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Bioquímica II
Bioquímica II
Volume 1 - Módulos 1 a 3 Andrea Thompson Da Poian
Debora Foguel
Marílvia Dansa Petretski
Olga Lima Tavares Machado
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Andrea Thompson Da Poian
Debora Foguel Departamento de Produção
Marílvia Dansa Petretski
Olga Lima Tavares Machado EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
COORDENAÇÃO DE DESENHO Tereza Queiroz Alexandre d´Oliveira
INSTRUCIONAL Bruno Gomes
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Cristine Costa Barreto Jane Castellani Cristiane Matos Guimarães
DESENHO INSTRUCIONAL E REVISÃO REVISÃO TIPOGRÁFICA ILUSTRAÇÃO
Alexandre Rodrigues Alves Equipe CEDERJ Jefferson Caçador
Carmen Irene Correia de Oliveira Salmo Dansa
COORDENAÇÃO DE
José Meyohas CAPA
PRODUÇÃO
COORDENAÇÃO DE REVISÃO Jorge Moura Eduardo Bordoni
Maria Angélica Alves PRODUÇÃO GRÁFICA
REVISÃO TÉCNICA Andréa Dias Fiães
Marta Abdala Fábio Rapello Alencar
P749b
Poian, Andrea Thompson Da.
Bioquímica 2. v.1/ Andrea Thompson Da Poian. –
Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009.
132p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-89200-75-2
1. Bioquímica. 2. Metabolismo. 3. Bioenergética.
I. Foguel, Debora. II. Petretski, Marílvia Dansa.
III. Machado, Olga Lima Tavares. IV. Título.
2009/1 CDD: 572
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
SUMÁRIO Módulo 1
Aula 1 – Bioenergética - parte I_________________________________ 11
Olga Lima Tavares Machado
Módulo 2
Aula 4 – Fotossíntese I - Princípios gerais _________________________ 41
Marílvia Dansa Petretski
Módulo 3
Aula 9 – A história da fermentação: do início aos dias de hoje ________ 95
Marílvia Dansa Petretski / Olga Lima Tavares Machado
Aulas
1 - Bioenergética - parte I.
2 - Bioenergética - parte II.
Módulo 1
3 - Conceitos fundamentais do metabolismo.
INTRODUÇÃO AO Metabolismo, cujo antepositivo grego metabol – significa
METABOLISMO “mudança”, pode ser definido como a totalidade dos processos químicos
do organismo. Conseqüentemente podemos admitir que a célula viva seja
uma indústria química em miniatura, onde milhares de reações ocorrem
em nível microscópico.
Você pode pensar no metabolismo celular como um elaborado
mapa rodoviário que representa as reações que ocorrem na célula. As
reações são arranjadas em vias metabólicas intrincadas e bifurcadas, que
transformam moléculas por uma série de etapas. As enzimas aceleram
seletivamente cada etapa no labirinto de reações. Em analogia aos sinais
de trânsito que controlam o fluxo do tráfego e previnem acidentes,
existem mecanismos que controlam o metabolismo por regulação de
enzimas e, conseqüentemente, mantêm o balanço metabólico, impedindo
deficiências e excessos de metabólitos.
Poderíamos então começar os nossos estudos apresentando
algumas questões:
8 CEDERJ
O módulo Introdução ao metabolismo é composto por três aulas:
CEDERJ 9
11
AULA
Bioenergética - parte I
objetivos
INTRODUÇÃO Uma célula viva é um sistema dinâmico; ela cresce, move, sintetiza
macromoléculas complexas e, seletivamente, direciona substratos para um ou
outro compartimento. Todas estas atividades necessitam de energia; assim, a
célula deve obter energia do meio onde está e deve utilizar esta energia com
a maior eficiência possível. As plantas a obtêm da luz do sol; animais usam a
energia estocada nas plantas ou em outros animais que consomem.
1 2 CEDERJ
MÓDULO 1
• Nós denotamos calor pelo símbolo q. Um valor positivo
de q indica que o calor do ambiente foi absorvido pelo
1
AULA
sistema. Um valor negativo de q indica que o sistema
perdeu calor para o ambiente.
CEDERJ 1 3
Bioquímica II | Bioenergética - parte I
Em (A) temos a energia cinética Em (B) parte da energia cinética é Em (C) a energia cinética estocada
transformada somente usada para retirar a água (trabalho), no balde d’água suspenso pode
em calor; e uma menor quantidade de energia é ser usada para dirigir uma
liberada como calor; máquina hidráulica ou para
qualquer outro trabalho.
RESUMO
Nesta aula, você aprendeu que um sistema pode trocar energia com o
meio ambiente e assim mudar sua energia. Vimos que esta mudança
pode ocorrer na forma de calor ou trabalho. Você deve ter em mente o
seguinte conceito:
1 4 CEDERJ
2
AULA
Bioenergética - parte II
INTRODUÇÃO Na aula anterior, definimos energia, calor e trabalho. Falamos ainda sobre a
primeira lei da Termodinâmica, ou seja, sobre a lei da conservação de energia.
Nesta aula, tentaremos explicar o porquê de algumas reações ocorrerem
espontaneamente e o de outras necessitarem de energia para acontecerem.
Veremos ainda como nosso organismo utiliza reações que liberam energia para
promover reações que necessitam de energia.
Conceito de entropia
16 CEDERJ
MÓDULO 1
O grau de distribuição randômica ou grau de desordem é chamado
2
entropia. Para demonstrarmos a mudança de entropia em um processo
AULA
simples, considere a facilidade para desorganizar um quarto e o esforço
para reorganizá-lo. Para isso, veja a Figura 2.1. Diremos então que a
variação de entropia ΔS será a diferença entre a entropia do estado final
(Sf) e a entropia do estado inicial (Si), ou seja,
ΔS = Sf – Si.
CEDERJ 17
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
Conceito de entalpia
18 CEDERJ
MÓDULO 1
Na realidade, a energia livre é medida pela sua variação ΔG, e é aquela
2
capaz de realizar trabalho em processos isotérmicos (processos que
AULA
ocorrem à temperatura constante) e isobáricos (processos que ocorrem à
pressão constante). Ela resulta da diferença entre a energia total (entalpia,
ΔH) e a energia ineficaz (quantidade de entropia, TΔS).
ΔG = ΔH - TΔS
Energia que produz trabalho = Energia total - Energia inaproveitável
Figura 2.2: Descrição da Energia Livre. A Energia Livre (G) mede a energia da
molécula que poderia em princípio ser usada para realizar trabalho à temperatura
constante, como ocorre nos seres vivos. G é medido em unidades de quilocalorias/
mol ou quilojoules/mol.
O QUE É UM KJ?
CEDERJ 19
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
Reagentes
alternativos
U Produtos
Energia livre
DG
0
É
padrão
W Reagentes
positivo
Y A B C D
A+B C+D
Reagentes
alternativos
Produtos
Energia livre
DG
0
Reagentes
É
padrão
W
positivo
U B
Y V D
U+B V+D
20 CEDERJ
MÓDULO 1
Reagentes
2
alternativos
AULA
Produtos
Energia livre
Reagentes
DG
0
padrão
positivo
W B
Y X D
W+B X+D
Reagentes
alternativos Reagentes
DG
0
É
Y B Produtos
Energia livre
positivo
padrão
Z D
Y+B Z+D
Figura 2.4.d: Os reagentes apresentam energia livre maior do que os produtos. O equilí-
brio favorece a formação dos produtos.
Responda você agora à seguinte questão: uma reação endergônica (ΔH positivo), ou seja,
uma reação que requer energia, pode ocorrer espontaneamente dentro de uma célula?
Se você respondeu que sim, desde que o valor em módulo para a entropia (TΔS) seja maior
do que ΔH, você está acompanhando o nosso raciocínio. Bem, podemos ir um pouco mais adiante,
mas antes precisamos entender como a energia livre de um sistema depende da quantidade dos
vários componentes da mistura de reação.
CEDERJ 21
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
K = [C]eq x [D]eq
[A]eq x [B]eq
22 CEDERJ
MÓDULO 1
V+
2
reagentes produtos
AULA
V-
No equilíbrio v+ = v- e ΔG = 0 , tem-se
ΔG0 = - RT lnK
Agora pense e responda! Será que podemos dizer que no equilíbrio químico a concentração
dos reagentes é igual à concentração dos produtos?
