EMPREZA
LITTERARIA
DE
LISBOA
HinomA
OE
rOBTEAL
SEXTO
VOLUME
POR
MANUEL
PINHEIRO
CHAGAS
illiistracOes
DE
MANUEL
DE
MACEDO
^E.
L .
de
L . ^
OFFICINA
TTPOGRtPHIU
Empreza
Litteraria
de
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I
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CAPITULO
I
Reacção
contra
a
politica
do
marquez
de
.Pombal.
—
A
sahidados
presos.
—
Perse-
guição
aos
amigos
e
parentes
do
marquez.
—
Versos
satyricos.
—
Demissão
do
grande
ministro.
—
Humilhações
e
insultos.
—
O
medalhão
do
Terreiro
do
Paço.
—
Os
jesuí-
tas.
—
Principio
de
uma
contra-reacção.
Hoje,
decorrido
pouco
inais
de
um
séculode-
pois
da
queda
do
marquez
de
Pombal,
ao
contem-
plaruios
os
innumeros
benefícios
que
o
governo
do
grande
estadista
fez
ao
paiz,
ao
admirarmos
a
sua
obra
de
regeneração
social,
ao
pasmarmos
do
modo
como
Portugal
se
transformou
debaixo
dassuas
mãos,
para
recair
depois
na
atonia
de
que
o
arrancara
aquelle
privilegiado
espirito,
mal
comprehendemos
ojubilo
immenso
que
se
apoderou
do
paiz
todo,
quando
a
morte
do
rei,
que
o
protegera,
deixou
presenlir
que
eslava
pró-
xima
também
a
queda
do
intelligente
ministro.
E
comludo
é
esta
a
eterna
historia
da
huma-
nidade.
Us
grandes
vultos,
que
a
fazem
progre-
dir,
e
melhoram
a
sua
situação,
nunca
encontram
plena
justiça
no
juizo
dos
seus
contemporâneos.
Homo
a
perfeição
é
vedada
ánatureza
humana,
como
é
impossível
que
se
façam
as
grandes
re-
formas
sem
se
ferirem
muitos
interesses
creados
eestabelecidos,
como
a
energia
é
inielizmenteinseparável
da
rudeza
e
do
despotismo,
os
que
padecem
com
isso
não
vêem
senão
a
dôr
imme-
diatae
não
os
proveitos
futuros.
.\s
nódoas,
que
de
longe
apparecem
como
as
manchas
invisíveis
do
sol,
ao
pé
tomam
proporções
gigantes,
os
de-
feitos
pequeninos.escondem
a
grandeza
do
astro,
porque
são
mais
perceptíveis
aosolhos
das
me-
diocridades,
do
que
as
grandes
obras
e
os
gran-
des
pensamentos,
da
mesma
forma
que
uma
pequeníssima
rodela
pode
esconder
aos
nossos
olhos
a
vista
do
Monte
Branco,
unicamente
por-
que
se
approxima
da
nossa
pupilla.
(Juem
comprehende
ainda
hoje
a
obrabené-
fica
de
Napoleão?
Por
oravè-se
apenas
ooppressor,olyranno,
o
conquistador
implacável,
e
ninguém
quer
vêr
que
esses
princípios
da
revolução
franceza,
que,
cspalhando-se
pelo
mundo
inteiro,
transforma-
ram
em
breves
annos
o
estado
social
da
huma-
nidade,
só
elle
os
podia
levar
nos
rellexos
scin-
tillantes
dassuas
bayonetas.
Se
elle
selimitasse
aser
um
official
fiel
á
Republica,
a
Republica
dissolver-se-bia
no
sangue
do
Terror
e
na
lama
do
Directório,
e
uma
reacção
formidávelapngaria
por
muito
tempo
a
immensa
luz
que
principiara
a
raiar
em
178 J.
Se
se
limitasse
aser
um
.Monk,
repetir-se-hiam
as
scenas
da
lleslauração
íngleza.
Assim
foi
ura
déspota,
mas
foi
um
déspota
de-
mocrático.
Com
o
CódigoNapoleão
salvou
a
igualdade,
com
a
Concordata
salvoualiberdade
religiosa,
a
liberdade
do
pensamento,
c
essas
ó
que
eram
sobretudo
as
duasgrandes
conquistas
da
Hevolução.
Ah
de
certo
seria
mil
vezes
mais
apreciável
o
marquez
de
Pombal
se
fizesse
tudo
o
que
fez
de
grandioso,
sem
ter
levantado
os
cadafalsos
de
Relem,
e
sem
ter
praticadoos
assassínios
ju-
Historia
de
Portugal
diciarios
que
mancham
a
sua
memoria.
Mas,
se
elle
não
quebrasse
como
um
vime
diante
de
si
todas
asresistências,
se
elle
não
expulsasse
os
jesuítas,
se
eiie
não
decapitasse
a
nobreza,
nem
uma
só
dassuas
reibrniíis
teria
vingado,
porque
enconlrariti
a
cada
insliuite
a
resistência
dos
cor-
pos
privili giados,
[i;)i qui
os
jcsuilas
continuariam
senliorcs
omnipotcuits
da
instrucção.
Mas,
dir-sc-
ba,
era
indispensável
que
elle
derraraa?se
em
tor-
rentes
o
sangue,
e
enchesse
oscárceres
com
as
vi-
ctimas
do
seu
despotismo?
Não
de
certo,
mas
quem
pode
marcar
limites
ú
energiade
um
homem?
To-dos
tíem,
dizem
os
francezes,
les
défautsde
ses
qualitcs,
e
a
energia,
que
é
um
predicado,
tem
um
defeito
correspondente
que
éa
crueldade.
