Você está na página 1de 64

FACULDADE DE TALENTOS HUMANOS – FACTHUS

SÉRGIO FERNANDO FLORES BELO

ESTUDO DE CASO DA PERDA DE SINCRONISMO DAS PÁS DE


UMA TURBINA BULBO

UBERABA – MG
2011
FACULDADE DE TALENTOS HUMANOS – FACTHUS
SÉRGIO FERNANDO FLORES BELO

ESTUDO DE CASO DA PERDA DE SINCRONISMO DAS PÁS DE


UMA TURBINA BULBO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Talentos
Humanos – FACTHUS, como requisito
parcial de obtenção de título de bacharel
em Engenharia Mecânica com Habilitação
em Controle e Automação.
Orientador: Prof. Ms. Leandro Aureliano
da Silva

UBERABA – MG
2011
SÉRGIO FERNANDO FLORES BELO

ESTUDO DE CASO DA PERDA DE SINCRONISMO DAS PÁS DE


UMA TURBINA BULBO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Talentos
Humanos – FACTHUS, como requisito
parcial de obtenção de título de bacharel
em Engenharia Mecânica com Habilitação
em Controle e Automação.
Orientador: Prof. Ms. Leandro Aureliano
da Silva

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Eletromecânica

Uberaba, 10 de Dezembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________________
Prof. Ms. Leandro Aureliano da Silva - FACTHUS
___________________________________________________________________
Prof. Esp. Antonio Carlos Lemos Júnior - FACTHUS
___________________________________________________________________
Prof. Esp. Willian Gigo - FACTHUS

UBERBA – MG
2011
Este trabalho é dedicado aos meus pais: mais que exemplo, foi
estímulo, fé e ninho, onde pude repousar e recuperar forças
para prosseguir minha caminhada.
AGRADECIMENTOS

Meu muito obrigado:


Primeiramente Ao meu Deus, por aparecer na minha vida em forma de
prosperidade e aberto os meus olhos para as perceber as oportunidade e assim
conseguir atingir mais este objetivo;
Ao meu pai Sr Geraldo Flores Belo (in memorian) e à minha mãe Sra
Celina Queiroz Flores Belo, por tudo que sou e aprendi durante a vida foi graças aos
nobres pilares de educação, dignidade, valores morais e éticos e pelo amor
incondicional;
À minha esposa Cristiane Abdalla de Paiva e minha filha Isabela, por me
acompanharem, apoiarem e dividirem comigo todos os sentimentos desta conquista;
Aos meus amigos, pelo apoio e motivação imprescindíveis;
Aos colegas de faculdade, pelo convívio e compartilhamento de
conhecimentos, experiências e vários momentos inesquecíveis;
Aos colegas de trabalho que me motivaram a evoluir;
A todos os professores e colaboradores da faculdade pelo convívio e
pelos conhecimentos adquiridos. Em especial, ao meu orientador Prof. Leandro
Aureliano da Silva, pela atenção, dedicação e colaboração indispensáveis para
realização deste trabalho.
À Companhia Energética de Minas Gerais S/A – Cemig S/A. Aos Amigos
da Usina Hidrelétrica de Igarapava, Em especial, ao meu amigo Sr. Cristovão
Aparecido e o Sr. Claudio Antonio da Silva, por todas as oportunidades que me
foram proporcionadas
A todos que ao longo de minha vida contribuíram de algum modo para
com o meu desenvolvimento pessoal e profissional
O mais importante na vida não é o conhecimento, mas sim o
uso que fazemos dele.
Talmud
RESUMO

Neste trabalho será apresentado um estudo de caso da perda de sincronismo das


pás da turbina Bulbo em uma usina hidrelétrica na cidade de Igarapava- SP. Para
tanto, será mostrado todos os componentes utilizados em uma turbina bem como os
tipos de turbinas usadas em hidrelétricas e as ferramentas para a localização e
solução do defeito encontrado na turbina estudada. Todos estes problemas
ocorreram, devido a um problema encontrado no projeto da turbina, que foi
solucionado conforme demonstrado ao longo do trabalho