A resposta é não. No equilíbrio químico não é necessário que a concentração dos reagentes seja
igual à concentração do produto. O equilíbrio químico ocorre quando a velocidade da reação
nos dois sentidos é idêntica. No exemplo dado, o equilíbrio ocorre em uma situação em que
existem mais moléculas de produtos do que de reagentes. Veja a Figura 2.5:
CEDERJ 23
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
E a vida? Será que ela existe quando o equilíbrio químico entre ser vivo e meio ambiente
é atingido?
Não. Somente quando um ser morre é que o equilíbrio químico é atingido. Veja a Figura 2.6.
24 CEDERJ
MÓDULO 1
Reações acopladas
2
Embora muitas reações possam ser favorecidas pela remoção
AULA
eficiente dos produtos, existem muitos casos em que isto não é suficiente.
Há um outro modo muito importante no qual reações intrinsecamente
desfavoráveis podem acontecer. Suponha por exemplo que nós tenhamos
uma reação endergônica que seja parte essencial de uma via que, na sua
totalidade, poderia gerar energia. Busquemos uma situação do nosso
dia-a-dia para você entender melhor este processo: imagine que você
queira montar uma loja para vender um produto de larga aceitação no
mercado. Com certeza você espera ter lucros quando tudo estiver em
pleno funcionamento. Sem dúvida você deverá gastar alguns recursos
para iniciar seu projeto. Assim funcionam algumas vias metabólicas: você
gasta alguma energia para tornar possível uma das etapas da vias, que é
endergônica, para que outras etapas que forneçam energia cubram esse
“gasto” inicial e ainda liberem energia para outras funções metabólicas.
Vejamos como isto fica passo a passo:
A ΔG0 = + 10kJ/mol
C D ΔG0 = - 30kJ/mol
A+C B+D
ΔG0 = (+ 10kJ/mol) + (-30 kJ/mol)
ΔG0 = - 20kJ/mol
CEDERJ 25
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
26 CEDERJ
MÓDULO 1
NH2
2
AULA
C N
N C
O- O-
CH
HC C O-
N N
O H2C O P O-
Adenina O O O
H H Fosfato
H H
OH OH
Ribose
CEDERJ 27
Bioquímica II | Bioenergética - parte II
28 CEDERJ
MÓDULO 1
RESUMO
2
AULA
Nesta aula, você aprendeu os conceitos de entropia, entalpia e energia
livre de Gibbs. Você viu como essas grandezas se relacionam, ou seja, você
aprendeu a segunda lei da Termodinâmica. Você aprendeu a identificar o
sentido das reações químicas e a importância dos compostos ricos em energia
e das reações acopladas. Vamos resumir esses conceitos.
CEDERJ 29
3
AULA
Conceitos fundamentais
do metabolismo
objetivos
FUNÇÕES DO METABOLISMO
ESTÁGIOS DO METABOLISMO
Glicose Piruvato
Ácidos graxos acetil-CoA
32 CEDERJ
MÓDULO 1
No nível 3, se tratarmos de organismos aeróbicos (aqueles que
3
necessitam de oxigênio para sobreviver), a principal via é o ciclo de
AULA
Krebs, onde os intermediários do nível 2 sofrem degradação completa
a CO2, H2O.
Por exemplo:
Estágio 1
Açúcares
Acúcares simples
simples
(principalmente glicose)
(principalmente glicose) Aminoácidos Ácidos graxos + glicerol
Carregadores
de elétrons
reduzidos e Piruvato
ATP
Estágio 2
Carregadores
de elétrons
reduzidos e
Acetil-Co A ATP
Carregadores de elétrons
reduzidos e ATP
Cíclo do
ácido
cítrico
Estágio 3
Figura 3.1: Esquema
geral dos três estágios
do metabolismo.
2CO2
H2O
CEDERJ 33
Bioquímica II | Conceitos fundamentais do metabolismo
F B
E C
A B C D E
H
A B C D E
34 CEDERJ
MÓDULO 1
Por outro lado, nas vias metabólicas divergentes, um mesmo
3
substrato pode sofrer reações distintas que vão determinar a rota
AULA
metabólica daquela molécula.
D E F G
A B C
H I J K
CATABOLISMO E ANABOLISMO
CEDERJ 35
Bioquímica II | Conceitos fundamentais do metabolismo
H
Metano
OXIDAÇÃO
H C H
H Metanol
H C OH
Figura 3.3: Processo de oxidação da
H
molécula de metano à molécula de
H Formaldeído dióxido de carbono.
C O
H
H Ácido fórmico
C O
HO
O C O
36 CEDERJ
MÓDULO 1
Ao contrário da primeira impressão, as vias de síntese e degradação
3
de uma dada molécula não são as mesmas.
AULA
Quase sempre os dois caminhos são bastante distintos um do
outro. Embora apresentem reações enzimáticas e intermediárias comuns,
são vias diferentes por possuírem diferentes enzimas catalisando pelo
menos parte de suas reações.
Essa é uma estratégia para evitar a redundância e o ciclo vicioso.
Enzimas chaves vão ditar a regulação simultânea das vias opostas.
CEDERJ 37
Bioquímica II | Conceitos fundamentais do metabolismo
Sinal
modificador
Enzima
inativa A
amplificação 10 X
Enzima
inativa A
Enzima
ativa B
amplificação 100 X
Enzima
ativa B
Figura 3.4: Reações de
ativação enzimática em
cascata.
Enzima
inativa C
amplificação 1000 X
Enzima
inativa C
Substrato Produto
38 CEDERJ
MÓDULO 1
Controle por compartimentalização
3
Outra estratégia eficiente é a compartimentalização. Em geral, a
AULA
via de síntese de uma dada molécula ocorre em um compartimento celular
distinto daquele onde ocorre a sua via de degradação. Por exemplo, a
via de degradação de ácidos graxos (Aula 24) ocorre nas mitocôndrias,
enquanto a via de síntese de ácidos graxos (Aula 26) ocorre no citoplasma
das mesmas células.
Regulação hormonal
CEDERJ 39
Bioquímica II | Conceitos fundamentais do metabolismo
RESUMO
O controle do metabolismo é feito por regulação dos níveis e das atividades das
enzimas. Este controle é norteado por regulações alostéricas, por modulações
covalentes, por compartimentalização e por regulação hormonal.
40 CEDERJ
4
AULA
Fotossíntese I - Princípios gerais
Bioquímica II | Fotossíntese I - Princípios gerais
• Fluxo de energia e
• Ciclos biogeoquímicos.
Fotossíntese:
Energia luminosa Energia química
4 2 CEDERJ
MÓDULO 2
4
AULA
+CO2+H2O f
r o
e t
s o
p s
i s
r í
a n
ç t
ã Glicose +O2 e
o s
e
Figura 4.2: O ciclo do carbono. Vegetais e outros organismos convertem CO2 e água em glicose e O2 através
do processo de fotossíntese. Animais e outros organismos heterotróficos utilizam glicose e O2 no processo de
respiração celular, devolvendo CO2 e H2O à atmosfera.
CEDERJ 4 3
Bioquímica II | Fotossíntese I - Princípios gerais
O CICLO DO CARBONO
LUZ
ATP
!
Pense na situação atual: o CO2 fixado na forma de combustíveis fósseis retorna à
atmosfera rapidamente, certo? Ao mesmo tempo, diminui a cobertura vegetal. O que
acontece com o nível de CO2 atmosférico? Você pode imaginar as conseqüências disso?
4 4 CEDERJ
MÓDULO 2
Alguns processos, entretanto, podem remover carbono por
milhões de anos. Em alguns ambientes, o material orgânico é acumulado
4
AULA
mais rapidamente do que os decompositores podem quebrar. Sob estas
condições, no passado, estes depósitos formaram carvão e petróleo, os
combustíveis fósseis.
FLUXO DE ENERGIA
!
A fotossíntese, portanto, não somente fornece carboidratos para obtenção de energia
por plantas e animais, mas é também o principal caminho pelo qual o carbono retorna
à biosfera e é a principal fonte de O2 na atmosfera terrestre.
CEDERJ 4 5
Bioquímica II | Fotossíntese I - Princípios gerais
Níveis de 20
oxigênio na
atmosfera 10 Rápido acúmulo de O2
(%) pela saturação do Fe12
nos oceanos
Bilhões
0 1 2 3 4
de anos
Origem das Hoje
células
Formação Primeiras Liberação de eucarióticas Primeiras
da terra células vivas O2 a partir da fotossintetizantes vertebrados
Formação fotólise da água
Primeiras
de oceanos Respiração plantas
Primeiras
e continentes celular e animais
células
fotossintetizante multicelula
Figura 4.3: Seqüência de eventos evolutivos e sua relação com os níveis de O2 atmosférico.
