desculpar
Isabel, mas por baixo, ele deve ter se sentido magoado. E se as fofocas da Sra.
Finch chegassem aos seus ouvidos, ele ficaria duplamente envergonhado.
***
***
Elas não esperavam ver Mark novamente tão cedo, mas ele chegou em
uma hora inédita na manhã seguinte, parecendo tão triste que Jane
imediatamente se perguntou o que estava errado. Sir Edward tinha ido aos
estábulos para checar um dos cavalos que pareciam coxos, mas as damas ainda
estavam sentadas à mesa do café da manhã.
— Eu penso que não. Mais tarde, talvez, ela possa gostar de uma visita.
— Ele se virou para Isabel, que estava olhando para ele como se ele fosse uma
aparição. — Isabel, sinto muito, mas o casamento terá que ser adiado enquanto
eu estiver de luto.
— Calma, Issie, você deve ser corajosa pelo bem de Mark. Ele terá muito
que fazer nas próximas semanas.
— Suponho que vou ter que me acostumar com isso, mas, por favor, não
fique formal, minha senhora. Eu era Mark, continuo sendo Mark para você. —
Ele estendeu a mão para Isabel. — Venha, minha querida, gostaria de falar com
você.
Isabel pegou a mão e juntos eles saíram da sala. Jane e sua mãe foram
deixadas olhando uma para a outra, sem saber o que dizer.
Jane supôs que alguém tivesse que pensar nos aspectos práticos, mas
estava mais preocupada com o que Mark e sua mãe estavam sentindo do que
com o que ela sentia. Perder alguém tão querido de repente deve ser muito
difícil de suportar.
— Oh, sua tolinha — ele disse, dando um beijo na testa dela. — É claro
que você não vai me decepcionar e terá o período de luto para se acostumar
com a ideia. Agora eu devo ir. Vejo você novamente quando você e sua mãe
visitarem minha mãe.
***
***
— Suponho que não haverá casamento ainda por um tempo — disse ele.
— E agora não é a hora de hóspedes na casa. Pretendo partir para Londres pelo
correio de hoje à noite.
— Tenho certeza que elas entendem. Agora, se você me der licença, irei
fazer as malas.
— De bom grado.
— Só tenho mais uma para escrever. Vou enviá-los para você quando
estiverem prontas. Jeremy o levará até o Fox e Hounds.
Drew saiu e Mark puxou outra folha de papel para ele, mergulhou a
caneta na tinta e voltou a escrever.
***
Uma hora depois, ele estava livre para receber Lady Cavenhurst e suas
três filhas. Todas as quatro dobraram o joelho e se dirigiram a ele como “meu
senhor”, o que o fez se sentir completamente desconfortável e ele implorou para
que não mudassem em relação a ele.
Enquanto ela falava, Lady Wyndham entrou na sala. Ela estava vestida
totalmente de preto, mas estava com os olhos secos e na posição vertical.
—Helen, sinto muito, muito mesmo. Se houver algo que possamos fazer
por você, basta dizer.
Elas se sentaram em um pequeno círculo, sem saber o que dizer até Jane
falar.
— Lorde Wyndham fará muita falta para todos que o conheceram — ela
disse. — Ele era um homem tão bom e gentil, sempre pronto para ouvir e muito
generoso também.
— Sim, ele se tornou um homem leal e faria qualquer coisa por meu
marido e por Mark também.
— Foi por isso que sua senhoria ouviu minha história de querer criar um
lar para órfãos de guerra — disse Jane. — Ele entendeu.
Ela virou-se para ele e notou o brilho das lágrimas nos olhos dele e seu
coração se voltou para ele. A pena era que ela não podia dizer isso a ele.
— Vou lamentar o resto dos meus dias — disse lady Wyndham. — Mas
não deixaremos Mark e Isabel esperando demais pelo casamento. Quero ver
netos brincando sobre o lugar antes de deixar este mundo. Acho que seis meses
serão suficientes para o luto oficial.
— Não tenho dúvida de que você tem muito que fazer —disse Lady
Cavenhurst, levantando-se. — Vamos nos despedir. Por favor, não hesite em
nos chamar se houver algo que possamos fazer por você.
— Eu sabia que derramar a tinta no meu vestido e deixar Mark ver era
um mau presságio — disse Isabel. — E eu tenho provado que está certo.
Mas nada confortaria Isabel e ela continuou chorando até chegar em casa.
***
— Tudo bem para você, Jane — resmungou a irmã. — Você não teve seu
casamento arrancado de você.
— Isabel, não foi arrancada — disse sua senhoria. — Foi apenas adiado
por seis meses. É de se esperar que por esse tempo, você terá aprendido como
ser mais digna. Pense na posição que você terá como esposa de Mark. Você será
Lady Wyndham e senhora de Broadacres. Todo mundo vai olhar para você
Ele não detalhou qual seria o negócio. Jane tinha pouca esperança de que
ele estivesse procurando uma saída para seu dilema. Ela sabia que o pai havia
falado com ele sobre a necessidade de economizar, mas não fazia ideia da
reação do irmão. Ela suspirou enquanto continuava subindo para o seu próprio
quarto. Ela deveria escrever ao gerente do banco para pedir que ele liberasse
suas economias. E depois o que? Teddy entregaria uma nova folha?
***
***
— Oh, obrigado, senhor — disse Isabel antes que Jane pudesse protestar
novamente. — Eu, por exemplo, me sinto mais à vontade com uma escolta.
— De fato sim. Ela mostrou estoicismo invejável, mas, por baixo, tenho
certeza de que ela estava sofrendo. Eles eram tão devotados, um exemplo do
que deveria ser um casamento.
— Sim, é uma pena que todos os casamentos não sejam assim — disse
Jane. — Mas suponho que se deva encontrar sua alma gêmea, alguém com
quem você deseja passar o resto da vida. Muitas vezes, o casamento se torna
uma questão de conveniência. Marido e mulher levam vidas quase separadas,
cada um com seus próprios interesses e círculo de amigos.
— Não. — Ele riu. — Nunca encontrei minha alma gêmea. Eu pensei que
tinha uma vez, mas não era para ser.
Jane prendeu a respiração por sua resposta, rezando para que ele não
mencionasse o nome dela. Ele olhou para ela e sorriu.
— Nós dois éramos muito jovens, muito imaturos e eu ainda tinha que
fazer o meu caminho no mundo. — Ele riu de repente. — Desde então, tenho
estado muito ocupado fazendo minha fortuna para pensar em me casar.
— Por que não? Ela não é tão bonita quanto você lembrava?
— Issie, você notou como Mark estava tenso hoje? — Jane interrompeu a
conversa, que estava ficando muito embaraçosa para suportar. — Não é de se
admirar, mas espero que ele consiga dormir esta noite. Ele precisará de força
nas próximas semanas.
— Eu sabia que tinha sido adiado, mas acontecerá mais tarde, não
acontecerá?
Isabel suspirou.
— Foi um dia difícil — disse Jane, desejando que a irmã não tivesse
expressado suas dúvidas na frente de Drew. — Você pensará de maneira
diferente quando tiver dormido uma noite e estiver mais bem disposta.
— Oh, Issie, estou perdendo a paciência com você. Tudo isso por causa
da tinta derramada em seu vestido e da observação mal pensada de Sophie.
— Não foi nada — disse Jane. — Uma superstição boba que nossa irmã
pegou de algum lugar.
Eles estavam caminhando lado a lado, mas agora ele se virou para Isabel.
— Jane, eu gostaria que você não tentasse ser uma segunda mãe para
mim. Você está sempre me dizendo o que devo ou não fazer e estou cansada
disso. Você não pode saber como eu me sinto. Não acredito que você tenha
coração.
— Issie, você sabia que, se aceitasse Mark um dia, seria Lady Wyndham
e senhora de Broadacres. Não é algo novo.
— Mas se você realmente ama Mark, isso não importa. Agora, não
falemos mais disso. Tenho certeza de que o Sr. Ashton não quer ouvir.
Ela desviou o olhar confusa. Que segredo? Isabel havia dito que Mark
sabia como se sentia, então isso não era segredo. Que ela e Isabel estavam
discutindo sobre isso? Isso também não era segredo. Certamente ele não tinha
adivinhado como ela se sentia em relação a Mark? Isso seria muito humilhante.
***
— Faço isso pelo amor de papai, não pelo seu — disse ela, alguns dias
depois, quando o pegou entrando em casa no meio da manhã. Ele parecia
desgrenhado, como se tivesse ficado acordado a noite toda, e ela se perguntou
se seria esse o caso. Ele raramente estava em casa. — Pedi ao banco para pagá-lo
em sua conta, mas será o último. Use-o com sabedoria e sem mais jogos de azar.
— É porque nós dois nos preocupamos com você, Teddy. Você não
parece ter nenhum senso de responsabilidade.
— Teddy, esse dinheiro é para você pagar a lorde Bolsover e suas outras
dívidas. Não lhe foi concedido para financiar sua viagem.
— Agora você está mais fundo do que nunca. — Ela estava exasperada
que ele nunca parecesse aprender.
— Desculpe Jane.
— Sorte! Eu poderia puxar suas orelhas. Você trouxe desgraça para esta
família, Teddy, com toda essa conversa sobre sorte. Só espero que a magia do
exterior e algum trabalho real tragam um milagre.
— Oh, Jane, desista de sua palestra. Você não vai me ver de novo por
algum tempo, não vamos nos separar.
***
— Bem, sim, mas por uma causa muito boa. Devemos dar um nome à
organização, se você não estiver se perguntando, mas em nome de todos os que
estão conectados à ideia? Eu pediria a lorde Wyndham que desse seu nome,
mas é muito cedo após seu luto. Vou sondar um ou dois outros.
— Será um lar — disse ela. — Uma casa e uma escola. — No final, eles
decidiram pela Casa das Crianças Hadlea e ela gastaria um pouco do dinheiro
imprimindo papel para cartas.
— Oh, pelo amor de Deus, Jane, não vamos ter nenhuma dessas
bobagens de “meu senhor”, ou ficarei muito irritado com você. — Ele deu um
passo ao lado dela. — No que você pensava tanto, que não me ouviu?
Ela contou a ele sobre seus planos para a Casa das Crianças Hadlea.
— Oh, eu não quis dizer... Oh, céus, parecia que eu estava perguntando...
— Ela parou confusa porque ele estava rindo.
— Obrigado, Jane.
— Isso é gentil da sua parte. — Ela fez uma pausa, quando uma ideia
veio a ela. — Você poderia fazer algo por mim, no entanto.
— Não tenho certeza de que isso garanta alguma coisa, Jane — ele disse
com um sorriso irônico. — Vamos ver o que Sir Edward pensa, não é?
***
— Tenho certeza que sim. Ela está sempre perguntando quando vamos
visitá-la. Escreverei para ela imediatamente. Meu senhor, você levará a carta
para o correio a caminho de casa?
— Com prazer, minha senhora. Há algo que você poderia fazer por mim
em troca. Você faria companhia para minha mãe enquanto eu estivesse fora? Ela
ainda está se sentindo muito triste e eu não gosto de deixá-la.
— Planejava ir amanhã, mas vou adiar até o dia seguinte para dar tempo
às mulheres para fazer as malas. Quero estar na estrada às oito e meia, por isso
vou apanhá-las com o coche, se não for muito cedo.
***
— Sim, isso será conveniente, obrigada — disse Jane. — Dará tempo para
preparar algumas anotações pela manhã.
— Você não tem que vir Issie, querida — disse Jane. — Tenho certeza
que tia Emmeline encontrará algo para você fazer mais ao seu gosto. Você sabe
que vida social ocupada ela leva.
***
Ela ficou apavorada com essa ideia e recuperou o bom humor quando o
coche parou diante da casa de Lady Cartrose em Mount St. Reet. Ciente de seus
deveres de escolta, ele pediu a Jeremy que levasse o coche até Wyndham House
e entrou na casa da cidade para entregar sua carga e a criada a sua senhoria,
que havia recebido a carta de sua cunhada e as esperava. Desde a última vez
que Jane a viu, ela tinha engordado muito e agora era uma mulher
rechonchuda. Ela estava vestida com um vestido roxo-escuro e usava uma toca
branca nos cabelos tingidos de vermelho.
— E estou certa ao pensar que ele é seu noivo? — Ela virou um rosto
sorridente e redondo para Mark.
— Oh, querida, que erro tolo de cometer. Devo ter interpretado mal a
carta da sua mãe. Meu senhor, por favor, me perdoe.
— Vamos nos sentar. — Ela acenou com a mão na direção de dois sofás e
algumas cadeiras. — Então podemos tomar um refresco confortavelmente com
algumas bebidas e você pode me contar tudo sobre vocês. — Ela se sentou em
um dos sofás quando uma criada trouxe a bandeja de chá e outra apareceu com
dois pratos cheios de bolos e doces.
Logo se revelou que sua senhoria era muito surda e que eles eram
obrigados a repetir quase tudo o que diziam em vozes muito altas, enquanto
sua senhoria se munia de dois grandes pastéis e vários bolos. As meninas
comeram um bolo cada uma e Mark sentiu o dever de administrar mais do que
isso, a fim de agradar à sua anfitriã.
***
Uma hora depois, quando sua senhoria se satisfez por saber que ela
havia aprendido tudo o que precisava saber sobre suas vidas e aspirações, Mark
se preparou para sair.
— Mais uma razão para as pessoas pensarem nos pobres órfãos — disse
Jane. — Se os tempos são difíceis para os ricos, são ainda mais difíceis para as
pessoas mais pobres.
— Tenho certeza de que sua língua de prata fará o truque — disse Mark.
— Até amanhã, então. — Ele se curvou e se foi, deixando as damas discutirem
assuntos sociais e trocarem fofocas.
***
Ele a apoiara por todo o caminho, de pé ao lado dela enquanto ela falava
com o administrador da casa e fazia perguntas pertinentes que ela talvez não
tivesse pensado em si mesma. Este tempo a sós com ele era precioso, tão
precioso, que era difícil dedicar sua mente ao propósito de sua visita. Toda vez
que o braço dela roçava a manga dele ou ele colocava a mão sob o cotovelo para
ajudá-la a subir um degrau, ela sentia o calor inundar todo o corpo. Ela
realmente devia se concentrar na conversa e não no fato de que eles estavam
sozinhos juntos na carruagem dele.
— Sim, e eu o ouvi dizer que ajudaria no seu projeto. Você deve mantê-lo
atualizado.
— Uma feira não atrairia os ricos — disse ele. — Isso significaria muito
trabalho para uma pequena recompensa.
— Mas, Mark, isso seria sábio? Você está tão recentemente enlutado. O
que sua mãe vai dizer?
— Vou consultá-la, mas ela dirá que era o que meu pai desejaria. Seu
projeto estava perto do coração dele, como está do meu.
***
Chegaram de volta ao Monte Street para ouvir de Isabel que ela e Lady
Cartrose estavam andando na carruagem aberta de sua senhoria em Hyde Park
e paravam frequentemente para que ela pudesse ser apresentada a alguns dos
muitos conhecidos de sua senhoria.
Estranhamente, Mark não parecia ver seu perigo. Ele sorriu e disse que,
de qualquer forma, teria chamado Drew e certamente daria tempo para um
passeio, se era o que as mulheres desejavam. Então ele se curvava.
— Issie, lembre-se de que Mark está de luto e que você, como prometida,
deve ser um pouco mais sombria com o que veste.
— Você quer dizer que eu deveria entrar em luto também? Ainda não
somos casados. Sua senhoria não era meu parente. Não vejo a necessidade.
— Não é luto, Issie, mas algo mais discreto por respeito aos sentimentos
de Mark.
— Absurdo. — Sua resposta foi aguda, mas ela se virou para que sua
irmã não pudesse ver a consternação em seu rosto. — Tia, o que você acha?
— Você pode estar certa — disse sua senhoria. — Mas existem alguns
tons adoráveis de lilás e cinza.
***
Ela não se comoveu e foi uma resplandecente Isabel de rosa e verde que
cumprimentou os cavalheiros quando eles chegaram. Jane estava em um lilás
claro enfeitado com renda branca. Ambos carregavam guarda-sóis porque o dia
estava quente.
— Ele tinha uma carruagem, embora não fosse nada tão ostensivo quanto
isso — respondeu ele. — De qualquer forma, ele preferiu andar.
— Você o encontrou?
— Sim, várias vezes, embora eu não ache que ele se dignou a me notar.
— Vou escrever uma das minhas cartas para ele. Supõe-se que ele
simpatize com a situação de seus homens e de suas famílias.
— Se todos pensassem que nada poderia ser feito, nada seria feito —
disse Mark.
Drew olhou para Mark, que respondeu com um leve aceno de cabeça e
Drew se deixou levar.
