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CEFET-RS
Curso Técnico de Edificações
Módulo Geral 1
Compilação: Cristiane Salerno Schmitz
ÍNDICE
2
9.4 Classificações regionais __________________________________________ 45
3
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 – Perfil de solo residual de decomposição de gnaisse (Vargas, 1981) ______ 3
Figura 1.2 – Estrutura de uma camada de caulinita; (a) atômica, (b) simbólica_______ 7
Figura 1.3 – Estrutura simbólica de minerais com camada 2:1; (a) esmectita com duas
camadas de moléculas de água, (b) ilita _______________________________________ 8
Figura 1.4 – Exemplo de estruturas de solos sedimentares; (a) floculada em água
salgada, (b) floculada em água não salgada, (c) dispersa (Mitchel, 1976) ___________ 10
Figura 1.5 – Exemplo de estrutura de solo residual, mostrando micro e macroporos__ 10
Figura 2.1 – As fases do solo; (a) no estado natural, (b) separadas em volumes, (c) em
função do volume dos sólidos ______________________________________________ 11
Figura 2.2 – Esquema de determinação do volume do peso específico dos grãos _____ 13
Figura 3.1 – Exemplo de curva de distribuição granulométrica do solo ____________ 17
Figura 3.2 – Esquema representativo da sedimentação _________________________ 18
Figura 3.3 – Curvas granulométricas de alguns solos brasileiros _________________ 19
Figura 3.4 – Limites de Atterberg dos solos ___________________________________ 21
Figura 3.5 – Esquema do aparelho de Casagrande para determinação do LL _______ 21
Figura 4.1 – Exemplos de formato de grãos de areia ___________________________ 24
Figura 4.2 – Comparação de compacidades de duas areias com e=0,65 ____________ 25
Figura 5.1 – Resistência de argila sensitiva, indeformada e amolgada _____________ 27
Figura 5.2 – Comparação de consistências de duas argilas ______________________ 28
Figura 7.1 – Analogia mecânica para o processo de adensamento, segundo Terzaghi _ 32
Figura 7.2 – Camada de argila limitada em uma (a) e duas faces (b) por camada
drenante _______________________________________________________________ 33
Figura 8.1 – Esquemas referentes ao atrito entre dois corpos ____________________ 35
Figura 8.2 – Transmissão de forças entre partículas de areias e de argilas __________ 36
Figura 8.3 – Representação da envoltória de ruptura de Coulomb ________________ 37
Figura 9.1 – Granulometrias de areia bem graduada e mal graduada______________ 40
Figura 9.2 – Curvas granulométricas com diferentes coeficientes de curvatura ______ 41
Figura 9.3 – Carta de Plasticidade __________________________________________ 42
Figura 9.4 – Classificação dos solos finos no Sistema Rodoviário _________________ 44
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1 – Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos __________________ 6
Tabela 4.1 – Valores típicos de índices de vazios de areias _______________________ 25
Tabela 4.2 – Classificação das areias segundo a compacidade ____________________ 25
Tabela 5.1 – Consistência em função da resistência à compressão ________________ 26
Tabela 5.2 – Classificação das argilas quanto á sensitividade ____________________ 27
Tabela 5.3 – Estimativa da consistência pelo índice de consistência _______________ 29
Tabela 9.1 – Terminologia do Sistema Unificado ______________________________ 39
Tabela 9.2 – Esquema para classificação pelo Sistema Unificado _________________ 43
Tabela 9.3 – Esquema para classificação pelo Sistema Rodoviário ________________ 45
5
1. ORIGEM E NATUREZA DOS SOLOS
1
A Engenharia Geotécnica é uma arte que se aprimora pela experiência, pela
observação e análise do comportamento das obras, para o que é imprescindível atentar
para as peculiaridades dos solos com base no entendimento dos mecanismos de
comportamento, que constituem a essência da Mecânica dos Solos.
