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UMA ANÁLISE
DAS TEORIAS
DE ORGANIZAÇÃO
4~ edição
1~ edição - 1958
2~ edição - 1969
3~ edição - 1971
2~ tiragem - 1972
3~ tiragem - 1974
4~ edição - 1977
v
Donde ter aceito o convite para esta edição, pelo qual muito
agradeço a meu prezado amigo dr. Benedicto Silva e a meus co-
legas da EBAP que sugeriram tal convite.
VI
PREFÁCIO À SEGUNDA EDiÇÃO
VII
enfoques são, portanto, muito mais complexos e variados, muito
menos suscetíveis de síntese do que a teoria anterior, objeto da
maior parte da primeira edição.
VIII
da técnica de administração Dulcy Melgaço Filgueiras, também
minha colega e amiga. A publicação efetuou-se nos números de
fevereiro a junho de 1957.
B. M. S. W.
IX
PREFÁCIO À TERCEIRA EDiÇÃO
XI
A bibliografia também reflete essa dicotomia: conservei intacta
a da primeira edição (1.8 parte), e organizei nova, constante dos
livros consultados para elaboração da 2.8 parte.
B. M. S. W.
XII
INTRODUÇÃO
l WALDO, Dwight. The status and prospects 01 administra tive theory. Wash-
ington, set. 1953. Ensaio apresentado à 49. 8 Conferência Anual da American
Polítical Science Association.
XIII
Por cutro lado, alguns daqueles que realizam pesquisas no campo
da organização têm, eles próprios, suscitado grandes dúvidas sobre
a validade de princípios ou regras formuladas por seus colegas, o
que veio a ser interpretado como significando falta de fé na teoria
de organização, quando, na realidade, constitui apenas uma indi-
cação de estarem eles querendo pesquisar mais profundamente o
conhecimento da mesma.
XIV
APRESENTAÇÃO
xv
Em 1972, ambas as opiniões citadas já não traduzem a realidade.
Com efeito, o lugar ocupado pelas teorias de organizações na ciência
social ampliou-se considerave'mente na década de 60 e continua a
avultar na de 70. O advento da pesquisa operacional, da programação
linear, da teoria do jogo, da teoria da decisão, do sistema de informa-
ção gerencial, da teoria de sistemas e outras disciplinas e subdiscipli-
nas correlatas, percute e repercute nas teorias de organização. E com
isso cresce o número de tentativas e variam os critérios de abordagem.
Nada obstante, o progresso verificado pode considerar-se modesto.
Como afirmam Simon e March, "muito do que sabemos ou cremos a
respeito das organizações deriva do bom senso e da experiência prá-
tica dos administradores. A maior parte desta sabedoria jamais foi
submetida ao teste rigoroso do método científico'~
Per contra, como engrossou a literatura sobre as organizações.
Basta lembrar que a bibliografia da parte nova, acrescentada à pre-
sente edição, é três vezes mais extensa do que a da edição anterior
(a segunda) deste livro.
Quanto ao interesse crescente que o estudo das organizações inspira
aos cultores das ciências sociais, nada mais indicado para o testemunhar
do que um recente ensaio, Social science and practical problems,
de William Letwin, Professor de Ciência Política na London School
of Economics e senior lecturer na 'Sloan School of Management do
Massachusetts Institute of Technology.4
Em novembro de 1970 pronunciei uma conferência na Escola
Superior de Guerra. O tema foi Uma doutrina estratégica de orga-
nização e métodos.
Disse eu então que, embora se haja escrito muito sobre as organi-
zações, a literatura resultante deixa a impressão de ser uma longa
XVI
série de repetições. Autores diferentes. Títulos diferentes. Aborda-
gens diferentes. Mas, a essência não tem variado significativamente.
O corpo de conhecimento sobre a matéria permanece como que es-
tático. Além disso, os textos caracterizam-se por flagrantes dispari-
dades entre hipóteses e provas. "Consistem muito mais em meras
conjecturas, que não raro chegam a descer ao nível de simples pal-
pite, do que em evidências cartesianas ou mesmo raciodnioslógicos".
Em suma: a literatura está recheada de assertivas, mas vazia de pro-
vas e demonstrações.
Ocorre ainda que esta edição vem sofisticada, chega a ser transpa-
rente, graças ao índice analitico elaborado pela própria autora. Aqui,
senhores, temos um perfeito, espécime de livro didático e de consulta.
XVII
Para os iniciados não em dia com a evolução do assunto nele foca-
lizado, a presepte edição de Uma ara~lise das teorias de or~ani
zação oferece oportunidade de ouro: um cura0 compacto e suculento
de reciclagem profissional.
Benedicto Silva
XVIII
SUMÁRIO
Introdução XIII
Apresentação XV
1.8 parte
Capítulo 1
Capítulo 2
XIX
Capítulo 3
Capítulo 4
4.1.5 Conclusão 46
Capítulo 5
Capítulo 6
xx
2. 8 parte: panorama em 1970
Capítulo 7
7. 1 Considerações gerais 73
7. 1. 1 Esquema de classificação adotado 78
7. 1.2 O que é uma teoria de organização 79
Capítulo 8
8 .2 O modelo da burocracia 95
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
XXI
UMA ANÁLISE DAS TEORIAS DE ORGAN IlAÇÃO
PRIMEIRA PARTE
CAP~TULO 1
1
Sem dúvida, a resposta é negativa. Subsiste muita controvérsia
em torno dos aspectos teóricos da organização, e muitos profes-
sores e estudantes negam mesmo que já tenham sido formulados
princípios de organização. Herbert Simon, expressando o seu des-
contentamento com os princípios de administração existentes, clas-
sifica-os de meros provérbios. 3 Leonard White afirma que, "no mais
estrito sentido do termo, os princípios de administração estão ainda,
em grande parte, por ser formulados. Se os considerarmos apenas
como regras práticas de conduta, que uma vasta experiência parece
ter validado, um certo número de princípios pode ser enunciado.
Sua formulação exata, contudo, torna-se difícil e controversa".· Earl
Latham opina que grande parte da teoria de administração constitui
uma ficção teológica: "É abstrata e formalística. É uma figura de
retórica, não uma representação de características observadas"}'
2
os estudantes de administração nem compeli-los a aceitar o ponto
de vista de que não existem processos superiores a outros, para a
combinação dos esforços de várias pessoas na consecução de uma
tarefa comum. A experiência ensina o oposto: o fato de que "para
cada princípio quase sempre se pode estabelecer, em contraposição,
um outro igualmente plausível e aceitável",7 significa apenas que não
levamos nossa análise bastante longe, ou que não descrevemos
situações particulares em que um prepondera súbre o outro, ou
que não estabelecemos critérios para medir a importância relativa
de cada um em circunstâncias diferentes.
3
Conclui-se daí que existem fortes motivos para que se aprofunde
a pesquisa na teoria de organização. Por que, então, tão poucas
pessoas sentem-se atraídas pelo assunto?
Um dos motivos é que se obtém mais pronto resultado pondo-se
em execução as técnicas de organização do que estudando-se sua
teoria. Normalmente chama-se o especialista de organização e mé-
todos para resolver problemas concretos e limitados. Tanto pode
ele agir intuitivamente - e muitas vezes assim o faz - como pode
adotar o método de ensaio e erro, desde que o faça com cautela.
Raramente pedem-se-Ihe explicações detalhadas de suas sugestões.
O teste definitivo a que ele se submete é o de ser ou não capaz
de resolver os casos eficientemente.
Já o teórico se interessa por observar e analisar os fenômenos
organizacionais a fim de descobrir quais as generalizações, se hou-
ver, que deles podem ser inferidas, a fim de permitir que fenô-
menos semelhantes possam ser esclarecidos através da aplicação de
princípios ou regras. O teórico não pode obter resultados imediatos.
Ao apresentar uma conclusão, terá que esperar para vê-la aceita
ou rejeitada, experimentada, reexperimentada, corrigida ou incor-
porada. Perguntar-se-Ihe-á constantemente o porquê e o como das
generalizações que oferece. Mas se sua contribuição teve ou não
uma oportunidade razoável de ser examinad~, poderá mesmo nunca
saber. Não é de se admirar, conseqüentemente, que poucos desses
teóricos tenham ido além do primeiro livro ou ensaio:
Mas o maior problema com que se defrontam é inerente à pró-
pria teoria de organização, assim como à teoria administrativa em
geral e às demais ciências sociais; numa ciência humana as gene-
ralizações devem ser condicionais.
Não obstante tais dificuldades, uma contribuição valiosa à teoria
de organização já foi oferecida por vários estudiosos e alguns ho-
mens práticos, desde o início do presente século.
4
cepção dos engenheiros, a concepção anatômica, a dos psicólogos e
a dos sociólogos. Este ensaio examina essas categorias separada-
mente, porque em cada uma existe semelhança de conceituação
suficiente para tomar a comparação não só possível como provei-
tosa. Em cada um desses grupos existe, geralmente, uma contri-
buição dominante, algumas vezes em razão de sua amplitude, outras
em função de sua intensidade, outras ainda em virtude de seu
sentido de trabalho pioneiro. Tais contribuições dominantes foram
utilizadas como ponto de referência em cada escola.
5
CAPITULO 2
7
J. M. Lahy,14 J. Amar lá etc. O movimento stakhanovista, iniciado
na Rússia em 1935, utilizou métodos tlpicamente tayloristas a fim
de "obter melhor organização para as oficinas, divisão mais racional
do trabalho e divisão mais eqüitativa das tarefas",16 bem como
a "sistematização dos movimentos, a economia de segundos e a
racionalização do trabalho".17 A principal diferença entre o stak-
hanovismo e o taylorismo é que, na Rússia, o próprio trabalhador
e não a administração - como acontecia na América - era tay-
lorista, e que o taylorista russo agia intuitivamente e não delibe-
radamente. Argumentam, ainda, os russos que sua motivação era
ideológica, sendo óbvio que Taylor visava à maior produtividade
por razões econômicas.
8
de Tecnologia de Boston. Definiu esse professor, recentemente, a
palavra ciência como "qualquer conhecimento classificado ou orga-
nizado". Certamente, como já dissemos, a obtenção de um conhe-
cimento existente anteriormente mas que permanecia sem classi-
ficação na mente do trabalhador, e sua transformação em leis,
regras e fórmulas, representa, evidentemente, a organização e a
classificação do conhecimento; muitas pessoas, todavia, não con-
cordarão em considerar ciência tal organização e classificação." 19
9
feiçoar, cient~ficamente, o trabalhador (que antes escolhia seu pró-
prio trabalho e fazia seu próprio treinamento da melhor forma
que podia); cooperar com os trabalhadores de forma a assegurar
que todo o trabalho se harmonize com os princípios da ciência
assim criada." 21
a) estudo do tempo;
b) supervisão funcional;
c) padronização de ferramentas e instrumentos;
d) sala de planejamento;
e) o 'princípio da exceção;
f) a utilização de régua de cálculo e instrumentos semelhantes,
para economizar tempo;
g) fichas com instruções de serviço;
h) a idéia de tarefa, associada a grandes prêmios pela sua exe-
cução eficiente;
i) gratificação diferencial;
j) sistemas mnemônicos para classificação dos produtos manufa-
turados, bem como do material utilizado na manufatura;
1) sistema de delineamento da rotina do trabalho;
m) moderno sistema de cálculo de custo, etc., etc.
10
administração não deve ser confundido com a sua essência ou
filosofia subjacente... O mesmo mecanismo que produzirá, em
um çaso, quando a serviço dos principios da administração cien-
tífica, os maiores. benefícios, conduzirá a insucesso ou desastre se
for errôneamente orientado. Centenas de pessoas têm confundido
o tnecanismo do sistema com sua essência." 24
11
1. Uma administração eficiente exige a aferição precisa das forças,
fatores e
efeitos existentes em am;"} situação comercial. Deve-se,
portanto, estabelecer um conjunto preciso dos fatos relativos àque-
les elementos. se necessário por pesquisas experimentais.
12
"O trabalho de cada pessoa na organização deveria, tanto quanto
possível se limitar à execução de uma única tarefa predomi-
nante".30
Segundo Taylor
13
ficam no departamento de planificação, sendo que três dêles enviam
suas ordens aos operários, e deles recebem respostas, geralmente
por escrito. Os outros quatro ficam na oficina, e, cada um em seu
ramo ou função particular, ajuda pessoalmente os operários em
seu trabalho. Alguns desses mestres entram em contato com cada
operário somente uma ou duas vezes por dia, e talvez por uns
poucos minutos, enquanto outros estão constantemente com os
operários e os ajudam freqüentemente." 32
14
cialmente conhecedores dos diversos setores - é que transmitem
a cada operário conhecimentos específicos e orientação. Planeja-se
a separação do trabalho mental e braçal tendo-se em vista as
funções a serem executadas, e não como se as mesmas estivessem
subordinadas a ou.tras fases da administração'. A administração
funcional assenta, também, providências para a máxima utilização
do princípio da divisão do trabalho, reduzindo ao mínimo as funções
que cada homem deve executar. Tende, portanto, a produzir alta
eficiência funcional, em cada homem, e no conjunto deles.
15
mando é tarefa que exige uma definição completamente diferente
de autoridade da aqui usada. Esta obediência do funcionário executi-
vo ao departamento de contabilidade não é, em princípio, iferente
das recomendações de Taylor; determina este que um operário
fique sujeito, em matéria de programação de trabalho, a um con-
tramestre e, nas tarefas de manejo da maquinaria, a outro". a.;
2.7 SINTESE
16
de se descobrir a administração mais indicada para cada caso
concreto." 3i
" PERSON. ,The genius of Frederick Taylor. In: SECKLER-HUDSON, C., ed.
Processes oi organization and management. ed. cit., p. 136.
.. GRODZINS, Morton. Public administration and the science of human relation.
Public Administration Review, p. 88-102, primavera 1951.
17
CAPITULO 3
19
A contribuição de Fayol foi primeiramente apresentada em
1908,43 e continua, ainda, muito viva, embora já tenha sidoabsor-
vida, alterada e aperfeiçcDada por outros representantes da escola.
Seu livro Administração geral e industrial se desdobra em três
partes distintas:
1. necessidade e possibilidade do ensino de administração;
2. uma análise dos princípios gerais de administração; e
3. uma discussão dos elementos de administração. H
20
;
', .,"-'~,.",.
"
executar os vários grupos de atividades assim demarcados. .. Jus-
tamente porque Fayol era um homem prático, de longa experiência,
essa atitude provavelmente era inevitável. O administrador de res-
ponsabilidade não pode divorciar-se do fator humano. As empresa!'.
constituem-se de elementos humanos, empenhados num empreen-
dimento comum e assim possuem características de organismos
vivos. Considerá-las puramente mecânicas é abrir uma porta a toda
espécie de erro. Mas, no que tange à pretensão' de que o trabalho
de Fayol tenha estabelecido uma teoria de administração - pre-
tensão que foi certamente advogada por seus discípulos - seu
conceito de organização estabelece limites que restringem o seu
próprio pensamento. ~ impossível, para a humanidade, aprofundar
seu conhecimento de organização, a não ser que o fator estrutura
seja isolado de outras considerações, ainda que tal separação possa
parecer artificial." 46
21
titui um agrupamento constante e habitual de relações humanas,
resultante da interação mútua de pessoas que trabalham juntas."·9
3 .3 COMO ORGANIZAR?
22
Fayol, o "princípio escalar" de Mooney), 55 e de acordo com a
distinção entre tipos de atividades (a "especialização",56 de l"ayol,
0- "princípio funcional", de Mooney 57 e o "princípio de homoge-
neidade", de Gulick).58 Urwick também endossa essas i,\éias, ao
expressar:
"Em organização o grupamento de atividades se processa sempre
em dois sentidos contrários: um, em que as linhas divisórias "ão
verticais, indicando tipos ou variedades de atividades; e outro, no
qual as linhas delimitadoras são horizontais, indicando níveis de
autoridaêe. É impossível definir qualquer atividade, precisame:.te,
em qualquer organização, sem enquadrá-la nesses dois sentidós, dp-
mesma maneira que é impossível fixar um ponto n~m mapa ou
numa carta a não ser em termos de suas coordenadas." 59
23
Continuando a enunciar e definir seus princípios relativos a auto-
ridade e responsabilidade, lembra Fayol - e com ele concorda
Gulick - dois aspectos essenciais, em relação à unidade de co-
mando:
"para qualquer ação, qualquer que seja ela, um empregado só deve
receber ordens de um único superior;" 63 "desde os mais remotos
tempos, tem sido reconhecido que nada, a não ser confusão, resulta
da multiplicidade de comando." 64
24
Catheryn Seckler-Hudson é favorável à descentralização:
" . .. a autoridade e a correspondente responsabilidade devem ser
delegadas e localizadas o mais perto possível do ponto em que
se realizam as operações." 68
Vendo pois o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo disse:
"Que é isto, que tu fazes ao povo? por que se assentas só, e todo
o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até a tarde?"