Você viu nesta aula a importância da Fotossíntese para a manutenção da vida. Nas próximas
aulas você verá os detalhes deste processo.
4 6 CEDERJ
5
AULA
Fotossíntese II –
O processo de fotossíntese
Bioquímica II | Fotossíntese II - O processo de fotossíntese
LOCALIZAÇÃO
Cloroplastos
48 CEDERJ
MÓDULO 2
Mergulhados no estroma estão os tilacóides, estruturas formadas
5
por membranas que lembram sacos. Estes estão organizados empilhados Singular = granum
AULA
Plural = grana
como moedas, formando unidades chamadas grana.
Grana são irregularmente conectados por extensões dos tilacóides
chamadas lamela. A membrana dos tilacóides envolve um espaço interior
chamado lúmen do tilacóide.
Estroma
Tilacóide
Membrana Interna
Granum
Membrana Externa
Lamela
a Membrana plasmática
b
Citoplasma Grana
Parede
Celular Membrana do
tilacóide
Estroma
Espaço Vacúolo
com ar
Membranas interna e
externa do cloroplasto
Cloroplasto
Núcleo
Grânulo
de amido
Figura 5.3: Microscopia eletrônica de transmissão de uma célula vegetal (A) e um cloroplasto em destaque (B).
CEDERJ 49
Bioquímica II | Fotossíntese II - O processo de fotossíntese
AS ETAPAS
50 CEDERJ
MÓDULO 2
A etapa fotoquímica
5
Nesta etapa, a molécula de água é quebrada. O oxigênio de duas
AULA
moléculas de água se combinam e formam O2. Os hidrogênios restantes
se associam com moléculas chamadas aceptores de elétrons. Neste caso,
o aceptor é o NADP (Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato), cuja
forma reduzida é representada por NADPH. (veja a Figura 5.5).
H O
C
NH2
O CH2 O N+
H H
O P O- H Figura 5.5: Nicotinamida Adenina
H
HO HO dinucleotideo fosfato (NADP).
O NH2
N+
O P O- N+
O CH2 O N N
H H
H H
2-
HO OPO3H2
luz
RESUMINDO
Na etapa fotoquímica, a energia luminosa é utilizada para quebrar
a molécula de água e sintetizar NADPH e ATP.
CEDERJ 51
Bioquímica II | Fotossíntese II - O processo de fotossíntese
RESUMINDO
Temos:
luz
52 CEDERJ
MÓDULO 2
HISTÓRICO
5
Até 1930, o modelo da fotossíntese especulava que o dióxido
AULA
de carbono era quebrado e então a água era adicionada ao carbono
resultante.
1 - CO2 C + O2
2 - C + H2O CH2O Cornelis Bernardus
van Niel (1897-
1985) era um
Neste modelo, era proposto que o O 2 liberado durante a engenheiro químico
que trabalhava como
fotossíntese vinha como resultado da quebra do CO2. Este modelo caiu microbiologista
estudando taxonomia
por terra graças a Cornelis Bernardus van Niel, um estudante (na época) de bactérias.
que investigava a fotossíntese em bactérias que produziam carboidratos Trabalhou na estação
marinha Hopkins,
a partir de CO2 mas não liberavam oxigênio. da Universidade
de Stanford, na
Van Niel concluiu que, pelo menos em bactérias, o CO2 não é Califórnia, até 1962.
Retirado de http:
quebrado em carbono + O2.
//www.asmusa.org/
Esse grupo de bactérias requer H2S (sulfeto de H) e não H2O para mbrsrc/archive/pdfs/
530287p75.pdf
a fotossíntese, formando glóbulos amarelos de enxofre como produto
de excreção.
Assim:
CO2 + 2H2S CH2O + H2O + 2S
Em sulfobactérias:
CO2 + 2H2 CH2O + H2O + 2S
Em plantas:
CO2 + 2H2O CH2O + H2O + O2
Esquema geral:
CO2 + H2X CH2O + H2O + 2X
CEDERJ 53
Bioquímica II | Fotossíntese II - O processo de fotossíntese
54 CEDERJ
MÓDULO 2
RESUMO
5
AULA
Você viu nesta aula que a fotossíntese ocorre no cloroplasto das células
vegetais e que ela pode ser dividida em etapa fotoquímica e etapa
química. Na primeira etapa, a molécula de água é quebrada e os
hidrogênios associam-se a aceptores de elétrons. O oxigênio molecular
(O2), liberado na atmosfera, também é resultado desta etapa. Nesta fase
são sintetizados NADPH e ATP. Na etapa seguinte, estas moléculas serão
a fonte de energia para a síntese de glicose.
Nas próximas duas aulas, você verá cada uma dessas etapas
separadamente. Vamos discutir como cada uma acontece e qual a bateria
enzimática responsável pela catálise das reações. Na Aula 6, veremos a
etapa fotoquímica – aquela que depende de luz. Você conhecerá o papel
da clorofila e de outros pigmentos neste processo. Na aula seguinte (Aula
7), veremos como a célula vegetal utiliza o ATP e o NADPH, gerados na
primeira fase, para sintetizar glicose e outros compostos. Lembre que os
exercícios só virão no final do módulo. Então... estamos prontos?
CEDERJ 55
6
AULA
A etapa fotoquímica ou
fase clara da fotossíntese
Figura 6.1: Espectro eletromagnético. O olho humano é capaz de perceber apenas os comprimentos
de onda correspondentes ao espectro visível. A maior parte do espectro eletromagnético é invisível.
58 CEDERJ
MÓDULO 2
A radiação também pode ser vista como partículas chamadas
6
quanta ou fótons. A quantidade de energia é inversamente relacionada
AULA
ao comprimento de onda da luz.
Assim, um fóton de luz violeta tem duas vezes mais energia que
o fóton de luz vermelha.
A mesma parte do espectro que pode ser vista – a luz visível – é
também a radiação que dirige a fotossíntese. Azul e vermelho são os dois
comprimentos de onda mais eficientemente absorvidos pela clorofila
(Figura 6.2) e, portanto, as cores mais usadas como energia para as
reações da fotossíntese.
!
Não esqueça!
CH2
A quantidade de energia é
CH R
inversamente relacionada
CH CH3 ao comprimento de onda
H3C CH2 da luz.
N N
HC Mg CH
N N
H3C CH3
H
H2C H
CH2 H C O CLOROFILA a R = CH3
O C O O H
O CH3
CLOROFILA b R = C
CH2
O
CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3
C CH CH2 CH CH2 CH
CH3 CH3 CH3 CH3
CEDERJ 59
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
• Clorofila a
• Clorofila b
• β- Caroteno
• Ficoeritrina
• Ficocianina
Clorofila a
Absorção
- Caroteno
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700
violeta azul verde amarelo vermelho
60 CEDERJ
MÓDULO 2
COMO OS PIGMENTOS ESTÃO ORGANIZADOS?
6
Os pigmentos estão organizados na membrana tilacóide em
AULA
conjuntos de poucas centenas (~300) de moléculas de pigmentos. Essas
membranas são ricas em glicolipídios e contêm grande quantidade
de proteína. Os pigmentos estão ligados a algumas dessas proteínas.
Clorofilas também interagem com lipídios de membrana por suas caudas
hidrofóbicas.
Estes conjuntos de pigmentos e proteínas estão organizados em
fotossistemas. Existem dois fotossistemas na membrana tilacóide:
• Fotossistema I
• Fotossistema II
CEDERJ 61
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
Energia luminosa
Energia
Complexo redutora
antena Centro de
reação
Figura 6.4: A organização das moléculas de clorofila nos fotossistemas. A maioria das
moléculas de clorofila absorve luz e transfere a energia para o complexo antena,
também chamado molécula antena ou proteína antena.
62 CEDERJ
MÓDULO 2
Cada complexo antena possui aproximadamente 300 moléculas
6
de clorofilas.
AULA
A energia é absorvida pelo centro de reação e os elétrons da clorofila
passam de um estado fundamental para um estado excitado. Estes elétrons
de alta energia são então transferidos dos centros de reação para uma
cadeia de tranportadores até o NADP para formar o NADPH.
energia
Fóton
e-
Estado
fundamental
ee- -
e-
energia
Estado
excitado
energia
Molécula
aceptora de
elétrons e-
Figura 6.5: Seqüência de excitação do elétron da molécula aceptora pela luz solar.
CEDERJ 63
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
Fotossistema I - 700nm
Fotossistema II - 680nm
64 CEDERJ
MÓDULO 2
Em ambos os fotossistemas, a primeira etapa é a transferência do
6
elétron excitado pela luz do centro de reação para a cadeia de transporte
AULA
de elétrons.