Os solos são constituídos por um conjunto de partículas com água (ou outro
líquido) e ar nos espaços intermediários. As partículas, de maneira geral encontram-se
livres para deslocar entre si. Em alguns casos, uma pequena cimentação pode ocorrer
entre elas, mas num grau extremamente mais baixo do que nos cristais de uma rocha
ou de um metal, ou nos agregados de um concreto. O comportamento dos solos
depende do movimento das partículas sólidas entre si e isto faz com que ele se afaste
do mecanismo dos sólidos idealizados na Mecânica dos Sólidos Deformáveis, na qual
se fundamenta a Mecânica das Estruturas geralmente consideradas na engenharia civil.
Mais que qualquer dos materiais tradicionalmente considerados nas estruturas, o
comportamento dos solos diverge daquele de um sólido deformável. A Mecânica dos
Solos poderia ser adequadamente incluída na Mecânica dos Sistemas Particulados
(Lambe e Witman, 1969).
2
1.2.2 Classificação dos solos pela sua origem
Os solos podem ser classificados em dois grandes grupos: solos residuais e solos
transportados.
3
Saprolitro ou solo saprolítico: solo que mantém a estrutura original da rocha-mater,
mas perdeu a consistência da rocha. Visualmente pode confundir-se com uma rocha
alterada, mas apresenta pequena resistência ao manuseio. É também chamado de solo
residual jovem ou solo de alteração de rocha.
Solos transportados são aqueles que foram levados ao seu local atual por alguns
agentes de transporte. As características dos solos são função do agente transportador.
Solos formados por ação da gravidade dão origem a solos coluvionares. Entre eles
estão os escorregamentos das escarpas da Serra do Mar, formando os tálus nos pés do
talude, massas de materiais muito diversos e sujeitos a movimentações de rastejo. Têm
sido também classificados como coluviões, solos superficiais do planalto brasileiro
depositados sobre solos residuais.
O transporte por geleiras dá origem aos drifts, muito freqüentes na Europa e nos
Estados Unidos, mas com pequena ocorrência no Brasil.
São chamados solos orgânicos àqueles que contém uma quantidade apreciável
de matéria decorrente de decomposição de origem vegetal ou animal, em vários
estágios de decomposição. Geralmente argilas ou areias finas, os solos orgânicos são de
fácil identificação, pela cor escura e pelo odor característico. A norma norte-americana
classifica como solo orgânico àquele que apresenta LL de uma amostra seca em estufa
menor do que 75% do LL de amostra natural sem secagem em estufa. O teor de
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matéria orgânica pode ser determinado pela secagem em mufla a 540°C.
5
Tabela 1.1 – Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos
Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos
argilo-minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com dimensão
inferior a 2 mm. Não só o reduzido tamanho mas, principalmente, a constituição
mineralógica faz com que estas partículas tenham um comportamento extremamente
diferenciado em relação ao dos grãos de silte e areia.
6
natureza (a caulinita, a ilita e a esmectita), que apresentam comportamentos bem distintos,
principalmente na presença de água.
Figura 1.2 – Estrutura de uma camada de caulinita; (a) atômica, (b) simbólica
7
Figura 1.3 – Estrutura simbólica de minerais com camada 2:1; (a) esmectita
com duas camadas de moléculas de água, (b) ilita
Para neutralizar as cargas negativas, existem cátions livres nos solos, por
exemplo, cálcio, Ca++, ou sódio, Na+, aderidos às partículas. Estes cátions atraem
camadas contíguas, mas com força relativamente pequena, o que não impede a entrada
de água entre as camadas. A liberdade de movimento das placas explica a elevada
capacidade de absorção de água de certas argilas, sua expansão quando em contato
com a água e sua contração considerável ao secar.
8
como nos transportados. Os fatores que determinam as propriedades dos solos
considerados na pedologia são: (1) a rocha matriz, (2) o clima e a vegetação, (3)
organismos vivos, (4) topografia, e (5) o tempo de exposição a estes fatores. Na
engenharia civil, as classificações pedológicas são utilizadas principalmente pelos
engenheiros rodoviários, que lidam com solos superficiais e que encontram úteis
correlações entre o comportamento de pavimentos e taludes com estas classificações.
1.3 Estrutura
9
As argilas sedimentares apresentam estruturas que dependem da salinidade da
água em que se formaram. Em águas salgadas, a estrutura é bastante aberta, embora
haja um relativo paralelismo entre as partículas. Estruturas floculadas em água não
salgada resultam da atração das cargas positivas das bordas com as cargas negativas das
faces das partículas. A Figura 1.4 ilustra esquematicamente estes tipos de estrutura. O
conhecimento das estruturas permite o entendimento de diversos fenômenos notados
no comportamento dos solos, como, por exemplo, a sensitividade das argilas.
