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Situação-Problema:
A barragem de Assuão
Se compararmos a variação do caudal anual do Nilo antes e depois da entrada em funcionamento da barragem
(fig. 89) torna-se evidente que a regularização do caudal do Nilo foi plenamente conseguida, passando a existir uma
distribuição bastante mais uniforme das descargas do rio.
a matéria orgânica que era transportada pelo Nilo constituía um fertilizante natural e gratuito que
anualmente era espalhado sobre os campos durante os períodos de cheia; a sua ausência obrigou à
utilização de adubos químicos que, não só eram caros mas que acabaram por levar à poluição dos solos e
das águas nas regiões onde são utilizados.
com muito menos carga sólida transportada, as águas do Nilo passaram a circular com uma velocidade
muito maior, tendo por isso um poder erosivo muito maior, levando à distribução de numerosas pontes e
diques.
a diminuição drástica da quantidade de matéria orgânica a chegar ao Mediterrâneo levou a percas
importante na quantidade de peixe capturado no litoral egípcio em virtude da diminuição de alimento
disponível para os peixex (perderam-se por ano cerca de 1/5 de todo o pescado entre os quais cerca de 16
000 toneladas de sardinha anuais).
o delta do Nilo, região densamente povoada, tal como todos os deltas resulta de um equilíbrio delicado
conseguido ao longo de séculos entre a quantidade de sedimentos que é transportada pelo rio e a
quantidade que é erodida pela dinâmica do mar, neste caso, o Mediterrâneo; com muito menos
sedimentos transportados pelo rio, o delta passou a estar exposto a um intenso processo erosivo, com a
consequente diminuição das áreas habitáveis e obrigando a gastos importantes tendo em vista a sua
conservação.
Mas nem só a diminuição da carga sólida transportada esteve na origem de problemas; também a falta de
cheias anuais acabou por vir a ter consequências extremamente negativas:
tendo o Egipto um clima extremamente seco, a elevada evaporação que aí se faz sentir leva à acumulação
de grandes quantidades de sais nos solos. A escorrência superficial associada às cheias periódicas "lavavam"
os solos dissolvendoos sais aí contidos que eram arrastados pelo Nilo para o Mediterrâneo. A ausência dos
períodos de cheia tem levado à acumulação dos sais nos solos tornando os solos impróprios para a
agricultura e por isso contrariando um dos objectivos iniciais da construção da barragem que era
justamente aumentar a quantidade de zonas cultiváveis.
com o caudal regularizado deixou de haver períodos de seca. Estes períodos contribuíam para limitar o
crescimento da população dos caracóis de água doce, seres fundamentais no ciclo de vida do parasita
responsável pela bilharziose (esquistossomose). A propagação dos caracóis a jusante da barragem levou a
um incremento desta doença que passou a ser responsável por 1/10 das mortes que ocorrem no Egipto.
O que se passou com o Nilo ilustra bem o delicado equilíbrio que existe nos processos inerentes ao sistema
hidrológico, servindo de alerta para a necessidade de um enorme cuidado nos estudos associados à planificação de
qualquer obra de grande envergadura que possa vir a interactuar com a dinâmica do ciclo hidrológico. Esperemos
que a construção da barragem do Alqueva não venha no futuro a revelar a existência de problemas de grande
dimensão não previstos nos estudos prévios.
Um outro aspecto que é importante salientar é que, como ja foi referido, os deltas são regiões litorais
extremamente sensíveis. Com efeito, a sua manutenção depende de um equilíbrio muito delicado entre a
quantidade de sedimentos que é transportada pelos rios e a quantidade de sedimentos que é retirada pela acção do
mar. O delta do Ebro (fig. 4) constitui um bom exemplo da susceptibilidade destas regiões às alterações
antropogénicas.
Trata-se de uma região com cerca de 325 km2 de área emersa cuja altitude máxima não excede os 5 metros
e, na qual cerca de 50% da área está a cotas inferiores a 50 centímetros.
Este delta conheceu uma fase de grande expansão durante o século XVI e a primeira metade do século XVII,
pois a necessidade da construção de navios após a descoberta da América levou à desflorestação de extensas áreas
da bacia hidrográfica do rio Ebro; o acentuar da erosão inevitavelmente associada a este processo levou ao
crescimento do delta segundo valores da ordem dos 10 metros por ano.
2 – Proponha algumas medidas que se possam tomar para evitar essas mesmas consequências.