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Índice
Página

1 Introdução ..................................................................................................... 2

2 Indicadores da qualidade do solo ............................................................... 3

3 Degradação de solos .................................................................................... 4


3.1 Conceitos básicos ..............................................................................................5
3.2 Impacto da degradação do solo .........................................................................8
3.3 Interdependência Solo-Vegetação .....................................................................9
4 Degradação do solo pela erosão acelerada ............................................. 11
4.1 Mecânica da erosão pela água .........................................................................11
4.2 Tipos de erosão do solo ...................................................................................14
4.3 Deposição do material erodido ........................................................................15
4.4 Tipos de danos provocados pela erosão do solo..............................................15
5 Recuperação de solos ................................................................................ 18
5.1 Conceitos básicos ............................................................................................19
5.2 Bases para melhorar sistemas de cultivo tradicionais .....................................23
6 Prevenção e recuperação da degradação química de solos .................. 26
6.1 Prevenção da degradação química de solos.....................................................26
6.2 Princípios de recuperação da degradação química de solos ............................27
7 Sistemas de controle da erosão do solo .................................................. 29
7.1 Coberturas vegetativas.....................................................................................29
7.2 Controle por drenagem superficial ..................................................................35
7.3 Recuperação de solos degradados por voçorocas............................................36
8 Reflorestamento.......................................................................................... 38

9 Erosão do solo e a agricultura................................................................... 39


9.1 Alterações no solo provocadas pela erosão .....................................................39
9.2 Relação entre a erosão do solo e a produtividade das culturas........................42
9.3 Conclusões.......................................................................................................47
9.4 Bibliografia......................................................................................................48
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1 Introdução
O solo é fundamental para a sustentabilidade e produtividade de ecossistemas
naturais e agrícolas. A qualidade do solo é um conceito desenvolvido para caracterizar
o uso e a saúde do solo. Uma definição geral da qualidade do solo é a aptidão que um
solo tem para um uso específico.
Recentemente a preocupação da comunidade científica e agrária tem sido
focalizada na sustentabilidade do uso do solo, baseados no fato de que a qualidade do
solo pode estar declinando. Utiliza-se o conceito sustentável para dizer que um uso ou
o manejo do solo pode manter a qualidade de vida do homem ao longo do tempo. O
recurso terra (do qual o solo é um dos seus componentes) é finito, frágil e não
renovável. Somente 22% (3,26 bilhões de ha) do total das terras do planeta são
viáveis para cultivo e atualmente somente 3% (450 milhões de ha) apresentam uma
alta capacidade de produção agrícola. Existe atualmente uma preocupação global
devido ao fato que o solo é finito e que alguns dos seus componentes não podem ser
renovados a curto prazo, principalmente quando se observam as condições nos quais
se encontram os solos agrícolas e o meio ambiente. Estas preocupações incluem a
perda de solo pela erosão, manutenção da produtividade agrícola e sustentabilidade
do sistema, proteção de áreas naturais, e o efeito adverso da contaminação de solos
sobre a saúde humana. Desta forma os objetivos da determinação da qualidade do
solo procuram proteger o correto funcionamento dos ecossistemas.
Para uma correta avaliação da qualidade do solo deve-se chegar a um acordo
de porque a qualidade do solo é importante, como é definido, como deve ser medido,
e como responder as medidas com práticas de manejo, recuperação e conservação.
Devido ao fato de que a determinação da qualidade do solo requere um análise de
vários fatores que intervem no sistema e porque ainda tem-se muito a aprender do
solo, estes temas ainda não são facilmente abordados.
Definições da qualidade do solo tem sido baseados no uso do solo pelo homem
e nas funções do solo dentro de ecossistemas naturais e agrícolas. Para muitos
produtores e pesquisadores, produtividade é análoga a qualidade do solo. Mas, a
manutenção da qualidade do solo é importante também para saúde do homem, já que,
o ar, a água superficial e sub-superficial consumida pelo homem podem ser
adversamente afetados pelo mal manejo e contaminação dos solos. Contaminação
pode incluir metais pesados, elementos tóxicos, excesso de nutrientes, elementos
orgânicos voláteis e não voláteis, explosivos, isótopos radioativos e fibras inaláveis.
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A qualidade do solo não é determinada por um único processo ou propriedade


de conservação ou de recuperação, pelo fato que o solo tem propriedades dinâmicas e
estáticas que variam espacialmente e no tempo. Cada vez mais, discussões atuais
sobre a qualidade do solo incluem o custo ambiental de produção e o potencial de
recuperação de solos degradados.
Os objetivos de avaliar a qualidade do solo em sistemas agrícolas podem ser
diferentes que a avaliação da qualidade do solo em sistemas naturais. No contexto
agrícola, a qualidade do solo pode era “manejada”, para maximizar a produção sem
efeitos adversos sobre o ambiente, enquanto que em ecossistemas naturais, a
qualidade do solo pode ser “observada”, como sendo um grupo de valores nos quais
mudanças futuras no sistema podem ser comparadas.
Visando a manutenção, conservação e recuperação da qualidade do solo, o
objetivo desta apostila e fazer uma análise dos principais fatores e processos que
levam à degradação de solos e como estes efeitos deletérios sobre a diminuição da
qualidade do solo podem ser revertidos.

2 Indicadores da qualidade do solo


Para proceder a uma definição para a medição da qualidade do solo, um
conjunto mínimo de características do solo que representam a qualidade do solo deve
ser selecionado e quantificado. Muitas propriedades físicas, químicas e biológicas tem
sido sugeridas para separar solos com qualidades diferentes (Tabela 1). Estes incluem
propriedades desejáveis e indesejáveis. Características desejáveis podem ser a
presença de propriedades que beneficiam a produtividade agrícola e o tamponamento
ambiental e/ou outras importantes funções do solo, ou a ausência de uma propriedade
que é prejudicial para estas funções. Por exemplo, a ausência de contaminantes é
uma característica importante da qualidade do solo. Na seleção das características, é
necessário reconhecer que algumas propriedades do solo são estáticas, no sentido
que sofrem mudanças muito lentas no tempo, e que outras são dinâmicas. Além disto,
a variabilidade espacial e temporal das propriedades do solo deve ser considerada
quando selecionando propriedades para avaliar a qualidade do solo.
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Tabela 1: Indicadores físicos, químicos e biológicos da qualidade do solo.


Indicadores da qualidade do solo
Físicos Químicos Biológicos
Aereação Porcentagem de saturação por Carbono orgânico
bases (V%)
Estabilidade estrutural Capacidade de troca catiônica Biomassa microbiana
(CTC) CeN
Densidade do solo Disponibilidade de contaminantes Biomassa total
Mineralogia de argila Concentração de contaminantes Bacteriana
Cor Mobilidade de contaminantes Fungos
Consistência Presença de contaminanates
Profundidade de desenvolvimento Condutividade elétrica Potencial de N minerazável
do sistema radicular
Condutividade hidráulica Porcentagem de saturação por Respiração do solo
sódio
Taxa de difusão de oxigênio Taxas de ciclagem de nutrientes Enzimas
Granulometria pH Dehidrogenase
Resistência a penetração Disponibilidade de nutrientes para Fosfatase
as plantas Arlisulfatase
Conectividade de poros Teor de nutrientes para as plantas
Distribuição do tamanho de poros Relação de adsorção de sódio Biomassa C/carbono orgânico
(RAS) total
Friabilidade Respiração/biomassa
Estrutura e agregação Identificação da comunidade
microbiana
Temperatura Utilização de substrato
Porosidade total Analise de ácidos graxos
Capacidade de retenção de água Análise de ácidos nucleicos

3 Degradação de solos
A degradação do solo é um dos maiores desafios da humanidade. Apesar do
problema ser tão velho como a agricultura, a sua extensão e impacto na qualidade de
vida do homem e meio ambiente são hoje em dia maiores que nunca. É uma
preocupação importante por duas razões. Primeiro, a degradação de solos afeta a
capacidade produtiva de um ecossistema. Segundo, afeta o clima do planeta através
de alterações no equilíbrio da água e da energia e modificações nos ciclos de carbono,
nitrogênio, enxofre e outros elementos. Através do impacto na produtividade agrícola e
no meio ambiente, a degradação do solo provoca instabilidade política e social,
aumenta a taxa de desmatamento, intensifica o uso de terras marginais e frágeis,
acelera a enxurrada e a erosão do solo, aumenta a poluição de cursos de água, e a
emissão de gases que provocam o efeito estufa.
Degradação do solo é definida como o declínio da qualidade do solo através do
uso incorreto pelo homem. É um termo amplo e vago, no entanto se refere ao declínio
da produtividade através de mudanças adversas no status dos nutrientes, atributos
estruturais, e concentração de eletrólitos e elementos tóxicos. Em outras palavras, se
refere à diminuição da capacidade atual ou potencial do solo para produzir bens ou
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serviços quantitativos ou qualitativos como resultado de um ou mais processos


degradativos.

3.1 Conceitos básicos


A degradação de solos implica na diminuição da sua capacidade produtiva
através do uso intensivo e indiscriminado que leva a mudanças adversas nas
propriedades do solo. Os processos que provocam a degradação de solos podem ser
físicos, químicos, ou biológicos (Figura 1). Importante entre estes fatores está o
declínio da estrutura do solo, compactação, redução da capacidade de infiltração,
depleção de matéria orgânica e redução da biomassa de carbono, desequilíbrio de
sais, e o aumento de patógenos do solo. A taxa de degradação do solo por diferentes
processos esta acentuada pela má utilização da terra e por métodos de manejo
inviáveis do solo e das culturas.

Degradação Física: se refere à deterioração das propriedades físicas do solo. Dentro


deste processo estão incluídos:
a) Compactação e “Hardsetting”: o adensamento do solo é causado pela
eliminação da porosidade estrutural. Aumento na densidade do solo pode ser
causado por fatores naturais ou antrópicos. “Hardsetting” é um problema em
solos com argilas de atividade baixa e solos que contêm baixos teores de
matéria orgânica. Solos susceptíveis a compactação e “hardsetting” são
susceptíveis a erosão e enxurradas aceleradas.
b) Erosão do solo e sedimentação: erosão por água ou vento das camadas
superficiais do solo no mundo inteiro excede a formação do solo em taxas
alarmantes. A desertificação, ou seja a expansão de condições desérticas, é
uma conseqüência direta da erosão pelo vento e salinização. O material
transportado pela erosão normalmente contém de duas a cinco vezes mais
matéria orgânica e frações coloidais que o solo original, causando severos
efeitos intrínsecos e extrínsecos.
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Figura 1: Processos de degradação de solos

Mudanças adversas nas propriedades do solo devido a

Processos físicos Processos químicos Processos biologicos

Declínio na estrutura do solo Adensamento Regime hipo-termal adverso Lixiviação Acidificação Desequilíbrio de elementos Depleção de matéria orgânica Redução na fauna do solo Incremento de patógenos do solo

- Encrostamento - Compactação - Perda de cátions - Redução de pH - Salinização - Emissão de gases de efeito - Grande incremento de
- Temperatura supra/sub optimal - Redução na fauna de solo
- Compactação - Hardsetting - Aumento de Al - Alcalinização
- Anaerobiose - Eutrofização estufa favorável nematoides parasítos
- Molhamento - Enxurrada excessiva - Diminuição da saturação por bases - Toxicidade
- Seca - Depleção da fertilidade do solo - Diminuição na biomassa - Adensamento
- Seca - Erosão - Deficiência dos elementos essenciais de carbono
- Erosão em sulcos e entre sulcos - Lixiviação
- Laterização
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c) Laterização: laterita é uma camada dura de ferro e alumínio endurecida.


