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Vieira,
Vieira, Alberto
O Vinho na história
história e
Património
Património da cidade do
Funchal
Funchal
Vieira, Alberto (sd), O Vinho na história e Património da cidade do Funchal,(folheto IVM), Funchal,
CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-
edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/vinho patrimonio.pdf, data da visita: / /
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O VINHO N A HZSTÓRZAE PATRIMON~O
da cidade do ~unchal
Funchal nos séculos XVIII e XIX era s e m duvida a cidade do vinho. Ele
significava quase tudo para os funchalenses e projectava uma nova
realidade pautada pela plena afirmação d a vinha n o espaço rural. das
lojas d e vinho n o recinto urbano, todos contribuindo para o seu
embelezamento. A riqueza resultante d o vinho fez com q u e a cidade
ganhasse e m monumentalidade e beleza. Os grandes proprietários d e
vinhas aformosearam as casas d e residência, dando-lhes as ímpo-
nentes torres e apostando n o aconchego e riqueza d o s aposentos. Os mercadores,
nomeadamente os ingleses, transformaram as vivendas d e sobrado e m lojas e
escritórios d e convívio e as casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao novo gosto
e exigências d e conforto.
O turismo e o vinho estao indissociavelmente ligados a o s ingleses. Foram eles
os principais mentores, interve-
nientes 'e usufrutuhrlos. No
vinho traçaram o mercado colo-
nial e, por isso mesmo defini-
ram a partir do século XVII, um
processo de vinificaçáo adequa-
do ao seu paladar e a s con-
tingências d a rota e destino.
Para o turismo a presença é por
demais evidente. Foram eles os
primeiros turistas na ilha e tam-
bém os principais promotores
d o s hotéis, desde finais d o sécu-
lo XIX. O ~ e i d ' shotel é o seu
emblema dourado.
O cosmopolitismo britânico
era um facto q u e coroava todo
um processo histórico de forte impacto
desta comunidade. Algumas das pági-
nas mais significativas da História da
ilha escreveram-se pelas suas mãos e
impulso. Note-se que o s ingleses foram
os últimos (há quem diga que teriam
sido o s primeiros, baseando-se na
fatídica aventura de Machim) a serem
envolvidos pelo fascinio da ilha.
Primeiro, foram os portugueses a des-
bravar as clareiras e a abrir os camin-
hos para a presença europeia. Depois,
surgiram os italianos. franceses e fla-
mengos a fruir a s suas riquezas. E só
mais tarde vieram o s ingleses, atraídos
pelo aroma da célebre malvasia. A sua
fama, proclamada na obra de
Shakespeare, foi o mote para a
imposiçfto a o paladar apurado da aris-
tocracia britânica, que se deliciava até
a o afogamento nos tonéis cheios deste
vinho. Na verdade, ela encantou a aris-
tocracia e coroa inglesas, animando os
serões dos súbditos de Sua Majestade,
dentro e fora da grande ilha.
A malvasia foi o mote para que o
inglês viesse a descoberta das infind-
A áveis qualidades terapêuticas da ilha, a
e-raridade das suas espécies botãnicas e,
por fim. o deleite das infindáveis
belezas do interior da ilha, que passou
a ser devassado a pé, a cavalo ou de
rede. São inúmeros os testemunhos
desta realidade, captados na pena d e
_ alguns registos ou no traço de alguns
eximios aguarelistas e gravadores. Aqui os ingleses
tiveram o mérito de descobrir duas inigualáveis mar-
i
cas que definem este rincao: o vinho e a s belezas pais-
agísticas. E, como tal, foram os seus primeiros e prin-
cipais fruidores. Durante muito tempo a ilha foi para
eles apenas sinonimo disso. Depois, com a plena afir-
mação da hegemonia britânica no Atlântico e Indico, a
Madeira foi um pilar importante do vasto império: ela
foi base imprescindível para o como maritimo (a forma
usual d e represália nos mares) e porto obrigatório para
o abastecimento dos porões das embarcaçaes d e mal-
vasia, táo procurada nas tabernas londrinas como nas
messes das hostes britânicas além-Atlântico.
Os séculos XVIII e XIX foram momentos d e evi-
dente aposta na valorizaçZio da arquitectura e aite
madeirenses. Apagados os momentos difíceis que se
sucederam A
euforia açu-
careira
novo
los XVmomento
edos
XvI,sécu-
dede
novo
fulgor
a ilha
económico
estava envolta
criado num
pelo
I
Agostinho Dornelas e
Vasconcelos. Em 1727 foi a
vez d e J o h n Bissett, segui-
d o d o Dr. Richard tiill. q u e
e m 1739 montou escritório n o número 39. A estes juntaram-se e m 1802 a firma
Newton Gordon, Murdoch & Co q u e arrematou e m praça pública u m prédio d a
Misericórdia por 1150$000rs. Depois tivemos Gordon Duff & Co, q u e comprou o
imóvel d e José d o Egipto d a Costa, foreiro d a Santa Clara, por 3626$700rs.