10
2. O ESTADO DO SOLO
Num solo, só parte do volume total é ocupado pelas partículas sólidas, que se
acomodam formando uma estrutura. O volume restante costuma ser chamado de
vazios, embora esteja ocupado por água ou ar. Deve-se reconhecer, portanto,que o
solo é constituído de três fases: partículas sólidas,água e ar.
Figura 2.1 – As fases do solo; (a) no estado natural, (b) separadas em volumes,
(c) em função do volume dos sólidos
11
Para identificar o estado do solo, empregam-se índices que correlacionam os
pesos e os volumes das três fases. Estes índices são os seguintes (vide esquema da
Figura 2.1):
Umidade – Relação entre o peso da água e o peso dos sólidos. É expresso pela
letra h. Para sua determinação, pesa-se o solo no seu estado natural, seca-se em estufa a
105°C até constância e peso e pesa-se novamente. Tendo-se o peso das duas fases, a
umidade é calculada. É a operação mais freqüente em um laboratório de solos. Os
teores de umidade dependem do tipo de solo e situam-se geralmente entre 10 e 40%,
podendo ocorrer valores muito baixos (solos secos) ou muito altos (150% ou mais).
P
h = a × 100
Ps
V
e= v
Vs
V
n = v × 100
Vt
V
S = a × 100
Vv
Peso específico dos sólidos (ou dos grãos) – É uma característica dos sólidos.
Relação entre o peso das partículas sólidas e o seu volume. É expresso pelo símbolo γg.
P
γg = s
Vs
12
Figura 2.2 – Esquema de determinação do volume do peso específico dos
grãos
Vs = ( P p + Pa ) + ( Ps ) − ( P p + Ps + Pa ')
Ps
γg =
( P p + Pa ) + ( Ps ) − ( P p + Ps + Pa ')
O peso específico dos grãos dos solos varia pouco de solo para solo e, por si,
não permite identificar o solo em questão, mas é necessário para cálculos de outros
índices. Os valores situam-se em torno de 27 kN/m³, sendo este valor adotado quando
não se dispõe do valor específico para o solo em estudo. Grãos de quartzo (areia)
costumam apresentar pesos específicos de 26,5 kN/m³ e argilas, em virtude da
deposição de sais de ferro, valores até 30 kN/m³.
Peso específico natural – Relação entre o peso total do solo e seu volume
total. É expresso pelo símbolo γnat.
P
γ nat = t
Vt
13
A expressão “peso específico natural” é, algumas vezes, substituída só por
“peso específico” do solo. Tratando-se de compactação do solo, o peso específico
natural é denominado peso específico úmido.
O peso específico natural não varia muito entre os diferentes solos. Situa-se em
torno de 19 e 20 kN/m³ e, por isso, quando não conhecido, é estimado como igual a
20 kN/m³. Pode ser um pouco maior (21 kN/m³) ou menor (17 kN/m³). Caso
especiais, como as argilas orgânicas moles, podem apresentar pesos específicos de 14
kN/m³.
Peso específico aparente seco - Relação entre o peso dos sólidos e o volume
total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se viesse a ficar seco, se isto
pudesse ocorrer sem que houvesse variação de volume. Expresso pelo símbolo γs. Não
é determinado diretamente em laboratório, mas calculado a partir do peso específico
natural e da umidade. Situa-se entre 13 e 19 kN/m³ (4 a 5 kN/m³ no caso de argilas
orgânicas moles).
P
γs = s
Vt
γ sub = γ nat − γ a
14
(γnat). Um é adotado, o peso específico da água. Os outros são calculados a partir dos
determinados. Algumas correlações resultam diretamente da definição dos índices:
e γ g (1 + h ) γg γ g + e ⋅γ a
n= γ nat = γs = γ sat =
1+ e 1+ e 1+ e 1+ e
γ γg γ g ⋅h
γ s = nat e=
γ − 1 S=
1+ h s e ⋅γ a
Massas específicas
Deve ser notado, por outro lado, que no Sistema Técnico de unidades, que vem
sendo paulatinamente substituído pelo Sistema Internacional, as unidades de peso tem
denominação semelhante às das unidades de massa no Sistema Internacional. Por
exemplo, um decímetro cúbico de água tem uma massa de um quilograma (1kg) e um
peso de dez Newtons (10N) no Sistema Internacional e um peso de um quilograma
força no Sistema Técnico (1kgf).
