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O Rio de Janeiro Através dos Jornais
João Marcos Weguelin
Fontes digitais: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
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AS MANCHETES
Viva a Pátria Livre!
Viva o Ministério 10 de Março!
Viva o Gloriosa Dia 13 de Maio!
Viva o Povo Brasileiro!
Viva! (O Carbonário)
A Liberdade dos Escravos É Hoje Lei do País (O Carbonário)
Brasil Livre
Treze de Maio
Extinção dos Escravos (Gazeta de Notícias)
As Festas da Igualdade (Cidade do Rio)
A Gazeta da Tarde
Ao Povo Brasileiro
Pela Liberdade dos Escravos
Lei 3353 de 13 de Maio de 1888 - (Gazeta da Tarde)
A Festa Da Liberdade ( Gazeta da Tarde )
O Diário de Notícias Significa Todo O Seu Júbilo Pela Nova
Era da Vida E Da Nacionalidade Ontem Iniciada (Diário de
Notícias)
Ave, Libertas! (O Paiz)
2) Atentado Contra D. Pedro II
(1889)
"Representava-se ontem no Sant'Anna a "Escola dos
Maridos", tradução de Arthur Azevedo, e nos intervalos
apresentava-se ao público a prodigiosa violinista Giulietta
Dionesi. S.M. o Imperador, que desejava conhecer a tradução,
tanto que supondo-o impressa mandara procurá-la pelas
livrarias, aproveitou o ensejo de ir ao teatro.
O Sant'Anna achava-se repleto: platéia e camarotes ocupados
por pessoas da melhor sociedade; as galerias cheias da gente
que de ordinário a freqüenta. No camarote imperial achavam-
se, além de SS. MM. o Imperador e a Imperatriz, SS. AA. a
Sra. Princesa Imperial e o Sr. D. Pedro Augusto e camaristas
de semana. O espetáculo correu na melhor ordem. A atitude
do povo era de todo o ponto pacífica e cortês. Nem se quer se
poderia suspeitar que houvesse ali o elemento de desordem
que mais tarde se revelou.
Terminado o espetáculo, o povo que enchia o teatro procurou
as saídas. A família imperial dirigiu-se para a porta, indo na
frente a Sra. Princesa Imperial, seguida de Sua Magestade o
Imperador, que dava o braço a Sua Magestade a Imperatriz e
do Sr. Príncipe D. Pedro.
O povo encostado para os lados, abria caminho a SS. MM.,
em silêncio. Ao chegarem ao vestíbulo do teatro, de um
pequeno grupo de pessoas de baixa classe partiu um grito
estentórico: "Viva o partido republicano". O Imperador parou
imediatamente. Começou então uma confusão extraordinária.
Grande número de pessoas prorompeu em vivas ao
Imperador, acercando-se dele. As senhoras, tomadas de
pânico, precitavam-se para o interior do teatro, de onde
refluiam, empurradas pela onda dos que saiam. O tumulto
generalizara-se: tanto na rua do Espírito Santo, como no largo
do Rocio, nas circanias do teatro, vivas desencontrados se
ouviram. Finalmente, pôde S.M. tomar o carro, seguindo
acompanhado do piquete, que o guardava de espadas
desembainhadas.
Ao passar, porém, pela frente da Maison Moderne, foram
disparados três tiros de revólver na direção do carro que o
conduzia. Asseguram-nos que um desses tiros quase alcançou
o Sr. D. Pedro Augusto.
Felizmente S.M. o Imperador passou incólume. O sentimento
da mais profunda indignação pintou-se em todos os
semblantes dos que foram testemunhas desse baixo atentado.
(...)"
Novidades, 16 de julho de 1889
AS MANCHETES
Atentado Contra o Imperador
Tiros de Revólver
Prisão do Criminoso (Novidades)
Lamentável (Diário do Commércio)
3) Proclamação da República
(1889)
"A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o Brasil entra em
nova fase, pois pode-se considerar finda a Monarquia,
passando a regime francamente democrático com todas as
consequências da Liberdade.
Foi o exército quem operou esta magna transformação; assim
como a de 7 de abril de 31 ele firmou a Monarquia
constitucional acabando com o despotismo do Primeiro
Imperador, hoje proclamou, no meio da maior tranqüilidade e
com solenidade realmente imponente, que queria outra forma
de governo.
Assim desaparece a única Monarquia que existia na América
e, fazendo votos para que o novo regime encaminhe a nossa
pátria a seus grandes destinos, esperamos que os vencedores
saberão legitimar a posse do poder com o selo da moderação,
benignidade e justiça, impedindo qualquer violência contra os
vencidos e mostrando que a força bem se concilia com a
moderação. Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a
Liberdade!"
Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889
ANÚNCIO:
Jardim Zoológico - Prêmios Diários Sobre Animais de 20$ a
40:000$ - Vendas das Entradas na Rua do Ouvidor No 129 e
no Jardim.
O Tempo, 12 de julho de 1892
PROPAGANDA:
"Salve Século XIX Salve Amimatógrafo Lumière - A última
palavra do engenho humano. A mais sublime maravilha de
todos os séculos. Pinturas moverem-se, andarem-se,
trabalharem, ouvirem, chorarem, morrerem, com tanta
perfeição e nitidez, como se Homens, Animais e Coisas
Naturais fossem, é o assombro dos assomros. Salve Lumière!
O Animatógrafo Lumière é invento tão magestoso, soberbo e
imponente, que a própria natureza, que privilegiou o seu
autor, conserva-se estática diante de sua pasmosa
contemplação!
A exibição dos diversos quadros, que serão expostos à
admiração do público, é tãp primoroso e sedutor atrativo, que,
quem por ela é uma vez surpreendido, procura
irresistivelmente emergir sempre o seu espírito observador da
deliciosa admiração desse assombroso espetáculo!
As Exmas. famílias desta capital encontrarão à Rua do
Ouvidor no 141, um salão de espera digno de sua recepção e
iluminado à luz elétrica, das 12 horas às 10 da noite. Ao
Animatógrafo, pois, de Lumière cabem hoje, de todo o mundo
civilizado os aplausos bem merecidos de uma admiração, sem
limites. 141 Rua do Ouvidor."
Folha da Tarde, 9 de agosto de 1897
MANHÃ DE ONTEM:
"Pela Rua Senhor dos Passos, às 7 horas da manhã, subia uma
grande massa de populares, dando morras à vacina
obrigatória. Pelos indivíduos que a compunham foram
atacados alguns bondes da São Cristovão. Ao entrar na Praça
da República foram virados os seguintes bondes: ns. 140, 95,
113, 27, 55, 105, 87, 101, 38, 41, 85, 56, 31, 13, 130, 101 e
129. Em alguns casos os populares atearam fogo. A Jardim
Botânico sofreu também prejuízos. seus carros no Catete e
Larangeiras, foram atacados.
BOMBAS DE DINAMITE:
"Já ontem apareceram as terríveis bombas de dinamite, como
elemento de guerra. A 3a Delegacia foi alvejada por inúmeras
bombas atiradas pelos populares; estes, ao fim de algum
tempo, conseguiram repelir a força de polícia, que foi
substituída por praças do corpo de marinheiros.
"A cada passo, no centro da cidade, erguiam-se barricadas e
trincheiras de onde os populares atacavam as forças militares.
as ruas da Alfândega, General Câmara, Hospício, S.Pedro,
Av. Passos etc. foram ocupadas pelo povo."
"Os alunos da Escola Militar do Brasil, depois de deporem o
general Costallat do comando desse estabelecimento,
elegeram, em substituição, o sr. general Travassos e em saída
saíram em grupos, naturalmente para se reunirem na praia de
Botafogo. Ao seu encontro seguiu do Palácio o 1o de
infantaria do exército, sob o comando do coronel Pedro Paulo
Fonseca Galvão."
Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904
AS MANCHETES:
A Morte De Euclides Da Cunha - Um Doloroso Drama De
Sangue - As Causas E Os Factos - As Declarações Á Policia -
O Transporte Do Corpo -
As Manifestações De Pesar - O Enterro ( O Paiz )
Sensacional Tragedia - O Assassinado Do Dr. Euclides Da
Cunha
( A Imprensa )
O Assassinato Do Dr. Euclides Da Cunha - Os Antecedentes
E O Crime
O Enterro Do Mallogrado Escriptor Efetua-se Hoje, Ás 5
Horas -
As Manifestações De Pesar Da Academia de Lettras ( O
Século )
Uma Perda Nacional - Euclides Da Cunha - Fim Tragico -
Drama Em Familia
( Folha do Dia )
O Assassinato Do Dr. Euclides Da Cunha ( Jornal do
Commercio )
15) Revolta dos Marinheiros
(1910)
"Terminou felizmente com a entrega dos navios ao domínio
do governo a revolta de parte da nossa marinhagem na baía
do Rio de Janeiro. Não obstante a terrível trucidação de
alguns dos nossos oficiais de marinha e outros danos
causados, não há como negar que os pobres marinheiros
desesperaram, por insuportáveis, com os rigorosos castigos
que lhes eram inflingidos a bordo, deprimentes do caráter
humano e atentatórios dos princípios de humanidade,
liberdade e justiça, garantidos pelas nossas leis disciplinares.
São sempre assim os abusos do poder e autoridade, acabam
por desorientar a razão e transformar o homem em fera. Foi-
lhes concedida a anistia pelo Congresso como a condição sine
qua non da rendição. De outra forma não poderiam de fato os
revoltados se entregarem a menos que saíssem de bordo,
presos em flagrante, para as prisões militares. Só anistiados
poderiam os oficiais com eles se entender sem quebra do
respeito à lei. A quantas humilhações mais desta natureza não
nos levará o espírito de indisciplina reinante hoje em todas as
classes?"
O Democrata, 4 de dezembro de 1910
AS MANCHETES:
Dr. F. Pereira Passos - O Grande Remodelador Da Cidade
Morreu, Em Viagem A Bordo Do Araguaia (A Notícia)
Uma Perda Nacional - Dr. Francisco Pereira Passos (Folha do
Dia)
Um Homem - O Dr. Pereira Passos (A Tribuna)
O Remodelador Da Nossa Cidade - O Seu Falecimento (A
República)
19) Edu Chaves: Primeiro Vôo
sem Escalas São Paulo - Rio de
Janeiro (1914)
"A chegada inesperada de Edu Chaves, o simpático patrício, a
esta capital, pilotando o seu magnífico Bleriot depois de um
percurso de 400 kilômetros, foi um ruidoso sucesso para a
nossa aviação, tornando-se objeto de comemorações, por toda
a parte, o dia de ontem. (...) Às 9,30, Edu Chaves, tendo
disposto convenientemente o seu magnífico aparelho, partiu
do prado da Moóca, elevando-se, em seguida, bem alto, afim
de melhor poder fazer a travessia de S. Paulo ao Rio. (...)
Partindo, como dissemos, do prado da Moóca, Edu Chaves
elevou-se a 1.800 metros, viajando nesta altura cerca de 20
kilômetros, ascendendo ainda a 2.000, 2.400 e 2.800 metros.
Ao chegar a esta capital Edu estava precisamente a 3.000
metros de altura. Para mais facilitar o "raid" do jovem patrício
o Telégrafo manteve troca de comunicação, ficando assim
organizado um belo serviço tendo a Estação Central recebido
os seguintes telegramas:
Rio, 5 - O aviador Edu Chaves partiu às 9,46 de São Paulo
diretamente para esta capital, onde deverá chegar às 14,30,
aterrando no Campo dos Affonsos. Nem sem escala.
Rio, 5 - Edu Chaves passou em Taubaté às 11 horas.
Rio, 5 - Edu Chaves foi visto em Cruzeiro às 13,50.
Rio, 5 - Barra Mansa avistou Edu às 11,30 viajando em
direção ao Rio. (...)
Eram 14 horas e 10 minutos quando Edu Chaves aterrou no
hangar da Escola Nacional de Aviação. Grande era a
assistência que enchia o Campo de Aviação e que
anciosamente acompanhava, com interesse, as manobras
arriscadas do arrojado aviador paulista. (...)
O denodado campeão do espaço conseguira cobrir o percurso
de 480 kilômetros em 4 horas e 39 minutos, perfazendo uma
média de 120 kilômetros por hora. O record de velocidade de
percurso fôra batido na América do Sul pelo aviador paulista.
No Campo dos Affonsos, onde se encontravam o Sr.
presidente da República e sua exma. esposa, foi o aviador Edu
Chaves cumprimentado por S. Ex., que o felicitou pelo bom
êxito colhido na sua travessia. (...)
O motor que é um Gnome 80 HP trabalhou magnificamente,
gastando durante o percurso 16 litros de gasolina e 45 litros
de óleo. O aparelho é munido de hélice Chouvier e vela Oleo.
(...)"
A República, 6 de julho de 1914
MANCHETES
"Aviação - Uma Grande Surpresa - Edu Chaves Faz
Inesperadamente O "Raid" Rio-S.Paulo, Em 4 horas E 25
minutos - A Festa No Aero-Club (A Tribuna)
De S. Paulo ao Rio Em Aeroplano - Edu Chaves Faz A
Travessia (O Século)
Os nossos homens-pássaros - Edu Chaves será recebido
amanhã solenemente no Aero Club Brasileiro (A Rua)
20)Pinheiro Machado (1915)
" (...) Seriam mais ou menos 4.35 horas da tarde. Um dos
telephones da nossa redacção tilintou, rapido.
- Que deseja?
- É o Correio da Manhã?
- Sim , senhor.
- Quem fala é um dos amigos do "Correio". Acaba um
homem do povo, ao que parece, de assassinar o senador
Pinheiro Machado.
- Como sabe o senhor disso?
- Agora mesmo saltei do bonde e penetrei no Hotel dos
Estrangeiros, de onde lhe falo. O cadaver do senador Pinheiro
Machado acha-se ainda aqui.
E a ligação foi interrompida.
Immediatamente tres dos nossos companheiros abandonaram
a redacção, para colher informações sobre a noticia que nos
fôra, tão inesperadamenrte, communicada por telephone.
Poucos minutos, porém, decorreram depois da saida daquelles
representantes do "Correio da Manhã", quando outro nosso
companheiro varou precipitadamente a redacção, informando-
nos de que já se vulgarizara, com insistente brutalidade, a
noticia do assassinato do vice-presidente do Senado Federal.
Essa noticia era grave demais, para ser acreditada para logo,
deante das escassas minucias informadas. Esperámos, por
isso, e com explicavel anciedade, a sua confirmação, para a
transmitir ao publico, em boletins. Já por esse tempo - deviam
ser 5 horas - compacta massa de povo, na qual se lobrigavam
pessoas de representação social, detinha-se defronte da nossa
redacção, á espera dos nossos boletins.
Recebemos, então, pelo telephone, nova communicação do
assassinato do senador Pinheiro Machado, feita por um quinto
ou sexto companheiro de trabalho.
- Viu o cadaver?
- Não. a noticia, porém, é verdadeira.
- Pois assim que vir o general Pinheiro confirme-a. E procure
a confirmação, indo ao local.
A massa de gente defronte da nossa redacção avolumava-se,
porém, cada vez mais, presos instinctivamente de anciedade.
É que a noticia já corria por toda a cidade, em fórma de boato.
Um dos tres companheiros nossos que haviam partido para o
Hotel dos Estrangeiros conseguiu, finalmente, communicar-se
com a redacção pelo telephone official:
- O senador Pinheiro Machado foi, effectivamente,
assassinado, com uma punhalada nas costas, no saguão do
Hotel dos Estrangeiros. O assassino é um moço brasileiro,
nascido em São Paulo. O cadaver do senador sul-riograndense
acha-se numa das saletas de espera do andar terreo do hotel,
cercado de amigos. Vi-o.
Affixámos, então, no "placard" os primeiros e minuciosos
boletins do "Correio da Manhã". O automovel conduziu-nos,
celere. (...)
Depois de percorrermos detidamente algumas dependencias
do andar terreo do hotel, inclusive a saleta de espera onde se
achava, sobre uma mesa, estendido o cadaver do senador
Pinheiro Machado, voltamos á sala contigua ao saguão, onde
se verificara o assassinato, e palestramos com o dr. Bueno de
Andrade, testemunha de vista do tragico sucesso. O deputado
paulista achava-se succumbido. A sua physionomia revelava
uma fadiga moral excessiva. Trocamos um ligeiro
cumprimento com o parlamentar paulista e conduzimol-o para
uma poltrona daquella sala.
