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CBIJTURA E ALCOOLISAC~O

DA BATATA DOCE

ILHA DE S. MIGUEL
AO

CONSELHO ESCOLAR DO INSTITUTO DE AGRONOHIA


E YETERINARIA DE LISBOA
POH

Jose Canavarro de Faria' e Maia

LISBOA
TYPOGRAPHIA 37 PINHEIRO
~ A T T O SFOREIRA

38, Ana de Jardim do Rqedor, 44


Aos seus paes e irmãos

Testemunho de verdadeira amizade


Aos seiis parentes
Aos seus condiscipulos
E

AMIGOS
Ue btlos os assmplos agricolas clc interesse
qiie se 110s apresentava~u,escolliemos para tl-iese
tia disserla(áo que serve de termo ao nosso curso,
o dn C/rltura e alcoolisa~ãoda batata ddce na ilha
de S. LMiyz~el,1150 sO por tcr importancia em solo
pori:igilez, aiiida quc esquecicio rio Oceano Atlan-
tico, inas Iambern porque este rtirrio da açricul-
turS;i c cfa intlustria agricola esta intiinamente ligado
coiit iirri de principal riqueza iiacioiial, a viticiil-
tura, ;ilBm tlr que e aintla íl'onde provem par;) o
Estado iririii tl;\s suas boas fontes de receita.
E' este imi cstiido bastante coinplexo para ser.
devictameiltc: traiado, e seria para isso preciso cliirk
possiiisscmos, alern de aptidões especiaes, teml~o
sill'tic.ieiite para as investigacões sricntificas iieces-
sarias; porem, faltando-nos amhas ;rç coiisas, ser$
IIHI humilde esboço, este, que ternos a 1ioiii.a de
;ipresentar ao mui digno Conselho Escolar do Ins-
tiluto de Agronomia e Veterinaria, na certeza de
qiie nos relevara as faltas que iiáo p0de deixar de
ihommetter aquelle que pela primeira vez se inicia
cvn trabalhos tl'estc geriero.
Fazer u L-iistoria e clcscr.ij)(;30 botaiiica da planta,
descrever o motio dc cirltiira seguido na ilha de
S. Migiiel, cstiid;ir iis suas doenças, tratar da sua
])arte econoinica, criti(:;rr as praticas culturaes ali
seguidas em face dos ~)rincipiosagronomicos, e es-
tudar de iirn modo ger:il :i alcoolisaçáo do tiiber-
c*iilo 6 tudo o qiicl nos ]?repomos eshocar.
Historia e descripção botaníca da planta

Ai I)alat~tJbce, ou Cor/col~xlusbutcctus L., r > t i i i i ; ~


plairta ruja origciii :iiiitl;t ri5o eslb hoje riri (lia I ~ ~ r i i
determiiiad ;I.
Alguris aiic.lorc1s dáo-liie uii~;iorigcliil ;isiatica, I:
citar11 v;iiaios i'ticLiospara a cornprovnrcm ; poraOrir,
da partc tic oirtros, iião ha menos argclnientos
para a coiisiderareni proreriieritcb da ,imcrica. De
toclas css;is silpl)osicsões,o qilc potlcnios coricluir, i 1

(lu(: tlcii ci~tradalia Europa pela Penirisul;~ITispa-


nica, seticio cullivacla em 1Iesl)arilia a partir do se-
ciilo XI-1. Rulihiiis diz qilc íbi trazitla da Amcri(.;r
1)ar;i Maiiilltt e Molucas, d'criitle os poi.ti~giiczcs;I
I(lv;riaairi1);ir.a o archil)ela;o iridiario.
Ern Fra~ica c>iisaioii-se pcla prinir'ir;~ )(&zcssl:i
pl;iilta, 110 ~ P ~ I I : I ( ] IO~ PIJuiz sv, tO111iilldO. ])OréIN,
pouco desenvolviinerilo como plarita f~orticola,por-
que o gosto assucarado (10s tuberculos desagra-
dava ao consumidor. Foi, por este motivo, comple-
tamente posta de parte jio fim d'arlu~llcreinatlo,
apparecerido novamelite tio Imperio.,
Em 1834, n Societl;ic!e t l ~horticultur;~tltl Paris
ciitaarou-a coiiio pl;iiit;r ii)rragiriosa, (I, a partíi.
tl'esta epocha, foi cultivatl;i por varios agricultores,
sem comtudo tirareiii os ~.csiiltatfosqiic espera-
varn, por causa tlo cSliiila.
Conio planta dc 1~;iizescliit~ittcs,t~iicaootra-seeiri
lutla a costa occideiital da Africa, ern &l;rlaga, Giia-
tl;tlupe, Martinica, L)crner:rr:i, Aiistr;ili;i 11'oiiEros
])oritos de clima ideritico.
N:r parte contiileiit;il do nosso paiz, cultiva-se
solmioi~teno Ilçarvc como planta horiicol;~: por8in,
liri clnsaiads como l~laiita iiidiistri;~liro a m o de
1895, em Coildeixa ; inas riao cstariios ao Eias1o de
ci~iaesos resultados cl'aqixella tentativa.
Prosper;~brlni, csta plai~ta,ila ilha da Yarteii.a,
porèm, 1130 toma a siia cultura desenvolvimento tal,
r4ue a empreguei11 (liri grande escala para usos in-
dixstriaes.
E' nos Aqbres. lili illia Terceira e principalmente
ria de S. Jliguel, onde se explora industrialmente,
empreganclo-a como inateria prima para a eatrac-
$30 tlo alcool.
N3o potlciiios l)ra<:c'isara dí~t;rcla sua introducqlao
n'aquelle ;ircliipclaço, iiem mesmo a sua prove-
niencia : no eintanto, A C P ~ C d'esta
~ iiltima, somos
levados u suppo~.cpie fosse arneiiçaiia, vislo que
í: com este norne roino tanibem colitieçcni virlgar'
iiienle a balata.
A~itigamentecra poiico c.i~ltivada, sU a ciiiprr-
grrvani para usos culinarios, cstracqáo de fcci~l;!
ou alimciiI;~i:áo tic gado ; 1)oia6~ii, ar1iinlmeiilc, 11r1I-
cttrz-se, lia illia tlc S. Rligilel, ni;~lci.i;i~)rirri;\sulli-
cieiitc para ;iliiiic~i~t;ri~ tluirs iriipor.l;~iitc.;Inhricas (lih
cJistillaqáo.
O izaide tl'esla ~)l;riitae Irci#l)acco,~ o l i i \ c cl Jii-
calcscerite, pro:liiziritlo al)iiiitl;~til~~s raizes ;idveiiti-
(:ias, cspecialincritc cluaii(Po rasl(3,iairtc. As hlhas
são rorílifoiarncs, ou alahai2tli~i;ts,conSorinc ;rs v;)-
i.iclrlatlcs, loi~g;iniciii(~ pcciol;itl;ts e g1;il)ras.
.\s s i i ; ~fl6i.c.; G o roi. (!(I i80b;i, tlisposlas eni
i)airiciil;i, e ihninly;i~irilatias ~~oiiio loil;is ;is ri;is coil-
volvulai.c;is. Sos paizes <jueiiles li~rit-!iiic.rii b 1)roclul:
serrientcs com ;\l)iiildaiicia; porém. il;l Rui20pa, só
em casos cxcepcioaars. Toriia-se esl;\ 1)lant;i nota-
vcl pela 1)rorl11ccáo i.;iii.es tiibcro>;is, feculeiitas
P assilcaradas.
E' .\.ivaz, e tios ~)iiizcscl~rcritc~~, ;ic~ilti(~ \.rgela
clilasi seri1 a$datlos, iiilrie;i :t iacno\-;im pai' chso
i n o t i ~ o ; sómentc a forlia111 a plaiif;rr tlc>lic~i.: ( l i !
Seita a collieita dos tiibcrculos.
Mixltiplica-se gcrahriciitc yor iiieio t lc ('>(;IC;I,
rliler uhteiirlo-as dos rchcnlos 110s Iiil)crc.iilos, O I I
410 pryjl~rio(>:~~il~b ( h ~ ) ! ; I I I ~ : I: I ~ O I I I ~ I K ~LOJ, ~ ~ : ~ J1111-
I!~o
ir1er.o dr! variedaiics qtw tiojc exjslei~i,trlriii sido
obfit1:is por seinciitcs. Eiii lIespnnlja iis:iiii c'sl?c-
cialmeiite cortar ;t rama enl estacas tlo compri-
mento de Om,20,obtendo assim o plantio.
Vegeta bem em toclos os terrerios, preferii~do,
no emtanto, os leves, de h03 O X P O S ~ C e, ~drenados
~ ;
r aquclles que, além t l iiriia ~ prrcentagem regu-
lar dr iisote, são ricos ( b i i ~;r(.i(lophosphorico e
potass;].
Conlioc2ein-segrailtle ~iiirrlrr-o tle variedades, sendo
comtudo tis mais prekritl;rs as scgiiirites : a Verme-
lha e Anmrella cotnl~ritla,1?1.o\tbiiientes da ilinericd
septer~ti.iori;il; ;i Verrr,ell~ntlr AWalcrga; a branca da
Ilha dr 8'roirg.u ; ;i Ii;rl:it i\ Iynailt~,prot'eniente d;l
Guadaliipe, branca c rnu i l(J productiva ; a ITiokta,
cle cbr* vermelho escuro c unia das mais aprecia-
das, e muitas outras.
As rrrais çi~lti\radasiia illia do S. Miguel teeii~
sido a Vermelha conzpridu e a Roxa de f0r1na va-
riavel ; porem, ultimamente, teem ailtivado em
grande escala a Anzarella conzprida. Existeni alli
ainda algumas outras variedades, destacando-se,
eiitre ellas, uma, de côr amarello esbranquiçado,
comprida, de folhas partidas, distinguindo-se, prin-
cipalmente, pela particularidade de não se produ-
zirem raizes adventicias no seu caule, vantagenk
esta, grande, para a cixltura, como veremos.
Todas estas variedades teein um valor iiidus-
trial differcnte, representado pela percentagem drl
assucar e amido que encerram os seus tubercuios :
mas, como as fabricas recebem a materia priuiir
a pezo, :i cilltiira desetivolve-se mais no seiitidn d;i
variedade que rnais produz e que menos amaiihos
necessita.
Damos em seguida a composicão das duas va-
riedades, Amarella con~pridae Roxa, que ensajb-
'
mos diiraiite o nosso tirocinio pratico lia Estacão
Cliimico-Agricola de Belem :

Amarellal
comprida

Humidade ..........................
Cinzas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Materia azotada. ....................
Assucar reductor ....................
Saccharose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Amido.. ...........................
Lenhoso ...........................
Gorduras. ............................
Indeterminados .....................

1 Todas as analyses que apresentaaos foram repetidas


para veriiicacao dos ensaios. Nào podemos deixar de tes-
temunhar a boa direcção que tivemos n'esses ensaios, da
parte dos ex.mO"rs. drs. Mastbauma e Otto Klein, o que
bastante concorreu para que os resultados ~ahissemdeve-
ras concordantes, pelo que lhes somos verdadeiramente
gratos.
2
Processos cnltnraes

N'esbr (*iii>itiilotiescbrcverilos o s j s t c i r ~ ic10 rul-


lura srguitlo eni S. Migiirl, reservaiiclo ;i siia apre-
csia(lao par;i iirn oiii ro especial.
.ii~tes, [>ortrn~i,(10 eiitr;ir.mos vchrclncleiraniente
no assurnpto, ciimpre-rios tlar uma itlla $er;il da
c~oiistitiiicão 2eologica c orograp1iic;i dos terrenos
tl'essa regiáo, c do seti clima, bem como das zo-
nas aonde sc cultiva em grande escala a hatata
ticict,.

Ccnstiiuição geologicz e orographica dos terrrenos


e climatologia

E ;i ilha de S. Jligilcll clr coiistiliiic:ão visivrl-


mciit(l viilca~iic;i,~ ( ~ i i (os
i o soii.: Icrroiios t5o 1ari;t-
cios e complexos conforme as rocl~asde que deri-
vam. Ph! sicaiiiciitc, I ariam desde os argillosos
coml)actos ate aos de pedra pomes e biscoito '.
O solo 6 geralrnerite p r o h r ~ d o ,asseiitai~dosobre
um sub-solo pcrrrira\-el, variado, mas em graiide
parte de pozzolaiia.
Sáo de lima coml~osicáoc11irriic.a coniple~a,prc-
dominando, crilre os princiliios fertilisantes, o
azote e a potassa. seiiclo, comtudo, l~obresem acido
p1iosl)liorico e esl,~c*ialnieritecal. Sáo niiiito abuil-
daiites em o x dos ~ de ferro, a que devem na maio-
ria a sua cor cscilrta.
Obedecendo larii1)eiil ao pcriotlo con~ulsivoda
siia for~iiaqão, s;o csscs tcrrcnos, ora abrupta-
mente iiicliiiados, o:.a planos e suaves, forrnaiido
raviiias r)rofiiricias, oii ~iloiitcs{Se altitude variada.
Seiido a ilha dc fiirma aloilgatla, k seçiindo o
maior eixo que sc orienta o seu relevo orogra-
phico, composto de duas csadeias tie ~iloiitarilias
mais caracteristicas ; uma, que se eleva a leste da
villa da Lagoa, começaiido na Serra de Agua de
Pau, (930m), e que, pelo cruzamento d'esta com
o prolonçameiito das cumieiras das Fztrrras e
Achada, vae terminar. no porito rnnis alto tla illia,
o Pico da Vara (1:080m);a outra, letaiita-se junto
de I>oiita Delgada, ria Serra Gorda, proloi~gaildo-se,

1 Xome que dão aos terrenos formados pela lava vulca-


nica.
para oeste, at8 encontrar as cumieiras das Sete
Cidades.
Estão estas duas cadefis principaes ligadas en-
tre si por montes de menor altitude, situados na
parte mais baixa da ilha, seiido tambem ahi onde
se acliam dispersos os priilcipaes cbnes vul(:anicos
que, outr'ora, quando em actividade, cobriram, em
grande parte, de lava, o solo, que o trabalho in-
cessante do tempo e do homem tem restitiiido A
cultura.
Todos os morites mais elerados que, pela sua
situação e qualidade dos terrenos, não são suscep-
tiveis de cixltura, esta0 cobertos de matto mais ou
menos abundante, o qixe concorre um taiito para
tlue as aguas das chuvas se iilfiltrem mais facil-
inente, indo alimciitar varios nascentes, em lugar
tle escorrerem completamente para os talwes.
As roclias predominaiitcs s5o os basaltos, as
trachj tes e dioritrs, appareceiido esta ultima espe-
chie princil~ilrnei~te
lia Serra de hgixa do Pau. Alkm
d'estas priricipaes, abuiidarn : as 11vas vulcanicas,
formando os terrenos cliarilados ile biscoito, que
predominam na parte mais baixa (Ia ilha eiitre a
Serra de Agiia (te Pau e a Serra Gorda ; os tiifos,
r a pedra pomes, mais frequente rias rcgióes que
ficam a oeste tltl Porita Delgada, a leste tia villa
tla Lagoa e no iiorte tla ilha.
Não apparecem rochas calcareas nem graiiiticas,
ou fosseis animaes ; sbmente se teem encontrado,
em algumas escavacões, troncos de arvores, na
maioria de cedros, que crn tempos remotos teriam
sido derrubadas por alguma erupçáo.
O clima 6 bastante temperado e humido, como
os da maioria dos iilçularcs. Para se fazer urna
idka das ~ariaqõesclimatericas d'esta regiso, aprc-
sentamos a seçilinte taltella relati~aao aiiiio de
4894 e extraliitla tlos l~oleliiisdo Posto nieteoro-
1ogic.o de I>oiita 1)elçacla :
As chuvas sáo geralmente rniudas, o que coii-
corre, por um lado, para manter sempre o solo
sulfiçientemente humido e produzindo tima ve-
getação luxuriante, mas, prejudicando bastante,
por outro, as culluras, favorecendo o desenvolvi-
mento de grande iiuniero de cryptogamicas pa-
rasitarias.

Regiões culturaes

As regiões aonde se cultiva em grande a batata


dôce, estáo situadas em volta das tres fabricbas de
distillação.
São : a de I'oilta Dclgada, a da villa da Lagôa
e a da Ribeira Grnride. POde calcular-se approxi-
inaciarnente em 2:300 liectares a area de terreno
cultivado nas trcs regiões.
A regiáo de Ponla Delgada pOde dizer-sc que e
a que possue melliores terrerios para esta cultura.
São no geral, argillo-silicio~os~ l e ~ e s de
, boa expo-
sicão e por natureza bem drenados.
A da Lagôa, possuindo terrerios lambem bas-
tante proprios para a csultura, são caomtudo enl
percentagem inferior aos cle Ponta Delgada, seiido
os de melhor qualidade mais freqiieiites na locali-
dade cliamada Termo da Lagôa e na Klla Franca
do Caa~po,que, apezar de distar duas leguas da
villa da Lagôa, envia, aiiida assii~i,l~tistantebatata
para a fabrica.
A região tia \-illa da Ribeira Criiiitie einarici-
pou-se, por assim dizer, este anno ; visto que si,
agora é que se furidou ali a fhhrica tle distillacão ;
110 emtanto jti esta regino procli~zi;i1,astailte batata
que ia para a fabrica da Lagoa. Os seus terrenos
parecein-nos rnenos proprios para a cultura do que
os das outras duas regióes, porque sáo iio geral
mais planos, e, por isso, mais humitlos, alerri de
que, pela sua composi!.áo plrjsica, sáo mais aper-
tados : porém, tambem os lia eguaes aos das ou-
tras regices.
Cultura
Os mirharlerises, gratas i fertilidade iiatiiriil do
se11 solo, 1130 si) niiritsa deixam tcrrcno nlgurir (Ir
poisio, rnas tambem ri30 se ('orltt~rita~~l, i1;1 iiiaio-
ria, em oI)ter i ~ omesnio aiiiio urna u11ic.a rultuiba.
Assim, a c8~ilturada batata doce H fcita, OU si),
solteira l, oii assoriada 3 outras caltixras, (111 niixta.
Irarnos consitlerar erii sep;rrndo estes dois syste-
mas de cultura.

