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Quase tudo que Shakespeare (1564-1616) escreveu merece ser lido. Nenhum
autor traduziu como ele as angústias do homem de qualquer época, confrontado
entre a palavra e a justiça. Das peças mais famosas, Hamlet (1600 ou 1601)
acaba sendo a escolhida por ser a mais filosófica, quase sem ação, sustentada em
monólogos inesquecíveis. Mais enxuta que Rei Lear e mais regular que Macbeth,
contém toda a ambigüidade da própria condição humana. Com provas tão
fracas como o fantasma do pai que lhe aparece, Hamlet parte para se vingar do
tio e, sobretudo, da mãe, contando com a falta de tato de sua amada Ofélia. E,
ao contrário do que ocorre nas peças gregas, não há equilíbrio a restabelecer no
final: apenas a imperfeição de qualquer verdade proferida pelo homem.
A Morte de Ivan Ilitch, de León Tolstói
Nenhum escritor teve tão poucas papas na língua para descrever a pobreza
moral humana do que Jonathan Swift. Ensaísta e panfletário brilhante, ele
publica As Viagens de Gulliver em 1726 com a intenção de "envergonhar o
mundo, mais do que diverti-lo". E, divertindo-o como poucos, ele põe a nu as
pretensões humanas nas viagens de Gulliver a Liliput, Brobdingnag, Laputa e
Glubdubdrib, com seus seres vaidosos, imediatistas, bitolados e falsos,
sintetizados finalmente nos Yahoos, sujos e degredados e estranhamente
semelhantes aos homens. Swift fundou a prosa inglesa moderna e seu livro é a
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demonstração de que o orgulho humano não é tão racional.
A Odisséia, de Homero
Não há que escolher entre A Ilíada e A Odisséia: os dois livros devem ser lidos. O
primeiro é o maior poema sobre uma guerra, ao mesmo tempo épico e
detalhista, um prodígio de fluência narrativa e invenção melódica. A Odisséia é
uma multiplicação ainda maior de histórias dentro da mesma história, a grande
viagem de retorno de Ulisses (Odisseu) para sua terra, interceptada por seres
fascinantes e lugares surpreendentes, que testam a grande virtude do
navegador: sua capacidade de não perder o bom senso no pico das crises, de não
ser sugado pelo abismo dos sentidos e dos desejos. Se houvesse um só livro para
ler, e esse livro fosse A Odisséia, não poderíamos reclamar da literatura.
Ulisses, de James Joyce
James Joyce era um sujeito tão excêntrico, tão excêntrico, que um dia teve uma
idéia tão ambiciosa quanto óbvia: adaptar A Odisséia para nossa pobre vida
cotidiana, sem heroísmos e mitologias, sem destinos grandiosos ou mesmo
qualquer destino. E em 1992 ele publicou Ulisses, um relato que comprime em
24 horas de um perambular por Dublin os dez longos e atribulados anos que o
Ulisses homérico gastou para voltar a Ítaca. Numa linguagem repleta de
inovações, trocadilhos e cortes, perturbadoramente descontínua, entramos na
cabeça de Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly Bloom, três irlandeses
aparentemente comuns. E de repente nos sentimos num mundo tão deslocado
quanto o de Homero, como se o familiar e o estranho fossem um só.
Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Publicado entre 1913 e 1927 em sete volumes, este é o maior romance do século,
tanto no tamanho como na complexidade. Dezenas de personagens se cruzam
em histórias de amor, ciúme e inveja, na França da Belle Époque, e a narrativa
vai passando do detalhe ao painel e do painel ao detalhe sem fazer projeções
definidas, num constante reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente
ajustado. A grandeza do romance de Proust pode ser entendida na seguinte
equação: há centenas de cenas e figuras memoráveis, mas, tal como um poema,
não se pode resumir a história sem prejuízo dela mesma, tal o feitio das frases, a
modulação das vozes, a inteligência do texto. O micro e o macro nunca se
relacionaram assim antes.
