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EconomiaPoliticaInternacional
EconomiaPoliticaInternacional
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ECONOMIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
CARLOS PIO
CARLOS P IO
ISBN 85-88270-08-0
CDD-327.11
ibri@unb.br
Site: www.ibri-rbpi.org.br
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RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ECONOMIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
Sumário
Prefácio ........................................................................................ 7
Apresentação ................................................................................ 9
Introdução ................................................................................. 13
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Prefácio
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Eduardo Viola
Professor titular do Departamento de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília
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Apresentação
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Introdução
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Incerteza
A incerteza é uma das principais características do mundo
exterior ao indivíduo. Ninguém sabe, com precisão, como explicar e,
especialmente, antecipar o funcionamento de uma boa quantidade de
processos (sociais, econômicos, políticos, culturais) que envolvem a
interação de mais de um indivíduo. Os indivíduos têm apenas
impressões ou crenças (beliefs) a respeito de como o mundo funciona,
sobretudo porque a forma como ele funciona é determinada pela forma
como se comporta o conjunto dos indivíduos.1
1
Mais adiante, discutiremos o papel das normas sociais, da cultura e das instituições, que
moldam essas impressões.
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Escassez
Rousseau inicia a segunda parte de seu Discurso sobre as origens e os
fundamentos das desigualdades entre os homens com a seguinte afirmação:
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2 Assim, sabemos que se gastarmos R$ 100,00 para adquirir um par de sapatos, não poderemos
utilizar os mesmos R$ 100,00 para comprar as duas camisas que desejamos. (Ou seja, após
gastarmos R$ 100,00 para adquir os sapatos, estaremos R$ 100,00 mais pobres.) O preço
de um par de sapatos pode, pois, ser expresso em termos absolutos e relativos: R$ 100,00 ou
duas camisas.
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Racionalidade individual
A discussão sobre racionalidade individual é muito extensa e
não apresenta um consenso pleno em torno de sua principal questão:
3
No sentido de bens, propriedades e atributos, materiais ou imateriais, que têm valor e
podem ser usados para pagar dívidas.
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Uma amostra é “um conjunto (de indivíduos, eventos históricos, produtos, etc.) cujas
características ou propriedades são estudadas com o objetivo de estendê-las a outro conjunto
do qual é considerado parte”. Para que se possa estudar uma amostra e chegar a conclusões
generalizáveis para a população (o todo) é preciso que a amostra seja representativa dessa
população. Utiliza-se o método de amostragem para evitar os custos (muitas vezes
insuperáveis) nos quais seria necessário incorrer para conhecer todos os indivíduos ou
eventos que compõem uma determinada população. Um viés de amostragem ocorre quando
a amostra estudada é diferente da população, ou seja, quando não é representativa. Por
conta disso, as conclusões que forem tiradas por meio da análise da amostra não servirão
para entender o todo, a população.
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A partir daqui, utilizaremos o termo “instituições” para designar regras e códigos formais,
institucionalizados. Sempre que quisermos nos referir a regras informais usaremos os termos
“normas sociais” e “cultura”, este último de caráter mais geral.
6
Para North, as normas sociais e cultura apresentam essa mesma característica.
7
Neste sentido, é interessante considerar o argumento hobbesiano a respeito do
estabelecimento da ordem civil, ou Estado. Hobbes, filósofo político contratualista do
século XVII, dizia que o estabelecimento do Estado derivava do medo da morte que
caracterizava todo indivíduo na situação pré-estatal o “Estado de Natureza”. Nesta, apesar
de dotado de toda liberdade para escolher suas preferências e as estratégias para realizá-las,
o indivíduo compartilharia com todos os demais o medo de se deparar com alguém mais
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forte que ele. Numa tal situação, ele estaria arriscando suas liberdades e seus direitos
naturais, à medida que não havia como evitar que na ocorrência de um conflito qualquer ele
fosse morto por um outro. Assim, o fim do “Estado de Natureza” se dá, para Hobbes, por
meio da abdicação voluntária de parte fundamental das liberdades individuais em nome do
estabelecimento de uma instituição neutra, o Estado – Leviatã – capaz de inibir a ocorrência
de conflitos entre os cidadãos, de julgar os conflitos que venham a emergir e impor as
sanções que resultem de tal julgamento.