- Então, dr. Bueno, como foi essa tragedia?
Elle olhou-nos um momento e confirmou:
- Diz bem: uma tragedia!
- Como veiu o general Pinheiro aqui?
- Elle veiu visitar o sr. Rubião Junior, que não se achava,
então, no hotel, pois que havia saido. Eu e o sr. Cardoso de
Almeida achavamo-nos no saguão a cerca de oito passos da
escada, que dá accesso para o andar superior do edificio.
Palestravamos os dois sobre a politica paulista. O senhor
Pinheiro Machado, depois de ter sido informado da ausencia
do Sr. Rubião Junior, appareceu na saguão e, lobrigando-nos,
dirigiu-se para onde nos achavamos.
- Houve sessão no Senado sr. Pinheiro?
O senador riograndense retorquiu:
- Houve sim. Mas nada houve de mais.
Depois de uma curta pausa o senador Pinheiro convidou:
- Mas venha cá, bacharel Cardoso. Interrogueio o então.
- Como vai general?
- Como vai você, "seu"Bueno?, respondeu-me, interrogando o
senador.
Referiu-se então, á ausencia do Sr. Rubião Junior. Desse
momento o Sr. Cardoso de Almeida disse:
- Mas o sr. Albuquerque Lins está ahi.
- Vamos conversar com elle, "seu"Cardoso. Vamos conversar
com elle, vamos.
E o sr. Pinheiro insistiu muito nesse convite, ao que se
excusava o deputado paulista, por haver já visitado o sr.
Albuquerque Lins. Estavamos a uns quatro passos da escada
espiral do saguão. O senador riograndense achava-se de
costas exactamente para a parte anterior da saguão, de frente,
portanto, para os fundos dessa dependencia do hotel. O sr.
Cardoso de Almeida e eu estavamos collocados de maneira
que não podiamos avistar immediatamente quem penetrasse
no hotel, pelas suas portas principaes.
Foi precisamente no instante em que o vice-presidente do
Senado insistira com o seu collega de bancada para uma visita
commum ao dr. Albuquerque Lins, que o assassino surgiu.
- E, como era esse assassino?
- Não pude guardar-lhe as feições, continuou o Sr. Bueno de
Almeida. Pareceu-me, porém, que era moço, vestia roupas
escuras, chapéo de palha, paletot aberto, sem collete. Vi-o de
relance.
- E como praticou o assassinato?
- Surgiu por detrás do senador Pinheiro e deu-lhe um murro
nas costas. O general gaúcho estremeceu e exclamou:
Canalha! O covarde correu. O sr. Cardoso de Almeida deitou
a correr em sua perseguição. (...)
Correio da Manhã, 9 de setembro de 1915.
"A politica nacional attingida em cheio pelo golpe de punhal
que cortou abruptamente a existencia do general José Gomes
Pinheiro Machado, transformou-se de subito numa formidavel
interrogação para o paiz, colhido de surpresa por um violento
extremeção da vertiginosa corrente em que se deixava
arrastar, indolente e descuidado.
O general Pinheiro Machado, a exemplo de todos os grandes
dominadores das multidões, nunca tomou em conta da sua
obra publica as opposições infimas, as resistencias
imponderaveis ao seu espirito de luctador affeito a enfrentar e
vencer as maiores energias antagonicas; nem a molestia ou a
sua morte entraram jamais em seus calculos como factores
possiveis do insucesso de suas idéas e das aspirações que S.
Ex. aggremiara, disciplinara e movia a seu talante com
absoluta confiança na sua peregrina estrella. (...)
Sempre guardado á vista, o assassino Francisco Manso de
Paiva Coimbra, passou a noite calmo, dormindo algumas
horas, recusando, entretanto, qualquer alimentação, a não ser
café. Tem o aspecto abatido, pronunciadas olheiras e a barba
mais crescida. Veste ainda o mesmo terno escuro com que foi
preso e se deixa photographar sem a menor reluctancia.
O maior temor que o criminoso manifesta é o que lhe poderá
acontecer na Casa de Detenção, para onde não deseja ir. Sabe
que o director desse presidio era amigo particular do general
Pinheiro Machado, e se arreceia de ser maltratado ali. Isso
mesmo já o criminoso hontem expandia ao dr. chefe de
pollicia, quando interrogado.
Na delegacia do 6o districto, quando, ás 11 horas da manhã
de hoje estava sendo identificado, um dos nossos
companheiros logrou falar ao criminoso.
Apezar de se mostrar calmo, Francisco Manso de Paiva
Coimbra ao assignar as fichas tinha a mão tremula.
Interrogando-o, disse-nos o assassino que as suas declarações
são as de seu depoimento, já publicado em todos os jornaes
em que affirmou estar satisfeito em haver cumprido um voto
de que ha muito fizera.
Disse-nos ter pae e mãe vivos, no Rio Grande do Sul, de onde
é filho; seu pae é Francisco de Paiva Coimbra, portuguez e
padeiro, e sua mãe D. Maria de Jesus, natural do Rio Grande.
Seu parente é apenas sua irmã Conceição, tambem no Rio
Grande, não tendo aqui no Rio senão ligeiros conhecimentos.
Perguntando-lhe si havia já sido preso alguma vez, mesmo
com o nome de João Dias Regis, respondeu-nos que nunca
fora preso e se trocou de nome foi por ter desertado do
Exercito.
Dentre outras declarações prestadas, quer á policia, quer á
imprensa, o assassino disse não ser habito seu frequentar
"meetings" nem reuniões politicas, apenas tendo ido ao ultimo
realisado nesta capital, que diziam ser contra o general
Pinheiro. Fôra este o único "meeting" a que compareceu. (...)
A policia tinha conhecimento de que se tramava um complot
contra o Senado ou contra o proprio sr. senador Pinheiro
Machado.
Segundo declarações feitas pelo sr. dr. Carlos Maximiliano,
ministro da Justiça, soubera a nossa policia que esse complot
tinha por fim fazer saltar a dynamite o edificio do Senado, no
dia do reconhecimento do Sr. Hermes da Fonseca.
Esta noticia nos foi transmittida por um dos membros da
bancada rio-grandense, que ouviu o sr. Ministro da Justiça
fazer tal declaração. Sobre o caso foi guardada, porém, a mais
absoluta reserva e discreção, não sendo tomadas, mesmo,
medidas ostensivas, para não causar o alarma muito natural
que ellas iriam provocar.
Entretanto, esta falta de uma iniciativa rigorosa causou
estranheza enorme nos circulos politicos rio-grandenses. (...)"
A Notícia, 9 de setembro de 1915
AS MANCHETES:
O Assassinato Do General Pinheiro Machado - Quem É O
Criminoso E Quaes Os Motivos Do Crime - As Forças De
Terra E Mar Em Meia Promptidão - As Homenagens Que
Serão Prestadas Ao Morto ( A Tribuna )
Pinheiro Machado - O Seu Assassinato - A Repercussão No
Paiz - O Crime E O Criminoso - As Providencias Do Governo
- Demonstrações De Pezar - A Transladação Do Corpo -
Notas E Informações ( O Século )
Um Crime Sensacional -O Assassinato Do General Pinheiro
Machado - O Dia De Hontem - A Visita Ao Hotel Dos
Estrangeiros - O Crime - Notas Commoventes - A Acção Da
Policia - Prisão Do Assassino - Na Delegacia - O Auto De
Flagrante - Depoimentos - No Morro Da Graça - No Palacio
Guanabara - Providencias Da Policia - No Exercito - Diversas
Notas
( Gazeta de Notícias )
O Assassinato Do General Pinheiro Machado ( A Notícia )
O General Pinheiro Machado Foi, Hontem, Á Tarde
Assassinado No Saguão Do Hotel Dos Estrangeiros - O
Criminoso, Natural Do Rio Grande Do Sul, Foi Preso,
Declarando Ter Agido Por Conta Própria - O Que Dizem As
Testemunhas De Vista Da Tragica Scena - As Forças De
Terra E Mar estão De Promptidão ( Correio da Manhã )
21) Alcindo Guanabara (1918)
"Faleceu esta madrugada em sua residência, à rua Gustavo
Sampaio o Senador Alcindo Guanabara. Esta triste notícia
chegou-nos na hora que a nossa folha entrava na máquina. Foi
absolutamente inesperada a sua morte. Sua Ex. faleceu de
uma embolia cerebral."
Jornal do Commércio, 20 de agosto de 1918
MANCHETES:
Alcindo Guanabara - O Brasil Sofre Uma Perda Irreparável -
Morre O Maior Dos Seus Jornalistas Contemporâneos (A
Tribuna)
Uma Perda Insubstituível No Nosso Patrimônio Moral - O
Falecimento Do Maior Dos Jornalistas Brasileiros (A Razão)
22) Gripe Espanhola (1918)
"O que se está passando na Saude do Porto da nossa capital é
simplesmente assombroso. Os navios entram infeccionados,
os passageiros e tripulantes atacados saltam livremente
contribuindo para contaminar cada vez mais a cidade, não
soffrendo os navios o mais rudimentar expurgo!
A Saude do Porto não tem conducção, não tem o pessoal
necessario para as emergencias do momento e o material
preciso para as desinfecções.
A inepcia, o pouco caso criminoso do director de Saude
Publica pelo cumprimento das attribuições que em má hora o
governo lhe confiou, tocou hoje, as raias do incrivel.
Telegrammas chegados ha dias de Estados do Norte,
annunciaram detalhadamente dezenas de casos de "influenza
hespanhola" occoridos a bordo da "Itassucê". Era o caso do
Sr. Carlos Seidl tomar providencias energicas, para isolar os
enfermos e expurgar o navio, mal chegasse elle á Guanabara,
si s.ex levasse a sério seus deveres. Nada disso, entretanto,
aconteceu. O "Itassucê" chegou, foi desimpedido e os doentes
desceram calmamente á terra, sem que o director da Saude
Publica mandasse tomar a minima providencia!
O dr. Pereira Neves, medico, hoje de serviço na Saude do
Porto, viu-se em sérias difficuldades para visitar o "Itassucê",
por falta de conducção, isto porque o ineffavel sr. Carlos
Seidl emprestou a lancha de serviço a um amigo que queria ir
a bordo desse navio buscar pessoas de sua amizade.
O director da Saude Publica, está evidentemente, abusando da
paciencia da população. O governo está na obrigação de fazer
sentir ao incompetente administrador, que mais de um milhão
de vidas não pódem continuar assim á mercê do seu
formidavel desleixo, da sua extraordinaria inercia e da sua
incommensuravel inaptidão administrativa. (...)
Rio Jornal, 11 de outubro de 1918
AS MANCHETES:
A Influenza Hespanhola - Registra-se O Primeiro Caso Fatal
Da Nossa Capital
O Sr. Carlos Seidl Está Abusando Criminosamente Da
Paciencia Da População
A Saude Do Porto É Um Formidavel "Blague". ( Rio Jornal )
A Cidade Invadida Pela Epidemia Da Gripe Por Culpa Da
Incompetencia Do Director Da Saude Publica - Uma
Reportagem Completa Do Rio Jornal
( Rio Jornal )
O Rio Assolado Pela Epidemia - Urge A Intervenção Dos
Poderes Publicos Para Combater O Mal - As Pharmacias
Começam A Fechar - Faltam Os Medicamentos - As
Explorações - A Cidade Com O Seu Aspecto Inteiramente
Alterado - As Casas De Commercio E De Diversões
Inteiramente Ás Moscas
( A Rua )
O Governo Diz Que A Peste Declina, Mas O Povo Vae
Morrendo Por Falta De Recursos ( A Razão )
O Rio Convalesce Ameaçado Pela Devastação Da Fome - O
Aspecto Desolador Do Nosso Mercado - Symptomas
Alarmantes Da Fome - E O Commissariado Dorme... ( A
Razão )
A Epidemia Entrou Na Sua Fase De Declinio - 11.373
Pessoas Morrem Em Toda A Capital Federal, De 12 A 31 De
Outubro ( A Razão )
Nunca O Dia Dos Mortos Foi Tão Propriamente Um Dia De
Mortos Como O De Hoje! ( A Noite )
Um Unico Caso Novo ( A Noite )
A Epidemia Vae Passando Ao Rol Dos Factos Consumados
( A Noite )
23) Final da Primeira Guerra
Mundial (1918)
"É difícil descrever, em exatas palavras, o que foram as
últimas horas da tarde de hoje na Avenida. O entusiasmo do
povo aglomerado na nossa principal artéria não tinha limites.
De momentos a momentos, à aparição de um símbolo das
nações aliadas, vivas eram ouvidos, acompanhados de salva
de palmas, de aclamações ruidosas. Também os oficiais e
soldados estrangeiros, atualmente no Rio, eram
constantemente alvo do entusiasmo popular. As bandas de
música do exército, da Marinha e da Polícia, que percorriam a
Avenida, eram solicitadas de instante a instante, a execução
dos hinos aliados, a cuja terminação o povo prorompia em
aclamações delirantes. pouco depois das 5 horas da tarde,
marchando garborosamente, passou pela Avenida o Batalhão
Naval, que foi recebido por entre vivas da multidão, não
sendo esquecido o nome do Almirante Alexandrino de
Alencar(...) E como esse, muitos episódios confortadores
ocorreram, à tarde na Avenida, numa demonstração eloqüente
do sincero entusiasmo que a todos domina nesta hora
histórica. (...)"
A Noite, 12 de novembro de 1914
AS MANCHETES:
A Vitória Da Civilisação - O Povo Continua A Vibrar De
Entusiasmo Percorrendo As Ruas Da Cidade (O Imparcial)
Em Plena Folia (O Paiz)
As Festas Da Paz Empolgam E Levantam O Povo Brasileiro
(A Razão)
24) Revolta dos Anarquistas
(1918)
"Começou ontem o movimento dos operários a favor da greve
geral. A polícia interveio, com o objetivo de impedir que
algumas fábricas tivessem seu movimento paralisado. Logo
depois, eram espalhados boatos alarmantes de que "os
operários anarquistas planejavam uma revolução, estando,
para isso, fortemente municiados". Em realidade, pelo que
pudemos verificar, os operários não têm pretensões políticas;
disputam tão somente a garantia de um direito, que é
assegurado aos operários de todas as partes do mundo e que
aqui, até agora, lhes tem sido negado. (...)
O que querem os operários é suavisar suas condições de vida;
é a regulamentação das horas de trabalho; é uma lei sobre os
acidentes; é a proteção às crianças e mulheres; é, enfim,
fiscalizar como compete a todos os cidadãos a ação do poder
público, submetendo ao seu exame as soluções desses
problemas, entre nós, tão retardado. Este movimento dos
operários era conhecido e esperado. Infelizmente, porém, não
se revestiu de uma caráter inteiramente pacífico. Houve sérias
consequências a lamentar, talvez, devido à ação das
autoridades policiais, que se precipitaram em sua ação,
efetuando prisões a torto e a direito, utilisando da maior
violência, trancafiando no xadrez todo aquele que julga
responsável pela situação, sem atender à sua condição social.
Foi o que se deu ontem com o professor Oiticica, que antes de
ser transferido para a Brigada Policial, esteve encarcerado nas
enxovias do palácio da rua da Relação. (...)
De sorte que o movimento operário anunciado por todos os
jornais, em favor da greve geral, assim de um momento para
outro, assumiu o mais grave aspecto. (...)"
O Imparcial, 19 de novembro de 1918
AS MANCHETES
Um Sussuro De Mashorca Politiqueira Explora A Greve
Geral Dos Operários Tecelões - Na Iminência De Uma Greve
Geral - Rebentou, Ontem, A Parede De Todos Os Tecelões
Do Rio E De Niterói - Setenta Mil Operários Em Greve - O
Movimento Paredista Alastra-se À Medida Que A Polícia
Estabelece E Espalha O Terror - A Greve Dos Operários
Prossegue Intensa, A Despeito Da Barbariedade Alemã Da
Polícia. (A Razão)
Os Operários Das Fábricas De Tecidos Declaram-se Em
Greve - Uma Delegacia Atacada Pelos Grevistas - Grande
Conflito Na Fábrica Confiança - Um Delegado Ferido E Um
Grevista Morto - O Litoral E Outros Pontos Da Cidade
Policiadas Pelo Exército (O Imparcial)
Estaremos Sobre Um Vulcão? Procura-se Dar À Greve Dos
Tecelões Um Caráter Político Muito Sério - A Polícia Age
Nas Trevas - Que Haverá De Verdade? - Estará Sufocado O
Movimento? - Gorou O Movimento Operário? Tudo Em Paz?