Batata só ou cultura solteira


As opera(:ões feitas n'este systema tle cultura
sáo : onlonznncúo ou seme~iteira de leguriiiriosas,

1 Termo porcliic ~ulgnrnienteé conhecido este s! stema


tle cultnra
geralmente tremoco para atlubo em verde ; criacão
da planta ou brolho ;enterrar o trmriogo e preparar
o tmreno; plantngão; saclras; levantar a rama ou
.tiesa/~ormr,e finalmente tirco. a batata.

So mez de iiovend)ro, logo a seguir-se as co-


lheitas, procede-se ti semciiteira do tremogo para
a adiibaq3o em vertle.
Para isso, principia-se por lavrar o terreno muito
siil~erficialrnentecom um arado comrnum, operacão
;{ que chamam riscar, teiitio 1trevi:imeilte deitado,

;ilail[o, 48 litros cle trerriogo por alqrieire de terra,


ou sejarn 336 litros por Iiechtare.O tremoço desen-
volve-se, e cluaililo comecti a florir e que t: eriter-
rado.
Muitas vezes 1120 sem%anis6rneriie tremoco, mas
juiitam tamhem aveia ou cevada, que aprovei-
tada pelo gado qiiaildo se enterra o tre1noi.o. To-
dos os laviatlores seguem a risca esta pratica, e
s6 deixam de a executar quando i120 teem os tcr-
reiios cle.;pacliados a tenipo, ou o trernoco attinge
um preco rriiiito elevtrdo.

1 O alqueire da terra é a nicdida agraria niais vulgar nos


Açores e corresponde n 1:3Q3metros quadrados.
Criação da planta
Como já. vimos, a batata doce cultivatia eiit
grande, multiplica-se piiraineilte por estaca, o qirt?
ila illia da Madeira se faz rnriito siriil)lesmente cor-
tando a rama ou caule tia 1)latila eiri seccões tic:
Om,30de comprimeisto, ou obteiido-as, como iisanl
em S. Miçuel, dos rf~bcritosque os tiilrerc~iiloslaii-
Gam, a qilr c11;iniain b ~ o l l ~ o .
Para isso C. iieccssario collocar os tuherciilos enl
canteiros especiaes, operacao a que chamam deitar-
a batata cc b~oll~ar-.
E' c10 meiado de ja11eii.o em diaiite que se prin-
cipia a exeçiitar este servico, para o que se escolhe
um logar ahriçaclo, geralinei~tejunto das povoa-
cões. A I~alata destiiiada ],ara este fim é tirada
com toda a cautela, cscoll~eildo-seem seguida ;r
de tamaiiho regular e s9, e e transportada com
cixititrtlo, ern cestos, para o local j i escolhiclo.
Procede-sc ciit2o ao estabelecimento dos cair-
teirus, l)riilcipiaiido por abrir uma ralla de com-
priniento variado, coiiforme a quantidade de batata
para que e destinada, e tle im,80 a 2 metros tle
largura por 0"',20 a Om,30de profuildidade. Feita
a valla, deita-se no fundo uma primeira camada
composta de rnillieiros s ~ c c o s(palha de millio), o11
de ramada de arvores, de tremoço verde ou de
haracos da propria batata; e, assim disposta, dei-
ta-se uma outra, de iim decimetro de altura, de
estrmne de curral por ciirlir, preferirido-se o de
cavallo. Geralmente dão a esta ultima camada a
forma abahulada, cobrindo-a com 5 centimetros de
terra bem piilverisada.
Feito isto, procede-se d collocagáo dos tubercu-
los, pondo-os cautelosaineate, e de modo que não
se toquem, Iicanclo qiiasi seriipre parallelameilte a
si mesmos, iio seiitido transversal. São em seguida
c:obertos com imi decimetro de terra pillverisada,
:i que miiitas vezes jiiiitarn estriinie bem curtido,
ori mais gcralincilte, tcrra cle estrrfo. Tamllem 6
vulgar formar esta camatla com 2 a 3 ceritimetros
tle areia preta posta ein i~ltimolugar.
Os canteiros, cliiaildo promptos, ficarn a Om,20
ou Om,30 a rima tlo cliáo, r, com lima supcrficie
;irialoga tt de um b;rliii, p;ira cliie as agias da c l i u ~ a
uscocin f;rcilmcntc. E' gcralmerite u m mez depois
tle concliiiilos, (lixe princjpiaiil ri :rpparwer a sixper-
íicie as novas l11;iiitas. Qixailclo cstas comecam a
;ipontar é roiivciiit:ntc cliicbrar coiri a máo a cros-
trn do terreno para llies ser mais Facil a sahida.
Logo qiie tccm 3 oii 4. follias, c h iirn;r certa resis-
lencia, procede-se ;to ;rrranclixe, o clile 6 feito por
Iiorilriis cxpcrimcntatlos, col1oc;iiiiio a rnáo es-
qixerda sobre o tcrrcilo tlo c;iiiteii.o, c 1,iicliarido
caatelos;rmeiite csom a outra mao o hrollio que sc
tlcspreiide assim do tiil)crcaiilo,viritlo j;i silfficit~ilte.
mente rnraizatlo.

1 Terra vegetal formada pela decornpcrsi~$íorio matto.


Quasi seiripre, :iiites dc sci. exl)rititlo, ;lilida se
executa unia oiilra ol)era~;lto,esprc'iitlriic~iitr.(liiarido
6 plantio 1)ai.a verider, cluc coiisistr ii;t coiitiigem,
que 6 kit;i aos centos ou ;tos inillic~ii30s.Lin c'iiri-
teiro pGde r>rocluzir niiiitas carnailas (ir I)roltio,
riumero qiir ~ a r i abastaiito tle iirii Irnrn oiltro
anno.
Qi~aiicbo estrume fermenta milito rapidamentei
protlixz-sc uma caniada de I-~rolhoiniiito compacta,
devido ao grai~decalor deseiivolvido, o qilr 8 çe-
ralmciite l)rrjiitlic:ial, iiáo si, porqiie essa ca1nad;i
é tle m6 qrlalidade visto qiie as plantas ficam es-
tioladtts, rnas t;rml)e~n,porque, não se proloiigaildo
em seguida i1 fermenlaçáo, as outras camad;ts s20
Sracns, c1lcg;iiitlo mesmo os rariteiros a alttuar, o
tlur c'orisistc eni demorarem-se bastante a rebeil-
tar iiokarnelite. Neste iiltirno caso costuinam Eeea?i-
tar os cariteiros ; isto 8, desinancllam-11'0s tirando-
lhes a 11;1tati1,reforçaiiilo-os com cstrirrne ilovo, c
collocantlo ein seguida os tubercnlos nos seus 10-
gares. Depois dc cada operacão, de arraiique de
brolho, 6 necessario compor os canteiros, quer jun-
taiido terra, 0x1 tirando alguma batata que apo-
dreca e siihstituiiido-a por outras.
U'acliii cm diante as operacóes succèdem-se,
accrescendo, shmente, durailtr os mezcs de maio
e parte d r jiriiho, regar os cailteiros se acaso sof-
frem de secca. 0 agricultor em grande produz ge-
ralmente todo o plantio necessario para o seu ter-
reno, porkm os outros compram-ii'o iquelles que
negoceiam n'este genero, que em determinados
casos da grandes lucros. Esta calculado que cada
5 arrobas deve produzir o plaiitio temporão neces-
sario para um alqueire de terra, ou 10 milheiros ;
serido, portanto, precisas 35 arrobas para cad;,
hectare.
O preço por que k vendido o brolho e muitas
vezes elevado, sobrecarregando muito a cultura ;
porem, nos ultimos arinos, a fabrica de Santa Clara,
em Ponta Delgada, terii posto muita batata a bro-
Ihar com o fim tle ,foriiec.rr plantio mais barato
lios agricultores meiios ab;istadus, pagando-lhe es-
tes com batata na lahoraciio correspoiidente.
Obtida d'este niotfo a planta, procede-se paral-
I~lanieiite;i prepara(:co do terreno para a rcrrber.

Enterrar o t r ~ m o ~eo preparar o terreno

50 iniJz cie riiarco, logo ~liic'o Iremoro tem i i t -


tingido Om,8 n 1 iiietro, e coiliecn a fior;i(::o, priri-
cipia-se a preparar o terreno, eriterraiido o tre-
rnoco. -Antes, porem, de executarem esta operação,
teem por costume fazer pastar o gado á corda,
para que comam a aveia on cevada que se criou,
ou s01iieiite ;i pai*tc i~inistei~i*;itlo trenioço.

1 Systerna de fazer pastar o gado amarrado por um pB ,-,


uma estaca e riliiito eiripregado nos Aferes.
O gado permanece no campo de dia e noite,
percorrendo-o successivamente, e, a medida que o*
vae fazendo, seguem atraz uns homens, que com
uma especie de espadas cortam o tremoco em duas
ou tres partes conforme o seu comprimento, fi-
cando assim cahido sobre o solo. Esta operacáo
6 conhecida com o nome de rogar o tremoco.
Feito isto, 6 o terreno lavrado, ou com o arat30
de p i u usual, oii com uni charrueco americano,
enterrando-se assim o tremoco e qixacsquer oiitras
plantas que existam. O terreno fica por gradar
tlilrante 4 5 (lias, para apotlrecq melhor o trcino'.o
e niirificar o terreno, operar50 a que vulgarmeiitc
c.fiam;im ii~ixaro t n w n o ,!P SCSSÚO. Passaclo estck
tempo t: que o gradam, e iazern iini;r ~crtlatleir;~
l a ~ o u r a de prelnraç5o, emprcgaildo taiii1,rm o
cliarriic~ro,oix, lia maioria, o arado da terra. E' ein
seguida gradado, fic;rn(lo cl'cste moclo 11ronil)to1Inr;i
a planta~áo.
Se acaso, o que iizo 6 milito f r ( l ~ I ~ ~ ~ririljre-
bilíe,
gam ~ s t r u mde~ ciirr;il, costiimarii ciilt1rral-o n'cst;i
Ia\ oura.

-1 plaiitaqlo do hrollio l!btlc ser frita erri itlriacilc~


plano on ti raze, conforme ficoii depois da lavoi~ra
de preparaqZo, oii sobre ixnl espigoado de Om,20
tle altiira por 0,60 de largo.
Qiiando C feita em terreno lilaiio coiiicc~n-siipai*
alinhar o terreno com uiii aiicinlio de tres dentes,
collocando-os a Om,60de distancia, operação qiie 6
feita, passarido o apparelho sobre o terreno, em
linha recta, e ila tlirec~aomais ;ippropriada, e
operarido segiiiilamciite tle rnoclo, rliie i1111dos cleii-
tes lateraes siga sobre a ultima lirilia j i traçada;
ohtriido-se assim, em cada operacáo, duas linhas
que irldicani onde se ha-de collocar a planta.
Alinhado o terreno, procecle-se ti distribuição da
planta, o que 6 feito ernpi.egarido rapazes ou mu-
Ilieres, iliie a 1-20collo~iiiidosobre cada linha, e a
t1ist;riicia tie Om,30. Atraz tl'estes seguem uns 110-
nieiis, que, empiiiihando uns pequenos sacshos es-
peciaes dc cabo ciirtt~,plantam successivamerite o
brollio distrihuiclu. Para isso. introduzem o gocião
do sacho 110 t(krrerio,e, apoiando-se sirlbre o cabo,
abrem urna fciitla suficiente para i-rrcber o sys-
tema radicular da planta, collorariclu-a ali com a
m i o esquerda, e, tiraiido em seguida o saclio e
fazendo pressao no terreno coin o pk direito junto
tia plaiita, filam-n'a assinz ao solo.
Qiiaiido a plaiitação feita em espigoado pro
cede-se do mesmo modo á distribuicáo e plantacão
clo hrollio, collocsildo-o, porem, 113s arestas do
c.anlalháo. h ahertiira tlo esl~igoadoé feita com o
:t1'3t10 de pá11, pori'ln ;11gtiiis 1avr;tdores esperi-
mentaram iinia ch;iribnti cspeci;rl, ori amo~itoador.,
mas com poucos resilllndos ecoiion~icos.
AAl;iins la~ratloresque tecm cnipreg;itlo adit1)os
riiiniicos. enibora muito pouros, cSostii~ii;rmfazt.1-i)
n'esta occasião, quando levaiitam o espigoado. Lan-
çam d'este modo o adubo na pestaiia do espigoado
aberto, e, empregando novamente o arado, tornam
a ahrir um iiovo espigoacto, racliando o jh formado,
e enterrando o aduho a meio do camalháo. O
adubo que particularmente sabemos que empre-
gavam, era composto segundo a seguinte formula:

Nitrato de sodio.. ..................26 liilos


Phosphato de calcio.. .............. 52 »
Chloreto de potassio.. ............... 38 r
Sulfato de calcio. .................... 34 »

A (luailtidadc empregada yor alqueire de ter-


reno era de 100 kilos, ou 700 Iiilos para um
Iiectare. Com este adubo obtiveram-se bons resul-
tados, mantendo-se a producção.
Não eiltramos agora na apreciacão da formula,
riem no modo de o ministrar, pois trataremos do
assiimpto em outro capitulo.
O systema usado, de pôr o terreno em camalhão,
tem ~railtageils,apezar de ser mais dispeildioso, e
ila cultnra mais aperfeiqoada qixasi sempre se-
guido.
A planta fica, assim, fóra da accão da humidade
excessiva do terreno, em epoclias de grandes cliii-
Tas, e recebe melhor a accão dos raios solares,
tanto na sua parte aerea como na parte radicular;
além de que, para certas variedades de batata,
como para a Amarella con~prida e Vermelha com-
3
prida, torna-se quasi necessario proceder assim,
para que os tuberculos cresçam coilvei~ieiltemente.
A !plantação comela geralmente de meldos de
março em diante, at8 fins de maio oii principios
de junho; poréin, os plantios que melliores resul-
tados dão, são os temporões, não só. porque com-
pletam mellior o seu l~eriodovegetati~o,mas tam-
bem porque, quando apparecem as larvas que
destroem a rama da batata, tendo os tixberculos
ja um certo desewolvimento, 1150 são tão prejii-
dicados coilio os que ii'aquella occasião os comecain
a formar.
Nern totia a planta empregada pega da primeira
vez, por isso torna-se necessario replantar o ter-
reiio, o que i! feito quando se procede a primeira
sacha. Ha ailnos em que P grai~deo Iiumero de
falhas, clcvidas n1ixit;is vezes ao rigor do tempo
ou á abiiiidaiicia de lagartas, especialmente umti
esperie, que 8 vulg:irinente conhecida com o nome
de rosca, que traqain as plantas, oii ainda a quali-
dade do plaiitio.
Não julgamos que os agricultores procedam com
o cuidado necessario ilo transporte do brolho para
o campo onde deve ser plantado, e milito menos
lia maneira como o tratam ali.
E um facto muito coilhecido de todos, que uma
planta pega tanto melhor quanto menos tempo
medeia entre o arranque e a sua nova collocação
no terreno, e isto, porque as raizes perdem a sua
actividade ao ar, desorganisando-se. Siiccede, po-
rem, que as plantas de batata, ainda bastante ten-
ras e com um numero limitado de radiculos, tam-
bem bastante tenues, são tiradas dos ceir6es ou
cestos, aonde foram transportadas, e postas, geral-
mente, sem mais cuidados, sobre o terreno, sujei-
tas a acção do vento e sol.
Dentro em pouco teem as suas radiculas desor-
çariisadas, e, muitas vezes, completamente seccas.
Mettidas essas plantas iio terreno, um certo
numero pega porque lançaram ilovamente raizes
adventicias ;outro, inferior iquelle, consegue viver,
pelas raizes que levaram, e, por fim, aqiiellas, que,
pela sua debil coirstitiiic,áo não puderam lançar.
raizes antes de seccarem comldetamente, não che-
gam a vingar.
Seria de toda a conveiiieiicia que as preser-
vassem dos agentes externos, conservando-lhes o
systema radicular hiimido, e transportando-as no
campo por qualquer systema apropriado para
aquelle fim, o que, aliis, náo é dificil de imaginar.
A percentagem de plantas pegadas sera, sem duvida,
muito maior, augmentando assim o producto final,
não s6 porque se pouparh nas despezas de replan-
tação, mas principalmente, porque a producção
seri maior.
Depois da plantaçáo seguem-se as sachas, de que
passamos a tratar.
Sachas

Entre as culturas sachadas que conhecemos, é


esta uma das mais caracteristicas, pois que, para
o bom desenvolvimeilto da planta e, portanto, para
o bom resultado final, torna-se necessario fazer
sachas repetidas e em epodias apropriadas.
Teem estas sachas por fim, como na maioria das
culturas, fazer desapparecer a vegetação esponta-
nea, e conservar, em certos casos, a humidade no
terreno.
S2o geralmente tres o numero de sachas que se
fazem n'esta cultiira ; mas ha casos em que se ele-
vam a 4 e mais, conforme o aniio k mais ou me-
nos humido, ou o terreno culti~adoproveiu de uma
outra cultura não sachada. A primeira começa logo
depois da planta pegada, e quando principia a ap-
parecer Iierva, aproveitando-se esta occasião para
replantar as falhas. Quando a planta tem j$ lança-
mentos de Om,30a Om,40, e ha novamente herva,
(li-se uma segunda sacha. As outras fazem-se
quando o terreno o exige.
Desde a segunda sacha em diante é preciso fa-
zer essas operaqões com certa cautela, para que
se não cortem as raizes que hão-de ser os futuros
tuberculos, e que comecam a apparecer d'aquella
occasião em diante. Logo qiie a planta cobre com
;i sua rama o terreno, deixa este de criar herva, e
portanto termiliam as saclias. Convem notar que
o sadio empregado nos Açiires 6 de um formato
especial : compõe-se de uma lamina de ferro ace-
rado, trapezoidal, de Om,18 e OW,29, nas bases,
por On1,13de alto, applicada A extremidade de um
cabo de madeira de Om,78de comprido e formando
um certo angulo com o mesmo.
Alguns lavradores mais emprehendedores tenta-
ram empregar umas sachadeiras meclianicas, algu-
mas de sua invençáo, outras importadas, mas não
tiraram o resultado desejado, e por isso em breve
toram postas de parte n'este serviqo.