Na
visinhança
éisso
o
quemais
avulta,
por-
que
ú
isso
o
que
mais
sesente.
Os
grandes
ho-
mens
são
como
as
montanbas;
vistas
ao
pé,
não
patenteiam
senão
as
asperezas
e
rugosidade?,
parecem
negras
e
sinistras,
de
longe
é
que
se
lhes
aprecia
o
vulto
severo
e
magestoso,
ao
longe
é
que
ellas
se
azulam
como
o
firmamento,
onde
immergem
os
píncaros
altivos.
Por
isso,
quando
el-rei
D.
José
se
achava
pró-
ximo
a
expirar,
todos
saudavam
a
sua
morte
como
um
livramento,
viam
todos
n ella
o
fim
de
Uín
longodespotismo.
Havia
tempo
já
que
D.
José
i
estava
gravemente
doente.
No
fim
de
1776
a
doença
tornou-se
tão
perigosa
que
foi
indispensá-
vel
chamar
á
regênciado
reino
a
rainha
D.
Ma-
rianna
Victoria.
Era
inimiga
pessoal
do
grande
ministro,
mas
isso
em
nada
influio
no
seu
animo.
Ou
porque
julgasse
do
seu
dever
conforraar-se
em
tudo
com
as
intenções
d el-rei
seu
marido,
(]ue
ella
conhecia,
ou
porque
receiasse
mesmo
que,voltando
el-rei
ao
seu
estado
normal,
desse
denovo
todo
o
poder
aoseu
inteiligenie
favorito,
e
este
aproveitasse
a
auctoridadede
que
tornaria
a
gosar,
para
se
vingar
de
quaesquer
desconside-
rações
que
tivesse
recebido,
é
certo
que
a
rainha
durante
ocurto
periodo
da
sua
regência
não
fez
mais
do
que
assignar
de
cruzos
decretos
que
o
grande
ministro
lhe
apresentava.
Os
despachos
do
ministro
francez,
marquez
de
Blosset,
para
o
seu
governo
confirmam
plenamente
este
facto
(jue
era
conhecido
por
outras
fontes.
k
doença
de
D.
José,
porem,
aggravou-sede
dia
paradia,eorei,cahindoemme]anchoiiaprofunda,
começou
a
sentir
que
o
seu
fimestava
próximo.
A
morte
do
patriarcha
de
Lisboa
entristeceu-o
profundamente.
Parece
que
murmurou:
Sou
eu
que
me
hei
de
seguir.
Apesar
dasperturbações
da
sua
consciência,
nem
uma
só
vez
se
mostrou
menos
alíciçoado
ao
marquez
de
Pombal,
nem
procnr( n
atlribuir.
an
sou
grande
ministro
a
res-
ponsabilidade
exclusiva
das
atrocidades
que
no
seu
reinado
se
haviam
praticado.
A
proximidade
da
morte
inspirou-
Ibe
sem
duvida
alguns
actos
de
clemência,
e
foi
um
d elles
a
ordem
quedeu
para
que
fosse
solto
o
bispode
Coimbra,
D.
Mi-guel
da
Annunciação
que
jazia
encarcerado
ha-
via
largos
annos.
Este
facto,
desconhecido
até
ha
pouco
tempo,
foi-nos
revelado
pelo
sr.
Latino
Coelho
n uma
nota
final,
no
1.
volume
íunico
publicado)
dasua
Historia
politica
e
militarde
Portugal
desde
os
fins
do
século
xviii
até
1814.
Diz
o
eminente
escriptor:
«Appendice.
Nota
á
pagina
88.
^Depois
de
estampadas
as
reflexões
criticas
sobre
a
authen-
ticidade
das
Rccommendarões
d el-rei
D.
Joséde-
parou-se-nos
no
archivo
do
ministério
do
reino,
em
um
maço
com
o
titulo
de
Decretos,
relativo
ao
anno
de
1777,
confundido
com
innumeraveis
diplomas
de
mercês,
conferidas
pela
rainha
nos
primeiros
tempos
doseu
governo,
a
ordem
em
que
el-rei
D.José
manda
soltar
o
bispo
de
Coim-
bra
e
os
seus
cúmplices.
É
toda
escripta
pelo
pró-
prio
punho
dosoiíerano,
com
letra
que
denuncia,
pelaincerteza
dos
seus
traços,
a
mão
tremula
do
enfermo.
É
datada
de
21
de
fevereiroe
diz
tex-
tualmente
o
seguinte:
«Perdoo
aobispo
deCoimbra,
e
mando
que
«se
solte
logo
com
todos
os
cúmplices
que
estão
«presos
pelas
culpaspor
que
se
prendeu
o
bispo.
«Rubricade
el-rei.
21
de
fevereiro
de
1777.»
«
No
mesmo
maço
está
a
portaria
assignada
pelo
marquez
de
Pombal,
mandando
dar
execução
á
ordem
do
soberano.
Fica
pois
demonstrado
que
o
próprio
D.
José
ordenou
que
se
soltasse
obispo
de
Coimbra
e
os
seus
cúmplices,
e
mais
se
con-
firma
aplausibilidade
de
que
as
recommcnda-
rões
exprimissem
realmente
a
ultima
vontade
do
monarcha.
»
Que
recommendações
eram
estas
a
que
se
re-fere
o
sr.
Latino
Coelho?
Elle
mesmo
noi-o
vae
dizer:
Pouco
depois
que
se
publicara
na
cidade
ser
fallecido
el-rei
D.
José,
fez
o
governo
dar
à
es-
Recompense a sua curiosidade
Tudo o que você quer ler.
A qualquer hora. Em qualquer lugar. Em qualquer dispositivo.
Sem compromisso. Cancele quando quiser.