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ando seqüência às etapas do ateliê, o roteiro de projetação ambiental urbana
proposto ao longo deste capítulo objetiva aportar metodologicamente a
construção de uma síntese projetual das referências empíricas apreendidas
da cidade, a partir da análise ambiental (módulo I - capítulo III), atuando na
superação de conflitos identificados e no atendimento das demandas sócio-espaciais
urbanas.
Sustentabilidade, Esta síntese projetual pode ser entendida como a montagem de um conjunto de
diversidade diretrizes que incidam sobre a conflitualidade do sistema ambiental urbano,
e estabilidade constituindo-se em alternativas projetuais com capacidade de resposta aos conflitos
identificados, no sentido de reordenar/reconfigurar a estrutura da cidade para garantir
sustentabilidade ao sistema.
Requisitos Como coloca Pesci, “sem conflito não há projeto”, significando que a compreensão
para dos padrões estruturadores existentes (consolidados, conflitivos e/ou potencialmente
um projeto articuladores) sinaliza as variadas alternativas de resolução, cabendo ao projetista
ambiental
responder, técnica e politicamente, às demandas espaciais legitimadas pela história
social da cidade.
Um padrão é uma “entidade” que ”descreve um problema que se coloca, vez por
outra, em nosso entorno, e logo explica o núcleo da solução para este problema, de
tal maneira que se possa utilizar desta solução mais de um milhão de vezes sem
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necessidade de repeti-la nunca exatamente” (Alexander et al,1980:9) .
1
No sentido dado por Alexander et al (1980). Pattern no original.
2
Tradução livre do autor, a partir da versão em espanhol: Alexander et al (1980). A Pattern Language / Un Lenguage de
Patrones. Barcelona, Gustavo Gili.
3
Tradução livre do autor. Accatolli (1995). Los Patrones.
atuar sobre a estrutura urbana 3
4
A pauta de requisitos para o projeto ambiental foi tomada inicialmente de um memorável curso ministrado por Rubén Pesci
no PROPUR-UFRGS, sobre La Ciudad de la Urbanidad (1994). Já se encontrava esboçada no Manifesto In-Conformista que
faz parte de La Ciudad In-Urbana (1985) e foi melhor sistematizada no artigo La Construcción de la Ciudad Sustentable
(1995). Como guia projetual foi acionada com sucesso pelo seu autor e equipe da Fundación CEPA no projeto Asunción 2000
(1995). Aqui sua aplicação está livremente adaptada às necessidades e demandas do ateliê. A eventual mas sempre produtiva
convivência com Pesci tem sido, neste sentido, muito rica para o aperfeiçoamento de sua utilização.
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O termo acesso é utilizado, neste caso, na perspectiva de Lynch (1982): acessibilidade, oportunidade, escolha como
condições à uma cidade socialmente justa.
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Referência ao livro La Ciudad In-Urbana, de Rubén Pesci (1985), analisado com maior profundidade no capítulo II.
atuar sobre a estrutura urbana 4
2
APRENDENDO DE ECLETA
P
ara discutir com alguma profundidade cada um destes requisitos e suas
interrelações, se recorrerá à formulação de uma "cidade imaginária". Este
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cenário urbano virtual funcionará como espaço-modelo ao mesmo tempo
descritivo e propositivo, para a discussão de um conjunto de considerações de
caráter teórico-metodológico, na forma de um roteiro básico para o processo de
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projetação .
É o primeiro contato com um modelo que será examinado nos diferentes aspectos de
sua estrutura. Por estrutura, entenda-se um conjunto dinâmico de elementos e
fatores interdependentes que guardam entre si articulações sistêmicas. Modificações
que incidam sobre os elementos, alterações dos fatores que trazem estabilidade a
esta estrutura, trarão reflexos sobre o sistema como um todo. Desde este ponto de
vista, a estrutura de uma cidade ou território pode ser compreendida como um
sistema ambiental complexo.
Aspectos Ecleta localiza-se às margens de uma baía fluvial imaginária. junto ao rio "Que-Não-
geográficos Existe". A paisagem próxima é exuberante, caracterizada por uma floresta nativa
e econômicos
remanescente. Suas principais atividades econômicas dizem respeito a um parque
industrial consolidado e às atividades agrícolas desenvolvidas nas proximidades. É
também um centro universitário, e a presença do rio empresta-lhe uma vocação
turística, principalmente em função da área de praia situada na direção SO, e do
florescimento dos esportes náuticos.
