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OS 50 LIVROS MAIS LIDOS NO MUNDO...

Colaboração: Carlos Henriques

Crime e Castigo, de Dostoiévski


O romance que marca dez entre dez adolescentes. Publicado em 1866, conta a
história de Raskolnikof, um sujeito atormentado que decide matar uma mulher,
é surpreendido pelo acaso, tem de cometer outro crime e passa a viver torturado
pela culpa. Todos os conflitos do ser humano estão sintetizados nos pensamentos
dessa figura que se espreita sinistramente por São Petersburgo. Qual o limite da
racionalização de um indivíduo? Até onde sua justificativa conceitual pode
permitir um comportamento socialmente condenado? Depois deste livro, você
nunca mais vai ter uma resposta definitiva para essas dúvidas.
Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
O pai de todos os romances. Dom Quixote leu demais as histórias heróicas de
cavaleiros que enfrentavam tudo e todos em nome de uma paixão
transcendental e decide se tornar um deles. Apanha no livro inteiro. Sempre
acompanhado de seu leal e quase sádico Sancho Pança, enfrenta moinhos
imaginários em uma Europa que já não existe. Publicado em duas partes, em
1605 e 1615, o livro estabeleceu um padrão de narrativa distanciada, não raro
irônica, que todos os grandes romances seguiriam depois. Mas, deturpado de
seu sentido original, ainda é visto como uma história de triunfo ou antitriunfo.
Não: é uma conversa que está dentro de cada um de nós.
A Comédia, de Dante Alighieri
Assim como Dom Quixote, trata-se de uma sátira que os resumos convencionais
costumam não acentuar. Mais tarde chamada de A Divina Comédia, o livro
escrito entre 1306 e 1321 por Dante é uma espécie de vingança contra sua
cidade, Florença, cujos habitantes são distribuídos pelo inferno e purgatório;
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apenas alguns merecem o paraíso, especialmente a amada Beatriz e o guia do
narrador, Virgílio, o autor de A Eneida. Normalmente exaltado por seu
imaginário rico em precisão e sentimentos, o longo poema toscano também é
inigualável em sua capacidade de unir o coloquial e o sofisticado, atingindo uma
unidade complexa que raríssimos tradutores captam.
Hamlet, de William Shakespeare

Quase tudo que Shakespeare (1564-1616) escreveu merece ser lido. Nenhum
autor traduziu como ele as angústias do homem de qualquer época, confrontado
entre a palavra e a justiça. Das peças mais famosas, Hamlet (1600 ou 1601)
acaba sendo a escolhida por ser a mais filosófica, quase sem ação, sustentada em
monólogos inesquecíveis. Mais enxuta que Rei Lear e mais regular que Macbeth,
contém toda a ambigüidade da própria condição humana. Com provas tão
fracas como o fantasma do pai que lhe aparece, Hamlet parte para se vingar do
tio e, sobretudo, da mãe, contando com a falta de tato de sua amada Ofélia. E,
ao contrário do que ocorre nas peças gregas, não há equilíbrio a restabelecer no
final: apenas a imperfeição de qualquer verdade proferida pelo homem.
A Morte de Ivan Ilitch, de León Tolstói

Tolstói escreveu Guerra e Paz (1865-69) e Anna Karenina (1875-77), a maior


história de guerra e a maior história de amor que o leitor já conheceu. Mas
entre nesse mundo exclusivíssimo com A Morte de Ivan Ilitch, um personagem
que ninguém construiu igual no mesmo número de páginas. O pensamento de
Tolstói, moralista, grandiloqüente, é de difícil assimilação pelo leitor moderno,
mas a descrição do carreirista sem caráter Pedro Ivanovitch se faz nas dez
páginas iniciais, nas quais nada, nenhum detalhe, é redundante. Em sua sede de
aceitação social, incapaz de ter opinião própria, Ivanovitch leva uma vida
covarde e representa o homem no que tem ao mesmo tempo de mais mesquinho
e presunçoso: a crença de que não vai morrer. Sua vida é a própria morte.
As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift

Nenhum escritor teve tão poucas papas na língua para descrever a pobreza
moral humana do que Jonathan Swift. Ensaísta e panfletário brilhante, ele
publica As Viagens de Gulliver em 1726 com a intenção de "envergonhar o
mundo, mais do que diverti-lo". E, divertindo-o como poucos, ele põe a nu as
pretensões humanas nas viagens de Gulliver a Liliput, Brobdingnag, Laputa e
Glubdubdrib, com seus seres vaidosos, imediatistas, bitolados e falsos,
sintetizados finalmente nos Yahoos, sujos e degredados e estranhamente
semelhantes aos homens. Swift fundou a prosa inglesa moderna e seu livro é a
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demonstração de que o orgulho humano não é tão racional.
A Odisséia, de Homero

Não há que escolher entre A Ilíada e A Odisséia: os dois livros devem ser lidos. O
primeiro é o maior poema sobre uma guerra, ao mesmo tempo épico e
detalhista, um prodígio de fluência narrativa e invenção melódica. A Odisséia é
uma multiplicação ainda maior de histórias dentro da mesma história, a grande
viagem de retorno de Ulisses (Odisseu) para sua terra, interceptada por seres
fascinantes e lugares surpreendentes, que testam a grande virtude do
navegador: sua capacidade de não perder o bom senso no pico das crises, de não
ser sugado pelo abismo dos sentidos e dos desejos. Se houvesse um só livro para
ler, e esse livro fosse A Odisséia, não poderíamos reclamar da literatura.
Ulisses, de James Joyce

James Joyce era um sujeito tão excêntrico, tão excêntrico, que um dia teve uma
idéia tão ambiciosa quanto óbvia: adaptar A Odisséia para nossa pobre vida
cotidiana, sem heroísmos e mitologias, sem destinos grandiosos ou mesmo
qualquer destino. E em 1992 ele publicou Ulisses, um relato que comprime em
24 horas de um perambular por Dublin os dez longos e atribulados anos que o
Ulisses homérico gastou para voltar a Ítaca. Numa linguagem repleta de
inovações, trocadilhos e cortes, perturbadoramente descontínua, entramos na
cabeça de Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly Bloom, três irlandeses
aparentemente comuns. E de repente nos sentimos num mundo tão deslocado
quanto o de Homero, como se o familiar e o estranho fossem um só.
Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust

Publicado entre 1913 e 1927 em sete volumes, este é o maior romance do século,
tanto no tamanho como na complexidade. Dezenas de personagens se cruzam
em histórias de amor, ciúme e inveja, na França da Belle Époque, e a narrativa
vai passando do detalhe ao painel e do painel ao detalhe sem fazer projeções
definidas, num constante reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente
ajustado. A grandeza do romance de Proust pode ser entendida na seguinte
equação: há centenas de cenas e figuras memoráveis, mas, tal como um poema,
não se pode resumir a história sem prejuízo dela mesma, tal o feitio das frases, a
modulação das vozes, a inteligência do texto. O micro e o macro nunca se
relacionaram assim antes.
As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
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A poesia francesa e mundial, a arte e a própria vida nunca mais foram as
mesmas depois que Charles Baudelaire escreveu As Flores do Mal, em 1857.
Acusada de blasfêmia e obscenidade, a reunião de poemas sobre o tédio e a
hipocrisia da vida humana é menos agressiva do que pode parecer. O segredo de
Baudelaire, que lhe permitiu se apropriar do passado e preparar o futuro da
literatura, foi juntar a eloqüência clássica com as dissonâncias e imprecisões que
seriam marcas da modernidade. Numa mesma estrofe, ele vai do sussurro ao
grito, do doce ao amargo, e cria uma experiência vital. Baudelaire também foi
grande crítico de música e pintura, derrubando o mito de que o crítico é um
criador frustrado.
Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac

Personagens tão reais quanto coisas, suas relações com dinheiro, amor e status,
a busca pela glória, o choque das gerações, a inveja e o ciúme – todos os
sentimentos humanos são recriados por Balzac (1799-1850) neste romance
inesquecível. Respire fundo antes de entrar; é aos poucos que Balzac vai
acumulando cenas e observações que vão ganhando sutileza e profundidade, e a
figura de Lucien de Rubempré, o talento provinciano e romântico que tenta se
afirmar em Paris, ao mesmo tempo nos expõe suas fraquezas e mediocridades e
nos causa empatia irreversível.
O Vermelho e o Negro, de Stendhal

