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ACADEMIA ACREANA DE LETRAS


Sede
CASA DA CULTURA
Rua Pernambuco 1026 – Bairro Bosque
Fundada em 17.11.1937.Registrada dia 15.02.1938
Reestruturada e convalidada em 17.11.2003
Filiada à Federação das Academias de Letras do Brasil. Utilidade Pública Lei Estadual de
19.09.1967. e Registrada no Conselho Nacional do Serviço Social.Nº 30864 / 30. No CNPJ em
09.08.2004
http://www.academiaacreanadeletras.org.br/
http://www.academiaacreanadeletras.blogspot.com/
academiacreanadeletras@gmail.com
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a de Letras
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129 ANOS DE HISTÓRIA CONSAGRAM O GENTÍLICO


ACREANO

Academia Acreana de Letras (AAL)

Consultada a AAL, através de oficio, pela Assembléia Legislativa do Estado do

Acre, sobre a Base V, letra c, do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a

respeito da mudança do gentílico acreano para acriano, pronuncia-se, ouvindo seus

Confrades e Confreiras.

POSICIONAMENTO

A AAL afirma ser o gentílico acreano é forma consagrada pelo uso regional
desde o século XIX, segundo dados colhidos nas Revistas do Instituto do Ceará -
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ANNO XLIV – 1932 ; ANNO LIII – 1939 ; ANNO LIV – 1940 ; em Subsídios para
a História do Alto Purus , Separata da Revista do Instituto do Ceará, Tomo LIV – Ano
LIV -- Editora Fortaleza, de autoria de Soares Bulcão.
Também esta Casa cotejou o Folheto Unitas, publicado na typ. e Enc. de A.
Loyola, 8 Pará, 1900, em cuja capa traz os seguintes dizeres: “ A Questão do Acre.
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Manifesto dos Chefes da Revolução Acreana ao venerando Presidente da República
Brazileira, ao povo brazileiro e às praças do commercio de Manaos e do Pará”, com a

1
BULCÃO, Soares. Revistas do Instituto do Ceará. TOMOS ESPECIAIS DA REVISTA DO
INSTITUTO DO CEARÁ. Publicações eventuais para cobertura de temas relevantes. Revista do Instituto
do Ceará - ANNO XLVI – 1932.
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Revistas do Instituto do Ceará. TOMOS ESPECIAIS DA REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ.
Publicações eventuais para cobertura de temas relevantes. Revista do Instituto do Ceará - ANNO LIII –
1939. O Comendador João Gabriel.
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BULCÃO, Soares. Revistas do Instituto do Ceará. TOMOS ESPECIAIS DA REVISTA DO
INSTITUTO DO CEARÁ.Publicações eventuais para cobertura de temas relevantes. Revista do Instituto
do Ceará - ANNO LIII – 1939.
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Grifo Nosso para apontar que o gentílico acreano está presente numa publicação histórica do ano de
1900.
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seguinte legenda: “Os brasileiros livres nunca serão bolivianos”. Independência ou


Morte! Viva o Estado Independente do Acre!
Esta Corte, parafraseando a patriótica legenda, diz: “Somos acreanos, nunca
acrianos! Isso porque no ano de 1900, em março, no Pará, um grupo de revolucionários
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formou a “Comissão Acreana”, em defesa deste solo até, então, boliviano . Integravam
no grupo nobres heróis criadores do gentílico acreano: Antonio de Sousa Braga,
Rodrigo de Carvalho e Gastão de Oliveira. Concordaram e secundaram o manifesto:
Hypólito Moreira, Pedro da Cunha Braga, Joaquim Alves Maria, Manoel Odorico de
Carvalho, Antonio Alencar Araripe, Joaquim Domingues Carneiro, Luís Barroso de
Sousa, Francisco Manuel de Ávila Sobrinho e Raimundo Joaquim da Silva Vianna.
Encontra-se, na página 30, da Revista do Instituto do Ceará, ofício do Governo
Provisório e Quartel General em Caquetá (Acre), datado de 26 de novembro de 1900,
dirigido ao Exmo. Sr. Coronel Avelino de Medeiros Chaves, passagem histórica e
memorável, cujo teor se transcreve:”Tendo o commandate em chefe das forças
6
acreanas ”, dr. Orlando Lopes, solicitado exoneração desse posto de sacrifícios,
devendo retirar-se do theatro das operações, cabe-nos a satisfação de communicar a V.
Ex. a direcção das forças revolucionárias contra a Bolívia”. (...) Certo do patriotismo e
do amor de V. Ex. à causa que abraçamos, esta junta hypoteca-lhe o seu inteiro apoio e
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confiança do povo acreano. ”
Avista-se, nos Anais da História do Acre, só para enumerar aqueles mais
remotos, que retirar o gentílico acreano do VOLP, por força do Novo Acordo
Ortográfico, será contristar a comunidade regional na sua alma, além de apagar lindas
páginas da epopéia acreana, ferindo tradições e costumes profundamente enraizados,
desde a conquista territorial brasileira.
Considera, ainda, que um gentílico não se muda por força de Acordo, Decreto,
Lei, porque um gentílico pertence à população do lugar, é nome sagrado que se guarda
como um tesouro raro, que dá voz ao adjetivar um povo. E nesse particular, consagrou-
se no meio lingüístico, em todos os tempos, as sábias palavras do grande gramático

5
A Bolívia jamais ocupara efetivamente a parte da Amazônia, situada no seu território, devido às
dificuldades de acesso e ao fato de que a maior parte de sua população se concentrava no altiplano.
Destarte, longe dos centros políticos e administrativos, o Acre nunca fora habitado até 1869, quando os
brasileiros começaram a penetrar naquele vale. Textos históricos, datados a partir de então,
particularmente entre 1878-1880 trazem a grafia do gentílico acreano.
6
Grifo nosso, para enfatizar o uso do gentílico em 1900.
7
Grifo nosso. Ofício assinado por Gentil Noberto e Rodrigo de Carvalho.
5

Fernão de Oliveira (1536) que “os homens fazem a língua, e não a língua os homens”.
Assim, segundo o mestre, “cada um fala como quem é”. E, aqui, no extremo oeste do
Brasil a população é acreana, desde o nascimento.
Dessa forma, fica claro, pelas lições de Oliveira (1536) que os USUS não
nascem de imposição e sim da vontade livre dos falantes. E como se está, aqui, a
vasculhar antigos baús de memórias lingüísticas, nada custa encadear, neste espaço
textual, em que se busca comprovar a antigüidade dos assuntos focados na variação
lingüística, as palavras de Horácio, em Arte poética (pp.118-9):

Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um


velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade;
se uma matrona autoritária ou uma ama dedicada; se um
mercador errante ou um lavrador de pequeno campo fértil; se
um colco ou um assírio; se um homem educado em Argos ou
em Tebas (...).