Laterização se refere à dessecação e endurecimento de material plíntico
quando exposto e dessecado.

Degradação biológica: redução do conteúdo de matéria orgânica, declínio da


biomassa de carbono, e a diminuição da atividade e diversidade da fauna do solo são
conseqüências da degradação biológica dos solos. Devido às temperaturas elevadas
do solo e do ar, a degradação biológica é mais severa nos trópicos que nas zonas
temperadas. A degradação biológica pode ser causada também pelo uso
indiscriminado de agroquímicos e poluentes do solo.

Degradação química: a depleção de nutrientes é a maior causa da degradação


química. Além disto, a excessiva lixiviação de cátions em solos com argilas de
atividade baixa causa a diminuição do pH do solo e a redução da saturação por bases.
A degradação química também é causada pelo aumento de alguns elementos tóxicos
e desequilíbrio dos elementos, que prejudicam o crescimento das plantas.

Existem vários fatores que iniciam vários dos processos de degradação. Estes
fatores podem ser naturais ou antropogênicos (Figura 2). Fatores naturais incluem o
clima, a vegetação, material de origem, relevo e hidrologia. Entre os fatores
antropogênicos importantes encontramos a população, o uso da terra, e o
desenvolvimento de estradas, canais, e o complexo industrial.

Fatores de degradação de solos

Naturais Antropogênicos

Clima Hidrologia Terreno Material Vegetação População Uso da terra Logística Disposição
de origem de lixo

- Chuva - Padrões de - Declividade - Composição - Composição de - Densidade - Arável - Caminhos e - Lixo industrial
- Evapotranspiração drenagem - Comprimento de química da rocha espécies - Estilo de vida - Culturas perenes cursos de água - Lixo urbano
- Regime de - Fluxo superficial rampa - Propriedades - Densidade de - Pastagens - Complexos - Resíduos agrícolas
temperatura - Profundidade ao - Densidade de físicas arvores - Urbanização industriais
lençol freático drenagem - Vegetação climax - Manejo do solo
- Natureza do
aquífero

Figura 2: Fatores responsáveis pela degradação de solos

A falta de terra e a pressão demográfica são forças responsáveis pela


utilização de áreas marginais para o cultivo, provocando problemas de degradação
severa do solo e do meio ambiente. Pequenos agricultores e trabalhadores sem terra
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são obrigados a cultivar terras que são muito declivosas, com solos rasos ou muitos
secos para o cultivo, utilizando métodos que são ecologicamente inviáveis. Alguns
solos pobres e intensamente intemperizados estão sendo cultivados sem período de
descanso requerido para a recuperação da fertilidade do solo e o melhoramento da
estrutura do solo. Consequentemente, instala-se a degradação do solo resultando na
ocorrência de erosão laminar e em voçorocas e a infestação de ervas daninhas e
pragas.
Os efeitos destes fatores podem ser acentuados por várias causas naturais e
antropogênicas (Figura 3). As principais causas da degradação do solo são o
desmatamento, métodos de manejo, sistemas de cultivo, uso de agroquímicos, etc.
Fatores sociais e políticos também têm um papel importante.

Causas da degradação de solos

Natural Antropogênico

- Profundidade do solo Sistemas Sócio-político


- Minerais de argila de cultivo
- Textura

- Métodos de cultivo - Tenencia da terra


- Rotações - Direitos de propriedade
- Agroquímicos - Legislação
- Práticas de controle de
erosão
- Medidas de controle de
pragas

Figura 3: Causas da degradação do solo

3.2 Impacto da degradação do solo


Um impacto econômico importante da degradação do solo é sobre a
produtividade agrícola. O solo supre nutrientes essenciais e água, e a degradação da
capacidade e intensidade de suprimento de água e nutrientes afetam o crescimento
das plantas. No entanto, as conseqüências ambientais da degradação do solo não tem
tido a devida importância que merecem pela sociedade. Apesar do reconhecimento
por alguns cientistas das conseqüências sobre o aquecimento global pela queima de
combustíveis fosseis, as emissões de CO2 e outros gases que provocam o efeito
estufa através da degradação do solo, tem sido longamente ignorado. Gases
radiativamente ativos relacionados com o efeito estufa são CO2, CH4, CO, N20 e NO.
A matéria orgânica do solo é um reservatório ativo no ciclo global do carbono.
No entanto, existe pouca informação do seu tamanho e a taxa de ciclagem relacionado
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com a intensificação de alguns sistemas de cultivo. Uma resposta imediata ao


desmatamento, cultivo intenso e pastoreio, especialmente nos trópicos, é a rápida
mineralização da matéria orgânica do solo. Deterioração estrutural e erosão acelerada
que seguem resultam no transporte de carbono e nutrientes para fora do ecossistema.
Quando estes nutrientes chegam aos cursos de água, eles causam poluição e
eutrofização. Carbono relacionado com os sedimentos é rapidamente liberado para a
atmosfera como CO2.

3.3 Interdependência Solo-Vegetação


Terras degradadas podem sofrer destruição das coberturas vegetativas
naturais, redução de produtividades agrícolas, diminuição na produção de animais, e
simplificação de ecossistemas naturais com ou sem o acompanhamento da
degradação do recurso solo. Em 2 bilhões dos 5 bilhões de ha de terras degradadas
no mundo, a degradação do solo é um componente maior do problema (Figura 4). Em
alguns casos a degradação de solos acontece principalmente devido à deterioração de
propriedades físicas pela compactação ou pelo encrostamento superficial, ou pela
deterioração das propriedades químicas pela acidificação ou acumulação de sal. Mas,
a maior parte (85%) da degradação do solo ocorre pela erosão - a ação destrutiva da
água e do vento.
Os dois componentes principais da degradação das terras, o dano à flora e a
deterioração do solo, não são interdependentes. Mas por outro lado, eles interagem
causando uma espiral descendente de deterioração acelerada (Figura 5). Devido ao
pastoreio excessivo, desmatamento, ou práticas agrícolas inadequadas, a vegetação
se torna menos densa e vigorosa e fornece ao solo uma menor proteção contra a
erosão. Ao mesmo tempo, o solo é degradado por processos como a erosão e o
esgotamento de nutrientes, e torna-se menos apto para manter uma cobertura vegetal
protetora. A degradação do solo enfraquece a vegetação pelos efeitos sobre a
enxurrada e a infiltração da água da chuva. Com uma perda de até 50 a 60% da chuva
na forma de enxurrada, a escassez de água em solos erodidos pode provocar um
sério impedimento para o crescimento das plantas. Melhorias no manejo do solo e da
vegetação devem andar juntos para preservar o potencial produtivo da terra, ou
inclusive ser restaurado se quisermos subir em lugar de descer na espiral.
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Figura 4: Degradação do solo como parte da degradação de terras global provocadas


pelo sobrepastoreio, desmatamento, práticas agrícolas incorretas, sobre-explotação de
madeiras para combustível, e outras atividades humanas
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Figura 5: Espiral descendente da degradação de terras resultado da retroalimentação


entre a degradação da vegetação e do solo.

4 Degradação do solo pela erosão acelerada

4.1 Mecânica da erosão pela água


A erosão pela água é fundamentalmente um processo de três etapas (Figura
6):
1. Desprendimento das partículas da massa do solo
2. Transporte das partículas separadas morro abaixo por flutuação, rolamento e
salpicamento.
3. Deposição das partículas transportadas em algum local mais baixo do
relevo.
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Em superfícies planas, o impacto das gotas de água causa a maior parte do


desprendimento das partículas. Onde a água encontra-se concentrada em sulcos, a
ação cortante do fluxo turbulento da água separa as partículas do solo.

Figura 6: O processo de três etapas da erosão do solo pela água. (a) Gota de água
acelerando em direção ao solo, (b) Salpicamento resultante do impacto da
gota contra um solo descoberto e úmido, e (c) A gota de água afeta o
desprendimento de partículas de solo, que são transportadas e
eventualmente depositadas em locais a jusante.

4.1.1 Influência das gotas da chuva


Uma gota de chuva acelera até atingir a sua velocidade terminal – a velocidade
na qual a fricção entre a gota e o ar equilibra a força de gravidade. Gotas maiores
caem mais rápido, alcançando uma velocidade terminal de aproximadamente 30km/h,
ou 2 ou 3 vezes mais rápido do que uma pessoa pode correr. Quando as gotas de
chuva colidem contra o solo com uma força explosiva, elas transferem a sua energia
cinética às partículas do solo (Figura 6).
O impacto das gotas de chuva provoca três efeitos importantes: (1) desprende
as partículas do solo; (2) destrui a granulação; e (3) o salpicamento, em algumas
condições, causa um transporte importante de solo. Tão grande é a força exercida
pelo impacto das gotas de chuva que eles não só soltam os agregados dos solos, mas
também podem quebrar os agregados. À medida que o material dispersado seca
desenvolve-se uma crosta dura, que provocará o impedimento da emergência das
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plântulas e favorecerá a formação de enxurrada a partir de precipitações


subsequentes.

4.1.2 Transporte do solo


Efeitos do salpicamento. Quando as gotas de chuva colidem com uma
superfície úmida de solo, elas separam as partículas e as enviam voando em todas as
direções (Figura). Num solo solto que apresenta maior facilidade para a separação das
partículas, uma chuva forte pode salpicar até 225Mg/ha de solo, algumas das
partículas salpicando até uma altura de 0,70m e uma distância de 2m na horizontal. Se
o terreno é ondulado ou se o vento esta soprando o salpicamento pode ser maior
numa direção, levando a um movimento neto de solo considerável.
Papel da água em movimento. A enxurrada é um dos fatores principais no
processo de transporte de partículas do solo. Se a chuva excede a capacidade de
infiltração do solo, a água começa a acumular em superfície e a se movimentar morro
abaixo. As partículas de solo desprendidas pelo impacto da gota de chuva vão cair
dentro da água fluindo na superfície, que as carregará morro abaixo. Enquanto a água
flui como uma lâmina fina (fluxo laminar), ela tem pouca força para separar o solo. Não
obstante, na maioria dos casos a água é rapidamente canalizada pelas irregularidades
do terreno e aumenta tanto em velocidade como em turbulência. O fluxo em sulcos
não só carrega partículas de solo salpicadas pelas gotas da chuva, mas começa a
separar partículas a medida que corta dentro da massa do solo. Isto é um processo
contínuo, já que a medida que o sulco se aprofunda, ele é preenchido por volumes
maiores de água. Tão familiar é a força da enxurrada de cortar e carregar solo que o
público atribui a este processo toda a culpa dos danos provocados por uma chuva
forte.
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4.2 Tipos de erosão do solo


Três tipos de erosão do solo são geralmente reconhecidos: (1) laminar, (2)
sulcos, e (3) voçorocas (Figura 7). Na erosão laminar o solo é removido mais ou
menos uniformemente, com exceção de pequenas colunas que podem ficar se o solo
é pedregoso. Não obstante, a medida que o fluxo laminar se concentra em pequenos

Figura 7: Os três principais tipos de erosão do solo.

canais a erosão em sulcos se torna dominante. Sulcos são dominantes em terrenos


nus recentemente plantados ou em pousio. Sulcos são canais de pequeno tamanho
que podem ser fechados pelas práticas culturais normais, mas o dano já está feito – o
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solo esta perdido. Quando a erosão laminar ocorre no espaço entre os sulcos chama-
se erosão entressulcos.
Onde o volume de enxurrada é mais concentrado, o fluxo de água corta mais
profundamente dentro do solo, aprofundando e coalescendo os sulcos em canais
maiores chamados de voçorocas. Voçorocas em terrenos cultivados são obstáculos
para tratores e não podem ser removidos por práticas normais de cultivo. Os três tipos
de erosão são importantes, mas a erosão laminar e em sulcos, apesar de menos
aparente que as voçorocas, são responsáveis pela maior parte do solo movimentado.