A fonte desse elétron é a água, e o destino final é a molécula de
NADP+, que será reduzida a NADPH.
NADPH No cloroplasto
+
fóton NADP
fóton Elétron de baixa energia + luz = elétron de alta
Redutase
Ferredoxina
Estroma
-
e– e
Membrana PSII e–
PSI Figura 6.6: As reações luminosas da fotossíntese
tilacóide P680 Citocromo
Quinone P700 produzem ATP e NADPH. A energia requerida nesta
bf etapa é derivada da oxidação da água (fotólise). Em
plantas esse processo envolve dois centros de rea-
2 H2O e– ção fotossintéticos ligados em série por uma cadeia
plastocianina
Tilacoide O2 4H
+
2H
+ transportadora de elétrons. O fotossistema II (FSII)
usa energia luminosa para oxidar a água a O2 e então
Gradiente de passa os elétrons para o fotossistema I (FSI). No fotos-
prótons usados
para gerar sistema I o elétron é excitado novamente pela luz e
ATP
é usado para reduzir a ferredoxina. A ferredoxina
reduzida então reduz NADP+ a NADPH.
CEDERJ 65
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
Reação:
PQ PQH2
O OH
H3C H3C
CH3 H3C CH3
H3C
O CH3 CH3 CH3 OH CH3 CH3 CH3
A Cys S B C
S Fe S
Cys S S Cys S Cys
S Fe
Fe Fe S Fe
Cys S S Cys S Cys
S Fe S
Cys S
Figura 6.9: Ferredoxina. (A) complexo ferro-enxofre de uma proteína Fe2S2 - presente em ferredoxinas vegetais;
(B) complexo ferro-enxofre de proteínas Fe4S4 - presentes em ferredoxinas de bactérias; (C) estrutura tridimensional
de uma ferredoxina.
66 CEDERJ
MÓDULO 2
7. NADP redutase - último componente da cadeia
6
transportadora de elétrons, a NADP redutase é a enzima
AULA
que catalisa a reação:
e-
(P700)
Figura 6.10: Ferredoxina Fe4S4.
Fonte:http://www.life.uiuc.edu/
crofts/bioph354/4fe4s.html
Poder redutor
ferredoxina
Citocromo
o bf
(P700) e-
pc
2H+
Para o lúmen do
tilacóide
fóton
Figura 6.11: Transporte cíclico. Quando os níveis de NADPH são altos, os níveis
de NADP+ são baixos, e os elétrons na ferredoxina reduzida não têm para onde
ir. Nessas condições, a ferredoxina transfere seus elétrons para o citocromo bf,
onde eles serão transferidos novamente para a clorofila do fotossistema I. Este
processo é chamado transporte de elétrons cíclico e permite o bombeamento
de prótons e a síntese de ATP, mas não fornece NADPH.
CEDERJ 67
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
68 CEDERJ
MÓDULO 2
O fluxo não cíclico de elétrons
6
No caso do fluxo não cíclico de elétrons, os dois fotossistemas
AULA
cooperam. Elétrons passam da H2O para o NADP+ para formar
NADPH.
Como no fluxo cíclico, a luz excita um par de elétrons da clorofila
P700. Entretanto, os elétrons não retornam, mas são armazenados como
elétrons de alta energia na forma de NADPH. Este será utilizado na fase
escura como doador de elétrons para a síntese de carboidrato.
NADP+ NADPH
ADP + Pi ATP
1
H2O /2O2 + 1H+
(P660) (P700)
Poder redutor
Citocromo Ferredoxina
2H2O o bf
Redutase
e-
O2+4H+ e-
NADP+
(P660) (P700)
NADPH
fóton fóton
Figura 6.13: Fluxo não cíclico de elétrons na etapa fotoquímica da fotossíntese. Neste caso, ATP
e NADPH são formados.
CEDERJ 69
Bioquímica II | A etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese
A SÍNTESE DE ATP
Talo 50 A°
Outras superfícies
+
Canal transportador de H
70 CEDERJ
MÓDULO 2
RESUMO
6
AULA
Você viu nesta aula que a primeira etapa da fotossíntese transforma energia
luminosa em energia química, como ATP e NADPH. O evento mais importante, que
é a origem de todo o processo, é a fotólise da água. O pigmento chave, quando
se fala de fotossíntese, é a clorofila. Mas outros pigmentos podem absorver luz e
transferir a energia para a clorofila, que então iniciará as reações.
Na próxima aula você verá como ocorre a etapa química, ou ciclo de Calvin. É neste
ciclo que o CO2 será utilizado como matéria-prima para a síntese de moléculas
orgânicas, especialmente glicose. Lembre que os exercícios serão apresentados
no final do módulo. Portanto, não perca a visão geral da fotossíntese.
CEDERJ 71
7
AULA
O ciclo de Calvin ou
etapa química da fotossíntese
Bioquímica II | O ciclo de Calvin ou etapa química da fotossíntese
INTRODUÇÃO Na aula passada, nós falamos da etapa fotoquímica ou fase clara da fotossíntese.
Você viu como o oxigênio é produzido e ATP e NADPH são sintetizados e o
papel da luz do sol neste processo. Agora, vamos falar da etapa seguinte,
chamada etapa química ou ciclo de Calvin ou ainda fase escura da fotossíntese.
Antes, lembre-se de que você já viu, na aula 05, que na etapa química o CO2
atmosférico é fixado em carboidratos.
A estequiometria global do ciclo de Calvin é:
18 ATP 18 ADP + 18 Pi
UM POUCO DE HISTÓRIA
14
Açúcares, aminoácidos e
CO2 + células de algas em cultura
5 minutos outros compostos orgânicos
ou mais
14
Entretanto, se o tempo de incubação das algas com o CO2
era reduzido para cinco segundos, a análise do material sintetizado
mostrava que o primeiro composto radioativo estável formado era o
3-fosfoglicerato (3PG).
7 4 CEDERJ
MÓDULO 2
5 segundos 2 moléculas de
14
CO2 + células de algas em cultura
7
3-fosfoglicerato
AULA
CH2O P A análise do composto marcado com 14CO2 mostrava que ele era
C O inicialmente marcado no seu grupo carboxila. Calvin sugeriu que o 3PG
CHOH era formado pela carboxilação de um composto de dois carbonos. Este
CHOH composto foi, por muito tempo, procurado por vários pesquisadores, mas
CH2O P nunca encontrado. A reação de carboxilação que realmente ocorre envolve
Figura 7.1: Ribulose 1,5 uma pentose chamada ribulose 1,5-bisfosfato (RuBP).
- bisfosfato (RuBP).
O CICLO DE CALVIN
A molécula aceptora
de CO2 é a ribulose
A carboxilação de uma pentose tem como produto dois compostos
1,5-bisfosfato.
de três carbonos cada: as moléculas de 3-fosfogliceratos. A rota completa
envolve a carboxilação da pentose, a formação de carboidratos como
produto principal da via e a regeneração de RuBP. Para que isso ocorra,
existem várias reações catalisadas por diferentes enzimas.
Mas não esqueça, no ciclo...
CEDERJ 7 5
Bioquímica II | O ciclo de Calvin ou etapa química da fotossíntese
Figura 7.2: Estrutura tridimensional da RuBisCO. A. Esta enzima é composta por oito grandes subunidades e
nove subunidades menores. Esta imagem mostra quatro subunidades de cada tipo. Ela fixa CO2 catalisando
a reação da ribulose 1,5-bisfosfato com o CO2, produzindo duas moléculas de 3-fosfoglicerato. RuBisCO é a
proteína mais abundante do mundo. Esta abundância, assim como a fixação de CO2, é fundamental para todas
as formas de vida; B. Detalhe de A mostrando as subunidades maiores da RuBisCO que ligam o substrato da
enzima e íons magnésio.
CO2
2 moléculas de
Reação 1 Ribulose 1,5-bisfosfato 3-fosfoglicerato
CH2O P
CH2O P H C OH
C O CO2 COOH
OH C OH Rubisco
COOH
H C OH
H C OH
CH2O P
CH2O P
7 6 CEDERJ
MÓDULO 2
Após serem formadas, as duas moléculas de 3-fosfoglicerato são
convertidas a 1,3-bisfosfoglicerato (BPG), uma molécula duplamente
7
AULA
fosforilada. Esta reação é catalisada pela enzima fosfoglicerato quinase.