Essa citação apóia a inserção da questão ora trazida à baila, num quadro de
preocupações ancestrais, de vera e reconhecida importância para as discussões travadas
entre os que se sensibilizam com assuntos desse jaez. E ao se categorizarem norma e
uso, é importante recorrer a autores consagrados, mestres da Lingüística, que ditaram
rumos seguros para o trilhar de um idioma.
A posição tomada por este Silogeu vem sendo progressivamente demonstrada e
segue atinente ao que se concebe como verdade, variações, inovação, adoção, mudança.
Vejamos ipso fato o aporte teórico, o pensamento, de alguns mestres da atualidade.
O primeiro deles é Charles Bally, ao afirmar que uma palavra torna-se usual em
duas oportunidades principais: 1) quando designa algo indissociavelmente ligado à vida
de um grupo lingüístico; 2) quando dá a qualquer membro do grupo lingüístico a
impressão de que isso não se diz assim, isso deve ser dito assim, isso aqui sempre foi e
será dito assim. E mesmo que tais assertivas contradigam a expectativa de constante
evolução da linguagem, elas se constituem em realidade absoluta, sem a qual seria
impossível descrever um estado de língua.
O segundo teórico é o mestre dos mestres, o romeno Eugenio Coseriu, e a sua
compreensão sobre o tema [inovação/adoção/mudança], a partir do seu livro Sincronia,
diacronia e história. A sua perspectiva não se resume em perguntar por que as línguas
mudam, mas sim porque as mudanças ocorrem tal como ocorrem. E no espaço
geográfico do Acre, essa inovação acriano, que ora se impõe, pelo Novo Acordo, soa
como uma imposição que a comunidade não aprecia escrever ou ouvir. Pois, em
6

linguagem, o falante é soberano na liberdade expressiva de dizer do mundo, ainda mais


daquele no qual está integrado.
Nessa obra Coseriu (1979) dialoga com Saussure (1954), opondo-se à visão
saussuriana ao considerar que ”em si mesmo, o sistema é imutável.” Assim, busca
preencher o abismo deixado por Saussure entre língua e fala (langue e parole) e entre
sincronia e diacronia, tomando por base Humboldt, para quem a língua era energeia e
não ergon, isto é, energia, vida, dinamismo e não algo pronto. Assim, Coseriu , afirma
que “A língua não existe senão no falar dos indivíduos, e o falar é sempre falar uma
língua” (1979, p.33).
Coseriu também diz que “a língua não pode ser isolada dos” fatores externos
“– isto é, de tudo aquilo que constitui a fisicidade, a historicidade e a liberdade
expressiva dos falantes” (p. 19). Para ele, Coseriu, a língua deve ser entendida,
primeiramente, como “função”, depois como “sistema”, uma vez que, se ela funciona,
não é por ser um sistema; pelo contrário, constitui-se um sistema a partir do momento
que cumpre uma função e essa função liga-se a fatores históricos que, certamente,
imprimem marcas na organização sistêmica da própria língua. Nesse raciocínio, Coseriu
define uma língua funcional (língua que se pode falar) como um “sistema de oposições
funcionais e realizações normais” (p.50).
O autor afirma que “a mudança lingüística está ao alcance de qualquer falante,
pois pertence à experiência corrente sobre a linguagem” (p.58) e é sempre um
problema histórico, que depende do conhecimento das condições (sistemáticas e extra-
sistemáticas) da língua em análise e de se considerar a sua realidade dinâmica.
Portanto, a explicação da mudança lingüística é uma explicação histórica generalizada,
e a linguagem o primeiro fundamento de manifestação da intersubjetividade do ser
humano com o outro. Importa, então, estabelecer os modos gerais das mudanças e as
circunstâncias que as determinam. Uma mudança necessita da aceitação do grupo
social.
Na perspectiva de uma dinâmica cultural, as mudanças manifestam-se na
sincronia, em formas esporádicas, inicialmente vistas como erros correntes em relação à
norma estabelecida. Assim, aquilo que do ponto de vista diacrônico já é mudança, do
ponto de vista de um estado da língua é condição de mudança. Desta forma tornam-se
condições favoráveis à mudança: a variedade regional ou social da língua. Acreano é
uma variação regional, aliás, a forma eleita pela população há 129 anos.
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Indaga-se, então, o que vem a ser a norma? A norma, em língua, é resultado de


um conjunto de hábitos lingüísticos em vigor num determinado lugar, pois a norma é
vista como a realização coletiva do sistema lingüístico. Inúmeros indícios levam à
mudança na língua. Desta forma, primeiramente, há traços lingüísticos que divergem da
norma e aparecem de modo sistemático dentro de uma linguagem regional.
Do ponto de vista da correção, esses traços dialetais [regionais] são marcas das
comunidades, decorrentes da forma de vida, nível educacional, cultural, fatores
históricos, tradição, costumes. Assim, uma língua está impregnada dos traços culturais
de seus usuários, que nem sempre eles são exclusivamente individuais, porque as
tendências que os criam podem atuar em maior ou menor número de indivíduos.
Paralelamente, não se pode perder de vista que a língua não comporta erros, uma vez
que o conceito de certo e errado resulta de convenções sociais e na visão saussuriana a
língua não se impõe ao falante, antes se lhe oferece.
Então, ao apreciar essa inovação de acreano para acriano, entende-se ser fato
curioso, porquanto o Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa busca
unificar a língua no mundo da lusofonia, ao tempo em que respeita e preserva os
aspectos culturais, sociais e históricos da população lusófona. Não tem por objetivo
tratar de questões morfológicas no processo de formação de palavras. No entanto,
quando se aborda a língua não se trata exclusivamente do meio de comunicação dos
seres humanos entre si, mas a forma própria de como se estrutura e se desenvolve o
pensamento. Por isso diz-se não existir pensamento sem linguagem.
O idioma português é hoje um elemento importante não só para Portugal, como
também para os demais Estados que integram a Comunidade dos países de Língua
Portuguesa, entre os quais desponta o Brasil como a nação mais importante, na sua
promoção, considerando o elevado número de falantes e sua projeção no planeta,
colocando-se como o terceiro idioma no mundo ocidental.
Por isso é imperioso que, ao adotar-se qualquer política para a sua promoção, a
mesma tenha o respaldo da CPLP e constitua o pensamento dos países que a integram,
possuindo, assim, a representatividade, como de fato a possui, para a sua
implementação. Também é importante existir um organismo responsável para dirimir
dúvidas decorrentes de mudanças ou alterações por que passam o idioma português, no
momento em que algumas delas possam ferir os costumes e a tradição de um
determinado povo, numa região de qualquer país membro da CPLP.
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O Acre faz parte do Brasil. A ele foi oficialmente incorporado em 1903. Antes,
tanto o Tratado de Ayacucho (1867), quanto o Protocolo que estabeleceu a famosa
Linha Cunha Gomes (1898) declaravam ser bolivianas toda essa riquíssima região,
ocupada e explorada por brasileiros desde a segunda metade do século XIX.
A chamada Questão Acreana surge, então, da resistência desses brasileiros em
se submeterem a um governo boliviano. Entre agosto de 1902 e início de 1903
ocorreram vários conflitos armados, resolvidos em parte com a assinatura do Modus
Vivendi em março de 1903 e, definitivamente, com a assinatura do Tratado de
Petrópolis, em novembro de 1903. As últimas pendências sobre a anexação do Acre ao
Brasil foram decididas com o Peru em 1909, quando ambos firmaram um tratado de
determinação de fronteiras.
Situado na Amazônia Ocidental, o Estado do Acre faz divisa com os Estados
do Amazonas e Rondônia, e fronteira com os países Peru e Bolívia. Sua superfície
territorial é de 153.149,9 km², o correspondente a 3,2% da Amazônia Brasileira, e 1,8%
do Território Nacional.
O habitante natural do Acre tem como gentílico, desde 1878-1880, acreano8.
Aqui, nesta parte do país, como em outras, há traços regionais fortes. E uma língua é
assim: uma riqueza na pluralidade de normas: culta, familiar, literária, popular, técnica
etc. A Língua Portuguesa seria muito pobre se apresentasse apenas uma forma para seu
léxico, para sua sintaxe.