Desalporcar a rama

A planta da batata doce fixa-sc! ao solo por meio


de grande numero de raizes adveiiticias, d'eiilre as
quaes algumas se tuberificam, o que concorre
bastante para que a planta náo só f0rme menos
tuberculos no seli devido logar, mas lambem ali-
mente menos devidamente os formados. Torna-se
por esta razáo necessario levantar a rama para
impedir que isso succeda, operaçáo a que chamani
desalfiorcar ou tlesunhar a raqwa.
E' esta operacão feita, logo que tendo os lança-
mentos um certo comprimento, começam a criar
raizes ; para isso empregam-se rapazes ou mulhe-
res, que vão entre as linhas da plantação levan-
tando a rama e virando-a para o lado opposto.
As raizes, em virtude da acqáo (10 ar e sol, mor-
rem, evitando-se que a planta se torne de novo a
fixar por meio das mesmas.
Este serviço faz-se geralmente tres vezes, mas
tleve repetir-se sempre que se note que a planta
tende a fixar-se novamente, o que se da frequen-
tes vezes nos annos humidos. Aproveita-se tambem
esta occasião para conjuntamente mondar a mão
alguma herva que apparela, por ser em muitos
(:asos ja perigoso fazel-o com o sacho. Quando ap-
parece grande abundancia de larvas, das que roem
(:ompletamente a folha da planta e de que fallare-
mos mais adiante, costumam destruil-as tambem
smquanto desalporcam a rama. Empregam-se n'este
serviço do desalporque grande numero de rapazes
ou mulheres, o que concorre para que os salarios
attinjam um preço elevado.
Como serviço cultural e este o que precede o
arranque da batata, e por isso, logo que a planta
está madura, deixa-se de executar. A batata tem-
porá amadurece, geralmente, a partir dos princi-
pios de outubro, o que se reconhece, no geral,
pela mudança do verde glaiico para um de tom
amarellado.

Arranque da batata

Teem tentado empregar varios arados para ar-


rancar a batata, mas ainda não conseguiram obter
um que completasse bem o serviço ; por isso e
esta operação feita sómente a sacho.
Antes cie comecar o arranque procedt:-se ao
corte da rama, serviso que i! executado com 1'3-
pazes ou rnulheres que a desligam tlo tcrreiio,
pondo-a em rolos a uma certa distanci;~iiiis clos
outros. Feito isto comeca o arrailcIuc, executado
por homeiis, tliic sc distribuem tle iiiodo, que
trabalhando (.;ida iim lia sua 1iiili;l c segiiiiitlo atraz
uns dos outros, 150 laiiçaiido a 1,;ilat;i qiie cada
grupo de qiititro tira para o mesmo sitio, formaiido
assim uma especie de belgas tle batata, o (lixe tem
por fim faci1it;ti' o traiisporte para as carroias,
Fica assim sobre o terreiio (iiiraiitc alpiini tempo
para perder a rnaior parte da terra, e e em se-
guida col1ocatl;t ern cestos e traiisportada para car-
roças, qiie a sei1 turno as coiiduzem para as fabri-
cas. São essas carroças geralmente puxadas por
bois ou muares r transportam catla rima eillre 60
a 70 arrobas. -1lkm d'estas, aiiida são bastalite
usados os celebres carros tlc madeira, pi~xados
por duas juiitas de bois, ao so11-1 tla chiadeira tra-
dicional. Estes ultimos transportes geralmente le-
vam 100 arrob;ts.
h l ~ r o d u c ~ ãregula,
o em media, para terrelios
boiis, por 240 arrobas por alqueire de terra, ou
oii 1:680 por Iicbctare, o que equivale a 25:200 ki-
10s. Ha rio emtaiito terrenos que tecm produzido
300 arrobas por alqueire oii 2:100 por hectare
(31:SOO kilos).
Termina aqui o labutar coiltiiiiio do lavrador
qiie luctaiido corn ixm grande niimei'o de probabi-
lidades, lia maior parte das vezes, sO recebe uma
parca recompensa, e passa a materia prima para
o domiriio do industrial, que explorando com da-
dos mais fixos, obtem sempre grandes lucros.

Cultura mixia

Este systema de cultura acha-se bastante gene-


ralisado e tem tomado grande desenvolvimento
estes ultimos alinos, o que bastante prejudica o
agricultor em grande, pois que é o pequeno agri-
cultor que lhe d i prefereiicia, porque, não fazendo
contas e i ~ á ovalorisando o seu trabalho, julga
obter assim maiores lucros, e logo que obtem, na
primeira colheita, a renda da terra e pouco mais,
vende em seguida a balata as fabricas por uma
bagatella.
Sáo principalmente o millio e a f a ~ aas culturas
com que a batata anda mais associada, porem,
tambem é vulgar cnltival-a coi~juntameritecom o
trigo, tremoço ou cevada.
As operações culturaes seguidas com a batata,
na cultixra mixta, são idenlicas as j i descriptas,
e por isso, sO descreveremos o modo especial de
combinar a cultura com a das plantas associadas.
Bztata e milho

Quando dão o primeiro saclio no iiiilho aprovei-


tam esta occasiáo para plantar a batata, collocando
lima liilha tle batata a meio (Ias do milho. O de-
senvolvimento da planta é lento, e só depois de
apailliado o milho e que completa o seu cresci-
rnento, iiáo chegando, no geral, a produzir mais
tlo que a metade do que produz quando só.
Este systema de cultura e bastante lire,judic;ial
para a cultura em maior. escala da batata só ; por-
que, muitas vezes, parecseiido que não liaveria ma-
teria prima suficiente p r a a laboraçáo aturada
das fabricas, existe, iio entanto, espalhada por en-
tre o grande numero tlc millieiraes cultivados, r
e offerecida por ixm preto mais baixo ao fabri-
cante, que, aprovcitaiitlo-se da occasiáo, náo si)
deixa de gastar em primeiro loçar a dos oiitros
terrenos, mas tambem offerece pouco por ella.

Batata e fava

Da cultura niixta, e esta, a i ~ ~ dassim,


a a mais
:~(lmissivel;pois que, sendo ;\ colheita da fava eita
iniiito antes da do millio, a batata fica muito mais
cedo desassombrada ; c, como costumam adubar
acluella cultura, esta, participando ainda da aduba-
qáo, produz 110 geral rasoavelmeiite.
A plailtação da batata começa nos fins de março,
collocando-se uma linha de plantio eritre duas de fa-
vas, ficando assim distariciadas de Om,80. Quando
a planta esta bem pegada da-se o primeiro sacho,
e um segundo quando se arranca a fava, proce-
dendo-se em seguida como se fosse batata s6.
Empregam-se em cada alqueire de terra 5 a 6
milheiros de brolho, ou sejam 35 a 42 milheiros
por hectare. A producção approxinia-se As vezes
da media das producções de hatata cultivada só.

Batatd e trigo ou cbvada

Quando se destina o lerreiio para esta cultura


semeia-se o cereal ao rego e a distancia de Om,60,
plantando-se a batata a partir do meiado de abril,
conforme o processo seguido para a fava.
Alguns lavradores, em logar de semeiarem so-
mente trigo, semeiam um rego de trigo e um de
tremoço, enterrando este a sacho, em abril, e plaii-
tando em seguida a batata. Este processo e muito
empregado (batata e trigo) em Villa Franca do
Campo, onde a cultura do trigo está mais genera-
lisada. Logo que a planta pegou dão-lhe um pri-
meiro sacho, guardando o segundo para quando
se colhe o trigo, o que e feito arraileaildo-o.
Depois fazem somente os servigos já conhecidos
para a batata.
Batata e tremoço

A sementeira do tremoço e feita ao rego ; che-


gado o mez de abril ou maio enterram-se a sa-
c:ho tres regos consecutivos, e substituem-se por
batata, ficando por este modo um rego de tre-
moço por tres de batata.
Este systema não é dos mais prejudiciaes para
a producção, porque comquanto a batata soffra
com o tremoço, no emtanto a diminuição no pro-
diicto sempre e compensada pela oixtra colheita.
CAPITULO 111

Doenças cryptogamicas e parasitas animaes

Ráo são as doeilqas cryytogamiças que pi-odu-


zem na ilha de S. Mipel maiores estragos n'esta
cultura; são, sem duvida, as larvas de alguns in-
sectos, e muito principalmente de uma especie,
as que causam verdadeiros damnos.
Citam-se algumas cryptoçamicas como atacando
a Conuolculzis batatas, entre ellas a Phytophotora
infestans, a Phylostycta batatae e a Dematophotora
necatrix; mas neiihuina d'estas tem importancia
na região considerada.
Diz 31. Gasparin que julgava a batata doce isenta
da pliytonose tia Solanum tuberosum, mas qiie a
sua collicita tle 1886 foi atacada d:t doeilca, cau-
sando-lhe grandes prejuizos.
Pòde muito bem ser que em S. Migiel isso se
dê, pois que o clima A dos melhores para o seu
desenvolvimento ; mas, sendo bastante frequentes
os estragos por ella produzidos n'aquella solana-
cea, e por isso, não faltando germens para a trans-
mittirem a outra especie, no emtanto, os prejuizos
são apparentemente nullos.
O facto que temos notado e o apparecimento,
ria epocha do arranque, de alguns tuberculos com
a polpa denegrida *, e em parte com a apparencia
cpe tomam as batatas communs quando estão ata-
cadas da doença ; mas, como não tivemos occasião
de verificar a existencia do mycelio, ou a formação
dos seus conidios, nada podemos a r m a r , e s6-
mente apresentamos esta observação como base
de estudos posteriores.
Emquanto a qualquer outro estrago importante,
nenhum nos prendeu a attenção digno de relatar,
a não ser, em alguns terrenos bastante humidos,
o apparecimento da Dematophotora, que, no em-
tanto, pouco damno faz a esta cultura.
Vamos em seguida occuparmo-nos da lavra que
mais a prejudica.
E' esta lavra pertencente a um insecto da fami-
lia dos lepidopteros e do genero Sphinx. Este ge-
nero abrange pouco numero de especies, das quaes
existem tres na Europa : o S. pinmtri, S. ligzistri
e o S. convolvuli.

1 A que chamam vulgarmente pedrada.


Pelas descripfles dos zoologistas que consulta-
mos, pertence esta larva A terceira especie ou
Sphinx conuoluuli, L.
Esta longe do nossso intento descrever cada
uma das tres especies, e mesmo d'aquella que nos
interessa daremos s6mente uma idea geral.

Sphinx con~olvuli

As larvas ù'este insecto apresentam grande nu-


mero de variedades, resumindo-se, comtudo, em
dois typos principaes : as de fundo verde e as de
fundo escuro.
Pertencem ;i estes dois typos as larvas de que
tratamos ; mas, pelas descripfles de cada uma das
variedades correspoiidentes, iiáo as podemos elas-
senão nas intermediarias.

(Fig. 1)

As larvas que mais abuilclam pertencem ao typo


das de fundo cscuro (fig. 4). São caracterisadas por
uma cor quasi preta, conl duas listas longitudiilaes
amarellas dispostas de cada lado ; a inferior, si-
tuada jiiiito da insercZo das patas, ainda que con-
tinua, e ondulada, com a parte concava de cada
ondulação voltada para cima, onde estão situados,
quasi nos vertices, os estigmas, escuros, orbicula-
res e em numero de nove. A lista superior e con-
tinua, notando-sc, comtudo, uma colora~áomais
carregada entre a juncção dos anneis.
Entre estas duas listas existem, a partir do se-
gundo di~nele a contar da l~artecaudal, umas ban-
(Ias ve1 iicaes formadas por pontuações amarellas,
e em numero de sete. Em algumas larvas ha tam-
bem uma lista dorsal, (ia cor das outras, continua
em algumas, ou formada por tima serie de pon-
tiiações ii'oiltras.
,i cabeça 6 de um aniarello escuro, com cinco
riscas pretas verticaes, dividindo-se a central em
(luas, a partir do meio, e formando assim um V8
invertido.
As patas escamosas, em iiumero de tres, são
pretas e inscrcm-se nos tres primeiros anneis que
seguem a cabeça.
As membraiiosas sáo tambem escuras, tendo,
porem, a coroa levemente amarellada; são em
numero de quatro pares, inserindo-se a partir do
qilinto annel.
No decimo primeiro e ultimo annel existe um
corniculo, amarello-alaranjado, liso, ponte-agudo,
com a extremidade preta e voltado para baixo.
As larvas de fundo rerde assemelham-se a es-
tas, com a differença de que a côr principal e
verde, e as listas sáo mais ou menos escuras.
Todas estas larvas se metrirnorpi~oseiamsem formar
casulo, enterrando-se poreni no solo.

As crysalidas (fig. 2) sáo de iirn anlarello torrado,


çoni a bainha da t r o m p I)astai~tecomprida, desta-
cada do peito, arrluencl;~c serr~i-ciiroladalia exlre-
rnidade.

(Fig. 31

O insecto perfeito (fiç. 3) nasce iio rnez de setom-


4
bro do mesmo anno, quando as larvas são temporãs,
isto e, se metamorphosearam proximo dos mezes de
julho ou agosto ; porem, a maioria, sb apparece nos
mezes de maio e junho do anno seguinte. Os in-
sectos teem um vôo rapido e saem ao anoitecer,
encontrando-se com ahundancia junto dos calices
das flores, onde com a sua trompa sugam o
nectar.
Nos mezes clc julbo e agosto é que se comefa
;i notar OS ~ s t r a g o snos batataes. Vivem essas lar-
vas sobre as folhas, roendo-as completamente e
deixanclo-lhes unicamente os peciolos. Nos annos
mais quentes, e qiianilo o iiiveriio foi menos rigo-
roso, é qile abimdarn mais. Quando a invasáo e
forte lcvarri iirn batata1 a seguir, e, acabando de o
devastar, emigram para os que lhe ficam proximos.
Náo e pouco frecjuerite ~ ê um r batata1 que se
riiostrava dias antcs ~rrdejante,completamente de-
vastado e da côr do terreno.
-1s plantas, privadas assim de folhas, não podem
elaborar principias n~itritivos,e principalmente for-
mar amido e assucar para nutrir os tuberculos;
e, por isso, as procliicções recentem-se bastante.

Meios de tratamento

Os tratamentos feitos em S. Miguel resumem-se


em destruir as l a r ~ a s mão, oix em deitar para o
campo a criarão: geralmente gallinhas ou patos
marrecos, que, sendo bastante ávidos por este ali-
mento, limpam assim as plantas das larvas.
São os marrecos a especie qiie melhores resul-
tados dão, porque, prorurando bem as larvas, não
produzem damno algum nos tuberculos, o que suc-
cede com as gallinhas e principalmente com os perus.
As crysalidas sáo tambem bastante destruidas
pelos ratos, que, fazendo enormes prejuizos nas
culturas, no emtanto fazem este beneficio.
Seria de toda a vantagem que se estudasse unl
processo para prevenir mais o desenvolvimento
d'este mal; e parece-nos que, se da parte de todos
os interessados se coiiseguisse, por meio de uiri
systema apropriado, destruir um grande numero d o
insectos, a iilvasão diminuiria dc nnno para (ri~no.
E caso este para cxl~~riencias:por isso, seiii
prevermos hem o r ~ s ~ ~ l t a djixlgamos,
o, comtudo,
que alguma cousa se consrguiria empregando ao
anoutecer um pequeno apparelho onde existisse
tima luz para attraliir os insectos, c um liquido
qualquer apropriado para os prender. Assim, por
cada insecto qixe se clestriiisse, (Iam-se conta indj-
rectamente de alguns c ~ n t o soii milhares de lar-
vas.
Ultimaineiite tambem tivcmos occasião de obser-
var os estragos produzidos por uma outra larva dr
que não cliegtimos a conhecer o insecto. Pelo qrle
vimos, caracterisa-se a invasáo pela descolorarão
das folhas, parecendo A primeira vista ser o resill-
tiido de qixalqiier cryptogamica, tanto qil" tiisiial-
[riente, dizem que a planta está alforrada; porem,
observando mais detidamente, nota-se que B o
effeito de uma pequena larva, de tres millimetros
tle comprimento, que se introduz entre os dois
limbos da folha, destruindo-lhe completamente o
parenchyma. As folhas atacadas, apparentemente,
parecem estar seccas c intactas.
A localidade onde pela primeira vez notamos
estragos foi no Termo da Lagoa, e chamou-nos
para isso a attenção a apparencia pouco commum
que uma extensáo de terra relativamente grande
apresentava.
Como, porem, nos faltasse o tempo para obter-
mos os insectos, por isso nada mais podemos dizer
CAPITULO 1 V

Estudo economico da cultura

Teem sido varias as crises agricolas que os nii-


chaelenses teem atravessado, não desanimando, coin-
tudo, em as debellar, empregando para isso, não
si, bastante actividade, mas tambem aproveitan-
do-se das condicões favoraveis do clima e solo com
que a natureza os dotou.
Pena e serem sempre ciirtos os periodos de re-
lativa prosperidade que sr llies teem seguido ; pois
que, muitas vezes, ou porque novos flagellos se
não tenham feito esperar, ou porque um tanto
imprevidentes náo tenham attendido As exigeiicias
da cultura substituidora, restituindo ao solo os priil-
cipios de que ella mais gasta, ou mesmo porque,
jA bastante sobrecarregados, sejam obrigados n
satisfazer mais impostos, acham-se a braqos com
iiovas dificuldades quando iião teem ainda sido com-
peiisados de grandes exforcos.
Foi a cultura da 1arangeii.a que marcou o ye-
iiodo de maior riqueza niichaelei~se; mas foi tam-
bem a ella que se succedeu uma das maiores crises.
Os aritigos laranj aes tein sido completamerite
iirrancados e os que existem pouco produzem.
RIuitos dos terrenos pobres, que tinhain sido
;tibrados aos retallios ao campoiiio, teem sido
nbaildoiiados ao directo seriliorio, visto ficarem im-
~)roductivos,e o empliytcuta vê-se lia iiecessidade
(te emigrar, protliizindo-se o quasi despovoarneiito
tle algumas localidades que tinham certa impor-
tancia pelo trabalho que aquella cultura requeria.
Estabelecicla a correrite da emigração, animada,
tle Tez em quaiido, pelo regresso de algum mais
feliz, tem tomado, nos ultimos ailnos, enormes
~)roporções,ja pelas saliidas clandestinas dos que
lbgem ao serviço militar, ja pela dos que são illu-
tiidos por promessas tentadoras, e que, lia maior
parte das vezes, vão acabar os seus dias misera-
inente longe da patria.
A consequeiicia immediala tem sido o salario
irttingir uni preqo fabuloso, luctando-se com falta
tie braços para os trabalhos agricolas.
A perda d'aquella preciosa cultura ainda trouxe
comsigo a depreciação da grande massa florestal
existente, e pr>iiicipalmente,o pouco valor d'aquella
que se creou ila esperança da sua contiiluaçáo.
A cultura da batata doce veiu em parte substi-
tuir a famosa aurantulacea, mas, iião sendo t5o
remilileradora iiem apropriada a todos os terrelios
das antigas quintas 1, não tem tornado egualmeiltc
prospero o periodo que atravessamos. (:onio cul-
tura intensiva necessita de grande riiimero de ca-
pitaes, o que não succedia com o da larangeira.
Não e, decerto, a grande cultura a que predo-
iniiia na ilha de S. Niguel, porque a Iorina tla pro-
1)rietlade ri30 llie a mais apropriacia, mas, aqiiella
mesmo que nos ultimos annos existia, tem dimi-
riuido, não sO pelo enrarecimento do salario, que
por motiros cspeciaes iiâo b tão seiisivel A 1Ieclucn;i
c;iiltiira, inas, priiicipalmeiite, pelo regimeii agri-
colo-industrial, que tem levado a tornar-se quasi
inil~ossivela cultura, j i pela dinlinuição de prodiic-
qões, jh pelas reducções que os fabricailtes teeni
feito no preço da materia prima.
Formulamos em seguida as contas de cada iinl
dos tres systemas principaes de ciiltura aiiterior-
mente descriptos, tomando como l~ase,para calcii-
lar as despezas e o producto bruto, as medias cor-
respondentes ao salario, renda da terra e protliic-
çõcs ; serido, no entanto, airida assim, bastarito
razoaveis, pois que coilliecemos grande niimero dcl
c;isos, em que pela grande elevação do salario r
tliminuição das producções, são, hoje em dia, essas
medias favorecidas, para se considerarerri como
reaes.