Palavras-chave: Turbina hidráulica. Usinas Hidrelétricas, ultrasom


ABSTRACT

In this paper we present a case study of loss of synchronization of the turbine blades
in a hydroelectric plant bulb in the city of Igarapava SP. To do so, will be shown all
the components used in a turbine and the types of turbines used in hydroelectric
power and the tools for finding and resolving the defect found in the turbine studied.
All these problems occurred due to a problem encountered in the design of the
turbine.

Keywords: Hydraulic turbine, Power Plants, Ultrasounds.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Esquema de funcionamento de uma hidroelétrica.................................15


FIGURA 2 - Turbina bulbo.........................................................................................18
FIGURA 3 - Montagem da caixa espiral....................................................................19
FIGURA 4 - Montagem do pré distribuidor. ...............................................................20
FIGURA 5 - - Comando das paletas do distribuidor. .................................................20
FIGURA 6 - Rotor e eixo da turbina. .........................................................................21
FIGURA 7 - Tubo de sucção. ...................................................................................22
FIGURA 8 - Esquema da turbina Pelton. ..................................................................23
FIGURA 9 - Esquema da turbina francis. ..................................................................24
FIGURA 10 - Esquema da turbina kaplan. ...............................................................25
FIGURA 11 - Esquema de funcionamento de uma turbina Bulbo .............................27
FIGURA 12 - Esquema de uma Central Hidrelétrica de Derivação. ..........................30
FIGURA 13 - Esquema típico de uma central de Desvio. .........................................31
FIGURA 14 - Esquema de uma central de represamento.........................................32
FIGURA 15 - Gráfico das faixas de aplicação de turbinas ........................................33
FIGURA 16 - Retirada da ogiva.................................................................................35
FIGURA 17 - Desmontagem do servo motor.............................................................35
FIGURA 18 - Local da quebra. ..................................................................................36
FIGURA 19 - Local da quebra. ..................................................................................37
FIGURA 20 - Local onde é instalado o parafuso olhal. .............................................37
FIGURA 21 - Desmontagem da Kaplan ....................................................................39
FIGURA 22 - Retirada do rotor..................................................................................39
FIGURA 23 - Corrosão na face do eixo.....................................................................40
FIGURA 24 - Retifica da face do eixo. ......................................................................40
FIGURA 25 - Locais de concentração dos esforços..................................................41
FIGURA 26 - Teste de contato. ................................................................................42
FIGURA 27 - Ensaio de liquido penetrante nos pinos. ..............................................42
FIGURA 28 - Ensaio de partículas magnéticas. ........................................................43
FIGURA 29 - Componentes de transmissão do comando do servomotor para as pás.
..................................................................................................................................44
FIGURA 30 - Modificações dos tirantes. ...................................................................46
FIGURA 31 - Furação para colocação de novos pinos. ............................................46
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Principais componentes de um grupo Bulbo. ......................................27


LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica.