Ao lado de Ilusões Perdidas, é o grande romance do século 19. Mas não se


assuste com isso ou com o rótulo de "clássico" e suas mais de 500 páginas. Deixe
o ritmo de Stendhal (1783-1842) conduzi-lo, e a recompensa virá no
conhecimento de Julien Sorel, o pobre ambicioso que quer ascender socialmente
numa Paris em convulsão, mas nunca é inteiramente "aceito" porque, dono de
um objetivo só, não pertence a grupos e desconhece seus códigos. Como em todo
grande romance, não sabemos de que lado ficar.
Madame Bovary, de Gustave Flaubert

Depois de tantos romances sócio-psicológicos majestosos como os de Balzac e


Stendhal, Flaubert (1821-80) veio criar uma nova forma de contar histórias. Em
Madame Bovary ele se ateve ao enredo tradicional, uma historinha de adultério.
Mas colocando a mulher como protagonista e pintando uma galeria de homens
patéticos, cada um a seu estilo, Flaubert reverteu a retórica e forjou um estilo
cuidadosamente despojado, que rejeita o "crescendo" e o detalhismo. Flaubert
revolucionaria a prosa de ficção ao defender que cada história tem seu estilo e a
jamais se repetir de um livro para outro.
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Tom Jones, de Henry Fielding

Depois da sátira moral de Jonathan Swift em Gulliver, o romance inglês nunca


mais seria o mesmo. Agudo e irônico como Swift, Fielding (1707-54) veio lhe
retirar o moralismo e dar um alcance social em Tom Jones, uma trama realista
que envolve pela sensual seqüência de peripécias – amores, duelos, banquetes –
comentadas pelo narrador falível e corajoso. A riqueza de personagens,
especialmente da virtuosa Sofia, o Graal que Tom persegue, é acentuada pelo
encadeamento das ações, em vez de atenuada em estereótipos. Um grande feito
literário.
Nicholas Nickleby, de Charles Dickens

Se Honoré de Balzac é o ápice da criação de personagens na Paris da primeira


metade do século 19, Charles Dickens o é em Londres. Autor de numerosas
histórias que passaram ao imaginário ocidental com uma força única, Dickens
atingiu em Nicholas Nickleby (1839) uma energia que não se repetiria nas obras
mais maduras e controladas, como David Copperfield e Bleak House. Ninguém
capturou o mundo social que envolve as crianças como Dickens, o impacto do
abandono e dos maus-tratos e o sentimento de revolta que esse impacto vai
deixar para sempre.
Emma, de Jane Austen

No romance inglês do século 19 algumas mulheres despontaram com uma


capacidade impressionante de observação sintética: Charlotte Brontë (Jane
Eyre), George Eliot ( Middlemarch) e Jane Austen (1775-1817). Das três, Austen
é aquilo que se acostumou a chamar de mais "feminina": suas mulheres
parecem frágeis ou impotentes em boa parte do tempo, mas nos momentos
cruciais revelam uma força de caráter e expressão que só se adivinhava em
detalhes. Os costumes e suas motivações – sempre em torno de casamentos – são
descritos com uma finura insubstituível.
A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne

O mais heterodoxo dos romances. Sterne abandonou o formato linear – sua


história não tem início, meio e fim claramente discerníveis – e criou um estilo
que, apesar de discursivo e metafísico, é cheio de reticências, travessões e
acidentes gráficos e fez grande sucesso, a tal ponto que influenciou o brasileiro
Machado de Assis. A "forma livre" de Tristram Shandy (1760-67) traduz o
espírito romântico, com seu amor pela decadência, pelo picaresco e pelo
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sentimental, grávido de uma sublimação das imperfeições da razão pela festa
dos sentidos.
As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain

A América tem duas linhagens literárias. Uma era mais relacionada com a
tradição européia, de cunho social, e teve Nathaniel Hawthorne (A Letra
Escarlate) e Henry James ( O Vaso de Ouro). A outra era mais individual,
voltada à relação do homem com a natureza, e teve Herman Melville (Moby
Dick) e Mark Twain (1835-1910). Twain é escolhido pela intensa liberdade de
seu estilo, pleno de humor, lirismo e movimento, e foi em Huckleberry Finn, a
história de dois amigos que viajam pelo Mississípi em fuga das repressões
cotidianas, que ele melhor resumiu essas qualidades.
O Coração das Trevas, de Joseph Conrad