Seu afeto não significava nada para ele, mas tudo para ela, mas ela
deveria se proteger contra a deixá-lo saber disso.
— Não, mas estou preocupada que ela não esteja demonstrando a devida
consideração por seus sentimentos.
— E você sabe quais são meus sentimentos, Jane? — Ele perguntou com
um sorriso. — Você pode ler minha mente?
— Não, claro que não. — Ela sentiu o rosto corar e desejou terminar a
conversa. — Mas ainda acho que devemos segui-los pelo bem do decoro.
Ele riu de repente e foi à primeira risada verdadeira que ela ouviu dele
desde que seu pai morreu.
— Então, pelo bem de todos, vamos nos juntar a eles e tentar não discutir
a Casa das Crianças Hadlea.
***
— Sim, um pouco.
Assim eles voltaram a Mount Street e nos poucos minutos que a viagem
levou, Isabel recuperou seu espírito. Jane se viu imaginando se sua irmã havia
realmente se sentido fraca ou se foi uma encenação para tirar proveito de Drew,
e então se censurou por seu pensamento pouco caridoso.
— Issie — disse ela assim que ficaram sozinhos —, você não deveria ter
pedido ao Sr. Ashton que a afastasse de nós. Foi muito embaraçoso para Mark,
11Um varredor de travessia era uma pessoa que percorria um caminho à frente das
pessoas que atravessavam ruas urbanas sujas em troca de uma gratificação. Esta
prática foi uma ocupação informal entre os pobres urbanos, principalmente durante o
século XIX.
— Quase desmaiei e não me importo com o que Mark pensa. E não quero
que você me repreenda.
— Bem, eu não vou. Quem me dera não ter dito que me casaria com
Mark. — E com isso ela saiu do quarto, deixando o coração e a mente de Jane
em tumulto. Era tão difícil dizer se Isabel realmente quis dizer o que disse, ou se
era uma birra da qual ela se arrependeria.
***
***
***
— Não, Jane, ficamos juntos. Também não quero que você se perca.
Eles foram para onde as carruagens esperavam, mas Jeremy não tinha
visto o senhor Ashton ou a senhorita Isabel. Eles voltaram para os jardins, agora
na escuridão, porque quase todo mundo havia partido, e começaram uma busca
sistemática por todos os caminhos, levando uma das lanternas do pavilhão para
iluminar o caminho.
— Então vamos nos apressar e levá-la para casa — disse Mark. — Hoje já
é a segunda vez que ela se sentiu mal. Espero que ela não esteja enjoada de
nada.
Jane foi para a própria cama, mas não conseguiu dormir. Sua irmã tinha
uma constituição robusta e nunca desmaiou em sua vida, então o que estava
acontecendo agora? Ela estava deliberadamente se jogando no caminho de
Andrew Ashton? Será que ela realmente queria não ter aceitado a proposta de
Mark? Causaria o escândalo mais terrível para ela recuar agora. Isso partiria o
coração de Mark e ele também seria contaminado com isso. Ele era um homem
bom demais para ser tratado dessa maneira.
***
***
Eles estavam cavalgando por talvez meia hora quando outro cavaleiro
vinha em sua direção e parou quando ele os alcançou.
— Wyndham, bom dia — disse ele. Ele era uma figura alta e elegante,
com cabelos escuros encaracolados e olhos quase negros, que olhavam Isabel
com apreciação, depois se voltaram para Jane e depois para Drew. — Ashton
nos encontramos novamente.
— Meu Senhor.
Sua senhoria se curvou novamente, mas Jane não conseguiu sorrir para
ele. Ela inclinou a cabeça sem falar.
— Certamente que não, assim como ele não é meu. Eu detesto o homem.
— É a ele que Teddy deve dinheiro — disse Jane. — É esse homem que
levou nosso irmão a emigrar.
— Você está certa, é claro, mas temo que lorde Bolsover ainda não tenha
terminado conosco.
— Sim, vamos — Isabel disse e chutou o cavalo para trotar e depois para
galope. — Vou levá-lo até a árvore ali. — E ela se foi a um galope louco.
Não havia nada que eles pudessem fazer além de seguir, liderados por
Drew, que era o único a montar sua própria montaria, o que lhe dava
vantagem. Jane era uma boa amazona, mas em um cavalo contratado não
conseguia pegar a irmã, muito menos acompanhar os homens. Ela estava bem
atrás deles, quando viu sua irmã sob a árvore que ela tinha apontado. Em um
esforço para puxar para cima, ela foi pega por um galho suspenso com tanta
força que a jogou no chão.
— Receio que ela esteja gravemente ferida — disse Drew, com um tremor
incomum na voz. — Devemos levá-la de volta à Mount Street o mais rápido
possível e buscar um médico.
— Issie, acorde — disse Jane, com lágrimas nos olhos. — Por favor, Issie,
por favor, acorde.
— Onde estou?
***
O som das vozes no corredor avisou que o médico havia chegado. Sua
senhoria levantou-se para conduzi-lo ao quarto da paciente, deixando os dois
homens se encarando em um silêncio que durou vários minutos.
— Alguém deveria cuidar dos cavalos — disse Mark com voz plana. —
Não podemos deixar cavalos alugados na rua.
— Ela está confortável e o médico receitou algo para a dor de cabeça. Ele
disse que ela precisava descansar por pelo menos uma semana, mas não acha
que a vida dela está em perigo.
— Por quê?
— Drew? — Ele perguntou intrigado. — Não, acho que não. Ela sempre
se comporta bem e corretamente com ele. O que a fez pensar isso?
Ele não era capaz de analisar muito de perto seus próprios sentimentos,
mas os eventos dos últimos dias, em que ele esteve mais na companhia de Jane
abriram seus olhos para as diferenças entre ela e sua irmã e o que ele viu e
sentiu o encheu de dúvidas. Drew voltou antes que pudesse ponderar isso mais
profundamente.
— Graças a Deus, não é mais do que isso — disse ele, ocupando a cadeira
que sua senhoria indicava.
— Acho que talvez amanhã Mark possa vê-la, se ela quiser. — Era
evidente que ela não achava apropriado que Drew visse a jovem enquanto ela
estava deitada na cama.
***
— Não pretendia ficar na cidade por mais de três ou quatro dias — disse
Mark, enquanto caminhavam para a South Audley Street. — E devo voltar para
Hadlea e informar Sir Edward o que aconteceu. Sem dúvida, Jane vai querer
ficar com a irmã. Posso voltar para elas quando Isabel estiver bem o suficiente
para viajar.
Quanto a Jane, ela estava longe da simples Jane que supostamente era.
Sua beleza estava em seu eu interior, em sua compaixão e altruísmo que
brilhavam em tudo o que ela fazia. Por que ele não tinha visto isso antes? Seria
porque todo mundo a ignorava e a tratavam como se ela não importasse, era tão
familiar e estática quanto os móveis? Ele tinha sido tão culpado quanto
qualquer um. Não era que ela não tivesse confiança, ela era mais independente
do que a maioria e capaz de se defender de uma discussão quando o assunto
era algo pelo qual ela se sentia apaixonada, principalmente os órfãos. Nem todo
mundo precisava ser animado e paquerador - de fato, às vezes, isso poderia
embaçar. Lá estava ele, comparando-as novamente. Isso significava que ele fez a
***
— Obrigada, meu senhor. Não sei o que teríamos feito sem você.
***
Se ele esperava uma ceia silenciosa e depois para casa, foi frustrada pela
chegada de lorde Bolsover.
— Estou contente de ouvir isso. Eu estava com medo de que ela tivesse
sofrido uma lesão grave. Uma garota bastante teimosa acredito. Ninguém disse
a ela que o terreno do parque longe do Row é muito irregular para uma dama
montada na sela lateral tentar galopar? Muito indecoroso, mas corajoso, mesmo
assim. — Ele sorriu de repente, mas era o sorriso de um tigre. — Sem dúvida,
— Ora, você corre o risco de perder sua noiva, ou estou errado no meu
palpite.
— O que você propõe fazer? Nem Sir Edward nem e nem as Senhoritas
Cavenhurst, são responsáveis pelas dívidas de Teddy.
— Não legalmente, talvez, mas tenho certeza de que Sir Edward gostaria
de evitar o escândalo de um filho patife fugindo de suas dívidas.
— Não sei como você conseguiu essa fofoca, mas você foi mal informado.
— Eu acho que não. Ah, aqui está seu amigo, senhor Ashton. — Ele
levantou-se. — Eu deixo você fazer o que quiser com o que eu disse, mas fique
tranquilo, por hedge ou por estilo, vou me vingar.
— Você dificilmente pode culpá-lo por isso. Ele perdeu muito dinheiro.
— Nem eu, mas ele falou de vingança, o que me deixa intrigado, pois
não vejo que ele tenha sido prejudicado por Teddy ou por qualquer outra
pessoa da família. Há mais do que a dívida.
— Sim, por favor, faça isso. Ele parece prodigiosamente rico, o que é
surpreendente, porque o patrimônio que herdou de seu pai é apenas moderado
em Northampton Shire, insuficiente para suportar o tipo de vida que ele leva.
Mark chamou no dia seguinte, antes que ele deixasse a cidade e foi
permitida uma breve visita ao quarto da doente, onde Jane sentou-se lendo para
sua irmã. Jane largou o livro e foi até a janela para olhar a rua movimentada e
dar-lhes um pouco de privacidade. Ela o ouviu perguntar a Isabel como estava
e a resposta baixa da irmã, mas a conversa parou. Eles ficaram em silêncio por
tanto tempo, ela arriscou um olhar. Mark estava sentado na cadeira que ela
estava usando e Isabel estava apoiada na cama, com as cobertas até o queixo.
Eles estavam simplesmente sentados lá sem nada a dizer, ambos olhando para
baixo, ambos infelizes.
— Diga a eles que estou bem e que nenhum dano foi causado — disse
ela. — Diga a eles para não se preocuparem. Jane está cuidando de mim.
Isabel riu.
Ele se curvou para Jane e saiu. Logo que ele se foi, Drew chegou, mas
Lady Cartrose não achou apropriado deixá-lo entrar no quarto da enferma. Ela
o recebeu na sala de estar e contou-lhe o progresso da paciente, e ele teve que se
contentar com isso.
Dia após dia, Isabel se recuperava e, embora Jane passasse algum tempo
sentada com ela, tentando animá-la, ficou quieta e retraída. Drew se comunicou
regularmente para perguntar pela paciente; Isabel não o viu, apesar de Jane o
ter visto. Ele estava muito preocupado com a enferma, mais do que se
justificava na opinião de Jane, considerando que Isabel estava noiva de outro.
Quando ela não estava sentada com a irmã, Jane voltou à questão de
arrecadar fundos e continuou a escrever cartas e convidar pessoas para a festa
da tia Emmeline. Sua tia queria cancelá-la completamente, mas Isabel, sentindo-
se culpada pelo que havia acontecido, insistiu para que prosseguisse uma
semana depois do planejado, quando tinha certeza de que teria se recuperado o
suficiente para desempenhar seu papel. Jane a encorajou a andar pelo quarto
para fortalecer os músculos e, no sexto dia, Bessie a ajudou a se vestir e desceu
as escadas pela primeira vez. Ela estava lá quando Drew chegou em sua visita
diária.
— Fico feliz em vê-la tão bem — disse ele, depois de se curvar a Lady
Cartrose e Jane. — Eu temia que você tivesse sofrido uma lesão grave.
Isabel riu.
— Você vai ao sarau da tia Emmeline amanhã à noite? Acho que vai ser
uma festa muito grandiosa.
— Não é para ser uma grande festa — disse Jane. — É para arrecadar
fundos para o meu orfanato.
— Bem, eu sei disso, mas tia Emmeline convidou muitas pessoas ricas,
então é provável que seja grande.
— Seja o que for, eu não perderia — disse Drew. — Se Mark não voltar a
tempo, eu o substituirei.
Depois que ele saiu, Isabel voltou para o quarto para descansar, mas
como ela não precisava mais de ninguém sentado com ela, Jane foi passear no
jardim, onde ensaiava baixinho as palavras que usaria para convencer as
pessoas de que os órfão dos soldados eram uma causa digna de sua caridade.
—Saiu? — Jane ecoou. — Pensei que ela tivesse ido descansar antes de ir
jantar. Eu nem sabia que o Sr. Ashton havia chegado. Espero que isso não a
esgote.
— Sua tia e Drew garantirão que ela não fique muito cansada.
— Claro.
— Sim, Isabel não quer que seja cancelado por conta dela, por isso
simplesmente informamos a todos que seria uma semana depois. Tenho
ensaiado o que direi para convencer as pessoas a se separarem do seu dinheiro.
— Você faria? Isso seria uma grande ajuda, mas você pode dispor de
tempo?
— Oh. — Ela ficou surpresa, mas se recompôs para rir. — Você quer
saber como será gasto o seu dinheiro?
***
— Vim para assistir ao sarau amanhã à noite e levá-las para casa. Seus
pais estão ansiosos para tê-las de volta.
— Eu queria uma fita rosa para combinar com meu vestido para amanhã
— Isabel continuou. — E Drew nos comprou sorvetes no Gunter's. Então vimos
o regente andando em sua carruagem. Ele se dignou a sorrir e levantar a mão
em saudação para nós, mas havia outros na estrada que o vaiavam. Ele é
imensamente gordo.
— Eu tenho uma mente boa para escrever para ele e apontar a situação
desesperadora dos órfãos dos soldados — disse Jane.
— Não, claro que não, mas notei que Isabel se referia a você como Drew.
— Que essa senhorita Cavenhurst, está usando qualquer fundo que ela
reúne não para o benefício dos órfãos, mas para ajudar a resolver as
dificuldades financeiras de seu pai.
— Você está certo. Ele está dizendo que não se pode confiar dinheiro a
nenhum dos Cavenhursts.
— Não, mas acho que Toby Moore talvez saiba alguma coisa, então estou
cultivando o cavalheiro. Ele é um péssimo jogador de cartas.
Mark riu.
***
Sua cabeça estava zumbindo com o discurso que ela pretendia fazer, que
considerou breve a favor de circular entre os convidados e falar com eles
individualmente. Mark chegou cedo para que pudessem dar uma última olhada
nas figuras dela e nas anotações que ela havia feito. As oito os amigos de Lady
Cartrose começaram a chegar e, sendo servidos com refrescos, ficaram em pé
comendo, bebendo e fofocando. Eles foram seguidos por outros, menos
conhecidos, e às nove horas a sala estava cheia. Foi então que Isabel entrou,
vestindo seu sári e causando alguma agitação, o que, é claro, ela sabia que faria.
Jane não pôde fazer nada quando a irmã se aproximou de Drew e perguntou se
ele aprovava. Nem Mark nem Jane ouviram sua resposta.
— Toby Moore — Drew deixou Isabel conversando com sua tia e veio
para o lado de Mark. — Sem dúvida, ele foi enviado por Bolsover para
interromper a reunião. Vamos jogá-lo fora.
— Estou, mas é mais uma razão para garantir que meu bom nome não
seja desonrado. Vou nomear meu próprio homem de negócios para estabelecer
uma relação de Trust 12 e supervisionar os fundos. Esta casa é importante para as
crianças pequenas que precisam, e eu acho vergonhoso que uma causa tão boa
seja manchada por insinuações e calúnias óbvias. Agora, se você gostaria de
fazer uma doação, Miss Cavenhurst está aqui para aceitá-la. Caso contrário,
dou-lhe boa noite.
***
— Você foi magnífico — disse ela. — Eu não poderia ter conseguido sem
você.
— O que esse homem quis dizer com meu pai falido? Onde começaram
esses rumores?
— Sim. Talvez há algum tempo, algo que explique o rancor que ele
parece ter.
— Não tenho certeza de que tenha alguma coisa a ver com Teddy. Acho
que colocar os ganchos em Teddy foi apenas um meio para atingir um fim.
— Que fim?
— Estou um pouco cansada, mas só preciso dormir uma noite. — Ela fez
uma pausa, apontando para as promessas, o dinheiro e as joias. — Você vai
cuidar disso? Não quero trazer mais acusações à minha cabeça se as mantiver
comigo.
— Sim, por favor. — Ela pegou uma bolsa de lona, colocou tudo nela e
entregou a ele. — Eu sabia que algo assim teria que ser feito, mas não achei que
fosse urgente. Esta noite me fez ver como eu fui ingênua. Eu precisarei de você.
Quando ele se foi, ela deu boa-noite à tia e à irmã e foi para o quarto,
despiu-se e caiu na cama. Tinha sido um dia agitado e perturbador, mas acabou
e ela começou seu projeto principal. Ela não poderia ter feito isso sem a ajuda
de Mark. Aqueles rumores divulgados por Bolsover também eram
preocupantes. Eles poderiam ser muito prejudiciais, especialmente se soubesse
que os Cavenhursts estavam tendo que economizar. Como sempre acontecia
nesses casos, todos os credores que estavam preparados para receber seu
dinheiro agora estariam batendo à sua porta.