ANP - Agência Nacional do Petróleo.
CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.
CDE - Conta de Desenvolvimento Energético.
GCH – Grande Central Hidrelétrica.
MME - Ministério de Minas e Energia.
MRA – Mecanismo de redução de energia.
MRE - Mecanismo de Realocação de Energia.
O&M - Operação e Manutenção.
ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico.
PCH – Pequena central hidrelétrica.
PDE - Plano Decenal de Energia.
UG – Unidade Geradora.
UHE- – Usina hidrelétrica.
SIN - Sistema Interligado Nacional.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................14
1.1 Justificativa .................................................................................................15
1.2 Objetivo .......................................................................................................16
1.3 Organização do Trabalho...........................................................................17
2. TURBINAS HIDRÁULICAS .........................................................................18
2.1 Partes de uma Turbina ...............................................................................18
2.1.1 Caixa Espiral ...............................................................................................18
2.1.2 Pré-distribuidor...........................................................................................19
2.1.3 Distribuidor .................................................................................................20
2.1.4 Rotor e eixo.................................................................................................21
2.1.5 Tubo de Sucção ..........................................................................................21
2.2 Tipos de Turbinas.......................................................................................22
2.2.1 Turbina Pelton.............................................................................................22
2.2.2 Turbina Francis...........................................................................................23
2.2.3 Turbina Kaplan............................................................................................24
2.2.4 Turbina Bulbo .............................................................................................25
2.3 Tipos de Arranjos de uma Usina ...............................................................28
2.3.1 Central hidrelétrica de derivação ..............................................................29
2.3.2 Central hidrelétrica de desvio....................................................................30
2.3.3 Central hidrelétrica de represamento .......................................................31
2.4 Comparação entre Turbinas ......................................................................32
3. ESTUDO DE CASO DA PERDA DE SINCRONISMO DAS PÁS DE UMA
TURBINA BULBO ....................................................................................................34
3.1 A Perda de sincronismo das pás ..............................................................34
3.2 Ações na correção do problema ...............................................................37
3.3 Ensaios e Análises Realizadas..................................................................40
3.4 Entendendo o Processo de Falha .............................................................43
3.5 Soluções encontradas para a correção do defeito..................................44
4. CONCLUSÕES ............................................................................................47
REFERÊNCIAS.........................................................................................................49
14

1. INTRODUÇÃO

A todo o momento são desenvolvidas técnicas e pesquisas novas, que


buscam a qualidade e o aprimoramento dos equipamentos usados para a instalação
e funcionamento perfeito de uma Usina hidrelétrica. E, geralmente, a maior
preocupação é com a segurança e a distribuição perfeita de energia, evitando ao
máximo a ocorrência de acidentes e outras ocorrências não desejáveis.
Dessa forma, o presente trabalho apresenta a perda do sincronismo das
pás da turbina bulbo numa Usina de Igarapava e demonstra as propostas para a
devida reparação, sem causar transtornos e visando o bem estar de todos os
clientes.
Este trabalho teve como principal objetivo detectar os problemas
ocorridos na referida Usina Hidrelétrica, apresentar as melhores soluções para a
correção desses problemas, e adotar medidas preventivas para evitar novos
incidentes.
Para tanto, necessita-se um sincronismo em toda a engenharia mecânica
dos assuntos mais tratados, dentro da tecnologia avançada e do aperfeiçoamento.
Dentro deste contexto, inicialmente, abordamos e descrevemos os
elementos constitutivos das máquinas e equipamentos, seus tipos e sua importância
para o funcionamento perfeito da Usina.
Em seguida, o foco é detectar a falha e corrigi-la através da
experimentação de novas técnicas.
Vale ressaltar que as características físicas e geográficas do Brasil foram
determinantes para a implantação de um parque gerador de energia elétrica de
base, predominantemente hidráulica e, dentre tantas Usinas Hidrelétricas existentes,
foi escolhida para este estudo a Usina Hidrelétrica situada em Igarapava, cidade do
interior de São Paulo.
Sabe-se que:

O uso da força das águas para gerar energia é bastante antigo e começou
com a utilização das chamadas “noras”, ou rodas d’água do tipo horizontal,
que através da ação direta de uma queda d’água produz energia mecânica
15

e são usadas desde o século I a.C.. A partir do século XVIII, com o


surgimento de tecnologias como o motor, o dínamo, a lâmpada e a turbina
hidráulica, foi possível converter a energia mecânica em eletricidade.
(FARIA, 2008).

