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1 - Tragédia?
Não. D. José estava experimentando fogos de artifício.
Ninguém quis confessar o desapontamento nem o gasto inútil de
imaginação que, naquela meia hora de terror, foi exagerado nos espectadores.
- Não a matou desta vez, mas ela não escapará de outra. Seu ódio por
D. Sofia é incontrolável.
2 - D. José odiava alguém?
Calúnia! Amava a mulher, os pássaros e as árvores. Ela sim detestava-o,
irritava-se com os animais.
Infelicidade conjugal?
Nunca! Os esposos combinavam admiravelmente bem.
Mas entre os habitantes do lugar, não havia quem acreditasse nisso:
- Ela finge amá-lo somente pelo seu dinheiro.
Estúpidos! D. José era o homem mais pobre da cidade e tinha uma
úlcera no estômago.
3 - À mais leve contestação, contrapunham-se novas acusações:
- E os meninos, que choram noite adentro, famintos, espancados?
Falso! D. José perdera os filhos (cinco), vítimas da tuberculose. Agora
recordava-se deles manipulando um aparelho que imitava o pranto infantil. E
comovia muito mais que qualquer choro de criança.
4 - D. José falava sempre de um livro que estava escrevendo. Um livro
sobre duendes.
Era um fabulista?
Não. Os duendes habitavam a sua própria casa, ao alcance dos seus
olhos.
Seria a mulher um deles?
5 - Um dia encontraram-no enforcado. Disseram imediatamente:
- É só fingimento. O nó está pouco apertado.
- Vejam que cara matreira! Está zombando de nós.
Infâmia! D. José suicidara-se mesmo.
Por quê?
Todo o mundo fingiu não saber.
6 - Aos que lhe tomaram a defesa, anos após a sua morte, perguntavam:
- Afinal, o que fazia esse D. José? Se não fumava, não bebia, não tinha
amantes?
- Amava o povo.
- E o povo?
- Observava-o com ferocidade.
7 - Mais tarde erigiram-lhe uma estátua. Com um dístico: "D. José, nobre
espanhol e benfeitor da cidade".
Derradeira mentira. D. José era um pobre diabo e não possuía nenhum
título de nobreza. Chamava-se Danilo José Rodrigues.