Em data q u e desconhecemos Gordon Duff & Co adquiriu o prédio q u e fora d e
Nicolau Geraldo a firma americana. Hil Bisset & Co e ampliou c o m os granéis fron-
teiriços do lado d o Beco d o Assucar, d e Muno d e Freitas Lomelino. Ambos foram ven-
didos e m 1859, por 3800$000rs a J a m e s Adam Gordon Duff, ficando o edificio q u e
o confrontava a norte na posse d a viúva. O acto d e venda teve lugar n o número doze,
pertencente a propriedade d a viúva d o proprietário d o imóvel t r a n ~ c c i o n a d o onde,
,
então, vivia Diogo Bean. Pelo menos desde 1 8 5 5 usufruía d e todos os aposentos,
o n d e residia e tinha o escritório e. parte deles. subalugados a diversos inquilinos. Na
posse d e James Adam Gordon Duff o
edificio conheceu um momento d e ful-
gor e por isso ter-se-ão sucedido algu-
mas alterações no espaço interior,
sendo desta época a construção da sala
de música e o s estuques pintados. De
novo as dificuldades começaram a surgir
aos seus inquilinos. Para isso contribuiu
a contracção d o mercado d o vinho
desde os inicios d o século dezoito e as
crises de produção motivadas pelo oidio
(1852) e filoxera (1872). que quase
.
As casas, até entáo apinhadas de pipas
de malvasia, quase pareciam fantasmas.
Deste modo Elisa Jennet Duff, viúva de
James Adam Gordon Duff, optou em
1875 pela venda d o s aposentos A
Sociedade Cooperativa d e Consumo e
Crédito do Funchal SARL, representada
por personalidades ilustres da cidade:
José Leite Monteiro, Manuel José Vieira
e Augusto Mourão Pitta. O imbvel foi
mais tarde. certamente em 1916. vendi-
d o a Jo& Figueira Júnior por quarenta
contos. Termina aqui a fase de ampli-
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ação e engrandecimento, iniciando-se a
de prolongada decadència.
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var nessas quintas não se cansam de exaltar o ambiente paradisiaco que aí foram
encontrar. Já e m 1778 Maria Rlddel não hesita em a r m a r que 'a maioria dos nego-
ciantes tem pequenas casas de campo nas encostas, rodeadas de jardins e vinhedos
o que confere um efeito muito aprazívei a paisagem:".
A arte religiosa dos s&ulos XVIII e XIX é também testemunha e consequência da
riqqeza gerada pela economja viti-vinicola. Os templos existentes ganham nova vida
e riqueza e a depor-se as contemporâneas exigências do.culto os novos seguem uma
nowa geometria e grarnbtica dewrativa. O vinho tem expressáo plásüea pa2tlcular Iío
cadeirado da Sé d o Punchal do skculo XVI onde são visíveis os borracheiros e os
bebedores d e vfnho. evidencias que testemunham já a impoftãncia da cultura nesta
época. Os cachos e parras fazem parte da gramafica decorativa d o barroco. 0 s
motivos de talha dobrada são evidentes na Ima do Colégio.
Os Jesuítas chegaram à ilha em 1570 mas só em flnal da cenaria começaram a
madeirense adquirisse uma posição dominante no mercado atlântico, fazendo aumen-
tar a riqueza dos ingleses, os principais comerciantes e consumidores. Esta oferta de
vinho era assim simbólica, o mesmo sucedendo com a renitència d o imperador em
fazer dele o antidoto para as agruras do exilio. Diz a tradição que o tonel com O pre-
cioso rubinéctar regressou a ilha, reclamado pelo doador. O vinho regressado a ilha des-
multiplicou-se, em 1840, em centenas de garrafas, que fizeram as delicias de inúmeros
ingleses. Churchill, de visita a ilha em 1950, foi um dos felizes contemplados.
A conjuntura política envolvente a o governo imperial d e Napoleao Bonaparte
repercutiu-se de forma evidente no espaço atlantico, provocando uma alteração no
movimento comercial. O mútuo bloqueio continental entre a França e a Inglaterra
lançaram as bases para uma nova era na economia atlântica. Os tradicionais circuitos
comerciais que se iniciavam e finalizavam nos portos europeus, desapareceram. por
algum tempo, pois o cordão umbilical que os mantinha foi cortado. Neste contexto é
evidente a valorização das ilhas que passaram a dispor de um mercado aberto para
os seus produtos, como o vinho, até aqui alvo da concorrência d o europeu. A con-
juntura emergente das guerras napoleónicas propiciou o momento mais alto d a
economia viti-vinicola, enquanto a derrota d e Waterloo (1815) foi o prelúdio d e uma
próxima fatalidade para o vinho e a ilha.
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