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PARA NÃO ENJOAR NO CARRO

21-06-2007

Neurociência - Suzana Herculano-Houzel

Para não enjoar no carro

Vêm chegando as férias: tempo de descansar da escola e do


trabalho, passear e conhecer novos horizontes, colocar o carro na
estrada e... ficar enjoado, principalmente quando se é criança e
viaja no banco de trás. Para quem enjoa, só a perspectiva
tenebrosa de ficar mareado já corta parte do barato da viagem. O
que fazer para não ficar enjoado?

O primeiro passo é entender o que é o enjôo. A sensação de


estômago embrulhado é literal: a náusea vem da desregulação das
contrações peristálticas ritmadas do estômago. Em geral, ela
começa com alguma toxina que irrita o estômago. No cérebro, o
hipotálamo é avisado do problema digestivo e joga no sangue
grandes quantidades do hormônio vasopressina, que desregula as
contrações estomacais e provoca náusea crescente, sensação que
prenuncia o desfecho do problema quando o conteúdo do estômago
é ejetado. Com o vômito, o hipotálamo pára de liberar vasopressina,
o estômago se regulariza, e a náusea passa.

O problema do enjôo na estrada é que o hipotálamo também pode


ser levado a despejar vasopressina no sangue pelo sistema
vestibular, que monitora o equilíbrio postural, quando o cérebro
perde o controle da situação: as imagens da estrada deslizam sobre
os olhos sem que você mova seu corpo, que sacoleja fazendo com
que o cérebro não consiga antecipar as sensações associadas aos
movimentos nem manter a postura corporal. Esse pesadelo
vestibular faz com que o hipotálamo inunde o sangue com
vasopressina, e o resultado são os protestos vindos do banco de
trás -e às vezes do carona também.

Como evitar o enjôo, então? Vamos a algumas dicas da


neurociência. Não leia no carro, ou seu cérebro tentará em vão
mover os olhos atrás das letras pulando incontrolavelmente. Busque
uma visão ampla da estrada: sente as crianças sobre assentos
especiais no banco de trás para que elas tenham a chance de
antecipar como seu corpo e seus olhos devem chacoalhar com as
curvas, e ensine-as a olhar para longe, o que reduz o deslizamento
das imagens sobre os olhos. Controle a ansiedade do enjôo
respirando lenta e profundamente. Insista em andar de carro, pois é
assim que se aprende a antecipar as alterações sensoriais com as
curvas da estrada. O melhor, no entanto, é assumir o controle do
carro: quem dirige raramente fica enjoado.
E, se nada disso funcionar, o remédio você já conhece: vomitar...

[...] Não leia no carro, ou seu cérebro tentará mover os olhos


atrás das letras pulando
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da
UFRJ e autora de "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent) e de "O Cérebro em Transformação" (ed. Objetiva)

suzanahh@folhasp.com.br

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2106200708.htm

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