(A Rua)
Bernarda Ou Greve? O Aspecto Da Cidade É De Relativa
Calma. As Fábricas Continuam Paralisadas, Estando Algumas
Delas Ameaçadas Pelos Grevistas. Bombas De Dinamite
Encontradas Por Toda A Parte (Rio Jornal)
25) Olavo Bilac (1918)
"A cidade despertou sob a emoção de uma notícia triste:
Olavo Bilac, um dos seus filhos mais dilectos, poeta
soberano, artista impecável, acabava de falecer às 5.30 da
manhã. Uma pneumoccocia impenitente, agravada pelos
maléficos da miocardite crônica, de que sofria o autor de
elevado número de obras scintilantes, fazia abater o o
organismo do insigne patrício. Diante do esquife que encerra
os despojos de Olavo Bilac, sob a tristeza que suscita a sua
morte, avulta-se o apreço ao príncipe da poesia brasileira, por
ele elevada e dignificada em surtos de aprimorado gênio
artístico.
Ourives do verso, são jóias de subido valor os "Panoplias", a
"Via Láctea", a "Alma Inquirta", as "Sacras de Fogo", as
"Viagens", o "Caçador de Esmeraldas". Precursor da Escola
Parnasiana no Brasil, teve como Leconte de Lisle e Hereclia,
o brilho, a cor, o rítmo, a suprema beleza, a intuição do
maravilhoso Tivesse nascido em França e escrito em francês e
o seu nome seria universal. Mas, nascido no Brasil,
expressando-se em português, idioma que ele cultuava com
requintes não comuns, nem assim amesquinhou-se o seu
prestígio. Dentre os quatro maiores poetas que introduziram o
parnasianismo em nosso mundo literário, é o mais sugestivo,
o mais brilhante, o mais impecável. (...)
A noite de ontem para hoje, passou-se mal. A morte
avizinhava-se do poeta. Foram baldados todos os recursos
médicos adotados com proficiência pelo Dr. Henrique Roxo.
Pela madrugada, instantes antes de morrer, o artista de muitos
versos de ouro, levantou-se do leito. Suas pupilas brilhavam.
- Dei-me café; eu quero escrever! - exclamou com voz firme,
mas um tanto fraca. Às 5,30 da manhã, em companhia da sua
família, isto é, de Alexandre Guimarães, seu cunhado, de sua
irmã, de Corrêa Guimarães e de seus sobrinhos Ernani e
mademoiselle Corina, bem como de vários amigos, cessou o
último alento do maior poeta patrício.
Poeta dos mais ardentes, Olavo Bilac celebrava com filosofia
a volúpia da vida. Morrer num dia cheio de sol, em terra moça
regorgitante de flores, tendo ao seu lado uma mulher formosa,
pareceu-lhe o horror da maior tortura espiritual (...)"
A Rua, 28 de dezembro de 1918
AS MANCHETES:
Morreu Bilac - "Dêem-me Café! Quero Escrever!" - Foi A
Sua Última Frase - A Resurreção Cívica Do Brasil E O Seu
Otimismo (A Rua)
Olavo Bilac Morreu - Já Raia A Madrugada; Dêm-me Café,
Vou Escrever! - As Últimas Palavras Do Príncipe Dos Poetas
Brasileiros (A Noite)
O Passamento De Olavo Bilac - O Patriota, Seu Momento
Extremo E A Sua Obra (A Razão)
26) Campeonato Sulamericano
de 1919
"Antes do campeonato, o football aqui já era uma doença:
agora é uma grande epidemia, a coqueluche da cidade, de que
ninguém escapa."
A Rua, 7 de maio de 1919
AS MANCHETES:
A Sensacional Peleja De Ontem Entre Brasileiros E
Uruguaios - Os Nossos Denodados Patrícios Assumiram O
Visível Domínio Da Pugna, Que Findou Com Empate De
2X2 (O Imparcial)
Salve Footballers Brasileiros! Depois De Uma Peleja
Emocionante, Os Nossos Patrícios Lograram, Ontem, Para O
Nosso País A Supremacia Do Football No Campeonto Sul-
Americano. A Nossa Inegável Vitória De Ontem Sobre Os
Uruguaios Pelo Score De 1X0. (O Imparcial)
Bravos Aos Brasileiros! Vencedores Do 3o C.S.A De
Football ! Friedenreich Marcou O Ponto De Vitória! (A
Noite)
27) João do Rio (1919)
"Uma noticia desoladoramente triste veiu surprehender,
hontem, á noite, quantos trabalhavam nesta casa - o
passamento de João Paulo Barreto, ou melhor "João do Rio",
pseudonymo com que se fez na literatura nacional e que o
levou, afinal á Academia de Letras.
A vida de Paulo Barreto na imprensa carioca pode servir
modelo aos que se dedicam á rude profissão de escrever para
o publico - ella foi uma serie longa de victorias, que
grangearam para elle um justo renome.
Estreando na "Cidade do Rio", onde pontificava Patrocinio,
foi ao lado desse grande mestre do jornalismo e de collegas
como Guimarães Pessoa, Bilac e outros, que Paulo Barreto se
revelou o jornalista, por excellencia, começando a
organização das notas de reportagem, que foram compor o
seu primeiro livro, "As Religiões no Rio", que appareceu sob
os applausos da critica e fez sucesso de livraria.
A maneira por que o seu primeiro trabalho foi recebido
estimulando-o, e dahi em deante, as obras de Paulo Barreto
entraram de apparecer qual a mais bem recebida pela critica,
ainda mais a dos mais severos commentadores.
E registraram-se mais a "Alma Encantadora das Ruas", "O
Cinematographo", a "Mulher e o Espelho", e outros trabalhos
que apresentaram o autor como um typo fino de observador.
Além das obras de sua autoria, Paulo Barreto trouxe para o
vernaculo a "Salomé", de Oscar Wilde.
João do Rio, que era um artista, tambem escreveu para o
teatro, desde o genero brejeiro "Chique-chique", até á
comedia como a "Bella Mme. Vargas", que foi recebida com
applausos pelos amantes da arte. Póde-se dizer a "Bella Mme.
Vargas" é a comedia pr excellencia escripta no Brazil por
autor brazileiro.
Na litteratura propriamente dita, não foi só nos volumes que
deixou, bem assignalados, traços indeleveis da sua passagem.
Tambem nos jornais, notadamente n' "O Paiz", elle collaborou
ora como literato, na columna de honra, ora como chronista,
ora como jornalista propriamente dito, discutindo ou
commentando os assumptos com elevação e grande
illustração.
Ha pouco tempo, após uma viagem que fizera á Europa, aqui
chegado emprehendeu o morto de hontem a fundação de um
jornal, o que conseguiu, montando o nosso collega "A Patria",
do qual era seu director. (...)"
A Razão, 24 de junho de 1921
AS MANCHETES:
Paulo Barreto - A Morte Subita Do Director D' A Patria -
Ligeiras Notas Sobre A Sua Vida Literaria e Jornalistica ( A
Razão )
Paulo Barreto - O Desapparecimento Da Figura mais Original
Do Jornalismo Brasileiro ( Boa Noite )
A Imprensa Enlutada - Como Repercutiu A Morte Repentina
De Paulo Barreto
( Rio Jornal )
A Morte De Paulo Barreto - Homenagens Da Imprensa, Do
Parlamento E De Varias Associações - A Exposição Do
Corpo E O Seu Enterramento Amanhã
( O Jornal )
Paulo Barreto - O Rio Presta Á Memoria Do Nosso Director
A Maior Homenagem Popular Que Fóra Da Politica Alguém
Já Mereceu - A Romaria Á Nossa Redacção - As
Homenagens Collectivas - O Que Serão Os Funeraes Do
Morto Querido - O Dever Dos Que Ficam ( A Patria)
28) Revolta do Forte (1922)
"Desde a madrugada de ontem que entrou a cidade numa
situação inquieta, com o pronunciamento militar iniciado pelo
forte de Copacabana, que ficou sob a ação revolucionária do
capitão Euclides Fonseca, logo seguido do levante na Vila
Deodoro. As primeiras notícias eram desorientadas, e muitas
vezes contraditórias, o que não permitiu se fizesse um juízo
seguro dos acontecimentos que se desenrolaram. O noticiário
refletiu, como não podia deixar de refletir, esse 'brouhahada',
levando um pouco de confusão aos espíritos inespertos. (...)
Cerca de 1 hora da madrugada o general Bonifácio Costa,
com o seu ajudante de ordens e o capitão Silva Barbosa, de
artilharia, aproximou-se da porta das armas da fortaleza e
anunciou-se ao oficial de dia, que foi chamado. Este,
comparecendo, foi informado pelo general Costa que ia para
falar com o capitão Euclides Fonseca sobre um caso oficial e
urgente.
O capitão Euclides, que estava recolhido no seu aposento,
mandou que o oficial de dia introduzisse o general e o capitão
na sala de armas, pois recebel-os-ia logo. Poucos momentos
após, o capitão Euclides aparecia na referida sala e recebia os
dois oficiais, tendo o general Costa lhe comunicado a
natureza de sua missão: receber a fortaleza e entregar o
comando da mesma ao oficial que os acompanhava. O capitão
Euclides Fonseca declarou estranhar tal procedimento,
acrescentando que não entregaria o comando naquele
momento.
Trocaram-se algumas palavras entre os dois interlocutores, até
que o capitão Euclides declarou ao general Bonifácio Costa
que se considerasse prisioneiro, bem como o capitão referido
e o seu ajudante de ordens e ordenanças. Ato contínuo, o
capitão Euclides designou um oficial para olhar pelos oficiais
presos, sendo-lhes indicado aposentos.
Foi, então, 1 e 35 da manhã, que a fortaleza fez o primeiro
disparo, de pólvora seca, sinal, ao que parece, convencional,
para os outros elementos sublevados. Foram logo distribuídas
vedetas para a avenida Atlântica e rua Nossa Senhora de
Copacabana e, ao nascer do dia foi iniciado o serviço de
abertura de trincheiras, trabalho que às 11 horas da manhã
estava dado por terminado. O fosso aberto ocupa a extensão
que fica em frente à rua Copacabana e ao meio dia já se
achava guarnecido. (...)
O número de praças inferiores e oficiais sublevados atinge a
359 homens, incluindo o pessoal que estava no forte do Leme,
e que pouco antes das 10 horas fora chamado e mandado
recolher à fortaleza de Copacabana, aderindo, assim, ao
movimento. Antes, porém, de deixarem o forte do Leme
retiraram as culatras das peças. No forte de Copacabana há
munição de bocca para um mês. (...)"
O Brasil, 6 de julho de 1922
AS MANCHETES:
A Revolta Do Forte De Copacabana E O Movimento Da
Escola Militar
O Congresso Concede A Medida Do Sitio, Pedido Com
Urgencia, Pelo Governo - Varias Prisões - Mortos E Feridos
( Correio da Manhã )
Pronunciamento Militar - O Governo Informa A Rendição
Discrecionária da Escola Militar E Do 15o Regimento De
Cavalaria Da Villa Militar - O Estado De Sítio Foi Ontem
Mesmo Sancionado - O Forte De Copacabana É Intimado
Pelas Forças Legaes A Render-se Incondicionalmente - O
Que Foi O Encontro De Tropas Em Deodoro - Algumas
Granadas Caem Sobre O Quartel General Fazendo Vítimas
( O Brasil )
A Situação - Os Sucessos De Hoje - A Rendição Do Forte De
Copacabana
( A Noite )
A Escola De Guerra Rendeu-se - O Levante Na Villa Militar
Foi Dominado
Esperava-se A Rendição Do Forte De Copacabana -
Foi Decretado O Estado De Sítio Por 30 Horas ( A Pátria )
Copacabana Prestes A Capitular! ( O Combate )
O Movimento Revolucionário Que Explodiu Nesta Capital
A Legalidade Vitoriosa ( A União )
29) Lima Barreto (1922)
"Morreu Lima Barreto; esta expressão laconica tem uma
grande significação nos meios cultos de nosso paiz,
principalmente nesta capital. É uma intelligencia robusta que
se extingue, um romancista de temperamento singular que
desapparece, justamente na edade em que as faculdades
creadoras mais se accentuam e definem o literato, o artista, o
psychologo: 42 annos de vida. (...)
Era um romancista de indole; se se pudesse determinar a
escola a que se filiára mister era também dizer que elle
mesmo, na sua visão minuciosa, na sua observação
penetrante, fizera a sua propria escola; deixara-se nortear á
mercê de sua imaginação fecunda e facunda. Lima Barreto,
dizem-no os que sobre as suas obras fizeram juizos criticos,
teria sido o maior romancista do seu tempo, se nas suas
producções não revelasse as caracteristicas do seu "eu"
artistico, a physionomia de sua propria individualidade, um
superior desinteresse para os preciosismos sociaes, um
descuidado desalinho, em que o seu genio creador, com uma
malheabilidade prodigiosa, amoldava e distendia o typo e as
sociedades dos seus romances.
Lima Barreto deixa as seguintes obras impressas: "Triste Fim
de Polycarpo Quaresma", "Vida e Morte de J. M. Gonzaga de
Sá", "Numa e Nympha", "Memorias do Escrivão Isaias
Caminha", "Sonhos e Contos", "Farras e Mafuás", "Uma
Provincia da Bruzundanga", as duas ultimas na livraria
Schettino.
"O Cemitério dos Vivos", obra que começou a escrever,
quando, por doença, recolheu-se ao Hospício, Lima Barreto
não pôde concluir; a sua saude abalada o impediu.
Collaborou em varios jornaes e revistas desta capital, mesmo
doente e abatido. (...)
Ha tres dias recolhera-se á casa e não mais saira. Ante-
hontem, ás 5 horas da tarde, uma de suas irmãs, em
obediencia ás prescripções médicas, penetrára em seu quarto
para dar-lhe uma colher de remedio; achou-o em estado de
agonia. A familia pediu a Assistencia, que já o encontrou
morto.
Assim, morreu o filho extremoso, que, no arranco ultimo,
teve ainda forças para conter-se numa sublime mudez, a fim
de não causar dissabor ao pae, seu grande amigo. (...)
O Jornal, 3 de novembro de 1922
AS MANCHETES:
Lima Barreto A Sua Morte ( O Jornal )
Morreu Lima Barreto ( O Imparcial )
A Morte de Lima Barreto ( Correio da Manhã )
Lima Barreto - A Morte Desse Observador Admiravel Da
Vida Do Nosso Rio De Janeiro ( A Noite )
30) Rui Barbosa (1923)
"Na vida da nacionalidade brasileira não há maior vulto do
que aquele que acaba de desaparecer: Ruy Barbosa. Tão
eminente era ele, que encarnava a própria Nação, no que ela
tem de mais alto, de mais nobre, de mais puro. Repetidas
vezes o povo do Brasil sentiu essa estranha e rara impressão
de ver Ruy Barbosa significando a própria existência da
Pátria, na sua alma elevada e na sua máxima grandeza.
Grande e incomparável na organização do regime
republicano; grande e incomparável em Haya, - a Pátria
brasileira compreendera, enfim, a representação da sua
personalidade como a da própria representação.
Ele era o pensamento mais alto; as suas aspirações mais
grandiosas. Toda a sua vida se devotara ao Brasil num afeto
que não será jamais ultrapassado por nenhum homem público
deste país. Toda a sua vida se desenrolou entre tremendas
tempestades, e nas suas lutas e controvérsias ele foi sempre o
grande alentador das nossas energias cívicas e morais.
Combatendo, no império, pelas reformas liberais e pela
democracia, ele foi o maior fator de impulso que levantou a
República e abateu a monarquia.
Na República ele foi o seu maior sustentáculo; e o seu verbo
divinizado consagrou-se à glória das campanhas cívicas, em
que a nação pulsou com o seu coração e o seu pensamento,
ardentes e cintilantes do mais puro ideal republicano! O maior
gênio da nacionalidade - a sua obra - confunde-se com a
existência nacional, as suas forças gastaram-se no
devotamento incessante ao país. (...)
