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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROF: CLEBER DE DEUS/ SARA EPITÁCIO
DISCIPLINA: CIÊNCIA POLÍTICA
CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL

AVALIAÇÃO DE CIÊNCIA POLÍTICA:

Estado, poder e política segundo os pensamentos de Hobbes, Locke, Rousseau e


Norberto Bobbio

Renée Barbosa Moura

Teresina, dezembro de 2009


Estado, poder e política segundo os pensamentos de Hobbes, Locke,
Rousseau e Norberto Bobbio

Renée Moura1

1. Estado e Poder em Bobbio

Em Estado, governo, sociedade: Para uma teoria geral da política 2, o cientista


político Norberto Bobbio traz diversas análises comparativas que são fundamentais
para o entendimento das relações entre Estado e poder, dentro da concepção
política de governo.
Bobbio se utiliza várias vezes da contraposição entre a teoria sociológica
conhecida como funcionalismo e o marxismo para esclarecer de que forma se dão
muitas das dinâmicas que estimulam a vida política do Estado. Contudo, é na teoria
dos sistemas que podemos obter os melhores resultados da junção daquelas duas
teorias. Ao pensar o Estado como uma representação sistêmica dos interesses
individuais é possível perceber o poder como principal estímulo e resposta utilizado
pelas instituições políticas para promover sua dinâmica.
Seguindo essa lógica, O Estado responderia à sociedade através de medidas
que se relacionem às demandas originárias do corpo social, culminando numa nova
realidade, composta por novas demandas, dentro de um processo contínuo de
estímulo-resposta.
Bobbio afirma que inicialmente o Estado representava a figura mor da
sociedade e que a partir dele se desenvolviam as demais associações – como a
família, por exemplo. Com o passar dos séculos – e com a validação da sociologia
enquanto ciência –, há uma inversão dessa lógica e o Estado passa a ser avaliado
como um subsistema da sociedade.
O autor ainda adverte que, como advento e fortalecimento dos preceitos que
regem os direitos naturais – os quais defendem o indivíduo sob uma ótica singular e
não mais coletiva – a sociedade política passa então a não mais seguir uma
hierarquia instransponível, de cima para baixo, mas sim, passa a ser vista de baixo
para cima.
1
Graduanda do quinto período do curso de Comunicação Social – Hab. Jornalismo da Universidade
Federal do Piauí.
2
BOBBIO, Norberto. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
A partir desse ângulo, Bobbio define o fenômeno do poder como o ponto em
comum entre Estado e política. Tal poder é comparável, segundo o filósofo, com o
poder paterno – cumprido no mérito do filho – senhorial – no interesse do senhor – e
político, no interesse tanto dos sujeitos governantes, quanto governados. Aliados a
essas formas de poder, coexistem os poderes ideológico e econômico, que
funcionam como segregadores sociais, isto é, dividem a sociedade em inferiores e
superiores, acarretando noções inerentes a cada um dos lados – como, por
exemplo, as noções de riqueza e pobreza, força e fraqueza.
O poder político consistiria na forma coativa como se impõe a vontade de seu
detentor (o Estado), através prevalência dessa vontade por intermédio do argumento
da legitimidade. O fundamento dessa legitimidade se dá em razão de critérios como
a vontade, a natureza ou a história.
Para validar o poder político, o Estado usa como suporte as normas, que
surgem, teoricamente, a partir de um acordo ideológico entre governo e sociedade.
É a partir desse quadro normativo do Estado que Bobbio pondera, como autônomos
ou democráticos e heterônomos ou autocráticos, os ordenamentos jurídicos da
sociedade.

2. Max Weber e o Estado Moderno

2.1. Legitimação do poder segundo Weber

Max Weber distingue basicamente três tipos de dominação legítima: a


tradicional, a carismática e a racional legal. A primeira tem como sustentáculo o
tradicionalismo e baseia-se na crença da santidade de costumes ainda em
vigor, conferindo a legitimidade aos que são postos no poder somente por
conta da tradição. A palavra chave para o entendimento dessa legitimação é a
aceitação do privilégio tradicional do soberano. A dominação tradicional tem
têm com tipos básicos o Patriarcalismo e o Patrimonialismo.
Ao contrário da dominação tradicional, a segunda forma de poder,
denominada domínio carismático, resguarda-se no valor íntimo de determinado
indivíduo que se sobressai com relação aos demais devido à idolatria de sua
imagem – como exemplo, por motivo de santidade ou heroísmo. Weber
percebe o carisma como um atributo raro do indivíduo, que o torna capaz de
agrupar em torno de si diversos seguidores ou partidários.

Por fim, podemos destacar o poder racional legal, que tem seus
fundamentos intimamente ligados à noção de burocracia, sendo um domínio
típico do Estado Moderno. Essa legitimação se dá através da crença na validez
de preceitos racionalmente formados, que repousam na legitimidade dos
chefes designados através de validação calcada nos termos da lei. Essa noção
faz referência a uma iniciativa que sucede determinadas funções públicas
designadas por leis, que são distribuídas em jurisdições distintas.