A geração de energia elétrica em uma hidroelétrica pode ser


compreendida da seguinte forma: uma grande quantidade de água que vem do
reservatório é encaminhada para a casa de força por meio de dutos. Está
quantidade de água, movimenta as pás da turbina ligadas a um eixo que está
conectado ao gerador. O gerador é um equipamento composto por um imã e um fio
bobinado. Assim, o eixo da turbina produz um campo eletromagnético dentro do
gerador, produzindo a eletricidade. A figura 1 mostra o esquema de funcionamento
uma hidroelétrica. (FRANCISCO, [2000-])

FIGURA 1 - Esquema de funcionamento de uma hidroelétrica.


FONTE: Francisco ([200 -]).

Sendo as turbinas uma das principais máquinas utilizadas para geração


de energia elétrica, neste trabalho, aborda-se o estudo da perda de sincronismo das
pás de uma turbina Bulbo instalada na usina hidrelétrica da cidade de Igarapava.

1.1 Justificativa
16

O Brasil detém um dos maiores potenciais hidrelétricos do mundo, sendo


que, atualmente, sua matriz energética é composta, predominantemente, por esta
fonte.
Devido às grandes transformações que o setor elétrico brasileiro tem
passado advindo do processo de transição do seu modelo estrutural as empresas do
setor que antes estavam inseridas em um mercado monopolista, hoje se vêem
obrigadas a encarar a competição para sobreviver.
A adoção da concorrência empresarial nos segmentos de geração e
comercialização de energia elétrica mudou a maneira com que essas empresas
lidam com o mercado de energia.
Ao mesmo tempo, novos agentes foram inseridos no setor. Neste
contexto, foram criadas agências regulatórias, órgãos de coordenação, ambientes
de negociação e novas regras tarifárias. Como se não bastasse às transformações.
O setor elétrico como um todo, ainda luta para melhorar sua eficiência e também
enfrentar os desafios atuais e futuros.
Contudo, se um equipamento de uma usina hidrelétrica pára de funcionar,
repercute na distribuição de energia elétrica, gerando multas pesadas pelos órgãos
regulatórios como a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL em que a
empresa tem que arcar.
O estudo se justifica, porque a turbina é um dos principais elementos na
geração de energia. Se umas de suas pás estão sem movimento, a turbina perde a
conjugação e em conseqüência poderia haver a quebra de outros componentes que
poderiam parar toda a unidade geradora de uma usina hidrelétrica.

1.2 Objetivo

Apresentar o estudo da perda de sincronismo das pás da turbina Kaplan


em uma usina hidrelétrica na cidade de Igarapava.
17

1.3 Organização do Trabalho

O trabalho apresentado se divide em 4 capítulos:


1. Introdução
2. Turbinas Hidráulicas
3. Estudo de Caso
4. Conclusões

O primeiro capítulo apresenta a importância e relevância do tema


abordado neste estudo, através de uma breve contextualização e apresentação do
funcionamento de uma usina hidrelétrica bem como o objetivo e a justificativa para
este trabalho.
O segundo capítulo apresenta a descrição de turbinas e seu
funcionamento, sua importância e relevância e os principais grupos de turbinas
hidráulicas utilizados nas grandes usinas hidrelétricas (GCH) (Francis, Pelton,
Kaplan e Bulbo) e uma breve comparação entre as mesmas.
O terceiro capítulo representa o estudo de caso, apontando as falhas
ocorridas no estudo em questão, a solução adotada e as técnicas envolvidas na
solução.
O quarto capítulo por sua vez, reúne as conclusões obtidas ao longo do
estudo.
18

2. TURBINAS HIDRÁULICAS

Uma turbina hidráulica tem a função de converter energia cinética em


energia mecânica. Nas seções a seguir, será explicado cada parte de uma turbina e
sua função. A figura 2 mostra uma turbina e suas partes.

FIGURA 2 - Turbina bulbo.


FONTE: http://www.bicusa.org/es/Article.11709.aspx. Acesso em: 10 de set. 2011.

2.1 Partes de uma Turbina

A turbina é composta pela caixa espiral, pelo pré-distribuidor, distribuidor,


rotor e eixo, tubo de sucção e cabeçote. A explicação de cada parte é descrita
abaixo.