Então disse Moisés a seu sogro: ''É porque este povo vem a mim.
para consultar a Deus;
Quando têm algum negócio vêm a mim, para que eu julgue entre
um e outro, e lhes declare os estatutos de Deus, e as suas leis."
Totalmente desfalecerá, assim tu, como este povo que está contigo:
porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer.
Ouve agora minha voz, eu te aconselharei, e Deus será contigo.
Sê tu pelo povo diante de Deus e leva tu as coisas a Deus;
E declara-lhes os estatutos e as leis e faze-Ihes saber o caminho
em que devem andar, e a obra que devem fazer.
•• SECKLER-HUDSON, C., ed. Op. cit., p. 42.
lO NILES, H.E. In: SECKLER-HUDSON, C., ed. Op. cit., p. 60.
25
E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a
Deus, homens de verdade, que aborrecem a avareza; e põe-nos sobre
eles por maiorais de mil, maiorais de cento, maiorais de cinqüenta,
e maiorais de dez;
Para que julguem este povo em tempo; e seja que todo o negocio
pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da carga,
e eles a levarão contigo. Se isto fizeres, e Deus te mandar, poderás
então subsistir; assim também todo este povo em paz virá ao seu
lugar."
E Moisés deu ouvidos à voz do sogro, e fez tudo quando tinha dito.
26
"Organização por objetivo dominante, como abastecimento de água,
controle da criminalidade, ou educação, serve para reunir num
úniéo grande departamento todos aqueles que trabalham na con-
secução de um determinado serviço. .. Organização por processo
dominante, como engenharia, ensino, direito ou medicina, tende a
reunir num único departamento todos os que trabalham utilizando-
se duma técnica ou habilitação especial, ou então que sejam ele-
mentos integrantes de uma determinada profissão. .. Organização
à base das pessoas atendidas ou das pessoas com as quais se lida,
ou à base das coisas com que se lida, conduz à reunião, num único
departamento, independentemente da finalidade do serviço ou da
técnica utilizada, de todos aqueles que trabalham com um deter-
minado grupo de pessoas ou coisas .. , Organização à base do local
em que o serviço é executado reúne todos aqueles que trabalham
numa determinada área seja qual for o serviço que estejam desem-
penhando ou a técnica que representem." 72
27
em relação a cada um desses conceitos, uma essência real de
significado. Assim, embora essas generalizações raramente mereçam
a qualificação de princípios de administração, deve-se todavia dar-
lhes um lugar proeminente entre os fatores que concorrem para
o estabelecimento de uma organização departamental." 74
28
coisa seja feita; execução dessa coisa; e decisão de casos que surjam
ao executá-la, de acordo com regras e preceitos prefixados. Essas
classes de atividades ou são determinativas, ou aplicativas, ou in-
terpretativas". 78
29
3.S AT~ ONDE SE DEVE LEVAR A DEPARTAMENTALIZAÇAO?
30
Leonardo White, contudo, declara:
"o número máximo de subordinados que um chefe é capaz de
supervisionar, com resultado, não pode ser determinado pela apli-
cação de uma lei do alcance da atenção. O verdadeiro alcance da
atenção varia com o tipo de trabalho supervisionado (quer seja
rotineiro, quer seja aquele em que se tenha que tomar deci-
sões), com o nível de responsabilidade, com a personalidade de
chefe e chefiados e com o necessário grau de supervisão e direção". 8..
31
a "unidade de... propósito deve estar disseminada pela organi-
zação". vu
32
deve conhecer ao esquematizar suas decisões; a consultiva se refere
aos pareceres baseados naquelas informações; a supervisora con-
substancia-se na aplicação das duas fases precedentes a todos os
detalhes da execução." 95
33
Gulick é o erudito par excelence. Suas Notas sobre a teoria da
organização são metodicamente apresentadas, sua análise é sempre
lógica; raramente é ele dogmático. Na realidade, as únicas indi-
cações de dogmatismo encontram-se na sua discussão da unidade
de comando e do alcance de controle, dois conceitos que têm sido
objeto de crítica por parte de outras escolas de organização. O
estudo de Gulick sobre organização é bem mais completo que o
de Fayol. Gulick não só abrangeu toda a parte tratada por Fayol
como ainda apresentou uma vasta contribuição original. Sua aná-
lise da divisão do trabalho, sua teoria sobre a departamentalização
e suas idéias a respeito da coordenação são particularmente escla-
recedoras.
34
Pertencendo a uma categoria diferente de Fayol, Urwick, Mooney
e Gulick - que acertadamente podem ser considerados os funda-
dores desta escola - encontram-se Wallace, Catheryn Seckler-
Hudson e Henry Niles. Concentraram-se estes no desenvolvimento e
esclarecimento dos conceitos de seus predecessores, o que em grande
parte conseguiram. Todavia, também eles acentuaram a tendência,
nascida com a própria escola anatômica, de pensar em organização
em termos formais e abstratos, sem dar muita atenção ao seu
conteúdo psicológico e social. Isto constitui o que Dwight Waldo
chama de "racionalismo" na teoria organizacional, de acordo com
o qual
Diz ele:
"A análise de administração sofre atualmente dos males da super-
ficialidade, da supersimplificação e da falta de realismo. Confinou-se
estritamente ao mecanismo da autoridade e não conseguiu colocar
dentro de sua órbita os outros aspectos igualmente importantes que
influenciam o comportamento da organização. Recusou-se a atacar
a. tarefa cansativa do estudo de com quem devem ficar as ativi-
dades de tomar decisões. Tem-se contentado em falar de autoridade,
centralização, alcance do controle, função, sem procurar definir esses
termos em função das operações. Se a análise da administração
não atinge um nível mais alto de sofisticação, há pouco motivo
para esperar que se obtenha rápido progresso na identificação e
confirmação de princípios de administração válidos." 1('2
35
que, como ele, encararam a organização sob o ângulo anatômico.
Por ter sido incapaz de isolar o fator estrutura do fator pessoal
- no que foi criticado por Urwick - deixou de ser tão racionalista
quanto seus colegas. Pergunta-se: teria sido Fayol mais sábio que
os outros ao adotar um conceito de organização que, de acordo
com Urwick, "limita seu pensamento"? Teriam suas idéias sido
diferentes se acontecesse ter ele vivido ao tempo de Urwick?
Existe no trabalho de Fayol base para uma suposição - não mais
que isso - a respeito desta última hipótese: seu interesse pela
formulação racional de uma teoria de administração poderia tê-lo
levado a isolar estrutura de pessoal, tivesse ele vivido na década
dos 30, quando a discussão sobre teoria organizacional foi em
grande parte conduzida naquele sentido.
36
CAPITULO .4
10< METCALF, H. & URWICK, L., ed. Introduction. In: FOLLETT, Mary Parker.
DynBmic Bdministration. The co\lected papers of Mary Parker Fo\lett. Editado
por Henry Metcalf & L. Urwick. N. York, Harper and Brothers, 1940. p. 23.
37
3 . Organização representa pessoas que reagem e respondem a
estímulos que não podem ser definidos com precisão. 105
38
Este - afirma - está se tornando cada vez menos pessoal; sig-
nifica ultimamente, com freqüência, controle orçamentário, controle
de estoque, etc.; está "cada vez mais significando controle de fatos
em vez de controle de pessoas." 107
4. 1 . 2 SEGUNDO PRINCIPIO
39
formulada, e não após já ter sido adotada uma orientação. Com
isto ficará facihtada a integração, pois se evitará que formulação
e ajustamento da política se desdobrem em dois processos distintos.
40
vezes, contudo, uma providência inversa toma o lugar deste último
passo; em vez de se argumentar em relação a cada um dos ele-
mentos, tem-se que buscar a questão total a verdadeira -
obscurecida por detalhes de pequena monta ou por apresentação
defeituosa. 1) 7
No decorrer desse processamento, é sempre possível prever a
reação e cuidar dos antecedentes, isto é, 'dos sintomas reveladores:
é pela previsão da reação e pela preparação para recebê-la que
se atinge a integração. 118 Previsão da reação não significa que se
devam evitar as dificuldades mas sim verificar suas possibilidades
e avaliá-las; integram-se "os diferentes interesses sem que seja ne-
cessário mexer todas as peças".119 A preparação para a reação
significa formar uma atitude que leve à integração. 120
. Para se poder prever uma reação é preciso não esquecer que o
comportamento de uma pessoa determina o comportamento de ou-
tras; uma reação representa sempre' uma relação; uma pessoa reage
não apenas a outra mas também à relação que entre elas existe;
os empregados não reagem apenas aos seus patrões, mas também
à relação entre eles e o patrão. Essa concepção de "comportamento
em círculo" constitui a base da integração. 121
Ninguém deve supor que se obtenha facilmente a integração.
Muitos obstáculos se lhe antepõem, tais como:
exige ela um alto nível de inteligência, arguta percepção e
brilhante capacidade inventiva; é mais fácil lutar do que
integrar; 122
2, nossa maneira de viver habituou muitos de nós a nos de-
liciarmos com a dominação; a integração não nos dá tais
"emoções"; 123
3. a questão é muitas vezes discutida teoricamente quando se
deveria cuidar da ação necessária para resolvê-la; 124
117 Id., ibid., p. 42.
118 Id., ibid., p. 43-4.
118 Id., ibid., p~ 43.
110 Id., ibid., p. 44.
1st Id., ibid., p. 44-5.
121 Id., ibid., p. 45.
lJI Id., ibid.
l. Id., ibid., p. 46.
41
4. a linguagem utilizada nem sempre conduz à integração; 125
5. carecemos de treinamento para a integração; somos educados
para "vencer" o adversário. 126
4 1 3
o o TERCEIRO PRINCIPIO
42
''Poder-sobre'' é o poder exercido por uma pessoa ou grupo de
pessoas sobre uma pessoa ou outro grupo. A coerção é uma forma
de "poder-sobre" a persuasão pode ser também, algumas vezes,
uma forma de "poder-sobre". "Poder-com" é um poder conjuntamente
exercido, um poder resultante da cooperação e não da coação." 131
43
Como é que uma ordem atinge seu objetivo, como provoca ou
confirma alguma mudança na atividade do pessoal?
Têm também:
"outra interessante propriedade. Constituem de tal forma uma
parte íntima de nosso equipamento mental que muitas vezes não
podemos torná-los explícitos. Agem em nosso pensamento como
um sistema de verdades absolutas. Por isso tomam parte na deter-
minação de nossos pensamentos e decisões diários. Representam
nossos valores e expressões definitivas em função dos quais ava-
liamos nossa vida cotidiana." 138
130 FOLLETT, M. P. The giving oí orders. In: Dyr.amic administration. ed.
cit., p. 51.
137 LEIGHTON, A. The governing 01 men. Princeton, Princeton Univ. Press,
1945. p. 383.
"'" ROETHUSBERGER, F. J. Manegement and trX>rale. Cambridge, Mass., Harvard
Univ. Press, 1941, p. 31-2.
44
Daí uma ordem, para provocar uma verdadeira mudança, de-
verá invocar os padrões de ação ou sentimentos dos indivíduos.
Com esse objetivo, sugere Mary FoUett que a pessoa que emite
a ordem promova a formação de certas atitudes mentais, provi-
dencie para que essas atitudes se manifestem livremente e estimule
as reações assim libertadas à medida que se forem verificando. 139
45
à "lei da situação", que representa a melhor solução para o pro-
blema em foco na situação administrativa.
A descoberta da "lei da situação" e a obediência à mesma devem,
tanto quanto possível, constituir tarefa comum à pessoa que emite
a ordem e àquela que a recebe: assim, na realidade, uma pessoa
não estaria dando uma ordem a outra, mas ambas estariam rece-
bendo suas ordens da situação.
O conceito de "lei da situação" tenderia a despersonalizar o
processo de dar ordens, produzindo, assim, o equilíbrio ideal entre
autoritarisjl1o e Iaissez-faire. 144
Herbert Simon concorda inteiramente com Mary Follett quando
diz que o dirigente não deve apoiar-se muito fortemente em sua
autoridade para fazer com que as ordens sejam cumpridas; não
deve fazer valer, com excessiva freqüência, a sua posição hierár-
quica, para exercer autoridade sobre os subordinados. Uma ordem
deve ser cumprida não porque emane de quem tem autoridade
e sim porque as pessoas a quem é dada a consideram exata. 145
4. 1. 4 QUARTO PRINCIPIO
46
trabalhos revelam seu interesse pelo assunto. Em seu primeiro livro,
The New State, publicado em 1920, escreve:
"A verdadeira autoridade é inerente a um verdadeiro todo. O
indivíduo é soberano de si próprio na medida em que seja capaz
de harmonizar os elementos heterogêneos de sua natureza. Duas
pessoas são soberanas de si próprias no limite de sua capacidade
de se constituírem numa só. Um grupo será soberano sobre si
mesmo na medidl:a em que, de vários ou muitos, seja capaz de
formar uma unidade. Um Estado somente é soberano quando tem
o poder de criar uma unidade na qual todas as outras estejam
contidas. Soberania é o poder decorrente da consciência de uma
completa interdependência de todos." 148
As idéias de Mary Follett foram chamadas de sonhos de olhos
abertos e de neAação do individualismo. Ambas as classificações
parecem ser inteiramente descabidas.
Mary Follett era sem dúvida idealista, mas também bastante
prática. No decorrer de seu estudo dos conceitos de psicologia
procurou sempre ressaltar como funcionavam na vida cotidiana.
Muitos de seus ensaios estão cheios de exemplos simples, alguns
tão simples que parecem quase infantis. É bem verdade que alguns
de seus conceitos são difíceis de se entender, não constituindo isto,
porém, peculiaridade de sua obra. Em toda ciência social encon-
tram-se exemplos disto. Na verdade, as ciências sociais estão-se
tornando, cada vez mais, tão especializadas que os especialistas
em ciência política acham cada vez mais difícil compreender os
psicólogos e sociólogos; a recíproca pode ser também verdadeira.
Mesmo dentro de cada ciência social, uma escola de pensamento
por vezes lamenta ser impossível compreender uma outra, em vir-
tude da extrema complexidade de linguagem.
É provável que a pecha de inimigo do individualismo magoasse
Mary Follett profundamente, pois concentrou seu interesse antes
de tudo no ser humano. Sua teoria da "lei da situação" demonstra
o profundo respeito que tinha pelo homem, o qual, de acordo com
o que pensava, não devia obedecer a outro homem, mas sim aten-
der a uma avaliação imparcial de fatos e interesses. Estava con-
vencida de que o ente humano encontrava sua melhor expressão
através da "integração", e não apenas por intermédio de si mesmo.
". FOLLE'M', M.P. The New State. N. York., Longmans, Green and Co., 1920
p: 271.
47
CAPITULO 5
49
primeiros relatórios, ressaltaram-se o homem e as reações indi-
viduais, mas, gradualmente, passou-se a dar mais relevo aos aspec-
tos sociológicos do problema.
50
deveres ou funções num todo coordenado".152 Os sociólogos con-
sideram tais conceitos incompletos bem como estéreis e dogmá-
ticos; sua teoria de organização tem um objetivo mais amplo.