4.3 Deposição do material erodido


A erosão pode transportar as partículas de solo a vários quilômetros de
distância do local de origem, das montanhas para os vales, e pelos rios para o mar.
Por outro lado, o solo erodido pode se deslocar um ou dois metros e se depositar
numa pequena depressão do terreno ou no sopé de uma encosta. A quantidade de
material erodido que entra num curso de água (rio, córrego, etc.) dividida pela
quantidade total de solo erodido é chamada de taxa de fornecimento de sedimento.
Em algumas bacias hidrográficas onde as pendentes são pronunciadas, quantidades
de até 60% de solo erodido podem chegar a um córrego. Em contrapartida, menos de
1% do material erodido chegam aos cursos de água em bacias que apresentam
relevos planos a suave-ondulados. Geralmente, a taxa de fornecimento de sedimentos
é maior para microbacias hidrográficas que para grandes bacias, devido a que nas
grandes bacias ocorrem maiores possibilidades para a deposição dos sedimentos em
depressões no terreno ou no sopé de encostas, antes de chegar aos cursos de água.
Estima-se que 5 a 10% de todo o material erodido chega ao mar. O restante é
depositado em represas, leitos de rios, planícies fluviais, ou em terrenos mais planos
em posições topográficas mais elevadas que os cursos de água.

4.4 Tipos de danos provocados pela erosão do solo


A erosão provoca danos no local onde ocorre, mas também provoca efeitos
extrínsecos (ou seja fora do local de ocorrência) indesejáveis no meio ambiente. Os
custos dos efeitos extrínsecos se relacionam com os efeitos do excesso de água,
sedimento e produtos químicos associados nos sopés de encostas e ambientes
fluviais. Apesar de que estes custos com qualquer um deste tipo de danos não são
imediatamente aparentes, eles são reais e crescem a medida que avança o tempo.
Donos de terras e a sociedade devem arcar eventualmente com os prejuízos.
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4.4.1 Danos intrínsecos


O dano mais marcante da erosão é a perda de solo. Na realidade o dano
causado no solo é maior do que a quantidade de perda de solo sugeriria, porque o
material erodido é na maior parte das vezes de maior valor do que a parte que ficou.
Não é só o problema da perda do horizonte superficial enquanto ficam os horizontes
subsuperficiais mais pobres que mais degrada o solo, mas também a baixa qualidade
dos horizontes superficiais restantes. A erosão remove seletivamente matéria orgânica
e os materiais finos, deixando para trás as frações mais grosseiras menos ativas.
Experimentos têm mostrado que os teores de matéria orgânica e nitrogênio nos
materiais erodidos são cinco vezes superiores aos horizontes superficiais originais.
Taxas de enriquecimento de duas e três vezes ocorrem para fósforo e potássio,
respectivamente. A quantidade de nutrientes essenciais perdidos pela erosão do solo
é bastante elevada, apesar de que somente uma parte destes nutrientes são perdidos
de uma forma que estariam disponíveis para as plantas no curto prazo. A porção do
solo que fica geralmente tem menor capacidade de retenção de água e de retenção de
cátions, menor atividade biológica, e uma menor capacidade para suprir nutrientes
para as plantas.
Em adição aos fatores de redução da qualidade de solo recém mencionados, o
movimento do solo durante a erosão pode espalhar patógenos das plantas do solo
para as folhas e de montante para jusante na paisagem. A deterioração da estrutura
do solo geralmente deixa uma crosta densa na superfície do solo, que ao mesmo
tempo, reduz a infiltração da água e incrementa a enxurrada. Sementes e mudas
recém plantadas podem ser carregadas morro abaixo, arvores podem tombar e
plantas pequenas serem encobertas por sedimentos.
Finalmente, voçorocas podem escavar a terra já erodida e provocar a
impossibilidade da utilização de tratores e maquinaria agrícola, a destruição de
estradas e construções provocando condições de insegurança e de conserto caro.
4.4.2 Danos extrínsecos
A erosão transporta os sedimentos e nutrientes para fora do local de ocorrência
provocando uma ampla poluição da água de rios e lagos. Os nutrientes provocam um
impacto na qualidade da água através do processo de eutrofização causado pelo
excesso de nitrogênio e fósforo. Além dos nutrientes, sedimentos e a água da
enxurrada podem carregar metais tóxicos e compostos orgânicos, como pesticidas. O
sedimento é um dos maiores poluentes causando um amplo espectro de danos
ambientais.
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Danos por sedimentos. Sedimentos depositados sobre o solo podem asfixiar


cultivos e outras plantas pequenas. Podem encher canais de drenagem de estradas e
provocar condições perigosas de dirigibilidade.
Sedimentos que entram nos rios e ribeirões tornam a água túrbida. Turbidez
elevada da água provoca a diminuição da penetração da luz solar que provoca uma
diminuição da fotossíntese e a sobrevivência da vegetação aquática submersa (VAS).
A morte da VAS degrada o habitat dos peixes e afeta a cadeia alimentar aquática. A
água barrenta também provoca o entupimento das brânquias dos peixes. Sedimentos
depositados no fundo dos rios podem ter um efeito desastroso sobre alguns peixes
que utilizam os seixos e as rochas para desovar. O depósito de sedimentos no fundo
do rio pode provocar uma elevação do nível do rio provocando enchentes mais
freqüentes e mais severas.
Um número de problemas maiores ocorre quando as águas do rio chegam aos
lagos, estuários e represas. Nestes locais as águas perdem velocidade e soltam a sua
carga de sedimentos. Eventualmente represas, inclusive aquelas formadas por
enormes diques, se convertem em áreas completamente assoreadas totalmente
preenchidas por sedimentos. A capacidade das represas de estocar água para
irrigação e sistemas de águas municipais é progressivamente reduzida, assim como a
capacidade de retenção de enchentes ou para geração de energia hidroelétrica. Foi
estimado nos Estados Unidos que 1.5 bilhões de Mg de sedimentos são depositados
todos os anos nas represas desse país. Da mesma forma, portos e canais são
assoreados e se tornam impassáveis. A perda de função e os custos de dragagem,
escavação, filtragem e construção necessários para remediar estas situações são de
bilhões de dólares por ano.
Erosão eólica. A erosão eólica também tem os seus efeitos extrínsecos. As
areias carregadas pelo vento podem enterrar estradas e encher canais de drenagem,
provocando a necessidade de manutenção custosa. As partículas de areia carregadas
pelo vento podem provocar danos em frutos e folhagem de cultivos em terrenos
vizinhos, assim como na pintura de veículos e construções a vários quilômetros do
local de ocorrência.
Custos estimados da erosão. Apesar de não existirem dados precisos, taxas
médias de erosão pela água e vento tem sido utilizados para estimar o custo total da
erosão. Incluídos nestes cálculos estão os custos intrínsecos de reposição de
nutrientes e água perdidos pela erosão acelerada, assim como as reduções da
produtividade das culturas devido à reduzida profundidade do solo. Baseado somente
em suposições sobre o valor das perdas de nutrientes em sedimentos e enxurrada, o
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valor total anual de custos intrínsecos tem sido estimados entre 4 e 27 bilhões de
dólares.
Os custos extrínsecos da erosão são ainda maiores, especialmente devido aos
efeitos sobre a saúde de partículas carregadas pelo vento e ao valor reduzido para a
recreação de águas carregadas de sedimentos (pesca, natação e estética). O valor
total destes custos nos Estados Unidos encontra-se entre 9 e 44 bilhões de dólares.
Estes custos altos são uma triste lembrança da responsabilidade que a sociedade
suporta como resultado do mau manejo da terra e parece justificar o aumento de
orçamento para a luta contra a erosão.
Manutenção da produtividade do solo. Apesar de que a erosão pode reduzir
a produtividade do solo a zero, na maior parte dos casos o seu efeito é muito sutil para
ser percebido de um ano para o outro. Onde os produtores podem arcar com as
despesas, eles compensam as perdas de nutrientes incrementando o uso de adubos.
As perdas de matéria orgânica e da capacidade de retenção de água são muito mais
difíceis de solucionar no curto prazo. No longo prazo, a erosão acelerada excede a
taxa de formação de solos levando à diminuição da produtividade na maioria dos
solos.
Finalmente, a taxa de diminuição da produtividade do solo, ou o custo de
manutenção de níveis constantes de produtividade, é determinado por propriedades
do solo como a profundidade até uma camada restritiva para o crescimento das raízes
e a permeabilidade do subsolo. Um solo profundo, bem drenado e bem manejado
pode não sofrer diminuição em produtividade apesar de sofrer erosão. Em contraste,
erosão num solo raso, de baixa permeabilidade pode levar a uma rápida perda de
produtividade.

5 Recuperação de solos
O manejo sustentável de recursos naturais envolve o conceito de “usar,
melhorar e restaurar” a capacidade produtiva e os processos de suporte da vida do
solo, o mais básico de todos os recursos naturais. O objetivo não é só minimizar a
degradação do solo, mas reverter às tendências através de medidas de recuperação
do solo e manejo de culturas. A qualidade do solo e a sua capacidade produtiva
devem ser incrementadas além da preservação através de medidas de reconstrução
do solo, por exemplo, prevenindo a erosão do solo e melhorando a profundidade de
enraizamento do solo, “reabastecendo” o solo com nutrientes extraídos durante as
colheitas de culturas ou produção animal através do uso correto de adubos minerais e
19

orgânicos e práticas efetivas de ciclagem de nutrientes, incrementando a atividade


biológica da fauna do solo, e melhorando o conteúdo de matéria orgânica do solo. O
uso da terra e o sistema de manejo adotado devem ser “restauradores ou
recuperadores do solo” ao invés de “esgotadores do solo”, “esgotadores de fertilidade”
e “degradadores do solo”. Além disto, o solo não deve ser utilizado como uma área
para depósito de lixo tóxico. Apesar de o solo apresentar uma resiliência intrínseca,
existe um limite de abuso que o solo pode suportar.