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Empresários aqui entendidos como agentes capazes de mobilizar recursos para realizar
suas preferências.
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No próximo capítulo, dedicado à ação dos grupos, trataremos mais detidamente dessa
questão.
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Este problema será tratado no próximo capítulo.
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De modo geral, os economistas mensuram produtividade em termos de produto por hora
de trabalho. Um aumento da produtividade ocorre sempre que o produto por hora trabalhada
aumenta.
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Na mesma coletânea organizada por Harrison e Huntington é também possível achar
textos semelhantes sobre a cultura africana e asiática assim como sobre os valores culturais
de minorias étnicas presentes nos Estados Unidos, como negros, latinos e asiáticos (Harrison
& Huntington, 2000).
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Riqueza A riqueza mais desejada é a que ainda A riqueza considerada por todos é a
não existe; que está para ser criada, que existe na realidade; é palpável e
como resultado do trabalho e da passível de apropriação pela via da
criatividade de cada um; economia (negócios) ou da política
(favores, rent-seeking);
É vista como necessária para obtenção É condenada como agressão; deve ser
da riqueza e da excelência; benigna não substituída pela solidariedade, pela
apenas na economia, mas em outras lealdade e pela cooperação; a
esferas da vida social (por exemplo: competição entre empresas é
política); substituída pelo corporativismo; a
política se desenvolve em torno de
personalidades, como os caudilhos;
apenas nos esportes é aceita a idéia de
competição;
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Daqui por diante, usaremos apenas a expressão “instituições” para designar também
normas sociais e cultura.
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A ação coletiva é o agregado de ações individuais orientadas para a obtenção de bens públicos.
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Este resultado exemplifica o que foi dito no capítulo 1, quando discutimos o significado do
conceito de racionalidade instrumental.
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custos muito mais elevados do que os demais para que um bem público
seja provido, tendo em vista sua avaliação particular acerca de suas
necessidades ou dos benefícios que poderá obter com a provisão do
bem. Muitos dos grupos grandes que conseguem agir coletivamente
devem sua efetividade à grande disposição de trabalho de uma pequena
parcela de seus membros que podem ser facilmente identificados como
um subgrupo – ao qual se denomina a diretoria, a comissão-executiva,
o comitê de mobilização, a vanguarda ou outro termo que diferencia
seus membros dos demais integrantes do grupo.3 No entanto, é correto
supor que a provisão do bem público se fará num nível aquém
(subótimo) do que seria coletivamente desejado, pois o indivíduo em
questão tem interesse em prover o bem na medida de suas necessidades
e não das necessidades dos demais membros do grupo. Para Olson,
quanto maior o grupo, menores as chances de que exista um indivíduo
disposto a pagar mais para sua provisão. Por isso, é quase impossível
que esse fenômeno ocorra em grupos grandes, por conta da pequena
parcela apropriável por cada um dos membros da coletividade e dos
altos custos de sua provisão.
A segunda e mais importante contribuição de Olson para o
entendimento da ação coletiva em grupos grandes envolve a capacidade
desses grupos – daqueles que são incumbidos de organizar as atividades
em nome de sua direção – para aplicar incentivos seletivos para distorcer
os custos e os benefícios da cooperação que incidem sobre cada
indivíduo. Esses incentivos podem ser negativos ou positivos,
respectivamente, quando implicarem custos ou benefícios adicionais
àqueles presentes na ação coletiva voluntária. É principalmente por
meio da dosagem de incentivos como esses que grandes coletividades
compostas por indivíduos maximizadores conseguem agir em prol dos
interesses compartilhados por seus membros. Mas o que são esses
incentivos e como eles operam?
3
No interior deste subgrupo a força de constrangimentos sociais, como os discutidos no
texto, tende a ser grande, pois os seus membros são facilmente identificáveis (e, por isso,
fortemente cobrados) tanto pelos demais membros do subgrupo como pelos de fora. Não é
à toa que parte da dinâmica desses subgrupos consiste em cada membro assumir o
compromisso de “mobilizar” os demais membros do grupo para a ação coletiva.