Chamam quintas ao terreno cultivado de larangeiras.


Batata

1l)eapezas por hectare :


(21 alqueires de tremoço a 400 reis.. .. 88400
Outcxmnar.. .. R.iscar e gradar.. .................... 2.8625
jl;arcar o tremoeo, um homem ........ $300
Cortar o tremoço, 21 homens a 300 reis 68300
Lavrar, tres arados e meio. .......... 34500
s radar, unia grade.. ................ 8875
.........
Lavrar. tres arados e meio.. 34600
........................... 8700
.. Pôr em camalhão ................... 44750

Plantação, 11 jornaes a 300 reis.. .....


I
34300
Idem 7 jornaes de rapazes a 160
Plantação .... reis .......................... 481W
Planta, 77 milheiros a 400 réis o mi,
- lheiro ........................... 308800

( i: saclia, 28 jornaes a 160 reis.. ...... 88400


Sachas.. .... (2.. dita 9 P J........
P 86400
(3: dita 1) V .I......... 81400

1.O desalporque, 16 rapazes a 160 réis. .


13:
Desalporque. 2.0
: » »
» B
r .
P B
.
..
24560
26650
28560

Arranque da rama e conducção da batata para as carroças.. ..


Arranque da batata, 35 homens a 300 réis.. .................
Importancia de cestos para transporte da batata. ............
Transporte da batata para a fabrica a 10 réie a arroba.. .......
Renda da terra .........................................
Produgão por hectare :
1:680 arrobas a 140 réis a arroha .................
Saldo lzquido u fuçor ...........
Despezas Producto bruto
-- A--- - -A
Hocda insulana Moeda continental Moeda insulana Moeda continental
-- --

1 118325 98060

101675 8a54.0

51950 4&760

358220 28&176

25&200 208160

78680 68144
3 $600 26880
10JR(lO 88 400
$800 8640
166800 131440
638000 501400

............. ...........I.. 2358200 1888160


448450 356560
2358200 1888160 2358200 188ki60
Batata e Fava

i __.
Despezas
.
-_ I --A
Produelo bruto
+

Despezas por hectare :


Lavoura, 3,s arados ................. 38500
I ~Moeda
niuana I-continental
-
Moeda Moeda
insuianr
Moeda
continental

Gradar, uma grade.. ................. 6S75


48373 34500
Estrume, 77 cargas a 260 róis.. ........ 198250
I

Conducção do estrume.. .............. - 6 ~-5 0 0 / 2:5&750 208600


Fava para semente, 18 alqueires a 500 réis ..... 98000 7 $200
Lançar estrume e semear, 16 jornaes a 300 réis.. 4.8500 33600
Sachar as favas e derrubar, 30 jornaes a 300 réis 9h000 ia200
Malhar, i 6 jornaes a 300 reis.. ................ 46800 31840
Renda da terra ............................ 638000 60Li00
Cultura da batata :
Despeza da cultura segundo a conta anterior. 948200
Accrescimo de despeea pela conducção de mais
600 arrobas.. .........................-- 66000
- 100&200 808160
Produoto p o r hectare :
C u l t u ~ ada fcva : - 210 alqueires a 450 rkis.. ....... -$- -6- 941500 758600
Faveiras (palha). .............. -6- -4- 2B500 24500
Batata :- i:400 arrolias a 140 réis a arroba.. ...... -8- - - 1961000 1588800
Producto liquido.. .................... 7243i5 578900 -8- -6-
2934000 / 2346400 2938000 2348400
Deprel~ende-se das contas anteriores, que, dc
todos estes systemas de cultura, o que da mais
resultado é o da batata e fava, porem, exami-
~iandobem, conclue-se que não e tanto assim.
A cultura da fava faz-se quasi sempre associada
;i outra cultura para que dê interesse, pois que,
ti'este modo, não sO a renda da terra fica dividida
por ambas as culturas, mas tambem são egual-
mente divididas as despezas de alguns amaiihos
communS.
Facilmente se verifica isto ila conta que se se-
gue, derivada da anterior.
Obtem-se por este modo um lucro attribuido á
rultixra da batata, de 644300 reis por hectare,
superior em 1961850 reis ao que se obteria se ciilti-
vassemos o terreno sbmente de batata, com a dif-
t'erenca de ter sido a cultura feita em terreno que,
chmbora teilha o mesmo valor, no entanto, figura
pela metade da renda.
Se atteildermos ;r que a cultura da fava i! bas-
te p e c a r i a , já pelas doenqas cryptoçamicas que
6a
i clima t -ao favorave1 ao seii desenvolvimeilto
;i ataftam com freqixencia, ja pelos grandes estra-
gos $r8.dyizidos pelo orobanche o gigante, ou ainda
pelo pq&io, concluiremos que este systema de cul-
tiira nãd é tão economico como L primeira vista
parece. A producgáo de 210 alqueires por hectare,
(lixe calciilámos, e bastante exaggerada para se con-
siderar como media, e hasta que desca de 10 al-
queires por alyzieirp de terreno, o que equivale a
70 por hectare, para que o resultado figurado na
conta correspondente seja equiparado ao obtido
quando se c n l t i ~ asdmente batata.
E' isto o qiie se dL lia maioria dos casos, náo
sendo poilco frcqiieiite chegar mesrno a produc-
cão da fava a ser metade, e menos ainda, do quc:
o que calculimos. Julgamos, portanto, este sys-
tema de cultura ante-economico, pois que, não ha-
vendo uma constancia nos resultados que o levem
a ser preferido, pelo maior lucro, ao da cultura
solteir-a, não operamos tamhem uma modificacão
na cultiira cpie o justifique.
Emquanto h ciiltura cla batata e milho, o resul-
tado bem prova que e pouco remuneradora, e sO-
mente o póde ser qilando augmeiitem as produc-
@es de ambas as culturas, o que é cousa provavel
e ilão frequente.
As coiidições ecoiiomiras cspeciaes dos lavrado-
res & que, na maioria, os levam a empregar estes
systemas de cultura, porque se embolsam mais
cedo de parte do capital empregado, o que n'aquella
occasiáo lhes faz conta para aciidir a outras des-
pezas ci~lturaes.
Algiins lirocedem ;~ssinifazendo mesmo coiitas,
porem outros, que sáo ;i maioria, julgam sempre
obter inaiorcs lixcros com aquelles systemas cultii-
raes.
Seria iniiito mais preí'erivel adiibar bem os ter-
renos, r.cstitixiiido os elenieiitos qixe lhes tirani
pela exliortacáo do procliicto, o que se traduziria
n'uma melhoria de producxcáo, do que o continuar
a empohrecel-os com duas cixltnras egualmente ex-
gotaiites iios principias frrtilisantes que mais ex-
portam, iiáo tendo certeza de ir a obter melhores
lucros.
A rotacáo dc cultixras t: pouco comnium lias re-
giões aonde sc cultiva iiidiistrialmente a batata ;
pois (lixe, ou a cu1tiv;im siiccessiramente no mesmo
terrcilo, e sG com iriterriip(6es muito affastadas,
ou sobrecarregam o trrre~iocom duas culturas
ciltrarido quasi sempre a batata
Phdc, por ventura, sustentar-se economicamente
este systema cultural quai~doiio Dece da conta
c;orreiite augmentam as parcellas e no Hacer dimi-
nuem progressi~ameiite?
SO quem não fizer contas poderi respoiider af-
firmati~amente.O regime11 cultural tal como actual-
mente se encontra, longe de ser vantajoso para a
região, e bastante prejudicial, não sO porque se
exgotam os terrenos e por isso a cultura da balata
vae des~pparerenciocontinuadamente como cultura
mais remuiieradora, mas tambem, porque as fa-
bricas pódem repeiitiiiameiite achar-se sem ter ma-
teria prima para laborarem, immobilisando-se por
isso grandes capitaes, e ainda, como consequeiicia
cl'esse regimem, ficarão os terrenos menos aptos
para outras culturas iio futuro.
E' o fabricante que obtem lucros mais certos,
porque nao só tem dados mais seguros, mas tain-
bem eiicoritraildo da parte da maioria dos lavra-
tlores malea1)ilidade suficiente para se amoldarem
a todas as suas exigencias, iiiiiira se descuidam
cios seus interesses.
Os proprietarios, uns são tambem fabricantes,
e esses, largamente compeiisados pelos bons lu-
cros das suas accões, não olham como deviam para
o dia de amanhã ; outros, que teem os seus terre-
renos arrendados por preços bastante altos, que
nunca tinham attingido n'outros tempos, julgam-se
tambem felizes pelo accrescimo de rendimento :
por fim, aquelles que são agricultores em grande
escala, ou se acham compensados indirectamente
com os interesses da industria, oix rluer,endo me-
lhorar de condicões, e eiicontrado grande forcã de
i~iercia a vericer da parte dos oiitros e da graridc
massa (10 pequeno agricultor, vêein-se obrigados
a coiitemporisar, collocaiido-se rni circumslancias
identictrs aos primeiros.
Ha comtiido agricultores, qiie ~xplorandoos seu>
terrenos devidamente, conseguem obter bons 111-
cros, náo os deixando exgotados para o futiiro.
A poiica protecção que a industria da alcoolisa-
cão tem prestado A agricultura póde vir a ser-lhtb
bastante prejiidicial. Quando dizemos protecqáo,
não rios qiierpmos referir sbmente i maior valori-
s a ~ ã oda materia prima, mas tamlrern ao iiiteresstl
que deviam ter em indicar aos agricixltorrs 0s me-
lhores processos a seguir para maiitrr ecoriomica-
mente a cultura, ou mesmo fornecerem-lhes adii-
hos mediante contracto especial para serem em-
bolsados no fornecimeilto da materia prima, ou
cederem-lhes plantio ou os reziduos que lancam ao
mar.
Já alguma cousa teem feito ultimamente n'este
sentido, quer fori~ecendoplantio mais barato, quer.
projectando fazer largos estudos sobre a cultiira,
e modo de a trazer As i~ntigasprodiic~õcs,para o
que, segimdo lenios, j6 contratararri iim chimico
analysta na Allemanha.
.Ii~lg;imosixma medida dereras acc>r.tatla,P qiiil
se deve traduzir economirameilte na regiáo : 110-
rem, achamos que o facto do enipd~rec.imentodos
5
terrcrios era previsto, e qiie por isso lia mais
tempo se deveria ter evitado, pois que, não serão
shmerite os estudos de caracter piiramente de
laboratorio, embora indispensaveis c princiliaes
para o caso, ainda que executados por pessoa
bastarite competelite como decerto será o contra-
tado, cliie habilitarão ;i rclsol~erimnieiiiatamente
o assiliiipto, seiri c*oi~hc~t~cr bem a região riem a
cirltirra.
E' Ii.;tl~~lllo que iiccrssil;r Ijastante tle experieri-
(:i;\, tb, (-01110 tal, dciiiorado iios seixs resiiltados.
Par;i c.oi~eliiinnoseste csaljitulobllaremos alguma
coiis;~tlo motlo coirio sãc~feitas as trnnsaccões en-
trtt o lti'orliietor. e o fabricalite.
As fabricas tliie :rc.tnal~uriiteestão rni 1ahorat;ão
sáo ;i tlc Santa Clara, riii Poilta I)elçada, qiie tem
nove niirios C ~ P cxistr~i(.i;l,e a da Lagôa, situada
na villn tlo niesrrio rioincb, cloe jii tral~altiaha treze
ansos. Estas htbricas t.oiisornen1 diariamerite um
terino iriedio tie 15:000 arrobas cada uma, e ço-
meqam ;I sua laboracão iios priiicipios tle outubro,
;icabaiiilo geralmente c i i l fevereiro.
No principie) da plaritasao abrem essas fabricas
conlrnt.tos rlsptlçiaes c50rii os lavradores para o for-
iiec.iinriito tla batata. Geralmelite silccede, que o
pret:o proiiiettido i: b;iixo, e, portairto, ficam muitos
1;wr;rdores do f4r.n; isto 6, sern fazerem contracto,
fiados em o1)terem depois melhores precos.
Os coiitr;~clos são feitos de modo, que o agri-
cultor so obriga a fornocer iim c-crto numero de
arrobas por um determinado preço e segundo a
praça qiie os fabricantes lhes derem nas qiiinzerias
dos mezes tle lahora~ão,não se responsabilisando
os fabricantes por q u ~ l q u e rcaso de força rriaior
que os ot~rigile a iião trabalhar, caducando por
isso o c30rrtracato.
D'aqui rrsiilta, que k ~ no fabricante toclas as
regalias, por'clur não sU firma o contr-acto pelo preqo
minimo por que o la\ rador pbde fornecer a batata,
mas tiispõe do mesmo conforme entende, riáo l h ~
offereceii(1o garaiilia alguma rio caso de não ];lho-
raiaern, c.orreircto estes, por isso, o risco de ficSareni
com a batata 11;) terra sem terem que llie dtir 011-
tra applica~ãoalkni tio sustento do gado.
(:liegacla a epocha da lalroraçáo estabelecem qii;rsi
semprt3, priricil~almenlea fabrica da Lag6a, tini
(I

jogo es1)etLitilfeito por t~rceirasprssoas, que com-


pram por poiico dintieiro a materia prima aos pe-
quenos lavradores, mas por um preço quasi sempro
superior ao que Ihes tinha sido calailadamente offe-
recido nas fabricas.
Como a ci~lturaestá distribuida por um grande
iiiimero, na maioria, de pequenos agricultores, estes
nunca percebem o modo como são illudidos, mas,
pelo contrario, desconfiam sempre do lavrador em
grande qiie Ih'o quer explicar; por isso succedcl
que nunca 6 possivel obter melhoria de preços oix
garantias mais solidas.
Eis em breves traços como se encontra actual-
mente a cultura da batata perante o industrial, e,
coirio lios ilicrecri ifccerto mais sju~p;itl~ias a pri-
meira, nd\og:imol-;i tle niellior grado, l~oisque 6
represeiitatla por iiiii grirpo laborioso, geralmentcl
rnal c.onipeiisado, 1)craiite um oiitro, alias t a m b e ~ i
traballiadoi~,mlrs que, olhando szrflciente~)wntepara
os scris iiitei*esses, 1120 prcsta a tlrvida atten~ão
tiyiiell~tl'aoiide Ilies proveeril.
Urge, portalito, l);ir;l tli~r ;I c+iiltnrít iiáo seja
c.ornplt~lanieliteal~;riitlr~i~adu,
além tias ~nodificações
riccessari;is rio sqsteril;~tbiiltiirnl, que os interesses
sejurn mais Iiem tlivididos ; e isto iião se conse-
giiirá, scJrii que o l;ivi.;id~rse conveiisa que elle e
qiie Icrn a f i ~ r l a que
, sbmeiite s r adia muito di-
vidida, mas qile a c.ampaiitia s e r i vic2toriosa logo
qiie se unam.
CAPITULO V

Critica de algoas dos processos culturaes

A phase por que vae 1)assaiiclu a i'ullura da ba-


lata cloce tem prendido a atteiiçáo dos agriciiltores
mais illiistrados tia ilha de S. Migiiel, e comeqa-se
;i estabelecer iiriiil correiitc iio seiititlo tle estudar
i~iial o rneio ec.oiiornico c pralico de a inailter re-
~niilieradora.
Ora, seiitlo u fim l)raii~cipal tia u!j?.o?zor)liaobter
rum i , iiieiior (1isl)eiidio o masirno tle producção,
temos que o [)rol)lema a resolver se resixme em
toriiar 3 ciiltilra o mais ecoiiomica possivel, ein-
!)regando, coiijuntaniente, os meios de exocução
pratica, que a sciencia iios ensina para obter inaiores
prodiic$óes.
Nada mais Sacil lia, emqiiailto ao primeiro caso,
;I eeonoinia, do cIne fazer siipposiçóes; pois qiie,
ou reduzindo certos amanhos, ou inventando pro-
cessos extra-ecoiiomicos, obteremos sempre o que
temos em vista; porem, n'uma cultura que e in-
tensiva, como a da batata doce, a economia vae,
por isso mesmo, ate a um certo ponto, pois que,
passado elle, significa o contrario.
JA não apresenta a mesma facilidade o segundo
ponto, e por isso mesmo tem elle importancia
capital lia resolução do problema.
Deixamos completamei~teentregue a cada agri-
cultor ser o mais economico possi~el,pois que,
conhecidos, como vimos de fdzer, os processos
culturaes, reconhecernos que a parte essencial-
mente pratica de os executar está de accordo com
as condições da região.
Faremos, porem, sbmeiite urnas observações so-
bre alguns processos seguidos, e occupar-nos~he-
mos de preferencia das adiibacões.