JUSTIFICATIVAS LINGUISTICO-CULTURAIS

Consagrou-se, desde Fernão de Oliveira (1536), no meio lingüístico, o fato de


que ”os homens fazem a língua, e não a língua os homens”. O grande gramático, com
esta frase, legou à posteridade a lição que iluminou o caminho das reflexões lingüísticas
em todos os tempos Esse dizer completou-se com a reflexão de que uma língua
dependeria do desenvolvimento cultural da sociedade que a praticasse.

8
Segundo a explicação corrente sobre o surgimento do nome Acre, esta designação para o rio Aquiry
passa a existir a partir de 1878-1880, exatamente no período em que começaram a ocorrer as primeiras
expedições que abririam os pioneiros seringais deste vale. Portanto, só a partir de então podem ter nascido
aqui os primeiros acreanos.
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Desse entendimento, resultou saber-se que uma língua histórica seria USUS,
instituição tradicional [costume], e as regras dessa mesma língua adviriam desses
mesmos costumes. Dizendo de outra forma, tomando por foco às normas sócio-
históricas, consoante Oliveira, a gramática de uma língua, em sua essência, seria sempre
descritiva, nunca normativa. Seu objetivo maior visa ao registro do costume e não à
imposição de regras, não sendo legítima, portanto, restrição alguma à liberdade de
expressão dos falantes que, em contrapartida, devem arcar com as escolhas lingüísticas
que se arvorarem a fazer.
Assim, no contexto das mudanças e alterações que podem ocorrer no interior
de uma língua, não é possível perder de vista a sua cultura, costumes, tradições. Pois
desde Fernão de Oliveira (1536), o primeiro gramático da lusofonia, firmou-se na
cultura portuguesa a consciência de„que os homens fazem a língua e não a língua os
homens‟. Isso significa dizer que a língua está impregnada dos traços culturais dos seus
falantes. Não há como separar a língua da cultura, mesmo porque a cultura está à frente
e a língua vem depois, traduzindo-a.
Segundo Paraquett (2000, p.118) cultura é “o conjunto de tradições, de estilo
de vida, de formas de pensar, sentir e atuar de um povo”. A partir dessa definição, o
estudioso de línguas deve ter consciência de que, na transmissão de conhecimentos, ele
é o representante da cultura de um povo. Pois, o estudioso de línguas é um difusor de
uma dada cultura, visto que a língua é um dos aspectos culturais da sociedade. Portanto,
a língua não está dissociada da cultura, ou seja, uma não existe sem a outra, não é mais
importante, apenas se complementam.
Milton Bennett (1993), um importante nome nos estudos interculturais, em seu
artigo “Intercultural Communication: A Current Perspective”, caracteriza dois tipos de
cultura: a cultura objetiva e a cultura subjetiva. Cultura Objetiva consiste nas
manifestações produzidas pela sociedade, como literatura, música, ciência, arte, língua,
enquanto estrutura, entre outras; seria o produto concreto criado pela sociedade. Por
outro lado, a Cultura Subjetiva pode ser encontrada em manifestações abstratas, como
valores, crenças e no uso da língua, levando a uma competência intercultural.
A língua é vista em muitos trabalhos como um instrumento de interação
humana. A cultura subjetiva, ou seja, os valores e as normas culturais, modela as
diferentes formas de interação entre um falante e um ouvinte. Estes valores e normas
estão presentes na competência comunicativa dos participantes, ao fazerem
determinadas escolhas durante a interação social. Essas escolhas são ditadas pelos
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costumes, tradição, cultura de cada povo, região, localidade. E, nesse aspecto, a língua é
meio, ferramenta, lugar.
Para o lingüista Lyons (1982, p.274) cultura deve ser tomada no sentido
antropológico, sem nenhum julgamento de valor a priori, quanto à qualidade estética ou
intelectual da arte, literal etc, de determinados grupamentos sociais. Nesse ponto de
vista, a língua e a cultura de uma nação são manifestações de seu espírito ou de sua
mente nacional. A cultura é descrita como o conhecimento que uma pessoa tem em
virtude de ser membro de determinada sociedade.
Esse conhecimento envolve o saber prático, quanto a saber se algo é, ou não,
de determinada maneira; se é, ou não, considerado verdadeiro, independentemente de
sua veracidade real. Não se deve, na relação entre linguagem e cultura, priorizar o
conhecimento técnico em detrimento do conhecimento prático, ou mesmo da chamada
crença popular. A linguagem é um traço cultural adquirido em função de o indivíduo
pertencer à determinada sociedade, mesmo que para isso não haja disposição inata. O
cultural e o emocional na linguagem são interdependentes.
Para falar da relação entre língua - traços histórico-culturais -- compreende-se ser a
língua um grande ponto de encontro entre o falante atual e aquele do passado, com aqueles
que, de qualquer forma, fizeram e fazem a história da língua. Assim, a língua está na
memória coletiva. (...) Tudo isso porque linguagem, língua e cultura são realidades
indissociáveis.
A língua não tem finalidade em si mesma, é fator de expressão e comunicação
social, por isso é acompanhamento de cada fato cultural, dando-lhe um acréscimo
lingüístico e permitindo atuação dos membros da comunidade. A língua é arbitrária em
relação ao meio físico, ao contrário da indústria e da agricultura, que dependem dos
recursos naturais, e da religião que é ligada às condições de vida. Isso faz da língua uma
instituição mutável. As modificações são teoricamente aceitáveis, dado o caráter
arbitrário daquilo que vigora.
Entende-se, então, que as línguas só não mudam mais velozmente pelo peso da
tradição, que marca certas formas como corretas e outras como erradas. Por outro lado,
os elementos lingüísticos formam uma estrutura, onde se apóiam e se reforçam
mutuamente. Dá-se o nome de cultura a todas as criações humanas. A língua usa sons
que são fenômenos físicos (mundo inorgânico), produzidos pelos órgãos da fala (mundo
orgânico), que criam comunicações com propósito claro e definido (linguagem – mundo
superorgânico). A linguagem é criação do ser humano, tanto quanto a habitação, os
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instrumentos etc, ou as criações mentais (religião, direito etc). Por isso mesmo a língua
é uma instituição cultural, transmissora de cultura, sendo essa a sua finalidade (a oração
na religião, as leis no direito).Transmite, ainda, ordens, instruções. Por isso tudo, a
língua, frente à cultura, é:
1. O seu resultado, ou sua súmula;
2. O meio de operação;
3. A condição para subsistência.
A língua tem na cultura a sua razão de ser, não é apenas um recurso para
expressar pensamentos, emoções e vontades. É também um meio para chegar a esses
estados mentais. Há uma aderência do pensamento às palavras. A(s) língua (s) figura
entre as instituições sociais. Falar é sempre um ato social (há distinção entre língua e
fala). O indivíduo não cria a linguagem. Faz uso daquela que a sociedade lhe ministrou.
É uma pauta sobre a qual se realizam os discursos sociais (V. funções da linguagem,
segundo Bühler, e segundo Jakobson (in Mattoso, 1964).
Avista-se, também, que a lingüística, segundo Vossler (1975) e seus
seguidores, pode ter uma abordagem estilística. O estudo lingüístico focaliza a
expressão do que se passa na mente humana. Por outro lado, traduz um “pensamento
socializado”. Oferece subsídios, portanto, à psicologia individual, ou à social, mas não
deve ser com elas confundido. Por exemplo: registra-se, em português, a existência de
gêneros gramaticais como o masculino e o feminino, não se pesquisam causas
sociológicas ou psicológicas para isso.
Dessa forma, a análise da cultura e do conjunto de valores de uma sociedade
exige, precipuamente, um estudo centrado na língua – pois é através dela que são
revelados os pensamentos e os costumes dos diferentes grupos humanos. A língua
“traduz toda uma cultura, traduz todo um universo peculiar com suas implicações
psicológicas e filosóficas que é preciso alcançar para enriquecimento da experiência”
(BORBA, 1984, 07). Exemplo disso é o estudo dos designativos escolhidos pelos
grupos sociais para nomear o espaço e os elementos físico-geográficos que os cercam. A
disciplina que se ocupa do estudo de nomes próprios de lugares é a Toponímia. Cabe à
Toponímia estudar a procedência da significação dos nomes dos lugares, levando em
consideração aspectos geo-históricos, socioeconômicos e antropo-lingüísticos que
tenham influenciado sua escolha. Portanto, o campo de investigação toponímico não se
limita ao aspecto lingüístico ou etimológico.
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Assim, entendendo que o estudo toponímico de uma região exige, entre outras
ações, o regate da motivação que há por trás da escolha dos designativos, neste estudo
objetiva-se discutir o topônimo Acre e a formação do adjetivo gentílico acreano9. Com
isso, pretende-se, num âmbito geral, verificar de que forma ocorre a inter-relação língua
– homem – cultura no ato de nomear os acidentes humanos, no caso Acre e buscar
argumentos histórico-lingüísticos capazes de sustentar o gentílico acreano, uma marca
de identidade que tem 106 anos de uso consagrado no meio regional. Ser acreano é
algo único, é aptidão revolucionária, é a caracterização de um povo, e isto não é
mutante. Ser acreano é perene!
Compreendem-se, ainda, ser fundamental, no caso acreano, olhar dois lados: o
histórico e o lingüístico. O histórico assegura a manutenção de acreano, pela
consagração do uso da forma ao longo de 129 anos. Do lado lingüístico deve-se
considerar que o próprio Acordo está repleto de concessões ou exceções que permitem
dupla grafia, palavras com acento agudo ou circunflexo, palavras com consoantes
mudas, entre as muitas quebras de unidade entre o cânone europeu e o brasileiro. A
Base I, item 3º, diz que „os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas
admissíveis‟. Na Base II, pela etimologia se mantém o h em herbáceo, mas pela
consagração do uso ele permanece suprimido em erva. A Base III, aborda a
diferença no emprego de homofonia, afirmando que o emprego de uma ou outra
forma se regula pela história das palavras. Na Base IV, assegura que conservam-se
ou eliminam-se, facultativamente, aspecto ou aspeto, caracteres ou carateres, dicção
ou dição, corrupto ou corruto, recepção, receção etc. Ainda, na Base IV, item 3º,
conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, o b, bt, g, gd de palavras como:
subtil e seus derivados; amígdala ou amídala etc. Na Base VII, admitem-se,
excepcionalmente, o uso dos ditongos orais que tanto podem ser tônicos quanto
átomos, representados nos antropónimos/antropônimos [um cânone europeu e outro
brasileiro] como Caetana, Caetano, caetaninha. Na Base VIII, avista-se, também, a
possibilidade de se grafar académico ou acadêmico, bidé ou bidê, croché ou crochê,