A reação de fosforilação requer a hidrólise de uma molécula de ATP para
cada BPG formado. Lembre que uma ribulose 1,5-bisfosfato, ao sofrer
carboxilação, foi capaz de gerar duas moléculas de 3-fosfoglicerato. Logo,
serão gastos 2 ATPs por ciclo.
Reação 2
ATP ADP
ATP ADP + Pi
O O
P O CH2 CH C P O CH2 CH C
O— O P
OH OH
!
Você lembra, das aulas de Bioquímica I, o que fazem as enzimas denominadas
desidrogenases?
Reação 3
NADPH NADP+
O O
P O CH2 CH C O CH2 CH C
P
O P H
OH OH
CEDERJ 7 7
Bioquímica II | O ciclo de Calvin ou etapa química da fotossíntese
2 6
Gliceraldeído 3P ou
Frutose-6P Frutose-6P (ou DHP)
Gicose 1P
Figura 7.3: Resumo das reações do ciclo de Calvin. O ciclo ocorre para cumprir duas funções: uma é a síntese
de glicose e outras moléculas orgânicas; a outra é a regeneração da ribulose 1,5-bisfosfato, molécula essencial
para reiniciar o ciclo.
7 8 CEDERJ
MÓDULO 2
PRODUÇÃO DE GLICOSE
7
Seis moléculas de CO2 podem gerar doze moléculas de gliceraldeído
AULA
3-fosfato (G3P). As doze moléculas de gliceraldeído-3-fosfato podem seguir
vários destinos diferentes e, portanto, ser substrato para a síntese de muitas
outras moléculas orgânicas ou regenerar o aceptor inicial de CO2 (ribulose
1,5-bisfosfato).
Duas dessas moléculas de G3P são utilizadas para produzir uma
Figura 7.4: Algas fotossin- glicose-fosfato (via gliconeogênese), e as outras dez são usadas para
tetizantes. Fonte: http: //
old.jccc.net/~pdecell/photosyn/ regenerar as seis moléculas iniciais de ribulose 1,5-bisfosfato. Estas são
photoframe.html
necessárias para ligar outras seis moléculas de CO2 e reiniciar o ciclo.
Das dez G3P envolvidas na regeneração da RBP, quatro formarão duas
moléculas de frutose 6-fosfato.
Muitas das reações do ciclo de Calvin são comuns à via das pentoses-
fosfato (Aula 20). As duas moléculas de frutose 6-fosfato reagem com 6
G3P. Gliceraldeído 3P pode ainda ser isomerizado a dihidroxiacetona-
fosfato (DHAP). As enzimas transcetolase, aldolase, fosfatase e outra
transcetolase geram intermediários combinando G3P e DHAP. Estes
intermediários incluem xilulose 5-fosfato e ribulose 5-fosfato. A ribulose
5P pode ser convertida a ribulose 1,5-bisfosfato, cuja reação requer um
ATP por molécula convertida. A conversão de seis moléculas de ribulose
1,5-bisfosfato, necessárias para fixar 6 CO2, requer seis moléculas de
ATP. A síntese de uma molécula de glicose requer dezoito ATPs e doze
NADPHs.
Assim, o gliceraldeído 3-P, um dos produtos mais importantes
da fotossíntese, é usado em uma grande variedade de rotas metabólicas,
tanto dentro como fora do cloroplasto. Como você viu, ele pode, por
! exemplo, ser convertido a frutose 6-fosfato. A frutose 6-fosfato pode ser
A síntese do
glicogênio convertida a glicose 1-fosfato pela ação da fosfoglicose isomerase e pela
você verá nas
Aulas 26 e 27.
fosfoglicomutase. A glicose 1-fosfato é uma molécula importante, pois é
precursora de carboidratos complexos característicos de vegetais. Entre eles
destaca-se a sacarose, o principal açúcar de transporte para fornecimento
de carboidratos para células não fotossintetizantes; o amido, o principal
polissacarídeo de reserva; e a celulose, o principal componente estrutural
O de paredes celulares. Na síntese de todas essas substâncias, a glicose 1-P é
P O CH2 CH C
H ativada pela formação de ADP-, CDP-, GDP- ou UDP-glicose, dependendo
OH
da espécie e da via metabólica. A unidade de glicose é, então, transferida
Gliceraldeído-3P
para o terminal não redutor de uma cadeia crescente de polissacarídeo,
Figura 7.5
como ocorre na síntese do glicogênio.
CEDERJ 7 9
Bioquímica II | O ciclo de Calvin ou etapa química da fotossíntese
1) 2X Gliceraldeído 3P 2Dihidroxicetona P
2X 3C 2X 3C
8) Ribulose 5P Ribulose 5P
5C 5C
9) 2 Xilulose 5P 2 Ribulose 5P
2X 5C 2X 5C
8 0 CEDERJ
MÓDULO 2
TRANSPORTE DE TRIOSES FOSFATO
7
As trioses fosfato (3-fosfoglicerato, 1,3-bisfosfoglicerato, gliceraldeído
AULA
3-fosfato, dihidroxiacetona-fosfato) são críticas para o metabolismo de
açúcares em plantas. No estroma do cloroplasto, as trioses fosfato são
usadas como substrato para a gliconeogênese (síntese de glicose).
+
ATP ADP NADH NAD
ATP
Pi
ADP
1,3BPG G3P DHAP
Estroma do
cloroplasto
NADPH NADP+
!
Síntese de sacarose – a reação de UDP-glicose com frutose 6P é catalisada pela
enzima sacarose 6P sintase.
CEDERJ 8 1
Bioquímica II | O ciclo de Calvin ou etapa química da fotossíntese
HOCH2 HN
H O H
H O O N
UDP-Glicose HO
OH H
O O P O CH2
O
H OH O— O— O
H H
H H
OH OH
HOCH2
OH
Frutose 6-P H HO
HO CH2OPO32 —
OH H
Figura 7.7: ATP e NADPH podem ser transferidos do cloroplasto para o citoplasma da célula vegetal por trans-
portadores específicos. Estas moléculas são usadas no citoplasma como fonte de energia e equivalentes redutores
para converter as trioses fosfato em sacarose, que é transportada através do sistema circulatório do vegetal para
tecidos não fotossintéticos (como as raízes) onde será usada no metabolismo energético.
RESUMO
Nesta aula, você viu que as reações da fase escura usam ATP e NAPH produzidos
na fase clara para realizar a síntese de carboidratos a partir de CO2. O primeiro
evento do ciclo de Calvin é a fixação do CO2 através de sua reação com a ribulose
1,5-bisfosfato para formar, em última análise, duas moléculas de gliceraldeído
3P (GAP). As reações remanescentes do ciclo regeneram o aceptor inicial de
CO2, ribulose 1,5-bisfosfato. A próxima aula será a última do módulo, e nela
falaremos de fotorrespiração e regulação da fotossíntese. Finalmente, teremos
também os exercícios e auto-avaliação do módulo. Vamos então à Aula 8.
8 2 CEDERJ
8
AULA
Outros aspectos
importantes da fotossíntese
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
Fotorrespiração
84 CEDERJ
MÓDULO 2
RuBisCO Desta forma, a enzima inicia a via
O2 CO2
8
Ribulose conhecida como fotorrespiração, onde a
- -bisP
1,5
AULA
Ciclo de ribulose 1,5-fosfoglicerato é convertida a
Calvin Cloroplastos
fosfoglicolato 3 PG fosfoglicolato (Figura 8.2).
ADP
P1
ATP
Glicolato Glicerato
O2 Peroxissomas
H2O2 (microcorpos)
Glioxilato Serine
Glicina
Glicina Serine
Mitocôndrias
CO2+NH3
CEDERJ 85
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
Plantas C4
!
Para plantas C4, ver também:
http://www.icb.ufmg.br/prodabi/grupo5/Photosynthesis/c4/c4.html
Explore a página: tem muita coisa legal sobre fotossíntese.
86 CEDERJ
MÓDULO 2
8
AULA
CO2
Co2
Pi COO
CH2
PEP
carboxilase C O
COO
Oxaloacetato
-
+ COO
NADPH+H
CH2 Células da bainha
+
CH2 H C OH Malate NADP
2 +
C O PO3 NADP COO
Malate
COO
fosfoenolpiruvato Ch3
NADPH Ciclo
C O piruvato + de
CO2 Calvin
AMP+PPi ATP+P
Pii COO-
Plantas CAM
Regulação da fotossíntese
CEDERJ 87
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
citoplasma
Ferredoxina Ferredoxina
Lúmen reduzida oxidada
– Figura 8.4: Regulação da
do 2e+
tilacóide 2H fotossíntese. Os níveis de
prótons e Magnésio no
+ 2+ Tioredoxina SH S Tiorredoxina estroma do cloroplasto
H Mg reduzida oxidada
SH S modulam a atividade da
+ –
Estroma do [H ] 2e+ RuBisCO. O estado redox
cloroplasto 2+ 2H das enzimas do ciclo de
[Mg ] Calvin é outro importante
Enzimas do ciclo
SH S Enzimas do ciclo
Ativação da de calvin reduzidas de calvin oxidadas mecanismo de regulação
(ativas) SH S
RuBisCO (inativas) das enzimas.
