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Problemas, Doutrina e Método - Pierre George

O presente texto refere-se à primeira parte da obra de Pierre George “A Geografia


Ativa”, que se insere no contexto da transição entre a Geografia Tradicional e a
Geografia Crítica, publicado pela primeira vez em 1965. O autor apresenta-se como um
dos grandes nomes da geografia francesa, e teve um papel fundamental nas
transformações que essa sofreu a partir da segunda metade do século XX, introduzindo
nos debates da geografia francesa os problemas urbanos e as paisagens industriais.

O texto “Problemas, Doutrina e Método” é dividido pelo autor em três intituladas:


Antecedentes, onde o autor faz um breve apanhado da historia da geografia; O objeto e
os métodos da Geografia, onde Pierre George faz uma discussão sobre a definição da
geografia, seu objeto e seus métodos; Competência e responsabilidade na análise e na
síntese.

Na primeira parte do texto, George ao fazer um apanhado sobre a história da geografia


com intuito de melhor compreender a evolução do pensamento geográfico indica que
num primeiro momento a geografia preocupar-se á com a elaboração de mapas e das
descrições de viagens e expedições marítimas sendo amplamente utilizada como
justificativa por missões realizadas, para a tomada de posse do território e como guias
para as viagens ulteriores.

Entretanto essa geografia apresentará duas diferentes orientações de pesquisa que


resultará em embates acirrados sobre a função, o método e a própria identidade da
geografia.

A primeira orientação da pesquisa mencionada por Pierre George centra-se na


apresentação de relações de causalidade com o objetivo de formular leis da geografia,
altamente influenciada pelo pensamento cientifico da época, pautado no método da
física, tendo como objetivo guiar o homem na sua adaptação ao meio e na sua
intervenção sobre o meio. Assim fortemente marcada pelo racionalismo imperante os
caminhos tomado pelos geógrafos adeptos desta orientação resultarão no determinismo
geográfico de um lado e na geografia explicativa de outro, onde o principal ponto de
partida é a análise de elementos históricos para elaborar os princípios da geografia
humana, com a mera função de explicar os fatos e fenômenos sem manifestar-se como
justificativa política, como no caso dos deterministas.

A segunda corrente indicada por George é a corrente utilitária que segundo o autor
procura reunir elementos de conhecimento do mundo para facilitar diferentes operações,
derivando daí as chamadas: geografia econômica, geografia militar e a geopolítica, que
serviram amplamente à expansão européia aplicando-se a geografia colonial.

Assim o autor sustenta a afirmação que desde o inicio da geografia há uma dualidade
entre a geografia científica, produzida com o mero intuito explicativo que se defende do
compromisso utilitário e uma geografia prática posta a serviço da posse do território.

No âmbito desta dualidade o autor indica os debates que surgem relacionados a


necessidade de afirmar a geografia como conhecimento útil e aplicável, os
questionamentos sobre a competência e a responsabilidade do geógrafo e por fim a
função do geógrafo, que para ele deve ser um homem de síntese.

Na segunda parte do texto intitulada “O objeto e os métodos da geografia” o autor


inicialmente elenca alguns pressupostos a respeito da definição de geografia, do seu
objeto e dos seus métodos onde inicia primeiramente afirmando que a geografia é uma
ciência humana, onde afirma que o espaço é objeto da geografia porque ele é o meio de
vida para os homens, mas procura enfatizar que o geógrafo ao estuda o espaço se
diferencia dos cientistas naturais pelo fato de estudar este o conjuntos das relações dos
fenômenos que se dão no espaço e não os fenômenos por eles mesmos, desta maneira o
geógrafo deve analisar os processo para entender as relações que ocorrem no espaço em
função das atividades humanas, desta maneira pelo fato do geógrafo ter que lidar com o
conhecimento das inúmeras ciências interrelacionadas o mesmo, segundo Pierre George
deve ter uma grande capacidade de síntese, que dá a este uma superioridade em relação
aos demais cientistas.