2.1.1 Caixa Espiral


19

É uma tubulação construída de chapas de aço, soldadas em forma de


caracol, que envolve a região do rotor e fica interligada à estrutura de concreto da
usina, após a sua montagem não é mais possível ser removida ou modificada. Seu
objetivo é distribuir a água igualmente na entrada da turbina. A caixa espiral ou
caracol, como é conhecida, é conectada ao conduto forçado na seção de entrada, e
ao pré-distribuidor da máquina saída. (LIMA, 2009). A figura 3 mostra a estrutura.

FIGURA 3 - Montagem da caixa espiral


FONTE: http://www.tqcnet.com.br/fotos3.html.Acesso em: 19 Nov. 2011.

2.1.2 Pré-distribuidor

O pré-distribuidor é elemento que direciona a água para a entrada do


distribuidor. Esta é uma peça fixa composta de dois anéis superiores, entre os quais
são soldados um conjunto de palhetas fixas, com perfil hidrodinâmico de modo a não
provocar turbulência em seu escoamento e não gerar uma perda de carga. É
fabricada com chapas ou placas de aço carbono é uma parte sem movimento,
soldada a caixa espiral ou conduto forçado. A figura 4 mostra a montagem do pré-
distribuidor. (LIMA, 2009)
20

FIGURA 4 - Montagem do pré distribuidor.


FONTE:http://www.alvarocamargo.com.br/albuns/projetos/Usina%
20Hidreletrca%20de%20Machadinho/Pre-distribuidor%203%20-
%20Vista%20de%20cima.jpg Acesso em: 19 Nov. 2011

2.1.3 Distribuidor

É um conjunto de elementos que tem por finalidade direcionar o


escoamento, ou seja, o fluxo de água e controlar a vazão para o rotor. Normalmente
formado por paletas diretrizes. Um exemplo é apresentado na figura5.

FIGURA 5 - - Comando das paletas do distribuidor.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, 2011.
21

2.1.4 Rotor e eixo

O rotor da turbina é onde ocorre a conversão de energia hídrica em


potência de eixo. Na forma de torque ou velocidade de rotação transmitindo para o
eixo e posteriormente ao gerador, a figura 6 mostra o rotor e o eixo. (LIMA, 2009)

FIGURA 6 - Rotor e eixo da turbina.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, 2011.

2.1.5 Tubo de Sucção

“É o conduto de saída da água, geralmente com diâmetro final maior que


o inicial, onde o fluxo da água se desacelera após ter passado pela turbina,
devolvendo-a ao rio a jusante da casa de força”. (LIMA, 2009). A figura 7 apresenta
o tubo de sucção que é a parte 3 representada na figura. As demais partes
mostradas são: 1) rotor da turbina, 2) câmara de descarga, 4) distribuidor e 5) anel
das palhetas do distribuidor.
22

FIGURA 7 - Tubo de sucção.


FONTE:http://fluidos.eia.edu.co/hidraulica/articuloses/maquinashidraulicas/
turbina_francis/turbina_francis.htmlArquivo Acesso em: 19 Nov. 2011

2.2 Tipos de Turbinas

2.2.1 Turbina Pelton

São empregadas em usinas de altas quedas

“Este tipo de turbina opera com altas velocidades de rotação normalmente


maiores que as outras, tendo o seu rotor características bem distintas. os
jatos de água que são injetados através dos chamados bicos injetores sob
as conchas do rotor e ao se chocarem com as “conchas”, geram o impulso e
transmite o torque para o eixo”. (LIMA,2009)

“São chamadas turbinas de reação, pois a pressão de entrada é maior


que a pressão de saída, Sua jusante é aberta, ou seja, as máquinas não são
instaladas submersas” (HEINLEIN, 2009).
23

O número de bocais a ser acionados depende da potência que se queira


gerar. Nestas, pode-se utilizar 6 bocais simultaneamente, ou apenas cinco, ou, a
quantidade necessária para atingir a potência.
“O número normal de bocais varia de dois a seis, igualmente espaçados
angularmente para garantir um balanceamento dinâmico do rotor.”(PORTAL PCH,
2011)
Este tipo de turbina é adequado para operar entre quedas de 350 m até
1100 m, ou seja, altas quedas.
Devido à alta velocidade com que a água se choca com o rotor, as
turbinas Pelton, independente dos diferentes bocais, têm um bom desempenho em
diversas condições de operação.
A figura 8 representa o princípio de funcionamento de uma turbina Pelton.