Lavouras

PoderA ou não influir sobre a cullura uma la-


voura mais ou menos profunda ou mais completa :7
Dizem-nos alguns auctores fraiicezes que a ba-
tata doce, para produzir melhor, necessita que o
solo inerte esteja duro, porque n'este caso se for-
mam menos raizes fibrosas e por isso maior nu-
mero de tuberculos.
E' este um facto de observação, mas que tal-
vez se explique pela maior fac*ilitiadeque as raizes,
em um solo inais revolto, terão em profuiidar e
em se deseavolverein mais seiii se modificarem :
pois que o tnherciilo, iio raso considerado, não i:
mais tlo qiie a tiil)eriticJnc50 (13s raizes, ou, por
outra, a sua Iiyl!ertrol~lija.
D'csle facto (tevernos concluir, que uma lavour;~
profunda não é varitajosa para a producção, em-
bora o possa ser para a ~egetação; porem, em-
quanto a ser bem com~jeta,isto é, ficar o terreno
bem pulverisado, iielihnma diivitia lios resta a seii
favor.
N'este caso náo Tamos de eiicontro ao outro
priiicipio admittitio, porque a pulverisaçZo do solo
acti~o,tendo por fim fornecer o maior numero dc
principios assirnilaveis ii planta, produzira tanto
melhor resultado quanto mais completa for.
Para que isso se da sera pois necessario que sc
empreguem os apparelhos iriais adquados. Usual-
mente a lavoura e feita com o arado de pau, e este,
como se sabe, nunca completa bem o serviyo.
E, portarito, muito mais admissivel a lavoura
com o arado tle ferro ou o charrueco america~io,
que jh alguns lavradores empregam, e iião deve i r
a lavoura a uma profundidade superior a Om,25.

PlantagcCo. - A distancia de 0 ~ ~ 3 a0 ,que col-


locam as plantas, parece-nos devkras apertada para
que ellas se desenvolvam como deve ser ; pois que
o cubo de terra iiecessario para cada planta, não
fica completo.
Será talvez este o motivo porque muitas vezes
ao arraiicar a batata se nota grande desegualdade
na prodilccáo de cada planta, e para isso deve
influir a maior facilidade como cada uma se apo-
dera do terreiio.
Seria, portaiito, preferivel auginentar a distam
via, porque, a par rla economia, parece-nos logico
qiie a protluccáo será mais regular e melhor.

.iproceita~t?rrlto (lu ratrla.-A rama que esta


planta produz constitue, quer i10 estado rerde ou
secco, um aliiiieiito de alto valor para o gado, po-
r i m náo a aljroveitam como d e ~ l a m .Limitam-se
;r susteiitar com ella o gado de trabalho, empre-
gado no trailsportc da batata ou ila sementeira do
ireuloca, e yoiico mais, comendo-a no mesmo ter-
reno d'oi~tlefoi tirada. Este systema, embora seja
c~voilonlicaiileiite~*oiicIemna\el,se atteridermas ao
inell.ior*aprojeitanieiito ci'este aliiilento, e , comtu-
tio, justifica~el erriqiiaiito i cultura ; porque, ~ o l -
taiido 3 r;lin;l para o iliesnio terreno, qiier repre-
seiitatla iios restos que os aiiin~aesdeixaiti, oii rios
heiis excarerileiitos, iião exportariios os l)riiieipios
f;~rlilisantesqiie rll;i eiicerra.
B'iima exploração enl rliie se attendesse devida-
ineiite ao valor (l'este aliriieitto, seria, iio emtaiito,
rnais ecoiiomico trarisforinal-o ri'iima especie de
teno, e eiifai*dal-o em scgiiida, p;ira siisteiitar o
gado em epochas de carestia, restituindo por outro
lado ao terreno os elementos exportat.los.
Ernquaiito as outras praticas, seráo, ria ~ e r d a d e ,
siisceptiveis de se modificarem economicamente ;
rnas sO no campo experimental e que se poderi
deduzir o melhor modo de o fazer, por isso de ilad:~
valem supposirões.
O que mais importante se torna actualmente L;
estudar o modo de manter as proclucqões.
Para que se possa saber o que um dado terreno
necessita para uma cultura, e necessario primeira-
merite conhecer, pela analyse chimica do mesmo,
o seu valor, e depois c.alcular o que lhe 6 preciso
jimtar dos l)ri~ic.iliiosfcrtilisantes, conhecida ta'm-
/)em a ailalj se cahirriica tla plarita que se pretend(3
ciiltivar.
I? ainda :ictualrneiite urn ponto tle estudo, o sa-
ber-se a riqueza cffectira de um terreiio em priilcai-
pios fertilis?iltes imniediatametite assimilaveis pelas
plantas : porque não se coiihecc ainda, cle um modo
positivo, qual o acido capaz (te solixbilisar a rnesrnii
quaiitidade de priiicipios, que os que as raizes pos-
suem sol~ibilisam. Sobre este assuml~tovarios sa-
hios agronornos teem feito grande numero de es-
periencias, espec~i:ilnieilteem Inglaterra.
O que actualmente uma analyse de terras iios
fornece 6 o valor em principios tlircctainente assi-
rnillaveis, conjixnctameiite com outros que se vão
solubilisarido.
Como tratamos da cultura da batata tlbce, pro-
t:uramos obter exemplares de terrenos aonde a
planta produzisse bem ha bastante tempo, quer
sem adubos ou adubados, para reconhecermos, pela
analyse, quaes as relacóes em que estavam os prin-
vipios fertilisantes.
Obtivemos para este fim algumas amostras, das
quaes analysimos duas das mais importantes : uma,
pertencente a um terreno da localidade chamada
(kotinl~a,junto de Ponta Delgada, e que esta pro-
tluzindo batata ha 13 amos, com uma prodiicqão
tle 300 arrobas por alqileire (4:100 por hectare)
sem levar outro adubo alkm i10 tremoco, e uma oii-
Ira, proveniente cl;i freguezia da Relva, que tani-
t~emproduz ha bastante tempo batata, com resul-
tado identico, com a clifferença, que tem sido bas-
lante adubado.
Damos em seguida as analyses d'esses terreiios.
bem como de alguns outros de varios poiitos da
ilha.
Analyscs que fizemos
-
Analyses de differentes chimicos

1
A A

Terrenos que h a 12 ali-


nos produzem batata Terrono
com uma producção das
constante de perto de T~~~~~~dos Amoreiri- Outro Terreno
nhas Media
300 arrobas 1 por ai- ~ ~ ~ - d ~ da ~ -da Terreno de
queirc de terra. grota dos varios
Agua mesma
-C C _

Terreno da Terreno da de localidade Fjg,$ira Arrifes 9 terrenos '


Grolinlia da Pau
sem aduba- Relva N.O 4 N.@2
Analyse physica: $60 adubado ___
Agua hygroscopica.. . . . 5,531 19,537 13,783 22,866 22,442 - -
-
R

Areia ................. 74,916 59:670 71,117 67,837 68,163 - -


Materia organica 4 . . .... 1,475 1,048 1,532 1,320 1,797 - -
Argilla.. .............. 18,058 - -
". 19,745 13,568 7,977 7,298 R

Carbonato de calcio . pp--p-p-

Analyse &iuiica :
Azote'. ................
Acido phosphorico.. ....
Potass;~...............
Cal.. .................
Ferro (F e ? O 3). .......
Magnesia.. ............
Silica. ................

Nota i: 3l:500 kilos por hectare -Kota 8: Analyses feiias na h lemaiiha pelo si*.Pfeiffcr, director da estaçso de Got1engen.-Nota
3: Analyse feila por H. Jou1ie.-Nota 4: Acidqs negros.-N:ta 8:Godos os terrenos aprosentavam, pelo calcimetro, vestigios d este
elcmrnlo.
O ataque dc tddos os terrenos que analysimos foi fcit, com acido chlorl~ydricoe durante meia liora d'ebuli(50.
Comparaildo os resultados da analyse dos dois
primeiros terrenos, vê-se que, apezar de serem am-
bos bastailte ricos em principias fertilisantes, tem
no emtanto o terreno adubado conservado uma
percei~tagem mesmo cxcessivarnente elevada de
prii~cipiosfertilisantes, emquanto que o outro ja se
acha rriais depauperado. Assim, para a potassa, tem
0,184 O/o, quantidade que ja e um tanto infe-
rior i admittida para um terreno iypo (0,250 ('lu).
A prodiicião de ambos os terreilos, pelo conhe-
cimento que temos delles, i: completamente com-
paravel.
Por outro lado, coilhecemos tamhem o valor mi-
neral da batata pelas analyses que fizemos e por
lima outra que eticontrimos, e que apresentamos
em seguida.
--
Analyses que fizemos .$ ;
*L=
-o

Azote ....................
j7ariedaae
amarel l i
comprida

0.280
I 'OxJ

0,lB
30-
-2 a $
3 C

Aeido phosphorico. ........ 0,089 0,064


Potassa. .................... 0 562 0,48Y
Cal.. ..................... 0,058 0,023
Magnezia.. .............. 0.032 0026
Siliea ..................... 0,066 0,092
1

Estes rcsiiltados refcrern-se a 100 de materia fresca.

1 Erli'aliiàa do jornal agi'iccila o Agriexltor ,Ilicliaelè?ise.


Resta-nos agora conhecer o valor do adubo mais
empregado, o tremoço. Analyse segundo Woolfe:

Azote.. ..................... 0,50


Acido phos1)horico ........... 0,11
Potassa. ..................... 0,15
Cal ......................... 0,16

É pois este adubo principalmente rico em azote,


e: e por isso que se toriia riotavel.
Os adiibos verdes sáo de grande importancLia;
porque, escollien(1o-separa esse fim plantas que as
siias raizes profunclem hastante, trarisl)ortam por
isso tio solo inerte muitos dos prinripios que a (.ii1-
tura 1150 aproveitaria.
Alem d'isso, e apezar de iiáo fornecerem ao ter-
reno priiicipios extraiitios :ilém do azote, concen-
tram ri'um dado ponto outros que estavam muito
espalhados, offerecendo assim ;i. planta uma assi-
milayáo mais facil.
Teein tambcnl grandes vantagens porque cori-
servarn mais hilmiclade no terreno pela materia or-
ganiça que lhe forilece, e ainda porque a plaiita
encontra os priiicipios fertilisarites n'um estado de
mais facil assimilação.
Reconhecidas estas vantagens, devernos, por ven-
trira, riáo empregar outros adubos differentes?
011 devemos coiidemiiar este systema dc adu-
hação no estado actual da agricultura michae-
lense ?
De modo algum a sciencia nos jndica que os de-
vamos empregar exclusivamente, ou ahandonal-os
por completo.
Os agricultores ligam-lhe grande importancia, o
que alias merecem, mas, o que elles não se con-
Yencem, e qiie empreprido scimente o tremoçp,
embora adubem rasoa~elnientea cultura, vão no
emtanto empobcecendo o terreno.
Se atteiidermos as analyses apresentadas, vemos
c[ue são os terrenos michaelenses bastante ricos
em azote para que o adubo verde não seja mais do
que uma siiperaburidaqcia d'aquelle elemento.
Portanto, produzindo este adubo, como8ate aqui
tem produzido, bons resultados, tem sido isso de-
vido, especialmente, ;i concentração dos oiitros ele-
mentos fertilisantes : porém, como esses principias
provem do proprio terreno, e sómente os concen-
tramos mais n7um datlo ponto, o empobrecimento
vae sendo progressivo e egual aos elementos ferti-
lisantes que exportamos.
Deduz-se por isso, que para procedermos racio-
nalmente, devemos lançar ao terreno todos os
tinnos proximamente aquella quantidade de prin-
cipio~fertilisantes. Vejamos qual e esse numero.
Servindo-nos dos resultados das tres analyses
da batata, que apresentamos, calculhmos a seguinte
media de priilcipios fertilisantes por cento de ma-
teria fresca :
Azote ............................... 0,249
Acido phosphorico.. ................... 0,092
Potassa.. ........................... 0,533
Cal.. ............................... 0,047

O iluc tlti 1131'3 uma prodiicqão de 25:000 kilos


por hcc8t;irch,os seguintes prinQpios :

Azote ............................. 62k7748


Acido ~)liosyliorico.................. 23k,184
Potassa ............................ 1345,316
Cal ............................... Ili",l2O

Siil)l)oritlo que uiii bectarc cultivado de treirioc;~


protliii. iirnir massa de atlubo ~ e r t l eegual a 20:000
kilos, ícbirios que por este motlo lancamos ao solo
as sepiiii~fes quantidades tlc elririentos fertilisan-
tes :

,Szote ............................ 100 1$ilos


.................
-4c.iilo ~)l~osl))iorico 22 D
Potassa ........................... 30 D
Cal ............................... 32 P

VS-se, ~)ort:into,que este aduho esta bem çonsti-


iiiitlo rm todos os principias que ir batata necessita,
oscepto em potassa, de que maior gasto faz a cul-
lui8;i : e podemos considerar, que todos estes ele-
irientos li)ram tirados do solo, escepto o azote, que
a planta ahsorve quasi na totalidade da atmos-
phera.
Porta~ito.pela applicafão coritinuada d'este adubo,
vamos enriqiiccenrlo o solo em azote, e empobre-
cendo-o em todos os outros principios que a batata
rouba ao terreno, e, por isso, não s6 as produc-
cões filt~lrassefio menores, mas tambem o ljro-
tlucto itlr;i nienos rico em princil~iosalcoolisa\-eis,
e ainda, o ~)i'ol)riotremoço que serve de adul~o,
viri mais 1)ohr.ecm principios fertilisantes.
Vejanios n irifliiencia que poderá ter uma exces-
siva qiiaritid;~ciecle itzote sobre a formacão do
amido e iissiiccir lia planta da batata.
Tem Iin~idovarias tlieorias para explicar a for-
mação (10 ;imido e assiicar nas plantas, porem e
um ponto assente, que esse phenomeno se da nas
folhas pela accáo cjsy~ecialdos raios solares.
M. Emé Girard, foi quem, co~tinuandoestudos
tle oiltros iilr-estigatlor~srlistinctos, e por experien-
cias (Pitas lia beterraba de assucar, concliliu, 1120
só que iin folha oiicle se dit a formacáo do as-
sixcar, l~eladeconiposiqlao do anhydrido-carbonico
e agiia tia atniosphera, mas tambem, que a especie
do assucar fi)rmaclo era a saccharose, produzin-
do-se esta em (paiitidade proporcional á abundan-
cia de luz.
Analysando as folhas da beterraba colhidas ao
anoixtecer e ao amanhecer, encontrou sempre, nas
primeiras, quantidades de saccharose e assucar re-
ductor muito superiores ácpellas encontradas nas
segundas; do que concluiu, que a formaç,ão da
saccharose se dava sómente em virtude da accão
da luz solar, e que o assucar reductor 6 o prodii-
cto da sua transformação.
Egual theoria admitte para a formação do amido.
Assim, diz-se que a sacçliarose decompõe-se em
glticose e le~ulose, sendo esta para formar a
cellulose dos tecidos, c aquella para formar o
aniido.
Por outro lado, sabemos que na batata o amido
e assucar existentes nos tuberculos são elementos
de reserva, formados pelos principios hydro-carbo-
nados que excedem ti quantidade precisa para ;I
formacão dos tecidos
Pelos principios de pliysiologia vegetal, sabemos
tambem, que a planta absorve o azote pelas rai-
zes, ilo estado dc ammoniaco ou azote nitrico, que,
trarisportado para as folhas, se cornhina ahi com
a glucose, para formar varios corpos quaternarios
ou de composiq20 mais complexa.
Ora, a quantidade tle çlucose que se acçumula
nos tuberculos, debaixo da fórma de amido, 6 ;i
que excedeu as rombinacócs formadas na follia,
assim como a saccharose, que tanlbem se encon-
tra nos mesmos, serti egual iquai~tidaded'esst~
assucar que 1150 solTreu desdohraniciito. Havendo
uma quaiitidade excessi~;~ de azotc, a percentageni
de glucose combinada seri maior, c, portanto, as
quantidades de amido e saccbarose accixmuladas
serão menores ; e n'este caso, a vegeta520 da planta
G
póde ser exuberante, porem a producqão de tuber-
culos ser diminuta.
Ha grande deseiivolvimento vegetativo, pois que
não faltam os priiicipios necessarios para a forma-
ção e nutricão dos novos tecidos, mas a quantidade
de elementos cle reserva é menor, e com ella o
protlucto que mais nos interessa.
Na pratica k isto bem visivel, pois ilue muitos
batataes, que actualmente produzem muito menos,
quasi semprt: aprcscntam um grande desen~olvi-
meiito foliar.
Portalito, torna-se iiec'essnrio equilibrar melhor.
os terrenos iios seus princi~~ios fertilisaiites, e para
isso, (leveirios empregar adubos em que entrem
conio ~~rincipaes elementos acluelles que o terreno
mais necessite.
Para terreiios rni que abimda o azote, como os
coiisidcrados, chhc'erto que não serh preciso cm-
pregal-o ; sónieiite devemos tornar aquelle que
existe mais assirriilavel, empregando como corre-
rtivo iirn elem~ntoc;ilcarco, por faltar este ele-
mento i i n rluniititlacle necessaria para completar
essas trarisforrna(ões.
Qual seri ;ictiinlnicnte a melhor fbrma de ntlii-
b a ~ ã o: os atlabos de curral oil chiniicos ?
Náo è possi~elres1)oiider de ante-máo, porquth
não conlieccnios resriltados experimeritaes ; porrni
somos levados a proniinciar-nos pelos adubos chi-
micos, pois que sb com estes poderemos equili-
brar ;i quaritidatle tle principias fertjlisaiites no ter-
reno, visto lançarmos aquelles que queremos nas
proporções devidas, o que não succede com os
outros.
h formula do adubo a empregar tlevera ser por
hectare :

Phospliato tle calcio (a 20 010) ........


