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Português Instrumental

O Texto na Universidade

Objetivo

Mostrar que para se escrever, é preciso ter idéias e saber concatená-las. E tal capacidade
relaciona-se à capacidade de selecionar, ordenar e associar as idéias em uma estrutura
textual adequada a um contexto comunicativo.

Conteúdo

• Usos e abusos do vocabulário


• O uso de dicionários
• Pontuação e expressividade

Usos e abusos do vocabulário

Toda língua falada por uma comunidade é um ser vivo, dinâmico.


Novas palavras são criadas a todo momento e outras caem no
esquecimento. Assim, dispomos de um número muito grande de
vocábulos para exprimir nossas idéias, mas, em contrapartida,
nenhum falante conhece todas as palavras da língua.

As palavras, quando saem do estado de dicionário, ganham vida, podendo adquirir


significados novos. Uma mesma palavra pode apresentar inúmeros significados, às vezes
até divergentes. Uma palavra mal empregada pode causar constrangimento. Usar a
palavra certa no momento certo é um dos principais elementos para a eficácia da
comunicação.

Chama o “Aurélio”

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Certos casos da política, de tão inacreditáveis, acabam virando parte o anedotário. Ou
vice-versa: algumas piadas traduzem tão bem determinadas características da cultura
política que assumem ares de verdade.

Em uma das hipóteses se encaixa a correspondência trocada, cerca de 20


anos atrás, entre o prefeito de Bom Sucesso (MG) e o então secretário
estadual do Interior, Ovídeo de Abreu.

Conta o deputado Elias Murad (PSDB-MG) que Abreu sempre gostou de falar difícil.
Numa certa ocasião, o secretário recebeu a informação de que Bom Sucesso (MG)
sofreria um tremor de terra capaz de quebrar copos e trincar pratos.
Preocupado, expediu rapidamente um telegrama ao prefeito:

“Movimento sísmico previsto essa região. Provável epicentro


movimento telúrico sua cidade. Obséquio tomar providências logísticas cabíveis”.

O secretário esperou ansioso pela resposta. Quatro dias depois chegava o telegrama do
prefeito:

“Movimento sísmico debelado. Epicentro preso, incomunicável, cadeia local.


Desculpe demora. Houve terremoto na cidade”.

(Folha de S. Paulo, 24/1 1/92. p. 1-4.)

O vocabulário na comunicação

A história relatada demonstra a importância do vocabulário nos


atos de comunicação.

O não-conhecimento do significado das palavras pode impedir


que as pessoas se comuniquem. E é evidente que comunicar-se
não é fazer uso de palavras difíceis que poucos conhecem.

A clareza é muito importante; devemos escrever de maneira que os outros possam


entender; para isso, o domínio do vocabulário é fundamental.

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A linguagem verbal é aquela cujos signos são palavras. Quando escrevemos, nossas
idéias são expressas através das palavras.

Mas ter um bom vocabulário não significa necessariamente ter um bom domínio da
língua, porque a língua é formada não só por palavras, mas também por relações
existentes entre elas que nos permitem construir frases.

Pessoas que se dedicam à prática de palavras cruzadas podem possuir


um vocabulário extenso, mas não são necessariamente grandes
escritores.

O que podemos afirmar com segurança é que um bom vocabulário pode ajudá-lo, e
muito, na redação de textos.

A palavra no contexto

Isoladas, as palavras pouco comunicam. O que determina o significado de uma palavra


é o contexto em que ela aparece. Dessa maneira, uma mesma palavra pode possuir
significações diferentes, dependendo do contexto em que está inserida.

A palavra rio, tomada isoladamente, quase nada significa. Mas, se atentarmos para as
frases seguintes, podemos observar que em cada uma delas ela assume um significado
diferente:

Com as chuvas, o rio transbordou.


Eu rio à toa daquela situação.
“Foi um rio que passou em minha vida”.
(Paulinho da Viola)

Vocabulário ATIVO e PASSIVO

Existem palavras que você emprega no seu processo de comunicação diário. São
palavras que você usa na fala e também na escrita. Normalmente são palavras que
aprendemos “de ouvido”. Ao conjunto dessas palavras, damos o nome de vocabulário
ativo.