Mark havia dito que tentaria descobrir o que havia por trás da
animosidade de Bolsover e ela podia confiar que ele faria o melhor possível,
mas era injusto que ela se apoiasse nele com tanta força. Deveria ser mais
***
Mesmo assim, ficou apertado e Jane se viu tão perto de Mark, sua coxa
revestida de calças com força contra a dela, que ela pode sentir seu calor através
do vestido. Era tão enervante que ela não conseguia pensar em mais nada e se
viu quase perdida por palavras quando Mark falou com ela. Quando eles
chegaram, ele pulou para ajuda-la e ela se recompôs para precedê-lo no prédio.
***
Eles passaram a discutir os detalhes e, uma hora depois, saíram com tudo
na mão e sem a bolsa de lona contendo o dinheiro e as joias. Estas últimas
seriam leiloadas e os recursos adicionados aos fundos e Sr. Halliday se
comprometeu a tomar as providências para isso. Mark a acompanhou até a
carruagem e a viu em segurança.
A rua estava movimentada com pessoas correndo para cima e para baixo
na calçada e veículos de todos os tipos passando para cima e para baixo, dos
coches as grandes carruagens. Ela estava tão absorta em assistir a um conflito
entre um terrier magro e um gato ruivo cuspindo que não viu o homem que se
aproximou da carruagem e parou.
Ela olhou em volta e encontrou lorde Bolsover tirando o chapéu para ela.
— Meu Senhor.
— Ele voltou para dentro por um momento, mas estou feliz por termos
nos encontrado.
— Que lisonjeiro!
— Não pretendia lisonjear, senhor. Desejo falar com você sobre o boato
de que meu pai está falido.
— Agora, por que eu faria isso, senhorita Cavendish? Sou tão solidário
quanto o próximo homem da situação dos órfãos, mas duvido que você possa
fazer algo a respeito.
— Por que não? Alguém tem que fazê-lo, para as crianças não crescerem
ladrões e mendigos. Tudo o que quero é dar uma chance a eles.
— Meu senhor, isso parece uma ameaça. Eu me pergunto por que você
sente tanta aversão por mim. Só nos conhecemos recentemente e até algumas
semanas atrás eu nunca tinha ouvido falar de você.
— Se meu irmão não tivesse sido tão tolo a ponto de jogar cartas com
você, eu ainda estaria ignorando o tipo de homem que você é.
— Você está assumindo que fui eu quem começou o boato. Você não tem
provas disso. — Ele sorriu de repente. — Mas se o boato for verdadeiro, eu seria
um tolo em negar.
— Você sabe — ele disse, ainda sorrindo —, você é muito bonita quando
está com raiva e seus olhos brilham em desafio. Sinto-me estranhamente em
simpatia por você e essa é uma fraqueza em que não posso me permitir entrar.
— Ele curvou-se para ela, recolocou o chapéu e foi embora.
Ela o viu partir com fúria e lutava contra as lágrimas de raiva quando
Mark se juntou a ela.
— Espero não ter demorado muito — ele disse, subindo ao lado dela. —
Vamos tomar um sorvete no Gunter's? Está um dia quente e... Jane, você está
chorando?
— Porque, porque eu deixei você? Sinto muito por isso, mas me demorei
apenas alguns minutos.
— Não, não é isso. Eu tive uma discussão com lorde Bolsover. Ele é um
homem odioso e se recusa a admitir que foi ele quem espalhou os boatos sobre
o meu pai e disse que meu projeto nunca pode ter sucesso porque sou uma
mulher governada pela emoção. — Ela deu uma risada rachada. — E aqui estou
eu, provando.
— Oh, Jane, por que falou com ele? Você deveria tê-lo cortado.
— Você não pleiteia com homens como Bolsover, Jane. Eles veriam isso
como fraqueza. Agora vamos tomar um sorvete e esquecê-lo.
***
— Então eu não vou ficar — disse Mark. Ele tirou as pérolas do bolso e as
colocou na mão dela. — Estes são seus, eu acredito.
— Sei que sim, mas acho que machucaria seu pai saber que você os
entregou. Mantenha-as em segurança, Jane.
— Talvez, mas não aqueles que eles valorizavam. Seu auto sacrifício é
digno de crédito, Jane, mas o Trust pode sobreviver sem eles.
Ele saiu e ela foi se juntar a Bessie, que subira ao quarto para começar a
fazer as malas. Jane não trouxe muitas roupas com ela e logo foi dobrada
ordenadamente no baú que ela e Isabel compartilhavam.
— Vou fazer a de Isabel, hoje à tarde — disse Bessie. — Mas eu não sei
como conseguiremos meter tudo dentro, ela comprou muitas roupas novas.
***
Lady Cartrose, Isabel e Drew voltaram logo depois disso. Drew não
parou, dizendo que estava arrependido por não ter encontrado Mark, porque
precisava falar com ele antes que todos partissem para Hadlea .
— Foi uma coisa estranha de se dizer — disse Jane. — Parecia que ele
não iria no casamento.
— Ele não vai. — Isabel estava chorando abertamente. — Ele está indo
embora. Nunca mais vou vê-lo. Ele disse que era o melhor.
— Mark vem nos buscar as nove da manhã — disse ela, voltando-se para
assuntos mais práticos. — Eu fiz minhas malas. Bessie está planejando fazer a
sua esta tarde, Issie. Tia, você acha que pode emprestar uma mala para Isabel?
Ela comprou tantas roupas novas que nem todas cabem no baú que trouxemos
conosco.
— Sim, e compreendo você dizendo que uma cerimônia não era o fim de
tudo de um casamento e você estava certa. Eu vejo isso agora. Eu só queria ser
noiva e Mark é tão bonito e rico, mas foi um erro dizer que me casaria com ele.
— Mas você fez e lamento muito se algo que eu disse fez você pensar
melhor. Só quis dizer que a cerimônia em si é apenas o começo e tem apenas
uma pequena parte no casamento.
— Eu sei o que você quis dizer, mas isso me fez pensar em ficar
vinculado a Mark pelo resto de nossas vidas e simplesmente não consigo vê-lo.
E, por favor, não diga que são nervos, pois sei que não. Não posso me casar com
Mark. Ele não é o amor da minha vida.
— Você adivinhou?
— É Sr. Ashton?
— Sim. Eu me apaixonei por ele, Jane. Eu penso nele o tempo todo. Meu
coração se eleva quando ele entra na sala e cai novamente quando ele sai. O
toque da mão dele incendeia meu corpo e eu quero me agarrar a ele e nunca
deixá-lo ir.
— Será que o Sr. Ashton compartilha seus sentimentos, Issie? Ele falou
deles?
— Não diretamente, mas sei que sim. Eu sei pelo jeito que ele olha para
mim, o jeito que ele fala. Mas ele tem muito cuidado com sua amizade com
Mark para traí-lo, ele me disse isso. É por isso que ele está indo embora. Eu sou
tão infeliz, Jane. Se eu tiver que me casar com Mark, haverá três pessoas muito
infelizes, porque eu nunca poderia fazê-lo feliz.
Jane refletiu que haveria quatro, mas esse era o seu segredo.
— Não sei o que dizer Issie. Talvez quando voltarmos para casa e
voltarmos à nossa rotina habitual, você esqueça o Sr. Ashton e lembre-se por
que aceitou Mark em primeiro lugar.
Lady Cartrose voltou quando Jane estava olhando para o terraço, sua
mente em um turbilhão.
— Você sabe?
— Sou surda, Jane, mas não sou cega. Tem sido óbvio para quem tem
olhos ver o que estava acontecendo.
— Ele parece estar se saindo muito bem. — Ela fez uma pausa. — Não
acho que você deva forçá-la a prosseguir com o casamento, Jane. Isso seria um
desastre.
Jane não respondeu. Ela passou mais tempo do que o normal com Mark
ultimamente, o que nada mais tinha feito do que fortalecer seus sentimentos por
ele. Tornou-se tão óbvio?
***
— Muito bem. O Trust foi criado e as joias serão leiloadas. — Ele fez uma
pausa. — Depois que nossos negócios foram concluídos, deixei Jane na
carruagem para voltar para dentro. Eu queria resgatar suas pérolas do leilão.
Seu pai deu a ela aquelas pérolas em seu vigésimo primeiro aniversário e ela
não deveria tê-las sacrificado. Eu as comprei de volta. — Ele sorriu com a
lembrança daquele beijo na bochecha. — Enquanto eu estava fora, Bolsover
apareceu, ele e Jane tiveram uma briga pelos rumores, o que a fez chorar. Até
Jane está convencida de que é mais do que as dívidas de Teddy com ele.
— E aí é o seu casamento.
— Sim. Devemos nos esforçar para resolver a situação antes disso. Sou
rico, mas não acho que possa chegar a uma quantia tão vasta sem pôr em risco
minha propriedade. Precisamos pensar em outra coisa.
— Se você quer dinheiro, então você o terá, mas é minha opinião que
Bolsover o recusará. Ele é prodigioso e está determinado a ter a mansão.
— Como ele conseguiu sua riqueza? Ele parece não ter uma grande
propriedade.
— Jane?
— Eu não tinha certeza, mas pretendia informar Sir Edward que eu havia
cumprido e, que ele havia tomado uma decisão errada ao recusar sua permissão
para nos casarmos.
— Quem então?
— Não importa, porque nada pode resultar disso. Vou embora por ela e
por você.
— Isabel!
— Cuide dela, Mark, e seja feliz. — E ele girou nos calcanhares e saiu.
***
De alguma forma o dia terminou com Isabel com o rosto pálido e a tia
pensando em tentar ajudar. Jane ficou feliz quando todos os preparativos
estavam completos e ela poderia ir para a cama. Ela se despiu e rastejou entre os
lençóis, mas o sono a iludiu. Ela se comprometeu a convencer a irmã a seguir
em frente com o casamento, porque não fazer isso seria cruel com o homem que
amava e lhe causaria angústia. E isso incomodaria seus pais. Além das
preocupações com o dinheiro, isso poderia muito bem matar o pai dela.
Preocupações financeiras. Com o que lorde Bolsover estava brincando? Se ao
menos Teddy não tivesse apostado tanto, se ao menos sua irmã não tivesse
flertado com Andrew Ashton, se ela mesma não amasse tanto Mark. Querido
Mark. Ele não merecia ser envolvido em um escândalo de qualquer direção.
Como tudo isso ia acabar?
Durante a longa viagem para casa, Isabel estava tranquila e quieta, Jane
foi atenciosa e Mark foi invulgarmente taciturno. Era evidente que todos eles
tinham muita coisa em mente e quase não conversavam, exceto para pedir
comida e bebida em algumas das pousadas onde eles pararam para que os
cavalos fossem trocados e aprovar o alojamento, quando parassem para passar
a noite no White Hart em Scole. A estalagem era muito antiga, a qual já havia
providenciado acomodações para Charles II e Lord Nelson, para não mencionar
vários ladrões de estrada, parados na encruzilhada entre Norwich e Ipswich,
Bury St Edmunds e a costa de Norfolk.
***
— Oh, é tão bom ter vocês em casa — disse a mãe delas, abraçando as
duas. — Adiei a ceia e vocês nos dirão tudo o que fizeram enquanto comemos.
Isabel, você está totalmente recuperada de sua queda?
Sir Edward olhou para os dois baús que haviam sido depositados no
corredor.
— Pelo que me lembro — ele disse —, você só levou um baú com você.
Devo assumir que você esteve fazendo compras?
— Bem , eu não podia sair pela cidade com tia Emmeline nos vestidos
surrados que eu levara comigo — disse Isabel. — Era diferente para Jane, ela
estava muito ocupada com seus órfãos para se preocupar com a aparência dela.
Ele suspirou.
— Mas você tenta muito a paciência dele, Issie. Ele parece muito tenso e
me pergunto como as coisas realmente estão ruins.
— Você não acha que aquele homem odioso no sarau de tia Emmeline
estava dizendo a verdade, não é?
***
A ceia era hora de conversar, com Sophie dizendo às irmãs o que estava
acontecendo na aldeia na ausência delas, Isabel conversando sobre tudo o que
tinha visto e feito, evitando qualquer menção a Andrew Ashton, e Jane
avaliando sua visita ao Hospital Foundling e o progresso que ela havia feito
com seu projeto órfão.
— Sim, ele nos contou sobre os fundadores quando nos chamou para
informar do acidente de Isabel — disse sua mãe. — Como isso aconteceu?
Passeios no parque geralmente não são cheios de perigo.
— Tenho certeza que sim, mas era uma montaria contratada e uma sela
contratada, que sem dúvida não se encaixavam corretamente.
— E acredito que sua tia organizou uma festa para você, Jane. Você
conheceu pessoas interessantes?
— Sim, a sala de estar da tia Emmeline foi um aperto. Eles sabiam que eu
estaria falando sobre à Casa das Crianças Hadlea. Fiquei muito nervosa no
começo, mas logo esqueci isso enquanto falava.
— Não foi só isso que ele disse. — Isabel ignorou o olhar feroz que Jane
deu a ela. — Ele disse que você estava quase falido, papai, e o dinheiro que Jane
coletou para o orfanato dela pagaria suas dívidas.
— Não culpe tia Emmeline — disse Jane. — Ela foi muito cuidadosa
sobre aqueles a quem nos apresentou. O homem chegou sem ser convidado.
— Ouvi D...o senhor Ashton dizer que fora enviado por lorde Bolsover
— Prosseguiu Isabel. — É para ele quem Teddy devia todo esse dinheiro. Ele
está evidentemente zangado por Teddy ter escapado.
***
— Acredito que ele esteja na igreja. Eu ia levar essas rosas para o altar.
Vamos encontrá-lo. Ele tem algumas novidades para você.
— Novidades?
— Oh, que boas notícias. Espero que tenhamos tudo pronto e que os
primeiros filhos sejam instalados antes do inverno.
— Ah, sim, um suicídio e é por isso que está fora do solo consagrado.
— Você fez bem — disse ele. — E também tenho novidades. Eu acho que
encontrei uma casa adequada. Está em Witherington e está vazia há algum
***
— Oh, não foi nada. Estou muito bem e uma noite em minha própria
cama fez maravilhas, e também as notícias de que o Reverendo Caulder
encontrou algumas instalações para nossa casa. Acabei de chegar da Reitoria e
decidi vir para perguntar se você poderia dispor de tempo para me
acompanhar em uma inspeção. Os curadores terão que tomar a decisão final
sobre a compra ou não.
— Jane, quando assumi a tutela, sabia o que isso implicaria e sempre faço
questão de cumprir minhas obrigações, então não pense mais nisso. Iremos o
mais breve possível. Talvez Isabel queira nos acompanhar?
Eles não tiveram que esperar para perguntar a ela. Lady Cavenhurst e
Isabel estavam sentadas na sala com Lady Wyndham. As duas senhoras mais
velhas estavam conversando animadamente sobre os planos para o casamento,
mas Isabel estava calada e parecendo triste, o que preocupou Jane. Quanto
tempo levaria até que ela superasse sua paixão por Andrew Ashton? Se ela
continuasse parecendo sombria por muito mais tempo, todos perceberiam. Mas
ela não podia condená-la completamente; ela sabia como era ansiar por alguém
que você não podia ter.
— Eu não sabia que você estava vindo aqui, Jane — disse a mãe. — Você
poderia ter dirigido à charrete, sabe como eu odeio dirigi-la. Estou sempre com
medo de que ela vire e nos coloque em um fosso. E seu pai positivamente nos
proibiu de prender os cavalos à carruagem por uma viagem tão curta.
Nada mais foi dito por vários segundos enquanto o ar aquecido esfriava
e então Lady Cavenhurst se levantou, seguida por suas filhas.
***
— Vá lá, eu não acredito nisso. Você tem estado distraída desde que
voltou para casa. Começo a pensar que você não está feliz por ter voltado e que
preferia ter ficado com sua tia.
— Não é isso.
— Sente-se aqui, Isabel, e deixe-nos saber o que está deixando você tão
infeliz.
Isabel hesitou.
— Você quer dizer que não é mais jovem e boba? Você ficou velha e sábia
no espaço de duas semanas? Começo a desejar não ter sugerido que você fosse a
Londres com Jane. Sua cabeça foi virada pelo haut monde13.
— Não tem nada a ver com Londres ou o haut monde. Eu me senti assim
antes de ir. Jane lhe dirá isso.
— Jane?
— Issie deu a entender que estava nervosa por se tornar Lady Wyndham
e ter que administrar Broadacres, mãe. Ela não me disse que não amava Mark.
— Não são nervos, mamãe. Se eu for obrigada a casar com Mark, ficarei
infeliz e ele também.