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Na verdade Olson fala em market groups e non-market groups e não em grupos políticos
(Olson, 1965, p. 43). Optamos aqui pela segunda expressão, não apenas pela dificuldade de
traduzir a expressão original (grupos não-mercantis, ou grupos não-mercado), mas
especialmente pela natureza (política) do objetivo coletivo que eles perseguem. Essa natureza
política é que determina a lógica inclusiva dos grupos que visam prover bens via interações
não-econômicas – “quanto mais pessoas quiserem fazer parte do grupo, maior o potencial
de sucesso da ação coletiva” – como veremos logo a seguir.
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É fundamental perceber que os trabalhadores também podem ser considerados um grupo
de mercado – cujo bem público deve ser obtido via interações de mercado. Os interesses de
cada trabalhador de uma firma dividem-se entre aqueles que são compartilhados – por
exemplo, desejo por salários mais altos e por melhores condições de trabalho – e aqueles que
são particulares de cada um – como a permanência no emprego num momento de recessão
ou a ascensão profissional. Esses interesses são muitas vezes difíceis de conciliar: o indivíduo
que pretende continuar no emprego precisa pensar duas vezes antes de reivindicar maiores
salários, por exemplo. A fim de avançar seus interesses egoístas, cada membro do grupo
precisa se diferenciar dos demais por meio de estratégias como especialização técnica (que
é sinônimo de maior produtividade e eficiência), manifestação de lealdade em relação aos
superiores e afirmação de compromissos em relação à firma e ao trabalho, as quais se
assemelham à construção de barreiras à entrada (entry barriers) de novos concorrentes pelas
firmas no mercado. Esses interesses particulares tornam cada trabalhador um rival de seus
companheiros de trabalho (como as firmas de um mesmo setor). Os trabalhadores de uma
mesma firma ou setor serão capazes de agir coletivamente em prol de seus interesses como
grupo à medida que conseguirem restringir os comportamentos maximizadores da maior
parte dos indivíduos que o compõem, levando-os à greve, ao piquete ou a quaisquer outras
formas de ação consideradas eficazes para avançar os interesses da coletividade como um
grupo econômico.
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um teto para as taxas de juros, por exemplo – mas, à parte isso, são
indiferentes à estrutura de preços relativos” (Frieden, 1991, p. 21).
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O que é o mercado?
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A discussão sobre as regras democráticas e seu efeito sobre a não-cumulatividade das
desigualdades será feita no capítulo seguinte.
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Incerteza
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Essa idéia será retomada mais à frente, quando discutirmos a teoria marginalista do custo
de produção.
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Kondratief, Keynes e Schumpeter foram alguns dos principais teóricos que buscaram
explicar a ocorrência dos ciclos econômicos.
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Nessas sociedades, existem apenas limites mínimos para proteger as crianças, os velhos e os
adultos mental ou fisicamente incapacitados para o trabalho, tendo em vista suas precárias
condições para fazê-lo. Entre o indivíduo e a ordem econômica existem grupos que servem
para proteger e avançar os interesses compartilhados por seus membros, como a família, a
empresa, as cooperativas, e uma multiplicidade de grupos não-econômicos que provêm ou
ajudam os indivíduos a proverem as condições mínimas para seu sustento – orfanatos, asilos,
igrejas, organizações comunitárias, entidades beneficentes, etc. Os grupos de interesse
formam uma outra categoria à medida que sua ação se faz basicamente por meio da política
e está endereçada ao Estado e não ao mercado. Por conta disso, deixaremos para avaliar seu
papel no próximo capítulo, cujo foco será o Estado e a política.
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De acordo com a definição dos economistas, um ativo é qualquer coisa que tenha valor
monetário.
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7 É fundamental perceber que essa escolha é sempre feita sob condição de incerteza por uma
série de razões. Primeiro, a maior parte dos indivíduos (e mesmo dos países) não tem como
saber com precisão todas as alternativas possíveis de uso para os ativos que possuem.