Simon, por exemplo, oferece a seguinte lista provisória das "prin-
cipais áreas de pesquisa" sobre o assunto:
51
o padrão de comportamento efetivamente seguido e b) algumas
partes do padrão de comportamento podem estar em contradição
com o plano. Com a expressão organização informal se quer ex-
pressar o padrão global de comportamento adotado - a maneira
pela qual os membros da organização realmente se comportam
- na medida que esses padrões não coincidam com o plano
formal." 15:;
52
fábrica e os umbrais dos escritórios para exercer pressões positivas
sobre seus membros que estão do lado de dentro. E a subdivisão
estrutural da organização formal, que é efetuada tendo em vista
a eficiência, produz outros grupos sociais, internos. Existem grupos
de trabalho. .. grupos ligados pela proximidade. .. e grupos que
decorrem da posição hierárquica ou da formação profissional ou
técnica." 158
53
tenciam há mais tempo à organização. As relações da administração
com esses dois grupos se processavam indiretamente. Obtinham
eles a integração espontâneamente porque a administração criava
o clima para esse fim. As relações da administração com o terceiro
grupo - o grupo organizado - eram diferentes: possuía este um
líder, selecionado pela administração, respeitado e desfrutando a
confiança dos companheiros. Este líder dedicava-se à tarefa de
obter a integridade do grupo e de criar relações ordenadas entre
esse grupo e os outros departamentos da fábrica." 161
Devem-se acrescentar a esta breve análise das relações do tipo
formal-informal, para maior esclarecimento do papel de tais rela-
ções, as seguintes palavras de Selznick:
"O fato de haver uma tendência à limitação da propriedade
dos sistemas formais de coordenação, por estarem em jogo os indi-
víduos como personalidades integrais, não significa que os carac-
terísticos da organização sejam os mesmos dos indivíduos. Cumpre
reconhecer o caráter orgânico emergente da organização conside-
rada como um sistema cooperativo. Isto quer dizer que a própria
organização toma decisões, age e se adapta." 162
S4
que seriam levadas em conta se o trabalho fosse dividido de baixo
para cima. Por outro lado, a divisão do trabalho de baixo para
cima eliminará certas possibilidades de especialização de unidades.
Simon, Smithburg e Thompson oferecem o seguinte exemplo para
provar essa tese:
55
(warming up) na nova tarefa: a questão' da completa utilização
do tempo; tédio e fadiga; cor'relacionamento entre a divisão do
trabalho das máquinas com a divisão do trabalho dos empre-
gados etc. 1GG
S6
Os mesmos autores sugerem e discutem os seguintes valores:
poder de controle e responsabilidade pelos deveres assumidos, pe-
rícia e economia, decisão das questões' nos níveis mais baixos,
influência dos dirigentes na formulação da política e importância
dos programas. 170 Finalizam com as seguintes palavras:
"Cabe ao analista de organização identificar os possíveis métodos
de especialização e confrontar uns com os outros para avaliar as
respectivas vantagens e desvantagens. A sobrevivência da organi-
zação pode depender da exatidão dessa avaliação." 171
5.4 AUTORIDADE
57
2. a pessoa que a recebe precisa acreditar que a ordem se coa-
duna com o objetivo da organização;
3. a pessoa que recebe a ordem deve acreditar que esta se har-
monize com seus interesses pessoais; se acredita que a ordem
envolve um ônus que destruirá a vantagem resultante de sua
ligação com a organização, não haverá mais estímulo para
que continue prestando sua colaboração;
4. a ordem deve ser dada a um indivíduo que esteja, física e
mentalmente, apto a executá-la. 176
58
Os mesmos autores distinguem quatro tipos de relações. de auto-
ridade, correspondendo aos diferentes motivos de sua aceitação:
autoridade por confiança, autoridade por identificação, autoridade
por sanções e autoridade por legitimação. 180
59
da corre.Ção da proposição. Se a autoridade nunca chegasse a ser
aceita, então, ou as decisões de cada servidor teriam que ser toma-
das por ele próprio - teria que tomá-las sem o auxílio de outros
membros da organização - ou a tarefa de persuasão, em cada
nível de comunicação, se tornaria tremenda." 181
Daí ser a principal função da autoridade "permitir uma grande
flexibilidade na divisão da tarefa de tomar decisões".182
60
No que diz respeito ao primeiro princlplO, "a opmlao geral é
que, para se poder impor a uma unidade organizacional responsa-
bilidade pela obtenção de certos objetivos, é preciso dar-lhe auto-
ridade para controlar todos os meios empregados no alcance desses
objetivos". 181 Contudo, em administração isso se torna impossível,
porque a liberdade de ação do administrador sofre restrições, estan-
do ele sujeito, no mínimo, à revisão judicial de seus atos, tendo
em vista a proteção dos cidadãos cujo comportamento possa pre-
tender dirigir; aos limites e controles do orçamento; à regulamen-
tação do serviço público. 188
5 .6 COMUNICAÇÃO
61
A estas palavras de Barnard, acrescenta Simon um esclareci-
mento:
"A comunicação pode ser formalmente definida como qualquer
processo por intermédio do qual se transmitem as decisões de um
membro a outro da organização. É óbvio que não pode haver
organização sem comunicação, pois sem ela o grupo não pode in-
fluenciar o comportamento do indivíduo." 192
62
mente reconhecidas. O mesmo símbolo não tem necessariamente
o mesmo sentido para grupos diferentes." 195
63
do trabalho, têm como uma de suas principais atribuições trans-
mitir informações entre cargos e unidades do mesmo nível. O
interesse geral no processo de conferências, evidenciado pelos rela-
tórios de pesquisas e por outros documentos escritos, indica que
este método de intercâmbio horizontal tem merecido séria consi-
deração." 199
5°7 ° SUMARIO
64
prevenção, talvez no esforço de ressaltar determinado ponto. Isto
p~rece ser completamente desnecessário. Zombar dos chamados
princípios de orsanização não parece ser a atitude correta - prin-
c~palmente partindo de alguém tão versado em lógica.
65
as aplicações que possam ser dadas à sua ciência. Em muitos casos,
é o oposto que ocorre: o cientista, como técnico, verifica quão
pouco é o controle que sobre seus produtos exerce o cientista, como
cidadão. Nem tampouco sua preocupação dá a suas contribuições
técnicas o caráter permanente que elas não possuem. Reconhecer
que a ciência social constitui atualmente um instrumento parcial
e impreciso não torna insignificantes suas potencialidades. E mesmo
onde os conhecimentos científicos não possam pretender validade
universal, poderão contudo servir como poderosas armas de mani-
pulação nas mãos dos que sabem empregá-las e não têm escrúpulos
quanto às conseqüências." 2011
66
CAPITULO 6
67
de suas conclusões reflete valores e objetivos industriais e comer-
ciais, especialmente produtividade, presteza, eficiência e economia
Não obstante ter sido seu fundador um industrial, a teoria dos ana-
tomistas da orllanização tem em mira especialmente a análise e
resolução dos problemas administrativos, ressaltando em particular
as questões peculiares à alta administração. Para esta escola, eco-
nomia e eficiência são acessórios; o principal: adequação, respon-
sabilidade e receptividade.
Todavia, tanto os enllenheiros como os anatomistas interessaram-
se essencialmente pela organização como um problema técnico, a
"economia," nas palavras de Selznick. Concentraram seus esforços
no aperfeiçoamento da estrutura formal, das rotinas e dos sistemas.
Os papéis a serem representados - e não os atores, nem o impacto
por eles causado sobre seus papéis - é que foram objeto da teoria
organizacional dos engenheiros e dos anatomistas da organização.
Preocuparam-se com a organização como um "sistema de relações
que definem a disponibilidade de escassas fontes, e que podem
ser manejadas em termos de eficiência e produtividade".207 Com-
partilharam a convicção de que "problemas como o alcance do
controle, o papel do staif ou dos órgãos auxiliares, a relação entre
órgãos centrais e regionais, os méritos relativos de órgãos do tipo
colegiado, de direção singular ou múltipla, são assuntos típicos da
ciência da administração. O princípio da coordenação através da
escala hierárquica e o princípio funcional, como elementos da
teoria de organização, resultam da tentativa de explicar os aspectos
mais gerais da organização como um problema técnico, ou, em
nossa expressão, como uma economia." 208
Encontram-se num pólo oposto os psicólogos e sociólogos da
organização. Interessam-se estes pelo homem e pelas reações indi-
viduais, bem como pelo homem como integrante do grupo e ainda
pelo comportamento social.
"Do ponto de vista da organização como um sistema formal,
encaram-se as pessoas funcionalmente, como decorrência de seus
papéis, como integrantes de determinados setores do sistema coope-
rativo. Mas, na realidade, os indivíduos têm uma propensão para
resistir à despersonalização, para transpor os limites de seus papéis
parciais a fim de participarem cada um como um todo". 209
Im
Id., ibid .
..,. Id., ibid.
,.,. Id., ibid., p. 26.
68
Nos indivíduos assim considerados - cada um como um todo
- e na sua interação, é que os psicólogos e os sociólogos concen-
traram sua atenção. O aspecto técnico da organização tornou-se
um problema secundário, algumas vezes, mesmo, um setor esque-
cido.
69
também as existentes entre os diferentes e mesmo opostos ambi-
entes políticos - é uma questão ainda duvidosa.
70
teoria mais perfeita, deveriam ser suficientes para tentar os mestres
a empenharem-se em tal tarefa com o objetivo de produzir - não
uma ciência esotérica, que sirva apenas como campo de discussão
para os eruditos - mas um conjunto de princípios e normas de
organização que se enquadre na definição de teoria dada por
Gaus:
71
SEGUNDA PARTE
PANORAMA EM 1970
CAPJTULO 7
7. 1 CONSIDERAÇõES GERAIS
73
abordados, talvez, o papel da linha e do assessoramento, as funções
do dirigente, o alcance do controle e, poss\velmente, ainda que de
leve, a teoria da empresa. Não somente ter-se-ia a discussão con-
centrado em problemas relativamente específicos das organizações
industriais, mas os próprios conceitos encontrariam seu fundamento
nas atividades da empresa e com elas seriam ~ntimamente rela-
cionados. Hoje (Haire falava de 1959, mas a afirmativa continua
procedente), a situação é bem diferente. Todo um grupo de formu-
lações conceptuais tem a ver com o problema da organização in-
dustrial: teoria dos jogos, teoria da decisão, teoria da informação,
teoria da comunicação, teoria dos grupos, teoria da motivação, tudo
isso pode ser focalizado no terna central. Ultrapassando os enfoques
conceptuais específicos, a crescente tendência para elaboração de
modelos e uma orientação quase matemática tranformaram inteira-
mente o campo de estudos da teoria da organização. Com efeito, o
problema da organização é algo raro nas ciências sociais: constitui
o foco natural de diversas disciplinas, o que permite a utilização
da força conjugada de uma série de conceitos teóricos, cada qual
ligado a amplas e diferentes estruturas conceptuais nas disciplinas
de que se originam. 213
74
Rubenstein e Haberstroh ampliam ainda mais os limites das con-
tribuições à teoria de organização. Afirmam não haver uma comu-
nidade claramente definida de intelectuais responsáveis pela pes-
quisa em teoria da organização e vêem três grupos distintos de
influências sobre essa teoria. No primeiro estariam aqueles que,
vindos embora de campos tão diversos entre si como a neurologia, a
matemática, a sociologia animal e a filosofia, podem estar contri-
buindo indireta mas substanciosamente para uma teoria do compor-
tamento organizacional. Num segundo grupo viriam aqueles que
pertencem a áreas evidentemente preocupadas com o aperfeiçoa-
mento da arte da decisão: relações humanas, pesquisa operacional,
psicologia ocupacional, a administração enfim. E no terceiro grupo
teríamos oS que atuam na sociologia, na psicologia social, na ciência
política e na antropologia, e que se interessam pelo desenvolvimento
da teoria da organização por ela mesma. A contribu\ção desses três
grupos está sujeita ao mesmo processo de crítica, experimentação
empírica e reformulação aplicável a qualquer campo científico,
sendo o objetivo de tal processo tornar as contribuições comuni-
cáveis, sistemáticas e cumulativas. 216
75
periosa de maior adequação das organizações ao contexto em que
vivem têm forçado a realização de pesquisas altamente requintadas,
que, de uma maneira ou de outra, confirmam aquela assertiva cate-
górica de Gaus 219 de que a teoria não é um setor de estudo iso-
lado, mas um esforço muitíssimo prático e básico, destinado a
extrair da experiência padrões e orientação.
76
mecanicismo taylorista para caracterizar a primeira escola e racio-
nalismo fayoliano para englobar os componentes da segunda. Quanto
aos psicólogos e sociólogos da organização, foram identificados,
então, como um terceiro grupo, em que dominava a preocupação
de obter realismo em teoria da organização.
77
dagem, hoje em dia, do ponto de vist& teórico, se faz predominan-
temente com propósito de crítica.
Se os engenheiros e anatomistas se preocupavam somente com o
sistema formal, com seus objetivos, e os princípios e métodos capa-
zes de assegurar sua concretização; se nos seus esquemas o indi-
víduo entrava apenas como um dos recursos essenciais à obtenção
dos fins colimados, ocorre, porém, que os indivíduos "não só tra-
balham para a organização" - eles são a organização. 227 Dessa
preocupação com o elemento humano se originaram os psicólogos
e sociólogos da organização, muitos deles conhecidos hoje como os
teóricos das relações humanas, entre· os quais avulta a contribuição
de Mary Parker Follett e Elton Mayo, comentada anteriormente
(capítulos 4 e 5).
Já Barnard e Simon - que estão incluídos, ao lado de Elton
Mayo, na classificação d~ sociólogos da organização na primeira
edição deste trabalho - são hoje considerados os pioneiros do
comportamentalismo (behavioral sciences approach), no estudo das
organizações.
78
como ele, tentaram realizar através do estruturalismo a síntese da
organização formal com as teorias de relações humanas, bem como
os principais e recentes autores devotados ao estudo da teoria de
sistemas aplicada à organização - em especial Katz e Kahn, Scott,
Kast e Rosenzweig, e Thompson .
. Está visto que o esquema adotado não engloba todas as con-
tribuições dos últimos anos à teoria de organi·zação. Se isso já era
difícil em 1954 - e daí no original em inglês este trabalho, então
elaborado, chamar-se prudentemente An analysis oi the major
theories oi organization - tornou-se agora tarefa impossível, pois
quase todo mês algum artigo, ensaio ou mesmo livro novo aparece
abordando direta ou indiretamente o assunto, e nem sempre toda
essa abundante literatura é acessível ao leitor brasileiro. Mas crê
a autora que as mais importantes contribuições à teoria da orga-
nização são aqui focalizadas.
79
por uma referência a um principio geral, ou seja, demonstrando-se
que a ocorrência desse fato, nestas circunstâncias, pode ser pre-
v isível a partir desse princípio. Para estabelecermos tal princípio
explanatório ou generalização teórica, muitos acontecimentos de-
vem ser estudados e classificados em catego.rias gerais que os tor-
nem comparáveis. A explicação de um princípio requer uma pro-
posição mais generalizada, da qual esse mesmo princípio - e ou-
tros a ele similares - possam ser deduzidos. 229
80
Neste trabalho, adotou a autora como ponto de partida o con-
ceito de Waldo, muito embora sejam também focalizadas teorias
que, de certo modo, já satisfazem os requisitos mais rigorosos dos
demais autores citados.
81
CApITULO 8
83
ele denominada "unilateralismo" - e, por outro lado, de dese-
quilíbrio na ponderação dessas variáveis, o que, salienta, foi uma
conseqüência do próprio unilateralismo. ''Em outrás palavras, os
únicos fatores considerados foram aqueles relacionados com o em-
prego ou função." 235
84
Logo a seguir, escreve Pfiffner, no mesmo artigo:
"0 criador do POSDCORB preferiu ignorar as novas tendências,
ficando com a corrente tradicionalista que, muito embora tomasse
em consideração o fator humano, não o fazia como um dos elemen-
tos fundamentais para a administração, quer a encaremos como
atividade, quer a encaremos como disciplina."