FIGURA 8 - Esquema da turbina Pelton.


FONTE: http://petcivilufjf.wordpress.com. Acesso em: 19 Nov. 2011

2.2.2 Turbina Francis

Estas turbinas são adequadas para operar em usinas de médias quedas


entre 40 m até 400 m.
“são chamadas turbinas de ação, porque, a pressão de entrada é igual a
pressão da saída, a água circularmente, é direcionada ao redor da turbina
24

através da caixa espiral conforme nos mostra a figura 9. O controle do


volume turbinado é realizado através de um aro de regulação da abertura
das pás do distribuidor, que são, pás ligeiramente inclinadas com um perfil
hidráulico específico” (HEINLEIN, 2009)

Desta forma, a água é direcionada no sentido radial para o rotor da


turbina, que é onde o fluxo de água se desenvolve na maior parte de sua trajetória,
em um fluxo normal ao seu eixo.
Cabe salientar que o seu rotor esta sempre abaixo do leito do rio, ou seja,
submerso.

FIGURA 9 - Esquema da turbina francis.


FONTE: http://www.cepa.if.usp.br/energia/energia1999/Grupo2B/Hidraulica/
turbina2.htm Acesso em: 19 Nov. 2011

2.2.3 Turbina Kaplan

São empregadas em usinas de baixa queda, mas, porém, é necessário


um grande volume de água. Neste tipo de construção a água também é direcionada
circularmente ao redor da turbina através da caixa espiral e flui em sentido axial. As
pás do rotor e as paletas do distribuidor são reguláveis, e este distribuidor em
máquinas verticais é montado acima do rotor, deste modo, consegue se um controle
25

de potencia através da abertura das pás do rotor em conjunto com a abertura das
pás do distribuidor.
“O controle através deste conjugado das pás do conjunto rotor
distribuidor faz com que a máquina opere em melhores condições de eficiência”.
(HEINLEIN, 2009)
Desta forma, tem se o aproveitamento melhor das variáveis de nível de
água montante e jusante.
Neste tipo de turbina tem se dentro de sua ogiva, um mecanismo com um
servo motor e um sistema de bielas que através de seu movimento permitem que as
pás girem alguns graus mudando sua posição. A figura 10 mostra um corte
esquemático da turbina Kaplan. (LIMA, 2009)

FIGURA 10 - Esquema da turbina kaplan.