5.1 Conceitos básicos


Algumas áreas densamente povoadas do planeta têm severa escassez de
terras. Estas regiões são caracterizadas por problemas severos de degradação do
solo e degradação ambiental. Terras marginais e inviáveis para a agricultura, utilizadas
para a produção de alimentos devido à fome pela terra, estão sendo degradadas até a
degradação irreversível. Para estas regiões onde o recurso terra é insuficiente para
atender as demandas, apesar do uso de insumos externos e técnicas
conservacionistas, é necessário melhorar o recurso básico solo através da
recuperação das terras degradadas. Para fins de recuperação, solos degradados
podem ser classificados em três categorias (Figura 8). Alguns solos são inviáveis para
o uso agrícola devido à falta de disponibilidade de insumos essenciais, por exemplo,
falta de água em regiões secas, falta de calcário para solos ácidos, falta de nutrientes
essenciais em solos altamente intemperizados. Tecnicamente, a produtividade destes
solos pode ser recuperada providenciando os insumos necessários, por exemplo, uso
da irrigação, adubos e fertilizantes, escolha de culturas e variedades adequadas, etc.
No entanto, a disponibilidade econômica destes insumos e os problemas logísticos
podem ser impedimentos maiores. Existem outros solos com propriedades restritivas à
produção de culturas que limitam os seus uso para a produção agrícola. Alguns
exemplos destes solos incluem: solos excessivamente úmidos, pH baixo, e alta fixação
de P. Finalmente, existem os solos que estão degradados em função do mau uso, por
exemplo solos erodidos ou compactados, e com toxicidade devido à disposição de
lixo, solos afetados por sais, minas abandonadas, etc. As estratégias de recuperação
são diferentes para as diferentes categorias de solos degradados.
20

Catergorias de solos degradados

Falta de insumos Propriedades inerentes Problemas antrópicos


restritivas para as culturas

- falta de água - desequilibrio de sais - erosão acelerada


- falta de corretivos e adubos - toxicidade - compactação do solo
- falta de variedades ou - solos rasos - drenagem impedida
cultivares - alta umidade do solo - acidez inducida por adubos
- baixo pH - toxicidade devido a lixo tóxico
- pedregosidade - minas

Figura 8: Categorias de solos degradados.

Entendendo processos, fatores e as causas da degradação do solo são pré-


requisitos básicos para o sucesso na recuperação da produtividade de solos
degradados. É necessário estabelecer uma relação causa-efeito, porque a eliminação
dos fatores causativos pode reverter a tendência de degradação e colocar em
funcionamento os processos de recuperação. É também importante estabelecer e
definir níveis críticos para as propriedades do solo para adaptar usos da terra e
sistemas de cultivo/manejo apropriados, uma vez que o solo está em processo de ser
recuperado. Por exemplo, conhecimento de níveis toleráveis de salinidade, acidez, ou
toxicidade por alumínio das diferentes culturas e cultivares pode ser necessário para
obter benefícios econômicos utilizando culturas toleráveis e acelerar o processo de
recuperação.
Conhecendo a categoria de degradação do solo é uma etapa importante
porque o processo de recuperação depende desta categoria. Processos de
recuperação de solos por cultivo intensivo e indiscriminado aparecem na Figura 9.
Existe um nível crítico de matéria orgânica abaixo do qual atributos estruturais
favoráveis são difíceis de manter. Entendendo os níveis críticos de matéria orgânica
do solo, e adotando sistemas de manejo do solo/cultura para atingir estes níveis é uma
estratégia importante para a melhoria da estrutura do solo. Melhorando a atividade e a
diversidade da fauna do solo é uma outra estratégia útil. O conceito de manejo zonal,
limitando a compactação da maquinaria à zona de trafego, e adotando um manejo
conservacionista do solo e da água, vão reduzir os riscos de compactação do solo.
21

Recuperação de solos

Estrutura do solo Fertilidade do solo Fauna do solo


para as culturas

- manutenção da matéria - aplicação equilibarada - melhorar a diversidade


orgânica do solo de nutrientes de espécies
- melhorar a atividade da - suplementar os adubos - melhorar o habitat incluindo
fauna do solo minerais com adubos o micro-ambiente
- utilização de sistemas de orgânicos - assegurar a disponibilidade
manejo restauradores - ciclagem de nutrientes e diversidade de alimento
- métodos de plantio
compatíveis

Figura 9: Processo de recuperação para solos degradados por cultivo intensivo e


indiscriminado.

O manejo de nutrientes em solos com problemas de fertilidade é crucial para


uma produção sustentável. Informação confiável e quantitativa da capacidade dos
solos para fornecer nutrientes (fatores de capacidade e intensidade) e funções de
resposta de diferentes culturas, cultivares, e sistema de manejo/cultivo são
necessários para o bom uso de nutrientes inerentes e aplicados. Usos da terra
intensivos e altas produtividades em solos de baixa fertilidade só podem ser atingidos
aumentando os níveis de nutrientes. O uso excessivo de adubos sintéticos pode ser
evitado diminuindo as perdas (erosão, lixiviação, volatilização) e melhorando a
ciclagem de nutrientes. Um nível adequado de atividade e diversidade de espécies da
fauna do solo é também essencial para a recuperação da estrutura do solo e o
melhoramento da ciclagem de nutrientes. Os efeitos da fauna do solo sobre as
propriedades do solo não são bem conhecidos, em especial aqueles relacionados com
os diferentes sistemas de manejo/cultivo. Existe a necessidade de que pedólogos e
ecólogos trabalhem juntos para entender as interações entre a fauna e as
propriedades do solo.
O conhecimento de processos básicos e das relações causa-efeito é também
necessário para a recuperação de solos com características restritivas inerentes
(Figura 10). Recuperação de áreas erodidas, e a prevenção da degradação por novos
processos erosivos são cruciais para o manejo sustentável do recurso solo. Tirando a
pressão das áreas marginais pela criação de empregos fora da propriedade e
desenvolvendo oportunidade de geração de renda são políticas importantes. Pesquisa
também é necessária sobre medidas de prevenção da erosão e sobre sua efetividade
nas mais diversas agro-eco-regiões. A produtividade de solos erodidos é afetada pela
22

perda de matéria orgânica, argila e complexos coloidais, diminuição da profundidade


de crescimento de raízes, e redução da capacidade de água disponível para as
plantas. Exposição de subsolos improdutivos é outro fator da erosão acelerada. A
pesquisa agronômica é necessária para desenvolver técnicas de práticas culturais
para aliviar estes problemas.

Propriedades restritivas
para as culturas

Erosão e Desequilibrio Desbalanço


desertificação de sais hídrico

Medidas Medidas Lixiviação Melhora de Uso de culturas Drenagem Conservação Irrigação


preventivas de controle sistemas de cultivo tolerantes da água

Figura 10: Processos para a recuperação de solos em solos com severas


propriedades restritivas para o crescimento de culturas.

Solos afetados por sais, totalizando 323 milhões de hectares, estão


amplamente distribuídos nas regiões áridas e semiáridas do planeta. A predominância
de sódio no complexo de troca pode afetar de forma negativa a estrutura do solo e as
taxas de infiltração e percolação. Além das medidas físicas de remoção de sais
(lixiviação e raspado), a pesquisa de sistemas de cultivo, com novas espécies e
cultivares melhorados, é crucial para aliviar os problemas de produção. Os problemas
de toxicidade e deficiência de nutrientes podem também ser abordados através do uso
correto de produtos químicos, adoção de sistemas que melhoram o manejo do solo e
das culturas, e do crescimento de culturas e cultivares adaptados.
Cada vez mais o solo está sendo utilizado e abusado para o depósito de lixo
industrial e urbano. O depósito indiscriminado de lixo tóxico é pouco inteligente e anti-
ético. Medidas legislativas são necessárias para assegurar métodos seguros de
eliminação de lixo industrial. Estratégias para desintoxicar solos contaminados por lixo
industrial aparecem na Figura 11.
23

Desintoxicação
do solo

Resíduos industriais Lixo urbano

- separação de metais - separação de metais


pesados pesados
- precipitação de quelatos - uso da terra apropriada
e polimeros orgânicos
- aumento da matéria
orgânica do solo
- uso correto do terra
Figura 11: Recuperação de solos degradados por usos não agrícolas.

5.2 Bases para melhorar sistemas de cultivo tradicionais


Os princípios básicos de manejo de solos e recursos naturais são semelhantes
para diferentes sistemas ecológicos, apesar de que pacotes tecnológicos baseados
nestes princípios variam dependendo de problemas locais específicos e considerações
socioeconômicas. Para alcançar uma produção alta e sustentável, preservando a
estabilidade ecológica e a base do recurso natural, é imperativo que as mudanças no
uso da terra e a conversão das florestas incluam:
a) A preservação do equilíbrio ecológico delicado entre vegetação-clima-solo
b) Manter um fornecimento adequado e regular de matéria orgânica na superfície
do solo
c) Melhorar a atividade da fauna do solo e o revolvimento do solo por processos
naturais
d) Manter uma boa condição física do solo, viável para o uso da terra atual
e) Fornecer os nutrientes removidos pelas plantas
f) Criar um equilíbrio nutricional desejável e a reação do solo
g) Evitar o desenvolvimento de pragas e/ou plantas daninhas
h) Adaptar um mecanismo natural de ciclagem de nutrientes para evitar a
lixiviação e conseqüente perda de nutriente
i) Preservar a diversidade ecológica
O cultivo itinerante ou a rotação de culturas cumprem a maior parte destes
requisitos, sendo por isso o sistema tradicional, evoluído durante milênios e usado no
mundo inteiro, compatível ecologicamente. Os requerimentos básicos para um sistema
estável listados acima são cumpridos se o sistema tradicional permite curtos períodos
de cultivo seguido por longos períodos de pousio. A falta de terra arável, no entanto,
tem eliminado ou drasticamente diminuído o período de pousio. A mudança e portanto
24

inevitável. Para pequenos agricultores nos trópicos com capacidade limitada de capital
e escassa disponibilidade de insumos comerciais, portanto, qualquer mudança no
sistema tradicional deve tomar em conta os seguintes fatores.