85
rada pelos anatomistas da organização, segundo a classificação en-
tão adotada). Para March e Simon a lacuna mais grave, talvez, da
doutrina desse grupo, é que não confronta a teoria com elementos
de prova, o que atribuem a dificuldades operacionais. Afirmam que
as teorias clássicas tendem a dissolver-se quando postas em forma
que admita experimentação e que tal fato, porém, não explica in-
teiramente a ausência de trabalhos experimentais. 244
Ao mencionar essa opinião de Simon, sobre a ausência de mé-
todo rigorosamente científico por parte dos autores da teoria clássica,
Dwight Waldo ressalta que, entretanto, a falha fundamental desses
autores residia em não entenderem as distinções que haviam feito;
não se deram conta de que a sumária separação de política e
administração, que se continha em suas concepções, não impedia a
presença de um componente valorativo em muitao; das coisas que
julgavam estar tratando cient\ficamente. Com efeito, "seus princí-
pios representavam uma fusão e uma confusão de elémentos de
fato e de valores." 245
Noutro trecho de seu livro, March e Simon comentam que, em-
bora haja muita comunicação e superposição entre as obras dos
estudiosos de organização por eles enquadradas no grupo da admi-
nistração científica (ou teoria fisiológica da organização) e daque-
les a que deram a designação de teóricos da gerência administra-
tiva, as duas doutrinas não deixam de ser bem distintas em sua
conceituação. Têm elas, sobretudo nas versões mais formais, a
mesma preocupação com as propriedades neurofisiológicas mais
simples dos seres humanos e os tipos dê tarefas mais simples que
se executam nas organizações. Os teóricos da gerência administra-
tiva, porém, tendem a levar a sua análise, ao menos em termos
de sabedoria e penetração, além dos limites estabelecidos por seus
modelos formais. 246
March e Simon observam ainda, referindo-se especialmente a
Mooney - no que se aproximam de Pfiffner e Sherwood, como
veremos a seguir - que aquele autor não esclarece se os seus
princípios de organização são:
. .. "recomendações de ação ou definições. A interpretação mais
generosa talvez será dizer que um princípio é um fenômeno ou
~l4.Id., ibid., p. 42-3.
Uó W ALDO, Dwight. Public administtation. In: lnternational Encyclopaedia
01 Social Sciences. p. 149.
148 MARCH & SIMON. Op. cit., 29.
86
estado de coisas, cuja presença é observada (empu-icamente) toda
vez que se observa uma organização. Todavia, no ponto de vista
de Mooney, torna-se então necessário definir algumas especifica-
ções independentes do que se considere uma organização, a fim
de que os princípios não venham a constituir simplesmente uma
parte de definição da organização... E como não se veja nada
disso feito de modo coerente, o ensaio de Mooney e outros seme-
lhantes tendem a tornar-se emp~ricamente vazios." 247
87
mal as vanas modificações resultantes de "camadas comportamen-
talistas" tais como pequenos grupos informais, sistemas de poder e
de decisão não identificados como os sistemas formais de autori-
dade, canais informais de comunicações que fogem aos canais ofi-
ciais, etc. 252
88
velmente proporcionarão elementos mais úteis a respeito das res-
trições que se impõem à simples atividade muscular dos homens.
O que mais necessita esse grupo parece ser estimar a forma das
funções essenciais em que se baseiam as hipóteses ou normas prá-
ticas encontradas na literatura. 255
89
donado no capítulo 2,260 segundo o qual suas proposlçoes eram
mais do que "técnicas", eram "uma maneira de pensar" (Taylor
usou mesmo a palavra "filosofia"). Scott considera que Taylor e
alguns de seus seguidores, como Gantt e os Gilbreths, viam na aná-
lise do trabalho e no salário fixado cientificamente elementos cru-
ciais para a harmonia industrial. Assim, embora o objetivo princi-
pal de seu movimento fôsse aumentar a produtividade, outros obje-
tivos seriam conseguidos concomitantemente, em especial a mutua-
lidade de interesses entre patrões e empregados através da análise
científica do trabalho e do estabelecimento do salário em função
dessa análise. 261
90
em certas circunstâncias, que tentaremos especificar, tratar uma
'organização como simples mecanismo produz resultados não previs-
tos pela teoria clássica." 264
Posteriormente a March e Simon, já houve mesmo quem inves-
tigasse outras dessas certas circunstâncias, e com requintes de me-
todologia que devem ter merecido a aprovação daqueles autores.
É o caso, por exemplo, de Joan Woodward, como lembra Scott,
ao explicar as deficiências na formulação da teoria .da organi-
zação formal em função do tamanho e da complexidade da organiza-
ção. Em termos gerais, diz ele, já era grande a organização em cuja
análise se baseou essa teoria - grande, mas não gigantesca; suas
funções tinham consideráveis inter-relações, mas não eram extre-
mamente complexas como decorrência do avanço da tecnologia e
dos produtos. Além disso, possuía poucos técnicos e cientistas alta-
mente especializados, sendo a maioria dos empregados de habilita-
ções facilmente adquiríveis. À proporção que o progresso científico
e tecnológico alterava esse quadro de simples para complexo e o
gigantismo empresarial se afirmava, os modelos da teoria da orga-
nização formal foram se mostrando inadequados, e muitas vezes os
resultados mais favoráveis eram obtidos justamente sob esquemas
organizacionais que desafiavam os postulados até então aceitos. 265
Concluindo, ressalta Scott que Joan Woodward apresentou pro-
vas concretas nesse sentido no livro em que relata e analisa 10
anos de pesquisas sobre organização industrial que efetuou na
Inglaterra, sob os auspícios primeiramente do South East Essex
College of Technology e posteriormente do Imperial College of
Science and Technology.266 O cerne das conclusões de Joan
Woodward consiste na constatação de uma correlação entre a tec-
nologia da produção e as características organizacionais. As indús-
trias de tecnologia simples - por exemplo, a utilizada na indústria
manufatureira - até hoje apresentam resultados favoráveis com
a obediência a princípios clássicos de organização (o princípio
escalar ou hierárquico, o do alcance do controle, a divisão de atri-
buições entre a linha e estado-maior, etc.), ao passo que na indús-
tria avançada de transformação - por exemplo, a petrolífera -
em que a coordenação já integra o próprio processo da produção,
SIM Id. ibid., p. 46.
206 SCOTT Op. cit., p. 118-9.
... WOODWARD, Joan. Industrial oT~anization, theory 8nd practice. London,
Oxford University Prels, 1965.
91
a função principal da organização é definir papéis e relações den-
tro do sistema social. 267 Em outras palavras, a teoria da organiza-
ção formal se aplica com vantagem às indústrias de tecnologia sim-
ples (das quais foi em grande parte deduzida) mas não às de
tecnologia avançada, que ainda nem siquer existiam quando de sua
formulação.
De tal modo é importante o trabalho de Joan Woodward que
Bergamini de Abreu, em crítica do livro dessa eminente pesqui-
sadora para a Revista de Administração Pública, salienta que, em-
bora das pesquisas relatadas não tenha resultado algo que se asse-
melhe a uma lei geral relacionando a tecnologia ao comportamento
organizacional, dadas as dificuldades de definir e medir as diferentes
tecnologias, mesmo assim as suas conclusões constituem uma das
mais valiosas contribuições para o estabelecimento de uma teoria
geral da organização. Na opinião da prof. Leonard Sayles, da Uni-
versidade de Colúmbia de N. York - é ainda Bergamini de Abreu
quem escreve - a pesquisa empreendida por Joan Woodward é
comparável aos estudos realizados na Western Electric por Elton
Mayo e seus companheiros. 268
Também não deve ser esquecido que, vez por outra, mesmo sem
o propósito de apresentar exemplos de sucesso da técnica da orga-
nização formal, determinado autor focaliza um desses casos.
Assim é que, na sua biografia dos "grandes organizadores" -
entre os quais destaca Du Pont, Sloan e Weir - Ernest Dale
comenta que todos eles desenvolveram suas idéias e pautaram suas
reformas em resposta a um desafio específico. Em alguns casos
haviam assumido a direção de empresas até então submetidas ao
controle de um só homem - um homem genial cujos encargos
haviam finalmente excedido sua capacidade, ou que havia morrido.
O sucesso das reformas constitui pelo menos alguma prova de valor
do trabalho desses reformadores. 269
Certas generalizações, diz Dale, podem ser extraídas da análise
da ação desses homens. Tinham sempre objetivos claramente de-
finidos e até certo ponto mensuráveis; não consideravam a divisão
do trabalho e a distribuição de tarefas como predeterminados, mas
como dependentes dos objetivos. Encaravam a organização mais
18'7 WOODWARD, Joan. Op. cit., p. 122-4.
- REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA, 4(2): 194-200, 2.0 sem. de 1970.
- DALE, Ernest. The treat org'Jni%era. N. York, McGraw Hill, 1960.
92
<:omo arte do que como ciência. Embora tendessem a classificar
os tipos de trabalho e a formular hipóteses ou critérios de orga-
nização, suas categorizações e hipóteses levavam em conta a tecno-
logia da indústria, o ambiente e especialmente as personalidades
dos novos dirigentes. Suas hipóteses eram aproximações e orienta-
ções utilizadas com flexibilidade, ao invés de princípios aplicados
sem consideração a circunstâncias e objetivos. Entre essas aproxi-
mações ou orientações Dale enumera algumas bastante semelhantes
quando não idênticas aos princípios da teoria da organização for-
maI, tais como alcance de controle, descentralização de execução e
coordenação de controle, etc.
Conclui Dale dizendo que a análise das organizações evidencia
diferenças mesmo havendo semelhanças gerais, e constata seme-
lhanças mesmo havendo diferenças. Usando-se o método compara-
tivo, isto é, um enfoque preocupado com o reconhecimento e a
descrição das semelhanças fundamentais entre diferentes estrutu-
ras organizacionais, pode-se chegar a conclusões aplicáveis a outras
situaçõ~s similares ou comparáveis. Em suma, pode-se atingir não
uma teoria universal, mas teorias que sejam imediatamente utili-
záveis e que possam, talvez, eventualmente, tornar-se geralmente
válidas. 270
Peter Drucker também comenta elogiosamente a organização da
G. M. promovida e executada por Alfred P. Sloan, Jr., um dos
"grandes organizadores" de que trata Dale. Diz Drucker que, na
General Motors, desde 1923 - quando Sloan assumiu a presidên-
cia - o "conceito de descentralização desenvolveu-se para cons-
tituir-se numa filosofia de direção e num sistema de governo local. 271
Analisa Drucker a forma de descentralização adotada nessa gigan-
tesca empresa que define sinteticamente como "um fluxo de duas
mãos, com divisão de poderes e funções, mas sob unidade de
ação". ~72
270
DALE. Some foundations of organization theory. In: Op. cit., p. 1-29.
DRUCKER, Peter. Decentralization, extraído de Concept of the corporation.
In: LITTERER, J. A., ed. Organizations: struclure and behavior. 1963. p. 107.
27' O próprio Drucker descreveu minunciosamente a organização da G. M .,
segundo a qual, em resumo, cerca de 30 divisões se incumbiam da fabricação
de automóveis. caminhões, acessórios, motores Diesel etc. (organização de acordo
com o produto) e tinham a seu lado, como parte da administração central,
os serviços de apoio e de estado-maior, com dois comitês ao topo, coorde-
nando cada um desses agrupamentos (um de linha, outro de estado-maior) e
integrando a respectiva ação. Nas palavras de Drucker, esses dois comitês
constituem o "órgão central C:e coordenação, decisão e controle, e podem ser
chamados de "o governo da G.M." (Op. cito p. 106).
93
Acrescenta Drucker que não encontrou muitas provas de que
teorias de organização governamental ou exemplos históricos te-
nham tido influência considerável sobre a organização da G. M. O
impacto parece ter vindo predominantemente da experiência e das
necessidades. Entretanto, pode-se identificar - ainda é Drucker
que~ escreve - um paralelo extremamente aproximado entre o
esquema de organização da G. M., de um lado, e de duas institui-
ções renomadas por sua eficiência administrativa, de outro lado: a
Igreja Católica e o moderno exército, tal como desenvolvido pelo
estado-maior da Prússia entre 1800 a 1870 e posteriormente ado-
tado generalizadamente. 273 Ora, é sabido que essas duas institui-
ções forneceram, direta ou indiretamente, muitos subsídios à for-
mulação da teoria de organização formal, especialmente às concep-
ções de Urwick e Mooney.
94
cas e transigênciais, difícil de obter-se sob estruturas convencionais
de organização." 277
95
a divisão do trabalho; a autoridade limitada do cargo, regida por
normas explícitas, sendo a remuneração fixa e de acordo com a
hierarquia; a competência técnica dos funcionários, nomeados e
não eleitos para o cargo, que devem exercer em princípio como
sua única ocupação, no qual são estáveis e têm perspectivas de
carreira; a separação entre propriedade e administração; a ênfase
em regras gerais e nas comunicações escritas; e a disciplina ra-
cional. 279
96
c1uíram que, embora descreva ele um tipo ideal em termos das
relações formais, não leva em consideração conseqüências disfun-
cionais para a eficácia organizacional. Os estudos desses autores
indicam que a organização burocrática é influenciada por fatores
de comportamento que Weber não levou em conta. Merton, por
exemplo, afirma que a estrutura burocrática pode ter sobre o com-
portamento dos participantes da organização conseqüências desas-
trosas para a consecução dos objetivos da organização, isto é, pode
ser· prejudicial do ponto de vista de uma orientação teleológica. ~82
91
supera as limitações da capacidade decisória ou computacional dos
indivíduos ou outras formas de organização (isto é, pela especia-
lização, divisão do trabalho etc.)". ~M6
98
grandes esquemas. Outra diferença entre essas duas teorias é quanto
a método: o de Weber é essencialmente indutivo, ao passo que os
teóricos clássicos da organização utilizaram predominantemente
uma abordagem dedutiva. Por outro lado, a teoria de Weber é
parte integrante de uma teoria geral de organização social e eco-
nômica, enquanto os teóricos clássicos da organização se referem
geralmente à moderna organização industrial. Além disso, a teoria
clássica sempre teve uma orientação normativa, enquanto a orien-
tação de Weber não o é. 290
99
(Gulick, Urwick etc.) e, ainda, em Weber, uma preocupação do-
minante, quase exclusiva, com eficiência, quer seja através do esta-
belecimento de processos lógicos de planejamento, formulação de
padrões e exercício de controle para obtenção de conformidade
(taylorismo), quer seja pela especialização de funções e seu agru-
pamento em departamentos, fixação de responsabilidade de. acordo
com os princípios do alcance do controle e da delegação, e controle
da execução de acordo com planos preestabelecidos (Gulick e
Urwick); ou, ainda, pela definição dos cargos de acordo com a
jurisdição e sua posição na hierarquia, nomeação de pessoal quali-
ficado para esses cargos, estabelecimento de regras para categorias
de atividades, e obtenção de desempenho adequado através da
motivação decorrente da remuneração e de perspectivas de carreira
(Weber). Nessas três diferentes concepções, segundo Thompson,
foi sistematicamente utilizado um sistema fechado de lógica e con-
ceptualmente fechou-se a organização para coincidir com esse tipo
de lógica, porque essa eliminação da incerteza é uma maneira de
obter determinação (determinateness). No modelo racional perse-
guido por esses três grupos de estudiosos da organização tudo é
funcional, isto é, tudo se destina a contribuir para um resultado
positivo, na verdade para um resultado ótimo; todos os recursos
são adequados, e sua alocação obedece a um plano mestre; toda
ação é adequada e os resultados previsíveis. 294
100
CAPfTUlO 9
101
divisão do trabalho; e os trabalhadores não reagem à administração
e suas normas e recompensas como indivíduos, mas como membros
de grupos. Acima de tudo, a escola das relações humanas .. , sali-
entava o papel da comunicação, da participação e da liderança." 2911
Assim, os experimentos da fábrica de Hawthorne constituíram o
marco fundamental deste enfoque, e Roethlisberger - situado, na
primeira edição do presente trabalho, entre os sociólogos da orga-
nização - foi um de seus arautos. Segundo Etzioni, também con-
tribuíram para esse enfoque, dentre os autores anteriormente clas-
sificados como psicólogos e sociólogos da organização, Mary Follett,
Barnard, Redfield e o próprio Simon. Entretanto, deve-se salientar
que tanto Barnard como Simon têm uma participação mais decisiva
em fase posterior de evolução da teoria de organização que será
aqui focalizada.
Kast e Rosenzweig prestam especial tributo a Mary Parker
Follétt. Ressaltam que, embora tenha sido ela contemporânea de
muitos dos anatomistas (sua contribuição data dos anos 20 e do
início dos anos 30), sua abordagem da teoria da organização foi
consideravelmente diferente. Ela foi "simplesmente singular" na
ênfase que deu aos aspectos psicológicos e sociológicos da gerência.
