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O primeiro é Austrália com a maior massa de terra firme. Atrás dela estão
Micronésia, Melanésia e Polinésia, este último grupo é o mais extenso dos
insulares dado que compreende todas as ilhas encerradas num polígono que
vai desde as duas maiores ilhas, as de Nova Zelândia, até a ilha de Páscoa, a
mais próxima da costa americana, passando pelas Havai, Taiti e Samoa.
Portanto, foram abandonadas as antigas convenções que supunham que
Malásia, a atual Indonésia, ou uma parte dela, Filipinas e outras ilhas, como o
arquipélago japonês das Kuris, faziam parte desta quinta região continental.
Oceania é uma zona eminentemente insular, dado que, à parte do grande
território continental de Austrália mais a ilha de Tasmânia, Papua e as duas
ilhas da Nova Zelândia, o resto está composto por mais de dez mil ilhas e
ilhéus, com uma extensão total de uns 120.000 quilômetros quadrados, o que
vem a dar uma (enganosa) média de pouco mais de dez quilômetros
quadrados por ilha, cifra que dá idéia da escassa concentração humana, da
dispersão da sua população e da elevada quantidade de áreas separadas que
formam este conjunto tão heterogêneo.
Quanto à divisão da sua população digamos autóctone, há dois grandes grupos
étnicos muito diferenciados: melanésios, de rasgos predominantemente
negróides, e micronésios, de rasgos mais mongolóides.
Os micronésios, por sua vez, se distribuem aproximadamente em dez zonas
lingüísticas diferentes. A população primeira desta região chegou
principalmente da Ásia (já que também houve emigrações menores da
América) por sucessivas ondas há só uns vinte mil anos, e muitos dos
territórios insulares mais orientais são de muito recente população, alguns até
receberam a sua população primitiva no primeiro milênio da nossa era, como é
o caso particular das ilhas Havai, que receberam primeiros imigrantes, vindos
das ilhas Marquesas, no século V, com a segunda emigração que chegou do
Taiti, nos séculos IX e X.
UMA CONSTANTE ANIMISTA
Em toda a Oceania, especialmente na Melanésia, o animismo é o sistema de
crenças mais importante. Este sistema animista, como apontava Sir James G.
Fraser, que realizou um dos melhores estudos da zona, é a demonstração de
que aqui a magia dominou a religião e venceu-a em toda a linha. Porque o ser
humano, ao sentir-se impotente perante as forças da natureza, ao não poder
aceder ao seu controle, ou pelo menos, ao não poder prever o seu
desenvolvimento, trata de improvisar um ritual que lhe dê a possibilidade de
recuperar parte da confiança perdida.
O animismo tem duas notas peculiares: o particularismo e o ceremonialismo.
Tenta-se trabalhar a alma, o espírito particular, individual e definido, de cada
um dos elementos sobre os quais se deseja atuar e, ao considerar a sua
personalidade espiritual, se quer descobrir a maneira de agradar ou atemorizar
o espírito em questão. Para isso, o pretendido conhecedor dessas almas
desenvolve a cerimônia que melhor lhe parece que pode resultar, de acordo
com a sua intenção. Neste caso, resulta claro que não há necessidade de
mediador, de sacerdote, porque as regras se vão criando segundo aparece a
necessidade correspondente. O espírito da coisa, do animal, ou do fenômeno
em questão, é uma alma concreta e o praticante também o é; portanto, a
cerimônia animista é uma conversa, um contato pessoal entre o espírito e o
demandante, que se ajuda com a magia que ele conhece, que aprendeu dos
seus maiores ou que intuiu que é a mais indicada para essa alma, a melhor
para essa ocasião concreta.
O ANIMISMO HOJE
Temos um interessante exemplo atual deste culto animista na Papua Nova
Guiné, a metade independente da ilha de Nova Guiné, com uma extensão de
perto de meio milhão de quilômetros quadrados e uma escassa população,
pouco mais de três milhões de habitantes; ora bem, neste novo país, no qual
apenas três por cento da população se declara oficialmente não cristã, existe o
culto animista mais moderno que se conhece. Começou com a chegada dos
europeus e a sua exibição de grandes embarcações, das quais desciam
portentosas maquinarias, instrumentos e bens, até a essa altura
desconhecidos para os papus (nome malaio que se refere ao cabelo
encrespado dos aborígenes). Pois bem, desde a Segunda Guerra Mundial, num
momento em que os papus assistiram a um portentoso incremento de
transportes militares na sua ilha, Papua viu como se acelerava e se
institucionalizava o culto da carga (Cargo Cult), com cerimônias
particularizadas na espera dos papus para que cesse a intervenção maléfica do
homem branco, o estrangeiro que muito bem sabem que foi quem desviou a
carga a eles destinada, primeiro nos barcos e agora nos aviões; no ritual
coletivo deste culto oficia-se através de modelos de aviões feitos
ingenuamente em madeira, com os quais se invoca os de verdade; a cerimônia
desenvolve-se periodicamente nas imediações do aeroporto da capital, em
outra maquete ritual do aeroporto de Port Moresby, precisamente para fazer
com que a magia atue em substituição, ao ser evidente que os aborígenes não
têm o poder nem os meios técnicos necessários para reclamar pela força essa
carga tão ansiada que exigem. Com certeza, se afirma que não há signos de
que este culto tenha remetido com a passagem do tempo, ao contrário, cada
dia parece mais estabelecido e melhor definido. Mas, ao mesmo tempo que
existe este culto moderno, se continua julgando que Kat foi o herói que trouxe
a noite aos humanos. A magia, em toda a Oceania, se assimila a uma forma de
defesa perante a realidade e a sua última conseqüência, a magia destrutiva é
simplesmente uma arma utilizada pelo oficiante num ato de legítima defesa
para destruir o inimigo, que não se pode parar doutro modo, mas esta magia
destrutiva só reveste o inofensivo aspecto (para nós, que não temos a
maldição) de um sortilégio pronunciado com todas as condições prescritas pelo
ritual.