13 Alta sociedade
— Não, talvez não, mas seria um golpe terrível, não apenas para ele, mas
para sua mãe, que não é forte o suficiente para resistir, não depois de perder o
marido tão repentinamente. É apenas o pensamento do casamento que a
mantém em pé. Ela me disse isso. Por isso ela encurtou o período de luto.
— Você vai pensar de maneira diferente quando chegar a hora. Mark não
é um monstro. Você não poderia desejar um marido mais gentil e atencioso. É
mais importante do que estar apaixonada. Há muitos casamentos bem-
sucedidos que começaram sem o amor. Isso virá mais tarde.
— Não vai. — Isabel estava chorando agora. Jane se sentou ao lado dela e
abraçou-a, mas não tinha nada a acrescentar ao que sua mãe havia dito e
reiterar isso seria hipócrita.
Jane ajudou a irmã a ir para o quarto, onde estava sentada na cama, não
chorando agora, mas com o rosto branco e os olhos vermelhos. Jane derramou
um pouco de água do jarro no lavatório em uma tigela e mergulhou um pano
nela. Ela torceu e deu para Isabel.
— Limpe seu rosto, Issie. Chorar tanto vai estragar sua aparência.
— Uma coisa de que você pode ter certeza é que Mark nunca
interromperá o noivado, faça o que você fizer. Ele é honrado demais e o
escândalo arruinaria as duas famílias.
— Sim, quando ele ficou com Mark anos atrás, logo depois que eles
deixaram a universidade. Papai não concordou em deixar me casar com ele. Ele
disse que o Sr. Ashton não tinha família nem perspectivas e que eu poderia ter
coisa melhor. Ele foi para a Índia e eu superei isso muito rapidamente.
— Não, não era, mas eu não percebi na época. Agora eu sei que o pai
estava certo, não por causa da falta de status e riqueza do Sr. Ashton, mas
simplesmente porque eu apenas pensava que estava apaixonada. Não era real.
— Qual era o objetivo? Drew desapareceu e não sei para onde ele foi,
provavelmente de volta à Índia. Eu serei uma velha empregada como você.
— Eu não quero.
Elas foram interrompidas por uma batida na porta e Bessie veio dizer a
Isabel que seu pai estava na sala de livros e que ela deveria ir imediatamente.
Isabel se levantou.
— Não, você deve ir sozinha — disse Jane. — Ele só quer que você repita
o que disse à mamãe.
***
Mark não conseguia entender o humor de Isabel. Ele nunca soube que ela
era irritável. Ela se levantava ocasionalmente, mas sua natureza ensolarada
geralmente logo se reafirmava, mas agora parecia que nada que ele podia fazer
estava certo. E ele ficou horrorizado com a grosseria dela com Jane. Ele podia
ver que Jane havia se machucado, embora ela não demonstrasse, exceto pela
tristeza em seus olhos. Ele esperava que, quando chegasse à mansão, Isabel
tivesse feito as pazes com a irmã e estivesse pronta para acompanhá-los a
Witherington. O projeto Casa das Crianças Hadlea era importante para Jane e
ele queria ajudá-la, Isabel estava com ciúmes? Se ela não iria a Witherington
com eles, ele deveria compensar isso de outras maneiras.
Ele seguiu o caminho através dos bosques que cercavam a mansão. O sol
se filtrava através da copa das árvores, fazendo faixas de luz dançantes ao
longo do caminho à sua frente. Acima, um melro sentado num galho, avisava-o
que ele estava invadindo seu território. Também havia outros sons, o barulho
do vento, o farfalhar, o guinchar, o latido distante de um cachorro, mas eram
apenas pequenos sons e não interferiam na tranquilidade. E então ele ouviu
outro som que não era pacífico. Alguém estava chorando não muito longe,
alguém em terrível sofrimento. Ele correu para encontrar a fonte do som e
encontrou Isabel caída no chão sob um carvalho antigo, enrolada em uma bola
apertada.
— Eu não caí e não estou machucada, pelo menos, não do jeito que você
quer dizer. — Ela fungou e enxugou os olhos.
— Então, o que é?
— Nada.
— Não ligo quanto tempo você passa com Jane e o orfanato dela.
— Continue.
— Não posso me casar com você, Mark. Eu não quero ser Lady
Wyndham. Eu vou deixar você infeliz.
— Você deseja?
Ela assentiu.
Ele considerou isso apenas por um momento antes que a verdade lhe
ocorresse. Isabel havia flertado com Drew, estava animada e feliz na presença
dele e não queria voltar para casa. E o próprio Drew admitiu que era por isso
que ele estava indo embora. Como ele estava cego!
— Sim, mas ele disse que não o trairia. Por isso ele foi embora.
— Oh!
— Jane diz que eu vou superá-lo porque ela fez. Ele pedira permissão ao
pai para se casar com ela, mas o pai não permitiria isso por falta de fortuna. É
por isso que Jane nunca se casou. Ela diz que logo o superou, mas não tenho
tanta certeza, porque não posso acreditar que mais ninguém lhe perguntou, não
quando ela era jovem e casadoira.
— Ela é ciumenta. Drew me disse que havia mais alguém assim, mas já
havia superado isso há muito tempo e estava feliz com isso.
Mark lembrou-se de Drew dizendo algo do tipo, mas não fazia ideia de
que fora Jane. Ele encontrou suas emoções agitadas e não tinha nada a ver com
ser rejeitado por Isabel. Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la a se
levantar.
***
Sir Edward e Lady Cavenhurst estavam na sala de estar com Jane e era
evidente que eles estavam conversando sobre o comportamento extraordinário
de Isabel, mas pararam quando viram que Mark estava com ela.
— Não, você não considera, mas tenha certeza de que é apenas uma
fantasia passageira. São os nervos provocados pela morte de seu pai e a
perspectiva de se tornar Lady Wyndham e o papel que se espera que ela
cumpra. Vamos educá-la no que se espera dela e, sem dúvida, sua mãe também
o fará.
— Acho que talvez seja mais do que isso, sir Edward, e eu não a
obrigaria a um noivado que é repugnante para ela.
— Mas por que você deveria? — Sir Edward perguntou. — Ela superará
a relutância em quanto você e sua mãe estiverem de luto. Se não fosse a morte
prematura de Lord Wyndham, vocês já estariam casados. Menos de um mês
atrás, ela não falava de mais nada.
— Não vou ouvir isso — disse o pai. — Já o mandei fazer as malas uma
vez e voltarei a fazê-lo. Você não precisa pensar que eu vou consentir que você
se case com ele.
— Espero que seja por isso que ele foi embora — ela disse
miseravelmente.
— Lamento que você tenha ouvido isso, meu senhor. Isabel não costuma
dar birras, como você deve saber. Sem dúvida, ela estará em um estado de
espírito melhor amanhã.
***
Ele voltou para casa para procurar sua mãe, que estava descansando em
seu quarto. Ele deveria contar a ela o que havia acontecido. Seria um choque
— Isabel me disse e ao resto de sua família que ela não deseja mais se
casar comigo.
— Não quer casar com você! O que você está dizendo, Mark?
— Só isso. Ela mudou de ideia. Ela diz que não me ama. — Ele sorriu. —
Foi um golpe no meu orgulho, mas vou superar isso.
— Pretenciosa! Ela é uma garota tola. Ela quer se casar com você há anos,
não pode ter mudado repentinamente.
— Você quer dizer que vai permitir que ela cancele tudo? Você será
motivo de chacota.
— Mamãe, acho que não quero que ela mude de ideia. Estou contente em
deixá-la quebrar o noivado. Poderíamos ir viajar, você e eu, quando você se
sentir mais forte, é isso. As fofocas logo desaparecerão quando os linguarudos
encontrarem outra coisa para conversar.
— Eu falei com Henry Caulder ontem — Mark disse a ela enquanto eles
corriam pelas ruas do campo, agora à sombra das árvores. Ele me contou o que
sabia sobre a Witherington House. Ele disse que estava em ruínas, e é por isso
que está tão barato.
—Sim, ele me disse isso. Por todas as contas, isso significará uma grande
quantidade de trabalho para torná-lo habitável. Talvez o custo dos reparos
supere o baixo preço de compra.
— Muito pouco. A maior parte foi vendida aos agricultores locais como
arável e pastagem, mas há um hectare de horta. Não deveríamos querer mais
do que isso ou teríamos que empregar jardineiros.
Ele liderou o caminho para dentro da casa pela cozinha. Havia uma
mulher parada à mesa cortando uma lebre.
— Minha esposa, Dotty — disse ele, então para ela: — Essas pessoas
vieram ver a casa.
Ela deu uma rápida olhada neles e continuou seu trabalho. Silas os levou
da cozinha para um corredor estreito no final do qual uma porta dava para a
frente da casa.
Ele os deixou e eles subiram mais escadas para o próximo andar, onde os
empregados teriam sido alojados.
Ela riu.
— Mas, Mark, você já tem muito que fazer. Sinto que estou me
aproveitando de você e sobrecarregando-o com mais problemas.
— Espero que ele não insista. Isabel pode acabar com isso sem causar
muitos danos. Eu certamente não posso.
— Você gostaria?
— Oh. — Ele realmente quis dizer que queria o fim do noivado? Era
estranho se ele o fizesse, porque as duas famílias estavam conversando sobre
isso desde que Isabel deixou a sala de aula. Lembrou-se disso especialmente
porque ela própria tinha sofrido na época e isso a tinha tornado ainda mais
infeliz. Ela tinha sido tola, sabia disso agora.
— Mas Drew não é o homem que ele era há dez anos, Jane.
— Ainda estou apaixonada por ele? Não, Mark, eu nunca fui, não de
verdade. Ah, eu ansiava por um tempo, mas depois recuperei o juízo e fiquei
agradecida por ter escapado. Ele é rico e seguro de si e virou a cabeça de Issie.
Ela sem dúvida vai superar isso, como eu fiz.
Ela o seguiu. Seu cabelo escuro enrolava na nuca da maneira atraente, ela
sentiu uma vontade inexplicável de estender a mão e puxar os dedos por eles,
para endireitar e observar quando ela soltava de volta. Enraizada nisso, ela não
olhou para onde estava indo e seu pé ficou preso em um degrau quebrado. Ela
estendeu os braços para se salvar, empurrando-o pelas costas. Ele só conseguiu
se salvar de cair e assim fazendo, amorteceu a queda dela, para que ela não
percorrer todo o caminho escada abaixo. Ele a levou para o próximo degrau e
sentou-se ao lado dela, o braço em volta dos ombros dela.
— Vou tentar.
— Não, você não pode. — Ele a pegou nos braços e a carregou até o
térreo e de volta pelo corredor até a cozinha. Ela podia sentir o cabelo que a
havia fascinado, enquanto abraçava o pescoço dele. Era macio e maleável.
***
— Eu me sinto tão tola — disse Jane quando isso foi feito e ela estava
sentada no cabriolé pronta para ser levada para casa, um tornozelo muito
enfaixado, o sapato no chão aos seus pés. — Fomos avisados de que as escadas
não eram seguras, eu deveria ter prestado mais atenção ao local onde estava
colocando os pés. Graças a Deus você estava lá para amortecer minha queda. Eu
machuquei você?
— Não foi sua culpa. E nós não olhamos para os anexos afinal.
— Você acha que a casa está em péssimo estado para o nosso propósito?
— Seu tornozelo estava doendo de modo abominável, mas ela tentou ignorá-lo.
— Como você diz. Gostaria que eu negociasse com o Sr. Halliday por
você? Receio que você precise descansar esse pé por um tempo.
— Sim, maldição! — disse ela— Mas, por favor, faça o que puder. — Ela
fez uma pausa — Não tivemos o nosso piquenique, tivemos?
— Um pouco.
— Eu acho que não. — Ele a pegou como se ela não pesasse mais do que
uma pena e a carregou até a árvore, onde ele gentilmente a abaixou sobre o
casaco e sentou-se ao lado dela, tão perto que ela podia sentir a coxa de sua
calça por seu vestido fino. Era altamente impróprio, mas não havia ninguém
para vê-los e o próprio Mark parecia desconhecer a impropriedade. Ela sabia
que deveria se afastar, mas ficou onde estava deixando sua imaginação brincar
com uma visão deles como um casal e, era quase certo ele abraçá-la, carregá-la,
sentar-se tão perto quase a tocando.
— Sim, obrigada.
— Sim, a Sra. Blandish vive com medo de que hei de morrer de fome, por
isso ajude-me ou vou estar em apuros se eu levar alguma coisa de volta. — Ele
estava servindo vinho enquanto falava e lhe entregou uma taça.
— É adorável.
Ela olhou bruscamente para ele e percebeu que ele estava olhando
intensamente para ela, como se estivesse estudando seu rosto, esperando por
uma reação. Por um segundo ou dois, ela se perguntou se ele tentaria seduzi-la
e o que ela faria, mas depois descartou a ideia como absurda. Ela estava
perfeitamente segura com ele. E em algum lugar nas profundezas dela, onde
mantinha seus pensamentos mais secretos, desejava não estar. Ela tentou uma
risada leve, mas parecia rachada.
— Esse é o tipo de coisa que você deveria estar dizendo a Isabel para
fazê-la mudar de ideia.
— Você está machucado e quem pode culpar você? Ela tem sido muito
cruel com você.
— Não foi cruel, foi honesta e que eu possa admirar, mas se ela não me
ama, não há como tentar convencê-la a se casar comigo, se ela não quiser. Eu
não tenho que implorar pelo favor de uma dama, Jane. Eu tenho mais orgulho
do que isso. Agora beba e coma e não voltemos a falar de Isabel, estou ficando
cansado de ouvir falar do nome dela.
— Quando tivermos a posse, você quer dizer? Acho que o telhado deve
ser o primeiro, para torná-lo à prova de intempéries, depois as escadas...
Ele olhou para o membro em questão. Não havia dúvida de que estava
mais inchado.
Fique quieta! Ela mal conseguia se mexer. Ela comeu um pouco do pão
com presunto e lavou-o com vinho, o que parecia estar indo à sua cabeça.
— Muito obrigada.
— Acho melhor levá-la para casa. Você já teve o suficiente para comer e
beber?
Linda, ele dissera. Ela não acreditou nem por um minuto; ela era
simplesmente, Jane, sempre fora, sempre seria, mas era adorável ouvir isso.
Apesar de sua lesão, tinha sido um dia maravilhoso. Tê-lo perto de si foi um
deleite para ser saboreado e lembrado nos próximos anos.
Ele se virou para sorrir para ela e transferiu as rédeas para a outra mão,
para que o movimento de seu braço não a perturbasse. Por que ele havia notado
recentemente como ela era adorável, ele não sabia, e não era simplesmente um
rosto adorável, ela tinha um temperamento adorável, quieto, cuidava dos
outros, muitas vezes em detrimento de suas próprias necessidades, e ele a
amava. Ele não podia dizer isso enquanto estava noivo da irmã dela, Jane, ela
própria nunca aceitaria isso, mas assim que estivesse oficialmente livre, teria
que falar sobre isso. Ele a queria, ele a queria tanto que doía.
— Eu estava dormindo?
— Sim. Provavelmente foi bom. Agora temos que enfrentar seus pais e
eles, sem dúvida, me darão um sermão por não cuidar de você.
— Eu acho que a Srta. Cavenhurst deve ser levada para o quarto dela —
disse Mark. — Ela pode contar-lhe tudo quando ela estiver confortável e o
médico for chamado.
— Com sua permissão, Lady Cavenhurst , virei amanhã para ver como a
paciente está.
— Piquenique? Fui informada de que você procuraria uma casa para seu
projeto.
— Foi o que fizemos, mas Mark trouxe uma cesta de piquenique. Afinal,
íamos ficar fora por algum tempo. Acredito que foi ideia da senhora Blandish.
Ela pensou que Mark estaria com fome.
— Mamãe, o que você está dizendo? Você acha que eu estava bêbada?
Como você pode? Se você parar de me interrogar por um minuto, eu lhe direi
exatamente como aconteceu.
— Sim, está.
— Não é e, isso não vai me parar. Nós decidimos comprar a casa. Pode
ser consertada.
— Mas eu não estou morta, estou? Mark estava na minha frente e ele
amorteceu minha queda.
— Sim, de fato. Ele diz que a casa pode ser facilmente recuperada e será
o lar ideal para as crianças.
— Mark isso, Mark aquilo. Você nunca se cansa de dizer o nome dele? —
Isabel exigiu de Jane.
— Não ligue para Issie — disse Sophie. — Ela tem sido uma péssima
cruzada desde que vocês voltaram de Londres. Nem uma palavra civilizada
dela.
Jane riu.
— Eu tento não tirar. O problema com Issie é que ela não consegue se
decidir, principalmente quando mamãe e papai continuam em cima dela.
