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Pepro PauLo Fino: Apvocabo £ Escrrror NorAveL Os que um dia conheceram os negros abismos nos quais pode precipitar-se a alma humana, esses juram ser pior © esquecimento que o desprezo. Chamavam os antigos re- Sido do esquecimento a propria morte, porque o mesmo era morrer que ser esquecido. E quao facilmente deitamos ao olvido até aqueles ilus- tres var6es dignos de eterna memoria! De todas as profissdes é a Advocacia Criminal, sem con- tradicao, a que mais padece os efeitos desse cruel estigma; ninguém mais esquecido que o criminalista, a comecar pelo cliente. O dia do beneficio é ja a véspera da ingratidao! Houve alguém, contudo (@eus louvado!), que, no in- tuito de pér cobro as injtrias do tempo, tomou sobre si o arduo e€ grave encargo de registrar para a posteridade, com arte e talento, os nomes daqueles vultos singulares que a classe dos advogados tem entre os seus maiores tesouros: Rut Bargosa, ANTONIO CoveELo, Brasitio Macnapo, Evaristo bE Mo- Rals, Sopra Pinto, DANTE Detmanto, AMéRIcO Marco ANTONIO, EVANDRO. Lins & Siva, RaimunDo Pascoat Bansoss, Pauo José pa Costa Jr., Watpir TRoNcoso Peres e muitos outros, Os quais, gracas ao advogado e insigne escritor Pepro Pauto Fuuo, foram “liber- tos da lei da morte”. Grandes Advogados, Grandes Julgamentos é livro que nao apenas acrescenta a gloria de seu autor, enriquece tam- bém a literatura juridica nacional. 1 Camoes, Os Lustadas, 1, 15; PEDRO Pavio Finno: Abvoabo & Escrttor NOTAVEL 65 Minucioso inventario de causas célebres e vasta noticia de seus patronos, encerra boa doutrina, sempre viva na tra- digao cultural dos povos, que manda educar e instruir as geragoes a luz do exemplo daquelas grandes figuras do pas- sado, porque protagonistas e artifices da Historia, que é, na opiniao de Cicrro, “a testemunba dos tempos, a luz da ver- dade, a vida da mem6ria, a mestra da vida, a mensageira da antiguidade”.* Mas, donde vem que, sendo em principio tao copiosos os livros que trataram 0 mesmo assunto,> conquistasse para logo o de Prpro Pauto Fino nimero extraordindrio de leitores!? A primeira raz4o é que as tragédias humanas, quando submetidas ao veredicto da Justiga, adquirem sempre rele- vo e espertam geral interesse. Quer saber 0 vulgo, por direi- to seu natural, se o autor do fato que se debateu nas barras criminais saiu justificado ou recebeu castigo, “pois cada um deve ter o que merece”.* A Humanidade vela sempre pela vit6ria do bem contra © mal! Outro motivo, por que se recomenda 4 leitura o livro “Grandes Advogados, Grandes Julgamentos”, é que, precio- so repositério de casos do juri, traz igualmente o resumo dos argumentos juridicos da Acusacao e da Defesa na dis- 2 “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis” (De Oratore, lib. Il, cap. IX, 36); 3. Os “Casos do Jiiri” constituem género literdrio de que se ocuparam notdveis e laureados publicistas: Henri Ronert, Os Grandes Processos da Hist6ria, 1943; Avserto pr Carvatno, Causas Célebres Brasileiras, 1898; Cantos pe Aratyo Lima, Os Grandes Processos do Jiri, 1955; Sousa Costa, Grandes Dramas Judicidrios, 1944; Aucintara Suvetra, Grandes Julgamentos da Historia, 1968; Pauo Jost pa Costa Jr., Crimes Famosos, 2003, etc.; 4 ‘A pena traduz, primacialmente, um principio bumano por exceléncia, que é o da justa recompensa: cada um deve ter 0 que merece” (NELSON Hunoria, Novas Questées Juridico-Penais. p. 131); 66 ‘TrBUTO aos ADvoGADOS CRIMINALISTAS — CarLos Bassotti cussao do processo no plendrio, fonte inexaurivel de ideias € ensinamentos para quem deseja ascender um dia a tribu- na do juri. Vem a ponto notar que, distintissimo advogado do juri, Pepro Pauto Fino deu a sua obra também o valor inestimavel de catedra, na qual, em atraentes prelegGes, professou o Direito Penal, o Direito Processual Penal e a Arte Oratéria. A boa fortuna com que soube escolher e reproduzir, em primorosas narrativas, os “grandes julgamentos” consti- tui atributo excelente do livro. Coisa dificil, em verdade, era selecionar entre milhares de casos forenses, aqueles em que, para gaudio e proveito do leitor, a celebridade do fato e das pessoas que nele foram parte pudesse concorrer com a alta reputacao dos “grandes advogados”. E isto nao apenas hoje € entre nds, mas em todos os tempos e lugares. E seria mesmo invencivel a dificuldade,5 nao nos depa- rasse a Providéncia quem a quisesse afrontar: e esse foi PEDRO Pauto Fino, que aos raros predicados de inteligéncia e consu- mada literatura aliou a paixio do estudo e da arte, o ideal de bem servir e, sobretudo, o amor imenso A Advocacia. Ao demais — grande mérito do livro! -, foi escrito em linguagem polida e estilo elegante, o que Ihe torna a leitura em extremo agradavel e lisonjeira. De seu autor e da obra nao se pudera dizer menos do que o profundo AnTonro Viera na aprovacio do livro classico de Luis pe Sousa: “O estilo é claro com brevidade, discreto sem afetagdo, copioso sem redundéncia, e tdo corrente, fe cil e notével que, enriquecendo a memoria e afeigoando a vontade, ndo cansa o entendimento”.6 . 5 ‘Nao bd matéria no mundo mais perigosa que medir sangues e pesar talentos", escreveu o discreto Francisco Manust. pt Meio (Apélogos Dialogais, 1920, p. 315); © Gf Luis DE Sousa, Histéria de 8. Domingos, 1767, 3 parte, p. VI. Pepro Pauto Fito: ApvoGapo E Escriror NotAveL 67 Os que, por Gnus do oficio, amor do estudo ou salutar habito de boa leitura, tiverem ocasifo de ler “Grandes Advo- gados, Grandes Julgamentos” serio alcancados em grande divida para com o seu benemérito autor — 0 eximio advoga- do Pepro Pauto Fito -, que Ihes tirou a publico livro que nao somente deleita o 4nimo, sendo ainda ilustra e aprimora os cabedais do espirito. Pepro Pauto Finsio (Tribuno do Jtiri e elegante escritor) © (Do livro Tributo aos Advogados Criminalistas, 2005, pp. 64-67; autor: Carlos Biasotti; Millennium Editora Ltda.).

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