88 CEDERJ
MÓDULO 2
Tecnicamente, células verdes são a única parte autotrófica da
8
planta. O resto da planta depende de moléculas orgânicas exportadas
AULA
pelas folhas nos sistemas vasculares. Na maioria das plantas, carboidratos
são transportados das folhas na forma de sacarose, um dissacarídeo
(Figura 8.5). Quando chega às células não fotossintetizantes, a sacarose
é usada na respiração celular e em uma grande variedade de vias
anabólicas. Uma considerável parte da glicose é usada para produzir
celulose. Celulose é a molécula orgânica mais abundante na planta e
provavelmente na superfície do planeta.
CH2OH
O HOCH2
H H O H
H
OH H
1 + 2 H HO
HO O UDP HO CH2 O P
H OH OH H
UDP-glicose Frutose-6-fosfato
UDP Sacarose 6-
fosfato sintase
CH2OH
O HOCH2
H H O H
H
1 2
OH H H HO
HO CH2 O P
O
H OH OH H
Sacarose 6-fosfato
Sacarose 6-
Pi fosfato fosfatase
CH2OH
O HOCH2
H H O H
H
1 2
OH H H HO
HO CH2OH
O
H OH OH H
Figura 8.5: Síntese de sacarose
a partir de UDP-glicose. Sacarose
O excesso de glicose é usado na síntese de amido que é estocado em folhas (no próprio
cloroplasto) e em células de armazenagem como raízes, tubérculos e frutos. Isto tudo é substrato
oxidativo para heterotróficos, incluindo humanos.
Nenhum outro processo químico na Terra tem essa produtividade e nenhum é mais impor-
tante para a manutenção da vida no planeta.
CEDERJ 89
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
RESUMO
90 CEDERJ
MÓDULO 2
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
8
AULA
1. O que é fotossíntese?
c) No fotossistema I, o elétron é outra vez excitado pela luz e é usado para reduzir
a ferredoxina. ( )
a) produção de ATP;
e) formação de NADPH.
CEDERJ 91
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
8. Por que nossos olhos detectam como verde estruturas contendo clorofila?
10. As plantas C3 e C4 são mantidas juntas numa caixa selada e iluminada, a planta
C4 viceja, enquanto a planta C3 adoece e, eventualmente, morre. Explique.
1. O que é fotossíntese?
É a via metabólica de síntese de glicose a partir de CO2 e H2O que ocorre em células
especializadas com energia derivada do sol (energia luminosa).
c) No fotossistema I, o elétron é outra vez excitado pela luz e é usado para reduzir
a ferredoxina ( ).
92 CEDERJ
MÓDULO 2
4. Quando a cadeia transportadora de elétrons está em pleno funcionamento, o
8
pH do lúmen do tilacóide será menor que (maior que, menor que ou igual a) o
AULA
pH do estroma.
a) produção de ATP.
e) formação de NADPH.
8. Por que nossos olhos detectam como verde estruturas contendo clorofila?
Para responder, veja a ordem dos intermediários do ciclo de Calvin e observe suas
estruturas. Nem todas são mostradas na aula. Pesquise nos livros de bioquímica
do pólo.
CEDERJ 93
Bioquímica II | Outros aspectos importantes da fotossíntese
Discuta com seus colegas e seu tutor, procure nos livros, siga a pista dada para a
pergunta anterior.
10. As plantas C3 e C4 são mantidas juntas numa caixa selada e iluminada; a planta
C4 viceja, enquanto a planta C3 adoece e eventualmente morre. Explique.
94 CEDERJ
9
AULA
A história da fermentação:
do início aos dias de hoje
Bioquímica II | A história da fermentação: do início aos dias de hoje
96 CEDERJ
MÓDULO 3
Suas receitas foram publicadas em um livro (Figura 9.1), considerado
9
por muitos como o primeiro livro de Bioquímica.
AULA
Hoje o processo fermentativo é amplamente
conhecido e mundialmente utilizado em escala !
industrial. A cerveja é um exemplo de produto obtido Acesse http://perso.magic
. f r / o r m e r r y /
a partir deste processo, onde o organismo fermentador newindex.html para
saber mais sobre Nicolas
é uma levedura. Appert e suas importantes
contribuições para a
indústria de alimentos.
A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA DA FERMENTAÇÃO NA e http://members.nbci
.com/_XMCM/cervas/
HISTÓRIA DA BIOQUÍMICA fabricacao.htm) se você
quer saber mais sobre
Com base no livro de Mr. Appert, um físico-químico da época como se fabrica cerveja.
CEDERJ 97
Bioquímica II | A história da fermentação: do início aos dias de hoje
SOLUÇÃO DO SEGREDO DA
FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA
98 CEDERJ
MÓDULO 3
Essa passagem mostra que havia uma forte resistência à idéia s/O2
c/O2 produzido
9
de que a fermentação era um processo biológico que dependia do
AULA
metabolismo dos “glóbulos” observados por Pasteur. Ao contrário,
Liebig e boa parte da comunidade científica da época acreditavam
que a fermentação era, na verdade, um processo meramente químico,
c/O2
CEDERJ 99
Bioquímica II | A história da fermentação: do início aos dias de hoje
Pense
ficar famoso.”
sobre isso!
Que conseqüências os resultados acima proporcionaram à teoria
Vitalista de Pasteur e à pesquisa bioquímica?
100 CEDERJ
MÓDULO 3
A FERMENTAÇÃO E A VIA GLICOLÍTICA
9
Paralelamente à descoberta dos irmãos Büchner, de
AULA
que a fermentação ocorria mesmo na ausência de vida,
Arthur Harden e William John Young, dois pesquisadores
ingleses, foram contratados por uma fábrica de cerveja para
estudar a fermentação.
Em 1903, eles estabeleceram a relação de 1:1 entre gás Figura 9.6: Uma placa de estrada
na Inglaterra anunciando Young e
carbônico e etanol produzidos pela fermentação do açúcar. Harden. Para onde esses dois levaram
a Bioquímica?
Utilizando o extrato de levedura na presença de glicose e
medindo a produção de CO2, eles observaram que a fermentação ocorria
durante algum tempo, sendo porém interrompida após certo período.
Eles observaram também que a fermentação alcoólica da glicose,
por suco de levedura (o extrato de levedura dos irmãos Büchner), era
muito aumentada pela adição de mais suco de levedura, o qual tinha sido
previamente fervido e filtrado. Este líquido fervido, por si só, era incapaz
de fermentar quando em presença de glicose. Observe o Gráfico 9.1. Ele
representa o andamento da fermentação ao longo do tempo.
1200 B
1100
Dióxido de carbono
1000
900
800
700
600
500
400
300 A
200
100
0 DIÁLISE
Diálise é um
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 procedimento através
do qual se separam
Tempo em horas moléculas grandes de
moléculas pequenas.
Gráfico 9.1: Medida de dióxido de carbono em função do tempo de fermentação. A diálise baseia-se na
Curva A: na presença de 25 mL de suco de levedura + 25 mL de água + 5g de glicose; capacidade de estas
Curva B: na presença de 25 mL do mesmo suco de levedura que na curva A + 25 mL moléculas atravessarem
de suco de levedura fervido + 5g de glicose. os poros de uma
Pense membrana.
sobre isso! O limitante, então, será
O que sugere esse resultado? o tamanho, ou seja,
Harden e Young submeteram o suco de levedura fervido à DIÁLISE moléculas pequenas
passam e moléculas
e assim separaram duas frações distintas (Tabela 9.1). Uma fração era grandes não passam
pelos poros. Para que
composta de moléculas pequenas que passaram pela membrana de diálise. esta seletividade seja
eficiente, você pode
Outra fração era composta de moléculas grandes, que não passaram na
imaginar o tamanho que
membrana de diálise e, portanto, foram chamadas resíduo. estes poros devem ter?