Antes que Jane pudesse responder, sua mãe trouxe o médico para o
quarto e Sophie saiu dali.
***
Mark foi para casa, deixou o cavalo e o cabriolé com Thompson, um dos
cavalariços, e foi para dentro pela porta da cozinha, carregando a cesta de
piquenique. A senhora Blandish estava lá, preparando a refeição da noite.
— Você voltou, mestre Mark... Opa, eu deveria ter dito “meu senhor”,
não deveria? Não consigo me acostumar com isso.
— Lamento ouvir isso, senhor. Espero que ela não tenha sido gravemente
ferida.
— Obrigada, senhor. É sempre bom ser apreciada. Sua mãe está na sala
de estar.
Sua mãe deixou de olhar pela janela para sorrir para ele quando ele
entrou na sala e lhe deu um beijo na testa.
Ele se sentou perto dela e se lançou em um recital de tudo que ele e Jane
tinham visto e feito, e o fato de Jane ter sido ferida.
— Eu vou te levar, mamãe. Eu disse que iria ver como Jane está e
precisamos conversar novamente sobre como angariar mais fundos. Jane
sugeriu realizar uma feira na vila, com barracas e competições e prêmios
doados. Eu disse que poderíamos usar o campo de dez hectares como local, se
você concordar. É longe o suficiente da casa para não incomodá-la.
— Eu acredito que sim. Não a vi hoje, ela está entediada com todo o
projeto e não veio conosco.
— Isso é uma pena. Sair com Jane desacompanhada pode causar fofoca,
por mais inocente que seja.
— Acho que é uma pena que Isabel não se interesse pelo esquema —
disse Helen. — Um homem precisa de uma esposa que se interesse pelas coisas
em que ele está interessado, caso contrário, eles também podem viver vidas
separadas.
— A mãe sabe — ele disse a ela. — Ela é da opinião que Isabel vai mudar
de ideia.
***
— Sr. Halliday.
— Oh — Com a ajuda de sua muleta, ela mancou pela casa até a sala de
estar, onde encontrou sua mãe e irmãs.
— Sim. Ele e seu pai estão trancados na sala do livro há horas. Todos nós
fomos solicitados a esperar aqui até que surjam.
— Você sabe por que ele está aqui? Papai mandou chamá-lo?
— Eu penso que não. Ambos pareciam muito sérios. — Ela parecia estar
sempre calma, mas Jane podia ver que estava tremendo. — Eu suspeito que eles
estão falando sobre nossas economias.
— Foi o que ele fez, mas não acho que ele quis dizer isso. Pessoas como
nós simplesmente não economizam.
— Aristocratas.
— Você tem certeza de que não vai exceder sua força? — Sua senhoria
perguntou.
— Mamãe, sou tão forte quanto um boi e minha perna estará bem
reparada até lá.
Eles ouviram uma porta abrir e fechar, então o pai, seguido pelo senhor
Halliday, entrou na sala. Ambos pareciam sombrios. Sir Edward convidou o
advogado para sentar e depois puxou uma cadeira para se sentar perto de sua
esposa. Houve silêncio por um momento, enquanto todos olhavam para ele
com expectativa.
14Não entendo muito sobre o assunto, mas ele se refere a jogar com taxas de ações na
bolsa. Jogou o que iria lucrar com a alta, mas perdeu dinheiro com a recessão.
15 Agricultura familiar
— O que o homem tem contra nós? — Jane perguntou. — Você sabe Sr.
Halliday?
Ele balançou a cabeça sem falar. Seu rosto estava branco e suas mãos
tremiam.
— Eu receio que elas sejam. — Ele fez uma pausa. — A menos que esteja
fora de seu alcance, ele reivindicará toda a propriedade.
— Greystone Manor? — Grace ofegou. — Ele não pode fazer isso, pode?
— Receio que ele possa, se seu marido não fizer nenhum esforço para
recompensá-lo.
— Estou inclinada a pensar que os motivos dele podem voltar até aqui —
Jane acrescentou. — Encontrei uma pedra tumular ao lado do cemitério. Dizia...
— Ela fez uma pausa para se certificar de que tinha as palavras corretamente. —
“Colin Bolsover Paget, filho amado de Lord e Lady Paget, morreu por sua
própria mão, em maio de 1649, com 27 anos. Que Deus o perdoe e permita que
ele descanse eternamente.” Você acha que isso pode ser significativo?
— Temos que vender a mansão e nos mudar para uma casa menor, onde
podemos viver mais economicamente — acrescentou Sir Edward, falando em
voz embargada. — Não temos alternativa.
— Nem por isso — disse Halliday. — Se é a mansão que ele quer, vendê-
la e pagá-lo com o dinheiro vai privá-lo disso e deixar o suficiente para você
viver em ambientes mais modestos.
— Por que não? — O pai delas exigiu. — Você vai se casar com Mark
Wyndham e vai sair de casa. Teddy já foi embora e, sem dúvida, Sophie logo o
seguirá até o altar, por isso é fácil dizer que sua mãe, eu e Jane não precisamos
de uma casa tão grande.
— Teddy perdeu isso — retrucou o pai. — Se ele não tivesse entrado nas
garras de Bolsover, o homem também não pensaria em pagar nossas dívidas.
— Mas você não vai conosco, vai? — Sua mãe disse. — Você ficará aqui
como Lady Wyndham.
— Então nunca mais vou te ver. — Afinal, parecia que ela estava
adotando essa ideia e Jane se perguntou o que Mark pensaria disso.
— Bobagem, Mark vai trazer você para nos visitar, tenho certeza.
— Não chore, minha querida. Não será tão ruim. Nossas filhas estavam
fadadas a se casar e sair de casa em algum momento e você teria se acostumado
a ficar sem elas.
— Vou colocar a casa a venda para você, senhor Edward. Eu não acho
que precisamos divulgá-lo amplamente. Vou contar a algumas pessoas
selecionadas e a coisa toda pode ser gerenciada discretamente.
— Sim, faça isso. — Sir Edward mal se afastou da esposa para lhe dar um
bom dia. Ninguém pensou na necessidade de acomodação do homem, até Jane
mencionar.
— Oh, sim, você pode ficar — disse Sir Edward. — Mas seremos uma má
companhia.
— Sinto muito por ter sido portador de notícias tão ruins — disse ele,
enquanto ela lhe entregava o chapéu da mesa no corredor. — Estou certo de
que sua família precisará de seu bom senso nas próximas semanas.
— Sim, devo dizer, e pelo bem da minha saúde, mas isso não me fará
sentir melhor.
— Sim, suponho que você esteja certa. Ela me fez sentir bem-vinda
quando eu era nova na área. Sentirei mais a falta dela do que qualquer outra
pessoa.
Jane sorriu.
— Ah, você realmente não quis dizer que não viria conosco, não é?
— Sim, vamos acabar logo com isso, embora não tenha ideia do que
direi a Helen.
— Então fico feliz que você não possa, mamãe, ele sem dúvida riria de
você. Ele é um homem odioso.
— Não quero ser pobre — disse Isabel. — Não serei pobre, não serei. Eu
não quero viver contando meus tostões e não ser capaz de ter um vestido novo
ou novos sapatos quando eu quiser. Afinal, prefiro me casar com Mark.
***
***
— Seu pai vai contar aos criados hoje — disse a mãe enquanto saíam da
estrada para a entrada da vila. — Ele concordou que posso ficar com Bessie, se
ela estiver preparada para ficar comigo quando nos mudarmos para a Escócia,
mas o resto deve ser avisado.
— Talvez, mas não sabemos quem ele será não é? Seu pai diz que eles
devem ter a oportunidade de encontrar novas posições, caso ele não encontre.
Mark os ouviu chegar e saiu para encontrá-los. Ele estava vestido para
caminhar, embora sem chapéu.
— Vou esperar aqui — disse Jane. Ela não queria testemunhar o que
sabia que sua mãe considerava humilhação, nem achava que sua mãe gostaria
que Mark estivesse presente. — Preciso falar com você, Mark, se você puder me
dar um tempo.
Ela podia vê-lo enquanto ele descia o caminho em sua direção e podia
admirar sua figura esplendidamente musculosa; a maneira como ele andava,
não rigidamente, mas de pé com uma graça fácil; o corte esplêndido de suas
roupas; o jeito que ele sorriu. Isabel se casaria com ele? Sua irmã não pensaria
duas vezes em mudar de ideia novamente, se isso significasse que ela não
precisava ir para a Escócia. Jane doeu pensar que ele seria machucado de
qualquer maneira. As fofocas seriam terríveis se ela não o fizesse. Pode- se dizer
que ele renegou quando era tão óbvio que não haveria dote e a família foi
perdida. Por outro lado, se ela se casasse com ele, eles poderiam ser felizes?
— Minha mãe vai contar à sua mãe uma notícia que terá consequências
para todos nós — ela começou. — E me foi dada a tarefa de lhe falar porque
Isabel se recusa a fazê-lo.
— Continue.
— Isabel não fez nada. É o meu pai Ele está em dificuldades financeiras e
deve vender a Greystone Manor. Meus pais vão dizer que não precisam mais
morar em uma casa tão grande e vão para a Escócia para a saúde de mamãe.
— Bom Deus! — Ele disse. — Eu sabia que Sir Edward estava lutando,
mas não fazia ideia de que era tão ruim assim. Como isso aconteceu?
Ela contou o que o pai havia dito no dia anterior, sem guardar nada, ela
sentiu que ele merecia conhecer o todo.
— Deixando você para trás? — Ela notou que ele não fez nenhum
comentário sobre sua declaração de que Isabel ainda se casaria com ele.
— A escolha é minha.
— Espero que seja, ou pelo menos parte dela, quando a mansão for
vendida. A casa vai precisar de uma governanta, então por que não eu?
— Você não precisa gostar disso. Mas agradeceria sua ajuda para fazer as
coisas funcionarem.
— Sem dúvida, ele conhecerá nossa situação. Você acha que isso fará
alguma diferença?
— Não vejo por que deveria. Os assuntos de seu pai não são da conta,
cujos fundos são seguros.
Ela tremeu com o carinho. Ela não devia deixá-lo ver como ela foi afetada
por isso, ela realmente não devia. Ela forçou um sorriso.
— Tenho certeza de que ele não faria e imploro que você não mencione
isso. Seu orgulho já foi gravemente ferido. De qualquer forma, as dívidas estão
todas nas mãos de um homem, e vender a Mansão para pagar a ele é a única
maneira de papai ter mais alguma coisa.
— Sim. — Ele fez uma pausa. — Duvido que faça alguma diferença, mas
estou curioso o suficiente para querer descobrir a história por trás desse
suicídio. Existem livros antigos em Broadacres que meu pai recolheu sobre a
história da região. Vou ver o que posso descobrir.
***
Jane contemplou essa ideia, mas isso a deixou tão infeliz que ela a
empurrou. Ela realmente deveria parar de pesar nele; ele não era para ela e
nunca seria. Se ela pudesse se separar dele, ela faria isso, mas ambos estavam
tão envolvidos no projeto Casa das Crianças Hadlea, não havia nada a fazer
sobre além de fazer o que ela havia lhe dito que faria: trilhar firmemente o
caminho escolhido. Mas, oh, como seu coração doía.
— Gostaria que você não fosse tão teimosa por não vir conosco, Jane.
Parece que uma dama solteira não mora sozinha.
— Não vou ficar sozinha. Vou ter pessoal, talvez alguns dos funcionários
da Manor venham comigo. Além disso, já superei a idade de precisar de um
acompanhante.
A senhorita suspirou.
***
— Você disse que havia crianças. Entendi que Sir Jasper não tinha
parentes próximos e foi por isso que os advogados tiveram tanto problema em
encontrar seus herdeiros.
— Por quê?
Jane estava começando a sentir pena do velho Sir Jasper, sozinho e infeliz
em seus anos decadentes, mas ele tinha uma ligação com lorde Bolsover? Isso
faria diferença nos planos dela? Mal podia esperar para contar a Mark,
esquecendo sua decisão de não chamá-lo, mais do que poderia ajudar.
***
Mark estava sentado na biblioteca com a cabeça nas mãos. Sobre a mesa à
sua frente havia vários livros antigos que ele tirara das prateleiras que
procurava, quando um lacaio lhe dissera que a senhorita Cavenhurst havia
chegado e o chamava. Ela estava esperando na sala de estar. Pensando que era
Jane, ele se apressou em ir até ela, com um sorriso no rosto. Ela estaria
interessada no que ele descobrira.
Mas não era Jane, era Isabel. Ele manteve o sorriso, embora tenha sido
um pouco fixo quando ele se curvou para ela.
— Mas há necessidade. Veja bem, eu lhe disse que não queria mais me
casar com você e você foi tão galante a ponto de me dizer que iria me apoiar
nisso.
— Sim eu fiz.
— Você quer dizer que não deseja mais interromper nosso noivado? —
Seu intestino estava agitado com uma mistura de decepção, fúria e desamparo.
Se ele pudesse ter dito a ela que não aceitaria a mudança de opinião dela e que,
no que dizia respeito, o noivado estava encerrado e fora, desde que ela o
mencionara pela primeira vez, ele diria. Mas esse curso não era aceitável. Uma
dama pode, com pequena perda de reputação, romper um noivado, mas um
cavalheiro nunca poderia fazê-lo. Isso o deixaria aberto à condenação e ao nojo
de todos no haut monde e ele seria evitado. Ele era obrigado a honrar sua
proposta, como se tivesse dito seus votos de casamento.
— Sim. Sinto muito. Eu deveria ter pensado nisso com mais cuidado
antes de falar.
— E o Drew?
— Não, claro que não. — O que mais ele poderia dizer? Ele puxou a
corda do sino ao lado da lareira. Quando um criado chegou, ele pediu que ela
informasse Lady Wyndham que a senhorita Isabel Cavenhurst estava aqui e ela
gostaria de vê-la.
— Isabel, que bom ver você. Eu não sabia que você estava aqui ou teria
chegado mais cedo. Sua mãe não está com você?
— Nós não contamos Jane. — Sua senhoria sorriu. — Mas não importa,
você ainda está noiva do meu filho, não é?
Mark não aguentou mais. Ele deu desculpas e voltou para a biblioteca,
onde se jogou em uma cadeira e, gemendo, colocou a cabeça nas mãos. As
palavras de sua mãe queimaram em seu cérebro. “Nós não contamos Jane”.
Como eles poderiam ser tão depreciativos? Como eles poderiam tirar tudo dela
e não dar nada em troca? Ele a amava, amava sua natureza quieta, seu
altruísmo, a maneira como ela se importava com todos, sacrificando sua própria
felicidade por isso, por seus adoráveis olhos expressivos quando o olhava, seu
doce sorriso, seu pé no chão, honestidade, sua coragem. Quem se casasse com
ela se casaria com um tesouro e ele desejava que fosse ele.
— Sim, mas você não mencionou Jane e eu pensei que você estava
apenas sendo corajoso.
— Não, eu quis dizer isso, mas eu mal podia pular de um noivado para
outro, poderia? Jane nunca teria concordado em nenhum caso. Eu precisava de
tempo. E agora parece que não tenho tempo.
— Jane sabe?
— Melhor que ela nunca saiba. Você não pode se afastar do fato de estar
noivo da irmã dela. Talvez seja melhor você não ver Jane com tanta frequência.
— Isabel é uma pequena senhora egoísta. Ela só está fazendo isso porque
não quer ir para a Escócia com os pais. Ela não tem amor por mim, apenas o que
posso lhe dar, ela foi tão boa que disse isso.
— De modo nenhum.
— Estou feliz que você veio Jane — disse ela. — Meus sapatos novos
estão apertando como o diabo.
— Sim. Eles ficam bem quando estou andando de carruagem, mas não
quando estou andando.
— Em Broadacres.
— Sem a mamãe?
— Com isso, suponho que você quer dizer que o noivado está novamente
em pé.
***
Eles mal haviam entrado na casa quando Sir Edward correu na direção
deles.
— Há pessoas que vêm visitar a casa esta tarde e sua mãe se recusa a
encontrá-las. Você terá que substituí-la. — Ele se virou para a filha mais nova.
— Isabel vá e fique em companhia de sua mãe. Ela está em seu quarto. Sophie
está lá fora andando.
— Então devo trocar de roupa e pedir a Bessie que arrume meu cabelo. A
Witherington House é tão empoeirada que é impossível não sujar a roupa. Serei
o mais rápido que puder.
***
Meia hora depois, ela voltou à sala de estar, vendo-a com os olhos de um
estranho e percebendo que não daria uma boa impressão. Os móveis eram
pobres e havia manchas escuras no papel de parede onde sua mãe tinha
retirado às pinturas. Papai dissera que não podia leva-los, mas ela não os tinha
colocado de volta. Eles estavam no chão, encostados na parede. As prateleiras
do armário onde outrora havia uma exibição de figuras de porcelana estavam
vazias e pareciam abandonadas. E as flores no vaso da lareira estavam caídas.