Depois de três séculos mergulhada no romance moral-urbano, a literatura de


língua inglesa recebeu um sopro de renovação com o surgimento de um
marinheiro polonês, Joseph Conrad (1857-1924). Em histórias como Juventude,
Nostromo e Lord Jim ele colocou um vigor narrativo extraordinário. E foi em O
Coração das Trevas que ele provou que esse vigor narrativo poderia estar em
perfeita síntese com uma visão da natureza humana. Em suas histórias os
dramas morais e as forças naturais se combinam e dissociam, num jogo
contínuo de dúvidas e fascínios.
Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe

Depois do grandioso poema vingativo de Dante e da caudalosa prosa irônica de


Cervantes, a literatura européia teria no Fausto de Goethe (1749-1832) a mais
perfeita tradução dos anseios de uma época. Na passagem do mundo
renascimental e barroco para o mundo romântico e profano, ele formularia o
drama europeu entre a grandeza do passado clássico e a necessidade da
construção moderna. Fausto é tentado pela sede do conhecimento total, como
era seu autor, e que a segunda parte do poema seja mais lembrada por sua
variedade infernal do que por sua redenção final é sinal de como Goethe
encarnou a contradição de seu tempo.
Doutor Fausto, de Thomas Mann

Os conflitos que há em Goethe, entre a razão apolínea e os sentimentos


dionisíacos, seriam reformulados por Mann (1875-1955) 150 anos mais tarde.
Mas agora o mundo que era encarnado continha bem menos pretensão
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napoleônica: continha, isso sim, um "heroísmo da fraqueza" que redundaria no
orgulho preconceituoso da Alemanha moderna. Entre tantas obras-primas,
como Morte em Veneza e A Montanha Mágica, foi em Dr. Fausto que Mann mais
marcantemente esmiuçou as relações entre um complexo de inferioridade social
e uma ideologia estética totalitária.
A Gaivota, de Anton Tchecov

Os dramas de Tchecov (1860-1904) tiram sua força de uma curiosa construção


de cenas e diálogos. Às vezes parece que estamos diante de uma vida
convencional, de um personagem convencional que reage a uma situação
convencional, e de repente essa reação vem de um jeito atravessado, um tom
acima ou abaixo, como se sempre fugisse ao ser humano a expressão exata. A
tetralogia A Gaivota, Tio Vânia, As Três Irmãs e O Jardim das Cerejeiras, como
os contos de Tchecov, têm todos essa maneira sutil e oblíqua de mostrar a
insuficiência em que vivemos.
A Metamorfose, de Franz Kafka

Um mundo semelhante ao de Tchecov, mas ainda menos agitado, é o de Franz


Kafka (1883-1924). Novelas como A Metamorfose, Um Artista da Fome, O
Processo e O Castelo, além de contos e cartas, mostram sempre o homem entre a
imobilidade e a injustiça, e essa imobilidade parece estranhamente responsável
por tal injustiça. A Metamorfose é a mais emblemática dessas histórias porque
começa como alegoria – a transformação de Gregor Samsa em inseto – e
termina como um relato da vida de todos nós, incapazes de encontrar sentido na
vida e, no entanto, vivos.
Lolita, de Wladimir Nabokov

No resumo vulgar: a história de um quarentão que se apaixona pateticamente por


uma garota púbere e cai sob seu poder de manipulação que nunca sabemos se
voluntário ou natural. Na leitura direta: um dos mais brilhantes livros modernos,
repleto de mordacidade, lirismo e conhecimento, e uma aventura ao mesmo tempo
lingüística e humana. Aqui já não se trata de identificação com os personagens, mas
de uma análise sensível que desmonta qualquer possibilidade de identificação total,
como a impossibilidade que, embora não o dissuada, existe entre Humbert e Lolita.
Operação Shylock, de Philip Roth