Assim, ainda é comum que se diga no meio técnico, por exemplo, que a
“tensão” admissível aplicada numa sapata é de 5 t/m² (não é correto,mas se omite o
complemento força). Na realidade, a pressão aplicada é de 50kN/m², resultante da
ação da massa de 5 toneladas por metro quadrado.
15
A expressão densidade se refere á massa específica e densidade relativa é a
relação entre a densidade do material e a densidade da água a 4°C. Como esta é igual a
1 kg/dm³, resulta que a densidade relativa tem o mesmo valor que a massa específica
(expressa em g/cm³, kg/dm³ ou ton/m³), mas é adimensional. Como a relação entre o
peso específico de um material e o peso específico da água a 4°C é igual à relação das
massas específicas, é comum se estender o conceito de densidade relativa à relação dos
pesos e se adotar como peso específico a densidade relativa do material multiplicada
pelo peso específico da água.
16
3. IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS POR MEIO DE
ENSAIOS
Para identificação dos solos a partir das partículas que os constituem, são
empregados correntemente dois tipos de ensaios, a análise granulométrica e os índices
de consistência.
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abertura nominal da peneira é considerada como o “diâmetro” das partículas. Trata-se,
evidentemente, de um “diâmetro equivalente”, pois as partículas não são esféricas.
18
obtida por peneiramento. Novamente, neste caso, o que se determina é um diâmetro
equivalente, pois as partículas não são as esferas às quais se refere a Lei de Stokes.
Diâmetro equivalente da partícula é o diâmetro da esfera que sedimenta com
velocidade igual à da partícula.
Deve-se frisar, que uma das operações mais importantes é a separação de todas
as partículas, de forma que elas possam sedimentar isoladamente. Na situação natural, é
freqüente que as partículas estejam agregadas ou floculadas. Se estas aglomerações não
forem destruídas, determinar-se-ão os diâmetros dos flocos e não os das partículas
isoladas. Para esta desagregação, adiciona-se um produto químico, com ação
defloculante, deixa-se a amostra imersa em água por 24 horas e provoca-se uma
agitação mecânica padronizada. Mesmo quando se realiza só o ensaio de peneiramento,
esta preparação da amostra é necessária (destorroamento), pois, se não for feita, ficarão
retidas nas peneiras agregações de partículas muito mais finas.
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por exemplo, que um solo é uma argila quando o seu comportamento é o de um solo
argiloso, ainda que contenha partículas com diâmetros correspondentes às frações silte
e areia. Da mesma forma, uma areia é um solo cujo comportamento é ditado pelos
grãos arenosos que ele possui, embora partículas de outras frações possam estar
presentes.
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seguinte, tendo evaporado parte da água, os veículos deixam moldado o desenho de
seus pneus no material plástico em que se transformou o barro. Secando um pouco
mais, os pneus dos veículos já não penetram no solo depositado, mas sua passagem
provoca o desprendimento de pó.
21
interpolação dos resultados. O procedimento de ensaio é padronizado no Brasil pela
ABNT (Método NBR 6459).
Deve ser notado que a passagem de um estado para outro ocorre de forma
gradual, com a variação da umidade. A definição dos limites acima descrita é arbitrária.
Isto não diminui seu valor, pois os resultados são índices comparativos. A
padronização dos ensaios é que é importante, sendo, de fato, praticamente universal.
Na Tabela 3.1, são apresentados resultados típicos de alguns solos brasileiros.
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A argila presente num solo é considerada normal quando seu índice de atividade
se situa entre 0,75 e 1,25. Quando o índice é menor que 0,75, considera-se a argila
como inativa e, quando o índice é maior que 1,25, ela é considerada ativa.