9
Existem várias formas de criar gentílicos. Os mais comuns são os formados por sufixos como -ês
(português), -ense (macaense) e -ano (americano). A formação dos gentílicos nem sempre consiste na
junção de um sufixo à base do topônimo, existindo processos mais complexos, por vezes com
justificações etimológicas: por exemplo, o gentílico de Castello Branco é albicastrense e não *castelo-
branquês, *castelo-branquense ou *castelo-brancano.
13

dentre outras formas. Ou seja, duas grafias quando deseja o Acordo Ortográfico um
único cânone para o idioma português. Os exemplos configuram que nenhuma rigidez é
imutável na regra ortográfica, como também não é na vida. E a língua é personificada
na vida das pessoas, pelo uso, pela significação, pelo contexto histórico e pela tradição,
como ocorre com acreano.
Considera-se, nesta exposição, ser controvertida a origem do nome Acre.
Conforme alguns, teria origem na palavra tupi Uwákürü ou Uakiry, vocábulo do dialeto
Apurinã, que significa rio dos jacarés. Para outras pessoas a palavra é uma corruptela de
Aquiri, também de etimologia tupi. Assim, numa certa carta o nome desse rio teria sido
mal escrito, dando pretexto a que se lesse "Agri" “Acri” ou "Acre". Conta-se que em
1878, o colonizador João Gabriel de Carvalho Melo escreveu ao comerciante paraense,
Visconde de Santo Elias, pedindo-lhe mercadorias destinadas à "boca do rio Aquiri".
Como em Belém o dono e os empregados do estabelecimento comercial não
conseguissem entender a letra de João Gabriel ou porque este, apressadamente, tivesse
grafado Acri ou Aqri, em vez de Aquiri, as mercadorias e faturas chegaram ao
10
colonizador como destinadas ao rio Acre. Esta é a versão encampada pelo IBGE.
Todavia, há outra hipótese, ser derivado de Yasi'ri, Ysi'ri, 'água corrente, veloz' ou do
tupi a'kir ü interpretado como,'rio verde'. Daí veio a variante acreano [cf.
Nascentes,vol. II].
Outro fator importante a considerar é que a Antroponímia e a Toponímia,
embora façam parte da Onomástica, são campos diversos do conhecimento humano. A
escolha dos Antropônimos acontece pela motivação afetiva que as pessoas têm com
determinados nomes, enquanto a escolha dos topônimos acontece por outras
motivações, tais como aspectos geográficos, costumes, tradições, o processo histórico e
a cultura do lugar.
No Acre, até mesmo antes de sua criação oficial, em período anterior a 1903,
portanto há 129 anos, tem-se o uso consagrado de ACREANO. Este gentílico está nos
textos históricos e oficiais, com registros em cartório, com toda uma sagração de usos.
Até mesmo os dicionários respeitáveis do idioma pátrio, como Nascentes, Aulete,
Aurélio e Houaiss, trazem as duas formas, ou seja, duas variações: acreano e acriano.

