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Pode-se então afirmar que há uma relação dialética entre sistema de objetos e
sistema de ações, por isso que é uma relação indissociável, deste modo, as ações podem
mudar os objetos, seja no aspecto da forma ou da função, bem como os objetos
modificam, ou alteraram o sentido da ação (não que vá mudar o propósito).
Um exemplo dessa relação é o campo, de maneira geral, para alguns tem uma
forma julgada como atrasada, sem rodovias asfaltadas de acesso, um espaço meramente
de produção agrícola, por exemplo, mas uma ação direcionada a esse espaço faz com
que sua função se altere, não só mais é considerada a produção agrícola, novas ações
tornam-na um espaço de veraneio, de turistificação, de um novo modo de viver
diferente das populações tradicionais como demonstra Locatel (2013) e essa ação traz
inevitavelmente a mudanças nos objetos que já estavam presente e a constituição de
novos, pois as ações os exigem.
O espaço geográfico como conjuntos de sistemas de objetos indissociáveis de
conjuntos de sistemas de ações, contém dois elementos com estofo epistemológico: a
técnica e a norma. É possível, a partir deste dois conceitos estabelecer práticas
metodológicas para uma melhor análise do espaço, bem como balizar os recortes
teóricos para uma proposta de análise (SANTOS, 2009 [1996]; ANTAS JR, 2003).
Segundo Santos (2009 [1996]), os objetos são artificiais ou humanizados, são
constituídos pela técnica ou apropriados por ela. A norma também está nos objetos
técnicos. As ações são inequivocamente humanas, supõe a existência de um ou mais
agentes imbuídos de finalidade. As ações só se realizam por meio da técnica e da
norma, sobretudo atualmente, quando as “ações se tornaram sobremaneira complexas e
estão divididas em uma grande quantidade de etapas realizadas por objetos técnicos
e definidas igualmente por um detalhado ordenamento de normas” (ANTAS JR.
2003, p. 80)
Milton Santos chama atenção para a compreensão que não se pode falar em uma
técnica isolada e que funcione isoladamente, pois a noção de sistemas é inseparável da
ideia de técnica. Assim quando se refere que a vida da técnica é sistêmica e a sua
evolução também, Santos (2009 [1996], p.176) afirma que os “conjuntos técnicos
aparecem em um dado momento, mantêm-se como hegemônicos durante um certo
período, constituindo a base material da vida da sociedade, até que outro sistema técnico
tome o lugar”.
O momento de mudanças no território pode ser interpretado com a noção de
evento, que possibilita o entendimento espaço-temporal, que para Santos (2009, p. 95) é
“o resultado de um feixe de vetores, conduzidos por um processo, levando uma nova
função ao meio preexistente. Mas o evento só é identificável quando ele é percebido,
isto é, quando se perfaz e se completa”. Desta forma os acontecimentos que de fato se
materializaram que modificam o espaço, pode-se considerar como um evento. E quando
trata-se de trabalho de campo, essa conceito torna-se importante, uma vez que imputa
no pesquisador a necessidade do conhecimento histórico dos processos que ocorreram
no lugar de estudo como já demonstra Alentejano; Rocha Leão (2006)
Os eventos podem também ocorrer dentro de um mesmo período técnico,
proporcionando mudanças no território, sem de fato alterar a técnica predominante, um
exemplo pode-se citar a mudança na lei nº 12.651/ 2012, o Código Florestal Brasileiro,
através de uma norma proporciona uma séries de mudanças espaciais, mas o sistema
técnico predominante não é tão alterado.
Assim falar de evento na geografia, perfaz em período de mudanças no
território, essas mudanças estão estritamente ligadas à técnica e as normas. Quando
falamos de técnica não estamos restringindo a técnica – máquina, ou algo materializado
(sólido), mas no entendimento de Ellul (1968, p. 2):
a técnica assume hoje em dia a totalidade das atividades do homem, e
não apenas sua atividade produtora. De outro ponto de vista, porém, a
máquina continua a ser extremamente sintomática, porque fornece o
tipo ideal da aplicação técnica.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
ELLUL, Jacques. A técnica e o desafio do século. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4.ed. São Paulo:
Edusp, 2009 [1996], 384p.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: Da crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. São Paulo: EDUSP, 2008 [1978].