Cc = 0, 009(LL -10)
Deve ser notado que os Índices de Attemberg são uma indicação do tipo de
partículas existentes no solo. Desta forma, eles representam bem os solos em que as
partículas ocorrem isoladamente, como é o caso dos solos transportados.
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4. ESTADO DAS AREIAS – COMPACIDADE
O estado em que se encontra uma areia pode ser expresso pelo seu índice de
vazios. Este dado isolado, entretanto, fornece pouca informação sobre o
comportamento da areia, pois, com o mesmo índice de vazios, uma areia pode estar
compactada e outra fofa. É necessário analisar o índice de vazios natural de uma areia
em confronto com os índices de vazios máximo e mínimo em que ela pode se
encontrar.
Vibrando-se uma areia dentro de um molde, ela ficará no seu estado mais
compacto possível. A ele corresponde o índice de vazios mínimo.
E - esfericidade A – arredondamento
Figura 4.1 – Exemplos de formato de grãos de areia
24
Tabela 4.1 – Valores típicos de índices de vazios de areias
Consideremos uma areia A com “e mínimo” igual a 0,6 e “e máximo” igual a 0,9 e uma
areia B com “e mínimo” igual a 0,4 e “e máximo” igual a 0,7 (ver figura 4.2). Se as duas
estiverem com e= 0,65, a areia A estará compacta e a areia B estará fofa.
O estado de uma areia, ou sua compacidade, pode ser expresso pelo índice de
vazios em que ele se encontra, em relação a estes valores externos, pelo índice de
compacidade relativa:
e −e
CR = max nat
emax − e
min
Classificação CR
Areia fofa abaixo de 0,33
Areia de compacidade média entre 0,33 e 0,66
Areia compacta acima de 0,66
25
5. ESTADO DAS ARGILAS – CONSISTÊNCIA
Quando se manuseia uma argila, percebe-se uma certa consistência, ao contrário
das areias que se desmancham facilmente. Por esta razão, o estado em que se encontra
uma argila costuma ser indicado pela resistência que ela apresenta.
A consistência das argilas pode ser quantificada por meio de um ensaio de compressão
simples, que consiste na ruptura por compressão de um corpo de prova de argila,
geralmente cilíndrico. A carga que leva o corpo de prova a ruptura, dividida pela área
deste corpo é denominada resistência à compressão simples da argila (a expressão
simples expressa que o corpo de prova não é confinado, procedimento muito
empregado em Mecânica dos Solos). Em função da resistência à compressão simples, a
consistência das argilas é expressa pelos termos apresentados na Tabela 5.1.
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Figura 5.1 – Resistência de argila sensitiva, indeformada e amolgada
Sensitividade Classificação
1 Insensitiva
1a2 Baixa sensibilidade
2a4 Média sensibilidade
4a8 Sensitiva
>8 Ultra-sensitiva (quick clay)
27
5.2 Índice de consistência
Quando uma argila se encontra remoldada, o seu estado pode ser expresso por
seu índice de vazios. Entretanto, como é muito comum que as argilas se encontrem
saturadas, e neste caso o índice de vazios depende diretamente da umidade, o estado
em que a argila se encontra costuma ser expresso pelo teor de umidade. Até porque a
umidade da argila é determinada diretamente e o seu índice de vazios é calculado a
partir desta, variando linearmente com ela.
Considere-se uma argila A que tenha LL= 80% e LP= 30%, e uma argila B que
tenha LL= 50% e LP= 25%. Quando a argila A estiver com h= 80% e a argila B
estiver com h= 50%, as duas estarão com aspectos semelhantes, com a consistência
que corresponde ao limite de liquidez (ver Figura 5.2).
Quando se manuseia uma argila e se avalia sua umidade, o que se percebe não é
propriamente o teor de umidade, mas a umidade relativa. No caso do exemplo da
Figura 5.2, quando “sentimos” que a argila A está tão úmida quanto a argila B, é
possível que a argila A esteja com 60% de umidade e a argila B com 40%.
LL - h
IC =
LL - LP
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Quando o teor de umidade é igual ao LL, IC=0. À medida que o teor de umidade
diminui, o IC aumenta, ficando maior do que 1 quando a umidade fica menor do que o
LP.