Ela pegou e colocou do lado de fora da janela no terraço, assim quando eles
ouviram a batida da porta da frente.
O resto da casa, além do quarto de sua senhoria, foi visto com a mesma
reação e o casal partiu, deixando bem claro que não estariam comprando.
***
***
— Vá e diga ao seu senhor que Lorde Bolsover que está aqui para ver a
propriedade.
— Espero que alguém tenha ido buscá-lo. Ele pode estar na propriedade
em algum lugar. Você vai entrar na sala de espera para esperar por ele?
— Não? O fato de Greystone Manor estar à venda? Isso foi uma coisa
secreta a se fazer.
— O que você esperava que meu pai fizesse? Ele tem dívidas a pagar,
como você bem sabe.
— Duvido que a venda as cubra. Quanto ele está pedindo? Dez mil, eu
acredito. Preço está supervalorizado em pelo menos três mil.
Ele sorriu.
— O que você quer? — Ele demandou. — Por que você está aqui? Minha
esposa está doente e sua presença a perturbará. Por favor, saia.
— Por quê? Por que você está fazendo isso conosco? Não fizemos nada
para prejudicá-lo.
— Ah, mas aí você está errado. — Ele sorriu de repente, um sorriso que
enviou um calafrio nas veias de Jane. — Preciso de uma casa e acho que a
Greystone Manor me servirá muito bem, mas preciso olhar em volta para ver se
ela cobre as oito mil libras devidas a mim.
— Eu estava certo — disse ele, rindo de seu tom agudo. — Você é a única
da família com fogo. Eu gosto disso.
— Gostaria de saber por que você está tão decidido a nos arruinar.
— Em breve, se tudo correr bem, vou lhe contar. Agora gostaria de falar
com Sir Edward novamente.
— Você quer dizer que ele nem vai nos dar tempo para vender? — Sua
mãe perguntou.
— Tenho certeza de que não fará diferença para Mark — disse Jane.
— Seu pai vai pensar em uma solução — disse sua senhoria, com uma fé
simples em seu marido, que Jane achou mal fundada. — Ele não vai nos ver ser
despejados.
— Sir Edward disse para se juntar a eles — disse ela. — Eles estão na sala
de livros.
Jane relutantemente foi. Sir Edward estava sentado em sua mesa, com
papéis que pareciam muito com ações espalhadas na frente dele. Lorde
Bolsover estava parado na janela, de costas para o quarto. Ele se virou quando
Jane entrou.
Perplexa, ela puxou a mão da dele e não disse nada. As palavras de seu
pai haviam consumido seu cérebro e só podiam ter um significado. Ela esperou.
— Colin Bolsover Paget era tão tolo a ponto de se apaixonar pela filha de
uma Roundhead17. Os Pagets eram monarquistas até o âmago. Eles se
recusaram a permitir que Colin se casasse com sua Gabrielle, mas ele os
desafiou e mudou de lado. Ele se viu opondo-se aos primos de Paget e Bolsover
na batalha. Gabrielle tentou ficar entre eles e, consequentemente, perdeu a vida.
Colin sobreviveu à batalha, mas ele foi excluído de sua família e seus sogros
Roundhead o culparam pela morte da filha e tornaram sua vida uma miséria,
ele acabou com ela. Os Roundheads reivindicaram a casa de Paget.
— Greystone Manor.
— Não há razão para que você deva. Não é algo de que os Cavenhursts
possam se orgulhar, não é? Os Pagets que restavam esperavam que suas
propriedades lhes fossem devolvidas com a restauração da monarquia, mas não
foi assim. Colin Paget não foi o único a mudar de lado.
— E você acha que esse conto de Banbury18 vai me fazer olhar mais
favoravelmente em você?
Ela não entendia por que ela deveria ser cortês com ele, mas por seu
amor ao pai ela não disse nada, permitindo-lhe continuar.
— Não.
— Não? Seu pai não pediu para você pensar sobre isso com cuidado?
Certamente você pode ver as vantagens para todos? Terei um lar e uma esposa
encantadora, a quem tratarei com cortesia e respeito, minha mãe ficará
satisfeita, seus pais terão um pouco de dinheiro para viver suas vidas com um
conforto modesto, seu irmão pode voltar ao seio de a família dele e você, minha
querida, poderá continuar seu trabalho para os órfãos. Eu posso até ajudá-la
com isso.
Ela não respondeu. Tudo o que ele disse estava cravando um prego em
seu coração e quase o impedindo. A ideia toda era repugnante para ela e o pior
Ela se levantou e correu para fora da sala, determinada a que ele não
visse suas lágrimas. Ela parou no corredor. Em qualquer outra circunstância, ela
teria buscado conforto e consolo do pai e da mãe, mas não podia fazer isso,
desta vez eles eram a fonte de sua angústia. Não havia ninguém a quem
recorrer, nem mesmo Mark, que sem dúvida tentaria confortá-la, mas ele estava
noivo de sua irmã e ela jurou não o chamar mais do que poderia ajudar pelo
bem de Isabel.
Ela saiu correndo pela porta da frente e contornou a lateral da casa sem
nenhum destino em mente. Como ela acabou nos estábulos, ela não sabia, mas
se viu soluçando no pescoço de Bonny. Ele estava quente e nunca a
decepcionara, nunca a exigira; seus olhos brilhantes pareciam dizer que ele
entendia. Ainda chorando, ela encontrou arreios e sela e os colocou sobre ele,
mesmo que ele fosse um pônei raso e não acostumado a uma sela. Ela usou uma
velha ferramenta de ordenha para montar e galopou para fora do quintal,
ignorando o grito de Daniel.
Ela não sabia para onde estava indo. Não se importava. Ela nem
percebeu outros veículos na estrada, nem que uma carruagem teve que puxar
para o lado para permitir que ela passasse. Ela galopou, passou pela Fox e
Hounds, atravessou a encruzilhada, ignorando a curva para Witherington e
estava nos portões de Broadacres e subindo a estrada antes que de repente
recuperasse a razão. Ela não deveria estar aqui!
— Sim, claro que sim. E lady Cavenhurst também. — Ela se virou para
um lacaio para lhe dar instruções. Depois, para Mark: — Se ela estava andando,
por que ela está vestida assim?
— Não sei, mamãe, mas algo terrível deve ter acontecido na mansão.
Talvez ela estivesse nos pedindo ajuda.
— Grace nos dirá quando chegar. Leve-a para o quarto azul. Vou mandar
Janet até você. Janet era sua antiga enfermeira, que já tinha passado da idade da
aposentadoria, mas não tinha mais para onde ir e continuou a morar em
Broadacres, fazendo-se útil de muitas maneiras, principalmente quando alguém
da casa estava doente.
Ele tinha sido um tolo, deixando a convenção ditar o que ele fazia. Por
que ele não tinha visto o valor de Jane antes de pedir a Isabel? Por que ele
aceitou a ideia de todos, de que ela era a simples Jane e não deveria ser
considerada? Ela estava longe de ser simples, ela era linda. Ela tinha uma
profundidade de beleza que Isabel nunca teria, vinha de dentro dela e brilhava
em tudo que ela fazia. “Jane não conta.” As palavras queimaram em seu
cérebro. Ela contava para ele, mais do que qualquer outra coisa, mais do que a
vida, mais do que riquezas, certamente mais do que a opinião do haut monde. O
problema era que a própria Jane nunca o aceitaria, mesmo que ele a
convencesse a admitir que ela também o amava. Ela nunca trairia sua irmã,
assim como Drew nunca o trairia. Onde estava Drew?
— Ela acordou?
— Não.
***
— Onde estou?
— Eu sei. Eu não acho que foi isso. Você não teria saído de casa com
tanta pressa sem mudar a roupa apenas para me dizer isso.
— Eu fiz isso?
— Sim.
— Uma semana.
— Uma semana!
Ele sorriu.
— Eu, minha mãe, Janet e sua própria mãe quando ela veio. Ela estava
angustiada como todos nós, mas o Dr. Trench disse que esperava que você se
recuperasse totalmente, a tempo.
— Mais segura?
— Lorde Bolsover não pode tocá-la enquanto estiver aqui, pode? — Foi
dito com um sorriso.
— Você sabe?
— Sua mãe nos contou. A ideia toda é absurda. — Ele havia encontrado
referências em sua própria biblioteca à Guerra Civil e ao segundo Barão Paget
que morava em Greystone Manor. Ele havia sido um monarquista leal em uma
área de East Anglia que ficava amplamente do lado do Parlamento. Quando os
realistas finalmente foram derrotados, ele perdeu sua mansão em Cavenhurst.
Uma segunda busca nos registros da igreja havia revelado a história do suicida
e a mãe de Colin Paget era uma Bolsover, uma família sediada em
Northampton Shire. Isso pode explicar a determinação de Bolsover em
recuperar a mansão, mas não o motivo que ele havia oferecido a Jane. Não era
amor, ele tinha certeza disso.
— Dever! Por que você sempre deve ser a filha obediente? — Ele disse
quase com raiva. — Por que você não consegue pensar no que quer às vezes?
Ela suspirou.
— E quanto a mim?
Ela tinha que ser forte e resoluta, porque seria muito fácil deitar-se nos
travesseiros e fingir que estava enferma, deixando Mark sentar-se ao lado dela e
segurar sua mão quando ele não deveria estar fazendo nada disso, e esperando
que Lorde Bolsover desistisse e fosse embora. Era uma esperança perdida, e
insistir na bondade e preocupação de Mark por ela só a fez querer chorar.
— Muito bem. — Ele colocou as costas da mão que estava segurando nos
lábios e saiu da sala.
***
— Certamente não? Ela ainda não está forte o suficiente e Grace pediu
que você a mantivesse aqui, de qualquer forma, para ganhar um pouco de
tempo.
— Eu sei. Tentei lhe dizer isso, mas ela não quis ouvir.
— Você não pôde Mark. No momento em que seu pobre e querido pai
faleceu e você entrou em sua herança, já era tarde demais.
Ele sabia que ela estava certa, não apenas sobre o dinheiro, mas sobre o
confronto com Bolsover. O que ele achou tão difícil de entender era porque um
homem como Hector Bolsover, que desfrutava da vida da capital e passava a
maior parte do tempo em mesas de cartas, gostaria de vir morar em um local
rural como Hadlea. Não fazia sentido.
— Você vai ficar com Jane? Vou até Greystone para dizer que Jane
recuperou a consciência. Vou trazer sua senhoria de volta comigo. Sem dúvida,
ela vai querer ver a filha.
***
— Isso é um grande alívio para todos nós. Em breve ela voltará ao seu
antigo estado de espírito?
— Ouvi dizer que ela deverá se casar com o cavalheiro do Fox e Hounds.
As pessoas da vila estão muito empolgadas com isso. Dizem que Srta.
Cavenhurst merece sua felicidade.
— Sim, eu ouvi.
— Claro. Não devo detê-lo. — Ele deu um passo atrás. — Por favor, diga
à senhorita Cavenhurst que estou pensando nela e desejo-lhe tudo de bom.
Diga a ela que recrutei alguns voluntários para ajudar a limpar a Witherington
House quando ela estiver pronta.
Então foi isso que sua mãe quis dizer sobre rumores, pensou Mark,
enquanto continuava seu caminho. Mesmo que não tivessem sido perpetrados
por Bolsover, o que parecia provável, ele certamente não os negou. Havia um
escândalo todo-poderoso que estava prestes a acontecer e ele não sabia como
evitá-lo.
***
— Por mais que eu a queira em casa, ela não deve fazer isso — disse sua
senhoria. — Lorde Bolsover vem todos os dias e está tão determinado como
sempre. Ele praticamente a acusou de fingir estar doente para atrasar a
conversa com ele. Eu tive que pedir ao Dr. Trench para confirmar que ela estava
— Então Jane deve ficar onde está. Gostaria de voltar comigo e conversar
com ela?
— Sim, por favor. Vou colocar meu chapéu. — Ela saiu da sala e ele
vagou, esperando por ela. Até agora, ele não havia percebido como tudo estava
gasto, especialmente com as fotos abaixadas e as prateleiras vazias.
— Ah, é você, Mark. — Ele se virou para encarar Isabel. — Pensei ter
ouvido um visitante chegar. — Como está Jane?
— Ela acordou há cerca de uma hora. Ela está muito fraca, mas por outro
lado não está pior.
— Eu estou tão feliz. É terrível aqui sem ela, todo mundo andando com
rostos de sexta-feira. Ficarei feliz quando ela voltar para casa.
— Isabel, você certamente não condenaria sua irmã a se casar com aquele
homem terrível?
— Ele não é tão terrível, não quando você o conhece melhor, ele pode ser
muito charmoso e é a nossa única esperança. Ela tem sorte de encontrar um
marido na idade dela e ele é muito rico.
Ele ficou tão irritado que ficou sem palavras, mas felizmente Lady
Cavenhurst voltou, usando seu chapéu e luvas, e ele a acompanhou até a
charrete.
É verdade que ele a abraçara antes, uma vez na vila verde quando Drew
estava com ele. “Se eu não o conhecesse melhor, pensaria que você gosta demais da sua
futura cunhada”, o seu amigo tinha dito, o que era perspicaz de sua parte,
considerando que ele próprio não havia percebido isso naquele momento.
Então, quando ela torceu o tornozelo na escada quebrada e, depois, quando
caiu do cavalo no caminho dele, ela sempre estava completamente vestida.
Mesmo quando ela estava tão doente e ele a observava hora após hora, ela
estava bem coberta, Janet cuidara disso.
Ele a virou nos braços e inclinou o queixo para que ele pudesse olhar em
seu rosto.
Era para ser apenas um beijo gentil, um beijo afeiçoado para que ela
soubesse que ele estava do seu lado, para tentar transmitir que ele não sabia o
quê, mas isso se aprofundou em algo muito mais e ela ficou deitada nos braços
dele e deixou acontecer. Não houve grito de protesto quando seus lábios
encontraram os dela, não o afastando com fúria indignada. Ela se derreteu nele
e ele sabia, ele sabia então, que nunca poderia se casar com mais ninguém, não
importa o quê.
— Nem eu.
— Eu te amo.
— Não pode ser — disse ela, quando uma lágrima escorreu por sua
bochecha. Dizendo a ela que, quando já era tarde demais, era o maior tormento
de todos.
— Bem então?
— Quaisquer que sejam meus sentimentos, ainda não podem ser — ela
murmurou. — Há Isabel e... e Lorde Bolsover. — Ela estremeceu.
— Mark, você está brincando, você deve estar. Pense no escândalo, pense
em sua mãe, seus amigos e os moradores, que olham para você e respeitam
você. Você perderia isso? E tem Isabel. Você partiria o coração dela?
Ele ficou tentado a dizer 'Maldita Isabel', mas se absteve. Em vez disso,
ele disse: — Eu não acho que isso iria quebrar seu coração, Jane. Ela terminou o
noivado uma vez, talvez o faça novamente.
— Mark, não me sinto forte o suficiente para discutir com você, por
favor, não diga mais nada. O que aconteceu aqui esta tarde é o nosso segredo,
para nunca ser divulgado a uma alma, embora eu sempre o lembre e pense nele
nos próximos anos, como uma época em que soube que já fui amada. — Ela
tentou sorrir.
Foi tudo demais. Ele fugiu da sala antes que ela pudesse ver suas
lágrimas masculinas.
***
Jane sabia que tinha feito à coisa certa, mas, oh, quão difícil tinha sido
mandá-lo embora. Ele deve ter percebido a correção também, porque ele não a
visitava mais todas as manhãs como vinha fazendo, aparecendo por alguns
minutos para ver como ela estava e perguntando se precisava de alguma coisa.
Ela sentiu falta do seu sorriso alegre e do sentimento que ele lhe dava e de que
ela era importante. Bem, ela teria que viver sem isso. Sua cabeça doía e ela se
sentia fraca como uma gatinha recém-nascida, mas, a menos que quisesse
passar o resto da vida na cama, teria que fazer algo a respeito. Estava na hora
de fazer uma jogada.
— Ele está assumindo que você vai e o papai também. Você não pode
recusá-lo, Jane, você realmente não pode. Tudo depende disso. Ele até
prometeu pagar pelo meu café da manhã do casamento e podemos convidar
quantos quisermos.
— Quanto tempo leva para fazer algo assim? Ouvi papai dizer à mamãe
que ele havia retido alguns documentos sobre direitos de propriedade e sem os
quais seu senhorio não podia prosseguir. Mas ele os chamará, sem dúvida, por
isso está apenas adiando o inevitável.
