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INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE

Campus Campos Centro


Materiais Elétricos – 4° Período

ANA LUIZA RIBEIRO VELASCO


NATHÁLIA FERREIRA DE SANTANA
RAFAELA SOUZA DUTRA
WESLEI DE SOUZA DA SILVA ALVES

Materiais Elétricos - Grupo 3


Materiais ferroelétricos e Materiais piezoelétricos (Conceitos e
Aplicações)

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ


2022
1. MATERIAIS FERROELÉTRICOS

1.1. Ferroeletricidade

É um fenômeno apresentado em materiais que possuem estrutura cristalina e são


dielétricos, como titanato de bário, titanato de chumbo e bismuto de ferro. Esses materiais
possuem dipolos em sua composição e polarização espontânea, que pode ser revertida pela
aplicação de um campo elétrico externo.

Figura 1 - Polarização de substância ferromagnética


Fonte: https://sites.ifi.unicamp.br/graduacao/files/2017/02/F-149_20171S_2017.05.12_Aula9.pdf

Além disso, quando um campo elétrico é aplicado no material, os dipolos passam a se


orientar na direção do campo, permanecendo alinhados mesmo depois que o campo cessa. A
polarização portanto não depende apenas do campo elétrico atual, mas do seu histórico,
produzindo um ciclo de histerese. Entenda:

Quando um campo elétrico é aplicado, a polarização aumenta ao longo do campo até a


saturação. Ao reduzir o campo, a polarização diminui mais lentamente que o campo. Quando
o campo chega ao valor zero, o material permanece polarizado, apresentando então
polarização remanescente. Quando se inverte o sentido do campo, a polarização diminui e
volta a zero. Ao aumentar o campo elétrico no sentido negativo, os dipolos vão se alinhando
até chegarem ao ponto de saturação, no sentido negativo ao alinhamento anterior. vEja as
imagens:

Figura 2 - Ciclo de histerese


Fonte:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102574/souza_ia_dr_araiq.pdf;jsessionid=078CF3878DE5
924B7608DADDBDBE3D2B?sequence=1

Figura 3 - Ciclo de histerese ferroelétrica para o PZT, PZTN, PZTF


Fonte: https://www.scielo.br/j/ce/a/7D9Yrwjsrkx5TTnJmqLTr3t/?lang=pt

Esses materiais também apresentam uma temperatura de transição de fase estrutural


(temperatura de Curie - Tc). Ao passar desse valor, o material ferroelétrico sofre uma
transição estrutural da fase não centrossimétrica (ferroelétrica) para a fase centrossimétrica
(paraelétrica) e se comporta como um dielétrico comum.
Figura 4 - Estrutura molecular antes e depois de atingir a temperatura de Curie
Fonte:
https://docplayer.com.br/60088445-Propriedades-piezo-piroeletrica-e-dieletrica-de-compositos-ceramica-ferroe
letrica-polimero-dopados-com-polianilina.html

Figura 5 - Permissividade dielétrica na transição de fase

A polarização espontânea citada anteriormente gera uma efeito de histerese que inclusive
pode ser utilizada como uma função de memória. Assim as aplicações dos materiais
ferroelétricos são muito bem utilizadas nos setores de computação. Por exemplo, capacitores
ferroelétricos são amplamente utilizados em memórias RAM ferroelétricas em computadores
e cartões RFID. Veja no tópico a seguir:

1.2. Aplicações
Os materiais ferroelétricos são utilizados em diversas atividades e podem possuir várias
aplicações, dentre as principais, duas delas serão descritas neste trabalho.
Primeiramente, uma das aplicações mais recorrentes dos materiais ferroelétricos são os
transdutores. Este é um dispositivo responsável por converter grandezas físicas (temperatura,
pressão, etc,) em sinais elétricos. A figura 6 apresenta um exemplo de transdutor.

Figura 6: representação de um transdutor que converte a temperatura em um sinal elétrico. Fonte:


https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/e32e848ef6203c5c7e9d7f344ed6b148.jpg.