A cidade das Ecleta tem sido chamada por seus críticos - políticos, técnicos ou simplesmente
contradições curiosos - de "cidade das contradições".
Isto pode ser explicado recordando-se a original interpretação de Pesci (1985) para
algumas das cidades invisíveis de Italo Calvino (1991). Conforme foi examinado no
capítulo II, Pesci elege três das narrativas de Calvino como paradigmas ilustrativos
da conflitualidade crescente da cidade contemporânea.
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Na perspectiva teórica lançada por Françoise Choay (1985:153). O espaço-modelo é uma abstração que representa os
traços conceituais característicos de uma determinada ideologia projetual. De forma complementar, o espaço-retrato é a
materialização da paisagem espacial desta mesma ideologia.
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Dada a evidente simplificação em termos de modelo descritivo/prescritivo que esta "cidade imaginária" representa, as
questões assinaladas ao longo deste capítulo deverão ser complementadas através de leituras, discussões e exemplificações
fundamentadas no projeto em andamento no ateliê.
atuar sobre a estrutura urbana 5
Contexto Agora que já se conhecem algumas das características desta cidade imaginária,
regional
pode-se visualizá-la em seu contexto regional, o que permite perceber suas relações
com as cidades vizinhas:
Personagens As personagens que fazem de Ecleta uma cidade viva - a população residente, os
no cenário visitantes eventuais, gente que vem negociar, trabalhar, estudar, etc. - também são
imaginário inventados. Isto não significa que elas não tem importância. Ao contrário, Ecleta,
imersa em suas contradições, pretende ser uma cidade democrática, onde a
participação e o engajamento na solução dos problemas urbanos reflitam-se
concretamente nos desígnios da cidade.
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Disciplina como estrutura de controle. Ao disciplinamento do espaço corresponde o controle sobre a sociedade. Como em
Foucault (1977,1982).
atuar sobre a estrutura urbana 6
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REQUISITOS PARA UMA PAUTA DE AÇÕES E PROJETOS URBANOS
E
cleta configura, como foi mencionado na seção anterior, um modelo para a
reflexão projetual. É um instrumento, um recurso do pensamento, para que
se possa pôr em evidência alguns aspectos da cidade real.
A cidade virtual tornar-se-á tangível a medida em que, para além das teorias, retrate
situações concretas de configuração urbana, recorrentes à cidade contemporânea,
tão mais urgentes quando referidos à cidade brasileira. Desde este ponto de vista, o
roteiro metodológico para a projetação ambiental será construído a partir do exame
dos distintos requisitos relacionados a este processo vis-a-vis com algumas
características incorporadas ao modelo.
Posicionamento Por outro lado, a sintonia entre o tema gerador proposto e o quadro real dos conflitos
conceitual e demandas, condição precípua à factibilidade e à legitimação social do projeto, exige
versus subsistema do projetista ambiental a clara compreensão da lógica determinante dos conflitos
decisor
estruturais. Em outras palavras, é preciso entender a natureza e a grandeza dos
fatores ambientais que incidem na geração do próprio conflito, definidores das
instâncias de decisão quanto a forma de atuação projetual.
É o que Pesci define como subsistema decisor, ou seja, o conflito cuja superação é
decisiva para o encadeamento de um processo amplo de transformações sobre o
ambiente. Pesci coloca que “(…) podem haver mais de um subsistema decisor e mais
de um tema gerador, e é comum que hajam. Quando se trata de um sistema
ambiental social, muito coeso, que funciona como um sistema, é comum que haja um
prioritário” (Pesci,1995:42).
atuar sobre a estrutura urbana 7
10
Sobre esta questão, referindo-se à cidade brasileira, ver Campos Filho (1989:54), por exemplo.