O grande romance do mundo pós-ideologia, ao lado de outra obra-prima de Roth


(1933), O Teatro de Sabbath. Operação Shylock parece um delírio: o autor, Roth,
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encontra um sósia, um "Doppelgänger" (duplo avesso), que usa seu nome para
propagar a idéia de diáspora como a verdadeira vocação judaica. Entre os contornos
políticos, entramos no drama contemporâneo da identidade, que já começa na própria
realidade física, como no livro seguinte Mickey Sabbath vai sentir na ultrapassagem
dos limites mais convencionais. Roth é o grande examinador da atual incerteza da
individualidade.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Brás Cubas (1880-1) não é só o livro de ruptura na carreira de Machado


(1839-1908); é também o livro de ruptura da literatura brasileira. Até hoje sua recusa
dos estereótipos românticos e seu estilo que encontra um terceiro estágio entre a
ordem e a desordem – uma forma de complexidade feita de derivações breves e
cortes irônicos – não tiveram herdeiros na literatura nacional, dividida entre a
vitimização e o escapismo. Em Dom Casmurro e Quincas Borba Machado enxertaria
essa forma de ainda mais sutilezas psicológicas e filosóficas. Mas Brás Cubas, com
seu sonho ocioso de consagração social, está vivíssimo em cada uma de suas páginas
póstumas.
Os Sertões, de Euclides da Cunha

Mistura de ensaio, reportagem e narrativa dramática, Os Sertões mudou a história da


literatura brasileira e a história da visão que o Brasil tem de si mesmo. Militar
positivista, o autor (1866-1909) foi ao "De Profundis" nordestino para entender por
que sua tão idolatrada República se mostrava incapaz de submeter um bando de
fanáticos atrasados. E o que encontrou foi a força moral dos deserdados. O livro é a
denúncia do massacre e da arrogância violenta que vem da ignorância de nossas
elites. Depois disso, o imaginário nacional nunca mais veria paz entre os dois brasis.
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto

Só antes, em Machado, a literatura brasileira veria personagens tão marcantes quanto


os de Lima Barreto (1881-1922). Mulato como Machado, mas suburbano e
menosprezado pela elite, Lima construiu uma literatura cuja intensidade revoltosa
nunca teve igual. Seus personagens não têm a sutileza machadiana, mas seus
contornos sociais são inesquecivelmente marcados porque assim se encontram na
vida real. Policarpo é o militar de pijama que alimenta um ideal de redenção
nacionalista, e é esse combate moral que Lima torna crível e patético ao mesmo
tempo.
Grande Sertão: Veredas, de José Guimarães Rosa

A estranheza deste livro já começa no dois-pontos do título. Rosa (1908-67) está


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apresentando um mundo, um mundo grande e labiríntico, habitado por homens que
nele só enxergam veredas sem destino certo, sem clareiras duradouras. Como uma
tragédia grega, a história conta o amor impossível entre um homem que acredita estar
apaixonado por outro homem e uma mulher que se disfarça de homem para vingar
seu pai. Em nome dos códigos biológico e moral, a realidade do sertão – a guerra
entre os jagunços, a natureza indomável, a cultura fabular e machista – vai ao mesmo
tempo aproximando e afastando o casal, numa travessia sem fim.
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda

Até hoje a generalização mais persuasiva sobre as inclinações históricas do Brasil,


sem as promessas de Gilberto Freyre ou as desculpas de Caio Prado. Sérgio Buarque
(1902-82) mostra um país de tradição ibérica, marcado por relações familiares,
corporativistas e cordiais (isto é, que vêm do coração e não da razão), e cujo
personalismo é incompatível com a modernidade. "A ideologia impessoal do
liberalismo democrático", diz ele, "jamais se naturalizou entre nós." Se há uma
questão sobre o país e sua inserção no mundo ocidental, é essa.
Poesia Completa, de Carlos Drummond de Andrade

A poesia moderna brasileira almejou em especial dois pontos do programa


internacional da arte moderna: o despojamento da linguagem, coloquial,
antiparnasiana, colorida pela mistura de registros; e uma visão crítica do mundo
industrial, dominado por máquinas e preconceitos. Nenhum poeta brasileiro
conseguiu como Drummond (1902-87) expressar esse estado de espírito: seus versos
não têm o menor traço de grandiloqüência e afirmam a voz de um indivíduo que está,
ao mesmo tempo, socialmente preocupado e existencialmente desencantado.
Poesia Completa, de João Cabral de Melo Neto