MITOS COMUNS
Há muitos pontos comuns na mitologia dos diferentes agrupamentos insulares
da Oceania. Mas, naturalmente, as coincidências são tantas como as
discrepâncias e as peculiaridades de cada etnia ou grupo, digamos nacional,
sobretudo porque a enorme dispersão geográfica torna impensável que,
embora se partisse da mesma raiz religiosa, fosse possível conservar
inalterada a essência após pouco mais de um par de gerações, principalmente
na cultura de transmissão oral, na qual três gerações é o máximo passado que
se pode estabelecer com precisão cronológica. Portanto, a característica
primeira da mitologia de toda a região da Oceania é que se misturam com
facilidade os cultos gerais da zona com os desenvolvidos localmente, sem que
exista absolutamente nenhuma colisão ou oposição a esse casamento. Um dos
seres legendários e semi-divinizados que aparece com maior freqüência nas
diferentes áreas é Maui ou, mais exatamente, Maui-Tiki-Tiki, que é o herói
legendário, o ser divinizado de origem um humano pescador. Foi capaz de
realizar o descobrimento do fogo. E, como em tantas e tantas mitologias, esse
herói proporcionador do supremo bem do fogo não atuava em seu proveito,
porque o grande Maui-Tiki-Tiki, uma vez que possuiu o segredo do fogo,
cedeu-o generosamente aos seus companheiros os humanos. Também se tem
o grande Maui por divindade dos primeiros frutos nalgumas zonas da Polinésia
e Micronésia. Na Nova Zelândia, para os maoris, Maui é a divindade que
representa o Céu; nas ilhas Havai, Maui-Tiki-Tiki é o mesmo deus que
Kanaroa, isto é, é o deus supremo do seu panteão, enquanto nas ilhas Tonga,
ao noroeste da Nova Zelândia, Maui é somente um dos deuses simplesmente
importantes do seu abigarrado olimpo local. Mas também em Nova Zelândia,
no Havai e nas Tonga, coincide-se em relacionar Maui, o pescador, com a
origem da terra; firme, dado que nas três zonas, tão diversas, se fala do
pescador Maui como do artífice desse prodígio que foi recuperar a terra seca e
habitável das profundidades do mar. Noutras zonas da Austrália, como
Queensland ou New South Wales, conta-se que Maui marcou de vermelho a
cauda de um pássaro local, porque a ave quis roubar-lhe o fogo que ele tinha
descoberto, que é uma lenda muito similar à que se conta dos pássaros e do
fogo nas ilhas Havai.
DE REGRESSO À AUSTRÁLIA
Embora Austrália seja um continente-ilha duma enorme extensão, com quase
oito milhões de quilômetros quadrados, a desertização do interior fez com
que,desde tempo imemorial, os núcleos de população aborigem da Austrália se
tenham dispersado nas mais férteis zonas costeiras; por essa razão, são muito
diversos os desenvolvimentos mitológicos próprios, com influências exteriores
ou sem elas. Entre os deuses principais está Upulera, o Sol, mas nas tribos de
Queensland diz-se que o Sol (que é feminino) foi criado pela Lua, e a tribo
Arunta pensa que o Sol é uma mulher nascida da terra e que ascendeu ao céu
com uma tocha, embora muitos grupos acreditem que o Sol saiu do interior de
um grande ovo de emú lançado para o Céu, recebendo o deus do Céu
advocacias como Koyan e Peiame.Como se pode ver,a Lua é uma divindade de
mais categoria que o Sol, o seu criador em muitas ocasiões, e se dá bastante
mais importância ao seu percurso noturno do que ao diurno do Sol. Em Vitória,
no sudoeste australiano, é o deus Pungil ou o seu filho Pallian, o criador do
primeiro homem, que modelam, um ou outro, do barro, embora outras tribos
do país falem do excremento dos animais como a base da sua criação, ou de
homens feitos de pedras e mulheres feitas com a madeira dos arbustos, ou
tiradas do fundo dum charco, com Pungil como pai dos homens e Pallian como
pai das mulheres. Também se cita os irmãos gêmeos Inapertwa como os dois
criadores dos primeiros seres humanos, sendo o deus Nurrudere o criador do
Universo completo. Em Queensland, no nordeste, Molonga é o nome dado ao
demônio. O demônio Potoyam é outra das personificações do mal, sendo Wang
o nome das almas sem corpo dos defuntos,enquanto Ingnas é o apelativo dado
aos duendes e o de Kobone é o nome de um animal totêmico com poderes
mágicos. Mas, como já se comentou antes, são as explicações animistas dos
animais as que figuram no primeiro lugar da mitologia indígena australiana,
com os pássaros ocupando, por sua vez, o degrau principal dos totens
zoomórficos, sobretudo nas lendas relacionadas com o descobrimento do fogo,
dado que são pássaros tão diferentes entre si como o corvo, a gralha, o falcão,
o régulo, os que roubam, trazem ou conseguem diretamente com o seu
esforço o primeiro brote da chama viva; mas também os pássaros são
mensageiros do dia e da noite, da vida e da morte, pescadores e caçadores
primigênios, e até uma grande ave terrestre, como é a avestruz australiana, o
emú. É mãe involuntária do Sol, porque de um ovo seu saiu o astro-rei.