a) Insumos
A melhoria no cultivo itinerante ou na rotação de uso do solo deve ser baseada
num sistema auto-sustentável e com baixa tecnologia. Isto não implica que o
uso de adubos sintéticos ou outros condicionadores do solo estão proibidos. No
entanto, sistemas de manejo do solo e das culturas devem ser desenvolvidos
para minimizar a necessidade destes. A necessidade de nutrientes pode ser
suprida em parte pela diminuição das perdas e aumento da eficiência, em parte
pela fixação simbiótica de nitrogênio e reciclagem de resíduos orgânicos, e se
houver diferença utilizar-se-ia adubos sintéticos. O total de entrada de energia
deve ser regulado para que a razão saída:entrada seja alta.
A agricultura com altos insumos praticada na Europa e nos Estados Unidos
deixa muito a desejar. Por exemplo, a necessidade de agroquímicos soma 2,5
milhões de kcal ou 38,9% do total de insumos necessários para produzir 1ha
de milho nos Estados Unidos. Apesar da produção ser baixa, atualmente a
agricultura no Terceiro Mundo é mais eficiente em termos energéticos que a
agricultura dos paises do Primeiro Mundo. A bibliografia cita que sistemas
tradicionais da Nova Guinea produzem 104MJ por pessoa por dia e 1500MJ
por pessoa por dia nos Estados Unidos, umas 150 vezes mais na agricultura
norte-americana. Devido ao fato de deixar várias áreas em pousio no sistema
tradicional para a restauração da fertilidade e a limitações para o uso intensivo
da terra, a produção por unidade de área por unidade de tempo e por pessoa é
baixa. A estratégia é incrementar a produção por unidade de insumo. Em
Latossolos e Podzólicos nas regiões tropicais da América a quantidade de
adubo requerido para produzir 80% do máximo ou produção ótima é
consideravelmente inferior que a quantidade necessária para alcançar o ponto
máximo ou ótimo. Com uma pequena diminuição nos níveis de produtividade
desejados, as necessidades de insumos químicos podem ser drasticamente
diminuídos.

b) Fertilidade e limitações do solo


O objetivo não é maximizar a produção, mas atingir níveis altos e desejáveis de
produção causando a mínima degradação da qualidade do solo. A qualidade
25

do solo deve ser preservada evitando a compactação do solo, a erosão do


solo, e minimizando outros processos de degradação do solo. Um critério para
avaliar uma técnica restaurativa seria maximizar produtividade por unidade de
perda de solo, ou por unidade de diminuição do conteúdo de matéria orgânica,
pH, ou CTC. Os sistemas de depleção de fertilidade não tem espaço neste
esquema. A forma mais simples de incrementar a produção seria plantar
cultivares e espécies que estão naturalmente adaptados a limitações
específicas do solo, por exemplo, culturas de raiz em solos ácidos, arroz para
toxicidade de Fe, cowpea para toxicidade de Mn, etc.

c) Considerações sociais
Para os pequenos agricultores das regiões tropicais do Terceiro Mundo o
desenvolvimento local e manutenção de uma tecnologia simples e barata que
utiliza menos mão de obra especializada e capital pode ser mais atrativo que
investimentos em maquinaria pesada cuja eficiência é desconhecida e os seus
efeitos são quase sempre indesejáveis. É alta a probabilidade de rejeição de
uma inovação que traz mudanças drásticas nos hábitos de plantio,
desencorajando o cultivo misto, diminuindo a flexibilidade do sistema
tradicional.

d) Melhoria gradual versus transformação rápida


Para um pequeno agricultor que vive da subsistência, um impacto duradouro
pode ser alcançado introduzindo melhorias graduais durante uma ou duas
décadas no seu sistema tradicional ao invés de mudanças bruscas pela
introdução de tecnologias para as quais ele não esta preparado psicológica, e
fisicamente, além de financeiramente incapacitado. Uma vez que o agricultor
ganha confiança na adoção de inovações simples, mas produtivos, como tem
acontecido na Europa e na Ásia, a adoção de alta tecnologia prossegue
naturalmente. A questão é a seguinte, temos tempo suficiente para adotar este
processo de melhorias lentas e graduais?
26

6 Prevenção e recuperação da degradação química de solos

6.1 Prevenção da degradação química de solos


Essencial no entendimento da degradação química de solo é o conhecimento
que solos variam consideravelmente na sua habilidade de suportar impactos químicos.
A capacidade tampão da maioria dos solos é grande, mas finito é pode ser sobre-
saturado. A diversidade e atividade da macro e microfauna do solo são também
elementos importantes na saúde química dos solos. A prevenção da degradação
química requere que o impacto químico não exceda a capacidade do solo para
tamponar a mudança química.
Como discutido anteriormente, vários processos químicos do solo são
importantes no processo de tamponamento químico. Estes incluem poder tampão
ácido-base, precipitação e dissolução, adsorção e desorção, e complexação.

A) Poder tampão ácido-base


A capacidade do solo em tamponar adições de ácidos ou bases é função da sua
capacidade de troca de cátions (CTC) e da saturação por bases (V%). Ao mesmo
tempo, isto é função da mineralogia e do conteúdo de matéria orgânica do solo
assim como o status da base do solo. No longo prazo, ou onde as adições ácidas
são massivas, o conteúdo de minerais resíduais contendo elementos básicos vai
determinar a capacidade do solo em neutralizar a acidez. O intemperismo destes
minerais do solo, no entanto, alteram drasticamente o caráter químico do solo. No
caso de grandes adições de base forte, um efeito inicial seria a solubilização da
matéria orgânica e dos minerais do solo.
Os efeitos a longo prazo da adição de ácidos ou bases vão ser determinados pelo
grau de lixiviação associado com o impacto químico. Se a lixiviação é restrita, a
adição de ácido ou base estará localizado na superfície e o impacto será grande.
Íons liberados na solução do solo vão recombinar para formar novos minerais. Se
o solo é suficientemente permeável para permitir uma rápida lixiviação, o impacto
geral será menor devido a que a adição de ácido ou base ocupará um maior
volume do solo. Se os efeitos extrínsecos como contaminação do lençol freático
são de menor importância que o impacto sobre o solo, um meio de remediar a
contaminação química é por aração profunda. O contaminante é diretamente
diluído pelo maior volume de solo no qual está misturado, e também ele entre em
contato com uma massa maior de solo que tamponará o impacto do poluente.
27

B) Precipitação-dissolução
Solos com altos conteúdos de cátions reativos são capazes de tamponar grandes
adições de compostos como fosfatos, arsenatos, e selenita por precipitação,
enquanto que metais podem precipitar com sufídeos sob condições de redução e
como co-precipitados com compostos de Fe, Al, Mn, Ca e Mg. Os minerais de Fe
e Al precipitam a pHs baixos (<5) e aqueles de Ca e Mg a pH>6.
A precipitação é favorecida pela alta atividade das argilas do solo, aqueles com
altos conteúdos de minerais intemperizáveis, e normalmente a pH quase neutros
ou altos.

C) Adsorção-desorção
Metais e compostos são rapidamente removidos pela adsorção aos minerais de
argila, óxidos, e CaCO3, e a desorção é normalmente mais lenta que a adsorção
(existe um processo de histerese na curva de adsorção e desorção). Adsorção de
metais é favorecido a pH>6, devido ao fato de que o limite de adsorção (pH no
qual a máxima adsorção ocorre) da maioria dos metais são encontrados acima
deste valor. Compostos são também fortemente adsorvidos na superfície dos
óxidos, mas a adsorção geralmente diminui com aumento do pH devido a que a
carga do composto e do óxido se torna mais negativo a medida que o pH
aumenta.

D) Complexação
Metais polivalentes, incluindo os metais pesados, são fortemente complexados
com materiais húmicos do solo. O conteúdo de matéria orgânica do solo é
normalmente altamente correlacionada com a capacidade de ligação com metais,
é a ligação aumenta com o aumento do pH como resultado da dissociação dos
grupos funcionais ácidos dos ácidos húmicos.
Enquanto que parâmetros como a CTC e o conteúdo de matéria orgânica podem
ser utilizados para avaliar solos para resistência a impactos químicos, uma
questão igualmente importante é como os princípios da química podem ser
utilizados para remediar casos de degradação química.

6.2 Princípios de recuperação da degradação química de solos


Como sugerido anteriormente, a degradação química do solo é menos
irreversível que o processo de degradação física. Isto é resultado do poder tampão
28

dos solos, o papel dos processos microbiológicos nas reações químicas, e uma
velocidade alta das reações químicas. Algumas aproximações gerais podem ser
utilizadas para reverter ou melhorar a degradação química.

A) Modificação do pH do solo
Aumentos ou diminuições do pH tem efeitos profundos no sistema químico do
solo. Se a mudança química desejada é de curto prazo (ex. favorecendo a
degradação de pesticidas), o controle de pH pode ser efetivo e facilmente
atingido. Se um controle do pH a longo prazo é necessário (para reduzir a
biodisponibilidade de metais, por exemplo), a capacidade natural ácido-tampão do
solo deve ser considerado. A aplicação de lodo de esgoto a solos agrícolas
requere que o pH seja mantido a 6,5 sempre quando culturas de consumo direto
são plantados.

B) Regulação das condições redox do solo


Condições oxidantes pode favorecer a degradação microbiana de alguns
poluentes, enquanto que condições redutoras pode favorecer a precipitação de
metais pesados pelo sulfídeo, produzir a denitrificação de altos níveis de nitratos,
ou reduzir a produção de ácido a partir da oxidação da pirita. A produção de arroz
irrigado em solos ácidos com altos conteúdos de enxofre é um bom exmplo do
controle redox da degradação química do solo, enquanto que resíduos de minério
contendo pirita é enterrado o mais rápido possível para reduzir a oxidação.

C) Manutenção ou incremento da matéria orgânica do solo


A matéria orgânica estimula a atividade biológica e inativa metais e compostos
orgânicos. Adiciona também CTC, aumenta o tamponamento do pH, e imobiliza
nutrientes contra lixiviação excessiva. Um solo saudável é um solo que apresenta
um bom estoque ativo de matéria orgânica, e os solos devem ser manejados para
manter os níveis existentes de matéria orgânica através da reciclagem de
resíduos orgânicos. Solos, ou materiais residuais como resíduos de minas ou
sedimentos de dragas com pouca ou nenhuma matéria orgânica, devem ser
tratadas com materiais orgânicos (lodo, esterco, composto) e uma cobertura
permanente deve ser estabelecida.

D) Manutenção da fração lixiviada


29

Alguns problemas da degradação química do solo podem ser aliviados pela


lixiviação se eles envolvem poluentes solúveis que são adsorvidos fracamente
pelo solo e são facilmente liberados. Por exemplo, sais solúveis totais (salinidade),
Na trocável (sodicidade), e toxicidade de boro. O destino do lixiviado deve ser
considerado na determinação do impacto ambiental global.

E) Promover a volatilização
Contaminantes do solo voláteis, como uma quantidade excessiva de NH3, alguns
pesticidas e orgânicos sintéticos tóxicos, solventes, e gases radioativos, podem
ser retirados da superfície do solo pela promoção da volatilização. A volatilização
pode ser promovida por mudanças no pH (como no caso do NH3), pelo secamento
do solo, e por aração profunda para expor mais o solo à atmosfera. Enquanto esta
técnica pode ser utilizada para corregir a contaminação do solo localizada, a
poluição atmosférica pode limitar o amplo uso desta técnica.