atuar sobre a estrutura urbana 8
CONFLITO CSI CST CRD CAP DFR CRQ PLU CCH DCV FOC P
Crise no setor IS 2
industrial (CSI)
Crise no Setor IS 2
turístico (CST)
Crescimento IFS 1
desordenado(CED
)
Crise na atividade IS 2
portuária (CAP)
Decad. Física IFS 2
área portuária
(DFP)
Contaminação do IF 1
rio (CRQ)
Problemas com o IF 3
lixo urbano (PLU)
Construção conj. IFS 3
Habit. (CCH)
Decadência IFS 1
“centro velho”
DCV)
Falta de opções IS 2
culturais (FOC)
Somatório Import. 9 12 7 10 9 13 10 5 13 6 T
Relacional
A avaliação política deste quadro hipotético poderia gerar uma reflexão, por exemplo,
sobre i) a importância da interrelação cidade/rio, negligenciada no processo de
crescimento urbano recente; ii) a necessidade de um redesenho econômico da
cidade e da região, resgatando o seu papel de centralidade regional em um
panorama de economia globalizada; iii) a urgência de ações revitalizadoras para o
“centro velho” e a área portuária; iv) a necessidade de políticas para o campo social
e; v) a rediscussão dos parâmetros de ordenação urbanística de Ecleta.
11
A importância relacional diz respeito ao grau de encadeamento de cada conflito em relação ao conjunto. Por exemplo, a
contaminação do rio tem impactos em relação à decadência do centro velho, à crise no setor turístico, ao problema do lixo
urbano, etc.
atuar sobre a estrutura urbana 10
Sentinela de Ecleta
Ano LXX - Volume 256 Ecleta, 21 de abril de 1997.
a mídia !
a estruturação multifocal12
Legitimidade Desde este ponto de vista, centralidade e acessibilidade são conceitos intimamente
social relacionados: espaços projetados para serem apropriados como centros da vida
urbana somente serão socialmente legitimados se for garantido o acesso franco aos
cidadãos.
Conceito de Uma interessante conceituação de centro, enquanto espaço urbano dotado de certas
centro qualidades sócio-espaciais que excepcionalizam determinadas “partes” da cidade, foi
de Alexander
construída por Alexander e sua equipe do Center of Enviromental Structures (1987:
12
As questões sobre multifocalidade, centralidade e interfaces sociais são objeto de uma reflexão mais aprofundada ao longo
da seção 2 do capítulo V.
atuar sobre a estrutura urbana 11
Não deve ser perder de vista que, entre os conflitos detectados em Ecleta, a perda de
significação histórica e cultural da área central da cidade e o crescimento
desordenado, particularmente da periferia, foram elementos importantes na definição
da estratégia global de projetação.
Tomando este ponto de vista, a urbanidade pode ser compreendida como uma
qualidade sócio-espacial que se recria cotidianamente, através da percepção, da
fruição e da apropriação dos espaços públicos da cidade. E também no interior do
espaço privado dos indivíduos, famílias e grupos sociais.
Intervalo entre Neste sentido, estabelece-se entre público e privado, um intervalo sócio-espacial a
o público e o ser compartilhado (Hertzberger,1996), uma interface entre o cotidiano individual e a
privado
vida urbana construída coletivamente.
as interfaces sociais
e a oferta de espaços e equipamentos públicos
13
Quanto à abordagem conceitual, retome-se o capítulo II. Para consulta das fontes originais ver Fundación CEPA.1987a;
Perez,1995.
atuar sobre a estrutura urbana 14
A cidade não é Alexander (1988), em A city is not a tree, mostra através de duas representações
uma árvore
teóricas - a árvore e a semigrelha - a distinção entre o que o autor define como
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cidades naturais e cidades artificiais.
Cidades naturais As cidades naturais, para Alexander, são aquelas que caracterizam-se por um
e artificiais crescimento relativamente espontâneo, resultante de um processo histórico de
produção social. Por outro lado, cidades ou partes de cidades deliberadamente
criadas e projetadas, são definidas pelo autor como artificiais, na medida em que
substituem a lógica histórica de construção urbana por uma ideologia projetual de
ordenação e disciplinamento do espaço.
14
O trabalho citado de Christopher Alexander está referido com maiores detalhes no capítulo II.
atuar sobre a estrutura urbana 15
Lugares urbanos A noção de estrutura espacial à maneira de uma semigrelha remete inequivocamente
de apropriação
pública
à idéia de uma rede cujos nós desempenham o papel de pontos de interação social,
de convergência cívica e de construção de significados coletivos. Em outras palavras,
trata-se aqui da dimensão espacial da vida pública; atributo imprescindível para a
urbanidade que se revela na estruturação dos espaços abertos (Pesci,1995:107-8).