Encarava a gerência como um processo social e a organização como
um sistema social. Suas idéias podem, de certo modo, ser vistas
como um elo entre a teoria da organização e os comportamenta-
listas. 296
102
centrais, eram quase ignoradas pela outra. As duas escolas, contudo,
tinham um elemento em comum: nenhuma delas via qualquer con-
tradição fundamental ou dilema insolúvel na relação entre a pro-
cura dE! racionalidade da organização e a busca de felicidade hu-
mana. A administração científica supunha que a organização mais
competente seria, também, a mais satisfatória, pois poderia aumentar
ao máximo tanto a produtividade quanto o pagamento do traba-
Ihador. 208
Joan Woodward também reconhece que, até certo ponto, o que
a teoria da organização formal prega, a das relações humanas nega.
Mas, diz ela, com o decorrer do tempo a segunda veio a ser enca-
rada mais como uma compensação ou complemento do que uma
contradição daquela, e os defensores de uma e outra acabaram
conseguindo uma ,convivência fraternal. 209
Pfiffner e Sherwood colocam o problema de maneira semelhante
à de Etzioni. Perguntam até que ponto deve uma organização, para
realizar seus objetivos, preocupar-se com os interesses dos empre-
gados; em resposta, asseveram que há duas maneiras de encarar
o problema. De um lado, o taylorismo, que vê os indivíduos como
sendo muito semelhantes a máquinas, e dotados de capacidade in-
telectual bastante para poderem promover seus próprios interesses
econômicos de maneira racional; donde, uma vez que se propi-
ciem incentivos adequados, pouca atenção será preciso prestar a
outros aspectos do bem-estar dos empregados. De outra parte, en-
contramos o ponto de vista oposto no adepto das relações humanas
para quem trabalhador feliz é bom trabalhador, e a maneira mais
segura de realizar os objetivos da organização é a concentração no
empregado. 300
Um estudo de Likert, realizado em 1957 - lembram Pfiffner
e Sherwood - indicava relacionarem-se positivamente o moral e
a produtividade: quanto mais elevado o moral, tanto maior a pro-
dução. Todavia, frisam, pesquisas efetuadas posteriormente revela-
ram que a relação não é tão simples assim. Pode ocorrer qualquer
espécie de combinação - moral elevado e baixa produção, moral
baixo e alta produção, moral elevado e produção elevada - o que
indica a falta de qualquer relação fixa e nítida. 301
208 ETZIONI, A. Op. cit., p. 65.
103
Segundo Henry Landsberger, a crítica mais incisiva que tem sido
feita ao grupo de Mayo em particular e à escola das relações hu-
manas em geral é terem uma inadequada visualização dos prin-
cipais problemas das relações industriais. Esses críticos ressaltam
que o grupo não compreendeu o problema de conflito e de interesses
conflitantes das partes nas relações industriais e, portanto, deixou
de localizar as causas assim como as implicações desse conflito.
Conseqüentemente, a energia, a atenção e o entusiasmo do grupo
foram dirigidos para conceitos e fenômenos que são, em comparação,
superficiais e mesmo triviais, como, por exemplo; luta dos empre-
gados por status, relações dentro dos grupos informais de uma fá-
brica, necessidade de catarse através do aconselhamento, aperfei-
çoamento das comunicações, etc. 802
104
conflito e insatisfação humana no trabalho. Daí ter sido um mo-
vimento orientado para ação, isto é, para ação destinada a implan-
tar medidas que promovessem harmoniosas relações humanas. Scott
chega a relacionar oito proposições que representam um consenso
de opiniões de especialistas na matéria, sobre a promoção de uma
prática eficaz de relações humanas e que, resumidamente, se refe-
rem à necessidade de o adminstrador utilizar sua experiência, e
sua intuição, assim como generalizações interdisciplinares, para ori-
entar-se adequadamente quanto às decisões a tomar; à importância
da participação do empregado e do estudo dos vários papéis que
desempenha ele na organização; à função da comunicação; ao tra-
balho de equipe; ao reconhecimento da diversidade de motivação
dos indivíduos; à constatação de que a organização é um sistema
social; e ao fato de que a capacidade do administrador em relações
humanas pode ser desenvolvida. 305
lOS
tivas para o sistema de organização. A eclosão do conflito permite
o aparecimento de diferenças autênticas de interesses e crenças, e
a luta por esses interesses e crenças pode conduzir ao ajustamento
do sistema da organização à situação real. Se disfarçados, o conflito
e a alienação resultante da falta de ajustamento procurarão outras
formas de expressão que poderão apresentar desvantagens tanto para
o operário como para a organização. 310
106
a princípio tinha a mesma v1sao cor-de-rosa da escola das relações
humanas, fói gradualmente abandonando suas idéias éticas precon-
cebidas e adotando uma atitude analítica e experimental. 312
107
formal), por causa de seus princípios de administração, bem como
da ênfase, para ele mal situada, na estrutura formal de autoridade
e na alocação de funções. O cerne desse livro de Simon situa-se
na importância da tomada de decisões, porquanto decidir vem
antes de agir. Por outro lado, insurgiu-se o autor contra o que
chamou de "conjecturas abstratas", 316 isto é, a tentativa (da teoria
da organização formal) de solucionar problemas sem a necessária
pesquisa. propugnando, .ao invés, pelo enfoque científico à teoria
administrativa. Para ele só haverá princípios válidos de adminis-
tração quando tiver havido análise das decisões e das ações e
quando tiverem sido adequadamente compreendidos os limites à
racionalidade impostos por qualificações, hábitos, valores e conhe-
cimentos. 317
108
tivas. Daí ser necessário substituir o critério da eficiência maXlma
(taylorismo, Fayol, etc.) pelo de desempenho satisfatório. 319
Segundo Blau e Scott, a concepção da administração como uma
estrutura de tomada de decisões, elaborada por Simon, se refere,
no geral, aos efeitos de processos formais sobre a tomada de de-
cisões, e não inclue uma análise sistemática dos processos interpes-
soais que não fazem parte da estrutura formal. Uma outra limitação
da análise de Simon, para esses autores, é que encaminha todos os
seus esforços para a explicação de como as várias condições dentro
da organização - a hierarquia, o sistema de comunicações, pro-
gramas de treinamento - influenciam li tomada racional de de-
cisões, esquecendo-se de considerar as influências que elas exercem
umas sobre as outras. :<20
Na introdução à segunda edição de seu livro acima citado, Simon
comenta que os estudos administrativos, de modo geral, têm-se
esquivado de abordar a localização real das funções decisórias, con-
tentando-se em falar de "autoridade", "centralização", "alcance de
controle e função", sem definir operacionalmente esses conceitos. 321
De fato, ainda existem os que afirmam que, em organização, o mais
importante é ter a pessoa certa no lugar certo, ou os que asseveram
pomposamente: "a relação entre o delegante e seu assistente ori-
gina-se da delegação e é invariável por natureza." 322
Como decorrência da ênfase no ser humano, que caracteriza o
enfoque nas relações humanas, havia os que insistiam em dizer
que o "importante é o homem" e que, "se ele possui determinação,
capacidade e imaginação, poderá trabalhar praticamente em qual-
quer organização".323 Já Simon, argumentando a respeito da dis-
cussão "organização versus personalidade", afirma que a organiza-
ção é importante porque o ambiente organizacional que envolve
os indivíduos gera a maioria das forças modeladoras e orientadoras
do desenvolvimento de suas qualidades e hábitos pessoais e porque
proporciona àqueles que ocupam posições de responsabilidade os
meios para exercer autoridade e influenciar os demais. 324 Na rea-
319 THOMPSON, James D. Op. cit., p. 8-9.
... BLAU & SCOTT. Organizações formais. p. 52.
"'' 1 SXMON, Herbert A. Comportamento administrativo, 2. ed. Rio, Fundação
Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1965. p. XV.
a2 Id., ibid.
323 Id., ibid., p.. XVI.
~ Id., ·ibid.
109
lidade não se pode compreender o comportamento de um adminis-
trador e sua influência sobre os demais individuos senão em face
da posição que ocupa na organização. 8211 Nesta posição de Simon
reside uma das principais contribuições dos comportamentalistas.
Pfiffner nota a influência de Barnard sobre Simon, depois de·
referir-se à de Mary Parker FoUett sobre Barnard. Diz ele que
o trabalho de Barnard tem duas contribuições duradouras, a pri-
meira das quais é o conceito sociológico de autoridade, que con-
traria a idéia tradicional da autoridade vinda sempre de cima para
baixo ... 826 A segunda contribuição de Barnard foi a ênfase que
ele deu à tomada de decisões como o cerne da administração. Ele
exerceu grande influência sobre Simon, que viria a se tomar, talvez,
o escritor e teórico lider na área da tomada de decisões adminis-
trativas. 821
Aliás, a influência de Barnard continua poderosa. Cabe, a pro-
pósito, lembrar que no livro Handbook 01 or~anizations, publicado
em 1965, James G. March apresenta uma classificação de 33 "livros
ancestrais" da teoria da organização, publicados até 1959, e de 12
"livros mais representativos dos modernos enfoques"; neste segundo
grupo todos, com exceção de apenas um, foram publicados a partir
de 1959. Entre os "ancestrais", os livros mais citados pelos do
segundo grupo, ou seja, pelos "modernos" foram os de autoria de
Weber, Barnard, Roethlisberger e Dixon, Simon, Homans, March
e Simon, e outros. Cada um desses autores foi citado entre 6 e 9
vezes, com o record absoluto pertencendo a Barnard, o único citado
em 9 livros. 828
Entre os comportamentalistas, ElIiot J acques -concentrou-se nos
problemas de tensão, propondo sua minimização através de uma
definição adequada dos papéis e de uma escala equitativa de salá-
rios. 829 Chris Argyris partiu para a comprovação de que todo
comportamento humano na organização é explicável em termos
do conflito inevitável entre as necessidades individuais e as neces-
sidades da organização. 880
.. Id., ibid.
.. V. no capo V, análise dos conceitos de Barnard e Simon .obre auto-
ridade e autoridade e norma. lOCiaÍl (5.4 e 5.5, p. 57-60).
... PFIFFNBR. Que aconteceu ao POSDCORB? Op. dt., p. 88-9.
.. MARCH, Jame. G., ed. Handbook 01 orpni••t;olU. p. X-XII.
.. PuGH, D. S., et al. Op. cit., p. 65-8.
.. Id. ibid., p. 69.
110
Mason Haire também considera ser onipresente o conflito entre
as exigências do indivíduo e as da organização. Comenta que, à
época (1959), no que se escrevia sobre teoria de organização pa-
recia, com freqüência, estar implícita a presunção de que tal situa-
ção é inevitavelmente deletéria. Certos conflitos - entre persona-
lidades, e entre indivíduos e a estrutura - evidentemente são
prejudiciais e dispendiosos, mas outros parecem ser úteis, estimu-
lantes e até consituir um fator de crescimento. Se forem totalmente
eliminados, a organização, despreocupada na certeza da aceitação
passiva de tudo por parte dos membros, não teria defesa contra
seus próprios erros e não haveria a esperança de uma "centelha
divina do descontentamento". 331
111
Rensis Likert e Douglas McGregor têm como concepção essen-
cial que as modernas organizações, para serem eficazes, precisam
ver-se como grupos de pessoas que interagem com relações de apoio
recíproco. 333
112
trabalham melhor quando sob estreita supervlsao. O fato é que a
pesquisa (especialmente no Instituto de Pesquisas Sociais, de Ren-
sis Likert, na Universidade de Michigan) vem demonstrando a
falsidade de tal pressuposição. Certo número de estudos indica que
tanto o moral como a produtividade são mais altos sob a super-
visão superficial e generalizada." E conclui Whyte: "Isto significa
que o chefe deveria delegar responsabilidades e autoridade aos
subordinados, dando-lhes oportunidade de exercitar sua própria ca-
pacidade." 336
113
da liderança; as organizações devem criar a atmosfera e as condições
que incentivem cada um dos administradores a lidar com as pessoas
com quem estão em contacto, consoante seus valores e suas expec-
tativas. 34o
114
tamentos individuais. Hoje, porém, tais pressupostos não resistem
a uma análise mais profunda, à luz dos resultados de pesquisas
recentes. Daí porque o mesmo McGregor propõe uma teoria Y
fundamentada na "integração",343 como substitutivo para a Teoria
X. 344 Essa nova teoria - que, diria a autora deste trabalho, define
um dos principais ingredientes da concepção "comportamentalista"
- não mais considera o homem médio como um ser avesso ao
trabalho, pois afirma ser o trabalho, consoante as condições, uma
fonte tanto de satisfação quanto de castigo. 34 ;; A idéia de controle
assume nova feição diante da afirmativa de que "o indivíduo exerce
autodireção e autocontrole a serviço dos objetivos a que se com-
promete". :11(; Se a teoria X antevia no indivíduo a aversão à res-
ponsabilidade, a nova teoria Y especula que ele aprende, em con-
dições adequadas, não só a aceitar· como também a buscar a res-
ponsabilidade. :ll'i Finalmente, reconhece esta nova teoria que maior
número de pessoas podem contribuir, de maneira criadora, para
a solução dos problemas organizacionais, sugerindo, assim, que, no
momento, as potencialidades individuais não estão sendo plena-
mente exploradas. 348
115
mento de si mesmo" ajudará em muito na compreensão do com-
portamento de outros, porquanto permitirá ao administrador com-
parar as reações alheias com as que teria em situação idêntica,
evitando-lhe, assim, a tendência a encarar com excessivo rigor as
falhas dos subordinados. O conhecimento dos melhores princípios
existentes é condição essencial para a aferição do mérito ou do
demérito de determinádas atitudes, já que permite melhor equacio-
namento do problema para uma solução mais adequada. Segundo
Argyris, as pesquisas mais recentes sugerem como causas do com-
portamento humano na organização um dos seguintes fatores ou
uma combinação deles: individuais - exige-se compreensão dos
fatores e princípios da personalidade; pequenos grupos informais
- exige-se compreensão de princípios de psicologia social, dos
quais a dinâmica de grupo é um aspecto; organização formal -
exige-se compreensão dos princípios tradicionais da organização
(linha e" statf, cadeia de comando, especialização de tarefas,
Iayout e controle de produção etc). 352
" 116
fazendo com que os incentivos sejam inadequados ou errem o alvo
visado.
11.7
Os sistemas de controle e autoridade da burocracia não fun-
cionam.
118
CAPITULO 10
""" Neste caso, Elliot Jacques teria sido um estruturalista (v: nota de rodapé
n.o 329 p, 110.
119
mais e informais; entre administração e trabalhadores ou, mais
genericamente, entre posições e divisões. 356
120
Esclarece ainda Selznick, em nota de rodapé, que "estrutura'"
se refere igualmente às relações dentro do sistema' (padrões formais
e não convencionais na organização) e ao conjunto de necessidades
e modes de satisfação que caracterizam o tipo de sistema empí-
rico. 360
121
Voltando a Jean Viet, vemos a seguinte recapitulação da evolu-
ção histórica do estruturalismo:
. .. "Roger Bastide, por sua vez, tenta trazer, ao menos, algum
esclarecimento ao estudo da própria palavra ( estrutura), e assi-
nala alguns de seus itinerários. Até o século XVII, o termo estru-
tura guardou, diz ele, seu sabor etimológico (siruere, construir) e
designou, segundo Littre, a maneira pela qual um edifício é cons-
truído, para logo seduzir com Fontenelle os anatomistas, com
Vaugelas os gramáticos, e se entender, em seguida, a todas as espe-
cialidades, ciências da natureza ou ciências do homem. No século
XIX desponta um primeiro itinerário que leva, com Spencer, da
biologia à sociologia; a noção de estrutura aí sofre a influência
da noção de organismo, permitindo a Radcliff-Brown concluir
pela analogia da estrutura orgânica e da estrutura social. Um
segundo itinerário parte de Lewis H. Morgan, que permanece, no
entanto, fiel ao termo sistema, e passa por Marx e Engels condu-
zindo também, por outro lado, a Claude Lévi-Strauss. Um terceiro
leva à sociologia, procedendo da geografia física e passando pela
geografia humana. Um quarto, finalmente, começa na Alemanha
com Tõnnies, que distingue estruturas comunitárias e societárias,
prossegue com Max Weber para terminar com Thernwald e Hans
Freyer. Para Roger Bastide, o ano de 1930, que vê aparecer a
obra de Freyer, Soziologie aIs Wirklichkeitswissenschaft (sociologia
como ciência da realidade), é capital no que permite situar "a in-
vasão, quase explosiva, de todas as ciências sociais pela preocupa-
ção estruturalista". Se esta invasão corresponde às crises econô-
micas impondo a. idéia de uma reforma das "estruturas capitalistas'·
ao sucesso da "psicologia da forma" e à influência das lógicas e
matemáticas novas, ela não vem em absoluto do pensamento pre-
cedente e sofre o contágio de termos tão vizinhos como os de orga-
nização, de sistema, de forma ou de modelo." 365
O próprio Etzioni, na primeira de suas obras, aqui citadas, for-
nece mais luz sobre o estruturalismo, ao dizer que os estruturalistas
vêem a organização como uma unidade social grande e complexa,
onde interagem muitos grupos sociais. Embora esses grupos com-
partilhem alguns interesses (por exemplo, a viabilidade econômica
da companhia), têm outros incompatíveis (por exemplo, referentes
à maneira de distribuição dos lucros brutos da organização). Com-
partilham alguns valores, principalmente os nacionais, cuja influên-
cia se torna evidente em períodos de crise internacional, mas dis-
- VJET, Jean Op. cit., p. 9-10.