7 Sistemas de controle da erosão do solo

7.1 Coberturas vegetativas


A erosão do solo pode ser controlada manejando a vegetação, resíduos de
plantas e utilizando sistemas de preparo conservacionistas. A erosão e a enxurrada
variam de acordo com os diferentes tipos de cobertura vegetativa do solo e sistemas
de preparo (Tabela 2).
30

Tabela 2: Efeito da cobertura vegetativa na erosão do solo em uma zona úmida do oeste
de África.
Tipo de cobertura Número de Precipitação média Enxurrada Erosão
sítios mm/ano % da Mg/ha
precipitação
Floresta protegida 11 1293 0.9 0.1
de queimadas
Floresta com 13 1289 1.1 0.27
queimadas leves
Pasto natural 7 1203 16.6 4.88

Amendoim 32 1329 20.7 7.70

Arroz de sequeiro 17 946 23.3 5.52

Milho 17 1405 17.7 7.63

Culturas falhas e 11 1154 39.5 21.28


solo nu
Fonte: Pierre (1992)

Florestas não perturbadas e pastos naturais densos fornecem a melhor


proteção para o solo e são praticamente iguais na sua eficiência. Pastagens (tanto
leguminosas como gramíneas) seguem em eficiência devido à sua cobertura
relativamente densa. Cereais, como trigo e aveia, são intermediários e oferecem
considerável obstrução à enxurrada. Cultivos em fileiras, como o milho, a soja, e
batata, oferecem pouca cobertura durante os primeiros estágios de crescimento
deixando o solo susceptível à erosão se não foram deixados resíduos de culturas
anteriores na superfície do solo.
Cultivos de cobertura consistem de plantas que são semelhantes às pastagens
recém mencionadas. Eles providenciam uma proteção ao solo durante o período do
ano entre safras para culturas anuais. Para culturas perenes com espaçamentos
largos, como laranja e frutíferas em geral, cultivos de cobertura podem proteger
permanentemente o solo entre as fileiras das arvores. Uma cobertura morta vegetal
(“mulch”) ou de materiais aplicados são também eficientes na proteção do solo. A
pesquisa em todos os continentes tem mostrado que a cobertura morta (“mulch”) não
precisa ser espessa ou cobrir o solo completamente para contribuir com a
conservação do solo. Inclusive pequenos incrementos na cobertura superficial
resultam em grandes reduções da erosão do solo, principalmente na erosão entre
sulcos (Figura 12).
31

Figura 12: Redução da erosão entre sulcos pelo aumento da percentagem da cobertura
do solo. Os diagramas acima da figura ilustram coberturas de 5, 20, 40, 60 e
80%.

O manejo do pastoreio para manter uma cobertura vegetal densa nos campos
destinados às pastagens e a inclusão de cultivos adensados para a produção de feno
na rotação com cultivos de fileiras em terras aráveis ajudam a controlar a erosão e a
enxurrada. Da mesma forma, o uso de sistemas de preparo conservacionistas, que
deixam a maior parte dos resíduos em superfície, diminui drasticamente os perigos da
ocorrência de erosão.
Cultivos em contorno. Em pendentes longas sujeitas a erosão laminar e em
sulcos, os cultivos podem estar dispostos em faixas seguindo as curvas de nível,
alternando cultivos plantados utilizando sistemas convencionais de manejo, como
milho e batata, com pastos para feno e cereais plantados de forma adensada. A água
não consegue atingir uma velocidade suficiente nas faixas de culturas convencionais,
e as faixas com pasto ou alguma outra cultura adensada controlam a taxa de
enxurrada. Tal disposição das culturas é chamada cultivo em faixas e é a base para o
controle da erosão em várias regiões com relevo suave-ondulado a ondulado. Este
arranjo pode ser interpretado como diminuição do comprimento efetivo da pendente.
32

Quando as faixas estão dispostas de uma forma bastante definitiva nas curvas
de nível, o sistema é chamado de cultivo de contorno. A largura das faixas vai
depender da declividade, a permeabilidade do solo e da erodibilidade do solo. Largura
de 30 a 125m são comuns. Canais escoadouros podem ser acrescentados aos
sistemas de preparo em contorno. Estes canais escoadouros estão gramados
permanentemente para poder escoar a água da terra sem perigo de formação de
sulcos e voçorocas.
Sistemas conservacionistas de preparo. Existem hoje em dia numerosos
sistemas conservacionistas de preparo (Tabela 3), todos eles têm um ponto em
comum, deixam quantidades significantes de resíduos orgânicos na superfície do solo
após plantar. É importante lembrar que o sistema convencional de manejo envolve em
primeiro lugar a utilização de um arado para enterrar as ervas daninhas e os resíduos,
seguido de uma ou três passagens com uma grade para quebrar os torrões, depois
segue o plantio e subseqüentemente várias cultivações entre as fileiras para matar
ervas daninhas. Cada passagem com um implemento deixa o solo exposto e
enfraquece a estrutura do solo que ajuda o solo a resistir a erosão pela água.

Tabela 3: Classificação geral dos diferentes sistemas de manejo conservacionista.


Sistema de preparo Operações envolvidas
Plantio Direto Solo não perturbado antes do plantio, que ocorre numa sementeira de 2,5 a
7,5cm de largura. O controle de ervas daninhas é realizado utilizando herbicidas

Cultivo em faixas Solo não perturbado antes do plantio. Preparo em faixas estreitas e pouco
profundas utilizando o escarificador ou algum outro implemento. Até um terço
da superfície do solo é cultivado no plantio. Utilização de herbicidas e técnicas
de cultivo para controlar ervas daninhas.

Cultivo tipo “Mulch” Superfíce do solo perturbado pelo preparo antes do plantio, mas pelo menos 30
% dos resíduos permanecem na superfície do solo. Implementos como
escarificadores, cultivadores e grades de disco são utilizados. Herbicidas e
técnicas de cultivo são utilizados para o controle de ervas daninhas.
Cultivo mínimo Qualquer outro sistema de preparo e plantio que mantém pelo menos 30% dos
resíduos em superfície.

Sistemas conservacionistas de preparo vão desde aqueles que apenas


reduzem o preparo excessivo até os sistemas sem preparo (plantio direto), que não
utilizam o preparo a não ser uma pequena perturbação do solo efetuada pela
plantadeira ao cortar o solo e a camada de resíduos para incorporar a semente. O
arado de aiveca convencional foi projetado para deixar a superfície do solo limpo. Em
contraste, sistemas de preparo conservacionistas, como o escarificador misturam
parcialmente o solo incorporando parte dos resíduos superficiais e deixando mais de
30% do solo coberto. Com sistemas de plantio direto espera-se que 50-100% da
33

superfície do solo esteja coberta. Sistemas de plantio direto bem manejados em climas
úmidos incluem cultivos de cobertura durante o período entre safras e culturas que
produzem altos volumes de resíduos na rotação. Estes sistemas mantêm o solo
coberto o tempo todo e aumentam o teor de matéria orgânica nas camadas
superficiais do solo.
Controle da erosão por sistemas de preparo conservacionistas. Depois
que os sistemas de preparo conservacionista começaram, centos de experimentos
tem demonstrado que estes sistemas diminuem a erosão do solo em relação aos
métodos convencionais de preparo. A enxurrada também diminui, apesar das
diferenças não serem tão pronunciadas como com a erosão do solo. O valor do
controle da erosão de uma superfície não perturbada sob um resíduo orgânico foi
discutido na seção anterior. O preparo conservacionista também reduz
significativamente a perda de nutrientes dissolvidos na água da enxurrada ou levados
junto com os sedimentos.
Efeitos nas propriedades dos solo. Quando o preparo do solo passa de um
sistema convencional para um sistema conservacionista (especialmente o plantio
direto), várias propriedades do solo são afetadas, a maioria num sentido favorável. As
mudanças são maiores nos primeiros centímetros do solo. Geralmente, as mudanças
são maiores para sistemas que produzem a maior quantidade de resíduos
(especialmente milho e cereais em regiões úmidas), retém a maior parte da cobertura
de resíduos, e causam a menor perturbação do solo.
Propriedades físicas. A macroporosidade e a agregação são incrementadas
a medida que a matéria orgânica aumenta e minhocas e outros organismos se
estabelecem. A infiltração e a drenagem interna geralmente melhoram, assim como a
capacidade de retenção de água (Figura 13). A melhora na capacidade de infiltração
em solo sob preparo conservacionista e geralmente muito desejável, mas em alguns
casos pode levar a uma lixiviação mais rápida de nitratos e outros produtos químicos
solúveis em água. Solos cobertos por resíduos encontram-se mais frescos e mais
úmidos. Isto é uma vantagem nas épocas de calor mas pode causar problemas no
crescimento precoce das culturas em climas mais frios.
34

Figura 13: Efeitos comparativos de 28 anos de uso dos três sistemas de preparo no teor
de matéria orgânica e algumas propriedades físicas em um Alfissolo de Ohio,
EUA.

Propriedades químicas. Sistemas conservacionistas incrementam


significativamente o teor de matéria orgânica nos primeiros centímetros do solo (Figura
8). Durante os primeiros quatro a seis anos de preparo conservacionista, o aumento
de matéria orgânica resulta na imobilização de nutrientes, especialmente nitrogênio.
Isto contrasta com a mineralização de nutrientes que ocorre pela diminuição da
matéria orgânica do solo sob sistemas convencionais de preparo. Eventualmente,
quando a matéria orgânica do solo estabiliza a um novo patamar, as taxas de
mineralização de nutrientes sob plantio direto aumentam. Umidade mais alta e níveis
mais baixos de oxigênio podem também estimular a denitrificação. Estes processos as
vezes resultam na necessidade de maiores níveis de adubação nitrogenada para obter
boas produtividades durante os primeiros anos do plantio direto.
Em sistemas de plantio direto os nutrientes tendem a acumular nos primeiros
centímetros do solo a medida que são adicionados à superfície do solo resíduos dos
cultivos, excrementos de animais, adubos químicos e calagem. Contudo, a pesquisa
mostra que devido à cobertura de resíduos superficial (“mulch”), as raízes dos cultivos
não têm problemas para obter os seus nutrientes das camadas superficiais do solo. A
estratificação deve ser tomada em conta na hora de amostrar os solos para fins de
fertilidade.
Sem as práticas de preparo que misturam o solo, os efeitos de acidificação
pela oxidação do nitrogênio, decomposição do resíduo, e precipitação estão
35

concentrados nos primeiros centímetros do solo. O pH destes solos pode cair mais
rapidamente que em aqueles solos manejados utilizando o sistema convencional. Em
regiões úmidas esta acidificação deve ser diminuída aplicando calcário ao solo.
Efeitos biológicos. A abundância, atividade e diversidade de organismos do
solo tendem a ser maiores em sistemas de preparo conservacionista caracterizados
por altos níveis de resíduos superficiais e pouca perturbação física do solo. Minhocas
e fungos, os dois importantes para o desenvolvimento da estrutura do solo, são
especialmente favorecidos.