133 kilos
Chloreto de potassio (a 50 ('10) ...... 270
Sulfato de calcio.. ................. 200 u

Esta formula seri para urn terreno rico em azote


e rasoavelmente co~lstituido110s outros priricipios,
tlevenclo ser alterada conforme a riqueza do ter-
rerio, reconhecida pela analyse.
A forini~laqiic alguns agrieultor*esernpregavani,
como ja ~ i r n o sila l);lr'ttL caiiltixral, vra a seguinte
por hcctare :

Nitrato tle sodio. ................. 227,s liilo~


Pliospliato de caal(io............... 166.5 n
Cliloreto de potassio .............. 157,s ))

Sulfato de calcio ................. 148,s w


700,O u

O modo como este adubo era miiiistrado na!:


era dos mais racionaes. O nitrato empregado, na
occasião da plantação do bollio, sera facilmente

1 Ou o seu equivalente em sulfato de potassio.


arrastado pelas chuvas para camadas aonde iião
aproveitará a planta.
Emquanto i potassa foriiecida debaixo da fórma
de chloreto tamhem iião e a melhor occasião de
a empregar, porque, no geral, as plantas soffrem
com a acção caustica do sal, e não só são atraza-
das iio seu desenvolvimento, mas tambem deixani
de aproveitar complctarnerite esse principio fertili-
saiite. Por isso, os saes de potassio, excepto o cai.-
bonato, Iaricados 11'aquella occasião iio terreno,
longe de protlirzireiri I~oiis resultados são pelo
contrario 1)rejudici;les.
E' i~c~çessarioque o sal se clecompoillia, traris-
formando-se ern carboiialo, a melhor forma de ser
assimilatlo pela planla sem a prejudicar.
A rnellior epoclia de lailqar o chloreto de potas-
sio 11o solo, ou o tit trato e sulfato, e quaiido não
lia vegetacáo; ~orclue,seiido estes saes bastaiitr
solil~eis,facilmeiitc sc espalham iio terreno, traiis-
formalido-se por dupla decomposição em carbo-
iiato, que e cornpletaineiitr: retido, e que, apezar clti
ser causticao, não exerce essa acção sobre as plan-
tas por causa de combinações especiaes que forma.
Na cultura da batata, a melhor epocha de o fa-
zer será, portailto, na occasião da sementeira d o
tremoqo, havendo rio emtanto a cautela de deitar
os saes algum tempo antes de se proceder a essa
operaqão ; e, 1)or isso, parece-110s conveiliente al-
terar o systema seguido; isto e, empregar o sal
depois dc riscar o terreno, e deixar qiie umas pri-
meiras chuvas o solubilisem, procedendo então a
sementeira.
Julgamos que o cllloreto dc potassio sera subs-
tituido com vantagem pelo sulfato, porque este
iiltimo transforma-se em sulfatos (principalmente
tle calcio) que são mais retidos pelo terreno,
emquanto que o chloreto de calcio e caustico e e
arrastado pelas chuvas, o que, apezar de impedir
que a sua causticidade prejudique a cultura, con-
caorre comtudo, para empobrecer o terreno n'um
elemento em qixe ja não e rico.
Com os terreilos bastante pobres em carbonato
tle calcio, como os de S. RIiguel, não s6 se empo-
I~recerãocada vez mais n'esse elemento, mas tam-
bem o chloreto empregado, não se transformando
completarnerite em carbonato, será arrastado pelas
c*hwas sem proclilzir .effeito.
Alguns agrici~ltoresque coiil~ecemosqueixam-se
cle náo obterem melhores resixllattos com o em-
prego (lu cl-lloreto, porem parece-rios que encon-
traráo explicacão d'isso no rnotio como o em-
prcgarii.
Ecoilomiza~iieiitemerece prcfereiic'ia o emprego
tio cliloreto ; mas, se attenderrnos a constituição
especial (10s terrenos, talvez deva cmpregar-se com
vantagem o sulfato; porem, so faze~ldoexperien-
(.ias n'este sentido é que se poderi com mais se-
gurança aconselhar um ou outro.
Tambem ha certa coiiveniencia em empregar os
phospliatos no acto da sementeira do tremoço, por-
que esta cultura ~acceberia acção do adubo res-
tituindo-o depois quaiitlo enterrada.
O emprego da cal, bastantc necessario nos ter-
renos considerados, deve ser feito lia occasião de
enterrar o tremoco, porque facilitara a decompo-
sição da materia orgaiiica o 3 iiitrificação. E' este
elemerito tambeni de grande vantagem, porque
favorece a solubilisacão tia potassa substituindo-a
lios silicatos. A terra de estufa que algumas vezes
empregain, tendo, coilro Imse tla sua composição,
;r inateria organica e azote, tambem lucraria bas-
taiite em llie jiiiltareni uin elemento calcareo.
Uni estudo de iml~ortailcia,e que bastante irite-
ressaria as fabrbicas, ri-;i o coiiliecer-se a influencia
i10 adilho sobre ;iforrriacZo (10s priiicipios alcooli-
saveis da batala, i semelliaii~nclo que se tem feito
tia Allemanha e oixtr-os l~aizrscom a beterraba e
batata commum. Nas ;riialjses das duas variedades
que fizemos, riotánios qac ayuella mais rica em ele-
mentos alcoolizaveis, & ;t que tem menor perceilta-
gem de cinzas e priilcij~iosnobres, o que facilmeiite
se vê lia tabella (pag. 76) que ayreseiltamos.
Ao mesmo tempo qtir era dc ~ailtagenigrande
para a iildustria, t;imljenl 1120 era dc menor im-
portancia para o agricultor, pois que, se este con-
seguisse obter ixm prodii(*toque roilbasse o menos
possivel de priilcipios Sertilisantes ao terreno, em-
hora fosse mais rico em liydratos de carboile, ecoilo-
inisava bastante em adub;rfões, e empohrecia menos
o terreno.
Sáo os reziduos da distillacáo irin adiibo de :ilto
valor e que náo sáo a1,roveitatlos para a cultlir;~.
As fabricas veilclem-ii'os para :iliilic3iitação tle ;iiii-
inacs, porem, a niaior parte vae 1Iar;i o inar st1iii
;il~plicaçáoalguma, porqiie, 1150 sO os prrcos, coiiio
tamheni o diffiril traiisl~orte,ini1)etlem (~iios ~ j ; ~ n i
empregados como adril~o.
E' na verdade um ~ ~ r o b l r n iecorioiiiico
a irii11oi.-
tante a resolver, pois qiic são csscs rcziduos, l~oi'
siia c~oiistituiçlTo,o atlii1,o in;iis proprio 1)ar;i ;i ciil-
t11i.a ; porem, ;i difficiil(lade tlc os coiireiltrnr eco-
~ioniicanicntesem l~erdade rlemeiitos fertilisaiites,
c20rrcorreri senipre l)ar;t o seii limitado emprego.
A caoirc~eritraçáomais h i i l , e que usiialmeirte se ftiz
para os aproveitar como alimento para o gado, i:
esrciitadn, por assiin dizer, 1101.fillraçáo, . ahriirdo
i m ; t cov;i iio terreno para rccohcr os rezitluos.
Por rste systema perdeiil-se iinr;i gr;iride parte tlos
priirripios Sertilis;iiites, principaliileiitc a ~~otass;r,
no l i ( ~ ~ ~ ique
( i o filtra. Crna conceiitra(5io a fogo
s e r i bastante dispciidiosa, a 1120 sclr que se em-
Ijr'rgiiem app;trellios pnrirmatiros.
Portanto, sO rest;i rmprepar os rezitiiios taes
iAoniosaem das fabricas, e d'este niodo, apezar de
ser vantajoso o seu emprego para a vegetação, só
se podem lançar em terrenos não muito distarites
das fabricas ou de facil commiinicação.
O valor dos reziduos lançados ao mar todos os
annos é enorme, e portanto merece o assiimpto
importaricia para ser estudado.
Apresentainos todas estas iilsiçilificaiites consi-
derações, 1150 com a pretenção de resòlvermos a
crise da prollucçáo, mas como simples priilcipios
para um mais completo estudo sobrc esse pro-
blema por natureza complicado.
CAPITULO VI

Alcuolisação da batata doce

Ate aqui tratamos tia hatata doce como sendo


um producto puramente agricola; agora, que a
passamos a estudar como materia prima de uma
industria agricola, a alcoolisagão, temos de exami-
nar as differentes transformacões que soffre ate
chegar ao produçto final, o alcool.
Chamam-se substancias alcoolisaveis todas aquel-
las que são capazes de soffrer a fernlentação al-
coolica quer directa oix indirectamente. Agrupamos
essas substancias em 3 classes :
1. d Substancias que possuem assucares directa-
mente fermentesciveis.
2." Substancias que possuem assucares que an-
tes de fermentarem necessitam ser invertidos.
3." Substancias amylaceas que para fermenta-
rem precisam ser saccharificadas.
Pertencem a primeira classe todas aquellas subs-
tancias que possuem assucares da formula C6 HiB O6
e \que se transformam iinmediatameiite em alcool
pela fermentação.
As suhstailcias da segunda classe são as que
teem assucares da formula C12 H2%O i 4 e que para
soffrerem a fermentacão alcoolica precisam ser in-
vestidas ; isto e , traiishrmadas em assucares dire-
catamente fermeiltesciveis. A iiirersão dá-se quer
pelos acidos diluidos quer 1)clos fermentos solu-
reis.
As substaiicias anq laceas sáo ;ts rel3resentadas
pela formula C6 H i U O5 e que para fermentarem
precisam sof'frer uma s;tcc.liarificacão.
N'esta ultima classe ainda podemos distiiiguir
dois grupos; isto e : aquellas substaiicias que pos-
suem um germeil cliie 1)elo seu deseiivokimeilto
segrega a diastase capaz de ;is saccl-iarificar com-
pletamente, e aquellas que são desprovidas dc
germen capaz de segregar a diastase e, por isso,
para serem saccharificadas precisam do auxilio de
substancias extraiilias. Estão ilo primeiro grupo
os cereaes e alguns outros çráos farinaceos, e no
seguildo as materias fecixleiltas.
A batata doce pertencc á terceira classe das
substancias alcoolisaveis; comtudo , coiitkm uma
percentagem importailte de assucares, especial-
mente da formula C'%H2WOL4,que concorrem em
alto grau para a produccão total do alcool.
As transforma~ões que soffre são identicas ás
da batata commum, com a differença de que, pela
sua composição especial, requer cautelas cliie esta
ultima não necessita.
A sua composição ein elementos alcoolisaveis
varia muito, não so com o clima, variedade culti-
vada, solo e systema cultural, mas tambenl coin :I
epocha em que a apreciamos.
Damos em seguida um resumo de algun1:is
analyses de tuberculos estrangeiros e dos de S.
Miguel, que bem provam como variain esses elr-
mentos :

I Batatas d a ilha de S. Miguei I

----
Humidade ......... 76,9P 69:97 74,552
Materia azotada.. .. 1,75 1,ii 3,318
Assucar reductor ...
Assucar crystallisa-
vel .............
Feeula ...........
Gorduras.. ........
3,32 5,93 1,780
5,23
8,PP
0,1%
7,31
8,3l/
0,2P
-
10,160
0,162
I
Lenboso .......... 0,8P 0,771 0.600
Cinzas ......... 7 1,lk.l 1,280
Eatrato não azotado - -- 8,148
Substancias indeter-1
minadas ........ 2,11 Y,21 -

' Extrahidas do bolctini n.O 8 do anuo de 1891 da Direcçáo Geral de .4gri-


cultura.
Do diccionario Barral.
A quantidade de assucar reductor que encon-
tramos e excessivamente elevada comparada com os
resultados das outras analyses; mas, attendendo
3 epocha em que fizemos os ensaios, fins de
Abril, facilmente se conclue o motivo, que não
póde deixar de ser uma saccharificação de amido
c inversão de saccharose motivadas pelo des-
pertar da vegetação, phenomeno que se da antes
da batata produzir os rebentes. Ora, como o
amido e saccharose são elementos de reserva, que
para entrarem na circulacão formando os tecidos
tias novas plantas teem de ser transformados em
glucose, a natureza organisou as plantas de modo
a operarem essas modificações 3 medida das suas
iiecessidades.
Logo que o tuberculo analysado não tenha aiilda
produzido rebentos, o seu valor iiidustrial repre-
sentado pela analyse em elementos alcoolisaveis em
iiada ficou alterado, feito um pequeno desconto
relativamente ao amido consumido pela respiração.
Resumimos em seguida as operações feitas para
;i alcoolisação da batata, e passaremos depois a
c:onsideral-as em separado. São essas operações
as seguintes : pezagerrz do tuberculo, lavagem, coze-
clura, saccharificagão da massa, resfviamento do
mosto, acidificagão, ferwzentagão e por fim distil-
la@o.
Pezagem

A batata e comprada ao agricultor pelo seu pezo,


e não pelo seu valor em substancias alcoolisaveis ;
por isso, a primeira operação a que e siibmettida
quando entra nas fabricas e a pezaçem. E' feita
em balaiiças proprias, ccntessiinaes, e dispostas tle
modo, que tarito os vehicillos como os aiiiniaes qiie
os condiizem possam ser pezados.
Logo que se procedeu ;i pezagem o 1)ortatlor
recebe urna seiiha ilumcrarla para entregar isa-
hida, depois de deixar ;i batata, com o fim de to-
mar a tara correspoiidciltc, e (lctcrniinar-se assirrn
o pezo liquido de cada c;lrrada.
Geralmente fazem aiiida tini descoiito a csse pezo
por. vausa da terra que a I~ntatatraz a(ll~ei+entt~;
porbni, náo Iiaveiido irnia ljase rigor os;^ qiie levo
;iestabelecer a percentagem do desc,oilto, succetlc
quc militas vezes 6 siiperior li realidade, ficarido o
lavrador zun tonto 1cs;ido. Coiiriria 1)nstante qiir-
est;rbelecessem um processo pratico e expedito p;ir,i
avaliar tiquella perceiitapem ; pois que assim iiãt)
seriam tão injustos os descontos, que, lia verdado,
pelo syslema seguido, nunca podem ser faavoraveis,
ou, pelo meilos, justos para a maioria dos 1nvr;i-
dores.
Ras grandes fabricas de assucar de beterrab;]
tambem ha necessidade de se fazer um desconto
pela mesma causa ; porém, esta isso estabelecido
d'outro modo.
Assim, quando descarregam a beterraba tiram
A mão uns vinte kilos de raizes sujas e collo-
cam-n'as n'um cesto tarado; acham em seguida o
pezo bruto e por differeiica determinam o pezo li-
quido.
Limpam ilepois as beterrabas, tirando-llies
náo só a terra como tarnbem algumas raizes
n outras substai~ciasestranhas para o fabrico do
;rssucar, e tomam novamente o pezo. Estabelecem
assim o que charnam tara, que e a relação entre
o peso das substancias estranhas para o das be-
terrabas sujas.
Seja o pezo das beterrabas sujas, e o o
pezo das mesmas beterrabas limpas, temos que
ossa relação e representada por :

P-P'

Este factor multiplicado pelo pezo de beterra-


bas sujas dA o pezo liquido final. Este processo
não tem, ainda assim, grande rigor; porque sO no
caso das beterrabas serem descarregadas a mão,
e de ser iiovamente pezada a terra que ficou ao
fundo do vehiculo, quando elle sahe, é que e ver-
dadeiro.
N'uma industria em grande, como e a da alcooli-
sação da batata em S. Miguel, não se poderia fa-
zer isto completamei~te;porem, achamos que este
processo, aii~daque 1130 fosse executado lia çene-
ralidade, deveria ser f;~t~ultado ao lavador qiie o
cluizesse arloptar ; pois que t i r a ~ aassim melhor as
suas d u ~ i d a sacerca tlos descorrtos que ltie fazem.
A batata fica cm segiiitla disposta em grandes
pilhas ate que sqia c.oiisixrnida, o que, no geral, não
dernorn 111ais (i0 11111 ;I (Iois dias.