Segundo, há situações em que, apesar de ter consciência de que possui um ativo que pode
ser usado para satisfazer algumas de suas necessidades e vontades, um indivíduo pode se
considerar incapacitado para utilizá-los da forma mais eficiente por razões de fundo religioso,
ético, moral, entre outras. É o caso dos hindus que, mesmo passando fome, não comem suas
vacas por considerá-las sagradas. Sendo ainda mais radical, é o caso dos pobres que mesmo
diante de restrições muito graves a seu bem-estar, optam pela prostituição como fonte de
renda. Por fim, podemos pensar que muitos indivíduos fazem uso “subótimo” de seu conjunto
de ativos, porque desconhecem seu potencial. Algumas vezes esse potencial pode depender
das instituições que regulam o funcionamento do mercado – por exemplo, a precariedade
dos títulos de propriedade dos terrenos ocupados por favelas restringe a capacidade de seus
proprietários (os favelados) para obter empréstimos bancários por meio da hipoteca de suas
casas, instrumento muito utilizado pelos pequenos empresários em países avançados [cf. de
Soto, 2000]. Outras vezes, a descoberta do potencial econômico de um ativo depende do
progresso da ciência, como foi o caso da descoberta de que o petróleo era uma fonte de
energia e, por conseguinte, de riqueza. De todo modo, essas dificuldades não eliminam o
fato de que os indivíduos procurarão maximizar sua utilidade.
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Para simplificar, podemos assumir, como geralmente fazem os economistas, que todo
indivíduo se comporta na economia para aumentar sua renda. Se o fizermos, chegaremos à
conclusão de que cada um se especializará na produção de bens e/ou serviços que lhe
proporcionem a maior renda, o que dependerá dos ativos (propriedades materiais, habilidades
e capacidades) que possuir, de suas crenças a respeito de como o mundo funciona e das
instituições que regulam a vida social, econômica e política do país em que ele mora.
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Pensemos no caso de uma pessoa muito pobre e sem qualificação alguma. O que ela possui
é essencialmente a sua capacidade de trabalho e de aprendizado. Quando se compara a
qualquer outra pessoa, ela chega à conclusão que não há nenhuma atividade em que se
destaca. Pelo menos uma pessoa é melhor do que ela em todas as atividades que pode
desempenhar. O que deve fazer, matar-se por que não conseguirá sobreviver? Lógico que
não! Ela procurará um emprego que não exija qualificação e será remunerada abaixo de
todas as outras pessoas que desempenham a mesma função e são mais produtivas que ela.
Mas isso é melhor do que morrer de fome. Enquanto trabalha, deve investir parte de seu
tempo e de seus rendimentos (se for capaz de poupar alguma coisa) para adquirir novos
ativos – deve procurar adquirir conhecimento sobre como desempenhar melhor as funções
para as quais foi contratada, participar de cursos e treinamentos que estejam a seu alcance
para aprender novos ofícios, poupar dinheiro para adquirir bens materiais que possam ser
usados no futuro para melhorar sua renda. Em suma, deve se especializar e usar sua renda
para melhorar sua capacidade de oferta de bens e serviços mais valorizados pela sociedade.
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10 Elaborado tendo por base o verbete “Gains from trade” do Collins Dictionary of Economics,
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Tecidos (m) Alimentos (kg) Tecidos (m) Alimentos (kg) Tecidos (m) Alimentos (kg)
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Sistema de preços
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(Caporaso & Levine, 1991, p. 47). Assim, de acordo com essa teoria,
o preço de cada produto seria determinado pelo número (e pelo custo)
dos fatores de produção usados como insumos em sua produção e
precisaria ser compatível com os preços de todas as outras mercadorias
para cuja produção servir como insumo:
A estrutura de produção relaciona, quantitativamente, os
insumos (inputs) ao produto (output). As mercadorias aparecem
como produtos de seus próprios processos de produção e como
insumos no processo produtivo de outras mercadorias. Para que
o sistema se reproduza (isto é, para que ele seja viável economi-
camente), o conjunto de produtos deve ter forma apropriada e
magnitude suficiente para prover os insumos necessários à sua
própria produção.