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Existem também palavras cujo significado conhecemos, mas não empregamos nem na
linguagem oral, nem na escrita. Ou ainda palavras que ouvimos ou lemos, mas não
sabemos com precisão o que significam. Ao conjunto dessas palavras, damos o nome de
vocabulário passivo.

Fugindo do PEDANTISMO

Escrever bem não é expressar-se com palavras difíceis e desconhecidas, para tentar
impressionar os outros. Embora algumas pessoas assim procedam (sobretudo os
políticos), isso deve ser evitado, pois revela um defeito grave de redação: o pedantismo.

Observe um exemplo:

Poço cartesiano

Afundado na cultura, atolado na argila da erudição, o caderno São Paulo (inclui


Cotidiano), da Folha, chamou na primeira página:

“ÁGUA: Moradores de SP com poços cartesianos em casa


conseguem driblar racionamento”.

Que seria um poço cartesiano? Será que em vez de “driblar o racionamento” não era
“driblar o raciocínio”? Janistraquis se debruçou sobre o problema, consultou engenheiros
do DNOCS e concluiu: “Considerado, não é raciocínio, é racionamento mesmo. E poço
cartesiano é aquele que a gente nem precisa furar; ele pensa, logo, existe”.
Meu assistente só não descobriu qual a verba que é possível desviar para obter tal
preciosidade.

O autor, ao usar uma palavra que não conhecia, a fim de impressionar o leitor,


procurando dar maior erudição ao texto, cometeu uma impropriedade vocabular: trocou
artesiano, que se refere a poço aberto por sonda, por cartesiano, relativo ao filósofo
francês René Descartes.

O uso de dicionários

É importante:

✓ Conhecer a organização do dicionário, ou seja, cada uma das partes


em que está estruturado.

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✓ Ler cuidadosamente a lista das abreviaturas.

✓ Procurar a palavra pretendida, tendo em atenção os seguintes aspectos:

- reler o texto e procurar no dicionário o significado das palavras


desconhecidas;
- selecionar as palavras-chave e as expressões contendo as idéias
principais;
- identificar, nas passagens mais difíceis, o verbo, o sujeito e os
complementos;
- escrever por palavras tuas, na margem, as idéias mais importantes;
- fazer um esquema / resumo dessas idéias.

Pontuação e expressividade

A importância da pontuação

Todos sabemos da importância da pontuação para a correta e precisa expressão do


pensamento, principalmente na língua escrita.

O seguinte texto revela isso de modo eloqüente:

Um homem rico estava muito mal. Pediu papel e pena. Escreveu assim:

Deixo meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será
paga a conta do alfaiate nada aos pobres.

Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava ele a fortuna? Eram quatro
concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga
a conta do alfaiate. Nada aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:

Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a
conta do alfaiate. Nada aos pobres.
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3) O alfaiate pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga
a conta do alfaiate. Nada aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta
do alfaiate? Nada! Aos pobres.

Assim é a vida. Nós é que colocamos os pontos. E isso faz a diferença.

Os sentidos da pontuação

Durante uma conversa ou uma exposição oral, a expressão facial, a entonação da voz e
os gestos ajudam a tornar mais claras as idéias de quem está falando. Quando a
comunicação é feita por escrito, a pontuação torna-se fundamental para dar
clareza à mensagem.

A pontuação tem um papel muito importante no sentido de expressar o pensamento do


escritor e, por conseguinte, orientar o leitor durante o processo de leitura.

Agora, é com você!!!

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O título desse anúncio, devido ao significado da palavra “impulso”, nos permite duas
interpretações. Quais são elas e qual a realmente pretendida pela TELESP?

Vejamos:

1. Libere os desejos, vontades, iniciativas dos clientes. (sentido mais malicioso)


2. Libere os pulsos telefônicos, ou seja, barateie as ligações telefônicas de seus clientes.
(sentido pretendido pela TELESP, apesar do humor ser sempre um atrativo para os
anúncios!)

Saiba mais...

PLATÃO, Francisco e FIORIN, José Luiz. Para entender o


texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.

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