Desde este ponto de vista, o sentido que se quer dar à expressão espaço aberto
pode ser definido pelo âmbito de apropriação dos diferentes lugares da cidade. Nesta
perspectiva, os espaços urbanos podem ser caracterizados como públicos ou
privados.
Interfaces sociais A rede de espaços abertos é, portanto, o conjunto espacialmente articulado dos
não formalizadas lugares urbanos de domínio público, naturais ou construídos, caracterizados pela
apropriação coletiva. Neste caso, ao projetista ambiental importa muito mais a
percepção e as formas de apropriação do espaço pelos cidadãos do que o estatuto
jurídico de propriedade. Um terreno vazio que é utilizado pelos moradores de um
bairro como ponto de encontro e para o “jogo de bola”, mesmo sendo privado, pode
ser compreendido como aberto no sentido de sua apropriação. Os grandes estádios
de futebol de Porto Alegre, embora pertencentes ao patrimônio dos respectivos
clubes, são indubitavelmente lugares de convergência social, significativos pelo ritual
coletivo que abrigam.
Área de residência A representação permite visualizar uma relação de proporcionalidade nas formas de
e elementos apropriação do espaço, um padrão de grão do tecido urbano (área de residência, na
primários perspectiva adotada por Rossi,1982), uma estrutura de monumentos (ou elementos
atuar sobre a estrutura urbana 16
15
Refere-se às Interfaces sociais não formalizadas. Ver capítulo II.
atuar sobre a estrutura urbana 17
Práticas A óbvia conclusão que se pode chegar (mas tantas vezes esquecida pelo urbanismo
cotidianas moderno) é de que a cidade não prescinde de uma estrutura de espaços abertos que
reflita as práticas sociais cotidianas (Certeau,1985) dos seus cidadãos. Reconhecer
estes padrões e utilizá-los como ferramenta de projeto reflete a maturidade da
postura urbanística do técnico e potencializa a legitimação social de suas ações.
Conectores A estrutura viária principal define, nos âmbitos intra e inter urbanos, o conjunto de
urbanos interfaces de acessibilidade (Fundación CEPA,1987…), ou seja, é a estrutura física
e regionais
de suporte ao sistema de circulação urbana, materializada pela rede de canais que
conectam as diferentes partes da cidade e pelo sistema de controle de tráfego.
Interfaces Atuar sobre a estrutura viária principal (ou estrutura de circulação - EC) deve
de acessibilidade significar uma busca no sentido de homogeneizar a acessibilidade urbana. Em outras
palavras, significa tornar acessível para toda a população as facilidades urbanas. EC
deve estar imediatamente articulada em relação aos distintos subsistemas urbanos,
permitindo fluxos rápidos e integrando as diferentes partes do território da cidade.
O desenho viário deve ser pensado, também, em termos de infraestrutura, uma vez
que consome significativa parcela dos investimentos públicos na cidade (para se ter
uma idéia, os custos da estrutura viária superam a soma dos custos de todos os
19
outros sistemas de infraestrutura) . Significa dizer que a racionalidade do sistema
viário implica em menos custos de implantação, de manutenção de redes, e de
operação do sistema de transportes públicos, entre outros aspectos. Outro aspecto
importante é a adequação da estrutura de suporte viário às tecnologias de transporte
usuais. Não esquecendo que caminhar é sempre uma ótima maneira de andar pela
cidade.
Tramas viárias Consonante com esta perspectiva, Leslie Martin (1975) aponta para o caráter das
como tramas viárias como geradoras da estrutura urbana. Tomando este ponto de vista, as
geradoras da
estrutura urbana
16
Acessibilidade e a estruturação viária são o tema da seção 3 do capítulo V.
17
Neste sentido, ver Lynch (1980), particularmente o capítulo I.
18
Idem, ver especialmente o capítulo III.