Quando um produtor individual se especializa na
produção de um único componente do produto social, o valor
de mercado de seu produto (output) determinará a sua habilidade
ou inabilidade para adquirir os insumos necessários, tendo em
vista seus preços de mercado. Se o produto que ele produz serve
de insumo à produção de outros bens, o sistema de interdepen-
dência na produção precisará estabelecer limites aos preços
relativos. Cada preço deve ser consistente em relação a duas
condições: (I) precisa ser adequado para cobrir os custos de
produção; e (II) precisa ser consistente com os preços dos bens
que o empregam como um insumo. ... (O ‘preço de produção’ é
aquele que) permite à mercadoria funcionar tanto como insumo
quanto como produto (output) (Caporaso & Levine, 1991, p. 48).
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Conclusão
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Por conseguinte, quanto mais unidades do produto uma firma produz, menor o custo
médio de produção ou do custo de cada unidade produzida. Isso ocorre porque grande
parte dos custos de produção são fixos – máquinas, equipamentos, aluguel, salário – e não
se alteram substancialmente com o aumento gradativo da escala de produção.
2
Elaborado tendo por base o verbete “Gains from trade” do Collins Dictionary of Economics,
p. 218-220.
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Tabela 4.1. Produção física de tecidos e alimentos por dois países, usando
todos os seus ativos ou fatores de produção, com e sem especialização.
Produção com especialização Custo de oportunidade Produção sem especialização
Tecidos (m) Alimentos (kg) Tecidos (m) Alimentos (kg) Tecidos (m) Alimentos (kg)
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(II) o país “B” lucrará ao vender ao país “A” 1kg de alimentos por um
preço inferior ao de 1m de tecido.
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Krugman (1997b) discute essa mesma questão de um ponto de vista dos países
industrializados e argumenta que é vantajoso para estes países comprarem produtos
manufaturados e semimanufaturados provenientes dos países em desenvolvimento e pobres,
mesmo que isso signifique maior pressão concorrencial sobre os setores econômicos menos
competitivos dos países ricos.
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Fuga de capital
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Depreciação cambial é uma queda no valor da moeda nacional em relação a outras
moedas, sob um regime de câmbio flutuante como o que supunha Hume. O impacto da
depreciação é estimular exportações e inibir importações, promovendo a queda dos déficits
do BdP. Num regime de câmbio fixo ou administrado este mesmo efeito seria obtido se o
governo promovesse uma desvalorização cambial, ou seja, uma redução administrada da
cotação da moeda local em relação às moedas estrangeiras. Na prática, uma desvalorização
tornará necessário gastar uma maior quantidade de moeda local para comprar uma mesma
quantidade de moeda estrangeira.
9
Paul Krugman, um dos maiores especialistas em comércio internacional da atualidade,
propôs, num de seus livros mais recentes, que: “Os últimos quinze anos têm sido os anos
dourados da inovação na economia internacional. Entretanto, tenho de concluir, com certo
desgosto, que esse material inovador não é prioridade para os atuais alunos de graduação.
Na última década do século XX, o essencial para se ensinar aos estudantes ainda são os
insights de Hume e Ricardo. Ou seja, temos que lhes ensinar que os déficits comerciais se
autocorrigem e que os benefícios do comércio não dependem de um país deter uma vantagem
absoluta sobre seus rivais” (Krugman, 1997c, grifo no original).
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O risco cambial
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Quando a percepção de insustentabilidade se transforma numa crença na mudança
iminente do regime, até mesmo os investimentos de curtíssimo prazo são reduzidos, o que
reduz drasticamente a capacidade do governo para obter empréstimos e financiamentos do
exterior ou rolar sua dívida externa. Quanto mais forte essa percepção, maior o “prêmio de
risco” exigido pelos investidores para emprestar dinheiro ao governo.
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1
De acordo com Huntington, um cientista político da Universidade de Harvard, Estados
Unidos, as diferenças entre os Estados que têm e os que não têm capacidade para impor a
ordem pública – isto é, regular efetivamente o conflito político doméstico – são mais
relevantes do que as diferenças na forma como os Estados efetivos regulam tais conflitos, por
exemplo, democrática ou autoritariamente (cf. Huntington, 1968).