Esses dispositivos podem ser classificados como:


● Ativos: Geram um sinal elétrico a partir de um estímulo sem precisar de uma fonte
externa para criar um sinal de saída;
● Passivos: precisam de uma fonte externa que o excite para que este venha a gerar um
sinal elétrico;
● Simples: é denominado a partir de uma transdução que é feita em apenas um estágio;
● Composto: quando o sinal de entrada precisa passar por várias conversões até ser
gerado o sinal elétrico de saída.
Os materiais ferroelétricos também são usados em capacitores (já que estes são capazes de
armazenar cargas sem receber nenhuma diferença de potencial), a partir da combinação deste
com um dielétrico.
Essa descoberta foi feita na Universidade da Califórnia, a partir desse feito os engenheiros
enxergaram pela primeira vez um fenômeno que hoje é chamado de capacitância negativa.
Esse fenômeno recém apresentado, é provido de uma carga que após sofrer uma mudança faz
com que a tensão que antes estava fluindo em uma direção, mude para a oposta.

2. MATERIAIS PIEZOELÉTRICOS

2.1. Conceito
A piezoeletricidade é a capacidade de alguns materiais gerarem tensão elétrica por resposta
a uma pressão mecânica. O termo “piezo” é derivado da palavra grega que significa pressão.
Assim como a geração de uma tensão por uma deformação mecânica é possível, o efeito
reverso também pode acontecer, com ocorrência de uma deformação mecânica em função da
aplicação de tensão elétrica.
As aplicações dos materiais com propriedades piezoelétricas são variadas, indo desde
sensores, passado por telas touch screen de dispositivos móveis, até transdutores ultrassônicos
empregados em sistemas de radar e sonar, além de novas aplicações que vêm sendo
desenvolvidas com a utilização de nanotecnologia e a busca por formas sustentáveis de se
aproveitar e maximizar a energia que pode ser gerada pelos piezoelétricos.

2.1.1 O Efeito Piezoelétrico e seu Funcionamento


Em 1880, Jacques e Pierre Curie descobriram que um potencial elétrico poderia ser gerado
aplicando-se pressão a cristais de quartzo, a sais de Rochelle, e até a cristais de cana de
açúcar. Nomearam este fenômeno de “o efeito piezo” (Katir 2003).
Segundo Callister (2008), em um material piezoelétrico, a polarização é induzida e um
campo elétrico é estabelecido através de uma amostra pela aplicação de forças externas.
A piezoeletricidade inversa foi deduzida matematicamente dos princípios fundamentais da
termodinâmica por Lippmann em 1881. Os Curies confirmaram imediatamente a existência
do “efeito piezo inverso” (quando expostos a determinados potenciais elétricos, tais materiais
mudavam sua forma, se expandindo ou se contraindo), e continuaram os estudos para obter a
prova quantitativa da reversibilidade completa das deformações eletro-elasto-mecânicas em
cristais piezoelétricos.
A figura 07 (a) ilustra o comportamento piezoelétrico, onde a aplicação de tensão produz
uma diferença de potencial elétrico mensurável através do material piezoelétrico. Já a figura
01 (b) ilustra o efeito piezoelétrico reverso, no qual uma diferença de potencial elétrico muda
a magnitude da polarização no material piezoelétrico e, consequentemente, sua espessura.

Figura 07: (a) efeito piezoelétrico. (b) efeito piezoelétrico reverso. (De Shackelford, James F. Introduction to
materials science for engineers, 6ª Ed, p.363)

A piezoeletricidade está baseada na formação de forte dipolo entre íons de cargas


contrárias na estrutura cristalina de um cristal iônico. A cristalografia prevê a definição de
simetria de um cristal iônico em função de um ponto, eixo ou plano (ou a combinação
desses). A partir desses elementos de simetria, todos os cristais são divididos em 32 grupos
diferentes, sendo que 21 destes 32 grupos não possuem um centro de simetria (condição
necessária para existir piezoeletricidade) e 20 deles são piezoelétricos.
A orientação cristalina faz com que os materiais piezoelétricos não estejam naturalmente
ativos. É necessário polarizar os cristalitos piezoelétricos e isto só é possível através de
técnicas que proporcionem uma orientação preferencial da estrutura cristalina durante o
processo de fabricação. Um método simples, porém bastante empregado para a orientação de
domínios é o processo ‘poling’.
Em um cristal piezoelétrico, as cargas positivas e negativas estão separadas, mas
simetricamente distribuídas, o que o torna eletricamente neutro. Quando um stress mecânico é
aplicado, esta simetria é perturbada, e a carga elétrica causada por esta assimetria gera uma
tensão por todo o material. Um cubo de quartzo de 1cm³, com 2kN de força aplicada, pode
gerar uma tensão de aproximadamente 12500 V.
2.1.2 Constantes Piezoelétrica
Para selecionar um material piezoelétrico para aplicações tecnológicas procura-se, em
geral, se conhecer algumas de suas propriedades, entre elas podemos destacar:
a) Constante de carga piezoelétrica d (m/V ou C/N)
Informa qual é a proporção entre a variação dimensional (Δl) do material piezoelétrico
(em metros) e a diferença de potencial aplicada (em Volts), e entre a geração de cargas
elétricas (em Coulomb) e a força aplicada em projetos de posicionados piezoelétricos e
sensores de força/deformação.