Outro pressuposto indicado por George é que “a geografia é o resultado e um


prolongamento da história”, entendendo que a história das técnicas fornece a chave das
modificações das relações sociais de maneira que acaba caracterizando o geógrafo como
“historiador do atual”, que trabalha com métodos próprios, especialmente no estudo
regional e no uso de cartas que são ao mesmo tempo “instrumento de conhecimento e de
expressão para o geógrafo”.
E finalmente o autor conclui que “o objetivo da aplicação dos métodos geográficos é o
conhecimento de situações”, definidas por ele como: “a soma de dados adquiridos, de
relações organizadas em ordem sucessiva.”, realçando contudo que isso não faz do
espaço um objeto estático, mas dinâmico, pois este espaço apresenta-se relativado ,
que se configura em função das técnicas, das estrutura econômicas e sociais, dos
sistemas de relações, onde o próprio espaço se torna situação.

Entretanto as situações enquanto objeto do trabalho do geógrafo podem ser estudas


desde duas perspectivas: contemplativa ou ativa, onde a concepção contemplativa
baseia-se na análise dos fatores, a partir do métodos comparativo regional com o
objetivo de elabora uma síntese que permita a compreensão racional de uma situação,
que trabalhando com dados invariáveis certificava a vocação científica da geografia.
Pierre George enfatiza que essa perspectiva contemplativa mostrou-se satisfatória para
explicar a relação homem-meio até o momento em que a evolução técnica e os
processos históricos tornaram o espaço mais dinâmico, de maneira que este,
especialmente a partir das mudanças ocorridas na primeira metade do século XX, exige
uma análise ativa.

Esta geografia ativa caracteriza-se especialmente pela consideração da variabilidade dos


dados, resultado das mudanças contínuas e tem como objetivo é em palavras do autor:
“perceber as tendências e as perspectivas de evolução a curto prazo, medir em
intensidade e em projeção espaciais relações entre as tendências de desenvolvimento e
seus antagonistas, definir e avaliar a eficácia dos freios e obstáculos.”p.26 cujo
resultado é a geografia sintética ativa, para o autor a única geografia.

Em sua terceira parte: Competência Responsabilidade na Análise e na Síntese, o autor


enumera aqueles elementos fundamentais para definir a prática do geógrafo a partir da
perspectiva de uma geografia ativa.

O primeiro ponto que Pierre George indica como elementar para a prática do geógrafo é
o fato do geógrafo ter que se isentar do trabalho com as disciplinas de análise, já que a
síntese é atividade do geógrafo que deve ser capaz de revelar uma concepção global,
sintética dos problemas e, portanto aqueles que caminham para uma grande
especialização perdem sua identidade de geógrafo, passando por uma mutação
profissional.
Os demais elementos indicados pelo autor pretendendo definir as competências do
geógrafo ativo demarcam as preocupações inerentes ao mundo a partir da segunda
metade do século XX, onde o geógrafo tem como papel principal no trabalho de
planejamento do espaço urbano, buscando em conjunto com a economia as demais
ciências sociais elaborar o diagnóstico sobre as grandes questões que se imprimem na
dinâmica do espaço geográfico.

E finaliza indicando a função do ensino e da pesquisa geográfica demarcando uma


nítida separação entre o conhecimento voltado para a pesquisa cientifica e o trabalho
técnico e aquele que deve ser obtido para transmissão através do ensino. De maneira
que a forma como esse conhecimento é transmitido na esfera do ensino acaba
contribuindo para que se tenha a impressão de que os conhecimentos geográficos não
são aplicáveis na prática, denunciando a tensão existente no interior da geografia .

Assim vemos nesta primeira parte da obra de Pierre George marcas profundas que o
caracterizam em um processo de transição entre a dita Geografia Tradicional e a
Geografia Crítica, pois se verifica o objetivo declarado de romper com a Geografia
Tradicional mas ao mesmo tempo nota-se ainda a presença de elementos desta como a
tradição francesa do estudo regional, de maneira que ao definir a geografia como ciência
de síntese aponta que a síntese da geografia é o método regional.

Em seu esforço por definir o trabalho especifico do geógrafo indica várias vezes a sua
função de ser homem de síntese, onde este cuida do todo e os outros cuidam das partes,
provocando uma cisão entre síntese e análise, onde o todo está na soma das partes,
contribuindo para uma visão fragmentada da geografia, desdobrando-se na estrutura N-
H-E (natureza – homem – economia).

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