Ruy Barbosa ficará como a maior tradição da nacionalidade, e
o fato da sua morte, agora que as paixões incendiadas vão
aplacar os seus ímpetos, fará com que apareça imaculado e
venerado, alto e intangivel como um deus. (...)"
A Pátria, 2 de março de 1923
AS MANCHETES:
A Morte do Gênio da Raça - Ruy Barbosa Faleceu, Ontem,
em Petrópolis, Às 8,25 da Noite ( A Pátria )
Ruy Barbosa - Clarão Extinto ( O Paiz )
O Eclipse de um Gênio ( Rio Jornal )
Um Golpe Irreparável do Destino . Morreu Ruy Barbosa -
Homenagens e Tributos de Gratidão da Alma Nacional ( A
Tribuna )
Finou-se O Expoente Máximo da Intelectualidade Brasileira -
O Páis Inteiro Chora, Neste Momento, A Morte de Ruy
Barbosa, O Maior De Seus Filhos
Foi Decretado Pelo Governo Luto Nacional Por 3 Dias -
Serão Prestadas Ao Grande Morto Honras de Chefe de
Estado, Correndo As Despezas Dos Seus Funerais Por Conta
da Nação. ( O Brasil )
31)Sinhô (1930)
" 'Sinhô', o cantor de uma série infindável de canções, trovás e
sambas, faleceu ontem, vitimado pela grave enfermidade que
a muito lhe minava o organismo. Quem não conheceu o
boêmio incorrigível, que foi o José B. de Lobo, o 'Sinhô', ou
melhor 'O Rei do Samba'?
Toda a população brasileira, e mesmo pelo exterior, o
trovador que desaparece era assás conhecido. Os seus sambas,
as suas marchas, as suas emboladas e cateretês eram
disputados pelos cantores.
Tinha razão de ser. 'Sinhô', fazendo a música, compunha
também os versos, daí a cadência e harmonia das suas
composições. Dedilando o violão com maestria, ele
empolgava desde que aparecia. No piano era apreciadíssimo,
quando tocando as suas composições. O reclame das suas
composições fazia ele mesmo, chefiando conjuntos, ora
tocavam em casa de música e ora percorriam as ruas da
cidade, muitas vezes iam parar em casa de famílias onde se
realizavam festas. Teve sua época.
Há muito, a tuberculose apoquentava-o. Ontem, quando
saltava de uma barca, vindo de Niterói, 'Sinhô' foi acometido
de uma forte hemopthise e sucumbiu. O seu cadáver foi
levado para a residência de onde hoje sairá o enterro."
Diário Carioca, 5 de agosto de 1930
AS MANCHETES:
AS MANCHETES:
As Ultimas Informações Sobre O Movimento Subversivo De
Minas Geraes e Rio Grande - Foi Decretado O Estado De
Sitio Para Minas, Rio Grande, Parahyba, Districto Federal E
E. Do Rio ( A Critica )
As Tropas Federaes Estão Senhoras Da Situação - Reina
Completa Calma Em Todo O resto Do Paiz - Todas as Altas
Patentes Do Exercito Solidarias Com O Governo ( A Critica )
Como Será Feito O Abastecimento De Generos Alimenticios
Á Cidade - O Governo, Attento, Ao Bem Estar Publico, Toma
Energicas E Efficazes Providencias Para O Abastecimento De
Generos Á População ( A Critica )
Brutus ( A Critica )
Num Gesto Que Bem Define A Sua Mentalidade E Tanto
Ennobrece Os Seus Sentimentos, O Povo Da Capital Da
Republica Acaba De Vibrar O Golpe Decisivo Nesse Montão
De Miserias E Sordices Que Era O Governo Que Acaba De
Cair, Afogado Na Propria Ignominia. Precipitando Os
Acontecimentos E Dando A Victoria Á Causa Sagrada Da
Patria, O Povo Carioca Pôz Um Dique, Á Caudal De Sangue
Desencadeada Pelos Moribundos E Avultou, Aureolado, No
Coração Do Brasil - Salve Povo Carioca!
( A Esquerda )
Viva O Brasil! Viva A Republica Nova E Redimida! Os
Ideaes Da Patria Venceram! ( Diario da Noite )
O Sr. Washington Luis Que, Diziam Os Seus Amigos, Era
Destemido E Bravo, Teimoso E Valente, capaz De Morrer No
Seu Posto, Sem Recuar, Teve Medo Do Povo. Teve Medo E
Até Ás 14 Horas De Hontem Permanecia No Palacio
Guanabara, De Onde Teimava Em Não Sair, Porque O Povo
Estacionava Nas Immediações. Doloroso Epilogo De Uma
Farça; Triste Fim De Um Regabofe Indecoroso Que Se Esvae
Por Entre Arrepios De Pavor E Temores De Medo...
( A Batalha )
Alliando-se Á Republica Triumphante, Os Generaes De Terra
E Mar Apressam A Victoria. O Povo Carioca, Numa
Confraternização Commovedora, Tomou Parte Na Arrancada
Final Em Que As Forças Armadas Depuzeram O Governo
Que Nos Infelicitava E Desagradava. O Ex-Presidente Foi
Conduzido, Preso, Para O Forte De Copacabana. A Victoria
Da Revolução ( A Patria )
As Attitudes Da "A Noite" ( A Noite )
33) Cristo Redentor (1931)
"A cidade está em festa e com ela o Brasil inteiro, pela
inauguração, no ápice da mais linda montanha da capital da
República, do esplendido monumento que a nação consagra
ao Redentor da Humanidade. Não há coração que deixe de
vibrar da mais pura alegria pela celebração do acontecimento
grandiloquo. Cristo, do alto da colina magnífica, abençôa a
cidade e abençôa o povo que lhe implora, ungido de fé,
conduza os homens ao caminho sublime da perfeição.
Foi um espetáculo soberbo, de inesquecível majestade a
bênção do monumento ao Cristo Redentor, pela manhã de
hoje. Estavam presentes, no alto do Corcovado, as altas
autoridades eclesiasticas e civis, e, enquanto se efetuava a
bela cerimônia, uma esquadrilha de aviões deslisando,
tranqüila, pelos ares macios da manhã lançava braçadas de
flores sobre a imagem de Jesus. Os sinos de todas as igrejas
bimbalhavam festivamente. Um momento de inenarável
emoção. (...)
A CompanhiaRadiotelegráfica Brasileira e Marconi, ele
mesmo, haviam guardado um profundo sigilo em torno da
prova que o grande inventor deveria fazer ontem à noite
iluminando de Roma a estátua de Cristo Redentor. Marconi
desde sexta-feira passada se comunicava com o Sr. René
Bouglé, diretor geral da Radiotelegráfica, dizendo-lhe que
desejava fazer domingo, às 19 ¼ , uma experiência de
transmissão de onda elétrica afim de acender os refletores que
deveriam iluminar a estátua. O diretor geral da
Radiotelegráfica deu conhecimento do desejo de Marconi
apenas aos diretores dos Diários Associados, Srs. Gabriel
Bernardes, Paulo Rapaport e Assis Chateaubriand. Tratava-se
de uma experiência e por isso mesmo os diretores da Radio
não desejavam dar-lhes maior divulgação. (...)
Às 18 ¾ os diretores dos Diários Associados já se
encontravam na sala de aparelhos da Companhia, que fica no
4o andar do edifício Hasenclever, na Avenida Rio Branco.
(...)
Às 19 e 14 todos os corações palpitavam. Faltava um minuto,
e esse minuto era uma eternidade. Uma eternidade tanto mais
imensa e angustiosa quanto ela durou, pelo relógio da sala,
120 segundos.
Às 19 e 16 minutos todos os olhares da sala que se fixavam
para a janela donde se divizava o Corcovado viram o céu
cortado de um halo luminoso. Dentro da massa de nuvens, as
fulgurações de luz rompiam bravamente a escuridão. Três
minutos após, os rolos pardacentos se dissipam e o Cristo
branco, com as suas mãos imensas de perdão e de ternura,
fulgia no topo da montanha, inundado de caridade boreal. O
milagre de Marconi se tinha traduzido em todo o seu
esplendor."
Diário da Noite, 12 de outubro de 1931
AS MANCHETES
Do Alto do Corcovado, Cristo Abençoa Povo do Brasil
( Diário da Noite )
A Imagem Do Mestre Domina A Cidade, Na Imponência
Alcantilada Do Corcovado - É Preciso Que Cristo, O
Redentor Dos Indivíduos E Das Sociedades, Proteja E Salve
A Terra De Santa Cruz. Ele Pode E Quer Construir, Em
Defesa Da Nação, Um Ante-Mural, Mais Resistente Do Que
Aquela Muralha De Rochas Que Enfrenta A Fúria Dos
Vagalhões.
( Diário Carioca )
Inaugurou-se Ontem Oficialmente, Em Presença De Altas
Autoridades Do Clero E Da República, O Monumento A
Cristo Redentor, No Corcovado
( O Jornal )
Aberta Em Cruz Sobre A Cidade A Imagem Santificada Do
Cristo Redentor
( A Noite )
As Festas Inaugurais Do Monumento Do Corcovado - A
Vibração De Fé Católica Nas Homenagens A Cristo Redentor
( A Esquerda )
34) Intentona Comunista (1935)
"Foi o capitão Djalma Fonseca que com um contingente de 40
homens tomou o quartel do 3o RI. O Correio da Noite fazia
parte desse grupo e pôde assim focalizar os aspectos ainda
quentes da refrega. Tudo ali dentro era um montão de
escombros; no Casino todo o mobiliário estava destroçado.
Na parte principal do quartel o fogo destruiu tudo, e à hora
em que deixávamos o local uma turma do Corpo de
Bombeiros abafava as labaredas. Todos os alojamentos
estavam em destruição completa. Está ferido o coronel
Affonso Ferreira, que, lutou, valentemente, para sufocar o
movimento. O presidente Getúlio Vargas visitou-o, no
momento em que era transportado para o H. C. E. Dirigindo-
se ao coronel Ferreira o presidente da República teve para ele
palavras de conforto. À saída do quartel o presidente
encontra-se com o ministro da Guerra. Trocam impressões e o
ministro da Guerra diz, que não terminara às 12, mas às
13,15, pouco além do prazo por ele marcado o combate aos
revoltosos.
Assim que o capitão Djalma fonseca tomou o 3o RI deteve o
capitão Agildo Barata, que se rendeu sem resistência.
Incontinente esse oficial rebelado foi remetido para o Quartel
General. O general José Pessoa visitou o 3o RI logo depois da
cessação da luta e providenciou para a unificação dos
trabalhos. À sua presença vêm os oficiais que não aderiram ao
movimento; para os mesmos teve o general José Pessoa
palavras de estímulo pela maneira por que se portaram.
Também esteve naquela unidade militar o general Eurico
Dutra tomando as providências necessárias. (...)
Na Vila Militar sublevou-se também a Companhia
Extranumeraria. Para combatê-la, as autoridades militares
designaram os Primeiros e Segundos Regimentos de
Infantaria e o Primeiro Regimento da Cavalaria Divisionário.
(...)
O 3o RI foi tomado por tropas pertencentes ao corpo de
guarda e do 2o B. C. sob o comando do capitão Djalma
Fonseca. (...)
À última hora, chegaram presos ao Quartel General o capitão
Agliberto Vieira de Azevedo e tenente Ivan, chefes do
movimento do 3o RI."
Correio da Noite, 27 de novembro de 1935
AS MANCHETES:
AS MANCHETES:
A Prisão do Antigo Comandante da Coluna Invicta ( O
Radical)
Preso Chefe Supremo da RevoluçÃo Comunista no Brasil
(Correio da Noite)
Epílogo dos Acontecimentos Vermelhos no Brasil ( Gazeta de
Notícias )
Condenado Aqui e Na Rússia - Luiz Carlos Prestes Preferiu
Ser Preso A Ter Que Presar Contas ao Komintern? ( O
Globo )
Todos Presos! Além de Prestes, a Polícia Encarcera Os Cinco
Membros do Comitê Vermelho da América do Sul ( O
Globo )
Luiz Carlos Prestes Preso no Meyer ( Diário da Noite )
36) Prisão de Pedro Ernesto
(1936)
"Teve a maior repercussão como o facto sensacional do dia, a
prisão do Sr. Pedro Ernesto. Embora esperada a qualquer
momento, a noticia estourou como uma bomba ás primeiras
horas da noite. A esse respeito o gabinete do chefe de Polícia
distribuiu á imprensa a seguinte nota:
- A Polícia deteve, hoje, ás 20,30 horas, o prefeito do
Districto Federal, dr. Pedro Ernesto Baptista. Esta providencia
foi tomada após acuradas diligencias em virtude das quaes
resultaram indicios vehementes, da culpabilidade do dr. Pedro
Ernesto na preparação dos movimentos subversivos que
abalaram a paiz, ultimamente. A Polícia, com serenidade e
energia, prosegue no cumprimento da sua missão.
A prisão foi levada a effeito na Casa de Saude Pedro Ernesto,
pelo tenente-coronel Domingos Ferreira Junior por ordem do
general Lucio Esteves, commandante da Policia Militar.
Em virtude da prisão do Sr. Pedro Ernesto, assumiu, hontem
mesmo, o governo da cidade, na qualidade de seu substituto
legal, o conego Olympio de Mello, presidente da Camara
Municipal.
Momentos antes da sua prisão, o Sr. Pedro Ernesto fez
estampar nos jornaes da tarde, com grande destaque, a nota
que reproduzimos abaixo, sob o titulo - O Prefeito ao Povo:
- Não considero uma diminuição a minha ida á policia para
depor. Cumpri apenas o meu dever de cidadão.
O governador do Districto Federal deve ser o primeiro a dar o
exemplo da obediencia e do acatamento ás autoridades e á
Ordem Constituida. Nem pode ser outro o espirito da
democracia.
Não fui á policia para me defender. Não tinha e não tenho de
que me defender. A minha defesa está no meu devotamento a
esta cidade que eu tenho servido com enthusiasmo das causas
sagradas.
Dei o melhor de mim mesmo para o bem e a felicidade do
Districto Federal."
Diário de Notícias, 4 de abril de 1936
AS MANCHETES:
A Prisão Do Dr. Pedro Ernesto - Communicam-nos Do
Gabinete Do Chefe De Polícia: - A Polícia Deteve, Hoje, Ás
20,30 Horas, O Prefeito Do Districto Federal, Dr. Pedro
Ernesto Baptista. Essa Providencia Foi Tomada Após
Acuradas Diligencias Em Virtude Das Quaes Resultaram
Indicios Vehementes De Culpabilidade Do Dr. Pedro Ernesto
Na Preparação Dos Movimentos Subversivos Que Abalaram
O Paiz Ultimamente. A Polícia, Com Serenidade E Energia,
Prosegue Na Sua Missão ( O Imparcial )
Foi Preso Hontem O Sr. Pedro Ernesto - A Sensacional
Diligencia Effectuou-se Ás 20,30 Horas Na Casa De Saude
Da Esplanada Do Senado - Assumiu O Governo Do Districto
O Conego Olympio De Mello, Presidente Da Camara
Municipal ( Diário de Notícias )
Preso O Sr. Pedro Ernesto! Assumiu O Governo Da Cidade O
Padre Olympio De Mello - Como Se Realisou A Diligencia
Sensacional ( A Noite )
O Sr. Pedro Ernesto Foi Preso Pela Polícia - Como Se Deu A
Prisão
( Diário da Noite )
Detido O Prefeito Do Districto Federal - Os Acontecimentos
E O Estado De Guerra - Em Communicado Official, A
Chefatura De Polícia Informou Haver Sido Detido Hontem, Á
Noite, O Dr. Pedro Ernesto - Acrescenta O Communicado
Que Essa Providencia Foi Tomada Após Accuradas
Diligencias
( Correio da Manhã )
37) Noel Rosa (1937)
"Morreu Noel Rosa. Após alguns minutos, a cidade inteira já
sabia. Noel o popular cantor e compositor dos morros da
cidade que sempre se destacou pelas suas producções, deixa a
vida para ir de encontro a um novo mundo.