122
cordam em muitos outros, como, por exemplo, sua avaliação do
lugar do trabalho na sociedade. Os diversos grupos poderiam coope-
rar em certas esferas e competir em outras, mas diQcilmente são
ou podem tornar-se uma grande família feliz, como freqüentemente
dão a entender os autores de relações humanas. Existem muitas
maneiras para tornar o trabalho mais agradável, mas nenhuma que
o torne satisfatório, num sentido absoluto. Os estruturalistas acei-
taram esse ponto de vista e, de acordo com as análises de Marx
e Weber, procuraram, no contraste entre o artesão medieval ou
agricultor e o operário moderno, alguns indícios da origem da
insatisfação deste último. 366
E conclui dizendo que a grande síntese está longe de ser uni-
versal, existindo ainda manuais de treinamento de relações huma-
nas cujos autores pouco aprenderam e pouco esqueceram desde os
primeiros livros de Mayo. Por outro lado - é o próprio Etzioni
que comenta - ainda se escreve sobre "organização formal". En-
tretanto, conclui, geralmente aqueles que ainda se identificam com
uma ou outra dessas escolas anteriores conseguiram ampliar sua
abordagem teórica e seguem a direção geral da síntese sugerida
por ele mesmo, Etzioni. 367
Por tudo isso, Etzioni parece ter sido um comportamentalista
que, ainda insatisfeito, evoluiu para a integração sistêmica. Outros
comportamentalistas também reagiram de maneira semelhante,
como por exemplo, Katz e Kahn, que, no prefácio de seu livro
The social psychology of organizations, declaram ter chegado à
conclusão, após muitos anos de pesquisa na área do comportamento
administrativo, de que esse enfoque se tornara insatisfatório, por
suas premissas sobre o caráter fechado das estruturas sociais. Para
eles, o desenvolvimento da teoria do sistema aberto fornece base
muito mais dinâmica e adequada. 368
Às citações já tão numerosas de Jean Viet parece ainda apro-
priado acrescentar que, sobre função, estrutura e sistema, escreveu
ele o seguinte, apoiando-se, parcialmente, em Ta1cott Parsons;
"As noções de função e de estrutura referem-se uma e outra, ve-
se, à de sistema. Que se entende por sistema? Para Parsons, um
sistema social é um conjunto de fenômenos sociais, supostos in-
... ETZIONI, A. Organizações modernas. p. 68-9.
Im Id., ibid., p. 80.
... KATZ, Daniel & KAHN, Robert L. The social PBYcholoty 01 organizatiomr.
N. York; Londres, J. Wiley & Sons, 1966. Prefácio, p. VII.
123
terdependentes, para os quais um esquema analítico deve ser per-
tinente. Quando um conjunto de fenômenos interdependentes deixa
apar#e.ef um arranjo suficientemente definido e estabilizado no
tempo pode-se dizer que ele possui uma estrutura, e que é pro-
veitoso tratá-lo como um sistema. No fundo da idéia de sistema,
não há pois senão à idéia de interdependência. Esta, como todas
as proposições teóricas, deve ser precisada nos fatos. E o simples
recurso. à experiência mostra que é preciso não conceber os sis-
temas sociais como fechados sobre si mesmos, mas como abertos
e engajados em processos complicados de troca com os sistemas
circulantes e, do interior, como diferenciados e fragmentados em
uma pluralidade de subsistemas, dos quais cada um deve ser tra-
tado anallticamente como sistema aberto, ligado, por suas trocas,
aos outros subsistemas que o envolvem no sistema mais amplo." 369
Finalizando esta parte do presente ensaio, lembra ainda a au-
tora - para realçar seu ponto de vista segundo o qual os estru-
turalistas não constituem uma categoria própria e distinta na
teoria de organização, mas sim um dos grupos que vieram a dar
origem à integração sistêmica - que o estruturalismo não é propria-
mente uma teoria, mas, antes, um método, cujas enormes potencia-
lidades de aplicação nas ciências sociais foram demonstradas por
Lévi-Strauss, que o tomou emprestado da lingüística,370 potenciali-
dades essas que já estão hoje amplamente evidenciadas no estudo
da economia, da psicologia, da sociologia e da ciência política.
O próprio Jean Viet, ao dar início a sua obra já citada, escreve
que as ciências humanas e sociais dão hoje, no seu método, um
lugar essencial ao "pensamento estruturalista". Trata-se para elas
menos de descobrir os elementos simples, entre os quais deve
estabelecer relações de causalidade ou de igualdade, que de apreen-
der os conjuntos. Tudo se passa como se o conhecimento dos fatos
da vida humana e social, para ter conhecimento da realidade,
devesse tomar o caminho de uma integração de~es fatos numa
totalidade. 371
É esta a mesma idéia básica de que se nutre a teoria dos sis-
temas, que visa à compreensão da interdependência recíproca de
todas as organizações e da conseqüente necessidade de integração.
A palavra sistema dá idéia de plano, método, ordem, organização.
MO VIET, Jean. Op. cit., p. 203 .
..., ESCOBAR, C. H., com. O método estruturalista. Rio, Zahar, 1963. p. 7-13.
r.t VIET, Jean. Cp. cit., p. 7.
124
CAPITULO 11
TEORIA DE SISTEMAS
125
proporciona uma base para a classificação dos tipos de organiza-
ção. Todavia, não pode ser o único vínculo importante." 372
E continua:
"Tentaremos analisar tanto este como os demais vínculos prin-
cipais, adotando como ponto de partida o tratamento da or~aniza
ção como um sistema social. Em primeiro lugar, abordá-Ia-emos
como um sistema caracterizado por todas as propriedades essen-
ciais a qualquer sistema social. Em segundo lugar, abordá-Ia-emos
como um subsistema, funcionalmente diferenciado de um sistema
social maior. Portanto, serão os outros subsistemas de um sistema
maior que comporão a situação ou ambiente em que opera a orga-
nização. Uma organização, pois, terá de ser analisada como um
tipo especial de sistema social, ol:ganizado em torno da primazia de
interesses pela consecução de determinado tipo de meta sistêmica.
Alguns de seus aspectos especiais originar-se-ão da primazia de
metas em geral e outros da primazia de determinado tipo de
meta. Finalmente, as características da organização serão definidas
pela espécie de situação em que precisa operar, e que consistirá
nas relações que prevalecem entre ela e os outros subsistemas espe-
cializados, componentes do sistema maior do qual é parte. Este
último, poderá ser considerado - para nossos fins - como sendo
uma sociedade." 373
126
As atividades, interações e sentimentos são mutuamente depen-
dentes - uma modificação em qualquer dessas três variáveis pro-
duzirá alguma mudança nas outras duas; em alguns casos, a dire-
ção em que se dará a mudança pode ser especificada. Assim, quanto
mais alta a interação de duas ou mais pessoas, mais positivos serão
os sentimentos de uma para com a outra, e vice-versa. À proporção
que a interação progride novos sentimentos que não são ditados
pelo meio externo vão surgindo, assim como normas e pontos de
referência comuns, os quais por sua vez geram outras atividades
não especificadas pelo meio. Este novo padrão de atividades, inte-
rações e sentimentos constitui, ainda segundo Homans, o sistema
interno (a organização informal).
127
Schein também analisa o que denomina de modelo de Tavis-
tock,316 cuja concepção de sistema sociotécnico significa que toda
organização produtiva é uma combinação da tecnolo~ia (requisitos
<las tarefas a serem desempenhadas, instalações, equipamentos, etc.)
com um sistema social (um sistema de inter-relacionamento entre
os executores do trabalho). A tecnolo~ia e o sistema social estão
em interação mútua e um influi no outro,311 conclusão semelhante
senão idêntica à de Homans.
Após examinar os modelos de Tavistock (Rice e Trist), Homans,
Likert e Kahn, Schein relaciona os aspectos que uma nova defi-
nição de or~anização, em termos de teoria de sistemas, deveria
abordar:
primeiro, a organização deve ser concebida como um sistema aberto,
em constante interação com o meio, recebendo matéria-prima, pes-
:soas, energia e informações e transformando-as ou convertendo-as
em produtos e serviços que são exportados para o meio;
segundo, a organização deve ser concebida como um sistema com
objetivos ou funções múltiplos, que envolvem interações múltiplas
com o meio;
terceiro, a organização consiste de muitos subsistemas que estão
em interação dinâmica uns com os outros. Ao invés de analisar
os fenômenos organizacionais em função de comportamentos indi-
viduais, é cada vez mais importante ánalisar o comportamento de
tais subsistemas;
.quarto, tendo em vista que os subsistemas são mutuamente depen-
dentes, mudanças num deles provavelmente afetarão o comporta-
mento de outros ou dos outros;
.quinto, a organização existe num ambiente dinâmico que compre-
ende outros sistemas; por isso, o funcionamento de determinada
organização não pode ser compreendido sem consideração explícita
das demandas e limitações impostas pelo meio;
finalmente, os múltiplos elos entre a organização e seu meio tor-
nam difícil a clara especificação das fronteiras de qualquer orga-
nização. 318
128
Richard A. J ohnson, Fremont D. Kast e J ames E. Rosenzweig
em seu ensaio Systems theory and management,379 partindo dos
artigos de Ludwig von Bertalanffy, de 1951, e Kenneth Boulding,
de 1956, fizeram a transposição, para o estudo da administração,
da teoria geral de sistemas, segundo a qual sistema "é um todo
organizado ou complexo, uma função ou combinação de coisas ou
partes formando um todo complexo ou unitário". Pode-se, assim,
tratar tanto de sistema orográfico, sistema fluvial, sistema solar
etc., como de sistema administrativo.
129
ração com o ambiente - cliente, competidores, sindicatos, forne-
cedores, governo e muitos outros órgãos. Ademais, é um sistema
de partes inter-relacionadas que operam em conjunto para a con-
secução de certo número de objetivos, sejam próprios ou dos par-
ticipantes. 382
lU Id., ibid.
- Id., ibid.
... V. notas de rodapé n. •• 367 e 368.
- V. aqui, ezatamente o estruturalismo de Etzioni (em especial, notas de
rodapé n.·· 301 e 302).
- JORNSON, R. A. t KAST, F. D. 15 RosENZWItlG, J. E. Op. cit.. p. 371.
130
(entropia e/ou homeostasia) 387 e questões de incerteza. Este en-
foque leva em consideração os modelos mais complexos de com-
portamento administrativo e deve conduzir a sistemas mais abran-
gentes que propiciem o esquema em que se enquadrem os resulta-
dos das pesquisas especializadas dos cientistas da administração. 388
131
6. memona ou subsistema de estocagem de informações, sob a
forma de registros, manuais, normas, programas de compu-
tadores, etc.
132
ajustar-se para o fim de produzir uma contribuição positiva, ou
desligar-se-á do todo - se nenhuma dessas duas hipóteses ocorrer,
o sistema degenerará. Vital para o enfoque de sistema natural é o
conceito de homeostasia ou auto-estabilização, que espontânea mente
governa as relações entre as partes e atividades, desse modo man-
tendo a viabildade do sistema face a forças adversas provenientes
do meio. 392
133
Não resta dúvida de que o modelo racional (fechado) dirige
nossa atenção para importantes fenômenos, para importantes ver-
dades que o modelo natural (aberto) tende a ignorar, mas o oposto
é igualmente verdadeiro -- o modelo racional tende a ignorar fe-
nômenos que o modelo natural enfatiza. Cada um encerra alguma
verdade, mas nenhum deles, por si só, possibilita uma compreensão
adequada das organizações complexas. 395
134
comuns aos sistemas humanos de comportamento organizado:
comunicações, equilíbrio e tomada de decisões. O sistema como 'lm
todo esforça-se para atingir certos objetivos, [l saber: estabilidade,
crescimento e interação, quer cada um isoladamente, quer uma
combinação de dois ou três.:197
Por outro lado, salientam Katz e Kahn que, sob certos aspectos,
a teoria do sistema aberto não é propriamente urna teoria, visto
como não apresenta seqüências específicas de causa e efeito, não
formula hipóteses, comprovando-as experimentalmente - como
seria necessário para obterem-se os elementos básicos de uma teoria.
"'" SCO'IT, W. G. Organization theory: an overview and appraisal. In:
KNUDSON, Harry. ed. Management oi human resources. p. 89-100; e Scott, W. G.
Organization theory: a behavioral tanalysis lor management. p. 124-5.
.... SCOTT, W. G. Organization theory: a behavioral analysis lor management.
p. 127. Chama-se a atenção do leitor para o uso, por Scott, do termo "Camadas
organizacionais" (organizational overlays) criado por Pfiffner e Sherwood
(v, nota de rodapé n.O 251).
... KATZ, D. 85 KAHN, R. L. The social psychology oi organization. p. 13.
135
Para eles, procura-se, através da teoria do sistema aberto, elaborar
uma moldura, espécie de meta-teoria, um modelo no mais amplo
sentido desse termo tão usado. A teoria do sistema aberto consiste
num determinado tipo de enfoque, numa linguagem conceptual
necessária à compreensão e descrição de muitas espécies e níveis de
fenômenos. É utilizada para descrever e explicar o comportamento
de organismos vivos e de combinações de organismos, assim como
é aplicável a qualquer processo dinâmico que se repete, a qualquer
seqüência de acontecimentos que obedece a determinados padrões. 400
Ainda os mesmos autores ressaltam que todos os sistemas abertos
envolvem o fluxo de energia que vem do ambiente, atravessa o
sistema e retorna ao ambiente. Ainda mais: eles envolvem não
somente um fluxo de energia, mas uma transformação dessa ener-
gia, uma alteração de forma energética cuja natureza exata constitui
uma definição do próprio sistema. 401
Completando, logo a seguir, seu pensamento, acrescentam que o
funcionamento de qualquer sistema aberto compreende cicIos con-
tínuos de "indutos", "transformação" e "produtos". Desses três pro-
cessos sistêmicos básicos, os "indutos" e os "produtos" são transa-
ções que envolvem o sistema e alguns setores do meio; já a "trans-
formação" é um processo contido dentro do próprio sistema. 402
Na discussão sobre as propriedades dos sistemas abertos, Katz
e Kahn lançam mais um pouco de luz sobre a conceituação desse
termo tão complexo, "estrutura". Comentam esses autores que, em-
bora para as organizações humanas assim como para os outros sis-
temas abertos, os processos sistêmicos básicos sejam energéticos e
compreendam o fluxo, a transformação e o intercâmbio de energia,
as organizações humanas têm propriedades singulares, que as distin-
guem das demais categorias de sistemas abertos. Talvez a mais fun-
damental dessas propriedades seja a ausência de "estrutura" no
sentido usual do termo: estrutura identificável anatômicamente,
observável tanto em movimento quanto em estado de inércia e que,
quando em movimento, gera e desempenha atividades que com-
preendem a função sistêmica. As organizações carecem de "estrutura"
nesse sentido, mas nem por isso deixam de ser estruturadas. Não
são simples agregados informes de indivíduos empenhados na criação
de combinações de acontecimentos. 403
.00 Id., ibid., p. 452.
to1 Id., ibid., p. 453.
"'" N. A. T ransformation (or through put). no original.