Na esteira do Modernismo, a poesia brasileira se dividiria entre os partidários da


construção e os da expressão. Foi em João Cabral de Melo Neto (1920-99) que esses
pólos encontraram uma combinação única e riquíssima. Numa linguagem
condensada, econômica, Cabral pinta imagens expressivas, quebrando a fluência dos
versos com rimas toantes, consoantes e conectivos imprevistos, elipses e cortes. São
poemas impecáveis, em volumes como A Educação pela Pedra e Uma Faca só
Lâmina. Como Rosa, Cabral transcende o regionalismo e fala a qualquer indivíduo.
Angústia, de Graciliano Ramos

A discussão sobre qual é o melhor livro de Graciliano (1892-1953) continua aberta.


Vidas Secas é um marco no realismo descritivo, mas não sentimental como o dos
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outros "regionalistas". São Bernardo é o diálogo de Graciliano com Machado de
Assis, o relato de uma relação íntima marcada pelo desencontro. Há os contos, há
Infância, há Memórias do Cárcere. E há, acima de tudo, Angústia , um fluxo da
consciência oprimida pelas limitações não só do exterior (naturais e sociais), mas
também pela própria natureza humana, invejosa, ciumenta, egoísta, incapaz de ver
com olhos livres.
Mensagem, de Fernando Pessoa

O único livro publicado em vida por Fernando Pessoa (1888-1935), assinado com
seu nome verdadeiro, não com algum de suas dezenas de heterônimos. Todos os
"Pessoas" são interessantes, até mesmo o ultra-romântico Alberto Caeiro. Mas
Mensagem é um livro fabuloso para quem escrevia no idioma de Camões, repleto de
imagens, sons e conceitos criativos. A narrativa das expedições marítimas da Era de
Ouro portuguesa é revertida num fatalismo que pode ser resumido nos versos: "O
mar com fim será grego ou romano / O mar sem fim é português." O maior poeta
moderno da língua.
Poesia Completa de John Keats

Keats (1795-1821) fez alguns dos versos mais memoráveis da língua inglesa. Há uma
boa versão para português feita por Péricles Eugênio da Silva Ramos, mas a grande
vantagem é que a edição é bilíngüe e pode, portanto, ajudá-lo a ler no original. Só
assim se ouve o que Keats dizia ser sua "música da consciência". Ao contrário de
outros românticos do idioma, como Coleridge e Wordsworth, Keats não prega o
transporte a uma Xanadu acima da realidade; busca apenas a serenidade possível em
meio às ruínas, os momentos em que a noite pode ser suave e trazer uma brisa de
beleza, sem fazer concessão à ingenuidade.
Poesia Completa de Arthur Rimbaud

Depois dos românticos Keats e Baudelaire, que uniram a forma clássica e a energia
romântica em obras definitivas, a modernidade poética veio da mente de um
adolescente ao mesmo tempo estudioso e rebelde chamado Rimbaud (1854-91).
Rimbaud dizia que sua poesia tinha o efeito de um sopro na brasa da lareira
tradicional, lançando faíscas inesperadas. Essa descontinuidade passou a ser a marca
da arte moderna, em que se rompe com a história linear, o verso redondo e o
contorno definido. O Barco Bêbado é a mais perfeita expressão dessa nova e
imprecisa percepção da realidade.
Poesia Completa de William Butler Yeats
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Desde Keats a poesia de língua inglesa não conhecia tal força de melodias e imagens.
O irlandês W. B. Yeats (1865-1939) abriria uma grande era para a poesia de língua
inglesa – a modernidade de T.S. Eliot, Ezra Pound, Wallace Stevens e W.H. Auden –
com sua dicção rica em andamentos, surpresas e densidades. A "fascinação do que é
difícil" começaria a dominar o alto repertório, e Yeats faria em poemas como A
Segunda Vinda – neste mundo em que "a cerimônia da inocência se afogou" – o mais
marcante testemunho de uma civilização em queda.
Poems, de T. S. Eliot