De algum tempo para cá, Noel deixou de apparecer nos meios
radiophonicos e recolheu-se a um sanatorio atacado por
terrivel enfermidade. Os seus "fans" reclamaram; porém, Noel
não podia attendê-los por ter necessidade de absoluto
repouso.
Suas melhores producções, alías, a que lhe deu nome, foi ha
alguns annos o samba "Com Que Roupa". Depois, seguiram-
se outros, e ultimamente "João Ninguem", "De Babado Sim"
e outros.
Encerra-se com o autor de "Pierrot Apaixonado", "Feitiço da
Villa", "Palpite Infeliz" e outras composições populares, uma
etapa verdadeiramente brilhante do samba de nossa terra.
Noel morreu subitamente em consequencia de um colapso
cardiaco, quando na rua Theodoro da Silva n. 382, o querido
compositor encontrava-se em companhia de sua progenitora;
esposa e alguns amigos palestrando recostado no leito. (...)
Cerca de 23 ½ horas, o "sambista philosopho" pediu que fosse
tocada uma das suas composições, no que foi attendido
promptamente. Então, cantando "De Babado Sim", Noel
repentinamente deixou de viver desapparecendo da vida e
deixando saudades. Porém, suas musicas não serão
esquecidas e a sua memoria será tão venerada como a dos
nossos maiores compositores da musica popular.
O seu enterro será realizado hoje á tarde, saindo o feretro da
rua Thedoro da Silva n. 382 em Villa Isabel."
Diário da Noite, 5 de maio de 1937
AS MANCHETES:
Morreu Cantando Noel Rosa A Figura Mais Popular Dos
Nossos Compositores
( Diário da Noite )
Falleceu O Compositor Noel Rosa - Era Autor De Numerosas
Musicas Populares ( O Jornal )
Falleceu Noel Rosa - O Conhecido Compositor Morreu
Ouvindo Cantar Uma Musica De Sua Autoria ( Diário de
Notícias )
A Morte Prematura De Noel Rosa - Foi, Hontem, Sepultado,
O Popular Cantor Do Radio ( Correio da Manhã )
Morreu Noel Rosa ( A Noite )
Noel Rosa - Falleceu Hontem O Maior Cantor Da Alma
Carioca
( Diário Carioca )
38) Golpe de 1937 (1937)
"A cidade recebeu, ontem, com calma os acontecimentos
políticos que determinaram a entrada em vigor de uma nova
Constituição para o Brasil, revogando-se implicitamente, a de
julho de 1934.
O presidente Getúlio Vargas no discurso que pronunciou, à
noite, ao microfone do Departamento Nacional de
Propaganda, falou à Nação com franqueza e desassombro,
mostrando os erros e os vícios que vinham deturpando a
essência do regime democrático e a necessidade de dar à
nossa democracia uma nova forma, capaz de assegurar o
prestígio da autoridade e dar ao governo maiores
possibilidades de resolver os grandes problemas nacionais.
O presidente da República, com as intenções melhores de
servir ao Brasil, deu-lhe uma nova Constituição, a Carta
Magna, trabalho inteligente, de cuidadoso exame das nossas
necessidades sociais, econômicas e políticas, possui uma
uniformidade de pensamento que nào foi possível imprimir à
Carta efêmera de 1934.
A Carta fundamental do regime republicano ontem
promulgada, conserva, nas suas linhas gerais, na perfeição do
seu arcabouço, a viga mestra do espírito democrático. As
alterações que ela apresenta visam, entre outras coisas
fortalecer a representação nacional, criando uma formula
nova para o sufrágio universal, dando aos municípios um
prestígio que eles nunca possuiram, neles reconhecendo a
célula mater da federação.
Respeitando as liberdades públicas e os direitos dos cidadãos,
a Constituição tem os seus alicerces fundamentais no sentido
democrático, do qual a consciência brasileira jamais se
afastou e jamais se afastará. Organizando a disciplina,
restaurando os princípios da hierarquia, opondo reprezas
poderosas à anarquia e à desordem, a nova Carta Magna não
cria círculos de ferro para oprimir e escravizar.
A carta de 1934, a despeito das melhores intenções que
inspiraram os seus autores, não conseguiu conciliar os ideais
da Revolução de 1930. Obra de políticos, por isso mesma
cheia de defeitos e contrasensos, ela sacrificou muitas das
promessas feitas à Nação pelos revolucionários que tiveram
como chefe civil o Sr. Getúlio Vargas. Dando ao Brasil outra
Constituição o Sr. Getúlio Vargas se reimveste na qualidade
de chefe da Revolução de 30 e retoma o ritmo interrompido
de sua grande obra.
É, pois, na autoridade moral do presidente da República, nos
anseios da Nação que quer viver e prosperar sem os tropeços
de formalismos irrealistas e no sangue dos brasileiros
imolados por um Brasil maior, que vamos encontrar a
legitimação da nossa nova Carta Política."
Diário Carioca, 11 de novembro de 1937
AS MANCHETES:
AS MANCHETES:
Cresce A Repulsa do Povo Brasileiro Contra A Odiosa
Intentona Verde - O Crime Dos Renegados - O Assalto Ao
Guanabara No Impressionante Relato De Um De Seus
Defensores ( Diário Carioca )
Resistindo E Dominando A Intentona Verde O Presidente
Getúlio Vargas Ofereceu Ao Brasil Provas eloquentes De Que
A Nacionalidade Não Podia Escolher Mais Bravo E Nobre
Guardião De Sua Integridade! ( A Nação )
Jugulada A Infâmia Verde ( A Nação )
Jugulada, Completamente, A Segunda Mashorca Integralista
( Correio da Noite )
Dominado O Levante Dos Integralistas ( A Batalha )
Os Revoltosos Serão Julgados Sumariamente Pelo Tribunal
de Segurança -
Golpe Integralista Irrompeu À Meia Noite, Em Vários Pontos
da Cidade
Um Movimento Sedicioso Prontamente Reprimido -
Assaltados O Palácio Guanabara, O Ministério E O Arsenal
Da Marinha, Estações Ferroviárias, Difusoras E Telefônicas,
A Residência Dos Generais Goes Monteiro e Valentim
Benicio -Terrorismo No Centro Urbano - Incêndios, Tiroteios
E Correrias - Tentativa Contra O Tesouro E A Inspetoria de
Veículos - Muitos Mortos E Muitos Feridos ( Diário da
Noite )
40) Vargas Deposto (1945)
"O Brasil viveu ontem horas de intensa agitação provocada
pela atitude de intransigência do Sr. Getúlio Vargas. O
ditador, apoiado pelos "queremistas", planejou e executou o
seu último golpe, com a nomeação de seu irmão Benjamin,
para a Chefatura de Polícia. Indiretamente, fez-se sentir um
grande movimento de repulsa, que culminava com a sua
renúncia ao poder, consequência de seu "ultimatum" que lhe
foi feito pelas classes armadas.
Logo após ter transmitido a chefia de Polícia ao Sr. Benjamin
Vargas, desde ontem titular do posto em substituição ao
antigo coordenador, o Sr. João Alberto esteve no Ministério
da Guerra tendo-se feito acompanhar pelo comandante da
Polícia Especial, o Sr. Eusebio de Queiroz. Ali estiveram em
demorada conferência com o general Góes Monteiro.
Ao terminar a reunião, que durou mais de uma hora, pôde ser
notado intenso movimento naquele Ministério, fato que ainda
mais chamou a atenção em virtude de terem sido trancados os
portões fronteiros e laterais, não sendo permitido, portanto,
nem a entrada nem a saída de civis. Imediatamente foi
proclamada rigorosa prontidão para todas as tropas que
servem ali. Enquanto isso, a cidade se enchia dos mais
alarmantes boatos, e os nossos telefones não cessavam de
tilintar todos ávidos de informações.
Por volta das 18 horas, tropas do Exército ocupavam a praça
da República, colocando imediatamente nos principais
entroncamentos metralhadoras. O trânsito ficou desde logo
impedido para veículos, salvo os de caráter forçado. E quanto
aos pedestres, só podiam passar os que se destinassem a suas
residências.
Às 18,30 horas, tivemos informações de que as tropas
motomecanizadas sediadas no Derbi Clube compostas de
tanques, se dirigiam para o centro da cidade, certamente para
reforçar as que já se encontravam na Praça da República. (...)
Pouco depois das 19 horas, três caminhões do Exército, com
soldados armados, saiam do Ministério da Guerra em direção
ao Palácio do Catete, a fim de guarnecê-lo. Também o Palácio
Guanabara estava guarnecido por tropas que imediatamente
interditaram o trânsito pelas ruas Paissandú e Álvaro Chaves.
(...)
A Avenida Presidente Vargas, em toda a sua extensão, ficou
desde cedo ocupada por tropas do Exército, constituídas do 3o
Regimento de Carros de Combate e, às 20 horas, chegava ao
mesmo local o 1o Grupo de Obuzes. (...)
Depois de tomarem conhecimento da exoneração do Sr.
Henrique Dodworth, os secretários da Prefeitura solicitaram
também exoneração coletiva. Foi oficialmente noticiada a
nomeação do Sr. João Alberto, novo prefeito do Distrito
Federal. A comunicação da exoneração do Sr. Henrique
Dodworth lhe foi dada por telefone pelo Sr. Agamenon
Magalhães. (...)
Às 11,30 da noite de ontem, depois dos acontecimentos que
são do domínio público, o Sr. Getúlio Vargas renunciou,
entregando o Governo ao presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministro José Linhares.
Às duas horas e meia, realizou-se, no Ministério da Guerra,
perante os chefes militares, a posse do Ministro José
Linhares, como Presidente da República
Perguntado pelo representante de Resistência, se haveria
restabelecimento de censura à imprensa, o Ministro João
Alberto exclama:
Os senhores estão proibidos de falar sobre esse assunto. Não
há, e jamais haverá censura à imprensa. Peço a todos, pois,
uma colaboração leal e de sentido construtivo, dentro da mais
ampla liberdade."
Resistência, 30 de outubro de 1945
AS MANCHETES:
Nosso Governo É Civil ( Correio da Noite )
Reina Ordem Em Todo O País ( Correio da Noite )
A História E O Tempo Falarão Por Mim, Discriminando
Responsabilidades
Despedindo-se Do Povo Brasileiro, Em Mensagem Antes De
Embarcar O
Ex-Presidente Getúlio Vargas Diz Que Não Guardará Nem
Ódios Nem Prevenções Pessoais - A Integra Do Documento
( Correio da Noite )
Getúlio Vargas Lançará Uma Proclamação Ao Povo
Brasileiro - A Renúncia Do Chefe Do Governo Para Evitar O
Ensanguentamento Da Família Brasileira
O Ministro José linhares É O Novo Presidente - Volta À
Chefia De Polícia O Ministro João Alberto - O General Góis
Monteiro Aclamado Chefe Do Exército - Empossado O Novo
Governo - Outras Notas ( O Radical )
Os Acontecimentos De Ontem - Com A Renúncia Do Sr.
Getúlio Vargas, Assumirá O Governo O Presidente Do
Supremo Tribunal Federal - A Reunião Dos Generais No
Ministério Da Guerra - O General Góis Monteiro No
Comando Do Exército - O General Dutra E O Brigadeiro
Eduardo Gomes Na Reunião ( A Manhã )
Deposto Getúlio Vargas ( Resistência )
Deverá Deixar O Rio, Amanhã, O Sr. Getúlio Vargas
Empossado No Governo O Ministro José Linhares
O Presidente Linhares Fala A A Noite ( A Noite )
Hoje No Catete O Novo Presidente ( A Noite )
Empossado No Governo O Ministro Linhares ( A Noite )
Partiu Para São Borja O Sr. Getúlio Vargas ( A Noite )
41) Fechamento dos Cassinos
(1946)
"O ministerio esteve reunido hoje, pela manhã, sob a
presidência do general Eurico Gaspar Dutra, chefe do
Governo, com a presença de todos os secretarios de Estado e
do chefe do Departamento Federal de Segurança Pública.
A sessão que teve inicio um pouco antes da 10 horas,
prolongou-se até às 12,45. Á saida do ministro da Justiça, dr.
Carlos Luz, abordado pelos jornalistas presentes declarou que
um dos principais assuntos tratados foi o concernente à
medidas de combate ao comunismo.
O nosso redator indagou se havia sido deliberado o
fechamento do Partido Comunista, tendo S. Excia respondido
negativamente, declarando, ainda, que apenas se traçara um
plano geral sobre a questão.
A seguir entregou aos jornalistas uma cópia do seguinte
decreto-lei que manda extinguir o jogo em todo o território
nacional, que hoje foi assinado e que foi o outro assunto
importante ventilado na reunião:
- O presidente da República, usando da atribuição que lhe
confere o artigo 180 da Constituição e considerando que a
repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência
universal; considerando que a legislação penal de todos os
povos cultos contem preceitos tendentes a esse fim;
considerando que a tradição moral, jurídica e religiosa do
povo brasileiro é contrária à prática e a exploração dos jogos
de azar; considerando que das exceções abertas à lei geral
decorreram abrigos nocivos à moral e aos bons costumes;
considerando que as licenças e Concessões para prática e
exploração dos jogos de azar na Capital Federal e nas
estancias hidroterapicas balnearias ou climáticas, foram dados
à titulo precário, podendo ser cassadas em qualquer momento;
Decreta:
Artigo 1º - Fica restaurada em todo o territorio nacional a
vigência do artigo 50 e seus parágrafos da lei de
Contravenções penais, decreto-lei 3.688 de 2 de outubro de
1941.
Artigo 2º - Esta lei revoga os decretos-leis nos 241 de 4 de
fevereiro de 1938, no 5089 de 15 de dezembro de 1942 e no
5192 de 14 de janeiro de 1943 e disposições em contrário.
Artigo 3º - Ficam declaradas nulas e sem efeito todas as
licenças, concessões ou autorizações dadas pelas autoridades
Federai, Estaduais e Municipais, com fundamento nas leis ora
revogadas ou que de qualquer forma contenham autorização
em contrário ao disposto do arigo 50 e seus parágrafos das
leis das contravenções penais.
Artigo 4º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
O titular da Justiça continuando a palestra com os
representantes da imprensa informou que na próxima reunião
ministerial prosseguiria o assunto relativo ao combate ao
Comunismo e que seriam tratados outros assuntos de
relevância, pois, hoje não houvera tempo para isso. O general
Góis, cercado pelos jornalistas fazendo blague, disse apenas: -
Nada houve hoje do meu jogo."
Correio da Noite, 30 de abril de 1946
AS MANCHETES:
Extinção Do Jogo E Combate Ao Comunismo ( Correio da
Noite )
O General-Presidente Resgata A Palavra Dada À Nação -
Revestiu-se De Aspecto Sensacional A Providencia Do
Governo Extinguindo A Jojatina Em Todo O Pais - O
Boatejar Dos Exploradores Do Jogo Estava Comprometendo
A Honra De Respeitaveis Autoridades Publicas - O Decreto
Restabelece O Respeito Ao Código Penal - O Povo Sempre
Confiou No Presidente Dutra
( O Radical )
Todos Contra O Jogo - "A Manhã" Ouve Representantes De
Todas As Classes Sociais, Acerca Do Sensacional Decreto Do
Govêrno - Três Religiões, Por Seus Intérpretes, Opinam Na
"Enquête" - Também Os Homens Do Povo
( A Manhã )
Duro Golpe No Futuro Artístico Do Pais! ( Resistência )
Extingue-se Uma Praga Social Que A Ditadura Havia
Instituido No Brasil
Não Houve Tempo Para Despedidas... Ontem Mesmo Deixou
De Funcionar A Batota - Os Cassinos Não Abriram Os Salões
Dos "Grills" - Decepção E Satisfação - Opina Um Empregado
- Insulto À Imprensa - As Que Não Se Conformam Com A
Extinção Do Jogo ( Diário de Notícias )
A Repercussão Na Assembleia Constituinte Do Decreto-Lei
Que Extinguiu O Jogo ( Jornal do Brasil )
42) Copa do Mundo (1950)
"Aqueles que compareceram ao Estádio Mendes de Morais,
na tarde de ontem, cheios de fé e alegria no onze brasileiro
jamais poderiam imaginar que, numa partida decisiva, onde
bastava o empate para nos dar o título máximo, pudessemos
deixar o gramado vencidos. E sobretudo vencidos por um
quadro que, embora fazendo jus ao triunfo, por ter
aproveitado as duas oportunidades que se lhe ofereceram, foi,
no atual certame, menos produtivo e menos positivo do que a
equipe brasileira.