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o processo por meio do qual as regras do jogo (da interação social) são
estabelecidas é eminentemente político. Assim, enquanto as regras de
mercado sustentam que o mérito, a criatividade e a sorte devem
determinar os ganhadores e os perdedores no processo de convivência
social, grupos políticos disputarão a preponderância de valores
alternativos, muitos dos quais serão vistos como antieconômicos, em
maior ou menor medida.
Portanto, a política é um mecanismo alternativo ao mercado
para alocação da riqueza, uma vez que por meio dela (e do Estado)
podem ser estabelecidos objetivos ou fins não-econômicos para a
interação social. Estes objetivos políticos – o estabelecimento de cotas
para minorias em universidades ou empresas estatais ou a proteção
social aos mais pobres, aos mais velhos e aos desempregados, por
exemplo – favorecem economicamente determinados indivíduos e
grupos por meio de interações não-econômicas. E esta prerrogativa
institucional do Estado atrai para si a atenção e as ações de praticamente
todos os grupos de interesse existentes na sociedade e mesmo fora dela.
Uma boa parte dos indivíduos e grupos politicamente mobilizados
em qualquer país espera do Estado muito mais do que simplesmente
organizar a atividade econômica dentro das fronteiras nacionais.
Em razão do próprio fato de o Estado monopolizar o uso
legítimo da força num dado território, as sociedades ocidentais passaram
a exigir que o exercício do poder político – as ações do Estado – derivasse
de consultas aos representantes eleitos pela própria população que será
afetada pelas decisões públicas. Dessa maneira, o Estado moderno
gradualmente perdeu suas raízes absolutistas para se tornar mais
representativo da vontade popular. Essa transformação trouxe para os
“decisores” públicos a necessidade de considerar, como obrigações,
tarefas até então concebidas como eminentemente privadas, como é o
caso da provisão de garantias de bem-estar (welfare) para todos os
cidadãos. Essa mudança, e muitas outras, derivaram da natureza
crescentemente representativa do exercício do poder público, que levou
o Estado a assumir como suas duas das mais importantes tarefas até
então estranhas a ele, como a busca do pleno emprego e a promoção
ativa do crescimento econômico no longo prazo.
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Ver Krueger (1990) para uma crítica dos argumentos que partem da premissa de que o
Estado seria o guardião benevolente dos interesses gerais da sociedade.
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seriam não apenas compatíveis entre si, mas também com o objetivo
substantivo do crescimento econômico, baseado na eficiência econômica.
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Para uma discussão mais aprofundada do argumento das vantagens comparativas, vide
capítulo 4.
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É importante salientar que os liberais clássicos viviam num mundo marcado por fortes
restrições à mobilidade dos fatores de produção, tanto o trabalho quanto o capital. Para
eles, era impossível imaginar que inovações tecnológicas pudessem criar instrumentos de
comunicação capazes de “desmaterializar” o dinheiro a fim de transportá-lo mais fácil,
segura e automaticamente entre as fronteiras nacionais. Da mesma maneira, não se poderia
exigir que eles antecipassem todas as dificuldades políticas que haveriam de ser criadas nos
países ricos para inibir o influxo de pessoas (imigrantes) em busca de melhores oportunidades
de emprego e condições de bem-estar, que foi muito facilitado pelas melhorias tecnológicas
que aumentaram o acesso e reduziram os custos dos deslocamentos intercontinentais.
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O papel do Estado
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Não seria difícil elencar aqui algumas atividades que poderiam ser desempenhadas por
essas agências para realizar interesses econômicos particulares, como inibir ou eliminar a
concorrência num dado setor ou ramo de atividade. Não é por outra razão que grupos
criminosos, como a máfia e os chefes do tráfico de drogas, procuram garantias por meio da
“compra” de favores junto a setores da polícia e da Justiça em países como a Rússia, a Itália,
a Ucrânia e mesmo Brasil.
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O mesmo ciclo perverso se faz notar em relação à pesquisa. Tomemos o exemplo da
pesquisa farmacológica. As dotações de recursos humanos e materiais para o desenvolvimento
de drogas destinadas a combater doenças típicas de países ricos, como por exemplo as
doenças cardíacas e o mal de Alzheimer, são muito maiores do que as destinadas à pesquisa
de doenças típicas de países pobres, como a malária. Isso porque as empresas farmacêuticas
definem suas estratégias de investimento com base nos retornos esperados, que são
determinados pelo poder aquisitivo dos consumidores – indivíduos e governos.