Mais uma vez, há versões em português, mas se esforce em ler no original. The
Waste Land (1922) – não exatamente "A Terra Devastada", mas "do desperdício" – é
o poema mais representativo da angústia moderna, da percepção de que todo o
progresso material é insuficiente para eliminar o hiato entre um ser humano e outro, a
incomunicabilidade. The Love Song of Alfred Prufrock está longe de ser uma canção
de amor; é mais um lamento por nossa incapacidade de viver sem pensar no que os
outros pensam de nós e por nossa descarga em generalizações pretensiosas.
A Origem das Espécies, de Charles Darwin

Darwin (1809-82) escrevia quase tão bem quanto seu "buldogue", o biólogo Thomas
Huxley, que brigou pelo darwinismo na arena pública européia. Mas Darwin escrevia
bastante bem e, mesmo assim, relutou muito em lançar suas idéias. Em 1859, vendo
que outros como Alfred Wallace o fariam, decidiu publicar A Origem das Espécies.
O mundo não seria mais o mesmo. Mais que a afirmação de que o homem descende
dos primatas, a visão da história biológica como uma superposição de períodos que
produz mutações das quais as espécies se originam, submetidas à seleção natural, foi
o que chocou as convenções.
Darwin e os Grandes Enigmas da Vida, de Stephen Jay Gould

A melhor introdução possível ao mundo darwinista, assim como sua melhor


adaptação ao conhecimento moderno. Gould é um dos maiores biólogos vivos,
responsável pela teoria do "equilíbrio pontuado", que vê a Evolução como um
processo em mosaico, com saltos, e não um desenvolvimento linear e gradual. Gould
é leitura fundamental também porque demonstra que a noção de que o homem está
no topo da escada evolutiva, com superioridade "moral" sobre os outros animais, não
é uma crença darwinista, mas pretensão antropocêntrica.
O Mal-Estar da Civilização, de Sigmund Freud

Freud (1856-1939) está um tanto fora de moda, mas suas idéias compõem nossa vida
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cotidiana e seus livros são leitura fundadora. O problema foi ele ter tentado criar uma
ciência baseada em classificações fixas e verificações insuficientes, com todo um
extenso glossário particular. Mas os livros em que realiza um pensamento cultural,
como O Mal-Estar da Civilização, reverteram muitos dos conceitos sobre a natureza
humana, mostrando que os instintos de prazer e agressão estão em constante conflito,
tensionando a psique e induzindo alternativas nas formas de transferência, mania e
doença.
Humano, Demasiado Humano, de Friedrich Nietzsche

O melhor livro de Nietzsche (1844-1900), o mais equilibrado, antes de o autor


abraçar a cosmogonia oriental e enlouquecer de verdade. Nietzsche formulou uma
das maiores reversões do pensamento ocidental, desprezando a falsa humildade cristã
e pregando uma ética da resistência, que busca assimilar o mal como revigorante. A
arte e o pensamento modernos vêm de Nietzsche, ainda que muitas vezes seu nome
tenha sido usado para doutrinas autoritárias que ele jamais assinaria. Voltando aos
pré-socráticos, Nietzsche chamou a atenção para o divórcio entre conhecer e viver –
uma observação ainda viva.

História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russell

Antes de entrar na leitura de clássicos da filosofia como Platão, Aristóteles,


Agostinho, Pascal, Descartes, Kant ou Hegel, ou de abrir um novo campo magnético
em seu cérebro com a leitura de heterodoxos como Montaigne, Voltaire e Nietzsche,
faça o melhor passeio possível por esta história, ao lado do talvez maior intelectual
do século 20, Bertrand Russell (1872-1970), autor de ensaios importantes sobre
temas como educação e sexo e de livros revolucionários sobre lógica matemática.
Russell expõe com seu estilo claro e charmoso o conjunto das idéias de cada
pensador e depois emite suas opiniões com uma capacidade de argumentação que
marca qualquer leitor. Russell também é autor da explicação mais didática da Teoria
da Relatividade, ABC da Relatividade.
Seis Lições de Física, de Richard Feynman

O melhor livro para descobrir o mundo estranho e maravilhoso da Física Quântica,


da qual Feynman (1918-88) foi um dos maiores formuladores de segunda geração.
Foi ele quem pegou as descobertas de Planck, Bohr, Schrödinger e Paul Dirac e lhes
deu, com seus famosos diagramas, compatibilidade explicativa com os fenômenos do
mundo visível. Feynman também é autor do indispensável (mas um pouco mais
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complexo) QED, uma explicação do comportamento de partículas e antipartículas no
universo subatômico, onde as leis da gravitação não se aplicam.
História da Arte, de H.W. Janson

