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Materiais Cerâmicos Para Capacitores


Daniel Lauer

A quantidade de carga Q, em um capacitor para um dado


Resumo - Este documento apresenta uma explicação sobre o valor da tensão aplicada, é a soma de duas componentes:
comportamento dielétrico de materiais cerâmicos, bem como Q0, que é a carga que existiria se os eletrodos estivessem
a exemplificação de alguns desses materiais e suas separados pelo vácuo, e Qd, que é devida a polarização do
propriedades.
dielétrico que na verdade separa os tais eletrodos.
Os capacitores cerâmicos são construídos a partir da
Palavras-chave—capacitores, materiais cerâmicos, deposição ou colagem de um metal bom condutor sobre
ferroeletricidade. uma cerâmica de elevada constante dielétrica. Os
capacitores de placa são constituídos por uma folha
cerâmica em cuja superfície se encontram colados os
I. INTRODUÇÃO eletrodos, em geral de cobre ou de prata, enquanto os
capacitores multicamada são formados por sucessivas
As cerâmicas são materiais inorgânicos, não metálicos, folhas de material cerâmico em cuja superfície se encontra
formados por metais e não-metais, ligados quimicamente depositado um metal bom condutor, tipicamente o paládio
entre si. As composições químicas podem ser muito ou a platina. Os capacitores multicamada destinam-se em
variadas, desde compostos muito simples, a misturas geral a aplicações de montagem superficial, apresentando
complexas. As propriedades desses materiais variam muito por isso dimensões típicas da ordem do milímetro.
devido a diferenças de ligação química. A maioria
apresenta elevada dureza, grande fragilidade, com
tenacidade e ductilidade baixas. São bons isolantes
térmicos e elétricos, o que os torna de grande importância
para a engenharia. Embora se tenha verificado um grande
desenvolvimento dos isolantes à base de materiais
orgânicos ao longo dos anos, os isolantes cerâmicos são
ainda fundamentais na área da eletrotecnia. À essa
capacidade de se opor a passagem de corrente elétrica se dá
o nome de dielétrico, e ao submetermos um material
isolante a um campo elétrico, não irá ocorrer transferência
de cargas, entretanto, estas sofrem um deslocamento; sendo
Figura 1- Capacitor cerâmico de multicamada
que as negativas migram ao eletrodo positivo e as positivas
no sentido oposto, modificando em valores significativos o
valor do campo elétrico existente no local. A esse É comum distinguirem-se duas classes de capacitores
deslocamento e orientação das moléculas se dá o nome de cerâmicos:
polarização. Esse é o princípio básico do capacitor, então (i) capacitores da classe-1, com constantes dielétricas
todo dielétrico inserido em um circuito elétrico pode ser relativamente baixas (algumas unidades a centenas) mas de
considerado como um capacitor, estudaremos a seguir boa qualidade, designadamente no que respeita à
algumas propriedades de materiais cerâmicos usados para resistência do dielétrico e à dependência da capacitância
produzir capacitores. com a temperatura (utilizados essencialmente na
construção de osciladores e filtros);
(ii) capacitores da classe-2, de elevada constante
II. CAPACITORES CERÂMICOS dielétrica (algumas centenas a milhares de unidades) mas
de piores características técnicas e utilizados
A Principal conseqüência das interações citadas na essencialmente em aplicações gerais de acoplamento de
introdução é a de que um material, contendo cargas sinais.
altamente polarizáveis, quando estiver situado entre placas Para exemplificar isso temos os capacitores da classe-
de um capacitor, influenciará acentuadamente as cargas 2, que apresentam valores nominais compreendidos entre
que estão entre tais placas. os décimos do picofarad e o microfarad, tolerâncias
O aumento da capacitância é reflexo direto da constante compreendidas entre os -20 e os 80%, e tensões máximas
dielétrica do material. Assim, um material com constante de trabalho entre 63 e 500 V. Por outro lado, os capacitores
dielétrica relativa k' igual a 10,0 permite ao capacitor da classe-1 cobrem a faixa de capacitâncias compreendidas
desenvolver cargas 10,0 vezes maiores do que no caso em entre 0.47 e 270 pF, suportam tensões máximas típicas
que tal material não esteja presente. de100 ou 500 V, e apresentam tolerâncias relativamente
baixas, tipicamente 2%.