10
Para José Moreira Castello Branco in Descobrimento das Terras da Região Acreana (1960) o nome do
atual rio Acre, começa com a nominação Canaquiri atribuída, por dedução de Castello Branco, ao
explorador Serafim da Silva Salgado, in Relatórios dos Presidentes, em 1852.Castello Branco documenta
a evolução confirmada por vários autores, até Pereira Labre (1872) que o denomina ACRE.Cf.nota 11.
14

Mesmo assim, a população sempre elegeu acreano como a forma de denominar aquela
pessoa nascida no Acre. E agora, vem o Acordo Ortográfico retirar o uso consagrado
pela cultura do lugar, justificando tratar-se de vogal átona que recebe a formação –iano.
Assim, trata da formação dos adjetivos derivados dos Antropônimos (Camilo,
camiliano; Camões, camoniano etc) da mesma forma que trata os gentílicos derivados
do topônimo como Acre (acriano), um equívoco cultural.
De outra parte, observa-se, pela apreensão da realidade extralingüística, pela
análise da toponímia, ser possível dizer que os topônimos são signos lingüísticos
semelhantes aos demais e pertencentes ao mesmo sistema, mas não têm as mesmas
características, ou seja, não possuem, como os outros nomes, uma natureza apenas
arbitrária ou convencional. É como diz Dick (1990), o topônimo pode ser caracterizado
como um signo lingüístico comum. Porém, revestido que é dessa função identificadora
de lugar, integra um processo pleno de motivação a partir do qual, muitas vezes, é
possível deduzir conexões entre o nome e a área geográfico-social por ele designada.
E é por meio dessa especificidade que se pode acessar os referidos aspectos da
realidade extralingüística relacionada ao topônimo Acre, que possui história, com
características peculiares, um Estado brasileiro por opção própria, resultado de uma luta
aguerrida contra os bolivianos. Assim, o gentílico acreano está impregnado pela
história do topônimo Acre, que se formou com o sufixo –ano, com registro em cartório,
documentos oficiais, livros, artigos científicos, contos populares, folclore, com uso
consagrado por mais de um século de lutas e conquistas heróicas.
Indaga-se, neste cenário, o que o povo vai fazer com sua tradição e costumes?
O Acordo é maior do que a soberania do povo amazônico do Acre? Essa relação
onomástico-geográfica torna-se visível, na análise toponímica, em língua tupi, no
Estado do Acre, com seus rios, cidades, ruas e bairros, em sua grande parte, nominados
pela herança indígena. Como, então, mudar a história por força de um Acordo
Ortográfico que se interpõe contra os costumes e as tradições do lugar? A população
nascida no Acre é ACREANA, assim a fez a história desta terra. Tem-se, aqui, um
berço também acreano, assim como os costumes e as tradições do lugar.
Nesta região se avista um povo consagrado pela luta de ser acreano, luta de
sangue que correu neste solo e, depois, veio a luz gloriosa da vitória, como diz o hino:

Que este sol a brilhar soberano


Sobre as matas que o vêem com amor
15

Encha o peito de cada acreano


De nobreza, constância e valor...
Invencíveis e grandes na guerra,
Imitemos o exemplo sem par
Do amplo rio que briga com a terra
Vence-a e entra brigando com o mar.
(...)
Possuímos um bem conquistado
Nobremente com armas na mão
Se o afrontarem, de cada soldado
Surgirá de repente um leão
Liberdade é o querido tesouro
Que depois do lutar nos seduz
Tal o rio que rola o sol de ouro
Lança um manto sublime de luz

Feitas as abordagens lingüísticas, telúricas, históricas e culturais, adentra-se,


também, pela linha da pesquisa filológico-lingüística, aquela surgida no final do século
XIX e primórdios da centúria seguinte, onde se destacou a Geografia Lingüística, que
tem no suíço Jules Gilliéron seu expoente máximo. Definindo o método, Maria Luíza F.
Miazzi (1972, p.38) assim se pronuncia:

Consiste na representação cartográfica das variedades


dialetais de uma determinada área e representou na
época, salutar reação contra os excessos dos
neogramáticos (...)

O estudioso Francisco da Silva Borba (1967, p.147) considera a Geografia


Lingüística como a ciência capaz de reconhecer as áreas de extensão dos fatos
lingüísticos (fonéticos, morfológicos, sintáticos e léxicos). Dessa forma, a posição e
distribuição desses fatos, no espaço, obedece a determinadas causas. A pesquisa
geolingüística percorre um caminho histórico, com base geográfica, tornando-se, então,
importante para a lingüística diacrônica, cujo aporte aqui, também, ampara-se este texto.
Além do mais, das correntes lingüísticas que dela se originaram, o movimento
Wörter und Sachen ou Palavras e Coisas é aquela que apresenta a melhor adequação ao
16

escopo deste estudo. Pois olha as palavras tendo em vista o seu verdadeiro significado,
ou seja, o , aquilo que é “correto, verdadeiro, justo”, que às vezes é encontrado
não no étimo, mas na própria história do vocábulo consagrado pelo uso. Então, se o
Acre vem ou não de Aquiri fez-se Acre no percurso histórico *, por força dos costumes,
da tradição, da vontade de um povo que desejou incorporar estas terras ao solo
brasileiro. O nome está consagrado desde 1903 aos dias atuais, formando o seu gentílico
em Acre +ano, como registra a Lexicologia e a Lexicografia, forma assentada nos
dicionários de Nascentes, Aulete, Aurélio, Houaiss.
Francisco da Silva Borba (1967, p.157), diz que o método investigativo
“Palavra e Coisa” postula “a necessidade de estudar-se, simultaneamente, os vocábulos
e às realidades por eles expressas, para poder-se obter uma imagem clara da evolução da
língua e de sua situação num dado momento.” Por conseguinte, a coisa é o elemento
primário e constante em relação à palavra. Esta última liga-se à primeira e gira ao seu
redor. Então, com acreano é assim. A palavra liga-se aquele que nasceu no Acre. Esse
gentílico consagrou-se pelo uso, tradição, costumes do lugar.
Assim, esta inserção do estudo do vocabulário de uma língua, na história
cultural do povo que a usa, pode ser claramente depreendida através da observação da
toponímia. As sociedades indígenas que ocupavam o território do Acre, bem como os
demais pontos do Brasil, refletiam nos topônimos a importância daquelas paragens para
o seu modus vivendi. Esses topônimos, criados espontaneamente pelos nativos, eram
gerados devido à escassez ou abundância de determinados elementos dos reinos vegetal,
animal ou mineral. Como bem assevera Iorgu Iordan (1982, p.102):

Muitos nomes de plantas e animais baseiam-se no aspecto exterior dos


seres, no seu modo de vida ou nos seus hábitos, de modo que, se nos
documentarmos profundamente sobre estas particularidades,
poderemos encontrar o ponto de partida da palavra que nos interessa.

Segundo historiadores, viajantes e cronistas, a origem do nome Acre vem de


longa data, meados do século XIX. Contam que os índios Apurinã, habitantes milenares
da região, chamavam o rio de Uwákürü ou Uakiry. Os seringueiros, que aqui chegaram,
não afeiçoados à língua indígena, pronunciavam Aquiry, Agri, Acri e, depois, Acre. O
nome significa “Rio dos Jacarés”. A outra versão é que o nome Acre adveio de Yasi'ri,
Ysi'ri, 'água corrente, veloz', ou do tupi a'kir ü, interpretado como “rio verde”.
Fato histórico de real valor é que essa designação Acre, para o rio Uwákürü,
passa a existir a partir de 1878-1880, exatamente no período em que começam a ocorrer
17

as primeiras expedições que abriram os pioneiros seringais na região. Logicamente, a