Tem sido proposto que a consistência das argilas seja estimada por meio do
índice de consistência, conforme a Tabela 5.3. Esta tabela apresenta valores
aproximados e é aplicável a solos remoldados e saturados. Seu valor é primordialmente
didático, no sentido de realçar a dependência da resistência ao teor de umidade e,
conseqüentemente, ao adensamento que a argila sofre pela sobrecarga que ela suporta.
O índice de consistência não tem significado quando aplicado a solos não saturados, pois
eles podem estar com elevado índice de vazios e baixa resistência e sua umidade ser baixa,
o que indicaria um índice de consistência alto.
29
6. IDENTIFICAÇÃO TÁTIL-VISUAL DOS SOLOS
Foi visto como os solos são classificados em função das partículas que os
constituem. Em geral, importa conhecer o estado em que o solo se encontra. À
classificação inicial, se acrescenta a informação correspondente à compacidade (das
areias) ou à consistência (das argilas).
Para que se possa sentir nos dedos a existência de grãos de areia, é necessário
que o solo seja umedecido, de forma que os torrões de argila se desmanchem. Os grãos
de areia, mesmo os menores, podem ser sentidos pelo tato no manuseio.
30
no entorno do pé, quando nela se pisa no trecho saturado bem junto ao mar). No caso
de argilas, o impacto das mãos não provoca o aparecimento de água.
c) Ductilidade – Tentando moldar um solo com umidade em torno do limite
de plasticidade nas próprias mãos, nota-se que as argilas apresentam-se mais resistentes
quando nesta umidade do que os siltes.
d) Velocidade de secagem – A umidade que se sente de um solo é uma
indicação relativa ao LL e LP do solo. Secar um solo na mão do LL até o LP, por
exemplo, é tanto mais rápido quanto menor o intervalo entre os dois limites, ou seja, o
IP do solo.
31
7. COMPRESSIBILIDADE
7.1 Introdução
32
O objeto de estudo é aquele em que uma camada de argila se encontra limitada,
em uma ou duas faces (Figura 7.2 (a) e (b), respectivamente), por uma camada
drenante. Nesse caso, que é o comum, e por isso de interesse prático, podemos
considerar o processo como essencialmente unidirecional.
(a) (b)
Figura 7.2 – Camada de argila limitada em uma (a) e duas faces (b) por camada
drenante
33
8 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO
8.1 Atrito
T = N ⋅ tan ϕ
sendo ϕ, chamado ângulo de atrito, o ângulo formado pela resultante das duas
forças com a força normal.
O ângulo de atrito pode ser entendido, também, como o ângulo máximo que a
força transmitida pelo corpo à superfície pode fazer com a normal ao plano de contato
sem que ocorra deslizamento. Atingido este ângulo, a componente tangencial é maior
do que a resistência ao deslizamento, que depende da componente normal, como
esquematizado na Figura 8.1 (b).
34
resistência ao deslizamento é diretamente proporcional à tensão normal e pode ser
representada por uma linha reta, como na figura 8.1 (d).
Existe também uma diferença entre as forças transmitidas nos contatos entre os
grãos de areia e os grãos de argila. Nos contatos entre os grãos de areia, geralmente as
forças transmitidas são suficientemente grandes para expulsar a água da superfície, de
tal forma que os contatos ocorrem geralmente entre os dois minerais.
35
Figura 8.2 – Transmissão de forças entre partículas de areias e de argilas
8.2 Coesão
A coesão real deve ser bem diferenciada da coesão aparente. Esta, a coesão
aparente, é uma parcela da resistência ao cisalhamento de solos úmidos, não saturados,
devida à tensão entre partículas resultante da pressão capilar da água. A coesão
aparente é, na realidade, um fenômeno de atrito, onde a tensão normal que a determina
é conseqüente da pressão capilar. Saturando-se o solo, esta parcela da resistência
desaparece, donde provém o nome de aparente. Embora mais visível nas areias, onde é
clássico o exemplo das esculturas de areias feitas nas praias, é nos solos argilosos que a
coesão aparente assume os maiores valores.
O fenômeno físico de coesão também não deve ser confundido com a coesão
correspondente a uma equação de resistência ao cisalhamento. Embora leve o mesmo
nome, indica simplesmente o coeficiente linear de uma equação de resistência válida
para uma faixa de tensões mais elevada e não para tensão normal nula ou próxima de
zero.