7.2 Controle por drenagem superficial


Terraceamento. É uma das práticas mais eficientes para controlar a erosão
de terras cultivadas. A palavra terraço é usada, em geral, para significar camalhão ou
a combinação de camalhão e canal, construído em corte da linha de maior declive do
terreno.
O terraceamento em terras cultivadas é sempre combinado com o plantio em
contorno; pelo seu alto custo, é recomendado onde outras práticas, simples ou
combinadas, não proporcionem o necessário controle de erosão. A principal função do
terraço é diminuir o comprimento das lançantes, reduzindo assim, a formação de
sulcos em regiões de alta precipitação e retendo mais água em zonas mais secas.
Nem todos os solos e declives podem ser terraceados com êxito. Nos
pedregosos ou muito rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e difícil
manter um sistema de terraceamento. As dificuldades de construção e manutenção
aumentam a medida que cresce a declividade do terreno.
O terraceamento, quando bem planejado e bem construído, reduz as perdas de
solo e água pela erosão e previne a formação de sulcos e grotas, sendo mais eficiente
quando usado em combinação com outras práticas, como o plantio em contorno,
cobertura morta e culturas em faixas; após vários anos, seu efeito se pode notar nas
melhores produções das culturas, devido à conservação do solo e da água.
A declividade do terreno é que determina a practicidade do terraceamento, uma
vez que a erosão aumenta com esse declive; entretanto, o custo da construção e da
manutenção do terraço aumenta com o grau de declive do terreno a tal ponto que esse
fator pode torná-lo desaconselhável.
Existem basicamente dois tipos de terraços; terraços de infiltração e terraços
de drenagem.
Os terraços de infiltração, que são construídos em nível, não permitem um
dimensionamento hidrológico muito preciso. A sua função é interceptar a enxurrada e
36

promover a infiltração da água no canal do terraço. A taxa de infiltração de água no


canal do terraço, que é o princípio de seu funcionamento, ainda é um assunto muito
pouco conhecido. Outro fator importante é que esta taxa provavelmente seja muito
variável e dependente do tipo do solo, da forma de construção do terraço, do preparo
do solo, do grau de compactação do solo e da sua umidade. Em decorrência disto, o
dimensionamento de terraços de infiltração com base em critérios hidrológicos ainda
não consiste numa prática rotineira.
Os terraços de drenagem interceptam a enxurrada e ao invés de promover a
sua infiltração no canal do terraço, conduzem-na para um sistema de escoamento que
pode ser uma grota vegetada ou um canal escoadouro. Nos terraços de drenagem os
princípios hidrológicos envolvidos no dimensionamento são mais bem conhecidos e
mais simples do que nos terraços de infiltração.
Quando são usados no terreno sistemas de terraceamento de drenagem, para
proporcionar a drenagem segura dos excessos de enxurrada, é necessário o
estabelecimento de canais escoadouros: são canais de dimensões apropriadas,
vegetados, capazes de transportar com segurança a enxurrada de um terreno dos
vários sistemas de terraceamento ou outras estruturas.
Em alguns tipos de solos bastante permeáveis, como o Latossolo Roxo,
consegue-se, às vezes, dispensar com segurança esses canais, mediante o emprego
de práticas mecânicas (como terraceamento de infiltração) e vegetativas que
produzam quase a retenção completa das águas da chuva.
Canais escoadouros são, em geral, as depressões no terreno, rasas e largas,
em declividades moderadas, e estabelecidos com um leito resistente à erosão. Sua
melhor localização é a depressão natural, para onde as águas são forçadas a
escorrer, bem como nos espigões, divisas naturais e caminhos.
A vegetação do canal escoadouro deve ser escolhida de modo a suportar a
velocidade de escoamento de enxurradas, não ser praga para as terras da cultura e,
se possível, ser utilizada como forragem. As vegetações ideais são aquelas que
cobrem e travam completamente o solo num emaranhado uniforme de raízes e caules.

7.3 Recuperação de solos degradados por voçorocas


A erosão por voçorocas é causada por fatores ligadas ao solo, hidrológicos, e
do relevo relacionados às características das microbacias hidrográficas. As
propriedades do solo que condicionam a formação de voçorocas são um gradiente
textural abrupto entre os horizontes superficiais e sub-superficiais, fluxo sub-superficial
especialmente "piping", argila altamente dispersível, e uma fraca estrutura do solo. A
37

extensão e a taxa da formação de voçorocas são aumentados por fatores antrópicos


(Figura 13), por exemplo, atividades agrícolas, desmatamento, queimadas, sobre-
pastoreio, construção de estradas, trilhas, drenos mal dimensionados, e outras
estruturas de engenharia que provocam a concentração da enxurrada. Na maioria dos
casos, voçorocas são formadas pelo aprofundamento de sulcos e desmoronamento
das paredes devido à formação excessiva de "piping". Os buracos fabricados pelos
animais nas vizinhanças da voçoroca podem provocar a extensão das voçorocas
lateralmente.

Fatores antrópicos

Actividades agrícolas Actividades urbanas Estradas

- desmatamento - predios e condomínios - mal projetadas e bloqueio


- queimadas - trilhas de cursos de água naturais
- uso de áreas marginais - minas de areia - drenos mal dimensionados
- sobre-pastoreio - manutenção defeituosa

Figura 14: Fatores antrópicos responsáveis pelas voçorocas.

A taxa da formação das voçorocas pode ser avaliada pelo volume de


sedimento transportado pela voçoroca ou pela avaliação da área afetada pela mesma.
Fotografias aéreas junto sistemas de avaliação padrão são comumente utilizadas para
avaliar a severidade das voçorocas. A formação de voçorocas pode ser controlada por
medidas de engenharia ou biológicas. Os primeiros incluem canais de desvio,
estruturas de interceptação, gabiões e calhas. Os segundos estão baseados no
estabelecimento de uma cobertura vegetal e incluem pastagens e arvores para
estabilizar as paredes e fundo da voçoroca (Figura 15).
38

Avaliação da situação atual:


- fonte e quantidade de enxurrada
- cabeças da voçoroca
- propriedades dos solos
- Microbacia hidrográfica e
declividade do canal da voçoroca
- padrão de drenagem
- vegetação
- características da chuva
- uso da terra atual
- capacidade de uso da terra

Identificar as necessidade de
conservação para as diferentes
unidades de relevo

Proteger as cabeçeiras das


voçorocas com cercas ou cercas
vivas

Desviar a água da enxurrada para


fora da voçoroca

Mudar o uso da terra na microbacia


que alimenta a voçoroca
- uso de coberturas vegetativas
- reflorestamento

Instalar estruturas de engenharia


- paliçadas de madeira ou pedra
- diques
- gabiões
- pneus

Figura 15: Seqüência de etapas na recuperação de áreas degradadas por voçorocas.

8 Reflorestamento
A recuperação do solo não pode ser considerada completa até que o local
tenha sido reflorestado. A cobertura vegetativa é necessária para proteger o solo da
erosão, mas a cobertura vegetativa pode ser vista como um teste ecológico do
sucesso do processo de recuperação.
Algumas considerações para a seleção de espécies para reflorestamento são:
(1) espécies nativas, (2) uso da terra proposto, e (3) limitações ecológicas e
ambientais. A ecologia da recuperação tem como principal objetivo o restabelecimento
39

das comunidades nativas de plantas e animais na área. Enquanto que a restauração


de comunidades nativas pode ser o objetivo em alguns casos, em outros o objetivo do
reflorestamento é a estabilização da superfície do solo e o restabelecimento da
superfície do solo biológicamente ativa. As espécies iniciais podem ser selecionadas
pela tolerância a altos níveis de poluentes químicos no solo ou a condições físicas
adversas como a seca, o encharcamento, ou estresse pela temperatura. Demandas
por nutrientes também devem ser consideradas. O reflorestamento pode envolver
múltiplas espécies (misturas de pastos anuais e perenes e leguminosas e também
com arvores) no plantio inicial, ou no plantio seqüencial no qual o reflorestamento
inicial foi realizados com espécies de crescimento rápido anuais, seguidos pelo
estabelecimento de espécies perenes e/ou arvores. A escolha das espécies deve
tomar em conta respostas diferenciais às condições do solo e os seus efeitos sobre a
competição. A seleção das espécies, também deve ser uma decisão realizada no local
tomando em conta as condições edafo-climáticas do local. Espécies de arvores devem
ser selecionados pela sua tolerância às condições de subsolo, taxa de crescimento e
formação de copa, e pela sua habilidade de competir com espécies de porte menor.
Em função da rapidez que as preocupações ambientais da sociedade mudam,
em especial com os gastos dos impostos, é essencial que áreas recuperadas tenham
condições que lhes confiram resiliência inerente. Isto é atingido com o estabelecimento
de um sistema biológico ativo na forma de uma cobertura vegetativa adequada.
Pressões sobre as áreas recuperadas devem ser minimizadas ao máximo, estas terras
talvez nunca tenham a capacidade de produtividade sustentável como área naturais
intactas.

9 Erosão do solo e a agricultura

9.1 Alterações no solo provocadas pela erosão


A erosão do solo é um processo de remoção, transporte e deposição de partículas,
causados pela água ou pelo vento. Em condições naturais é responsável pela
formação do relevo. Entretanto, as ações antrópicas, especialmente a ocupação
agrícola das terras, aumentam significativamente a sua intensidade. A erosão é o
processo responsável pelas maiores alterações da camada superficial dos solo e está
associado à diminuição do potencial produtivo das terras e a processos de degradação
dos solos e outros recursos naturais. A intensificação do uso das terras visando
atender a demanda do crescimento populacional ou a necessidade de crescimento
econômico, situações muito comuns em Países em desenvolvimento, geralmente
40

condiciona expressivos aumentos na sua intensidade (Lal, 1990). Além do impacto da


erosão sobre o potencial produtivo das terras, a enxurrada e os sedimentos originados
podem assorear baixadas e corpos d’água bem como servir de fonte dispersa de
poluentes ou nutrientes (Clark II et al., 1985) constituindo uma das principais formas
de degradação dos recursos hídricos (McCool & Renard, 1990). Quando há um
controle eficiente das fontes pontuais de poluição, os sedimentos originados nas áreas
de produção agrícola passam a constituir a principal fonte poluidora das águas
superficiais (Gomez, 1995; Hasenpusch, 1995).
A erosão hídrica é predominante na América Latina, com exceção dos pampas
Argentinos e da Patagônia e pode ser diferenciada em erosão linear ou areolar. Na
erosão linear a remoção e transporte de partículas são feitos pela enxurrada
concentrada de alta velocidade; condicionada pelo relevo, deságües de estradas ou
terraços secionados. A remoção é feita de forma pouco seletiva e a área afetada
corresponde, geralmente, a uma pequena parte da superfície. Na erosão areolar, a
remoção bastante seletiva de partículas ocorre em toda a área, é feita pelo impacto
das gotas de chuva. Neste caso, a quantidade de cobertura sobre a superfície
determina a intensidade do processo.
Em ambos os casos ocorre a diminuição da espessura do solo. No processo de
erosão linear todo ou grande parte do horizonte superficial podem ser removidos em
um único evento de chuva. No caso da erosão areolar, mesmo com taxas bastante
elevadas a diminuição da espessura do solo é relativamente lenta (Tabela 1).

Tabela 1: Relação entre a intensidade de erosão do solo e a diminuição da espessura do


solo
Intensidade Diminuição da espessura do solo Tempo para diminuição de 20cm
Mg ha-1 ano-1 mm ano-1 anos
2 0,00 +∞
6 0,33 600
12 0,83 240
25 1,92 104
50 4,00 50
100 8,17 24
Considerando a densidade do solo igual a 1,2 g cm-3, e a taxa de formação do
solo de 2 Mg ha-1 ano-1 e o processo erosivo ocorrendo de forma uniforme.