Jane havia decidido voltar para casa no dia seguinte e estava preparada
para caminhar, mas Mark não quis saber disso e insistiu em levá-la em sua
charrete. Foi a primeira vez que eles ficaram sozinhos juntos desde o dia em
que ele a pegou do chão e a beijou. Ela ficou sentada em silêncio ao lado dele,
observando as mãos capazes nas rédeas e ocasionalmente olhando para ele, mas
ele manteve o olhar firme na parte de trás do cavalo. Em vez de descer a rua
principal quando chegou à encruzilhada, ele seguiu para a estrada de
Witherington.
— Por que você está indo por esse caminho? — Ela perguntou,
quebrando o longo silêncio.
— Oh.
— Sim.
— Poderoso o suficiente.
— Não vamos falar dele. Agora, o quê você vê? Ele havia entrado nos
portões da Witherington House, que haviam sido substituídos nas dobradiças e
estava aberto para revelar um caminho limpo de ervas daninhas. A própria casa
havia sido despojada de seus festões de hera.
— Você conseguiu?
— Eu não fiz nada, exceto apontar o que precisava ser feito. Foi o povo
de Hadlea. Eles amam e respeitam você, Jane, e quando ouviram do Reitor o
que você queria fazer com o local, todos os homens saudáveis e algumas
mulheres e crianças se apresentaram e passaram o tempo livre aqui.
Simplesmente comprei a tinta, o vidro e as ferramentas.
— Eles disseram que não queriam pagamento, mas eu insisti em lhes dar
alguma coisa. — Ele dirigiu pela lateral da casa e parou no quintal onde a Sra.
Godfrey estava alimentando galinhas. Estas também eram novas. — Eu pensei
que a casa deveria ser o mais autossuficiente possível — disse ele, pulando e
ajudando Jane a descer. — Bom dia, Sra. Godfrey. Onde está Silas?
— Sim, obrigada. Foi inteiramente minha culpa. Estou muito bem agora.
— Oh, Mark, pensar que tudo isso foi feito enquanto eu estava ociosa em
Broadacres.
Ela ficou tentada a dizer que ele era mais que um amigo, mas decidiu
que seria imprudente. Ela foi de sala em sala, todos os lugares estavam iguais.
— Lady Wyndham é muito gentil, mas ela ainda está de luto, Mark.
— Ela diz que vai esperar até os seis meses terminarem, mas tem certeza
de que é isso que meu pai gostaria. Ele era todo a favor da sua ideia, como você
sabe. Enquanto isso podemos continuar com a feira.
Eles estavam passando pelo local onde fizeram o piquenique e ele parou,
exatamente como antes.
Ele a ajudou a sair e eles entraram no campo, onde uma trilha percorria o
perímetro. Havia trigo crescendo nele, quase maduro o suficiente para colher,
mas até Jane, que não era agricultora, podia ver que não seria abundante e
provavelmente não seria bom o suficiente para fazer pão. Mas não era o estado
da colheita que a ocupava agora, mas o fato de que Mark segurava sua mão e a
puxava para seus braços.
— Sim, devo. — Ele se inclinou para beijá-la. Ele beijou seus lábios, suas
pálpebras, seu pescoço, a cintura tão alta no topo de seus seios, espiando por
cima do decote do vestido listrado de algodão que ela usava. Ele enviou uma
onda de sensação através de seu corpo e em sua virilha. Ela se agarrou a ele,
não querendo que ele parasse. Foi ele quem se afastou, respirando
pesadamente.
— Sinto muito, Jane, meu amor, meu querido amor, não tenho facilitado
para você, não é?
— Não, você não tem, mas não se desculpe, a menos que se arrependa.
— Não Mark. Não mais. Leve-me para casa antes que ambos façamos
algo de que lamentemos.
***
Todos ficaram satisfeitos por tê-la em casa, contando o quão bem ela
parecia.
— Agora você não deve sair correndo como tem feito — disse a mãe,
sentada ao lado de Jane em sua cama, enquanto Bessie desempacotava os
poucos pertences que haviam sido levados para Broadacres. — É por isso que
você sofre esses acidentes. Tome mais cuidado no futuro.
— Mamãe, não posso ficar ociosa. Me deixa muito tempo para pensar.
— Isabel me disse. Suponho que é demais esperar que ele tenha desistido
e não volte mais.
— Se me restasse opção, eu diria que não, deixe que ele faça o pior, mas
não depende de mim. — Ela colocou a mão no braço de Jane. — Seu pai não vê
outra saída para nossa situação. E há Isabel e Sophie a considerar. Sophie nunca
encontrará um marido adequado se formos pobres. E tem Teddy. Quero ele em
casa, Jane, quero meu filho em casa.
— Ótimo.
— Sim, todo mundo está falando sobre isso. É bom que Lorde Bolsover
tenha dito que você pode continuar Jane.
Ainda havia muito a ser feito. Nos dias seguintes, ela formou um comitê
na aldeia para organizar a feira e escreveu mais cartas pedindo prêmios e
doações e examinou dezenas de catálogos, procurando móveis úteis para seus
órfãos. O Sr. Halliday Junior escreveu para ela, perguntando quando ela
pretendia admitir seus primeiros órfãos. Sua resposta foi que ela conhecia um
irmão e uma irmã em Hadlea, cujo pai havia se perdido na guerra e cuja mãe
achava difícil ter que ir trabalhar e cuidar dos filhos. Havia outros na
vizinhança que ela abordaria. Eles seriam os primeiros a receber a oferta da
casa. Quanto ao resto, ela simplesmente visitaria cidades próximas e manteria
os olhos e os ouvidos abertos.
Seus dias estavam cheios e por um tempo ela conseguiu deixar de lado a
perspectiva de se casar com lorde Bolsover, mas era diferente à noite. Cansada
de suas atividades diurnas, nunca estava cansada o suficiente para dormir
profundamente.
Ela não via Mark há algum tempo. Ela não tinha ideia se ele havia se
resignado a se casar com Isabel, mas supôs que sim. A própria Isabel falava
sobre isso o tempo todo: seu vestido, seu enxoval, o que havia sido pedido para
o café da manhã do casamento, como ela reorganizaria Broadacres assim que
Lady Wyndham se mudasse para a casa do Dote. Era como se ela não ousasse
parar de falar.
— Issie, você tem certeza de que quer se casar com Mark? — Jane
perguntou um dia quando estavam sozinhos na sala da manhã. — Não faz
muito tempo, você declarou que não podia suportar a perspectiva. Você disse
que não o amava.
— Eu não vou.
***
Mas Mark não estava em Londres para vender seus grãos, mas para
tentar encontrar uma saída para seu dilema mais premente. Sua primeira
ligação foi com Cecil Halliday, que estava trabalhando em um processo judicial
envolvendo o roubo de um xale de seda, mas deixou para cumprimentar Mark.
— Hoje não estava à tua espera, meu senhor — disse ele apertando as
mãos. — Não há nada errado em Broadacres, eu espero.
— Meu pai está lidando com isso, meu senhor. Eu sei pouco disso.
— Meu senhor, meu filho diz que você está interessado em Greystone
Manor. Você está pensando em comprá-lo?
— Não, Sr. Halliday, eu não estou. Preciso descobrir tudo o que puder
sobre lorde Bolsover. Você tem certeza de que as reivindicações dele são justas e
honestas?
O velho sorriu.
— Não, eu esperava que você tivesse. Você sabia que ele intimidou Sir
Edward a permitir que ele propusesse à senhorita Cavenhurst, ou seja, a
senhorita Jane Cavenhurst, quero dizer, e seu senhorio pretende levar ela e a
mansão em vez da dívida?
— Acho que Sir Edward acredita que Bolsover tem seu apoio. E Jane,
Miss Cavenhurst, está convencida de que não tem escolha a não ser concordar.
— Bom Deus!
— Só que ele é um jogador e joga muito, mas se ele escolhe viver dessa
maneira, é assunto dele.
— Então você deve fazer isso no seu tempo livre — disse o pai. — Não
duvido que tenhamos problemas para convencer Sir Edward a acertar sua
conta. Não estou inclinado há gastar mais tempo em seu nome.
Mark voltou à South Audley Street para passar uma noite em casa. Ele
poderia ter ido ao seu clube, mas não tinha vontade de ser sociável. Ele estava
pensando demais. Se ele pudesse encontrar algo para desacreditar Bolsover, ele
poderia salvar Jane de ser forçada a se casar com ele. Agradaria a Jane e a seus
pais, mas não era suficiente. Não o libertaria de seu noivado com Isabel. Isso era
algo completamente diferente.
***
— Ele foi multado por covardia após a Batalha de Ciudad Rodrigo. Ele
não tem o direito de se chamar capitão. — Ele fez uma pausa. — Você vai me
dizer do que se trata?
Mark teve que ficar satisfeito com isso e eles passaram para outros
tópicos, o que o desviou por um tempo, mas a realidade era que ele havia feito
muito pouco progresso. Tanto por sua promessa a Jane que ele encontraria uma
solução.
***
No dia, Jane foi acordada cedo por Bessie abrindo as cortinas. A luz do
sol entrou no quarto. Ela se levantou e foi até a janela. O céu estava azul, não
tinha uma nuvem para ser vista.
— Eu? Ah, não, Mark, eu não vou fazer um discurso — protestou ela,
tentando em vão desviar os olhos da visão do peito nu sob o pescoço aberto da
camisa.
Ela seguiu em frente, checando isso, checando aquilo, falando com todo
mundo, seu espírito subindo um pouco enquanto ela passava. Se nada mais
estava certo em sua vida, esse projeto estava. A Sra. Caulder chegou e sentou-se
na entrada do campo, um pote para o dinheiro em uma mesa à sua frente.
— Henry estará aqui a tempo de fazer as orações — disse ela a Jane, que
estava ficando ansiosa caso ninguém chegasse.
***
Um por um, eles chegaram, pagaram seis centavos e andaram para ver o
que havia em oferta. Não foram apenas os moradores de Hadlea e
Witherington, mas pessoas de outros lugares que chegaram em uma variedade
de carruagens. Jane não tinha pensado no que fazer com todos os veículos, mas
Mark, como sempre, foi em seu socorro sugerindo que se alinhassem ao lado da
estrada em Broadacres e que seus meninos do estábulo cuidariam dos cavalos,
por uma pequena taxa a ser adicionada aos fundos.
Enquanto ele se foi, seu pai, mãe e irmãs chegaram. Apesar da terrível
nuvem que pairava sobre eles, eles estavam determinados a dar uma boa cara
por causa de Jane e as mulheres estavam elegantemente vestidas e carregando
guarda-sóis, pois o sol estava quente.
— Ele foi buscar sua mãe — disse Jane, desejando que Sophie não tivesse
falado sobre lorde Bolsover e esperando que ele não decidisse patrocinar a feira.
— Ele voltará em breve.
Ela deixou sua família para garantir que tudo estivesse pronto no estrado
para sua senhoria. O Reitor estava lá, sentado em uma das cadeiras fornecidas.
— Vamos nos sair bem disso, Jane — disse ele. — A Sra. Caulder já
arrecadou três libras no portão, embora eu tema que alguns garotos tenham
conseguido se espremer pela cerca sem pagar.
A charrete de Mark chegou e ele ajudou sua mãe a descer e depois subir
para o estrado, onde ela ficou, completamente de preto, olhando dela para a
multidão colorida, real, mas não distante. Mark ajudou-a a sentar-se e depois
deu um passo à frente, acenando para um garoto ao lado da plataforma que
segurava um sino de bronze junto ao badalo. O garoto começou a tocar,
observando com alegria quando as pessoas pararam o que estavam fazendo e se
viraram para ele.
Ela ficou surpresa e queria afundar no chão, mas ele estava estendendo a
mão para ela e as pessoas mais próximas a estavam pedindo. Relutantemente,
ela se aproximou de Mark.
Ela começou instável, mas quando seu fervor pela causa assumiu sua voz
se fortaleceu e ela viu mais de uma lágrima ser enxugada.
Ela não se dignou a responder a isso. Em vez disso, ela disse: — O que
você está fazendo aqui?
— Agora isso deve ser lamentado, mas vamos culpar o seu acidente, não
é? Ainda não é você.
— Agora, minha querida, você sabe que não posso fazer isso. O seu pai
também não gostaria que eu fizesse isto, apesar de ele ter retido um documento
importante. Muito tolo da parte dele. Nada mais fez do que me causar o
inconveniente de voltar para buscá-lo. Meu advogado se recusou a prosseguir
sem ele e eu não confiaria em ninguém além de mim para buscá-lo. O que seu
pai parece não ter considerado é que o atraso de cada dia aumenta o interesse, o
que não é desprezível. Peço que lhe aponte isso quando você lhe disser que
aceitou minha proposta.
— Eu não aceitei.
— Oh, mas você vai, não duvide. Vamos conseguir que o garoto com o
sino dê uma chance e anuncie nosso noivado para toda a multidão? Tenho
certeza de que todos ficarão muito felizes por você.
— Não, por favor não. — Ela odiava implorar, mas podia ver Mark
marchando intencionalmente em direção a eles com uma expressão furiosa no
rosto e ela temia uma briga pública. — É muito cedo. Eu preciso de mais tempo.
Mark estava quase chegando quando a Sra. Caulder veio correndo até
Jane.
— O que aconteceu?
— Vou deixar você resolver o problema, minha querida, mas são apenas
alguma libras. Eu posso compensar isso facilmente para você. — E com isso, ele
se afastou, sorrindo para si mesmo.
— Não, suponho que você esteja certa, mas não tenho ideia de quem foi.
— Sim, mas agora está perdido. Algumas pessoas deram mais de seis
centavos para entrar também. Eles disseram que era por uma causa nobre. Há
quase dez libras no total.
— Quem?
— Nada que ele não tenha dito antes. Eu implorei que ele me desse mais
tempo. Eu disse que daria a resposta dele depois do seu casamento.
Ele riu.
— Nós, Mark?
— Sim nós. Você não acha que eu vou deixar você se casar com aquele
canalha, não é? Eu tentei encontrar algo para desacreditá-lo, mas, embora ele
não seja nada apreciado, ninguém parece saber nada contra ele. Existem
rumores de práticas afiadas, mas nada para substanciar os rumores. Vou
continuar tentando.
— Mark, por favor, não aumente minhas esperanças, para elas serem
frustradas. Acho que não aguentaria. Realmente, você deveria estar
acompanhando Isabel pela feira e comprando suas bugigangas, sem falar
comigo. Eu posso vê-la ali e ela está olhando para nós. Vá até ela, por favor.
***
— Sinto muito, Isabel, mas tive muito a fazer com a organização desse
evento e ver se que tudo estava indo bem e, tive que escoltar minha mãe de
— Se você quiser mudar de ideia sobre isso de novo, por favor, diga.
***
— Sim.
— O que você estava fazendo com isso? — Ele pegou o pote. Estava
pesado com moedas.
— Colocando de volta.
— Oh, senhora, senhora, você não espera que eu acredite nisso, espera?
Devo lhe dizer o que penso? Acho que seu garoto pegou.
— Ele não queria roubar, não senhor. Ele é apenas um garotinho e queria
me ajudar. Eu perdi meu homem para a guerra, sabe, e agora eu perdi meu
trabalho, por conta de ficar em casa para cuidar de Lizzie, que estava doente.
Você não vai entregá-lo, vai?
— Não, acho que não. Temos o dinheiro seguro. Vá para casa e cuide da
sua família.
— Oh, graças a Deus. Eu não queria que o dia fosse marcado por algo tão
desagradável. Quem pegou?
— Sim. Ainda não o mencionei com a senhora Butler, mas farei isso em
breve. Ela pode não querer se separar dele.
— Eu acho que ela pode. Ela acabou de perder o emprego e suas chances
de encontrar outra pessoa enquanto ela tem dois filhos para cuidar são
pequenas.
— Não, acho que não. Vou ver a senhora Butler. Você vai.
Mas ele também não queria se juntar a eles e foi procurar a esposa do
pároco para lhe dar as boas novas e, devolver o pote depois de esvaziar o
conteúdo em uma sacola de lona que Jane havia guardado sob o estrado para
esse fim. Havia dinheiro sendo gasto em todas as bancas e ocorreu-lhe que
***
Mark estava quase em casa quando viu uma figura familiar vindo em sua
direção, uma figura ligeiramente rechonchuda vestida com uma roupa azul de
estilo militar, adornada com tranças prateadas.
— Escócia, onde mais? Fui até sua casa e sua mãe me disse onde
encontrar você.
— Vou voltar para lá assim que colocar isso em um lugar seguro. — Ele
levantou a bolsa. — Venha comigo.
— Obrigado.
— Se você ainda quer que eu seja seu padrinho, sou seu a comandar.