FONTE: http://vivendoeletricidade.blogspot.com Acesso em: 19 Nov. 2011

2.2.4 Turbina Bulbo


26

Segundo Wilmer (2009) neste tipo de construção a máquina tem seu eixo
montado na posição horizontal. Estas turbinas bulbo são empregadas em relevos de
baixíssimas quedas, onde se tem o seu gerador acoplado ao eixo, caracterizando
assim o conjunto turbina gerador de eixo horizontal. Este conjunto é instalado no
interior de uma cápsula metálica, estanque e totalmente imersa chamada bulbo com
o fluxo de água axial, ou seja, paralelo ao eixo da unidade geradora que opera
sempre submersa e envolvem perdas menores no fluxo de água.
Além disso, este tipo de turbina é capaz de lidar com grandes variações
no fluxo de água. Esta é uma das grandes soluções da engenharia moderna para a
produção de eletricidade, uma vez que, esta turbina pode ser instalada em
baixíssimas quedas e permitem um pequeno alagamento causando assim um baixo
impacto ambiental, se comparado as demais usinas que são chamadas usinas a fio
d’água.
Devido à preocupação com a preservação do meio ambiente, atualmente,
muitos dos grandes projetos e construções de usinas em andamento nos país, estão
utilizando este tipo de tecnologia, podendo ser utilizada tanto em usinas de pequeno
porte quanto para usinas de grande porte.
Esta concepção reduz consideravelmente o volume de obras civis
causando assim um menor custo em obras.
Podemos encontrar algumas dessas turbinas instaladas nos mais
diversos estados brasileiros, de potências variando de 0,43 MW (Aripuanã.– MT –
CEMAT) até 42 MW ( Igarapava –SP/MG – CEMIG). Essas unidades oferecem alta
eficiência, pois ficam completamente submersas, sendo assim capazes de lidar com
grandes variações no fluxo de água.
A Figura. 11 mostra os principais componentes de um grupo bulbo e o
Quadro 1, relaciona os números mostrados na figura 11 com os seus respectivos
componentes.
27

FIGURA 11 - Esquema de funcionamento de uma turbina Bulbo


FONTE: MORAIS, (2011)

QUADRO 1 - Principais componentes de um grupo Bulbo.


Número Componente Número Componente
1 Cápsula 7e9 Mancais
2 Tubo de acesso 10 Distribuidor
3 Câmara de adução 11 Pás do rotor
4 Sistema de óleo 12 Cone ou ogiva
5 Gerador síncrono 13 Cubo
Estrutura de
6e8 sustentação e pré 14 Tubo de descarga
distribuidor
FONTE: MORAIS, (2011)

Os componentes do quadro 1 são:


1) Cápsula: é um conjunto metálico que envolve todo o grupo conjunto turbina-
gerador
2) Tubo de acesso: é um tubo com escadas que dá acesso a sala do gerador e
mancais
3).Câmara de adução: tem a função de conduzir o fluxo hidráulico à turbina.
4) Sistema de óleo: consiste no cabeçote de óleo e a tubulação de comando das
pás
5) Gerador síncrono: é o elemento rotativo que cria o campo magnético e
transforma em energia elétrica
6 e 8). Estrutura de sustentação: é presa a estrutura de concreto e tem a finalidade
ancorar todo o conjunto
7 e 9). Mancais: é um grupo de peças que suporta e mantém o grupo rotativo
turbina/gerador trabalhando.
28

10). Distribuidor: sua finalidade é direcionar o escoamento e controlar a vazão que


irá passar pelo rotor.
11). Pás do rotor: estas são responsáveis pela movimentação do rotor na forma de
torque e velocidade de rotação
12). Cone ou ogiva: a ogiva fica sempre cheia de óleo e dentro dela é montada a
tubulação de comando e o servo motor.
13). Cubo: dentro do cubo é montado a cruzeta e todo o mecanismo de
movimentação das pás.
14). Tubo de descarga: é também chamado de tubo de sucção, este tubo tem a
finalidade de conduzir o escoamento, da saída do rotor até o canal de fuga.

A turbina Bulbo utiliza-se de um rotor Kaplan. Este é o elemento rotativo


da turbina Bulbo sendo responsável pela transformação de energia cinética do
movimento da água em trabalho mecânico. O rotor pode ser subdividido em três
partes: cubo, ogiva ou cone e pás como mencionado acima. (MORAIS, 2011)
A velocidade de uma turbina bulbo assim como as outras, devem ser
constante. Para manter esta constancia, o regulador de velocidade de uma turbina
Bulbo recebe parâmetros de uma referência pré ajustada. Estes parâmetros podem
ser: por ajuste de velocidade, ajuste de potência, de posição do distribuidor, ou
freqüência. E de acordo com o erro encontrado, o regulador então envia o comando
para a redução ou elevação da quantidade de água que passa pela turbina.
O servomotor é o elemento responsável pelo controle das pás. Este é
geralmente instalado dentro da ogiva, próximo às pás. Em máquinas de grande
porte, pode ser instalado no meio ou no final do grupo turbina-gerador através de um
cabeçote de comando.
O controle do distribuidor consiste de um anel de ligação, ou seja, um
anel que movimenta todas as paletas com ligações e alavancas, em um movimento
simultâneo por meio de servomotores principais. (MORAIS, 2011)