A seletividade na fase de remoção e transporte das partículas faz com que os


sedimentos originados pela erosão, principalmente a erosão areolar, sejam mais ricos
em nutrientes, matéria orgânica e argila em relação ao solo que lhes deu origem
(Novotny et al. 1981). As taxas de enriquecimento são bastante variáveis, mas
41

normalmente superiores a dois, fazendo com que o empobrecimento do solo seja mais
rápido se comparado com a remoção não seletiva bem como amplia a carga poluidora
dos sedimentos e da enxurrada. A diminuição da espessura do solo em terras
cultivadas provoca a alteração do horizonte superficial pela mistura com o material das
camadas inferiores, alterando a sua morfologia, granulometria e composição química
(Mokma et al., 1996). A magnitude do impacto sobre a produtividade das culturas é
dependente das características da camada subsuperficial bem como do manejo
adotado.
A combinação destes fatores faz com que o impacto da erosão sobre a produtividade
das culturas varie de acordo com o tipo de solo, a forma de erosão e, principalmente,
com as características do sistema de produção em relação à utilização de insumos. Na
Figura 1 apresentamos uma classificação dos solos em relação às conseqüências da
erosão sobre a produtividade das culturas.

Figura 1: Classificação dos solos em relação às conseqüências da erosão sobre a


produtividade das culturas.
Classes de solos em função da relação erosão vs. produtividade
Sem erosão
Tipo de Solo Fase intermediária
Erosão extrema

Solos rasos

Solos com gradiente


estrutural ou textural

Solos sem gradiente


e profundos

O comportamento desses grupos quanto às conseqüências da erosão sobre a


produtividade das culturas será distinto em relação à reversibilidade, intensidade e a
velocidade de queda.
42

9.2 Relação entre a erosão do solo e a produtividade das culturas


A erosão do solo apresenta elevada variabilidade espacial e temporal. Uma área não é
igualmente afetada em toda a sua superfície e a sua intensidade varia
consideravelmente ano a ano. O efeito das técnicas de manejo das culturas muitas
vezes não pode ser separado dos efeitos diretos da erosão sobre a produtividade.
Desta forma, o estudo da relação entre a erosão do solo e a produtividade das culturas
em condições de campo com erosão natural é muito difícil de ser executado e
demanda um tempo muito longo para alcançar resultados representativos. Assim, os
métodos indiretos como a remoção artificial do solo superficial, os ensaios simulados
em casa-de-vegetação, ensaios de campo com manejo diferenciado, o
estabelecimento de relações entre as propriedades do solo em profundidade e a
produtividade das culturas, a utilização de simulação de erosão para acelerar o
processo e a modelagem têm sido as principais formas de abordagem do problema
(Price & Lal, 1994). Todos os métodos indiretos têm influência distinta sobre os
resultados e apresentam limitações em relação à possibilidade de sua extrapolação.
A maior extensão de terras da América Latina está situada na região tropical onde
predominam os solos profundos com ou sem gradiente textural ou estrutural na qual
os solos rasos ocorrem em menor extensão.
9.2.1 Solos rasos
Nos solos rasos a diminuição de espessura consiste, geralmente, numa perda
irrecuperável de volume a ser explorado pelas raízes, principalmente se a camada
subsuperficial apresentar características desfavoráveis ao desenvolvimento das
plantas. Nestes casos, a recuperação da produtividade pela intensificação do manejo
ou pelo maior uso de insumos será apenas parcial. Estudos desenvolvidos por Malhi et
al. (1994) em condições de casa-de-vegetação com Molissolos no Canadá utilizando
cevada como planta indicadora e Ives & Shaykewich (1987) também no Canadá nos
mesmos tipos de solo num estudo envolvendo a remoção artificial e o cultivo de trigo
concluíram que a queda de rendimento foi bastante significativa e pôde apenas ser
recuperada parcialmente pelo uso de doses elevadas de fertilizantes. Fatores físicos
com a disponibilidade de água para as plantas passaram a limitar a produtividade. As
conclusões gerais de simpósios sobre o assunto (McCool, 1985; Larson et al., 1990)
também convergem para estas conclusões.
9.2.2 Solos profundos sem gradiente textural ou estrutural
Os solos profundos e sem gradiente textural ou estrutural expressivos são
representados pelos Oxissolos e parte dos Ultissolos e Alfissolos. Estes solos, devido
às suas características físicas e topografia predominantemente plana ou suavemente
43

ondulada são intensamente cultivados com a utilização de insumos e nível tecnológico


elevados. O seu horizonte subsuperficial na maior parte dos casos apresenta um teor
mais baixo de matéria orgânica e nutriente e acidez elevada. As características
morfológicas e físicas são muito semelhantes às da camada superficial.
Nestes solos a remoção de terra pela erosão e a conseqüente mistura do horizonte
superficial com os de subsuperfície leva ao seu gradativo empobrecimento sem
contudo alterar suas propriedades físicas ou limitar a sua profundidade. Nos sistemas
de produção de baixa utilização de insumos o empobrecimento decorrente da
exposição gradativa de camadas de menor teor de nutrientes e a maior acidez levarão
à queda no rendimento das culturas. Nos sistemas de produção com maior utilização
de insumos as perdas de nutrientes pela erosão correspondem apenas a parte das
perdas decorrentes de outras formas como adsorção específica, lixiviação, exportação
pelas colheitas e volatilização (Figura 2 adaptada de Barber & Olson, 1968; Raij et al.
1985 e Malavolta, 1976).
44

Figura 2: Balanço entre perdas e ganhos de P e N em função da intensidade de


erosão.
Adição
Perda
Adubação Precipitações
Atmosféricas
NPK
Colheita Volatilização
Restos
vegetais Erosão
Ciclagem

Fixação
Intemperismo
P e N kg/ha
Lixiviação

Milho
80 180
9,5Mg grãos/ha 0 10
NPK
32 130
0 0 a 40

8 63 Erosão P N
Mg/ha a kg/ha
16 20 5 0,2 10
15 0,6 31
56 0 25 1,0 52
0 0
0 72

Milho 0 0 0 10
2,0Mg grãos/ha
NPK
15 34 0 0

3 16 Erosão P N
Mg/ha a kg/ha
15 10 5 0,2 10
15 0,6 31
?0 0 25 1,0 52
0 0
0 10

Os resultados obtidos por Sparovek et al. (1991) num ensaio com remoção artificial de
solo sobre um Rhodic Kandiudox demostraram ser possível recuperar a produtividade
a níveis normais mesmo após a remoção completa do horizonte superficial pela adição
de matéria orgânica e fertilizantes já no primeiro cultivo (Figura 3).
45

Figura 3: Relação entre a remoção de terra e o rendimento do milho


Maize, 11/89 to 03/90
100
90
80
Relative yield, %

70
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50
Soil removal, cm
Treatment
OM & NPK (observed) NPK (observed) Control (observed)
OM & NPK (estimated) NPK (estimated) Control (estimated)

Neste mesmo ensaio (Sparovek, 1994), após três cultivos a adição de fertilizantes e a
incorporação dos restos de cultura no sistema de produção de elevada utilização de
insumos foi suficiente para recuperar o rendimento das culturas a níveis normais
(Figura 4).

Figura 4: Relação entre remoção de terra e erosão para nove cultivos sucessivos. Onde
M1, M2 e M3 = milho, W1 e W2 = trigo, S1, S2 e S3 = Crotalária juncea e LU =
tremoço branco
Treatment
OM & NPK NPK Control
100
Average relative yield, %

80

60

40

20

0
M1 W1 S1 M2 LU S2 M3 W2 S3

Crop
Estes resultados indicam que as adições de matéria orgânica via restos de cultura e
dos fertilizantes nos sistemas de produção de elevada utilização de insumos foram
suficientes para recomposição do horizonte superficial do solo de modo a não
comprometer o rendimento das culturas mesmo considerando elevadas taxas de
erosão, muito acima das observadas normalmente nestes solos. Nestes casos a
46

erosão do solo passa a ser um problema muito mais relacionado aos impactos
ambientais do que a sua influência sobre a produtividade das culturas.
9.2.3 Solos profundos com gradiente textural ou estrutural
Nos solos com gradiente textural ou estrutural o comportamento será intermediário e
dependente das características da camada subsuperficial. A reversibilidade na queda
da produtividade pode ser apenas parcial. Num estudo realizado em condições de
campo com erosão natural Salviano et al., (1996) estabeleceram a relação entre a
espessura remanescente de Paleudults de textura arenosa sobre média e a
produtividade de Crotalaria juncea (Figura 5) num sistema de produção com utilização
moderada de insumos.

Figura 5: Relação entre a espessura remanescente de um Paleudult e a produtividade de


Crotalaria juncea.

Produtividade da Crotalária vs espessura do solo

10

9,5

9
Produtividade, Mg (MS)/ha

8,5

7,5

6,5

5,5

5
0 20 40 60 80 100 120 140
Espessura do solo, cm

Perc
ebe-se a existência de um patamar de produtividade com uma espessura acima de
50cm de solo, situação na qual já é expressiva a mistura entre o horizonte superficial e
o subsuperficial. Desta forma, mesmo nesta situação a utilização de insumos foi
eficiente na recuperação da produtividade, indicando que o comportamento até a
remoção quase completa do solo foi parecido com o dos solos sem gradiente. Com
uma espessura inferior a 50cm já são esperados problemas relacionados a limitações
físicas para o enraizamento das plantas. No entanto, o único ponto que diferiu dos
demais (Tukey 5%) foi a espessura remanescente média de 10cm.
47

9.3 Conclusões
A relação entre a produtividade das culturas e a erosão do solo foi resumida na Figura
6 para sistemas de produção de baixa utilização de insumos e na Figura 7 para
sistemas de elevada utilização de insumos.

Figura 6: Relação entre a produtividade das culturas com baixa utilização de insumos e
a erosão.

Baixa utilização de insumos


Sem erosão
Tipo de Solo Fase intermediária Efeito na produtividade
Erosão extrema
ÖRedução rápida
Solos rasos ÖTende a zero
Î Irreversível

ÖRedução moderada a rápida


Solos com gradiente ÖTende a estabilização
estrutural ou textural Î Parcialmente reversível

Solos sem gradiente


e profundos ÖRedução moderada a rápida
ÖTende a estabilização
Î Completamente reversível
48

Figura 7: Relação entre a produtividade das culturas com elevada utlização de insumos
e a erosão.

Alta utilização de insumos


Sem erosão
Tipo de Solo Fase intermediária Efeito na produtividade
Erosão extrema
ÖRedução rápida
Solos rasos ÖTende a zero
Î Irreversível

Solos com gradiente ÖRedução moderada


estrutural ou textural ÖTende a estabilização
Î Parcialmente reversível

Solos sem gradiente


e profundos ÖNão há redução ou moderada
ÖEstabiliza
Î Completamente reversível
Î Recuperação completa do solo

Agradecimento: Agradecemos a ajuda do colega Luís Ignácio Prochnow pelo auxílio


na preparação da Figura 2.

9.4 Bibliografia
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