partir daí nasceram os primeiros acreanos. Exemplo clássico é o nome do pajem que
acompanhou Plácido de Castro11 na fatídica emboscada, que resultou na sua morte, em
1908. Esse jovem se chamava Chico Acreano, uma referência ao seu local de
nascimento: o Acre.
Esse breve relato conduz à crença de que a primeira geração de “acreanos” não
foi constituída tão somente pelos que passaram a nascer aqui, a partir de 1880. É bem
anterior a esse tempo. Isso significa dizer que o gentílico “acreano” possui, no mínimo,
129 anos de vida. Todavia, foi a Revolução Acreana que o consagrou. Foi a partir dali
que “acreano” deixa de ser a designação de um rio para se tornar o designativo gentílico
da pessoa que nascia na região [vales dos rios Acre, Iaco, Purus, Abunã].
Como prova viva dessa bela página da história brasileira, as terminologias Acre
e acreano estão gravadas, perenizadas, em artigos publicados nos jornais de Manaus,
Belém, Rio de Janeiro. Também figuram em jornais europeus e americanos, com os
recorrentes títulos “Os Sucessos do Acre”, “Questão do Acre e dos acreanos”. Assim
também grafavam grandes intelectuais brasileiros, como Rui Barbosa, Assis Brasil,
Serzedelo Correia, Euclides da Cunha, entre tantos outros. Eles polemizavam sobre a
inação e o descaso do Governo Federal para com os “brasileiros do Acre”, os acreanos,
e a grave ameaça internacional a que essa gente estava submetida.
E, muito embora nesses artigos figurem, vez ou outra, as variantes “acriano” e
“acreano”, esta última prevaleceu, consagrada pelo uso, na passagem do século XIX
para o XX, fruto de longo processo histórico, que definiu a trajetória de uma nova
sociedade amazônica. Assim, feitas essas remissivas históricas, será um grande
desserviço à pátria brasileira, bem como uma nova injustiça contra o povo acreano,
decorrido mais de um século de uso, considerar-se errado um gentílico construído,
conquistado, constituído como signo de origem e de destino de um povo que lutou para
determinar seu futuro e eleger sua pátria. O Brasil deve sentir orgulho dos acreanos que
construíram o Acre e o legaram à Pátria Amada. Essa população não almeja, hoje, ferir
tratados, acordos, decretos. Deseja tão somente o respeito da nação por sua história e
tradição, bem como reconhecimento dos intelectuais, pelo viés histórico, na

11
Ex-oficial do exército federalista, combatente veterano da Revolução de 1893-5 no Rio Grande do Sul,
Plácido de Castro teve sua vida e sua fama ligada à Revolução Acreana de 1902/3 contra a Bolívia. Fato
que conduziu primeiro a independência e depois a integração daquele território rico em seringais ao
Brasil. O ímpeto vitorioso do caudilho Plácido, logo foi sucedido pela habilidade do chanceler Barão do
Rio Branco. A pólvora deu lugar à diplomacia que, por meio do Tratado de Petrópolis, negociou com La
Paz a absorção definitiva do Acre.
18

convalidação dos tratados internacionais e nacionais, do nome que vem impregnado de


lutas, sangue, glórias. Acreano é o gentílico construído pela tradição do povo
Amazônico do Acre.

O artigo funda-se em documentos históricos, assim como se ampara, também,


sob o ponto de vista lingüístico, no conceito de norma, uma contribuição do lingüista
romeno Eugenio Coseriu, que propôs um acréscimo à dicotomia saussuriana. Sua
tricotomia vai do mais concreto (fala, uso individual da norma) ao mais abstrato (língua,
sistema funcional), passando por um grau intermediário: a norma (uso coletivo da
língua). Em outras palavras, há realizações consagradas pelo uso e que, portanto, são
normais em determinadas circunstâncias lingüísticas, previstas pelo sistema funcional. É
à norma que o falante se prende de forma imediata, conforme o grupo social do qual faz
parte e a região onde vive. A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala.
Considerando-se a língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma
seria, então, um conjunto de realizações concretas e de caráter coletivo da língua.
A norma assenta-se em modelos abstratos e não em manifestações concretas. A
norma não deve impor obrigações numa dada comunidade sócio-lingüístico-cultural, na
escolha de designativos, ainda mais nos gentílicos. Ela inclui elementos não relevantes,
mas normais na fala dessa comunidade. Dessa forma, se constitui como realização
coletiva, tradição, repetição de modelos anteriores, estabelecendo códigos e sub-códigos
para diferentes grupos de uma mesma sociedade. Apesar de a norma ser convencional e
opcional, torna-se uma opção dentro de um grupo a que pertence o falante. Preserva
seus aspectos comuns e elimina tudo o que, na fala, é inédito, individual.
Dessa forma, a imposição da chamada norma culta, em detrimento de outras
normas, configura a perda da identidade de um determinado segmento social. Com isso,
não se consegue uma compreensão mais completa dos fatos lingüísticos permitidos pelo
sistema da língua. E, desse modo, Coseriu ( 1979, p.74) define o sistema como
conjunto de liberdades e de possibilidades que se abrem para um falar compreensível
numa comunidade, colocando como secundário o caráter de imposição: “ mais que
impor-se ao indivíduo, o sistema se lhe oferece”. A norma, por sua vez, como conjunto
de realizações obrigatórias, consagradas e compartilhadas dentro dessa mesma
comunidade de falantes, assumiria um papel de tirano, de restrição:
O sistema é sistema de possibilidades, de coordenadas que
indicam os caminhos abertos e os caminhos fechados de um
falar compreensível numa comunidade; a norma, em troca, é
um sistema de realizações obrigatórias, consagradas social e
19

culturalmente: não corresponde ao que se pode dizer, mas ao


que já se disse e tradicionalmente se diz na comunidade
considerada..O sistema abrange as formas ideais de
realização duma língua (...) a norma, em troca, corresponde à
fixação da língua em moldes tradicionais; e neste sentido,
precisamente, a norma representa, a todo momento, o
equilíbrio sincrônico (externo e interno) do sistema. (pág. 50)

Coseriu (1979) concebe o indivíduo como alguém que autoriza a "língua-


instituição" a constituir-se de determinada forma, deixando-a agir sobre ele com força
sugestiva e normativa. Fatos sociais não seriam simplesmente tolerados, ou não seriam
simplesmente "obrigatórios", coercitivos. Ele diz que a própria adoção e adaptação às
exigências pessoais e ocasionais configuram já, para os fatos sociais, uma espécie de
"mudança". No caso da língua, supõe-se que os usuários não tenham o propósito de
mudar a língua e, no entanto, ela muda por força do destino dos falantes. As razões
disso, diz Coseriu, devem ser buscadas "na própria função da língua e no seu modo
concreto de existir" (p. 42).
Três conceitos dizem respeito à forma como se processa uma mudança:
inovação, adoção e mudança. Uma inovação acontece quando se verifica um
afastamento qualquer dos modelos existentes na língua. A aceitação de uma inovação
como modelo para ulteriores expressões corresponde à adoção (1979, p. 71). Mas só há
mudança na língua com a difusão ou generalização de uma inovação, o que implica
uma série de adoções.
Eis alguns dos fatores que podem envolver uma inovação, segundo Coseriu: a)
alteração de um modelo tradicional; b) seleção entre variantes; c) criação de formas
segundo possibilidades do sistema; empréstimos de outras línguas (com eventuais
adaptações); d) economia funcional (negligência de certas distinções, consideradas
supérfluas). Implicando aquisição, modificação, substituição, a adoção tem
determinações culturais, estéticas ou funcionais – acrescenta Coseriu. Dir-se-ia, hoje,
ainda: determinações ideológicas e discursivas.
Fica claro, porém, que intervém, nesse processo, o critério do prestígio, de
sujeitos ou de comunidades, uns em relação aos outros. Assim, uma inovação pode ser
rejeitada (por alguns, pelo menos) se parecer não-funcional ou eventualmente menos
elegante que uma forma/sentido já existente, bem ao gosto da comunidade, enraizada
entre seus membros, que tenha ganhado a força da tradição. É como salienta Mattoso
Câmara (1944 p.29-30)
Cada homem que fala, rege-se por um sistema de sons, de
fonemas e de significação e ordenação de formas, que ele
20

hauriu da sociedade em que vive e que nesta se transmite


através de gerações como uma tradição de cultura, à maneira
dos processos de plantar ou de fabricar vasos. Vista desse
ângulo, a língua surge-nos com o caráter do que se chama em
etnologia uma arte coletiva. O seu estudo pode colocar-se ao
lado do das grandes instituições sociais, e a lingüística
assume a aparência de uma seção da etnologia. (Mattoso
Câmara, 1944, p. 29-30).