Por isso mesmo, o espetáculo que se desenrolou aos nossos
olhos, após o apito final de Georges Reader, foi desses que,
por suas caracteristicas impressionantes, tão cedo não sairão
da retina daqueles que tiveram o ensejo, o triste ensejo,
digamos assim, de presenciá-lo. Aquela multidão de duzentas
mil pessoas não teve coragem de deixar o estádio.
Tinha-se a impressão que estávamos em um Dia de Finados,
assistindo ao enterro de um ente querido. As dependencias do
"Colosso do Derbi", pareciam lotadas por milhares e milhares
de parentes e amigos do suposto defunto, que o pranteavam,
num silêncio só interrompido pelos soluços de muita gente
que não resistiu à intensidade da dôr. Lá em baixo, no
gramado, os jogadores uruguaios, ao comemorar o grande a
grande conquista, pareciam ateus profanando um lugar
sagrado...
Quando, minutos depois, a massa começou a deixar o estádio,
a tristeza estava estampada em sua fisionomia. Por tôdas as
ruas, por tôdos os cantos, a mesma decepção, a mesma dôr. A
cidade adormeceu de luto... (...)
Tristeza geral causou a vitória do Uruguai sôbre a seleção
brasileira, na tarde de ontem, justamente no momento em que
o campeonato do mundo estava ao alcance de nossas mãos.
Tristeza geral, repetimos, mas não a tristeza mansa dos que
sabem perder; era antes uma espécie de revolta contra tudo e
contra todos, a condenação inapelável dos nossos jogadores, a
severa crítica contra a nossa tática de jogo e, finalmente, um
mundo de acusações desabando, implacável, contra o técnico
Flávio Costa. Numerosas substituições de jogadores
começaram, de repente, a ser apontadas como necessárias a
uma vitória que já estava bem distante.
Os mesmos jogadores que abateram com tremendas goleadas
os selecionados da Espanha e da Suécia, já não se
apresentavam aos olhos do público como os esforçados
"cracks" que tantos aplausos mereceram... Tudo estava
esquecido, condenado, imprestável. Zizinho, apenas, era o
condutor das mais belas jogadas. Mas, Jair não passava de um
fantasma dançando na tarde triste do Maracanã; e Ademir, o
goleador em primeiro lugar na Copa do Mundo, era tão inútil
quanto uma coisa morta. Esse o terrivel julgamento do nosso
público após soar o apito final...
Há, porém, muita coisa esquecida. Na pressa das conclusões
ditadas pela decepção da grande surpresa, foi esquecido o
próprio valor dos jogadores uruguaios; o fator sorte, tão
importante em futebol, que favoreceu em todos os sentidos a
seleção oriental; e, mais do que tudo, a própria razão de todos
os acontecimentos.
Um dia, Napoleão, meio louco e meio soldado, saiu da França
e começou a dominar o mundo. Os seus exércitos foram
crescendo em entusiasmo e se transformaram numa
gigantesca horda invencível. A História narra os seus feitos
mais incríveis, as suas conquistas quase impossíveis, os seus
lances de heroismo. Ninguém podia vencer Napoleão e êle,
em seus sonhos de louco, já se considerava o senhor do
mundo. Mas nasceu a derrocada do inesperado: Waterloo.
Seria possivel a destruição dos exércitos e dos planos do
poderoso conquistador? Em Santa Helena, sozinho e
amargurado, êle próprio não encontrou a explicação que o
universo inteiro procurava, atônito. Ele apenas perdera a
batalha...
A seleção do Uruguai equivale ao nosso Waterloo na "Copa
do Mundo". Envolvidos pelo entusiasmo justissimo das
vitórias iniciais, com a nítida superioridade sôbre os
jogadores europeus, esquecemos a possibilidade de uma
surpresa tão desagradável e tão inesperada. Começamos,
portanto, a procurar justificativas numa provável e inexistente
culpa dos nossos jogadores e do seu técnico. Esquecemos
tudo, até mesmo a nossa condição de "donos da casa", de
organizadores, em 1950.
Felizmente, não tiveram maiores consequências os
comentários das rodas exaltadas. Pouco a pouco, vai nascendo
maior ponderação nos julgamentos, menos apressados, e
fazemos raciocínios. Vamos recebendo a amarga derrota
como ela deve ser aceita e acatada: com a certeza de que, pelo
menos, ontem, á tarde, os uruguaios jogaram melhor futebol.
E com êles estava a sorte e o destino da Copa do Mundo..."
Folha Carioca, 17 de julho de 1950.
"E o que ninguém previa aconteceu. O Brasil perdeu o
campeonato do mundo na última partida, ficando o cobiçado
trofeu em poder dos uruguaios. Foi mais uma lição, dentre as
tantas que já temos tido, deixando fugir o triunfo a hora
decisiva. E agora não existe qualquer desculpa. Das outras
vezes culpava-se o ambiente estranho, a torcida contrária, o
juiz e tantas outras coisas que seriam de consôlo ás derrotas
que tantas vezes já nos impuseram argentinos, italianos e os
próprios uruguaios, de quem somos velhos fregueses.
Domingo tinhamos tudo a nosso favor: o campo, a torcida e,
além disso, o "handicap"do empate que nos garantiria o titulo.
O juiz Mr. Reader teve uma arbitragem perfeita e a êle não se
pode atribuir a menor responsabilidade pelo fracasso do nosso
selecionado.
Perdemos porque jogamos menos. Os uruguaios foram
superiores na técnica e no coração. A Taça "Jules Rimet" está
em boas mãos. Nas mãos daqueles que na hora decisiva
souberam disputá-la com classe e com flama. São êles os
merecedores do título de campeões do mundo.
Quem assistiu o quadro nacional jogar com a Suécia e com a
Espanha, uma verdadeira orquestra sinfônica, nem por
sombra reconheceria o mesmo quadro naquele que domingo
jogou no Maracanã contra os orientais. A sinfônica desafinou
e diluiu as esperanças dos duzentos mil espectadores que
madrugaram no estádio e dos milhões de torcedores de todo o
país que pelo rádio acompanhavam ansiosos o desenrolar da
peleja.
Muitos argumentam com o azar para explicar a derrota, mas
não reside no imponderável a explicação do fracasso. Ele veio
em consequência do bom desempenho dos uruguaios e das
falhas do nosso "onze". Falhas que sempre existiram e que
nos cansamos de apontar desde os primeiros jogos. O nosso
quadro jogou sempre, praticamente com três homens na linha
de frente - Zizinho, Ademir e Jair. Os pontas Chico e Friaça
jamais tiveram condições técnicas para integrar a seleção.
Quando se tratava de enfrentar adversarios mais fracos e
principalmente que adotam o sistema europeu de jogo, sem
marcação pessoal sôbre os jogadores, as falhas desapareciam
e os elementos fracos eram esquecidos ante a virtuosidade e a
eficiência do trio central.
Mas com os uruguaios a coisa foi diferente. Eles adotam
sistema de jôgo semelhante ao nosso, marcando rigidamente
os dianteiros, e, além disso, sabiam que o "team do Brasil
resumia-se, na linha atacante, a Ademir, Zizinho e Jair. Sôbre
êstes três homens, foi feita uma marcação eficiente, um
verdadeiro bloqueio e o resultado não se fez esperar. Na final
o "placard" acusava 2 a 1 para os uruguaios.
A responsabilidade principal recai, pois, sôbre o técnico,
teimando em incluir um Friaça bizonho e sem condições de
jôgo e insistindo com um Chico confuso e dispersivo, quando
tinha um Rodrigues em plena forma para ser lançado.
Adãozinho, outro elemento de valor, ficou todos os jogos na
cêrca quando poderia ser lançado no centro, deslocando-se
Ademir para a ponta direita, como o próprio Flávio já fez uma
vez com excelentes resultados, num sul-americano.
Além disso, faltou aos nossos jogadores, a flama necessária,
coisa que sobrou aos nossos adversários. Do naufrágio
salvaram-se Zizinho, Bauer, Augusto e Juvenal. Os restantes
deixaram-se levar pelo nervosismo e jogaram abaixo da
critica, inclusive Jair, acovardado com a marcação severa do
velho Obdulio Varela.
E como se não bastasse tudo isso, Bigode, um jogador sempre
eficiente, disputou uma partida sem qualificativo, fazendo
asneiras a grande e deixando-se bater tôdas as vezes pelo
admirável Gighia, o ponta direita do Uruguai. Também
Barbosa esteve num dia negro, engolindo um autêntico frango
no "goal" que deu a vitória aos orientais. (...)"
Diário do Povo, 18 de julho de 1950
AS MANCHETES:
Este "Goal" Eliminou O Brasil - Tristeza Na Face De Todos -
Tombou De Pé O Brasil - Os Uruguaios Jogaram Melhor E
Daí A Derrota da Nossa Seleção No Prélio Efetuado Ontem
( Folha Carioca )
Venceram Os Melhores - Merecidamente Os Uruguaios
Sagraram-se Campeões Do Mundo - Ante Um Adversario
Forte, Evidenciaram-se As Falhas Do Nosso Selecionado - A
Culpa Do Tecnico - Novo record Mundial De Renda - Notas
( Diário do Povo )
Faltou Fibra Aos Jogadores Nacionais Que Não
Corresponderam Á Espectativa de 200 Mil Torcedores
Representando 50 Milhões De Brasileiros
( Diário do Rio )
Mario Filho: O Segredo Da Vitória Dos Uruguaios: Só Os
Brasileiros Tinham Tudo A Perder ( Jornal dos Sports )
Vitória De Raça - Lutando Com Alma E Coração,
Reconquistarm Os Uruguaios A Sipremacia Do "Soccer"
Mundial - Não Vamos Culpar Ninguem - Otimismo Fatal ( A
Manhã )
Ainda Nos Resta Um Ingrato Consolo: A "Copa" Ficou Na
América, Provando A Inconteste Supremacia Da Nossa
Escola ( O Jornal )
Vai Para O Olho Mecânico A Romana ( Correio da Manhã )
43) Francisco Alves (1952)
"Num desastre de automóvel ocorrido ontem, às 18,30 horas,
na rodovia Presidente Dutra, morreu, em trágicas
circunstâncias, o popular cantor Francisco Alves, o "Rei da
Voz". O acidente verificou-se na localidade denominada Uná,
município de Pindamonhangaba.
Francisco Alves viajava com destino a esta capital, na
"Buick" chapa número 11-65-80 D.F., de sua propriedade, em
companhia de um amigo, de nome Haroldo Alves. No local
mencionado, a "Buick" colidiu com o caminhão chapa n. 11-
58-84, R.G.S., que seguia com destino a São Paulo, dirigido
pelo motorista João Valter Sebastiani. O choque dos dois
veículos foi violentissimo, resultando ficarem ambos
seriamente avariados e tendo a "Buick", a seguir, se
incendiado. Ao que se presume, Francisco Alves pereceu
imediatamente, pois as chamas que dominaram o carro
carbonizaram-lhe o corpo tornando-o irreconhecível. Seu
companheiro foi projetado fora do carro, sendo recolhido,
momentos depois, por um auto que passou no local, e
conduzido à Santa Casa de Taubaté, onde ficou internado em
estado de coma. O motorista do caminhão sofreu ferimentos
sem importância.
O delegado policial de Pindamonhangaba, retirou o cadaver
de Francisco Alves dentre os escombros do carro,
providenciando para seu transporte à referida cidade, onde em
diligências posteriores foi levantada a sua identidade.
O Dia, 28 de setembro de 1952
AS MANCHETES:
Num Desastre De Automóvel Morreu Chico Alves ( O Dia )
Cenas Comoventes Nos Funerais De Francisco Alves - Uma
Multidão Incalculável Nas Últimas Homenagens Da Cidade
Ao Seu Filho Querido - Desmaios De Emoção Durante O
Cortejo Fúnebre, Que Durou Mais De Três Horas - O Esquife
Foi Conduzido Ao Som Da Voz Do Inesquecível Cancioneiro
( O Dia )
Morreu Tragicamente O Cantor Francisco Alves - Seu
Automóvel Chocou-se Com Um Caminhão Quando Viajava
De São Paulo Para Esta Capital
( Jornal do Brasil )
Silenciam Os Violões E Chora O Povo A Morte Do Seu
Cantor
Enorme Massa Popular Acompanhou O Féretro Do Cantor
( Diário de Notícias )
Morre Num Desastre O Cantor Chico Alves ( Diário Carioca )
Morte Trágica De Francisco Alves - O Carro Do Popular
Cantor, Após Chocar-se Com Um Caminhão, Foi Presa Das
Chamas - Ficou Carbonizado - Em Una, Próximo De Taubaté,
O Local Do Desastre - Haroldo Alves, A Outra Vítima, Acha-
se Em Estado Gravíssimo - Emudeceu A Voz Do Violão
( A Manhã )
O Povo Chora A Morte De Chico Alves - Carbonizado O
"Rei Da Voz" Em Tremendo Choque De Veículos Na
Rodovia Presidente Dutra - 1 Violão De 2 Mts. ; Cordas De
Prata, A Homenagem Do Povo Carioca - Camara Ardente,
Lagrimas E Dramas Intimos ( Diário da Noite )
44) Morte de Vargas (1954)
"Sobre a Nação desce a sombra de uma tragédia. O gesto do
Presidente Vargas pondo fim ao seu governo e aos seus dias,
estendeu um crepe à consciência dos brasileiros, aos que o
assistiram com compreensão, como aos que o combateram até
o último momento. É a primeira vez que a história
republicana descreve páginas tão trágicas, pois o homem forte
e acostumado às lutas políticas não pôde suportar a
agressividade da circunstância e sucumbiu ao peso do
desalento.
Todo o drama que o Presidente viveu nesta derradeira fase do
governo quebrou sua tempera e, no silêncio de seu gabinete,
recordando a fisionomia cheia de interrogações que ele
considerava uma injustiça ao homem como ao chefe que
encarnava a soberania nacional, o desespero se apoderou do
seu coração. (...)
Depois de todas as reuniões realizadas em Palácio, na calada
da noite, depois de mirar face a face os seus amigos e
auxiliares, vendo neles transparecer o desalento e a
desesperança, observando que ja não havia ouvidos que o
escutassem, sentiu-se desamparado e sem defesa para afastar
o fantasma da suspeita.
Sentindo todo o peso da incompreensão, o chefe do governo
teve necessidade de ir buscar fora de léxico o argumento
capaz de abrir os ouvidos e aclarar as consciências. Selou
com o sacrifício de sua própria vida o drama com que vinha
lutando nos últimos dias, deixando, conforme acreditava, "o
legado de sua morte", para que se pudesse fazer ao morto uma
parte da justiça que o povo reclamou. (...)
Todos clamavam por justiça, mas o clima propício à justiça
cada vez se tornava mais conturbado. Tragedia atrai tragedia
e, nesta hora melancólica que soa para o seu destino, o povo,
sem forças para opinar, subjugado pela surpresa do último
lance, desfila diante do Chefe morto e, sem se recuperar do
espanto, curva-se frente à mágoa que o atingiu nos últimos
dias e que fez estalar o seu coração no sacrifício supremo.
(...)"
Jornal do Brasil, 25 de agosto de 1954
AS MANCHETES:
Vargas Ao Marechal Mascarenha De Moraes: Não
Renunciarei!
- Fui Eleito Pelo Povo, Por Cinco Anos, E Cumprirei Meu
Mandato Até O Fim. Não Me Deixarei Desmoralizar ( A
Noite )
Desfecho Tremendamente Dramático: Matou-se Vargas! Um
Tiro No Coração!