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Quando escreveu Sobre o Imperialismo na Índia, Marx afirmou que o “sistema de vila”,
característico do despotismo oriental, vinha sendo dissolvido pela ação das firmas e maquinarias
inglesas e pelo impacto do livre comércio e não pela ação dos coletores de impostos e dos
soldados britânicos.
9
Num texto publicado em 1970, o economista brasileiro Theotônio dos Santos afirmou
que “as relações produzidas no mercado (mundial de commodities, capitais e trabalho) são
desiguais e combinadas, porque o desenvolvimento de algumas partes do sistema ocorre às
custas das demais. As relações comerciais são baseadas no controle monopolístico do mercado,
que promove a transferência dos excedentes gerados nos países dependentes para os países
dominantes; as relações financeiras são, da perspectiva das potências dominantes, baseadas
em empréstimos e na exportação de capital, que lhes permite receber juros e lucros;
aumentando, assim, seus excedentes domésticos e fortalecendo seu controle sobre as
economias de outros países. Para os países dependentes, essas relações representam uma
exportação dos lucros e juros que levam consigo parte do excedente gerado domesticamente
e promove uma perda de controle sobre seus recursos produtivos. (...) O resultado é a
imposição de um limite ao desenvolvimento de seus mercados internos e de suas capacidades
técnicas e culturais, assim como à saúde moral e física de seus povos” (Santos, 1991, p. 145,
tradução minha).
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Nos anos 60, os fluxos de ajuda para a região foram criados e ampliados em razão da
mudança de posição do governo dos Estados Unidos e da conclusão do processo de
reconstrução da Europa, que absorvera todos os recursos do Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Banco Mundial. Além dos recursos do BIRD,
os fluxos de ajuda também foram proporcionados por acordos bilaterais fechados entre os
países latino-americanos e o governo dos Estados Unidos, por meio de sua Agência de
Desenvolvimento Internacional-USAID e pela criação do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), constituído majoritariamente por fundos providos pelo governo
norte-americano. Esta mudança de atitude do governo norte-americano foi especialmente
sentida após a posse do presidente John Kennedy, em 1961, quando foi criada a Aliança para
o Progresso. É interessante notar que os empréstimos multilaterais (BIRD e BID), que eram
vinculados a objetivos específicos, foram direcionados para investimentos compatíveis com
o modelo ISI, ou seja, para projetos que beneficiavam prioritariamente o setor industrial –
energia, transportes e telecomunicações, os quais eram dominados por empresas estatais
(Baer & Hargis, 2000, p. 202).
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É possível argumentar que a contração de empréstimos em moeda estrangeira também
conta como receita. No entanto, como o caso em questão é o pagamento de dívidas, a
contração de novos empréstimos resulta apenas em rolagem e não numa solução definitiva
para o problema.
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setor externo seriam, assim, recorrentes nos países que adotaram tal
modelo de desenvolvimento.
A mobilização de poupança doméstica, para complementar a
poupança externa, se dava por meio de políticas monetária e fiscal
frouxas, que geravam inflação elevada, estrutura de taxação fortemente
regressiva e concentradora de renda. A destinação de valores vultosos
para viabilizar os investimentos industriais – públicos e privados –
limitava a disponibilidade de recursos para aumentar a produtividade
da agricultura (sua industrialização nas bases do que hoje se chama de
agronegócio) e mesmo para garantir os investimentos típicos de Estado
como segurança, justiça, educação e saúde, os quais eram apontados
pelos autores liberais como fundamentais para o funcionamento e o
dinamismo de uma economia de mercado.