603 KATZ, D. 85 KAHN, R. L. Op. cit., p. 453-4.
136
Katz e Kahn acreditam que, embora cada organização humana
tenha aspectos próprios e singulares, se as gruparmos de acordo
com o .qúe der..ominam "funções genotípicas," poderemos chegar a
algumas generalizações. Por "funções genotípicas" entendem aqueles
autores "o tipo de atividade na qual a organização está envolvida
como subsistema da sociedade de que faz parte". Também consi-
deram importante o que chamam de "fatores de segunda ordem"
- para contrastar com as "funções genotípicas", que seriam "fato-
res de primeira ordem". Por "fatores de segunda ordem" se enten-
deriam as dimensões organizacionais relativas à estrutura específica
da organização, suas transações com o meio e suas transações.
internas. 404
137
Consideradas do ponto de vista dos "fatores de segunda ordem",
as organizações humanas - ainda segundo Katz e Kahn - podem
distinguir-se conforme:
a) a natureza do produto;
138
Scott pensa de maneira semelhante a Woodward quando afirma
que muita luz poderia ser lançada no estudo dos sistemas sociais
se elementos estruturalmente análogos pudessem ser enccntrados
nos tipos mais simples de sistemas. Por exemplo, sistemas ciberné-
ticos têm características similares ao feedback, à regulagem e ao
controle das organizações humanas. Assim, alguns aspectos de mo-
delos cibernéticos poderiam ser generalizados para as organizações
humanas. Perigo considerável, porém, - alerta-nos Scott - de-
corre de analogias impropriamente estabelecidas. Semelhanças su-
perficiais se notam entre formas mais simples de sistemas e sis-
temas sociais. Para que as analogias porventura encontradas te-
nham utilidade e validade, precisam exibir similaridades estruturais
inerentes ou princípios organizacionais implicitamente idênticos. ·I"~
Por outro lado, deve ficar bem claro, como lembram Lawrence
e Larsch, que a analogia entre um sistema biológico e uma orga-
nização não é completa, pois esta tem uma vital propriedade de
que aquele não dispõe: é morfogênica, isto é, tem a cap~cidade de
mudar sua própria forma e estrutura. ·IO~
Kast e Rosenzweig vêem a organização simultâneamente como
um sistema aberto, em interação com o meio e como um sistema
sociotécnico, estruturado. Vários subsistemas compõem este modelo
de organização: o subsistema de objetivos e valores, que norteia o
conjunto; o subsistema tecnológico, que é moldado pela especializa-
ção de conhecimentos e habilidades necessários, pelos tipos de ma-
quinaria e equipamento, e pelas instalações; o subsistema psicos-
social, que compreende as interações, expectativas, aspirações e
valores d0$ membrcs da organização; o subsistema da estrutura, que
trata da maneira pela qual as tarefas a .desempenhar se agrupam
em unidades e são coordenadas, assim como dos padrões de auto-
ridade e comunicações e do fluxo do trabalho; e finalmente, o
subsistema gerencial, que se desdobra em três aspecto;;: o técnico,
quando cuida do desempenho das tarefas; o institucion."tl, que rela-
ciona as atividades da organização com o meio e o org.:mizacional,
em que integra os aspectos técnico e institucional. 410
SCOTT, W. G. Organiza/ion theory, a behavioral analysis lor management.
p. 22.
WJ LAWRENCE, P. R. & LARSCH, J. W. Developíng organizatíons: diagnosis
and action, Mass., Addison - Wesley Publishing Co., 1969. p. 10.
<lO KAST & ROSENZWEIG. Organization and management - a systems approach,
p. 120-137. O subsistema gerencial reflete concepções de T. C. Parsons, como
salientam Kast e Rosenzweig, referindo-se ao livro deste ~utor Structure and
process in modem societies. N. York. 1960. p. 60-6.
139
Neste modelo, o subsistema gerencial funciona por intermédio dos
processos informativo e decisório. A informação é a matéria prima
da decisão. 411 Daí a crescente importância da tecnologia da in-
formação, de que adiante se tratará mais minuciosamente.
140
Embora as "ciências gerenciais" sejam um conglomerado de in-
teresses e enfoques, escrevem mais adiante Kast e Rosenzweig, há
conceitos-chave que permeiam todas elas, no que se refere a sua
aplicação ao conhecimento das organizações:
a) ênfase na metodologia científica;
b) abordagem sistemática na procura de soluções;
c) construção de modelos matemáticos;
d) quantificação e utilização de processos matemáticos e esta-
tísticos;
e) preocupação com os aspectos técnico-científicos ao invés de
psicossociais;
f) utilização de computadores;
g) ênfase no enfoque sistêmico;
h) procura de decisões optimais sob uma estratégia de sistema
fechado;
i) tendência para modelos normativos ao invés de modelos des-
critivos. 415
141
Comparando a metodologia da pesquisa operacional com a da
"organização científica" (taylorismo), Kast e Rosenzweig salientam
que, nesta, eram os próprios gerentes e engenheiros industriais que
aplicavam métodos científicos à solução de problemas ao nível
da execução; na pesquisa operacional, matemáticos, físicos, estatís-
ticos, economistas e outros cientistas contribuem com seu conheci-
mento para a solução dos problemas gerenciais. 416
142
definida como "matéria-prima abstrata". A informação organizada
funciona como base do conhecimento e da ação. Comunicação é
o ato ou efeito de transmitir fisicamente, de um ponto a outro
- geralmente de um indivíduo a outro - a informação contida
num documento, ou numa coleção de documentos. A documenta-
ção, a informação e comunicação representam os instrumentos
desenvolvidos pelo homem para assegurar a si próprio um movi-
mento escalonar sem fim, em busca da expansão da cultura, da
criação da ciência e da acumulação da experiência. 419
143
É bem verdade que persiste a necessidade de atribuir a alguém a
responsabilidade pela "alimentação" do computador. Não o nega-
vam os autores do artigo, apenas vaticinavam - e a experiência o
comprova - que essa tarefa seria subtraída aos chefes para ser
entregue a especialistas que eles chamaram de "pesquisadores ope-·
racionais" ou, talvez, "analistas organizacionais".422 Em contrapar-
tida, segundo os mesmos autores, ocorreria uma reorganização radi-
cal dos níveis intermediários de direção, com a diminuição de status
e remuneração de alguns cargos, face à redução das exigências
quanto a autonomia e qualificações, e a elevação de outros para
o nível da cúpula. 423
A tecnologia da informação recebe contribuição de vários setores
do conhecimento humano, desde os sociólogos até os engenheiros,
estes através de suas teorias de cibernética e da teoria da infor-
mação. 424 Dos economistas matemáticos a nova teoria encampou
a teoria dos jogos, um meio de ordenar e permitir a análise de
estratégia e tática em jogos do tipo de "pensamento" puramente
competitivo. 425
A contribuição da pesquisa operacional é também manifesta para
a tecnologia .da informação, e a psicologia social colaborou com
idéias sobre estrutura de comunicações em grupos, bem como idéias
acerca dos processos de concepção e solução de problemas. 426 Em
todos estes aspectos aqui considerados há um ponto comum, qual
seja a preocupação com a manipulação sistemática de informações
afetando indivíduos, grupos ou máquinas. 427
Leavitt e Whistler comentam que um estudo comparativo das
várias teorias de organização, a partir do taylorismo, mostra-nos
que o enfoque "científico", concentrado no operário, e o "partici-
pativo", visando à administração intermediária, continuam em vigor,
embora já se comece a indagar o que acontecerá daqui por diante.
A nova tecnologia da informação, parece, acarreta implicações tanto
sobre a administração intermediária quanto sobre a alta adminis-
tração. 428
144
George B. Strother salienta que a economia, também (como a
escola da dinâmica de grupo, antes dela), vem tendendo cada vez
mais a considerar a organização de dentro, e não somente em de-
corrência do mercado e do fluxo da riqueza. Esses economistas,
interessados no comportamento do homem dentro da organização,
tendem a seguir as pegadas de Von Neumann e Morganstem
(1944). Motivados pelo descontentamento com o tratamento ma-
temático do comportamento econômico, procuraram uma nova base
matemática para tratar a racionalidade em situações que deman-
dam decisões estratégicas. Além disso, estavam preocupados com
as implicações finais que, a seu ver, o seu enfoque podia ter para
a teoria social em geral. Achavam que a teoria matemática de
jogos ganhava em plausibilidade pela correspondência que existe
entre seus conceitos e os das organizações sociais. Sem alegar re-
sultados extravagantes para sua teoria, estavam preocupados em
dar uma nova direção à teoria matemática no que se refere a
fenômenos sociais, direção essa que presumivelmente se afastaria
dos padrões atuais da física matemática. E isso veio a verificar-se,
com a emergência de modelos matemáticos cuja construção cons-
titui nova fonte de ocupação para os teóricos sociais. 429
145
da organização. Esta afirmação, inspirada na experiência norte-ame-
ricana, pode ser considerada válida também em nosso meio.
Um dos maiores atrativos que a teoria da organização formal
oferecia e ainda oferece (e talvez aqui esteja o segrêdo de sua
resistência às mais duras críticas) é sua fácil aplicabilidade. Por
isso mesmo que prescreve, pode ser aplicada, embora nem sempre
com propriedade, a qualquer contexto organizacional.
Mas não é somente pela sua fácil aplicabilidade que perdura a
teoria da or~anização formal. 2 que, por um lado, conforme escre-
vem Kast e Rosenzweig, muitas das idéias e concepções originadas
por essa teoria são úteis para uma primeira abordagem da matéria.
Se o estudioso da organização não deve aceitar tais concepções e
idéias sem uma avaliação crítica, nem por isso cabe rejeitá-las em
princípio. A moderna teoria de organização provém de muitas fon-
tes e a teoria tradicional fornece importantes elos. 434
Por outro lado, como comenta Scott, embora as ciências do
comportamento tenham trazido à luz considerável documentação de-
sautorando a teoria da organização formal, essa documentação ainda
não produziu como alternativa um esquema conceptual que ri-
valize, por ser tão completo, coerente e capaz de utilização prática,
com o modelo clássico (da teoria da organização formal). 435
Assim, mesmo incompleta, inacabada; mesmo constituída à base
da formulação de princípios que às vezes se entrechocam e se con-
tradizem, e cuja validade científica é, por isso mesmo, duvidosa,
a teoria da organização formal é ainda o esquema conceptual de
organização mais completo, mais coerente e capaz de utilização
prática entre os esquemas conceptuais da teoria da organização.
Pode-se também deduzir dos comentários de Scott sobre as expe-
riências de J. Woodward e dessas próprias experiências que a teoria
da organização formal continuará fornecendo um enfoque relativa-
mente adequado para as organizações médias e até mesmo grandes,·
mas não para as gigantescas; para as indústrias de tecnologia simple!l,
mas não para as de tecnologia complexa. 436
A ser válida essa proposição, fica implícita a idéia de que a
teoria da organização formal se aplicaria mais freqüentemente e
W KAST & ROSENZWEIG. Op. cit., p. 80.
~ SCOTT. Op. cit., P. 9.
.. V. comentários de Scott sobre as experiências de Woodward e as próprias
experiências desta (notas de rodapé n.O' 265-7).
148
com maior propriedade em países ainda não altamente industria-
lizados, ou seja, em países em desenvolvimento, especialmente na-
queles que, pelo seu tamanho e população, não possuem ainda uma
enorme máquina governamental e gigantescas empresas.
Até certo ponto, o movimento das relações humanas - que se
apresentou como antítese à teoria da organização formaI {37 também
compartilha daquele atrativo: é facilmente aplicável e chegou mes-
mo, como advertia Morton Grodzins, {88 a ser amplamente utilizada
para fins de manipulação de seres humanos na administração. E
ainda hoje, vez por outra, ocorre essa manipulação, ou, pelo menos,
tenta-se efetivá-la.
Uma das criticas modern~ente feitas às concepções do "movi-
mento das relações humanas'" - escrevem Kast e Rosenzweig -
é a de que utiliZava uma abordagem do tipo "sistema fechado",
não considerando as forças econômicas, políticas e ecológicas que
atuam sobre as organizações. Tem-se a impressão de que Elton
Mayo considerava desnecessários os sindicatos na hipótese de a
administração desempenhar-se eficazmente de suas funções. Esta
observação coincide com outra critica a Mayo (ainda são palavras
de Kast e Rosenzweig) de que basicamente era ele um autoritário,
que pretendia, através de maior atenção dada pela gerência aos
fatores humanos, preservar a estruturação hierárquica tradicional. 43~
Kast e Rosenzweig consideram ainda importante salientar, como
o faz Reinhard Bendix, que, se Mayo encontrou limitada aceitação
na prática administrativa, foi poderosa sua influência sobre a ideo-
logia administrativa. 440 Um dos mais conhecidos comportamenta-
listas - Bennis - chega a dizer que na última década se operou
uma mudança fundamental na filosofia do comportamento geren-
cial, a qual se reflete principalmente nas três seguintes áreas: um
novo conceito de homem, baseado em melhor conhecimento de suas
complexas necessidades, que se modificam progressivamente, con-
ceito esse que substitui a idéia simplista do homem sempre igual,
.. Kleber Nascimento, porém, é de opinião que a evolução da teoria de orga-
nização tem tido,· menos do que aparenta, um caráter antitético. Considera
que OI diferentes e sucessivos enfoques são mais extensões modificadas do
que uma recusa total de seus precedentes (op. cit., p. 1) •
.as V. nota de rodapé n.O 205, cap. 6 .
... KAsT 85 ROSENZWEIG. Op. cit., p. 90-1.
.... KAsT 85 ROSENZWEIG. Op. cit., p. 91. (a obra de Bendix é Work and au.
thority in industry. N. York, J. Wiley and Sons, 1956. p. 319).
149
quase autômato; um novo conceito de podeI', baseado na colabo-
ração e na razão, que substitui o modelo de poder baseado em
coação e medo; e um novo conceito de valores organizacionais,
baseado numa orientação humanista - existencial, que substitui
o sistema de valores despersonalizados e mecanísticos. 441
150
demais por envolver um comportamento administrativo próprio e
distinto. Conseqüentemente, a análise de determinadas organizações
permite a compreensão dos problemas dessas organizações, mas
não necessariamente dos de outras, mesmo aparentemente seme-
lhantes ou comparáveis. São extremamente limitadas, se é que
possíveis - dizem, afinal, os comportamentalistas - as extrapo-
lações em matéria de organização. :t isso também o que o próprio
Simonindica quando fala em teoria das organizações, ao invés
de teoria" de organização. E é esse também o pensamento de Pfiffner
quando lembra que, em organização, devemos operar sob a égide das
ciências sociais, que definem o homem como um ser complexo, de
múltiplos propósitos e valores e que, em lugar de seguir cegamente
os ditames da organização formal, muitas vezes parece fazer tanto
quanto pode para se lhe opor. O analista de administração - diz
Pfiffner - não deve agir como um simples executor de dogmas da
teoria de organização. Precisa suplementar seus conhecimentos tra-
dicionais com as habilidades e a compreensão do cientista social,
empreendendo a reestruturação de tarefas e responsabilidades sem
esquecer os fatores humanos que, por um lado, facilitam seu esque-
ma de "reorganização e, por outro lado, opõem barreiras à sua adoção,
assim como procurando soluções que levem em conta os centros
de poder existentes. 4. .
Por sua natureza descritiva, não prescritiva, é de difícil aplicação
o que I se contém na escola comportamentalista. Chega mesmo a
levar à perplexidade os que nela se iniciam porque, demolida a
confiança na teoria da organização formal assim como na escola
das relações humanas, aparentemente sobram apenas as dúvidas le-
vantadas pelos comportamentalistas. .. Mas é evidente que o en-
foque comportamentalista nem de leve esgotou suas possibilidades,
que são talvez mesmo infinitas.
As conclusões da teoria dos comportamentalistas forçam a que
se reavalie a contribuição relativa de cada um dos construtores
da teoria da organização formal. Assim é que tributo especial deve
ser prestado a Fayol, que, não tendo isolado o fator estrutura do
fator pessoal - no que foi criticado por Urwick, que considerava
ter Fayol com essa concepção "limitado seu pensamento" - na
realidade demonstrou mais uma vez o seu gênio, pois a escola com-
portamentalista já documentou sobejamente a influência recíproca
entre organização e recursos humanos, a qual torna inviável anali-
... PP'IFFNER, J. Que aconteceu ao POSDCORB? In Revista do Serviço Pú-
blico, 97(1) :94-5.