NOVA ZELÂNDIA
Os maoris foram os mais combativos e aventureiros povoadores da área,
emigrantes eternos dos mares da Oceania; com eles se estenderam também
as suas divindades, sob a presidência do deus Tangaroa, que é o ser supremo
e com a inevitável presença da divindade mais ubíqua, Maui, que é o deus do
Céu e está acompanhado pela sua esposa Innanui. Nesse céu brilha Rona, o
Sol do dia, e Moramá, a Lua da noite, embora exista Papa, a Mãe, que também
representa a Lua, sendo então Rangi ou Raki, o seu companheiro e o deus do
Céu para outros grupos da Nova Zelândia, para quem esta é a dualidade
suprema. A raça humana começou com Oranova e Otaia, sendo Dopu, o filho
de Otaia, o senhor das trevas. No paraíso reina Higuleo e é Hne-Nui-Te-Po que
se encarrega de levar lá os espíritos dos humanos após a sua morte, porque é
a deusa das almas, enquanto Tokai representa na terra o poder do fogo e o
perigo dos vulcões, e no céu está Tawhaki, deus das nuvens e o trovão, um
dos seis filhos de Papa e Rangi, e irmão de Tane Mahuta, que é uma divindade
da selva. Estes dois irmãos, fiéis aos seus pais, enfrentaram os outros quatro
maiores, que queriam matar Papa e Rangi para que a luz do céu lhes chegasse
a eles, e conseguiram o seu propósito, embora na briga, a fúria do combate
arrastasse grande parte da superfície sob as águas do mar, por isso ficou tanta
extensão de água e tão pouca de terra firme. Finalmente, os animais totémicos
Kobong de Nova Zelandia cumprem a mesma função dos seus homônimos, os
fetiches Kobone da Austrália.
A POLINÉSIA FRANCESA
O Taiti goza-se duma rica mitologia, com o casamento dos deuses Tane e
Tarra como seres supremos e criadores de tudo o que existe no nosso Universo
visível, incluídos os seres humanos, como também o são em partes da Nova
Zelândia, onde Tane, criador da primeira mulher,teve com ela os humanos. No
Taiti, o divino casal está acompanhado na sua glória por outras deidades como
são: Po, a noite; o deus Aie, representação do céu; Avié, divindade da água
doce; Atié deidade do Mar, ou Malai, divindade do Vento. No céu estão o
luminoso Mahanna, o deus do Sol e as suas mulheres, como Topoharra, que
também é a divindade das rochas, e Tanu. Mas há uma grande deusa, a deusa
Pelé, a divindade do respeitado, por temível, interior dos vulcões,que tem na
maligna divindade de Tama-Pua, o porco-homem, o seu inimigo mortal e
eterno, embora Pelé conte com uma grande família de muitos irmãos e irmãs,
tão vulcânicos como ela, sempre dispostos a ajudá-lo na sua luta. Trata-se de
irmãos como Kamo-Ho-Arii, o deus dos vapores vulcânicos; Tané-Heitre, o
terrível bramido; Ta-Poha-I-Tahi, a explosão do vulcão; Te-ua-Te-Po, o da
chuva noturna, e o furioso Teo-Ahitama-Taura, o filho da guerra que cospe
fogo. As mais importantes irmãs da deusa Pelé são oito, desde as doces Ópio,
a personificação da juventude, e Tereiia, a que faz as guirnaldas de flores, até
Ta-bu-ena-ena, a personificação da montanha em chamas, passando por
Hiata-Noho-Lani, a Mãe e Senhora do Céu, Taara-Mata, a deusa dos olhos
brilhantes, Hi-te-Poi-a-Pelé, a que beija o seio de Pelé, Makoré-Wa-Wa-hi-aa, a
dos olhos fulgurantes que envia a brisa para as pirogas, e Hiata- WawahiLani,
a irmã que tem o poder de abrir os caminhos ao Sol e à Lua no céu e nas
nuvens.