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III. FERROELETRICIDADE APLICADA EM CAPACITORES Figura 1 – Curva de Histerese

Existem alguns cristais assimétricos que apresentam Inicialmente todas as polarizações espontâneas das celas
momentos dipolares com valores altos no interior de cada individuais estarão aleatoriamente distribuídas pelo
célula. Se além de possuirem esses valores altos, puderem material, tendo então uma resultante igual a zero. Se um
interagir com os dipolos das células adjacentes, surge um campo for aplicado, os íons serão empurrados para a região
comportamento chamado de ferroelétrico, um grupo de energeticamente melhor. Se uma tensão é suficiente para
materiais que se caracterizam por ter polarização que todos os dipolos fiquem organizados na mesma
espontânea, eletrônica e iônica combinadas. Seriam estes direção, a máxima contribuição de momento de dipolo é
materiais o sal de Seignette, de Rochelle, o Titanato de alcançado. Isto é conhecido como polarização de saturação
Bário (BaTiO3), e outros. Tendo como um dos mais PSAT. Se o campo for reduzido a zero novamente, muitos
importantes o titanato de bário, descoberto durante a dipolos continuarão neste último estado e causará uma
Segunda Guerra Mundial tornou possível a criação de polarização do material, conhecido como polarização
capacitores com constantes dielétricas com ordem de remanente PREM. Se o campo elétrico é mudado para a
magnitude duas vezes maiores do que antes conhecidas. direção oposta, a polarização resultante cai a zero e o
Isso justamente pela assimetria na molécula do material. campo necessário para se chegar a isto é chamado de
Vemos que em sua molécula existem duas posições campo coercivo EC.
possíveis para os íons titânio em relação aos íons oxigênio,
porém cada íon titânio pode ocupar uma das duas posições. IV. MATERIAIS CERÂMICOS POLICRISTALINOS
Admitimos que um produto cerâmico de titanato de bário
As características apresentadas anteriormente são válidas
contenha grãos orientados ao acaso e dentro desses grãos
para o estudo de um único cristal de um composto
células unitárias com seus dipolos orientados tanto em uma cerâmico, ou monocristais. Porém, na maioria, os materiais
direção quanto em outra. Ao aplicarmos um campo elétrico cerâmicos dielétricos são usados como materiais
transversal a esse material obtemos um deslocamento policristalinos e polifásicos. Nos policristalinos, as
inicial, entretanto um aumento relativamente menor nesse propriedades direcionais dos materiais cerâmicos são
campo serviria para mudar os íons Ti de uma posição para aleatórias. Ainda assim, as cargas espaciais, que se podem
a outra se o dipolo da célula unitária estiver numa direção desenvolver nos contornos de grão e nas superfícies dos
“incorreta”; provocando com isso uma mudança grande, poros, alteram o comportamento dielétrico dos materiais
sobretudo na polarização. Após os dipolos estarem cerâmicos.
dispostos em uma única direção, o aumento do campo irá As regras que se aplicam aos materiais polifásicos são as
aumentar apenas a polarização iônica normal. mesmas de uma disperção de partículas esféricas numa
Fatores como a temperatura e pressão determinam a fase matriz de segunda fase. Entretanto, em vez de usarmos a
estrutural dos cristais. No caso do Titanato de Bário, as relação de Maxwell para a constante dielétrica total,
características ferroelétricas desaparecem acima de 120ºC, usamos a seguinte relação empírica:
consequentemente a polarização espontânea desaparece
pois sua estrutura muda de tetragonal para cúbica e quando log k’ = ∑ i V i log k’i
isso ocorre há somente uma posição de baixa energia para
os íons Ti, de tal forma que pode não haver polarização onde V i é a fração volumétrica de cada fase. Isto ressalta o
dentro da célula unitária, a não ser o deslocamento normal importante efeito das quantidades relativamente pequenas
do íon. À esse valor de temperatura é dado o nome de de fases cerâmicas, com baixas constantes
Temperatura de Curie. dielétricas, sobre a constante total do produto
A seguir temos a curva de histerese de um material com cerâmico.
comportamento ferroelétrico e sua explicação:
V. PORCELANA