A Resolução Extrema Executado Pelo Presidente Que Caia
( A Noite )
O Inesperado Desfecho Da Crise Militar ( A Marcha )
Protesta O Povo Nas Ruas Contra O Golpe E Pelas
Liberdades
União De Todos Os Brasileiros Para A Defesa Da
Constituição
Apoiado Pelos Ianques Café Sucede Vargas ( Imprensa
Popular )
Pus E Lama Escorrem Sobre A Nação Estarrecida
Gregório Explorava A Contravenção, Arrancando Dinheiro
Dos "Bicheiros"
( O Dia )
Afasta-se Vargas Do Governo - Às 4 Horas E 55 Minutos O
Momento Decisivo - O Sr. Vargas Ainda Tentou Resistir,
Recusando-se A Aceitar as Razões Apresentadas Pelos Seus
Ministros - A Reunião Ministerial Durou Cerca De Quatro
Horas ( O Dia )
Lamenta O País A Morte Do Presidente Vargas - Enorme
Massa Popular, Numa Fila Interminável, Na Visitação Do
Corpo Do Presidente Da República, Exposto, Em Câmara
Ardente, No Palácio Do Catete ( O Dia )
A Multidão Desfilou A Chorar Ante Vargas - O Presidente
Morreu
Impressionantes Os Aspectos Do Velório No Catete ( Diário
Carioca )
Dramático Desfecho ( Jornal do Brasil )
Vargas Não Cederá Nem À Violência, Nem Às Provocações,
Nem Ao Golpe
"Só Morto Sairei Do Catete" ( Última Hora )
Última Hora Havia adiantado, Ontem, O Trágico Propósito -
Matou-se Vargas
O Presidente Cumpriu A Palavra! "Só Morto Sairei Do
Catete!"
( Última Hora )
45) Mineirinho (1962)
"Depois de travar violento tiroteio com policiais cariocas,
"Mineirinho", que se encontrava homisiado no Morro da
Previdência, onde fôra receber um "auxílio" de um
contraventor, conseguiu furar o cêrco policial, escalando uma
barreira de aproximadamente 30 metros e tomou destino
ignorado.
Os policiais que provocaram a fuga do perigoso marginal,
seguiram, imediatamente, para o Morro de Mangueira, onde
esperam localizá-lo, num local onde o mesmo havia marcado
com alguns de seus comparsas. O fato ocorreu às últimas
horas da noite de ontem.
Na Rua da América, por onde tem uma das entradas para o
Morro de Previdência, desde às primeiras horas da tarde de
ontem, quando chegou a primeira informação de que
"Mineirinho" ali se encontrava, transformou-se numa
verdadeira praça de guerra: cêrca de 100 policiais, armados de
metralhadoras e com ordem de capturá-lo (de "qualquer
maneira") vasculhavam as ruas da favela.
Já às primeiras horas da madrugada de hoje, os policiais
deslocaram-se para o Morro de Mangueira, onde o marginal
possui muitos amigos. Sua pris!ao poderá ocorrer ainda hoje.
Os policiais estão informados de quais as residências
( barracos ) onde "Mineirinho" poderá fugir ao cêrco
policial."
Diário Carioca, 29 e 30 de abril de 1962
AS MANCHETES:
Tiroteio: Polícia X Mineirinho ( Diário Carioca )
"Mineirinho" Morreu Com Oração E Recorte No Bolso
( Diário Carioca )
Polícia Perde Todas As Pistas Que Levam A "Mineirinho"
( Diário de Notícias )
"Mineirinho" Foi Metralhado 13 Vêzes E Atirado No Mato -
Povo Afluiu Para Ver Bandido Morto ( Diário de Notícias )
A Cidade Está Em Paz ( Correio da Manhã )
"Mineirinho"Foi Crivado De Balas E Atirado Na Grajaú-
Jacarepaguá
( Correio da Manhã )
"Mineirinho" Sem Sete Vidas ( Jornal do Brasil )
Delegado Admite Que "Mineirinho" Pode Ter Sido Morto
Pela Polícia
( Jornal do Brasil )
Tombou O Inimigo Público N. 1 - "Mineirinho" Metralhado
Pela Polícia!
Facínora Levou Uma Carga De Chumbo . Ferido, Tentou
Saltar Um Muro E Recebeu A Rajada De Misericórdia. O
Cadáver Foi Descoberto Pela Reportagem De O Dia e A
Notícia. Estava Jogado À Margem Da Estrada Grajaú-
Jacarepaguá Na Altura Do Km. 4, Com Treze Perfurações
Pelo Corpo -
"Coisa Ruim", Amigo Do Bandido, Jura Vingança -
Depoimento Impressionante De Uma Testemunha De Vista
Do Fuzilamento - Fretados Lotações Para Curiosos Verem O
Corpo Do Famoso Marginal ( O Dia )
46) Comício da Central do
Brasil (1964)
"Uma grande multidão encheu a Praça Cristiano para ouvir o
Presidente da República. A manifestação transcorreu em
ordem, apenas com ligeiros incidentes, não políticos; logo
abafados. O acidente mais grave aconteceu quando uma faixa
pegou fogo e, em consequência do pânico, 140 pessoas se
feriram. Antes de começar o comício, a explosão de uma
bomba feriu sete pessoas. (...)
Cerca de cem mil pessoas ouviram, ontem, na Praça Cristiano
Otoni, o Presidente João Goulart e doze outros oradores. A
manifestação transcorreu em ordem, registrando-se apenas
ligeiros incidentes, logo abafados. O acidente mais sério
aconteceu quando uma faixa pegou fogo e se estabeleceu
pânico. Sairam feridas 140 pessoas. Antes de começar o
comício, a explosão de uma bomba feriu sete pessoas. (...)
Às 19h40m, foi anunciada a presença, no palanque, dos três
ministros miltares, General Jair Dantas Ribeiro, do Exército,
Brigadeiro Anisio Botelho, da Aeronáutica, e Almirante
Sílcio Mota, da Marinha. Na oportunidade, também foi feita
alusão ao Almirante Cândido Aragão, comandante do Corpo
de Fuzileiros Navais.
Às 19h44m, chegava ao palanque o Presidente João Goulart,
acompanhado em primeiro plano do Sr. Eugênio Caillard, seu
secretário particular. No momento em que o Sr. João Goulart
subiu ao palanque, discursava o Deputado Doutel de Andrade,
em nome do PTB, criticando o capitalismo, e prometendo
irrestrito apoio ao Presidente e aos trabalhadores.
A Sra. Maria Teresa Goulart trajava um vestido azul-piscina,
e apresentava um penteado que lhe prendia os cabelos no alto.
Entrevistada pelos repórteres, afirmou que estava achando o
comício "maravilhoso" e que era a favor das reformas de
base. (...)
Até depois das 20 horas, quando já estava presente o
Presidente Goulart, continuavam chegando delegações ao
comício, ficando totalmente tomado todo o quarteirão
compreendido entre o Mercado do SAPS e o Panteon Caxias,
passando pela primeira pista da Avenida Presidente Vargas.
No lado oposto da Praça Cistiano Otoni, a massa se
comprimia entre o edifício da Central do Brasil e a ala lateral
do Ministério da Guerra, até as imediações da entrada do
Túnel João Ricardo. (...)
Entre as faixas empunhadas pelos manifestantes da Praça
Cristiano Otoni estavam a s seguintes: "Salve O Glorioso
CGT", "Reconhecimento da China Popular", "PCB, Teus
Direitos São Sagrados", "Viva O PCB", "Encampação de
Capuava", "Abaixo Com As Companhias Estrangeiras", além
de várias outras de saudação ao Presidente João Goulart.
Outras diziam: "Jango Em 65 - Presidente da República:
Trabalhadores Querem Armas Para Defender O Seu
Governo". "Sexta Feira, 13, Mas Não É De Agosto", "Brizola
65 - Solução Do Povo", "Jango - Abaixo Com Os Latifúndios
E Os Trustes", "Jango - Defenderemos As Reformas A Bala".
(...)
O Prof. Darci Ribeiro, chefe do Gabinete Civil da Presidência
da república, por três vezes chegou-se ao Presidente João
Goulart, quando este discursava, falando qualquer coisa a seu
ouvido. Quase imediatamente o Sr. João Goulart passava a
abordar outro assunto ainda não ventilado no discurso. O
Chefe da Nação, que iniciou seu discurso lendo o que fôra
preparado com antecedência, entusiasmou-se com suas
palavras e passou a falar de improviso, daí os "sopros" do Sr.
Darci Ribeiro, para que nada ficasse esquecido.
D. Maria Teresa chegou sorrindo ao palanque, ficando séria
logo após. A cada pedido dos fotógrafos, ela sorria
novamente. Quando começaram a soltar fogos de artifício, ela
preocupou-se e passou a olhar para os lados e para trás.
Durante os 66 minutos do discurso presidencial, permaneceu
ao lado do Sr. João Goulart, passando-lhe, a cada momento, o
copo d'água gelada. (...)
Terminado o comício, o Presidente João Goulart estava
visivelmente exausto. Mal entrou no carro que o conduziria
ao Palácio das Laranjeiras, recostou-se no colo de D. Maria
Teresa, que lhe acariciou carinhosamente os cabelos."
O Globo, 14 de março de 1964
AS MANCHETES:
Concentração Servirá De Senda Para Invasão De Terras -
Comício Inicia Agitação -
1) Lavradores Mobilizados Para Invasões De Fazendas
2) Rebeliões Marcadas Para Eclodir Após Concentração
3) Conselho De Segurança Faz Levantamento Da Situação
O Comício Contra A Guanabara ( Tribuna da Imprensa )
1) O Discurso Do Sr. João Goulart, No Comício Da Central
Do Brasil, Deixou Claro Para Os Que O Ouviram Os Seus
Propósitos Espúrios De Continuísmo - Leonel Brizola Voltou
A Ser Cúmplice
2) Concentração Custou Trezentos E Cinqüenta Milhões De
Cruzeiros, Pagos Com Recursos Proporcionados Por
Autarquias - O Instituto Do Açucar Participou Com Duzentos
Milhões De Cruzeiros
3) Encampação Das Refinarias Foi Imposição De Brizola
Para Comparecer À Concentração Sindical
Pedido De Emenda À Constituição Tem Fins Continuístas
Pregação Contra O Congresso Provoca A Reação Parlamentar
Atmosfera Revolucionária No Ato Da Encampação E
Desapropriação
( Tribuna da Imprensa )
Estado Toma Conta De Refinarias E Vai A Latifúndios
Constituição Não Serve Mais ( Diário de Notícias )
Goulart Decreta A Desapropriação De Terras, Encampa
Refinarias E Pede Nova Constituição ( Jornal do Brasil )
Treze Oradores Falaram No Comício Das Reformas ( O
Globo )
No Comício De Ontem Na Central Do Brasil O Presidente
Formula O Seu Programa: Progresso Com Justiça e
Desenvolvimento Com Igualdade
( A Noite )
Pacto Do Povo Com Jango: Reformas A Qualquer Preço
( Diário Carioca )
47) Revolução de 1964 (1964)
"O Presidente da República sente-se bem na ilegalidade. Está
nela e ontem nos disse que vai continuar nela, em atitude de
desafio à ordem constitucional, aos regulamentos militares e
ao Código Penal Militar. Êle se considera acima da lei. Mas
não está. Quanto mais se afunda na ilegalidade, menos forte
fica a sua autoridade. Não há autoridade fora da lei. E, os
apelos feitos ontem à coesão e à unidade dos sargentos e
subordinados em favor daquele que, no dizer do próprio,
sempre estêve ao lado dos sargentos, demonstra que a
autoridade presidencial busca o amparo físico para suprir o
carência de amparo legal.
Pois não pode mais ter amparo legal quem no exercício da
Presidência da República, violando o Código Penal Militar,
comparece a uma reunião de sargentos para pronunciar
discurso altamente demagógico e de incitamento à divisão das
Forças Armadas. (...)"
Jornal do Brasil, 31 de março de 1964
AS MANCHETES:
Reincidência ( Jornal do Brasil )
"Gorilas" Invadem O JB ( Jornal do Brasil )
Fora! ( Correio da Manhã )
Carros Blindados Na Rua Deixam Povo Sob Tensão ( Diário
de Notícias )
Grave Perspectiva ( Diário de Notícias )
Marinha Caça Goulart ( Diário de Notícias )
Democratas Assumem Comandos Militares -
1) Costa E Silva Nomeado Para Pasta Da Guerra 2) I Exército
Tem Ururaí Como Comandante 3) General Taurino Na
Primeira Região Militar
Pela Recuperação do Brasil ( Tribuna da Imprensa )
Revolução Terminou Sem Derramamento De Sangue - Jango
Em Pôrto Alegre
Magalhães Pinto Deu A Arrancada Final Contra A
Comunização Do País
Mazzilli Poderá assumir Ainda Hoje A Presidência Da
República
Terminou A Greve Geral - UNE Incendiada ( O Dia )
Uruguai Espera Jango Como Chefe De Estado ( Diário
Carioca )
Goulart Dispensou O Sacrifício Do Povo Brasileiro ( Diário
Carioca )
Mourão: Golpe Estava montado E Prisão De Líderes Ajudou
Muito
( Diário Carioca )
48) Edson Luis (1968)
"A preparação de uma passeata de protesto, que se realizaria
hoje, contra o mau funcionamento do restaurante do
Calabouço, cujas obras ainda não terminaram, foi a causa da
invasão daquele estabelecimento, por choques da Polícia
Militar, e que resultou no massacre de alunos e na morte do
estudante Edson Luís Lima Souto, assassinado com um tiro
de pistola calibre 45, pelo tenente Alcindo Costa, que
comandava o Batalhão Motorizado da PM do local.
Os estudantes foram surpreendidos com a invasão policial,
tendo os soldados disparado rajadas de metralhadoras
enquanto o tenente que comandava o choque gritava pelo
megafone "parem de atirar, eu não dei ordem para ninguém
atirar". Logo depois, o mesmo oficial sacou sua arma e fêz os
disparos, um dos quais atingiu Edson Luís Lima Souto. O
corpo de Edson ainda foi levado para a Santa Casa, na Rua da
Misericórdia. Ali, o médico Luís Carlos Sá Fortes Pinheiro
anunciou que o aluno já estava morto. Seus colegas, em
seguida, levaram-no para o saguão da Assembléia Legislativa,
onde se formou uma fila de populares para velar o corpo, em
meio a violentos discursos de vários líderes políticos.
O massacre policial continuou após a morte de Edson Luís
Lima Souto e outros estudantes e curiosos foram feridos por
estilhaços de granadas e bombas de gás lacrimogêneo
indistintamente. (...)"
"Estudantes reuniram-se, ontem, no Calabouço, para protestar
contra as precárias condições de higiene do seu restaurante.
Protesto justo e correto. O Correio da Manhã, nesta mesma
página, já condenou a inércia em que o Estado vem-se
mantendo diante das reiteradas reivindicações estudantis.
Apesar da legitimidade do protesto estudantil, a Polícia
Militar decidiu intervir. E o fêz à bala. Há um estudante (18
anos) morto, um outro (20 anos) em estado gravíssimo. Um
porteiro do INPS, que passava perto do Calabouço, também
tombou morto. Um cidadão que, na Rua General Justo,
assistia, da janela de seus escritório, ao selvagem atentado,
recebeu um tiro na bôca. Êste o saldo da noite de ontem. Não
agiu a Polícia Militar como força pública. Agiu como bando
de assassinos. Diante desta evidência cessa tôda discussão
sôbre se os estudantes tinham ou não razão - e tinham. E
cessam os debates porque fomos colocados ante uma cena de
selvageria que só pela sua própria brutalidade se explica.
Atirando contra jovens desarmados, atirando a êsmo,
ensandecida pelo desejo de oferecer à cidade apenas mais um
festival de sangue e morte, a Polícia Militar conseguiu coroar,
com êsse assassinato coletivo, a sua ação, inspirada na
violência e só na violência. Barbárie e covardia foram a
tônica bestial de sua ação, ontem. O ato de depredação do
restaurande pelos policiais, após a fuzilaria e a chacina, é o
atestado que a Polícia Militar passou a si própria, de que sua
intervenção não obedeceu a outro propósito senão o de
implantar o terror na Guanabara. Diante de tudo isto, depois
de tudo isto, é possível ainda discutir alguma coisa? Não, e
não. (...)"