O conceito de burocracia é inerente ao poder racional de legal a medida


que objetiva gerir tal poder.
Este último conceito é o mais aplicado na manutenção do Estado
Moderno, onde estruturas normativas regem a vida grupal dos indivíduos de
modo a minimizar os efeitos da diferenciação entre eles, ou seja, partindo do
pressuposto de que a individualidade se rege através da coletividade sem
demais distorções.

2.2. Uma visão weberiana sobre a profissionalização da política

Em uma de suas análises, Weber elege uma discussão interessante a


cerca do fazer político. Ele nos deixa a reflexão sobre a profissionalização da
política, através das ideias implícitas no que ele chamou de “viver para a
política” e de “viver de política”.

Weber se utiliza desse dualismo para mostrar como a modernidade


altera o comportamento dos atores políticos. Em outros tempos, viver para a
política significava tornar a política um organismo absoluto na procura por
objetivos que beneficiassem a vida coletiva, superando até mesmo as
expectativas individuais dos atores envolvidos nesse processo.
Com a chegada da modernidade, a profissionalização da política agrega
novos valores a esses atores, o que acaba por distanciá-los da verdadeira
essência do fazer político. A procura exacerbada pelo poder – e pelo prazer de
tê-lo – acaba se tornando uma compulsão, o que fere a conduta moral e
essencialmente a ética de um indivíduo eleito à representatividade, indivíduo
esse que, apesar de ser visto como um símbolo do autocontrole, está
suscetível às várias tentações e erros tão tipicamente humanos.

Com algumas ressalvas, Weber diz que o indivíduo que vive para
determinada causa, vive também dela, o que nem sempre podemos aplicar
com firmeza ao caso da Política. Isso porque, os que vivem da Política,
geralmente, são motivados por interesses econômicos, tratando a política
simplesmente como uma atividade infinitamente rentável, o que os faz
permanecer sempre na categoria “político profissional”. O autor defende que
para evitar tal conflito, é necessário o afastamento entre as atividades política e
econômica, para que as ideologias inerentes à causa política sejam
conservadas.

Essas noções são extremamente perigosas quando postas sob


displicência, uma vez que a vocação política – em toda sua integridade moral e
ética – funciona como uma característica extremamente apta a modificar uma
sociedade inteira.

3. Hobbes, Locke e Rousseau: O pacto da concepção do Estado

As ideias que regem a concepção de Estado são visíveis em três autores


clássicos da política moderna. São eles, Thomas Hobbes, John Locke e Jean
Jacque Rousseau, que dedicaram seus estudos à política, nos deixando importantes
conceitos e reflexões sobre esse campo de nossas sociedades.
Para Hobbes, a concepção de Estado se liga à ideia de que os homens não
vivem em cooperação natural, como fazem os outros animais.
Hobbes é o criador da consagrada frase “o homem é lobo do próprio homem”,
a fim de analisar o homem como ser essencialmente egoísta e inseguro.
Desconhecedor do conceito de justiça, o homem é movido por suas paixões,
recorrendo raramente à sua razão natural.
O termo usado por Hobbes é o “acordo” – em detrimento a outros autores que
preferem se apropriar da terminologia “pacto” ou “contrato” –, que entre os animais é
natural, enquanto os homens o fazem de maneira artificial. Segundo o autor, os
indivíduos somente aderem a uma estrutura social quando vêem ameaçada a
preservação de suas vidas.
Já John Locke nos traz a ideia de propriedade, que atua como principal
motivação para o homem por representar o fruto de seu trabalho. Para ele, este
direito é encarado como pertencente ao estado de natureza do homem. De acordo
com essa premissa, o Estado deveria ser reconhecedor e protetor da propriedade
adquirida pelo homem no exercício de seus direitos.
Jean Jacque Rousseau vem com uma visão mais antagônica ainda, a de que a
civilização que corrompe as relações humanas, violentando a humanidade. Pertence
a Rousseau a famosa concepção do “bom selvagem”, que explicita seu pensamento
acerca da capacidade mortificante da vida social para o indivíduo. Ele defende que
os homens nascem livres e iguais, mas o contato com a civilização os priva de tal
liberdade e acaba com a igualdade entre eles.
Deste modo, a sociedade surge a partir do que Rousseau chama de “contrato”,
uma espécie de acordo entre indivíduos para se criar uma Sociedade, e só então um
Estado. Para o autor, a ideia do contrato é calcada num pacto de associação, não de
submissão.
As origens do acordo – ou contrato – social diferem grandiosamente no
pensamento desses três autores. Contudo, a partir delas é possível tecer uma ideia
comum no que se refere à criação do Estado. O ponto de interseção entre os
pensamentos dos três autores é justamente no que cerne à individualidade que
clama por um coletivo para poder sobreviver. Com pensamentos bastante
divergentes, os autores nos ajudam a compreender tal dinâmica.
De modo mais objetivo, é possível comparar o bom selvagem de Rousseau
com o lobo Hobbes e o proprietário de Locke, através de uma escala evolutiva do
próprio processo civilizatório da humanidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: Para uma teoria geral da política.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

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