Teiii rst;r oljer;r[;to por fim r130 sb limpas as lia-


tatus tle toda ;iterra qixc tecili, mas tambcm sepa-
ral-as tlr algiimas pr(lr;is oii outras impilrezas coni
(lixe sempre \ rorri ;iionipanlindas,
É frita rin iins l;i~n(lorrl!:mc>chanicos ;rpropria-
dos (liir 4 o 2t~ralnieiitc1( 1 ~tlojs typos: o11 cylin-
dricos oii clt: 1)allict;is.
Os c~1iiiclsic.o~ são cao~~slriiitlosdc modo, que a
agua mais lirnpa est3 srirnl)rc ein coiitaçto com a
batata tarnl)em ;i mais liinl~a.Os de palhetas são
formados por umti cspciaic clr calha, com o fuiido
crivar10 para limpar as pedras e oixtsas impure-
zas, tendo iio centro iim eixo com palhetas, que
por imi rno~imeiitodc rotacão lavam os tubercii-
los, e os ernpilrram para urna (Ias extremidades do
appnrclllo, aoiide sGo recel)idos, já lavados, por uni
systema de alcatriizes qiic os condixzem para a casa
da cozedura.
Emprega-se il'esta operafáo bastante açua, que
S geralmente proporcioilal ao pezo do tuherculo a
lavar, variaildo tamheni com a es'pecie dos appa-
relhos.
Cozedura

Como jh vimos, o principal elemeilto alcoolisa-


vel da 11;itata doce e a í'eciila, que para ser saccha-
rificada precisa náo só estar completameilte l i ~ r e
tias cellixlas que a encerram, rnas tambem absor-
ver agixa a lima temy~eraturaclevada.
h cozetlura, tal como era feita pelo aritigo pro-
cesso, tiilha como priiicip fim hydratar a fecula
,x'
ou formar a gonima de a ido ; porkm, pelos pro-
cessos rnocleriios iiáo só se t*oilscgixe;\clilillo, mas
tambem ficarn as ce1lul;rs tlespcdaqadas, liber-
tando-se o amido, dispeiisaildo por isso appare-
Ihos especiaes que o antigo 1)rot:essn requeria.
Actualnierite a rozcdiira faz-se ein vasos fecha-
dos sob mria prcssáo tle trcs oix quatro atmosplie-
ras. Comprchelide-se que por este systeiria, as cel-
lulas tla batata, soffrciitlo a rncsnia pressão em to-
dos os sci~tidos, so eilcliarn dc liquido seni se
despedaçarem ; porérn, yuaildo acabada a cozedixra,
se tirarmos rapidamente a rn;tssa para o exterior,
como dirrrinue a 11rcss3o, o liquido que aquellas
cellulas coiitinha, estalido a uma alta temperatura,
transforma-se rapidadameiite em vapor, que pela
sua tensão despedaca as paredes das mesmas cel-
lulas, j i um tanto modificadas pela temperatura
que soífreram ; por este motivo a massa que se
obtem sae homogenea.
Maerclcer não concorda completamente com esta
theoria, fundando-se, para isso, no aspecto micros-
copico que apresentam as cellulas depois de sahi-
rem dos apparell-ios em que se operou a coze-
dura.
Diz este auctor, que as cellulas, em logar de se
apresentarem despedacadlis, coiiservam a sua fbrma
primitiva, e que s0me1ite as paredes, em virtude
da acção proloiigada do uapor, se teem modificado,
tornando-se assim mais facil o ataque da diastase.
Este modo de encarar ;i questão, fundado n'um
facto de obs~i.vação, parece-110s absolutamente
verdadeiro : porem, liao abaritloriamos c*oi~ipleta-
meilte a outra theoria.
Diz Maerckvr que o v;ipor suh prkssão solubilisa
o amido, tornando-o mais atacavel pela diastase,
Logo que a saccharitjcacão se opere antes de rcs-
friar a massa, porqilc ii'este caso dá-se uma so-
hre-saturacáo da solix(;5o, yrecipitando-se o amido
o tornaiido-se por isso mais demorada a acqão da
diastase. Não e menos iml>ortarrte a acqão que o
vapor solr pressão exerce sobre as rnaterias azo-
tadas, soliibilisa~idoo azote, e particularmente trans-
í'ormando as materias albiiminoides em amidas.
O primeiro que teve a lembrança de fazer a co-
zedura por este processo foi Hollefretmd, porem
deve-se a Henze o aperfeiçoamelito dos apparelhos
primitivos.
7
Actualmente constam estes apparelhos de uma
pailella de ferro construida de modo a resistir a
uma pressáo de 3 ou 4 atmospheras, devendo por
isso offerecer garantia por causa das explosões a
que estáo suçeitas.
Teern seralmeilte uma fórma cylindro-coiiica oii
coilica, com o vertice voltado para baixo, tendo uma
abertura lia parte siq~crioryarn as encher, e uma
em baixo para se dcscarregarcm. Alem d'isso, teerri
algumas imi agitador ineclianico, destinado a mis-
turar as siibstailcias, para que o vapor mais fa-
cilmcnte as coza senl caramellisar o iirnido, o que
succede priiicipalmente com os cercacs.
Estc ;igitatlor é siil)slituido com vaiitaçcni por
um sjstrnia especial de tubos por oiidc entra o
vapor, pondo assim ern niovin~eiitoa mass:i.
Esta ~i'estecaso o apparelho tlc Ky11.
Cada apparelho possue iini iiraiionictro, valvi~las
cle scgurailca e uma sahidn especial para o vapor
condeilsado, além das eiitradas especiaes do vapor.
Nas fabricas iml~ortantesha uma bateria d'essas
pailellas, dispostas geralmente de modo que com-
muiiiqi~emumas coni as outras, para se aproveitar
melhor o vapor e economisar tempo, poderido no
emtanto isolarem-se facilmeiite quando seja pre-
ciso.
O modo de fuiiccionarem e extremamente facil.
Iiltroduzem-se os tuberculos pela abertura pro-
pria até se encher o apparelho ; fecha-se este em
seguida Iiermeticamente, e faz-se entrar o vapor
pelas torneiras apropriadas, tendo o cuidado de
abrir a torneira do vapor condensado.
Por este modo o vapor, encontrando os tuber-
culos frios, condensa-se, e sae pela torneira cor-
respondente. Logo que deixa de sahir agua, ou
que esta arraste algum amido, fecha-se a torneira,
e eleva-se a pressão a 3 atmospheras, operando-se
assim a cozedura que deve durar 50 minutos.
Para que a cozedura se dê com toda a regiilari-
dade, e conveniente manter a valvula de segurança
ixm pouco leve para dar sahida a algum vapor,
pois que, por esta disposição, estabelece-se um
certo movimento na massa, o que e conveniente,
especialmente quando se trata de cereaes.
Como existe na batata uma notavel quantidade
de assucar, cluc por uma alta temperatura se des-
truiria, e necessario qixe esta se regule de modo
que se não eleve muito, o que se consegue não
só pela quantidade de vapor que entra, mas tam-
bem pela sua clistribuição especial no appare-
lho.
Feita a cozedura descarrega-se o apparelho
abrindo a torneira proliria e aproveitando a pres-
são sob qiie esteve.
A massa sac com grande forca, e a uma tem-
peratura de 13Ci0 a 4/10', que baixa em contacto
com a atmosphera, rapidamente, a 100°, produ-
zindo-se grande cliiantidade de vapores.
Esta tempcratixra e ainda bastante alta para se
operar a saccharificaçáo : por isso, torna-se neces-
sario, ainda, fazel-a baixar, para que a diastase
do malt não seja destruida.
Consegue-se isto por meio de uma disposição
especial do macerador, que consiste n'uma chaminb
de tiragem çollocada na tampa do apparelho, junto
da entrada da massa.
O principio d'este aspirador funda-se no facto da
rarefacção do ar produzida por um j;icto de vapor
que entra ria chamink iim poiico acima do tubo de
descarga, dando assim logar 6 entrada de uma
corrente de a r frio crn sentido inverso i sahida
da massa. Por este proccsso consegue-se fazer
baixar a temperatura a 62Qoii 6k0 C. quando ter-
mina o exgotameilto completo da massa, para o
que concorre o modo de regular a sua sahida,
pois que, (1ilanto menos porção sae, mais se baixa
a temperatura.

Opcracla 3 c*ozc.(luratein a massa de ser sac-


c'harific;id;i para poder ferrneiitar. Esta operaçã'o
faz-se çeralmciiie pelo n~;ilt, porque 1130 sb se
obtem polixis proprias para a alimentacão do gado,
mas tamhem a operação cSorremilito mais rapida-
mente.
Como jh vimos, a massa depois de cozida entra
no macerador para se tornar mais homogenea, e
principalmente ser saccharificada,
Este apparelho e formado por um reservatorio
circular, de ferro, onde gira um systema de palhe-
tas que teem por fim misturar a massa com o
malt ou mesmo destruir os grumos yiie ella por
acaso contenha. Alguns teem uma disposic.áo es-
pecial para arrefecer a massa depois de sacchari-
ficada levando-a á. lemperatura propria para se
comerar a fermentação. Teem tamben~estes appa-
relhos um moiilho especial collocado no fi~iido,des-
tinado a iriisturar bem o malt com ;isiihstancia,
ou ainda terminar melllor o esmagamcbiito com-
pleto do malt.
Os apparelhos mais moderilos iião tcem palhe-
tas, mas sbrneiitc um orgão especial com movi-
mento tle rotacão, em alçuiis com a fbrma de es-
piral, e situado de modo que a massa que sae coni
grande força da pariella, incidiildo sobre elle, re-
flete-se, e m e entrar por eiitrc 3s laminas do moi-
nho, aoi~de e completameiite triturada, sahiiido
novameiite l~claparte superior do mesmo orção r
seguindo depois o mesmo inovimeiito.
Como a saccliarifica~áoe feita na ilha de S. Mi-
guel por meio do innlt, será. sbinciite d'este sys-
tema de que rios occixparemos ; e, por isso, passa-
mos a estudar, de um modo geral, aquillo que se
chama malt, e as traiisformações por elle opera-
das iio amido durailte 11 saccharificaçáo.
l a lt

O rnalt obtem-se liela germii~arãotie um deter-


miiiado numero de grãos f~rinaceos. O priilcipio
activo do malt e a diastase ou fermento soluvel,
segregado pelo germen durante a germinação. Na
natureza tem este fermento por fiin solubilisar os
elementos dc: reserva do grão p u a constituirem
os tecidos da iiova planta. Os grãos que maior
cluanticiade de tiiastase proclixzerri, e por isso mais
se empregam, são : a cevada, centeio, trigo e aveia;
comtudo, o milho, 110s coiidicões especiaes da sua
germinação, é rililitas vezes prelerido aos outros.
De todos o mais emprcgatlo é a cevada.
A prepararão tio rrialt tem tambern por fim for-
mar materias i~iitriti~as para o deseiivolvimeilto
tias leveduras.
Varios chirriicos se teem occixpatlo das trailsfor-
~naçóes do arnido. Foi hí'r*í.llhofr o prinieiro que
tratou tlo assumpto, admiltiiido cluc o amido se
transformava c*oniy~lctamcilte em assucar ferveiido-o
com acido sulíilrico diluido, iiotarido mais tarde
clue a a1humiil;r dos grãos de trigo tiiiha o mesmo
1)oder.
Outros chimicos, contiriuaildo este estudo, acha-
ram que o assucar produzido era ideiltico ao das
iivas, e que se formava tarrihem um producto in-
termediario : a destriiia.
Por muito tempo liouve duvidas sohre se a dex-
trina era um corpo determinado, produzido em
quantidade coiistante pela acção da diastase, e se
se transformaria em assucar pela acção coiitiiiuada
da mesma.
Depois dos trabalhos de Payen e Dztbrfcnfaut,
não liavia davida que a dextrina era um l~roducto
normal da acção da diastase, sdmente não estava
bem detcrmiiiada a l~roporçãoem que estava com
relação ao assucar formado.
Assim, Musçulos atlmittia que da reacção da (lias-
tase sobre o amido shmente se obtinha duas par-
tes de dextrina para uma de assucar, e apresentava
a seguilite equação :

Outros çliimicos, porem, achavam quantidades


variadas de dexlriiia; ate que Schtoarzer concluiu
que á temperatura tle 60°, ooix d'ahi para baixo ate
O", se formavam sempre partes eçuaes de dextrina
e assucar, traduzindo a reacção do seguinte modo :

As formulas yile traduzem os resultados aiite-


riormente mencionados estão, actualmente, longe
da verdade, apezar de estarem esses resiiltados
comprovados por experieiicias posteriores. Foi
Dubrunfaut quem iiotoii differeilças entre o assu-
car formado pela diastase e a dextrose; e por isso
chamou a esse assucar maltose.
Schulze reconheceu a differeilça da sua acçáo
sobre os licores cupricos, determinando que 100
partes d'esse assuear reduzem somente uma p e r
ceiitagem de oxydo de cobre egual a que sessenta
e sete partes de dextrose reduziria, dando-lhe a
seguinte formula :

Maercke~*verificou as mesmas exljerieiicias e no-


tou que a maltose era direetanieiite fermeiltescivel
conforme a assercão de Diib~*ln~faut.
A acqão da diastase sobre o amido produz, por-
tanto, maltose e varias especies de dextrina; a uma
teml1e~ati1r.asuperior a 75' a aliastase perde a sua
accão sobre o arriido. Entre 55 a 60° a percenta-
gem de maltose e dextriiia e ideiitica, e d'essa tem-
peratura para cima, até 70°, a quantidade de mal-
tose produzida vae cada vez serido menor em rela-
ção i de dextriiia, embora a saceharificaçáo se
opere mais rapidanieiite.
A acyáo da diastase torna-se mais eilergica so-
bre os mostos mais diluidos do que nos concen-
trados, operarido-se tanlbem melhor nos levemente
acidos do que nos alcaliiios. A diastase tambem
continua a sua acçáo durante a fermeiitaqáo, trans-
formando a dextrii~aem dextrose.
A transformação do amido pelos acidos diluidos
da como resultado a formação de dextrosc e des-
trina.
Conhecida assim de um modo geral a acção da
diastase sobre o amido, passaremos em seguida
uma revista pelas differentes especies de malt.

Malt de cevada.-Alguiis requesitos precisam ter


as cevadas para servirem de malt, pois que, iião
si> a qualidade, mas tambem a edade da cevada,
alem de outras condições especiaes, influem ila sua
força diastasica ; comtudo, o mais importailte de
todos é aquelle que se fuiida nas propriedades
germiriativas. As operacões a fazer para obtermos
malt resumem-se ilas seguirites : lavagem, molha-
genz do grão, gerr~iinagãoP disseccagao do grão.
A lavagem tem por fim separar a cevada das
substa~lciasextranlias, taes como germeiis de fer-
mentos, poeira, etc., e faz-se em apparellios pro-
prios.
A molhagern é destii~adaa hydratar a cevada
para que comece a germinar mais facilmerite ; e
faz-se em cubas especiaes empregaildo-se uma agua
pura. Esta operacão dura no geral eiitre trinta e
tantas horas ate quatro dias, iio inverno, 1180 de-
vendo, comtudo, passar alem de certos limites para
nlo prejudicar a germinação. Esta ultima faz-se
em casas especiaes que devem ser frescas, venti-
ladas, de uma temperatura constaiite e coin o
chão guariiecido de cimeiito polido, assim como as
paredes ate a uma certa altura.
A cevada, depois de bem embebida em agua, A
posta no çerminadouro em camadas de Om,30.
Uma vez alli disposta a temperatura eleva-se e
(aomeça a germiilacão, sendo necessario padejal-a
para distribuir o calor na sua massa.
A temperatura da casa influe bastante n'esta
operaçáo ; no geral, deve lcvar um certo tempo a
germinar para que teilha o maxinio valor diasta-
sico, pois que se e rnixito rtrpida a germinação,
o que succede se a temperatura se eleva dema-
siado, a quailtidade dc diastase clirnii~ue.
E' por esta razáo que preciso diminuir a es-
pessura da camada pirra que o calor tenha sahida
inais rapida e a çermiil:içáo dilre rnais tempo, o
clue se faz quando começnrn a appurecer as radi-
culas, ficando eritáo arluclla ctimatla com uma es-
pessura de Om,5. Quando as radiculas attiilgem
ixm certo comprimerito, geralmente vez e meia o do
grão, r s t i o malt prorn1)to para se empregar, se
acaso sc traballia coin malt verde, o que e mais
vulgar em distillaç2o.
Em S. lliguel as l?ralteries sáo casas esljafosas,
construidas ilo sub-solo e com todas as condicões
exigidas para o firn ;I que são destinadas.
O malt que ali empregam e no estado verde, e
por isso dispõem as cousas de modo que tenham
todos os dias a (luaritidade necessaria para o ser-
viço da fabrica.
O rendimento do malt verde varia, seguildo
Maercker, entre 135 a 145 kilos por 100 kilos de
cevada empregada, teiido este malt um valor dias-
tasico egual ao do mesmo peso de malt secco.
Muitas vezes ha necessidade de conservar o
malt verde por algum tempo; para se coiiseguir
isto colloca-se o malt n'uma camadê pouco espessa
mexendo-se com cuidado. Por este modo paraly-
sa-se a germinação, mas conserva-se a diastase
com toda a sua actividade. Antes de empregar o
malt ainda costumam alguns distilladores desinfe-
ctal-o, ou com o aiihydrido sulfuroso, como recom-
menda Auenar.zls, ou com o sulfito de cal ;i
"210,como diz iWerclier, ou aiiida com outros iii-
secticidas meiios empregados. Na saccharificação
(Ia batata regula empregar-se Ei kilos de malt verde
para 100 kilos de tuberculos.
De todos os outros grãos que mais uso se faz
para obter i> malt, nerihum rios offerece importan-
ria, a ilão ser o millio, que, por causa das tempe-
ratiiras rclativameiite elevad~is de S. Miguel um
tairto prejudiciaes ri germinação da cevada, tem
sobre ella vantagem, pois qiic em nada e prejudi-
cada a sua germinayáo, além de que se obtem na
localidade por um lireqo razoavel.
Por estas razóes emprega-se em S. Miguel o malt
de milho, com vantagem, preferindo-se a variedade
coiihecida com o nome de dente de cava110 ou gi-
gante, porque germiiia melhor, e tem um valor
para a industria superior ao milho iildigeila.
No geral, considera-se que este malt tem uma
energia de 36 "/o do de cevada.
O malt de trigo e eiiipregado esl)ecialmei~tena
Belgica, e tem um valor comparavel com o de ce-
vada, porcrri 11ão se torria mais geral o seu em-
prego porque não e iitida ecoiiomico.
O de aveia offerece vantagens sohre o de ce-
vada, porque, não é tão susceptivel i s variações
(ia temperatura e tem o eii\olucro liso, o que coii-
corre para que irão seja tão atacado pelos bolores
(.orno o dos outros grãos. E' tanibenl mais barato
do que o de cevada, e coiiteildo mais azote do que
ella, é, por isso, mais proprio para a formacão de
fermentos, porém o valor diastasico é inferior.
Conhecido assim, de rim modo geral, o malt e
os seus effeitos sobre o amido vamos acabar de
tratar da saccharificacão cla massa.
O malt para actuar completamente sobre o amido
necessita estar bcni dividido, o que se consegue
com apparelhos cspeciaes que o despedacam, o71
que preparam o cliarnado leite de malt. Estes ap-
parelhos podem ser, ou uns simples aterroadores,
ou moiiillos especiaes.
Preparado o leite (te inalt, deita-se 110 macera-
dor algiim tempo antes de comecar a dcscarga da
massa, e 11a quantidade necessaria. Alguns mace-
radores teem um orgão especial aonde se prepara
o leite de malt, que l ~ o rum systema de bombas e
levado para o apparelho. Como ja vimos, a massa
quando entra no saccliariíicador produz uma grande
quantidade de vapor, concorrerido para que fique
concentrada demais o que e inconveniente para
a saccharificação. Para remediar este ineonveninte
junta-se ao apparelho a agua necessaria para tor-
nar a massa mais fluida.
Para se dar uma completa saccharificação e ne-
cessario que a brassagem da massa seja bem feita.
A temperatura a que se deve dar a saccharifi-
cação e d e 55" a 60' C . ; ainda que, como jA vi-
mos, a melhor tempcratilra para obter maior per-
centagem de maltose seja mais baixa.
Procede-se assim, e não i temperatura de 52O
a 5Ci0 C . , por que, não sO o amido contido no malt,
náo cstaildo ainda transformado em çomma, pre-
cisa para isso de uma temperatura mais elevada,
mas tambcni porque os fermentos secundarios L
sO a essa temperatura é que são destruidos.
A distrihiiiq3o (Ia temperatura durante a saccha-

1 O emprego do acido íiuorhydrico na preparação do leite


de malt, como se faz actualmente, paralysa completamente
a acçãn d'esses fermentos, deixando a diastase actuar livre-
mente, o que concorre para que ella exerça sobre o amido
todo o seu poder sacchariíicador. O systema empregado con-
siste em misturar o malt com tres vezes o seu volume de
agua fria, e juntar por cada 100 litros de mosto, 20 gram-
mas d'aeido fluorliydrico a 20 por cento. O malt depois de
assim preparado, e depois de algum tempo de repouso, póde
juntar-se ao mosto que se'pretende saccharificar. Para as
leveduras emprega-se o mesmo systema de desinfecção;
isto 6, junta-se por cada hectolitro de levedura liquida, 20
grammas de acido, deixando-as estar assim misturadas al-
gumas huras.
rificação deve fazer-se de modo que se obteilha o
maximo de assucar e se colloque o mosto nas me-
lhores condições de não ser atacado pelos fermen-
tos prejudiciaes.
O mosto assim preparado contem no geral 80 a
81 O / o de maltose e 19 a 20 O / o de dextrina.
Depois de saccliarificado A levado para os refri-
geradores, para qiie a temperatura baixe até 1 8 O
C., para seguir então para as cubas de fermen-
tação.