151
sar-se uma estrutura isolada do fator pessoal, reabilitando assim
o pensamento de Fayol de que "organizar significa construir a dupla
estrutura, material e humana, do empreendimento". 445
O enfoque sistêmico tem tido especial relevância para as ciências
sociais em geral, e não somente para a teoria de organização, como
salientam Kast e Rosenzweig. Assim é na sociologia, com Talcott
Parsons; na Psicologia desde o ~estaltismo, e até. na Psiquiatria,
com Harvey Stack Sullivan. A moderna economia cada vez mais
utiliza esse enfoque, especialmente através do conceito de equilíbrio.
A teoria cibernética tem seus fundamentos na concepção sis-
têmica. 446
Cronologicamente, a preocupação com a inte~ração sistêmica é
mais recente, embora não muito, do que a teoria dos comportamen-
talistas. Também é síntese, mais ambiciosa ainda, da teoria da
organização formal com a escola das relações humanas. Do ponto de
vista da aplicabilidade, a teoria de sistemas é mais confortadora do
que a teoria dos comportamentalistas, mas os próprios processos
de sua operacionalização, especialmente os quantificáveis, trazem de
volta algumas das ilusões e mesmo alguns dos perigos que havia
no bojo do modelo mecanicista. :t que esses processos têm-se geral-
mente originado dos matemáticos, dos economistas, dos especialis-
tas em cibernética e automação, cuja formação raramente leva na
devida conta as ciências do comportamento.
Já em 1964 Keith Henderson comentava que, no curso dos últi-
mos anos, a importância crescente da pesquisa operacional, a sis-
tematização de métodos e as formas mais refinadas de organização
e métodos "vieram enfatizar problemas do mesmo gênero dos que
foram estudados por Taylor." 447 Logo adiante, acrescentava que
alguns crític09 já advertiam ser uma grande parte da teoria con-
temporânea sobre as organizações --'- no caso, a teoria dos sistemas
- uma renovação da teoria da organização científica, ressentindo-se,
da mesma maneira, do abandono do elemento humano e da ausên-
cia de relação entre a organização e o meio. E previa o surgimento
de uma nova antítese, contendo, sob uma forma mais evoluída,
os mesmos característicos estratégicos da ofensiva contra os tra-
dicionalistas. 4'8
f.46 v. cap. 3, 3.2, nota. de rodapé n.o. 45-8.
- KAST til ROSENZWlI:IG. Op. cit., p. 112-5.
UI HENDERSON, Keith, M. Op. cit., p: 93.
UI Id., ibid., p. 112.
152
Neste início da década de 70 salientam Kast e Rosenzweig que,
idealmente, o enfoque dos comportamentalistas e o dos cientistas
da Aerência 449 se fundiriam com o da teoria clássica (a teoria
da organização formal) para constituir uma teoria moderna, uni-
ficada e claramente delineada. Entretanto, isso não aconteceu, por
razões várias: diferença básica de valores e ideologias, variação nas
disciplinas que constituem o cerne de cada uma, e um conflito entre
teoria descritiva, de um lado (a dos comportamentalistas) e nor-
mativa, de outro lado (os cientistas da gerência tendem para o
normativismo).400 A base para uma integração, concluem os mes-
mos autores, está na concepção sistêmica. 451
1S3
A esta síntese seguir-se-ia, com a teoria dos sistemas, não uma nova,
mais refinada e mais satisfatória forma de síntese, como se sugere
neste trabalho, mas sim uma nova tese que, se dominada pelos
engenheiros, pelos estatísticos, pelos matemáticos, incidiria talvez
nos exageros dos tempos do taylorismo, tendendo para o modelo
da máquina, e provocando, assim, necessariamente, nova antítese.
Em que direção se orientaria a nova antítese? Se tudo fosse
lógico em matéria de evolução da teoria de organização, a resposta
seria simples: na direção da revitalização do comportamentalismo,
no sentido de reafirmar-se a necessidade de aplicação das ciências
do comportamento à organização. Mas são evidentes os indícios
de que a tecnologia progride mais depressa do que a capacidade
do homem para operacionalizar o enfoque comportamentalista. É
provável que a atual tese leve ainda bem mais longe sua inci-
piente tendência mecanicista, antes de ser contrabalançada - se
o for - por uma tendência oposta.
154
Com um tom bem mais otimista, ao prosseguir nos comentários
citados anteriormente, sobre a extraordinária evolução de. teoria
da organização, ~56 dizia Mason Haire que podemos esperar - e
haveremos de encontrar - não só maneiras diferentes de enfrentar
o problema, mas também opiniões diferentes quanto ao que o
próprio problema seja. Em certos casos, dá-se mais ênfase a um
aspecto do que a outro; outras vezes, os valores que se maximizam
são diferentes. Em outros casos, ainda, o enfoque muda, passando
da observação empírica indutiva e naturalística para as sutilezas
da dedução de um modelo relativamente abstrato. Essa diversi-
dade de enfoques e de fundamentos teóricos é uma manifestação
de vigor que promete frutificar futuramente numa formulação geral
e abrangente de teoria da organização. 4~7
155
realizadas nessa área tem sido pouco útil ao administrador. Pn-
meiramente, porque a literatura delas decorrentes é de difícil leitura
- não há um~ vocabulário universal de organização e o jargão
profissional nela impera. Segundo, porque muito do que se escreve
tem um alto grau de abstração. Conclui J. Woodward que urge
obter-se mais clareza e maior simplicidade de linguagem, se se pre-
tende realmente que essa literatura venha a ser efetivamente útil
aos administradores. 460
156
palavras, trata-se de quantificação baseada em conceituação, s0-
frendo, pois, de todas as limitações próprias do subjetivismo inicial.
Sua objetividade é mais aparente do que real. De certa forma é
isso também o que diz Joan Woodward, quando afirma que, embora
o enfoque quantitativo possa sem dúvida alguma aguçar a sensi-
bilidade das ciências sociais, a formalização de conceitos que te-
nham sido inadequadamente formulados por técnicas matemáticas
pode dar o ar de falsa sofisticação a um projeto de pesquisa. 463
157
citamente que o conhecimento IJObre as orAaruzaçóes é incompleto,
e que talvez o máximo que se possa fazer atualmente é utilizá-lo
simplesmente para orientar nossa procura de respostas, dele não
esperando que seja um instrumento preciso, exato. 4611
158
BIBLIOGRAFIA DA PRIMEIRA PARTE
LIVROS E MONOGRAFIAS
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166
INDICE ANAUTICO
167
CAMPOS, Edmundo, trad. e comp.: 96.
CANNON, W.: 13l.
Cibernética: 125, 142 e 152.
Ciências do comportamento: V. Teoria dos comportamentalistas; sua contribuição
à teoria de sistemas: 125-140.
Ciências da gerência ou gestão: conceito: 140-141; contribuição à teoria de
sistemas: 140-145; e pesquisas operacional: 141-142; e cibernética: 142; e o
enfoque dos comportamentalistas: 153; e mudança social: 158.
CLAUSIUS: 131.
Comunicação: conceito: Ó 1-62 (Barnard), 62-63 (Simon), 63-64 (Redfield),
62-63 (Roethlisberger); e os comportamentalistas: 111; conflito com a coorde-
nação: 111.
Conflito: 105-106, 110-111.
Controle: conceito: 38-39 e 46 (Mary Foliett) .
Coordenação: segundo Fayol: 31; segundo Gulick: 31; segundo Mooney: 32;
segundo Mary Follett: 39-46; conflito com a comunicação: 111; na indústria
avançada: 91-92.
CVERT & MARCH, J. G.: 108.
168
Estruturalismo: no conceito de EtziorU: 119, 122-123; no conceito de Selznick:
120-121; no conceito de Mikel Dufrene: 121; no conceito de Jean Viet:
121-124; no conceito de Jean Piaget: 121; no conceito de Claude Flement:
121; no conceito de Blau &I Scott: 121; no conceito de Talcott Parsons:
123-124; V. também Função, Estrutura e Sistema.
ETZIONI, Amitai: 77, 88, 97-98, 102-103, 105-106, 113, 119-120, 122-123, 126
e 130.
FAYOL. Henri: 14, 19-26, 31-36, 77-78, 89, 95, 99, 109, 151-152 e 155.
FLEMENT, Claude: 121.
FOLLE'M', Mary Parker: 38-47, 65, 78, 102, 110, 114-115.
FONTENELLE: 122.
FORO, Henry: 8.
F'REYER, Hans: 122.
Função: V. Sistema; V. Estruturalismo.
Funcionalização da supervisão (ou administração funcional): 13-14 (Taylor);
14 (Fayol, Gulick); 15 (Kimball); 15-16 (Simon) V. também Organização por
projeto ou por matriz.
GANTP: 7 e 90.
GAUS, John M.: 71 e 76.
GERT &I MILLS: 96.
Gestaltismo: 152.
GILBRETH, Frank: 7, 11 e 90.
GoULDNER, Alvin: 96, 99, 111 e 120.
GRAICUNAS: 30 e 113.
Grandes organizadores: 92 (E. Dale).
GRODZINS, Morton: 17, 65 e 149.
GULICK, Luther: 14-15, 19-20, 22-24, 26-31, 56, 78, 84-85, 88, 90, 95, 98, 100
e 155.
169
IBERT, A.: 7.
Informática: conceito: 142; e ciência da informação: 142; e as ciências da
gerência: 142; e a tecnologia da informação: 143-144.
Integração: conceito: 40-42 (Mary Follett); como fundamento da teoria Y
(de Me Gregor): 115.
Integração sistêmica: V. Sistema.
KAST, F. D. & ROSENZWEIG, James E.: 74, 97-98, 102, 131, 139-142, 148-149,
152-153, 155 e 158.
KATZ, Daniel & KAHN, R. L. 79, 111, 123, 131, 135-138 e 140.
KEYNES: 129.
KIMBALL, Dexter: 14-15.
KNOX, John B.: 104.
KOLASA, Blair J.: 99.
KOONTZ &; O'DONNELL: 90
LAHY, J .M.: 8.
LANDSBERGER, Henry: 104.
LATHAM, Earl: 2.
LAWRENCE, P.R. & LARSCH, J. W.: 139.
Lei da situação: conceito: 43 e 45 (Mary Follett) .
LEAVITT, H. J.: 89, 107, 140 e 145.
LEAVITT, Harold J. & WHISTLER, Thomas: 143-144.
LE CHATELIER. Henri: 7.
LEIGHTON. Alexander: 38 e 60.
LÉVI-STRAUSS, Claude: 122 e 124.
Livros ancestrais, na teoria oe organização: 110.
LEWIN, Kurt: 101.
LIKERT, Rensis: 84, 103, 112~114, 147 e 156.
LITTERER, Joseph A.: 157.
LITRE: 122.
170
MAYO, Elton: 49-50, 53. 78, 84-85, 92, 101, 104, 106 e l49.
Me GREGOR, Douglas: 84, 114-115.
MERTON, Robert: 97, 99 e 120.
METCALF: 37.
Modêlo: modelo de Tavistock (Rice e Trist): 128; modelo de Kast &>
Rose:1Zweig: 139-140; modelo matemático: 141 e 146; modelo cibernético:
139.
MOISÉS: 25-26.
MOONEY, James: 19-23, 25, 28, 31-35, 51, 78, 87, 90 e 96.
Morfogenia: conceito: 139 (Lawrence & Larsch).
MORGAN, Lewis H.: 122.
MORGANSTERN: 145.
MORSTEIN-MARX, Fritz: 90.
Movimento das relações humanas: 101-107, 119-, 123, 147-151.
171
Organiza~ão informal: concclto: 51-52 (Simon Smithburg & Thompson); fun-
ções: 53-54 (Barnard, Mayo e Selznick); e sistema social: 130 (Johnson, Kast
& Rosenzweig): e sistema aberto: 133 (Thompson).
PARETO: 104.
PARSONS, Talcott: 120, 125, 140 e 152.
PARSONS, T. & HENDERSON. A. M.: 95.
PARTRIDGE, W. E.: 89.
PERSON: 7,11, e 16-17.
Pesquisa para ação (action research): conceito: 158; e a operacionalização da
teoria de organização: 158.
Pesquisa operacional: conceito: 141-142 e taylorismo: 142; e tecnologia da
informação: 144.
PFIFFNER, .Tohn: 84, 110 e 151.
PFIFFNER, J ohn & PRESTHUS: 69.
PFIFFNER, John & SHERWOOD, Frank: 87, 103.
PIAGET, Jeiln: 121.
Poder: conceito (Mary Follett): 42; formas que assume (Mary Follett),
poder sobre: 42-43; poder com: 42-43.
Primeiro princípio (Mary Follett): 39.
Princípio da coordenação: V. Coordenação.
Princípio escalar: conceito: 23 (Mooney); 91; e organização por projeto: 94.
Princípio da exceção: conceito: 13 (Taylor).
Princípio funcional: conceito: 23 (Mooney).
Princípio da hierarquia: conceito: 22-23 (Fayol); 91; e organização por
projeto: 94.
Principio da homogeneidade: conceito: 23 (Gulick).
Princípio de organização: conceito: 2 e 86-87 0;,1 provérbio?: 2.
Processo decisório: 108-109, 130-131 e 140.
Psicólogos da organização: características da escola: 37-38; principais autores:
38.
PUGH, D.S. et aI.: 78, 110, 112, 114-115.
QUETZKOW: 111.
Quarto princípio (Mary Follett): conceito: 46.
RADCLIFF-BROWN: 122.
RAPAPORT: 108.
REOFIELO, Charles: 24, 38, 43, 53, 62-63 e 102.
Relações humanas: V. Movimento das relações numana~.
RICE: 128.
172
ROETHLISBERGER, F.J.: 1,38,44,50,62, 102 e 104.
ROETHLISBERGER, F.l. & DrxoN: 84,101 e 110.
RUBENSTEIN, A.H. & HABERSTROH, C.T.: 75 e 80.
173
TAVISTOCK: 128.
TAYLOR, Fredcrick Wir..s!ow: 7-14, 16-17, 34, 78, 83-84, 89-90, 94-96, 98-100,
109, 142, 144, 152 e 155.
Tay!orismo: V. Engenheiros ca organização.
Tecnologia da informação: suas partes: 143; e Informática: 143; e seu impacto:
143; e os enfoques científico (taylorismo) e participativo: 144.
Tensão: 110 (Elliot Jacques); 119 Etzioni).
Tecria: conceito e arr.plitude: 71 (Gaus), 79-80 (Blau & Scott, Rubenstein
& Haberstroh, Scott & Waldo) .
Teoria Ge organização: escopo e alcance: 1-5, 67-71 e 73-78; teoria clássica
cu tradicional: V. teoria da organização fermal; teoria fisiológica (classificação
de March & Simon): 85-87; teoria da gerência administrativa (classificação de
March & Simon): 85-87; teoria da organização formal: 83-100, 147-149,
150 e 153; teoria dos comportamentalistas: 101-118, 150-154 e 158; teoria de
sistemas: 125-145 e 152-153; teoria geral de organização: 67-71 e 157-158; e
sua evolução em ciclos (tese, antítese, s:ntese): 153-154; paralelo de sua
evolução com o da física, da economia e da sociologia: 155; e macro e
microorganização: ISS; e quantificação: 156-157; e seus livros ancestrais: 110.
Teoria clássica ou tradicional de organização: V. Teoria de organização.
Teoria dos comportamentalistas: V. Teoria de organização.
Teoria fisiclógica de organização: V. Teoria de organização.
Teoria da gerência administrativa: V. Teoria de organização.
Teoria geral de organização: V. Teoria de organização.
Teoria da organização formal: V. Teoria de organização.
Tecria de sistemas: V. Teoria de organização; V. Sistema.
Teoria X (Mc Gregor): 114-115.
Teoria Y (Mc Gregor): 115.
Terceiro princípio (Ma~y Follett): 42-46.
THERNWALD: 122.
THOMPSON, James D.: 100, 198, 132-134.
TONNIES: 122.
TOWNE, Henry R.: 89.
TRIST: 128.
174
VAUGELAS: 122.
VIET, Jean: 121-124.
VON BERTALANFFY, Ludwig: 129.
VON NEUMANN: 145.
175