CEDERJ 101
Bioquímica II | A história da fermentação: do início aos dias de hoje
2 25 0 0 0 48 0,154
0 0 0 25 48 0,251
Pense
sobre isso!
Levando-se em consideração os resultados, que característica
teria, então, o ativador da fermentação?
102 CEDERJ
MÓDULO 3
Gráfico 9.2: Efeito da adição de fosfato na
130 fermentação.
9
120 C Mistura da reação: 25 mL de suco de levedura
AULA
110 + 20 mL de água + 5 g de glicose.
Dióxido de carbono
Tempo em minutos
Pense
sobre isso!
Qual seria então o destino do fosfato inorgânico?
Utilizando um sal de prata, Harden e Young foram capazes de
isolar, por precipitação, um composto fosforilado com seis carbonos
(6C) e dois fosfatos, e identificaram como sendo frutose-1,6-bisfosfato,
denominado Éster de Harden e Young, o primeiro intermediário da via
glicolítica identificado. Na época, os autores ficaram em dúvida se o
composto era uma hexose difosfatada ou duas trioses monofosfatadas. Pense
sobre isso!
Como você faria para provar que este composto realmente
participa do processo fermentativo?
A seguir, Otto Meyerhoff, um pesquisador alemão, trabalhando
com músculo de rã, peito de pombo e de coelho, mostrou que o músculo
se contraía na ausência de oxigênio e isso resultava na produção de
ácido lático.
Esse processo pode ser ativado por duas frações do extrato de
músculo, uma termossensível (fração sensível ao calor, também chamada
zimazes) e outra termorresistente (fração insensível ao calor, chamada
cozimazes). Mas este não foi o único paralelo entre a fermentação da
levedura e os músculos do pombo: Meyerhoff testou Pi nos músculos
e obteve os mesmos resultados de Harden e Young. Assim, sabendo
que a glicose é consumida pelo extrato de levedura na fermentação,
resultando em etanol e dióxido de carbono, e que a adição de glicose em
macerados de músculo de coelho resultava no aparecimento de lactato,
Otto Meyerhoff levantou a possibilidade de as proteínas envolvidas nos
dois processos serem também semelhantes. Pense
sobre isso!
Que experiência você faria para testar esta hipótese?
CEDERJ 103
Bioquímica II | A história da fermentação: do início aos dias de hoje
DROGA EFEITO
1. Fluoreto de sódio Acúmulo de 2-fosfoglicerato e a
seguir 3-fosfoglicerato.
2. Cloro-acetal-fosfato (CAP) Acúmulo de dihidroxicetona fosfato e
frutose 1,6-bisfosfato.
3. Iodoacetato Um súbito acúmulo de gliceraldeído
1,3-bisfosfato seguido do seu rápido
desaparecimento e de um grande
acúmulo de frutose 1,6- bisfosfato.
Pense
sobre isso!
A partir destes dados, deduza as possíveis etapas envolvidas na
degradação da glicose.
104 CEDERJ
MÓDULO 3
intermediários e D é o produto final.
9
AULA
Se um determinado inibidor interrompe a reação B D, qual
dos intermediários será acumulado? O que não será mais produzido?
Utilize esta lógica para cada uma das linhas da tabela e encontre
as reações isoladamente.
CEDERJ 105
10
AULA
Glicólise: oxidação
de glicose a piruvato I
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato I
INTRODUÇÃO Na aula anterior, você conheceu a história da Glicólise e soube como se chegou
ao conhecimento disponível sobre esta via metabólica. Agora podemos falar um
pouco mais sobre ela, suas funções, seus intermediários, enzimas, cofatores etc.
Essa é uma via importante, pois a glicose (que você já conhece da Bioquímica I)
é, quantitativamente, o principal substrato oxidável na maioria dos seres vivos:
dos microorganismos ao homem. A glicólise é a principal via para a utilização da
glicose e ocorre no citosol da maioria das células, sendo considerada, portanto,
uma via universal. Ela pode ocorrer se o oxigênio estiver disponível (aerobiose)
ou na total ausência dele (anaerobiose).
Esquema 10.1
108 CEDERJ
10 MÓDULO 3
A GLICOSE COMO INDICADOR METABÓLICO
AULA
na glicemia são indicadores do estado fisiológico do organismo.
Assim, quando a glicemia está baixa (hipoglicemia), as células têm
um comportamento metabólico distinto daquele que ocorre quando a
glicemia está alta (hiperglicemia).
Hiperglicemia indica um estado fisiológico de fartura e, portanto,
de armazenamento ou biossíntese (anabolismo – como você viu nas aulas
de introdução ao metabolismo).
Hipoglicemia indica um estado fisiológico de privação, mesmo
que momentânea, e as células respondem derivando seu metabolismo
para a degradação (catabolismo).
Os níveis sangüíneos de glicose são mantidos dentro de uma
faixa estreita, graças a diferentes vias metabólicas de síntese de glicose
(gliconeogênese) ou armazenamento de glicose na forma de glicogênio
(glicogenogênese), em contraposição a vias de oxidação de glicose
(glicólise). Esse processo, que procura manter os níveis de glicose no sangue
constantes, chama-se homeostase e é finamente regulado por hormônios.
Pequenas variações nesse nível indicam, para as células, o que fazer.
Glicogênio – um
polímero de glicose.
Gliconeogênese ou neo-
glicogênese – síntese de
Glicose glicose a partir de precur-
sores não glicídicos.
Glicogenogênese – sín-
tese de glicogênio.
Glicólise e ciclo Via das
Fotossíntese Gliconeogênese Glicólise – quebra da
de Krebs pentoses-
glicose.
fosfato
Glicogenólise – quebra
do glicogênio.
CEDERJ 109
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato I
O OH OH
NH 2
N
O P O- N Adenina
N N
O CH2 O
H H
H H
OH OH -
NAD+
(oxidado)
Figura 10.3: Nicotinamida adenina dinucleotídeo – NAD. O NAD pode estar na sua
forma oxidada NAD+ ou na sua forma reduzida NADH.
Para que esta via ocorra, existem etapas que consomem energia
(através da hidrólise de ATP - Figura 10.4): etapas endergônicas, onde a
molécula de glicose é preparada para ser clivada; e etapas que sintetizam
ATP: etapas exergônicas, onde moléculas de ATP são formadas a partir
da energia liberada durante o processo oxidativo.
fosfoéster
NH 2
Ligações Figura 10.4: Adenosina
fosfoanidras N
N trifosfato – ATP. Em
destaque, a ligação
N
fosfoéster entre a
O O O N adenosina e o fosfato e
as ligações fosfoanidras,
O P O P O P O
g b a CH2 O entre fosfatos.
O O O H H
H H
OH OH -
Adenosina
AMP
ADP
ATP
110 CEDERJ
10 MÓDULO 3
No processo completo, associando-se consumo e formação de
ATP, temos um saldo líquido de duas dessas moléculas. Vale ressaltar
AULA
que, na realidade, conservamos parte da energia liberada nesse processo
oxidativo na formação de ligações éster–fosfato (ligações ricas em energia)
entre a molécula de ADP e fosfato inorgânico (Pi). Uma visão geral deste
processo é apresentada na Figura 10.5.
Como produtos desta via temos, além de ATP e NADH, duas
moléculas de piruvato. O destino deste piruvato depende da célula e da
presença ou ausência de oxigênio, como veremos mais adiante.
2 piruvato
Lactato CO2
2+ Etanol
H2
2O + CO2
2
CEDERJ 111
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato I
112 CEDERJ
10 MÓDULO 3
Esta reação é dependente de energia, sendo, portanto, acoplada à
clivagem de uma molécula de ATP e é catalisada pela enzima hexoquinase.
AULA
(Figura 10.6).
a b
Figura 10.6: Hexoquinase e seu mecanismo de ação. A seta indica o substrato (glicose)
em (a) se aproximando do sítio ativo. Em (b) a mudança conformacional induzida pela
ligação do substrato (fit induzido).
CEDERJ 113
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato I
114 CEDERJ
10 MÓDULO 3
Reação 3: Frutose 6P Frutose 1,6-bisfosfato
O O O
AULA
6 6 1
- O P O CH 1 - O P O CH CH 2 O P O-
2 O ATP ADP 2 O
- CH 2 OH
O- O-
2+
O 5 Mg 5
H HO 2 H HO 2
H OH H OH
4 3 4 3
OH H OH H
frutose 1,6-bisfosfato
Frutose 6-fosfato
Gº = -14,2 kJ/mol
Figura 10.7: Fosfofrutoquinase (PFK). A PFK é uma enzima chave da glicólise. Preste atenção nas
características da enzima e da reação que ela catalisa. Esta reação é um importante ponto de
regulação da via, como veremos na próxima aula.