Correio da Manhã, 29 de março de 1968
AS MANCHETES:
PM Mata Estudantes Durante Invasão ( Correio da Manhã )
Assassinato ( Correio da Manhã )
Assassinato Leva Estudantes A Greve Nacional ( Jornal do
Brasil )
Polícia Mata Estudante ( Diário de Notícias )
A Ordem Era Quebrar Tudo: PM Acabou Massacrando
Estudante
( Diário de Notícias )
Negrão Demite Superintendente Da Polícia E Promete Apurar
Tudo
PM Fuzila Estudante No Cabouço ( O Jornal )
Polícia Mata Estudante - Morte No Calabouço - Uma Patrulha
Da PM Abriu Fogo Contra Os Estudantes No Calabouço -
Com Um Tiro No Coração Morreu O Jovem Nélson Lima
Souto De 17 Anos - Assembléia Reunida - O Corpo Do
Jovem Foi Para A Assembléia Legislativa, Que Se Reuniu
Em Sessão Permanente - A Tensão Deu Origem A Sucessivos
Incidentes - Negão Pune Culpados - O Governador Negrão
De Lima Reuniu O Secretariado E Afirmou Que A
Tranqüilidade Será Imediatamente Restaurada E Os Culpados
Punidos
( Última Hora )
PM Mata Estudante A Bala Na Rua ( Última Hora )
Nélson Morreu Nos Braços Dos Companheiros ( Última
Hora )
Milhares De Pessoas No Funeral Do Estudante ( O Dia )
49) Passeata dos Cem Mil (1968)
"Por seis horas, mais de 100 mil cariocas protestaram contra o
Govêrno, apoiando o movimento dos estudantes que,
conforme o previsto, foi sem incidentes, com dezenas
discursos de universitários, operários, professôres e padres,
que definiram "o compromisso histórico da Igreja com o
povo".
Com perfeito dispositivo de segurança, os estudantes
garantiram a realização da passeata, sem depredações,
chegando a prender e soltar um policial que incitava a que
fôsse apedrejado o prédio do Conselho de Segurança
Nacional. A concentração começou às 10 horas, com os
primeiros grupos de padres e estudantes, sem qualquer
policiamento ostensivo.
Entre os primeiros oradores estava o representante da Igreja,
ressaltando que "Calar os moços é violentar nossas
consciências". Presentes cêrca de 150 padres, inclusive o
bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, que
acompanhou a passeata, durante os 32 minutos de travessia da
Av. Rio Branco. Na Candelária, falou Wladimir Palmeira,
lembrando o assassinato do secundarista edson Luís, "que um
dia será vingado".
A manifestação seguiu para o Palácio Tiradentes onde houve
novos discursos, inclusive de um representante dos favelados,
o mais aplaudido, ao afirmar que agora êles também "estavam
na luta". No local foi queimada uma bandeira dos Estados
Unidos, um policial tentou prender Wladimir Palmeira, mas
não ocorreram incidentes. Ficou decidido dar o prazo de uma
semana ao Govêrno, para atender às reivindicações, entre elas
a de liberdade para todos os presos políticos. Marcaram
também para hoje, encontro de tôda a liderança estudantil,
com o objetivo de analisar os resultados.
Informou a Secretaria de Segurança que ninguém foi detido,
mas o DOPS prendeu cinco estudantes que destribuiam
panfletos. A Polícia Federal pediu ao CONTEL que proibisse
a exibição de filmes e transmissão de reportagens em rádio e
televisão que "mostrem tumultos em que se envolveram os
estudantes", e o governador Negrão de Lima, cercado por 100
soldados da PM, acompanhou, através de informações, todo o
movimento, declarando-se satisfeito com os rumos da
manifestação. (...)"
"A Guanabara ofereceu ontem ao Govêrno edificante
exemplo de maturidade política. Estudantes, professôres,
intelectuais, artistas, jornalistas, clero, pais e populares
realizaram na mais absoluta ordem sua manifestação. O
governador Negrão de Lima autorizou. Recolheu aos quartéis
a Polícia Militar e o DOPS. Entregou a segurança da Cidade
aos próprios manifestantes. Não houve incidentes. A ordem, a
propriedade privada, os próprios federais e estaduais, a vida
das pessoas foram assegurados. A primeira conclusão a
retirar-se dos fatos é a de que a repressão policial contra
atividades políticas legítimas é que gera os conflitos.
Dir-se-á que houve discursos radicais. Mas êsses discursos
não incitaram à desordem. Além disso, proferi-los é direito
garantido pela liberdade de pensamento. O importante não é
constatá-los, mas saber se incitaram ou não ao tumulto.
Ontem, não incitaram. Não tiveram sequer o respaldo de
faixas com os nomes de Guevara, Mao Tsé-tung e Ho Chi
Min, comuns nas manifestações estudantis em todo o mundo.
Elas foram substituídas por algo mais expressivo, para a
inteligência política do Govêrno: o veemente entusiasmo dos
que, não tendo descido às ruas, aplaudiram do alto dos
edificios os manifestantes, emprestando-lhes decidida
solidariedade.
Essa solidariedade significa voto de repulsa popular, não só à
repressão policial dos últimos dias, como rejeição da
consciência nacional ao confinamento do País num sistema
institucional restritivo de suas liberdades, mesmo quando para
mostrar essa restrição não apela para a violência ostensiva."
Correio da Manhã, 27 de junho de 1968
AS MANCHETES:
Marcha Do Povo Reune Cem Mil ( Correio da Manhã )
Lição De Maturidade ( Correio da Manhã )
Negrão E Sizeno Satisfeitos Com A Manifestação
100 Mil Pessoas Na Passeata ( O Jornal )
Cem Mil Pessoas Clamaram Por Liberdade ( O Jornal )
Momento Grave ( Jornal do Brasil )
Sem Repressão Há Ordem ( Diário de Notícias )
Todo O Rio Foi À Rua Pedir Liberdade Para Os Estudantes
( Diário de Notícias )
Justiça Viu Subversivos Na Passeata ( Diário de Notícias )
Marcha Pacífica Reúne Mais De Cem Mil Na GB ( Tribuna
da Imprensa )
A Marcha Da Paz ( Tribuna da Imprensa )
50) Sequestro do Embaixador
Americano (1969)
"Tôda a Segurança Nacional encontra-se hoje mobilizada a
fim de descobrir o paradeiro do embaixador norte-americano
Elbrick, seqüestrado por terroristas, ontem à tarde, em
Botafogo. Inicialmente os seqüestradores entraram no próprio
carro diplomático - que é à prova de bala e não tem maçanetas
externas - onde esta a diplomata norte-americano e depois
obrigaram-no a passar para a Kombi, já distante do ponto em
que efetuaram a captura do embaixador.
Durante a tarde de ontem, à noite e esta madrugada, foi
grande a movimentação na Embaixada dos Estados Unidos,
pois até então não havia a menor notícia a respeito do
paradeiro de Elbrick.
Por sua vez, o governador Negrão de Lima, tão logo teve
conhecimento do fato, dirigiu-se ao Ministério do Exército
onde se manteve durante algum tempo em conferência com o
general Syseno Sarmento, num encontro que teve caráter
secreto, nada sendo divulgado. A essa hora já havia sido
mobilizado um sistema de segurança nunca antes utilizado,
pois dêle participam os Serviços Secretos do Exército,
Marinha, Aeronáutica e Serviço Nacional de Informações, o
Centro de Informações das três Fôrças, além da Polícia
Federal e do DOPS.
No local do seqüestro os terroristas deixaram dois
documentos: o primeiro, um manifesto que, segundo afirmam,
deveria ser divulgado para conhecimento do País inteiro; o
segundo, uma espécie de instrução de resgate, pois os seus
autores pretendem que 15 elementos que são partidários seus
e que estão presos, deverão ser conduzidos em segurança à
Argélia, Chile ou México. Afirmam os seqüestradores que
sòmente assim o embaixador Elbrick poderá ser libertado.
Caso contrário o representante norte-americano no Brasil
"será justiçado"."
Correio da Manhã, 5 de setembro de 1969
"Na tarde de ontem, no Itamarati, os ministros Magalhães
Pinto e Gama e Silva revelaram oficialmente que o Govêrno
brasileiro aceitava a exigência dos seqüestradores, decidindo
soltar todos os quinze presos políticos exigidos para o resgate
do embaixador Burke Elbrick.
Os titulares das Relações Exteriores e da Justiça distribuíram
nota oficial, afirmando "estarmos decididos a fazer o que
estiver a nosso alcance para evitar que se sacrifique mais uma
vida humana e sobretudo um representante diplomático".
Grande número de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas
estava aglomerado no Itamarati, quando os ministros
Magalhães Pinto e Gama e Silva anunciaram a solução,
depois de reunião, a portas fechadas, que durou três horas.
Dos quinze presos políticos, cuja libertação é o preço do
resgate do embaixador dos Estados Unidos, 8 são de São
Paulo, 5 da Guanabara, 1 de Pernambuco e outro de Minas
Gerais.
São os seguintes os presos a ser colocados em liberdade e
transportados para fora do País: Gregório Bezerra, Vladimir
Gracindo Soares Palmeira, José Ibraím, João Leonardo Silva
Rocha, Ivens Marchetti de Monte Lima, Flávio Aristides
Freitas Tavares, Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo, Mário
Roberto Galhardo Zaconato, Rolando Fratti, Ricardo Zaratini,
Onofre Pinto, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Agnaldo
Pacheco da Silva, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa e José
Dirceu de Oliveira e Silva.
Por intermédio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o
secretário de Estado norte-americano, Sr. William Rogers,
enviou mensagem ao chanceler Magalhães Pinto afirmando
que, "em meu nome e em nome do govêrno dos Estados
Unidos da América, desejo expressar a Vossa Excelência os
nossos agradecimentos pelas medidas que Vossa Excelência e
o Govêrno brasileiro têm tomado para conseguir a restituição
a salvo do embaixador Burke Elbrick".
Dom Umberto Manzzoni, Núncio Apostólico no Brasil,
entregou ontem carta ao ministro Magalhães Pinto,
manifestando "a profunda satisfação do Corpo Diplomático
ao constatar que o Govêrno faz de sua parte todos os esforços
possíveis para salvar a vida do ilustre colega, o senhor
embaixador dos Estados Unidos.
Permito-me acrescentar que, na vida dos povos,
especialmente nos tempos atuais, há casos, como o presente,
em que a concessão não é sinal de debilidade, nem acarreta
perda do próprios prestígio moral de quem a faz."
O embaixador Elbrick dirigiu, ontem, dois bilhetes à sua
espôsa, o primeiro dizendo estar bem e que poderiam ser
perigosas tentativas para localizá-lo, e o segundo
manifestando sua satisfação por ter o Govêrno brasileiro
aceitado as exigências dos seqüestradores, "pois significa que
serei libertado tão logo os 15 prisioneiros cheguem ao
México". o primeiro bilhete foi encontrado às 12h15min na
caixa de donativos da Igreja de Nossa Senhora da Glória, no
Largo do Machado, junto com um manifesto dos raptores, e o
segundo numa caixa de sugestões do Mercado Disco, no
Leblon.
Revelou-se aos primeiros minutos de hoje que já se
encontravam no Aeroporto do Galeão dois aviões preparados
para conduzir os presos liberados para o exterior, não se
sabendo ainda para qual país seriam levados (México, Chile
ou Argélia). Informou-se também que dois dos presos não
desejavam deixar o País: Ricardo Villas Boas de Sá Rêgo e
Maria Augusta Carneiro Ribeiro, que entretanto seriam
transportados de qualquer forma.
O México concedeu asilo aos 15 presos políticos brasileiros,
segundo informou ontem à noite a Secretaria de Relações
Exteriores. Em Santiago do Chile, porta-voz oficial do
ministério d6esse país anunciou, também, a disposição de seu
govêrno em conceder o asilo. Chegou-se a informar que
alguns dos presos chegariam ainda na noite de ontem a
Santiago. Disse o porta-voz que "realmente ignoramos
quantos virão, e quem são, mas o asilo é extensivo a todos os
que chegarem". (...)"
Correio da Manhã, 6 de setembro de 1969
"A posição do Govêrno diante do seqüestro do Embaixador
Charles Elbrick será divulgada hoje em nota oficial redigida
pelos Ministros Magalhães Pinto e Gama e Silva. A decisão
foi tomada ontem à noite em reunião com a Junta do
Govêrno, no Itamarati.
Nessa reunião se resolveu liberar a mensagem deixada pelos
seqüestradores, mas nada foi dito sôbre uma das exigências
para que o Embaixador dos Estados Unidos seja pôsto em
liberdade: a libertação de 15 presos políticos, ainda não
nomeados, que devem ser conduzidos ao México, Chile ou
Argélia como asilados.
O seqüestro do Sr.Charles Elbrick deu-se depois do almôço,
quando o diplomata voltava de sua residência oficial para a
sede da Embaixada, no Centro. Quando seu Cadillac prêto
dobrou da Rua São Clemente para a Rua Marques, em baixa
velocidade, foi fechado por um Volkswagen. Logo três
rapazes com revólveres renderam o motorista e o
Embaixador, forçando-os a seguir até a Rua Caio Melo
Franco, onde uma Kombi já os esperava. Cloroformizado, o
Embaixador Charles Elbrick foi mudado de carro, enquanto o
motorista, liberado, corria ao telefone mais próximo para
comunicar o seqüestro.
Tôda a operação dos seqüestradores, antes e logo depois da
abordagem ao Cadillac, foi acompanhada pela Sra. Elba
Souto maior, espôsa de um capitão-de-mar-e-guerra.
Desconfiada da movimentação, ela telefonara à Delegacia de
Furtos de Automóveis dando a placa dos carros; o policial
disse que os carros não eram roubados; pouco depois os
carros foram usados no seqüestro. E mais tarde confirmou-se
que pelo menos uma placa era roubada.
Ainda ontem o Itamarati divulgou nota oficial afirmando que
o seqüestro é "um ato de puro e símples terrorismo em
detrimento do prestígio internacional do Brasil." Nos Estados
Unidos, o Presidente Richard Nixon convocou o Secretário de
Estado, William Rogers, para uma conferência, assim que foi
informado do seqüestro do Embaixador Charles Burke
Elbrick."
"O Embaixador Elbrick dispensou pessoalmente há cêrca de
duas semanas a proteção especial que recebia de agentes da
Secretaria de Segurança, alegando que estava há pouco tempo
no Brasil e era pouco conhecido.
Apesar de a Embaixada americana ter seu próprio corpo de
segurança, a segurança pessoal do Embaixador era feita
também com a colaboração de agentes estaduais, até que êle
mesmo solicitasse a sua desmobilização. O Sr. Elbrick,
segundo funcionários da Embaixada, gostava de andar
sozinho, principalmente quando saía pelo centro da cidade
para ir ao barbeiro ou fazer compras.
Tôda a polícia carioca foi colocada de sobreaviso ontem a
noite, por ordem expressa do Secretário de Segurança,
General Luís de França Oliveira, através de telex enviado a
todos os órgãos policiais que se mantém mobilizados
intensamente na busca dos seqüestradores do Embaixador dos
Estados Unidos no Brasil.
Ao mesmo tempo, o Secretário de Segurança determinou a
mobilização dos 50 integrantes do Grupo Especial de
Operações, recentemente criado, para se integrar nas
investigações e busca dos raptores em cooperação com as
autoridades militares. Paralelamente, tôdas as radiopatrulhas e
o Departamento Motorizado da Secretaria recebeu instruções
para informar ao comando policial qualquer informação que
possa levar à prisão dos seqüestradores.
O General Luís de França Oliveira não quis comentar o rapto
do Embaixador Charles Elbrick, afirmando apenas que o caso
estava mais no âmbito policial, e que todo o organismo
policial do Estado sôb o seu contrôle, estava mobilizado para
a busca.
Por medida de segurança, 15 presos políticos que estavam no
DOPS foram removidos ontem à noite para a Polícia do
Exército. Policiais da Secretaria de Segurança acreditavam
que os seqüestradores tivessem se dirigido para São Paulo.
Tôdas as barreiras entre a Guanabara e o Estado do Rio estão
guardadas por policiais armados, conforme determinação
dada pelo diretor-geral do Departamento da Polícia Federal.
Mais de 4200 homens, em todo o país, e cêrca de 450 apenas
na Guanabara, com 120 viaturas mobilizadas e em
permanente contato pelo rádio - cuja estação receptora está no
4o andar do prédio 70 da Rua da Assembléia - foram
mobilizados poucos minutos depois que a Polícia Federal
recebeu a comunicação do seqüestro do Embaixador Burke
Elbrick, logo após às 15 horas. (...)"
Jornal do Brasil, 5 de setembro de 1969
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Dezembro - 1999
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