As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
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A poesia francesa e mundial, a arte e a própria vida nunca mais foram as
mesmas depois que Charles Baudelaire escreveu As Flores do Mal, em 1857.
Acusada de blasfêmia e obscenidade, a reunião de poemas sobre o tédio e a
hipocrisia da vida humana é menos agressiva do que pode parecer. O segredo de
Baudelaire, que lhe permitiu se apropriar do passado e preparar o futuro da
literatura, foi juntar a eloqüência clássica com as dissonâncias e imprecisões que
seriam marcas da modernidade. Numa mesma estrofe, ele vai do sussurro ao
grito, do doce ao amargo, e cria uma experiência vital. Baudelaire também foi
grande crítico de música e pintura, derrubando o mito de que o crítico é um
criador frustrado.
Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac
Personagens tão reais quanto coisas, suas relações com dinheiro, amor e status,
a busca pela glória, o choque das gerações, a inveja e o ciúme – todos os
sentimentos humanos são recriados por Balzac (1799-1850) neste romance
inesquecível. Respire fundo antes de entrar; é aos poucos que Balzac vai
acumulando cenas e observações que vão ganhando sutileza e profundidade, e a
figura de Lucien de Rubempré, o talento provinciano e romântico que tenta se
afirmar em Paris, ao mesmo tempo nos expõe suas fraquezas e mediocridades e
nos causa empatia irreversível.
O Vermelho e o Negro, de Stendhal
A América tem duas linhagens literárias. Uma era mais relacionada com a
tradição européia, de cunho social, e teve Nathaniel Hawthorne (A Letra
Escarlate) e Henry James ( O Vaso de Ouro). A outra era mais individual,
voltada à relação do homem com a natureza, e teve Herman Melville (Moby
Dick) e Mark Twain (1835-1910). Twain é escolhido pela intensa liberdade de
seu estilo, pleno de humor, lirismo e movimento, e foi em Huckleberry Finn, a
história de dois amigos que viajam pelo Mississípi em fuga das repressões
cotidianas, que ele melhor resumiu essas qualidades.
O Coração das Trevas, de Joseph Conrad
O único livro publicado em vida por Fernando Pessoa (1888-1935), assinado com
seu nome verdadeiro, não com algum de suas dezenas de heterônimos. Todos os
"Pessoas" são interessantes, até mesmo o ultra-romântico Alberto Caeiro. Mas
Mensagem é um livro fabuloso para quem escrevia no idioma de Camões, repleto de
imagens, sons e conceitos criativos. A narrativa das expedições marítimas da Era de
Ouro portuguesa é revertida num fatalismo que pode ser resumido nos versos: "O
mar com fim será grego ou romano / O mar sem fim é português." O maior poeta
moderno da língua.
Poesia Completa de John Keats
Keats (1795-1821) fez alguns dos versos mais memoráveis da língua inglesa. Há uma
boa versão para português feita por Péricles Eugênio da Silva Ramos, mas a grande
vantagem é que a edição é bilíngüe e pode, portanto, ajudá-lo a ler no original. Só
assim se ouve o que Keats dizia ser sua "música da consciência". Ao contrário de
outros românticos do idioma, como Coleridge e Wordsworth, Keats não prega o
transporte a uma Xanadu acima da realidade; busca apenas a serenidade possível em
meio às ruínas, os momentos em que a noite pode ser suave e trazer uma brisa de
beleza, sem fazer concessão à ingenuidade.
Poesia Completa de Arthur Rimbaud
Depois dos românticos Keats e Baudelaire, que uniram a forma clássica e a energia
romântica em obras definitivas, a modernidade poética veio da mente de um
adolescente ao mesmo tempo estudioso e rebelde chamado Rimbaud (1854-91).
Rimbaud dizia que sua poesia tinha o efeito de um sopro na brasa da lareira
tradicional, lançando faíscas inesperadas. Essa descontinuidade passou a ser a marca
da arte moderna, em que se rompe com a história linear, o verso redondo e o
contorno definido. O Barco Bêbado é a mais perfeita expressão dessa nova e
imprecisa percepção da realidade.