O falar é visto como atividade criadora, e o falante são o criador e estruturador


da sua expressão, dispondo-se da língua, adaptando-a as suas necessidades expressivas.
E por ser este indivíduo histórico, não muda totalmente a sua expressão, utiliza-se de
modelos anteriores. É a historicidade da linguagem se confundindo com a historicidade
do ser humano.
Na visão de Coseriu, sendo a língua um saber, ela é aprendida daqueles que
“falam melhor”, dos que sabem. E a esse respeito, ele diz:
E o ouvinte adota o que não sabe, o que o satisfaz
esteticamente, o que lhe convém socialmente ou o que
lhe serve funcionalmente. A adoção é, por isso, um ato
de cultura, de gosto e de inteligência prática” (p.78).

Entende-se que as mudanças lingüísticas são exclusivamente funcionais e


culturais, comprovadas em qualquer estado de língua. Por outro lado, por ser a língua
um conjunto de modos sistêmicos, sistemáticos, só pode mudar, renovar-se,
sistematicamente, com base na sua funcionalidade, no uso.
As mudanças manifestam-se na sincronia, do ponto de vista cultural, e o que é
cultural é condição que favorece a mudança. Por outro lado, a homogeneidade do saber
lingüístico e a adesão de uma comunidade de falantes à sua própria tradição lingüística
são condições de relativa estabilidade (resistência à mudança). O próprio Saussure
admite que nada surge no sistema que não tenha existido antes na norma (língua
realizada) e vice-versa.
A língua não é só um instrumento, nem um dado, mas um trabalho humano, um
produto histórico-social. A mais extraordinária engrenagem na qual circula a cultura de
um povo, sem dúvida, é a Língua. A relação, portanto, entre ambas (Língua/Cultura) é
de profunda intimidade.
Evanildo Bechara (2001), quando se dedica a conceituar língua, trata de duas
possibilidades: a língua histórica e a língua funcional. Assim, a língua seria um produto
histórico e, ao mesmo tempo, uma unidade idealizada, devido à impossibilidade de
alcançar, na realidade, uma língua que se quer homogênea, unitária.
21

Esse autor também considera que a língua nunca é um sistema único, mas um
conjunto de sistemas, que encerra em si várias tradições. Uma mesma língua apresenta
diferenças internas: no espaço geográfico, no nível sócio-cultural e no estilo ou aspecto
expressivo. Nesse sentido, Bechara utiliza uma abordagem muito próxima àquela
expressa por Cunha e Cintra, quando esses autores se referem à língua como um
diassistema. Importante destacar que, para Bechara, uma língua nunca está plenamente
pronta, mas se faz continuamente, devido à atividade lingüística presente no uso dos
falantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar a língua em uso, numa comunidade, o estudioso defronta-se,


sempre, com a realidade da variação. Essa variação pode ser fonética, léxica, sintática,
estilística. Os membros da comunidade são falantes homens e mulheres de idades
diferentes, pertencentes a estratos socioeconômicos distintos, desenvolvendo atividades
variadas, com uma história de formação social também peculiar. Então é natural que
essas diferenças, identificadas como sociais ou externas, atuem na forma de cada um
expressar-se.
Essa idéia faz refletir sobre o fato de que uma língua, além de ser um sistema
autônomo e independente, é algo moldável às necessidades de seus usuários que criam
determinadas normas de uso. Essas variedades são capazes de suprir cada situação
comunicativa dentro de uma determinada comunidade lingüística, sempre marcada por
fatores extralingüísticos (sociais, históricos, individuais e contextuais).
Segundo Mollica (2003, p. 13), “[...] todas as manifestações lingüísticas são
legítimas e previsíveis [...]” no sistema, embora sirvam de instrumento para classificar
os falantes de maneira positiva ou negativa no seio da sociedade. Contudo, cabe,
exclusivamente, ao usuário de uma língua a escolha inconsciente ou voluntária do
léxico, da forma fonética, sintática, etc. e, em conseqüência desta escolha, revela-se
sócio-econômico-lingüístico-político e culturalmente. Isto é, o lingüístico coloca-o em
uma determinada posição na sociedade, porque “[...] todo signo, inclusive o da
individualidade, é social.” (BAKHTIN, 2002, p. 59)
22

Por fim, saliente-se que, para Coseriu, "estudar as mudanças não significa
estudar „alterações‟ ou „desvios‟ – como parece quando se toma a língua como έrgon –
mas, ao contrário, estudar a consolidação de tradições lingüísticas, ou seja, o próprio
fazimento das línguas" (p. 93-94). É nesse sentido que, em vez de se perguntar por que
as línguas mudam, o adequado é explicar "por que as mudanças ocorrem tal como
ocorrem" (p. 100), em que condições elas acontecem? Cabe lembrar que essas
condições/determinações não "provocam" as mudanças, apenas podem contribuir para
acelerá-las ou, inversamente, para bloqueá-las.
Coseriu afirma que as mudanças lingüísticas só podem ser explicadas em
termos funcionais e culturais, porém não como causas das mudanças e sim, como
fatores passivos, circunstâncias do falar e determinações históricas da liberdade
lingüística; como selecionadores das inovações; como condições e limites da liberdade
lingüística, motivados por uma necessidade exterior, ou causa nos fenômenos culturais,
e por uma necessidade interior, ou finalidade. A linguagem pertence ao domínio da
liberdade e da finalidade e os fatos lingüísticos não devem ser interpretados e
explicados em termos causais.
E, neste particular, quando se fala em bloqueios ou rejeição a determinadas
formas, recorde-se que Said Ali, um dos maiores gramáticos de todos os tempos, era
avesso ao purismo que, segundo ele, empobrecia a expressão espontânea. Também
repudiava a obediência aos modelos de escrita dos clássicos dos séculos XVI e XVII,
porquanto esse hábito, segundo ele, tornaria as pessoas contrárias ao pensamento e aos
costumes do tempo atual. Então, que esse pensamento seja transportado para o tempo
presente, quando uma regra vem alterar o costume e a tradição de um povo. Ademais,
esse Acordo não mexe com a estrutura da língua. E a estrutura é como a alma de uma
língua, algo intocável, que deve ser preservada para a perpetuação do idioma.
Então, a par de todos esses efeitos, eles apontam para o caso epigrafado de ser
acreano, o estilo de uma comunidade de linguagem que optou, por mais de um século,
por ser acreana. É como afiança Coseriu (1979, p.18) “numa língua, o que por um lado
se „constrói‟ por outro se „desmorona‟ e necessita de novos „reparos‟. Tem-se, por
exemplo, ao lado de redundâncias, os casos em que uma única forma amalgama funções
variadas. É o que ocorre, agora, com acriano, como impõe o Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. “Fica claro, em todas as situações, que não existe coincidência
cultural e funcional entre sistema e norma em uma língua” (COSERIU, 1979, p. 120). O
uso consagra a forma.
23