Assim, os países que seguiram o modelo de ISI se caracterizaram:
(I) pela existência de um setor industrial complexo, porém pouco
competitivo internacionalmente; (II) pela falta de investimentos na
agricultura, que permaneceu com baixos índices de produtividade; (III)
pela fragilidade fiscal – despesas maiores que receitas, (ocasionando...);
(IV) inflação alta (e...); (V) forte tendência à apreciação cambial;12
(VI) baixa destinação de recursos para a provisão de serviços nos quais
o Estado apresenta evidentes vantagens comparativas (segurança, justiça,
educação e saúde); e (VII) baixo investimento em capital humano,
tendo em vista a prioridade atribuída pelo Estado ao fortalecimento
da indústria intensiva em capital (Cardoso & Helwege, 1992; Fishlow,
1990; Sachs, 2000; Baer & Hargis, 2000; Krueger, 2000).
Além da forte intervenção governamental na economia, a
estratégia de ISI também implicava outras prioridades à política externa
12
Em relação à tendência à apreciação cambial, vale notar que ela foi aceita porque:
primeiro, não causava um sério aumento das importações, que eram inibidas pelo uso de
barreiras administrativas (licenciamento, proibições, restrições ao acesso às reservas cambiais,
etc.); segundo, estimulava investimentos substitutivos de importações, visto que tornava
mais baratas as importações consideradas essenciais (e.g., máquinas e equipamentos); e,
terceiro, era politicamente preferível à desvalorização, que afetaria negativamente os preços
de produtos consumidos pelos setores urbanos, que constituíam a base de sustentação
política dos governos – civis ou militares, de esquerda ou de direita – durante o período em
que vigorou a estratégia de ISI. (Sobre essa equação política, ver Sachs, 2000).
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Por exemplo, 80% do total de IED realizado na Coréia do Sul, no período 1972-76, se
concentrou no setor manufatureiro. Considerando apenas a indústria, 21% do IED foi
aplicado no setor têxtil, que representava 40% das exportações; 15% no setor eletroeletrônico,
que respondia por 12,3% das exportações; e 10% no setor químico, o qual era responsável
por 10% das exportações. O caso de Formosa é um pouco diferente, mas guarda muitas
semelhanças, já que praticamente 80% do IED estava aplicado no setor industrial entre
1976 e 1981. Neste mesmo período, quase 29% do IED estava concentrado no setor “têxtil
e vestuário”, o qual representava 17% das exportações. As exportações das multinacionais
estrangeiras representavam 30% das exportações de têxteis, 78% das exportações de
eletroeletrônicos (setor responsável por 16% do total de exportações), 15% das exportações
de calçados (7% das exportações totais), 14% das exportações de máquinas (9% das
exportações totais) e 10% das exportações de papel e celulose (8% das exportações totais).
(Os dados sobre a distribuição setorial do IED são relativos ao período 1972-76, na Coréia,
e 1976-81, em Formosa; já os dados relativos à participação das exportações das multinacionais
nas exportações do setor se referem ao ano de 1974, Coréia, e 1979, Formosa (Haggard &
Cheng, 1987, tabelas 3-6)
16
Em Formosa, a ajuda norte-americana foi apenas marginalmente suplementada por
investimentos externos diretos, provenientes de chineses exilados no exterior, de japoneses
e de americanos (Haggard & Cheng, 1987, p. 99).
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Na Coréia do Sul, a ajuda externa financiou quase 70% do total de importações no
período 1953-1962 e representou 80% da formação de capital fixo total; 45% de toda a
assistência econômica recebida pela Coréia entre 1946-1976, US$ 5.76 bilhões, foram
concedidas no período de reconstrução pela estratégia de ISI. Algo parecido ocorreu em
Formosa. Os gastos militares norte-americanos constituíram outra importante fonte de
recursos que proporcionou a esses países a reconstrução com base nas importações (Haggard
& Cheng, 1987, p. 87).
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Em circunstâncias muito semelhantes, Brasil e México optaram por aprofundar o modelo
ISI, recorrendo a uma segunda fase de substituição de importações para fomentar o crescimento
econômico, via investimentos na produção de bens de capital e intermediários para consumo
interno. Haggard & Cheng (1987:90) atribuem essa opção à existência, nestes países, de
mercados internos mais amplos que os então existentes nos países do leste da Ásia.
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Bibliografia
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Frieden, Jeffrey, Manuel Pastor Jr. & Michael Tomz (eds.). Modern
Political Economy and Latin America – Theory and Policy. Boulder,
Co., Westview Press, 2000.
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