O O O H
6
O
O P O CH 2 CH 2 O P O- C
O CH 2 O P O-
O O- HCOH O
5
H HO 2 C O O- +
H OH aldolase CH 2 O P O-
4 3
C H2 OH
OH H O-
Dihidroxiacetona Gliceraldeído
Frutose 1,6-bisfosfato 3-fosfato 3-fosfato
CEDERJ 115
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato I
C O O HCOH O
CH 2 O P O-
Triose fosfato CH 2 O P O-
isomerase
O- O-
Dihidroxiacetona Gliceraldeído
fosfato 3-fosfato
116 CEDERJ
10 MÓDULO 3
AULA
Clivagem de um
açúcar-fosfato de seis
carbonos em dois
açúcares- fosfato de
três carbonos.
CEDERJ 117
11
AULA
Glicólise: oxidação
de glicose a piruvato II
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
INTRODUÇÃO Nesta aula continuaremos a falar da glicólise. Dessa vez, exploraremos a etapa
de pagamento ou de síntese de ATP. Lembre-se de que:
• Na primeira fase, dois ATPs foram hidrolisados para fosforilar a molécula
de glicose.
• Os produtos da primeira fase são duas moléculas de gliceraldeído 3P, um
açúcar fosforilado de três carbonos.
É daí que partiremos agora. Recorde-se de que, com uma molécula de glicose,
duas moléculas de gliceraldeído 3P são geradas e, portanto, a partir delas, duas
moléculas de todos os intermediários são produzidas também.
O
–
Reação 6: O H + + + O O P O
NAD NADH + H
C O C –
– O
HCOH + HO P O HCOH
2– – Gliceraldeído 2–
CH2OPO3 O 3-fosfato CH2OPO3
desidrogenase
Gliceraldeído Fosfato 1,3
3-fosfato inorgânico Bifosfoglicerato
bifosfoglicerato
120 CEDERJ
11 MÓDULO 3
Parte da energia que foi liberada no processo oxidativo
(transformação de gliceraldeído em glicerato) foi conservada na formação
AULA
de uma molécula de 1,3-BISFOSFOGLICERATO, que possui, então, um potencial 1,3 - B I S F O S F O G L I -
CERATO
energético maior do que o G3P. Nesta reação, uma molécula de NAD+
É a primeira
é reduzida a NADH + H+. Esta é uma reação típica, catalisada por uma molécula de alta
classe de enzimas denominadas desidrogenases ligadas ao NAD+. energia formada
na glicólise.
Na etapa seguinte, a energia conservada na molécula de 1,3-
bisfosfoglicerato (BPG) será utilizada na formação de uma molécula de
ATP (ligação éster-fosfórica entre ADP + Pi), sendo o BPG convertido,
então, em 3-fosfoglicerato (3PG).
Reação 7:
–
O
–
O P 2+ – O P O
Mg O O
–
O O P O + P C + P
C –
O fosfoglicerato
P
O quinase HCOH
HCOH 2–
Rib Adenina CH2OPO3 O
2–
CH2OPO3 ADP 3–fosfoglicerato Rib Adenina
1,3 ATP
bifosfoglicerato DG´0 = –18,5 kJ/mol
CEDERJ 121
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
Reação 8:
— —
O O O O
C C O
Mg2+ —
HC OH O HC O P O
— fosfoglicerato —
CH2 O P O mutase CH2 OH O
—
O 2-fosfoglicerato
3-fosfoglicerato G´°= 4,4 kJ/mol
Reação 9: O O- O O-
H2O
C O C O
H C O P O- C O P O-
enolase
HO CH 2 O - CH 2 O-
2-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato
fosfoenolpiruvato
G´º= 7,5 kJ/mol
–
– O
O O O O
–
C O P 2+ + C O P O
– Mg , K
C O P O + P C O + P
– Piruvato
Ch2 O O quinase Ch3 P
Fosfoenolpiruvato Rib Adenina Piruvato O
Rib Aden
ATP
122 CEDERJ
11 MÓDULO 3
Devemos lembrar que, nesse segundo estágio, partimos de duas
moléculas de gliceraldeído 3P e, portanto, duas moléculas de piruvato,
AULA
duas de NADH + H+ e quatro moléculas de ATP foram formadas. Ao
calcularmos o rendimento energético em termos de formação de ATPs,
veremos que foram gastas duas moléculas no primeiro estágio da via e
que foram ressintetizadas quatro moléculas, ou seja ocorreu formação
líquida de duas moléculas de ATP (Figura 11.1).
!
Fase de pagamento
Conversão oxidativa de
gliceraldeído 3-fosfato
em piruvato e a formação
acoplada de ATP e NADH.
CEDERJ 123
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
Fermentação lática
Fermentação alcoólica
piruvato acetaldeído
piruvato
descarboxilase
acetaldeído etanol
álcool
desidrogenase
124 CEDERJ
11 MÓDULO 3
2o destino – Quando em condições aeróbicas, o piruvato é
transferido para as mitocôndrias e, após conversão em acetil-Coenzima A
AULA
(Acetil-CoA), é oxidado em CO2 no ciclo do ácido cítrico. Os equivalentes
do NADH + H+ produzidos na via glicolítica são também levados para
as mitocôndrias, onde serão transferidos para aceptores específicos,
em um processo que veremos mais tarde e que é denominado cadeia
transportadora de elétrons.
!
Enzimas chaves da via glicolítica:
HEXOQUINASE FOSFOFRUTO-
QUINASE PIRUVATO QUINASE
CEDERJ 125
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
RESUMO
126 CEDERJ
11 MÓDULO 3
Nas três últimas aulas, você conheceu uma das vias metabólicas
mais importantes do metabolismo energético. Não perca de vista a
AULA
totalidade dessas aulas, pois, mais importante que saber detalhes da via
metabólica, é a compreensão do seu sentido fisiológico, ou seja, para
que ela serve. Isso vai orientar você quanto ao que precisar ser fixado
realmente. Não deixe de entender os conceitos de máxima economia, de
moléculas de alta energia, de acoplamento entre reações. Tais conceitos
são universais quando se trata de Bioquímica e entendê-los facilita a
compreensão dessa e de cada uma das outras vias metabólicas que você
verá na Bioquímica II.
O próximo módulo chama-se respiração celular. Ele fala das vias
complementares à glicólise que ocorrem na presença de oxigênio (ciclo
de Krebs ou ciclo do ácido cítrico e cadeia transportadora de elétrons).
Portanto, não esqueça que a glicólise também é parte desse processo.
EXERCÍCIOS
b) duas moléculas de piruvato são formadas por cada molécula de glicose que entra
na via;
CEDERJ 127
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
a) aldolase;
b) enolase;
c) piruvato carboxilase;
d) piruvato quinase.
a) requer ATP;
a) libera energia;
128 CEDERJ
11 MÓDULO 3
7 . Com relação ao processo de fermentação alcoólica (etanólica), podemos dizer que:
a) as reações da glicólise são diferentes daquelas que ocorrem nos organismos que
AULA
produzem lactato;
d) grandes quantidades de oxigênio são necessárias para que tal processo ocorra.
9. Como você explicaria a existência de uma mesma via metabólica presente desde
os microorganismos até os seres mais complexos que conhecemos?
10. Você reparou que todos os compostos da via glicolítica, exceto a molécula
de piruvato, encontram-se fosforilados? Pense/especule sobre uma razão
para este fato.
CEDERJ 129
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
b) duas moléculas de piruvato são formadas por cada molécula de glicose que
entra na via; CORRETA
a) enolase;
b) aldolase;
d) piruvato quinase.
130 CEDERJ
11 MÓDULO 3
4. A conversão de gliceraldeído 3P a 1,3-bisfosfoglicerato:
AULA
b) é inibida por frutose-1,6 bisP;
a) libera energia;
a) as reações da glicólise são diferentes daquelas que ocorrem nos organismos que
produzem lactato;
d) grandes quantidades de oxigênio são necessárias para que este processo ocorra.
CEDERJ 131
Bioquímica II | Glicólise: oxidação de glicose a piruvato II
9. Como você explicaria a existência de uma mesma via metabólica presente desde
os microorganismos até os seres mais complexos que conhecemos?
10. Você reparou que todos os compostos da via glicolítica, exceto a molécula
de piruvato, encontram-se fosforilados? Pense/especule sobre uma razão
para este fato.
132 CEDERJ
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