A mais famosa história da arte ocidental. Volume enorme, que dá devido peso a
todos os artistas importantes e mistura história, técnica e recepção numa escrita
sensata e objetiva. Atravessar essas imagens pelo texto culto de Janson é ter uma
noção muito clara do que significa civilização, isto é, um processo de aproximação e
adaptação à realidade não só em seus aspectos visíveis, mas também nas entrelinhas.
Dois complementos importantes ao livro são Civilização, de Kenneth Clark, e Arte
Moderna, de Giulio Carlo Argan. Aí fica difícil não respeitar o que mereceu
pertencer à tradição.
Ensaios, de Michel de Montaigne

Não só a invenção de um gênero moderno, o ensaio, mas também de uma nova


postura existencial e mental, o ceticismo. Montaigne (1533-92) alegava despretensão
no alinhamento não-sistemático de suas idéias e opiniões a respeito dos mais
diversos assuntos, mas o tom aristocrático, de observador quase impassível, é mais
um tom do que uma realidade. De dentro de seu castelo, no fim do século 16,
Montaigne criticava o teatro do mundo, não deixando escapar nenhum tema sequer –
e isso fez dos Ensaios um livro que nunca terminamos de ler, tal sua variedade e
ousadia.
Dicionário Filosófico, de Voltaire

Voltaire (1694-1778) foi o maior homem do século 18, um homem que lutou pelo
conhecimento e pela justiça com todas as armas ao dispor, em especial a ironia, a
eloqüência e a franqueza. Escreveu peças, poemas, contos como o extraordinário
Cândido, milhares de cartas saborosas, participou da Enciclopédia, abraçou a causa
da tolerância religiosa (enfrentando a Igreja Católica, que chamou de "infame"). Em
seu Dicionário Filosófico criou verbetes mordazes e perspicazes sobre todos os
assuntos pertinentes a qualquer ser humano. Foi mais que um filosófo; foi uma era.
Origens da Segunda Guerra Mundial, de A. J. P. Taylor

Taylor foi um dos maiores historiadores no século e do século. Seu Origens da


Segunda Guerra Mundial não é só uma introdução excelente ao jogo de forças
políticas e econômicas que se seguiu à Primeira Guerra, mas um marco de
interpretação da Segunda Guerra. O conflito deflagrado em 1939 não foi um caos
provocado por uma doutrina totalitária (o nazismo), mas o resultado de um choque
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de nacionalismos cujas tensões jamais foram enfrentadas claramente, na sucessão de
guerras que marcaram a Europa desde o século 19. O mundo de hoje é um produto
disso.
O Livro dos Insultos, de Henry Louis Mencken

Crítico feroz e divertido da hoje hegemônica América, Mencken (1880-1956)


marcou presença tão grande no jornalismo dos anos 20 que se tornou amplamente
lido, inclusive na Europa. Poucos criticaram tão bem o otimismo e o provincianismo
dos EUA do que ele, mas poucos foram tão americanos em seu modo de vida e tão
interessados em seu próprio país. Da linhagem de críticos culturais pretensiosos
como William Hazlitt, Karl Kraus e Bernard Shaw, Mencken escrevia
magistralmente e gerou herdeiros como Edmund Wilson e Robert Hughes, que
transformariam a crítica nos EUA e no mundo.
O Estilo Clássico, de Charles Rosen

Exemplo de maturidade máxima no exercício crítico. Rosen é o maior musicólogo e


crítico de música contemporâneo, além de pianista respeitado. Suas análises mesclam
conhecimento da estrutura e honestidade das impressões, vencendo o conflito da
crítica do século 20 entre a análise mais objetiva e a mais subjetiva, encontrando uma
terceira via e muito bem fundamentada. O Estilo Clássico mais tarde seria
complementado por A Geração Romântica, e os dois volumes contêm todas as
questões que podemos nos fazer sobre a música de Bach, Mozart, Beethoven,
Schubert, Chopin e outros.

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