b) Constante de tensão piezoelétrica g (V.m/N)


Informa qual é a proporção entre a diferença de potencial gerada (em Volts) e a força
aplicada (em Newton) para o comprimento de 1 metro. Essa informação é usada no
projeto de detonadores de impacto e “magic clicks” (produz em centelha elétrica que
acende a chama de um fogão).
c) Coeficiente de acoplamento k (Adimensional)
Eficiência do material na transdução/conversão de energia elétrica e mecânica, e
vice-versa. Essa informação é indispensável no controle de qualidade das cerâmicas
piezoelétricas e no projeto de dispositivos em que não se deseja a conversão cruzada
de energia, ou seja, que uma vibração ou deformação em um eixo não gere cargas
elétricas ou diferença de potencial em outro eixo. Neste caso, quanto menor o
respectivo fator de acoplamento, melhor.
d) Fator de qualidade mecânico Q (Adimensional)
É uma medida das perdas mecânicas (amortecimento) do material. Usado no projeto
de dispositivos dinâmicos de alta potência.
e) Temperatura de Curie TC (°C)
É a temperatura na qual a estrutura cristalina do material sofre uma transição de fase e
o mesmo deixa de apresentar propriedades piezoelétricas. Depois de ultrapassada esta
temperatura, o material perde a polarização remanescente induzida tornando-se inútil
para a utilização como elemento transdutor de energia elétrica em mecânica. Esta
informação é indispensável no projeto de dispositivos que deverão operar em altas
temperaturas e de alta potência.

2.2. Aplicações
Os materiais piezoelétricos estão muito presentes na vida moderna. O cristal de quartzo,
por exemplo, está presente em praticamente todos os equipamentos eletrônicos, porque é o
componente mais utilizado para gerar o “clock” dos circuitos eletrônicos. Outra aplicação
importante é a geração de sons de frequência muito alta (“ultrassom”), que são utilizados na
medicina e na indústria.
Além disso, tais materiais demonstram ser eficazes na geração de energia limpa,
principalmente por necessitar apenas de energia cinética vibracional para gerar energia
elétrica utilizável, sendo uma fonte de estudo viável para geração de energia limpa. Sua forma
de aplicação combina muito com a forma atual de tecnologia de procurar cada dia mais
transformar em miniaturas componentes eletrônicos do nosso dia-a-dia, assim servindo como
gerador energético para os sistemas microeletromecânicos e circuitos integrados.
A utilização do movimento vibracional causado quando anda-se nas ruas, calçadas, praças,
shopping, festas, universidades, centros de compras dentre outros é uma energia ótima para se
aproveitar e converter de energia cinética vibracional para energia elétrica utilizando-se de
transdutores piezoelétricos.

Fontes:
● repositorio.unesp.br/bitstream/handle;
● https://hmn.wiki/pt/Ferroelectricity;
● https://sites.ifi.unicamp.br;
● https://brasilescola.uol.com.br;
● https://www.inovacaotecnologica.com.br;
● https://www.tecmundo.com.br;
● http://old.pfi.uem.br/site/teses/teses_pdf/ricardo_augusto_mascarello_gotardo_2011.p
df;
● http://www.ceuma.br/portalderevistas/index.php/RCCP/article/view/42/41
● https://pt.slideshare.net/LeonardoVilarinho/materiais-piezoeletrico
● Callister Jr., W. D. Ciência e engenharia de materias: Uma introdução. 7ª edição. Rio
de Janeiro: LTC, 2008
● Shackelford, James F., Introdução à ciência dos materiais para engenheiros, 6ª ed. São
Paulo, Person Prentice Hall, 2008.

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