Resfrianento do mosto

O resfriamento tem por fim levar o mosto a


temperatura mais adequada para a fermentação,
tornando-o ao mesmo tempo livrc dc alguns fer-
mentos secundarios. Teem sido empregados va-
rios processos para o conscçuir, mas actualmente,
nas fabricas em grande, empregam-se sdmeilte os
que se fundam no resfriamento por contra cor-
rente, ja por ser este processo mais economico e,
principalmente, porque o mosto sae menos alte-
rado.
O que se torna mais importante n'esta operação
é evitar que o mosto adquira germens extranhos
;i fermentação alcoolica. Antigamente, pelo sys-
tema de resfriamento ao ar, os mostos chegavam a
formar lgm,b de acido lactico por litro, pois que
as cubas empregadas continham sempre os fer-
mentos correspondentes.
aia

Os apparelhos mais modernos são formados por


uma serie de feixes de tubos dispostos horisontal-
mente e communicando entre si, circujando por
elles o mosto, que e banhado exteriormente por
agua que caminha em sentido inverso. A agua
mais fria e a que banha os tubos onde o mosto está
tambem a uma temperatura mais baixa.
São exemplares de apparelhos d'esta especie os
dos systemas Venzcleth e Ellenhberger, Kyll e Paw
cksch. A quantidade de agua para resfriar um kilo
de mosto a temperatura de 18" C. varia entre
litro ate 2 litros.
Torna-se necessario sempre que se termina uma
operação limpar bem o apparelho para que não
adquira fermentos prejudiciaes.
Resfriado o mosto e levado por meio de bom-
bas especiaes para as cubas de fermentação.

Fermentação

Não cabe n'um estudo geral como este occupar-


mo-nos detalhadamente do phenomeno da fermen-
tação, nem tratar dos seres que o produzem, por-
que teem a importancia suficiente para constituir
por si só um trabalho especial. Estudaremos leve-
mente o modo como hoje em dia se encara o phe-
nomeno.
Não e, actualmente, pela simples fercura que elle
110s prende a attenção ; mas, pelo modo especial
de vida de grande numero de seres inferiores,
que appa~entementenada nos impressionam.
Foi o venerando sabio Pasteur quem determinou
os verdadeiros agentes das fermentações.
E' pois a fermentação um phenomeno byologico
que a chimica traduz por formulas fixas.
O fermento alcoolico, conhecido com o nome
generico de levedura, pertence ao reino vegetal
como os outros seres, agentes das fermentações, e
vive por isso como qualquer celliila absorvendo
oxygenio para combust;ir os principias hydro-carbo-
nados.
E' fundado n'este phenomeno geral da respira-
cão que a levedura, vivendo n'um meio aonde
ilão existe oxygeilio livre, o absorve dos hydratos
tle carbone existentes (assucares fermentesciveis),
formando por desassimilação alcool e acido car-
bonico.
Não são s6mente as leveduras os unicos seres
capazes de operar esta transformação; outros se-
res inferiores clo reino vegetal, e a propria cellula,
de qualquer de organisac,ão mais complexa, pro-
duzem tambem o mesmo phenomeno, quando col-
locados ao abrigo do ar. A differença esta, sO-
mente, em que a vida normal d'estes ultimos e
ii'um ambiente onde existe oxygenio livre, e a dos
outros e , para alguns, completamente ao abrigo
do ar.
O fermento alcoolico tem uma phase em que ne-
cessita de grande quantidade de oxygenio para
se vitalisar, e, por isso, absorve-o do a r ; porem
logo que se deu a vitalisação, não p0de conti-
nuar a absorvel-o com a mesma energia, e então
procura-o onde o obtenha a medida das suas ne-
cessidades.
A transformacão da glucose em alcool pelas le-
veduras 6 tanto mais completa quanto o pheno-
meno se da ao abrigo do ar, ainda que n'este caso
a prolificação do fermento seja menor.
Sobre a vida da levedura tem bastante influencia
a temperatura, obteiido por isso o maximo de vi-
talidade de 2s0 a 30"C. ; porem em distillaçâo não
devemos deixar o mosto aproximar-se dos 30°,não
sb porque ha assini mais perdas d'alcool por eva-
poraçáo, mas tambem porque o fermento dos 30°
para cima e prejudicado.
Um mosto leveirielite acido tambein 9 mais vali-
ta.joos para a vida da le~edurado que um alcalino;
e, por isso, antes cle l a n ~ a iio
r mosto os fermentos
trriios que acidifical-o.
Faz-se geralmente vsta operaçáo juntando acido
chlorhydrico ao mosto lia proporcão suficiente para
que cada litro fique coni 1%' cle acido computado
em acido sulfurico.
h coilceiitracão do iiiosto, a mais favoravel para
:I vida da levedura, c de dez a quinze por cento:
porem p0de coriseguii*-se fazer fermentar mostos
mais coiicentrados enipregaiido leveduras mais
activas ou resfriando o mosto.
8
As leveduras alcoolicas pertencem a diversas
especies de sachar.omnyces, porem, cm distillacão
o mais empregado é o sacharonlyces cericisice.
Durante a fermeiltaçáo a temperatura eleva-se
bastante, e p6de attingir um alto grau se o mosto
a fermentar esta bastante conceiitrado ; n'este caso
empregam-se refrigerantes para baixar a tempe-
ratura.
As cubas de fermentaçáo empregadas em S. Mi-
p e l são de grande capacidade e construidas ou de
madeira, geralmente carvallio, ou então de alvena-
ria revestida com uinn camada de cimento po-
lido.
A fermentação principal deve principiar vinte e
quatro horas depois de junta a levedura; a par-
tir da 50." hora comeca a fermentaçáo comple-
mentar caracterisada pela diminuicão de produc-
cão de açido carbonico. N'esta phase acaba-se de
transformar o assucar restante em alcool e acido
carbonico, e a diastase completa a traiisformaçáo
da dextrina em maltose, que lambem se transforma
em alcool.
Esta esta fermentacáo complementar concluida
no fim de 70 horas.
Durante esta phase da fermentação 6 ilecessario
manter o mosto a uma temperatura elevada, para
que a diastase transforme completameilte a dex-
trina, e ainda para que s r dê a iiivolução da le-
vedura.
As leveduras empregadas para a fermentacáo do
mosto são obtidos a parte n'um mosto i formado
de malt e centeio.
O

Relativamente d producção em alcool da batata


doce, náo pudimos colher dados precisos dos fabri-
cantes de S. Miguel; porem, Illaercker diz que em
Portugal e de 12' de alcool puro por 100 kilos dc
tuberculos.
Sobre este assurripto fizemos urna experiencia na
Estagão Chimico-ag~.icolade Belem.
Tomamos um tuberculo da variedade Amarelln
conzprida e saccharificamos 120s' de substancia com
5 O/, do seu pezo de acjdo chlorhydrico diluido em
200" C. de agua. Tiráinos do mosto formado o equi-
valente a l l g r , de substancia para determinar o
assucar, e empregamos para a fermentacáo o res-
tante, ou 1098'
h levedura empregada foi um sacharomyces ely-

1 A saccharificação faz-se á temperatura de 6.50 a 68O para


destruir os fermentos secundarias. O mosto vae em seguida
para uma cuba especial aonde se deve manter a uma tem-
peratura de 500, e fica ahi durante 13 horas, a descoberto,
para receber germens da fermentação lactica e acidificar-se
por esse motivo. Liitigamente dizia-se que o acido lactico
solubilisava as materias albrimiiioides e pliosphatos, porem,
híaertker diz que a sua acção é impedir o desenvolvimento
do fermento butyrico preparando ao mesmo tempo uni meio
apropriado ao desenvo!vimento da levedura.
psoidetls, puro . Vitalizimos o fermento n'um mosto
formado i parte de extracto de malt ; e, depois
de completa a fermentação do mesmo, tiramos por
decantaqáo o liquido para obtermos os fermen-
tos precipitados. LavBmol-os repetidas vezes para
fazer desapparecer clualquer vestigio de alcool e
depois e que os eml~regamosno mosto da batata.
A qua~itidadede mosto, clepois de saccharificada
a substancia e neutralizado, era de um litro. Aci-
dificimol-o com Igr.,Ej de aciilo sulfurico deitaiido-
lhe em seguida os fermentos. A fermentacão fez-se
ao abrigo do ar n'um balão proprio, e comecou a
manifestar-se a partir da quinta hora, &&ando ter-
minada no fim de 60 horas.
Ileterminamos pelo ehulliometro a perceiltageni
tle alcool existente iio liquido fermentado depois
de termos igualado a 1:25OoC.o volunie do mesmo
liquido.
Assim, achirnos pela analyse, que a batata em-
pregada tirilia 13,087 O/o dc çlucose total, o que
eíluivale a 14gr.,P4 tlc gliicosr no mosto fermeri-
tado.
formula s o b r ~o resultado tla fermentação dada
por Pasteur e :

1 A mesma variedade tililia sido aiialysada passado um


mez, porem, pqrdeii pela respiração elementos alcoolisa-
veis, camo era de prever; pois que n'aquella occasião accu-
sava 18,214 O/, de glucose.
-+2 (CO" +0
C6 HLzO6 (assimilada pelo fermento)

Segundo esta formula 100gr. de glucose produ-


zem, segundo os calculos feitos em varios trata-
dos de alcoolisagáo, 61 litros de alcool ; portanto :

Pela determiilação do alcool achamos que os


1:2CiOLc.de liquido tinham 0,68 por cento de al-
coo1 : ou :
1250 X 0,68
= 8,s
100

D'aqui concluimos que a probcção seria de 81,s


de alcool por 109 kilos de batata, ou 8 litros por
100 kilos.
Se fizermos o calculo para tuberculos que te-
nham 22,87 O/o de glucose total, como os da varie-
dade roxa que analysamos, teremos :

Na industria decerto que não se obtem estas


percentagens ; mas, sendo as operações bem con-
duzidas, não devem ir rnuito longe.

Depois de fermentado, o niosto e levado por


bombas especiaes para uns depositos ti'aonde e
c*oilduzidopara o agparelho distillatorio.
Os apparelhos de distilla~ãoempregados em S.
IIiguel são formatlos por uma columna de pratos,
de um metro de cliarnetro, com uma organisaçáo
especial pela qual o liquido fermentado, entrando
pelos pratos super.iores, yae perdeildo os vapores
alcoolicos até que qiiaildo cliega aos ultimos jb se
acha exgotado. O vapor segue no apparelho a mar-
cha inversa do liquido que se distilla. Os vapores
alcoolicos vão-se, rectificando cada vez mais, a
medida que passam pelos analysadores, até que
saem condeiisados coni uma graduatão de 90".
Não nos occupamos da organisacáo especial d'es-
ses apparelhos, porque não sO isso seria longo,
mas, principalmente, por nos faltarem os dados
sufficientes para o fazermos.
O alcool assim distillado vae para grandes de-
posito~de ferro e depois é rectificado em appare-
lhos proprios, passando assim de fleugmas para
alcool desnaturado conforme entra no mercado.
Os rectificadores empregados são do systema Sa-
valle.
O movimento de qualquer fabrica das que exis-
tem em S. Miguel e iml~ortante; porque em cada
dia consomem approsimadamente 15:000 arrobas
de batata.
Não possuimos dados sufficientes para calcular-
mos a qiiantidatle e o valor do alcool produzido ;
porém jiilgamos que as duas fabricas devem pro-
duzir perto de 6.000:000 de litros, o que eqiiivale
a 1:440 contos de reis.
O valor, hoje em dia, da fabrica de Santa Clat-a
é de 375:tOOdUOO reis (moeda insulana), divididos
por 3:754 accões ; e calculamos que a da Lagôa
estara por egual quantia.
Teem sido varias as leis para regularisarem o
imposto lançado sobre o alçool ; porém, ou seja
esse imposto de um tanto por litro, oii seja obtido
por uma avenqa, ou mc3smo estejam as fabricas su-
geitas aos repillamentos dos moiiopolios, tem sido
sempre o agriciiltor que indirectamente mais tem
soffrido ; pois que, ate aqui, nenhuma das fabricas
teem deixado, por esse motivo, de darem bons di-
videndos.
Não entramos na apreciacáo dos regimens do
alcool que teem havido, nem na d'aquelle que rege
actiialmente a indiistria, pois que seria isso deve-
ras longo ; porem o que nos parece é que qual-
quer modificação que haja a fazer-se deveria ter
como base attender ao agricultor, para que o im-
posto não fosse completamente pago por elle sem
ao menos saber como.
O alcool produzido i! exportado prii~cipalmente
para o continente e empregado lia maior parte
nas adubações dos iiossos vinlios de exportação.
Temos visto muitas vezes alguns jornaes insur-
girem-se contra o emprego dos alcools industriaes
nos vinhos ; porem, decerto que os leva a dizerem
isso, não a sua ignorancia, mas talvez qualquer
outro fim especial, pois que, sendo esses alcools
competeritemerite rectificados, são as mais das vezes
superiores, mesino para os viiilios, do que muitas
aguardeiites obtidas 1)or processos primitivos, de
vinhos mal fabricatlos ou cte bagacos. Decerto qiie
não e a vitjciiltura o assiinipto de qiie iios occu-
pamos, mas 1130 podemos deixar de fazer. este re-
paro, pois que e uma siq~posiçãoque muitos jor-
nalistas illz~stradosno assztmpto levantam cominiim-
mente, e que não deve passar.
Terminamos aqui, ainda que de u n ~modo ])as-
tante incompleto, este estudo, qiie represeiitil,
quando muito, algumas horas de trabalho e a boa
vontade da iiossa p r t e iio cumprimento de iima
obrigacão.
comme azote et comme potasse, seuls éléments dont on ait a
tenir compte dans ce cas.
Eri ce qui concerne les autres analyses que l'on peut avoir à
effectuer en distillerie, sur le calcaire, les eaux, le charbon, etc.
nous ne poiivons, sous peine de nous étendrc par trop, que
renvoyer le lecteur au travail spécial d é j j mentionné.

L'alcoométrie a pour but, gomme son nom 17indique,de me-


surcr l'alcool dans les solutions alcooliqiies dont on cherclie la
ricliesse. L a métliode qu'on emploie est basée sur la différence
de poids spécifique de l'eau et de l'alcool, en tenant compte de
la contraction qyi se produit par le mélange des deux liquides.
Mais, pour que cette méthode soit exacte, il faut que le mélange
alcoolique ne renferme que de lieau et de l'alcool, car toixtes
les autres matières solubles ou en suspension qui influence-
raient le poids spécifique, fausseraient les indications de l'al-
coomètre. Nous ne nous occuperons donc ici que des mélanges
d'eau et d'alcool tels qu'on les trouve dans le commerce sous
le nom d'alcool, d'eau-de-vie, etc. La faible proportion de ma-
tières colorantes, d'hiiiles et d'éthers qui se trouvent dans les
rhums et cognacs authentiques n'exercent pas une influence
hien grande sur le poids spEcifique, et,l'on peut ne pas en tenir
compte, les erreurs qui en résultent n'etant pas appréciables.
L'alcoomètre employé en France est celui de Gay-Lus-
sac; les deux points extrêmes de cet instrument, O et 100,
indiquent, le premier l'eau pure, le second l'alcool absolu;
les degrés intermédiaires indiquent le volume d'alcool, autre-
ment dit le nombre de ceritimètres cubes d'alcool absolu que
renferment i0OC%ubesdu liquide a essayer. L'instrument étant
gradué à 45"C., ses indications ne sont justes qu'autant que le
liquide mis en expérience est a cette température. S'il en est
autrement, Ia table de correction que nous donnons ci-après
permet de ramener au degré réel le degré l u siir l'alcoomètre
plongé dans une solution alcoolique d'une température diffé-
rente. Cette~tableporte aussi le nom de Tuble de lu Régie.
434 CONTROLE DU TRAVAIL ET ANALYSE DES ~MATIÈRESPREMIERES.

Comparaison des alcoométres Gay-Lussac et' Cartier avec les


degrés Baumé et densimktriques ii. 15O C.

NOTA.- Si la température est 15O + n, i1 faat retrancher (0,4)n degrés


alcoom6triques pour avoir la richesse alcoolique. I1 faut, au contraire, les
ajouter si T = 15"-n.

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