A porcelana elétrica típica é constituída por cerca de


50% de caulino, 25% de quartzo e 25% de feldspato. Esta
composição permite obter um material de excelentes
características dieléctricas, elevada resistência mecânica à
compressão e à flexão, boa resistência mecânica à tração e
à torção, impermeável à água e aos gases, resistente a
ácidos concentrados (excepto ácido fluorídrico), resistente
a grandes mudanças de temperatura e que suporta
temperaturas de serviço elevadas (da ordem dos 1000 °C),
e preço relativamente baixo.
A sua principal desvantagem deriva do fato de
apresentar um elevado fator de perdas, comparando com
outros materiais isoladores elétricos.
A composição da cerâmica eletrotécnica pode ser
alterada de forma a melhorar determinadas características,
quer variando as proporções dos seus componentes, quer
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alterando a sua composição. No entanto, melhorando umas MHz. No entanto, trata-se de um componente dispendioso
características pioram outras. e difícil de obter, pelo que só se utiliza o óxido de titânio
Por exemplo, o aumento da proporção de feldspato puro em casos muito especiais.
caulino aumenta a resistência térmica da porcelana, mas Normalmente recorre-se a compostos cerâmicos
piora as suas característica mecânicas; o aumento da contendo óxido de titânio. A constante dielétrica desses
proporção de quartzo aumenta a resistência mecânica, compostos atinge o valor de 90, apresentando um fator de
agravando a resistência térmica; aumentando a proporção perdas muito baixo a altas frequências. No entanto, o fator
de feldspato melhoram-se as características eléctricas, mas de perdas para médias e baixas frequências é mais elevado,
as características mecânicas são pioradas. limitando a sua aplicação às altas frequências.
Consoante o tipo de aplicação, é importante conhecer a Neste grupo de materiais incluem-se também cerâmicos
variação das características da porcelana com a com titânio de magnésio, que são caracterizados por uma
temperatura, pois pode vir a ser sujeita a arcos eléctricos constante dielétrica média e um fator de perdas para altas
durante o serviço. Tanto a rigidez dielétrica, como a frequências excepcionalmente baixo.
resistividade ou o fator de perdas variam com a
temperatura. IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Durante o processo de fabricação, a forma da porcelana
eletrotécnica pode ser obtida por três processos distintos: Artigos:
por via seca, via húmida ou por molde. [1] Anderson Cordeiro, e André de Oliveira Branco, “Propriedades
A porcelana preparada por via seca é utilizada em baixa Dielétricas dos Materiais Cerâmicos” , UFPR.
[2] Daniel Henrique Pastro e Helvio Hirotoshi Miyagi, “Materiais
tensão. Obtém-se moldando, por pressão, a porcelana Piezoelétricos, Piroelétricos e Ferroelétricos”, UFPR
reduzida a pó ligeiramente húmida. Recorrendo a moldes
apropriados obtêm-se peças de formas muito variadas. Livros:
A porcelana produzida por via húmida utiliza-se [3] Lawrence H. Van Vlack, Propriedades dos Materiais Cerâmicos,
principalmente para aplicações destinadas à alta tensão: Ed.
Edgard Blucher Ltda ,São Paulo, 1973, pp. 167-170.
isoladores de apoio e de cadeia, travessias, entre outras. [4] SMITH, William F. – “Princípios de Ciência e Engenharia dos
Com o material em estado plástico fazem-se tubos ou Materiais” – McGraw Hill – 3ª edição – Portugal, 1998;
barras, realizando-se os acabamentos com um torno [5] Buchnan, Relva C., "Ceramic Materials for Electronics".
Ed. Marcel Dekker
vertical ou ferramentas especiais.
Sites:
Finalmente, a porcelana obtida por molde é utilizada em [6] http://www.cpdee.ufmg.br/~glassio/Tipos_de_Capacitores.html
peças que necessitam de grande rigidez dielétrica e têm [7] www.labspot.ufsc.br/~jackie/cap4_new.pdf
formas mais complexas. O material em estado líquido é
vazado em moldes de gesso, compostos por várias partes.
Quando as peças adquirem a consistência necessária à sua
manipulação sem serem deformadas, retiram-se dos
moldes.

VI. ESTEATITE

Os cerâmicos de esteatite são bons isoladores elétricos,


uma vez que apresentam baixos factores de perdas (inferior
ao da porcelana eletrotécnica), baixa absorção de
humidade, boa resistência ao impacto e elevada resistência
à tração, à compressão e à flexão (aproximadamente o
dobro relativamente à porcelana eletrotécnica). Têm como
inconvenientes não se poderem esmaltar, devido à
diferença entre os coeficientes de dilatação do esmalte e da
esteatite, e o seu custo elevado.
A sua composição baseia -se em 90% de talco e 10% de
argila. Este material é utilizado em larga escala quando é
necessário suportar grandes esforços mecânicos.

III. MATERIAIS CERÂMICOS À BASE DE COMPOSTOS DE TITÂNIO

Estes materiais apresentam uma constante dielétrica


elevada, baixo fator de perdas dielétricas (mesmo a muito
altas frequências). Por isso são adequados para a fabricação
de capacitores. O seu principal componente é o óxido de
titânio, que possui uma constante dieléctrica de 117. Esta
constante mantém-se até frequências de cerca de 3*106

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