— Sim. Ele estava visitando sua tia-avó. Devo dizer que fiquei surpreso
com isso. Ela nunca se preocupou com ele quando ele era menino e ele não
— Ele sempre jogava suas cartas perto do peito. Você não tem a direção
dele, tem?
— Claro, fique o quanto quiser. Há uma feira no campo de dez acres que
eu tenho ajudado a organizar, e é por isso que estou carregando uma sacola de
trocados. Eu tenho que voltar assim que o colocar no cofre. Haverá uma dança
country esta noite à qual devo participar. Venha se quiser.
Era incrível como ele se sentiu subitamente alegre. Por fim, ele viu uma
saída para seu dilema.
O campo era iluminado por lanternas nos postes para o baile à noite.
Todos se juntaram inclusive as crianças, e isso provou ser o mais divertido do
dia inteiro, até porque era impossível dançar adequadamente na grama. Jane e
Mark fizeram uma parceria entre os dois, o que significava ocasionalmente dar
as mãos à vista de todos. Ela tinha plena consciência de que não devia de forma
alguma trair o que sentia por ele, mas o leve aperto que ele dava a seus dedos
toda vez que eles se encontravam e circulavam juntos dizia que ele também
estava ciente disso. Ele parecia extraordinariamente alegre, sorrindo e
brincando com todos. Depois, ela se sentou com os pais, observando-o dançar
com Isabel, enquanto seu amigo, Sr. Smythe, dançava com Sophie.
***
O resultado da feira foi quarenta libras para adicionar aos fundos, o que
era muito mais do que Jane se atreveu a esperar. Ela e Mark passaram a manhã
de domingo em Broadacres, contando os centavos e o ocasional soberano do
ouro.
***
Um deles era português e disse que se chamava Paolo Estaban. Ele disse
a ela que tinha sido criado de um oficial britânico no final da guerra e havia
Todo o projeto mantinha Jane tão ocupada que ela não teve tempo de
pensar no fato de que os seis meses de luto em Broadacres estavam chegando
ao fim, que metade do conteúdo de Greystone Manor estava pronta para a
mudança tão logo quando o casamento terminasse, não apenas o casamento de
Isabel com Mark, mas o seu com Lorde Bolsover. Ela se recusou a fazer
qualquer preparação para isso, rezando como nunca havia rezado antes que
algo acontecesse para impedi-lo.
Mark havia dito que pensaria em algo, mas não havia mencionado
novamente. Depois da feira, ele parecia mais alegre, fazendo piadas com as
crianças e lisonjeando a Sra. Godfrey escandalosamente. Ela não perguntou
como ele estava lidando com Isabel, mas presumiu que tudo estava bem entre
eles. Ela tentou desesperadamente esquecer que ele havia dito que a amava.
Parecia que ele tinha feito isso, pois ele parou de vir para Witherington. Ela
disse a si mesma que era assim que deveria ser; ela não podia continuar
confiando nele para obter ajuda. Ele tinha outros assuntos mais próximos de
***
Ele andava pela casa, vigiado por sua mãe preocupada, cavalgava com
Jonathan, percorrendo quilômetro após quilômetro, esgotando suas montarias
até que, uma manhã bem cedo, eles pararam na beira do pântano. Havia uma
pista de aterragem e uma habitação desnivelada onde o barqueiro morava. Os
prados de ambos estavam secos no verão e eram usados para o gado pastar, que
engordava na grama exuberante. Havia um pequeno aumento no chão à direita,
não realmente grande o suficiente para chamar de colina, e em cima dela uma
velha cabana que tinha sido, muitos anos antes, a habitação de um Finlandês.
Era um lugar que Mark conhecia bem, pois costumava passear por aqui quando
criança, frequentemente na companhia de Teddy e suas duas irmãs mais velhas,
colhendo flores silvestres, procurando sapos e rãs, tendo batalhas imaginárias
nas quais o casebre era um forte. Momentos felizes em que o futuro era
desconhecido.
— Jane?
— Sim, Jane. — Ele passou a informar seu amigo de tudo o que havia
acontecido desde que Jonathan partiu para a Escócia.
— Não eu posso ver que você não pode. Você pode tentar se jogar à
mercê da senhorita Isabel.
— Também pensei nisso, mas não vai dar. Eu seria visto como um
canalha maior do que Bolsover, Isabel poderia processar por quebra de
promessa e nunca ousaria mostrar meu rosto em Hadlea novamente. — Ele não
acrescentou que, o pior de tudo, Jane o odiaria por isso e certamente não
concordaria em se casar com ele. Bolsover venceria. Era uma pílula amarga de
engolir.
***
Harry e Tom haviam desaparecido. Jane não tinha ideia para onde eles
foram. Nem Robert nem Emma podiam lhe contar nada, exceto que eles
estavam sussurrando juntos naquela manhã. Ela vasculhou cada centímetro da
casa antes de sair para procurar nos banheiros e nos estábulos. Certamente eles
não fugiram? Para onde eles iriam? Eles tentariam voltar para Norwich?
Jane mal podia acreditar. Os meninos poderiam ter pegado? Eles sabiam
colocar os arreios em Bonny? Eles poderiam dirigir? A resposta era sim, eles
provavelmente poderiam. Eles odiavam ficar dentro de casa e, desde que
chegaram a Witherington, passavam a maior parte do tempo fora, seguindo
Silas. Eles o teriam observado com o pônei e visto como o velho colocava os
arreios. Ele até os levou em passeios curtos para pegar suprimentos para ela.
— Não sei. Ela não é difícil de conduzir e Bonny é uma coisa velha
plácida. Eu suponho que podiam.
Ela estava quase correndo, tropeçando em sua pressa. O que Mark diria?
O que alguém diria? Ela estava envolvida demais em sua própria miséria para
cuidar adequadamente das crianças, é isso.
— Não sei o que os possuiu para fazer isso — disse ela. — Eles nunca
deram a menor dica de que estavam infelizes.
— Não posso evitar. É tudo culpa minha. Eu deveria ter tomado mais
cuidado com eles. Eu deveria ter contratado o professor de que falamos. Nunca
me perdoarei se algo ruim lhes acontecer. Eles podem ter tombado em uma vala
e estar ali, incapazes de se mover. Eles podem até ter... — Ela não sabia dizer.
— Jane, pare, pare imediatamente. Você não tem culpa e eles têm
quantos anos?
***
— Então é melhor você entrar e nos contar sobre isso — disse Mark,
conduzindo-os pela porta da cozinha.
— Aqui estão eles — Jane disse a Sra. Godfrey e à Sra. Butler, que
estavam sentadas à mesa da cozinha discutindo a situação. — Sãos e salvos.
Tenho certeza de que eles estão com fome e sede, então você pode encontrar
algo para comer e beber e levar para a pequena sala? — A sala, que antes era o
antigo quarto de Sir Jasper, havia sido completamente limpo e agora era uma
sala de estar confortável, que Jane gostava de considerar seu escritório.
***
— O Sr. Estaban está certo, você sabe — disse ele. — Você precisa de um
homem.
— Receio que não seja suficiente. Deve haver alguém aqui o tempo todo.
Sr. Estaban, acredito que você se inscreveu aqui? Você ainda deseja isso?
— Sim.
— Boa ideia. Farei uma oferta a Sir Edward em nome dos curadores. —
Ele voltou-se para Estaban . — Onde você está ficando?
— Pare de tremer, Jane, meu amor, tudo acabou. Eles estão seguros e o
Sr. Estaban será um trunfo, tenho certeza.
— Oh, eu não sei... — Ele não pôde continuar. Ela já estava chateada o
bastante por um dia e ele não conseguiu acrescentar nada. — Você gostaria que
eu te levasse para casa?
Ela suspirou.
***
— Drew?
— Sim. Ele era a favor de sair correndo para Greystone Manor assim que
chegasse, mas eu o convenci de que ele deveria falar com você primeiro. Ainda
bem que eu te vi ou teria ido a Witherington e perdido você.
Ele se sentou e observou a mãe servir uma xicara de chocolate para ele.
Ele a pegou, mas recusou a comida. Ele estava tenso demais para comer. Ele se
virou para Drew.
— Eu recebi.
— E?
— Continue.
— Sim. Ele nasceu quando sua mãe havia perdido toda a esperança de
ter um filho. Seu pai morreu quando ele era menino e ele olhou por sua mãe em
tudo. A palavra dela é lei.
— Continue.
— Ele voltou. Sem dúvida, ele ficou sem anfitriões generosos. Decidi
colocar o temor de Deus nele. Ele sorriu. Ele não é um homem valente, Mark.
— Foi nessa época que ele conheceu Bolsover, que morava em Lisboa.
Eles se uniram para jogar, nem sempre honestamente. Bolsover era casado com
uma garota portuguesa, filha de um conde rico. Ela herdou uma grande fortuna
com a morte de seu pai e ele estava ocupado gastando-a. Quando parecia que as
autoridades os estavam apanhando por suas práticas violentas, ele e Toby
fugiram do país e voltaram para a Inglaterra.
— Estou indo para isso. Você se lembra de que eu disse que estava
comprando um navio? Bem, eu comprei um, um lindo Clipper, muito rápido,
chamado Andorinha, que estava pronto para uma viagem à Índia. Naveguei nele
até Lisboa e encontrei Lady Bolsover. Ele a espancara até ela quase perder sua
vida, e ela fugira para a tia e o tio e, como você pode imaginar, eles querem se
vingar. Eles enviaram o filho, primo de Juanita, para a Inglaterra para localizá-
lo, mas não há notícias dele há algum tempo. Acho que Bolsover soube disso e
queria um lugar para se esconder. As dívidas de Sir Edward e a velha história
de família de Colin Paget lhe deram a ideia.
— E Isabel?
— Eu nunca poderia ter feito isso, mesmo que Jane concordasse o que
tenho certeza de que ela não faria.
***
— Você está falando besteira. — Ele estava claramente agitado, mas com
os dois homens em pé sobre ele, um de cada lado da cama, ele não podia se
mover.
— Não.
— Não, claro que não. Você sabe exatamente o que diz. Você a deixou
quase morta e fugiu de volta para este país. Mas você está seguro? Você sabia
que os parentes de sua esposa estão procurando por você? Sim, claro que sim, é
por isso que você está se escondendo aqui. Imagino que eles gostariam de saber
onde você está. Eu não gostaria de estar no seu lugar se eles o encontrarem.
Mark riu.
— Eu sou a justiça.
— Se eu não fizer?
— Você é muito indulgente, meu amigo, mas como estou ansioso para
seguir meu caminho, vamos dar a ele a mesma chance que damos à raposa.
Corra ou sofra as consequências.
— Ele deve saber onde está Bolsover ou por que ele estaria aqui?
A porta foi aberta por Sophie, que gritou ao ver Drew e correu de volta
para a sala de estar.
— Papai, mamãe, Issie. Lorde Wyndham está aqui e ele tem o senhor
Ashton com ele.
— É realmente você?
Ele sorriu.
— Se não for, não sei quem mais pode ser. — Ele pegou a mão dela e
curvou-se sobre ela. — Como você está coração?
— Mark?
— Jane não está aqui, ela foi para Witherington. Agora ela passa o tempo
todo lá.
Ele gostaria de ter se virado e ido direto para ela, mas a cortesia exigia
que ele falasse primeiro com Sir Edward e Lady Cavenhurst. Ele entrou na sala
e curvou-se para os dois.
— Bom dia, Sir Edward. Minha senhora. Espero que vocês me perdoem
por ter chegado tão cedo, mas tenho boas notícias e não pude esperar para lhe
contar.
—Ele está. Ele está conversando com Isabel. Sem dúvida, eles se juntarão
a nós em breve.
— A primeira coisa que preciso lhe dizer é que você não tem mais nada a
temer de lorde Bolsover. Seu passado covarde foi descoberto e ele foi
desacreditado. Ele não incomodará vocês de novo. Você está sem dívidas e
Greystone está em segurança.
— Através dos bons ofícios do meu amigo, senhor Ashton. É ele que você
tem que agradecer.
— Toda sua — disse ele, rindo, e foi até a carruagem com o coração mais
leve do que estivera há muito tempo.
***
Paolo Estaban estava provando ser ativo. Ele era jovem e forte e se
tornou útil de todas as maneiras. Ele já havia identificado o que precisava ser
feito antes que Jane pudesse perguntar. Prateleiras bambas, janelas trancadas,
legumes para serem trazidos do jardim, Bonny para ser arrumada, tudo tratado
como que por mágica. E o nome Witherington House logo seria pintado na
lateral da charrete. Ele conversara com Jane de sua casa e insinuou que houve
um erro terrível, mas na maioria das vezes mantinha seus pensamentos para si.
— Tenho pai e mãe, duas irmãs e uma prima que moram conosco. Ela é
casada com um inglês.
— Não. Este homem não é um oficial. Ele se diz um cavalheiro, mas ele
não é um cavalheiro. Ele tratou Juanita cruelmente e quando ela o confrontou
sobre suas apostas e suas amantes, ele a espancou tanto que ela quase morreu.
Eu a encontrei e a levei para casa para meus pais. Quando fomos procurar por
ele, descobrimos que ele tinha voltado para a Inglaterra, tendo a sua fortuna
com ele. É de admirar que desejemos vingança?
— Oh, sim, eu sei onde ele está. Não vai demorar muito agora.
— E você acha que eles vão acreditar em mim? Dirão que o homem tem o
direito de espancar a esposa e fugir com o dinheiro e as joias dela. Talvez ele
tenha um acidente. Ou talvez eu o desafie a um duelo.
— Oh, não — ela exclamou. — Duelos são ilegais neste país e você pode
ser morto. Sua vida é valiosa demais para ser jogada fora assim. Conte a Lorde
Wyndham sua história. Tenho certeza de que ele fará justiça.
— Não, senhora, devo fazer o que devo fazer. Agora vou colocar esses
espinhos na fogueira.
Ela olhou para cima e viu a Sra. Butler vindo em sua direção.
Não poderia ser Mark, a Sra. Butler conhecia Mark, nem seu pai, pois ele
não teria retido seu nome. Havia o amigo de Mark, Jonathan Smythe, mas o que
ele iria querer com ela? Aconteceu alguma coisa com Mark? Ela correu para
dentro de casa.
A última pessoa que ela esperava ver era Lorde Bolsover, mas foi quem a
confrontou quando ela foi para o salão.
— Estou muito ocupada — disse ela. — Por favor, indique o seu negócio
e esteja a caminho.
— O problema é — disse ele, sem se mexer para fazer o que ela pediu —,
não acho que lorde Wyndham se case com sua irmã, afinal, o que é uma pena.
Significa que tenho que mudar meus planos.
— Isabel acho que tem outras ideias. Temo que ela esteja prestes a fugir
com o Sr. Ashton.
— Não seja ridículo. Você está bêbado. — Ela estava apavorada, mas
tentando não demonstrar. Se ela gritasse por ajuda, alguém iria ajudá-la? Ela
abriu a boca para gritar, mas ele bateu a mão no rosto dela, empurrando a
cabeça com força contra a parede.
Bolsover a abandonou para lidar com essa nova ameaça. A única arma
que Paolo tinha era o bastão em chamas e ele se deparou com dois adversários.
Ele os segurou, acenando de um para o outro e gritando em português,
cutucando-os. Estavam todos muito perto da carruagem para ela sair. Então o
pano do martelo19 pegou fogo. Em um piscar de olhos, chamas lambiam ao
longo do corpo e pegavam nas cortinas.
19Um pano ornamentado, muitas vezes com franjas, pendia do assento do cocheiro,
especialmente de um cocheiro cerimonial.
Ela tossiu.
— Mark é você?
— Lorde Bolsover?
— E Paolo?
A Sra. Godfrey chegou com uma dose generosa e um chá. Ele gradeceu e
ajudou Jane a beber.
— Foi terrível, Mark. Lorde Bolsover disse que me levaria para conhecer
sua mãe e não teríamos problemas com um casamento na igreja.
— Está tudo acabado, meu amor. Tudo. Ele não pode machucá-la agora.
— Ele tem uma esposa. Paolo me contou sobre o marido inglês de sua
prima, mas eu não sabia que ele estava falando de lorde Bolsover.
Ele riu.
— Não, acho que eles não farão isso. A menos que eu perca o meu
palpite, eles obterão o consentimento total de Sir Edward. — Ele parou para
beijar a ponta do nariz dela. — Estamos livres para casar, Jane, minha querida.
Ou seja, se você me quiser.
***
***
***
— Bem, Jane, meu amor — disse Mark mais tarde naquela noite. —
Tivemos o nosso milagre, não tivemos?
— Ah, mas acho que você pode e vou mostrar como, minha adorável
esposa.
Ela riu um pouco nervosa quando ele a alcançou, mas depois se esqueceu
de estar nervosa quando ele a puxou para ele e começou a beijá-la e acariciá-la
*****