Compreende-se, finalmente, que o gentílico acreano traduz a liberdade


expressiva de uma comunidade, há 129 anos de história. E que essa liberdade de escolha
possui UMA razão universal, que é a finalidade expressiva dos falantes acreanos, no uso
de tradições e costumes. A importância de ser acreano se confunde com a própria
importância do mundo em que se vive. Assim, mais que um ecossistema, região ou
bioma, mais que a porção mais verdejante do planeta, o Acre é um poema. Ser acreano
é uma epopéia brasileira.
Por tudo isso, as Ciências Humanas, por mais magníficos e atraentes que sejam
seus argumentos lógicos e dialéticos, não propiciam arcabouço seguro para tirar dessa
terra acreana o seu gentílico consagrado: acreano. Assim sendo, é imperioso
preservar as duas formas, a histórica e a lingüística, pois ambas são vertentes do
conhecimento humano. A primeira tem maior possibilidade de retratar o Acre e sua
gente, da forma mais completa possível, porque está plena, recheada da identidade
regional.
Fernando Pessoa (1999), conhecedor da palavra e da alma portuguesa, diz que
“a linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.” A
linguagem se modifica, como as espécies, sempre se adaptando, diferentemente, de
acordo com a necessidade do meio e dos falantes. Uma forma lingüística pode ser
consagrada pelo uso. Se bastante utilizada e “reforçada” através do costume, a tendência
é que essa nova forma se incorpore à língua, deixando-a mais rica, mais bela e mais
legítima, como assim se fez no Acre.
O ser humano e linguagem são produtos um do outro, se pertencem. Como
produto humano, a linguagem guarda a história das relações sociais e traz, também, à
lembrança das oposições de classes, as diferenças de lugares, o jeito de ser regional.
E,dessa forma, a linguagem se constitui o meio no qual se produzem lentas acumulações
quantitativas de mudanças, e por isso é capaz de registrar as fases transitórias mais
íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais na vida de um povo. Da mesma forma
guarda as escolhas perenes, que perduram por mais de um século, como acontece no
Acre com seu gentílico acreano.
Considerando o que aqui se põe, a Academia Acreana de Letras, reivindica,
em nome das Instituições do Acre – que constituíram o Fórum em defesa do acreano -
- que a Academia Brasileira de Letras acate a solidez desta argumentação e, assim,
promova a inserção ou a preservação da variante histórica ‘acreano’ nos dicionários
de Língua Portuguesa, a exemplo do que se tem hoje, porquanto o uso, em terras do
24

Acre, tornou legítimo esse gentílico há 129 anos. As instituições acreanas estão
convencidas que a Academia Brasileira de Letras representa, no seu conjunto, o respeito
aos fatos históricos, aos costumes e tradições desse imenso, rico, belo e aguerrido chão
brasileiro.

Dr.Clodomir Monteiro da Silva


Presidente da Academia Acreana de Letras

BIBLIOGRAFIA†

*
Ao falar sobre a Bacia do Purus José Moreira Castello Branco (1960 ) revolve a questão do Rio Aquiri
e sua passagem para Acre.Á pág.21 este autor registra:“Desmembrada da Província do Grão-Pará, surgiu
a do Amazonas, em 1852, e o Presidente que a instalou tratou logo de descobrir uma comunicação com a
republica vizinha e encarregou ao pernambucano Serafim da Silva Salgado de ```tentar igualmente pelo
rio Purus e pelas campinas até o rio Beni, superior às catadupas do Madeira, uma passagem livre delas, e
menos extensas para os povoados da Bolívia```,”a fim de suprir de gado a cidade de Manaus (76 - apud
J.B.de Figueredo Tenreiro Aranha Relatório de 30 de abril de 1852,e Fala do mesmo Presidente, 1 de
outubro de 1853, in v. I dos Relatórios dos Presidentes dessa Província,págs. 73 a 197; Dic.Hist,Etnogr,
do Brasil,Rio1922, v.II,Estados,pág. 68.)Salgado levou 153 dias de subida, dos quais viajou 142,
calculando haver percorrido umas 1.400 milhas, porém , o geógrafo inglês W.Chandless que,anos depois,
estudou e mediu o rio Purus, avaliou a derrota de Salgado em cerca de 1.300 milhas, alcance este que vai
além da boca do rio Hyuacu (Iaco) (77 apud. Notas sobre o rio Purus 1868, págs. 1 e 15.); tudo dentro do
ano de 1852...”(pg.21Castello Branco.cit.).Mais adiante pág. 23 nosso autor registra:” Sendo assim
Salgado passou ao largo das terras que formam a ACREÂNIA, sem tocá-las(...).”Contudo Salgado foi o
primeiro civilizado que explorou o rio Purus, das cercanias do Pauini até a vizinhança da zona fronteiriça
da atual ACREÂNIA, além da foz do rio Iaco numa distância de cerca de 300 milhas,antigo domínio da
nação Ipurinãs.Este pioneiro adianta que os aborigenes moradores acima da foz do Canaquiri( nome dado
ao atual Acre, por Salgado) ficaram surpreendidos com a expedição”.Aqui Castello Branco introduz uma
nota (80) : “Salgado não alude ao rio Acre,mas,ao anotar a foz do rio Canaquiry acrescenta – “”cujas
vertentes nascem nos campos do rio Madeira”” sendo assim ,o explorador não podia referir-se ao
canacuri, Boca de Lago,insignificante e desaguando na margem oposta do Rio Purus a mais de cem
milhas a jusante da embocadura do rio Acre;mesmo porque nascendo o Canaquiri de Salgado para o lado
do rio Madeira,só poderá desaguar à margem direita do Purus e não à esquerda,como se dá pelo pequeno
lago ou ligar chamado Canacury, no mapa de J.A.Masô(1917), e outros autores.”E aqui, o autor desta
nota,Castello Branco, apresenta importante conclusão: “ Canaquiri foi, pela ordem cronológica,a primeira
denominação dada ao atual Rio Acre, Aquiry foi a segunda anunciada por Manoel Urbano da
Encarnação(1861) e confirmada por W.Chandless(1864-1865). A.Piper (1871-74) e Pereira Labre (1872)
que neste mesmo ano a reduziu a ACRE, nome este que prevaleceu e foi divulgado pelos primeiros
povoadores do rio, a contar de 1878. Os índios Canaranas apelidavam-no Muchanguy ( Labre, Rev. Da
Soc. De geografia (Rio), tomo IV ( 1888), pág. 114) e a professora Isolina Seixas Landim (Rio Branco-
Acre) revelou, numa conferência, que ele era antigamente conhecido por Nasauhano (Rio de Água
Amarela). O Acre ( jornal oficial do governo), de 1 de setembro de 1929;acrescentando Labre que os
Ipurinãs, índios que dominavam na foz do Acre e adjacências, chamavam-no de UAKIRY. ( ver “O nome
do Rio Acre”, in Boletim Geográfico (I.B.G.E.) vol. 79, págs. 750-751) e “O Rio Acre” in Revista do
Inst. Hist.e Geogr. Brasileiro, vol. 225,págs. 294 a 298). ( trechos da obra acima citada págs. 22- 23.),
25


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