19
ver Mascaró (1985)
atuar sobre a estrutura urbana 18
O mapa abaixo representa uma leitura da estrutura viária principal (ou estrutura de
circulação) de Ecleta:
i. Com traço mais grosso, estão representadas as vias principais, que são, ao
mesmo tempo, os principais canais de circulação e principais eixos do
sistema de transportes públicos;
ii. Com traço de espessura média, as vias secundárias, conectores intra-
urbanos;
iii. Com traço fino sobre fundo branco, as vias projetadas no sentido da
expansão da cidade;
iv. Com traço cinza fino, limitando a área urbana, uma avenida de circunvalação
coincidente com a demarcação do perímetro urbano.
v. Os quadrados vazados representam os terminais de transporte, com
destaque para o terminal central;
vi. Os quadrados cheios representam pontos de transbordo do transporte
público;
vii. Os pontos negros apontam os principais nós viários.
Uma vez mais se quer reforçar a idéia de que a estrutura viária é, para além da
função de circulação, um importante referencial da imagem da cidade. Os muitos
lugares configurados pela trama viária podem traduzir-se como referências culturais
muito arraigadas no espírito da população.
ECLETA: macrozoneamento
21
Crescimentos e bordos estão analisados com maior profundidade no capítulo V, seção 4.
atuar sobre a estrutura urbana 20
Diretrizes para
o sistema
produtivo:
tendências de
localização
Zoneamento O exame da distribuição dos usos urbanos permite que se intua uma espécie de
ecológico zoneamento ecológico, determinado, em grande medida, por fatores econômicos e
sociais.
22
Tradução livre do autor, a partir da versão em espanhol. Venturi, Izenour, Scott-Brown (1978). Aprendiendo de Las Vegas.
Barcelona, Gustavo Gili.
atuar sobre a estrutura urbana 22
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A idéia de um zoneamento ecológico sugere a retomada das tradições da Escola de Chicago, na ecologia humana (ver por
exemplo, Park,1987; Cabral,1982; Delle Donne,1980), e de Alonso & Wingo, na economia urbana (por exemplo, Carrion, 1980;
Cabral, op.cit.; Delle Donne, op.cit.).
atuar sobre a estrutura urbana 23
2
ECLETA: valores fundiários em US$/m
Notas sobre o Os terrenos junto ao “centro velho” seguem bastante valorizados, uma vez que
mercado contam com os sistemas mais completos de infra-estrutura urbana. A terra mais cara,
imobiliário no entanto, ainda é na área de praia, contígua ao setor hoteleiro. Os terrenos
próximos a área industrial, que contam com excelente infra-estrutura urbana, em que
pese a decadência do setor, seguem relativamente valorizados: a um processo de
especulação imobiliária com a perspectiva de mudanças funcionais importantes na
área.
Os terrenos mais baratos, como não poderia deixar de ser, localizam-se na periferia
NE da cidade. Chama a atenção, no entanto, a grande valorização da área próxima a
universidade, bairro que tem sido preferido pela indústria da construção civil para o
lançamento de novos empreendimentos. Não é a toa que os ecletianos referem-se a
este lugar como “centro novo”.
Por outro lado, a rol de centralidade regional que a cidade desempenha permite intuir
na sua gradativa especialização terceária. Ecleta, aos poucos, tornar-se-ia um centro
prestador de serviços, com abrangência regional.
Por fim, parece ser o setor turístico o mais afetado pelo quadro relacional dos
conflitos ambientais. A contaminação do rio, a queda no movimento portuário, a
degradação do patrimônio cultural e a falta de opções culturais desenham a crise no
setor, reforçando a adequação na definição do tema gerador do processo de
projetação ambiental proposto.
A instância Tudo o que foi pensado em termos da estruturação urbana de Ecleta não deixará de
da gestão ser apenas um exercício intelectual abstrato se não estiver ancorado pela legitimação
e da participação
no processo social. Ou seja, pensar também a “estrutura” de gestão faz parte do processo de
projetação ambiental que se está propondo.
concluindo…
24
Uma vez mais, a noção de eficácia remete aos atributos da boa forma urbana propostos por Kevin Lynch (1985).
25
Os instrumentos de planejamento e gestão urbana são o objeto específico de reflexão ao longo do capítulo VI.
atuar sobre a estrutura urbana 25
As considerações feitas ao longo deste capítulo devem ser tomadas como um guia
metodológico em construção, no sentido de apreender uma maneira de pensar o
urbanismo a partir de uma abordagem ambiental. Isto é, integral e integrativa das
condições sócio-históricas e naturais da cidade, na busca de uma perspectiva
contextualizada de investigação-ação sobre o espaço da cidade.