36
A coesão correspondente a uma equação de resistência ao cisalhamento pode
ser vista no gráfico da Figura 8.3. A curva pode ser representada pela equação
τ = c + f ⋅σ
37
9. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS
38
Existem diversas formas de classificar os solos, como pela sua origem, pela sua
evolução, pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento
dos vazios. Os sistemas baseados no tipo e no comportamento das partículas que
constituem os solos são os mais conhecidos na engenharia de solos.
G pedregulho
S Areia
M Silte
C argila
O solo orgânico
W bem graduado
P mal graduado
H alta compressibilidade
L baixa compressibilidade
Pt Turfas
39
considerado como solo de granulação grosseira, G ou S. Se for superior a 50, o solo
será considerado de granulação fina, M, C ou O.
Solos granulares
D60
CNU =
D10
40
onde “D60” é o diâmetro abaixo do qual se situam 60% em peso das partículas
e, analogamente, “D10” é o diâmetro que, na curva granulométrica, corresponde
`porcentagem que passa igual a 10%. O “D10” é também referido como “diâmetro
efetivo do solo” denominação que se origina da boa correlação entre ele e a
permeabilidade dos solos, verificada experimentalmente.
Quanto maior o coeficiente de não uniformidade, mais bem graduada é a areia. Areias
com CNU menor do que 2 são chamadas de areias uniformes.
( D30 ) 2
CC =
D10 ⋅ D60
41
serão identificados secundariamente como argilosos (CG ou SG) ou siltosos (GM ou
SM). O que determinará esta classificação será o posicionamento do ponto
representativo dos índices de consistência na Carta de Plasticidade, conforme se verá
adiante.
Quando a fração fina do solo é predominante, ele será classificado como silte
(M), argila (C) ou solo orgânico (O), não em função da porcentagem das frações
granulométricas silte ou argila, pois como foi visto anteriormente, o que determina o
comportamento argiloso do solo não é só o teor de argila, mas também a sua atividade.
São os índices de consistência que melhor indicam o comportamento argiloso.
42
Para a classificação destes solos, basta a localização do ponto correspondente ao
par de valores IP e LL na Carta de Plasticidade. Os solos orgânicos se distinguem dos
siltes pelo seu aspecto visual, pois se apresentam com uma coloração escura típica
(marrom escura, cinza escuro ou preto).
O Sistema considera ainda a classificação de turfa (Pt), que são os solos muito
orgânicos onde a presença de fibras vegetais em decomposição parcial é
preponderante.
43
9.3 Sistema Rodoviário de Classificação
A-1a – Solos grossos, com menos de 50% passando na peneira nº 10 (2,0 mm),
menos de 30% passando na peneira nº 40 (0,42 mm) e menos de 15%passando na
peneira nº 200. O IP dos finos deve ser menor do que 6. Correspondem,
aproximadamente, aos pedregulhos bem graduados, GW, do Sistema Unificado.
A-1b – Solos grossos, com menos de 50% passando pela peneira nº 40 e menos
de 25% na peneira nº200, também com IP menor que 6. Corresponde à areia bem
graduada, SW.
44
Os solos finos, a exemplo do Sistema Unificado, são subdivididos só em função dos
índices, de acordo com a Figura 9.4. O que distingue um solo A-4 de um solo A-2-4 é
só a porcentagem de finos.
45
modo geral, eles seguem uma maneira informal de classificação dos solos, bem
regional, que pode ter tido origem nestes sistemas.
46
NOTA
Esta apostila é uma compilação do livro do Professor Carlos de Souza Pinto, da Escola
Politécnica da USP, adaptada ao escopo da disciplina de Mecânica de Solos do Módulo
Geral 1 do Curso de Edificações do CEFET-RS. Foram introduzidas ainda algumas
citações pertinentes do livro de autoria de Homero Pinto Caputo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PINTO, Carlos de Souza. Curso Básico de Mecânica dos Solos, em 16 Aulas. 1 ed. São
Paulo: Oficina de Textos, 2000. 247 p.
CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. 6 ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos Editora, 1988. 234 p.
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