Poesia Completa de William Butler Yeats
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Desde Keats a poesia de língua inglesa não conhecia tal força de melodias e imagens.
O irlandês W. B. Yeats (1865-1939) abriria uma grande era para a poesia de língua
inglesa – a modernidade de T.S. Eliot, Ezra Pound, Wallace Stevens e W.H. Auden –
com sua dicção rica em andamentos, surpresas e densidades. A "fascinação do que é
difícil" começaria a dominar o alto repertório, e Yeats faria em poemas como A
Segunda Vinda – neste mundo em que "a cerimônia da inocência se afogou" – o mais
marcante testemunho de uma civilização em queda.
Poems, de T. S. Eliot
Mais uma vez, há versões em português, mas se esforce em ler no original. The
Waste Land (1922) – não exatamente "A Terra Devastada", mas "do desperdício" – é
o poema mais representativo da angústia moderna, da percepção de que todo o
progresso material é insuficiente para eliminar o hiato entre um ser humano e outro, a
incomunicabilidade. The Love Song of Alfred Prufrock está longe de ser uma canção
de amor; é mais um lamento por nossa incapacidade de viver sem pensar no que os
outros pensam de nós e por nossa descarga em generalizações pretensiosas.
A Origem das Espécies, de Charles Darwin
Darwin (1809-82) escrevia quase tão bem quanto seu "buldogue", o biólogo Thomas
Huxley, que brigou pelo darwinismo na arena pública européia. Mas Darwin escrevia
bastante bem e, mesmo assim, relutou muito em lançar suas idéias. Em 1859, vendo
que outros como Alfred Wallace o fariam, decidiu publicar A Origem das Espécies.
O mundo não seria mais o mesmo. Mais que a afirmação de que o homem descende
dos primatas, a visão da história biológica como uma superposição de períodos que
produz mutações das quais as espécies se originam, submetidas à seleção natural, foi
o que chocou as convenções.
Darwin e os Grandes Enigmas da Vida, de Stephen Jay Gould
Freud (1856-1939) está um tanto fora de moda, mas suas idéias compõem nossa vida
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cotidiana e seus livros são leitura fundadora. O problema foi ele ter tentado criar uma
ciência baseada em classificações fixas e verificações insuficientes, com todo um
extenso glossário particular. Mas os livros em que realiza um pensamento cultural,
como O Mal-Estar da Civilização, reverteram muitos dos conceitos sobre a natureza
humana, mostrando que os instintos de prazer e agressão estão em constante conflito,
tensionando a psique e induzindo alternativas nas formas de transferência, mania e
doença.
Humano, Demasiado Humano, de Friedrich Nietzsche
A mais famosa história da arte ocidental. Volume enorme, que dá devido peso a
todos os artistas importantes e mistura história, técnica e recepção numa escrita
sensata e objetiva. Atravessar essas imagens pelo texto culto de Janson é ter uma
noção muito clara do que significa civilização, isto é, um processo de aproximação e
adaptação à realidade não só em seus aspectos visíveis, mas também nas entrelinhas.
Dois complementos importantes ao livro são Civilização, de Kenneth Clark, e Arte
Moderna, de Giulio Carlo Argan. Aí fica difícil não respeitar o que mereceu
pertencer à tradição.
Ensaios, de Michel de Montaigne
Voltaire (1694-1778) foi o maior homem do século 18, um homem que lutou pelo
conhecimento e pela justiça com todas as armas ao dispor, em especial a ironia, a
eloqüência e a franqueza. Escreveu peças, poemas, contos como o extraordinário
Cândido, milhares de cartas saborosas, participou da Enciclopédia, abraçou a causa
da tolerância religiosa (enfrentando a Igreja Católica, que chamou de "infame"). Em
seu Dicionário Filosófico criou verbetes mordazes e perspicazes sobre todos os
assuntos pertinentes a qualquer ser humano. Foi mais que um filosófo; foi uma era.
Origens da Segunda Guerra Mundial, de A. J. P. Taylor