2.3 Tipos de Arranjos de uma Usina


29

Cada local escolhido para instalação de uma usina hidroelétrica é


peculiar, com condições topográficas, geológicas, ambientais e hidrológicas
particulares e singulares. Com ênfase a estas características pode-se ressaltar que
cada sítio tem suas características, ou seja, não são encontradas características
iguais de um empreendimento para o outro, a escolha de um determinado arranjo
são exclusivas, normalmente envolve um conjunto de estudos como resultado deste
um processo interativo, onde várias opções são concebidas, dimensionadas e
executados os orçamentos para chegar à melhor solução. Pode-se dizer que o
melhor arranjo para um determinado empreendimento hidroelétrico é aquele o qual
se consegue posicionar os elementos deste de uma maneira que possa combinar
facilidades, custos de operação e manutenção viáveis e a segurança das
instalações, somados á um custo mais baixo.
Pode-se separar os principais tipos de arranjos em três principais: central
de derivação, central de desvio e central de represamento segue uma síntese de
cada um.

2.3.1 Central hidrelétrica de derivação

Neste tipo de arranjo a água do rio é desviada e conduzida por meio de


túneis ou tubulações até as turbinas de onde a água é restituída para um rio
diferente do qual foi aduzida. Este esquema pode ser visto na Figura 12.
(MAGALHÃES, 2009).
30

FIGURA 12 - Esquema de uma Central Hidrelétrica de Derivação.


FONTE: (MAGALHÃES, 2009)

2.3.2 Central hidrelétrica de desvio

Neste tipo de arranjo a principal característica é aproveitar o desvio


natural do curso do rio para gerar o potencial hidráulico. Este tipo de instalação tem
a casa de força localizada afastada da barragem, e sua ligação feita por um circuito
hidráulico composto por um canal (adução ou conduto de baixa pressão) os
condutos por sua vez desviam a água do leito natural do rio e a levam até a casa de
força como mostra o esquema na Figura 13. (MAGALHÃES, 2009)
Também é importante salientar que nas usinas de desvio, o rio de
captação de água a montante é o mesmo da jusante, onde a água é devolvida ao
mesmo após passar pelas turbinas, Este tipo de arranjo é o comum em pequenas
centrais (pch) e de centrais de altas quedas.
31

FIGURA 13 - Esquema típico de uma central de Desvio.


FONTE: (MAGALHÃES, 2009)

2.3.3 Central hidrelétrica de represamento

Este tipo de construção caracteriza se por serem normalmente,


aproveitamentos de baixa queda, a qual é proporcionada, exclusivamente, pela
altura da barragem, tendo a casa de força logo abaixo desta, característica do que é
chamado de casa de força no pé da barragem. (MAGALHÃES, 2009)
32

FIGURA 14 - Esquema de uma central de represamento


FONTE: (MAGALHÃES, 2009)

2.4 Comparação entre Turbinas

Conforme o valor da queda da água (H) é considerado os tipos de


aproveitamento denominados de baixa, média e alta queda, que é a condição
principal da seleção do tipo de turbina a se utilizar.
As turbinas Kaplan ou de pás orientáveis, pode trabalhar com quedas até
70m. Já a turbina Francis pode trabalhar com quedas que podem chegar a 500m. A
Pelton com quedas de até 1500m.
Outro fator relevante na seleção da turbina é o caudal (Q), que é a
relação com a queda útil. Na figura 15, apresenta-se, sob a forma de gráfico de
coordenadas Hu (queda útil) e Q (caudal), as "manchas" de utilização das turbinas
mais comuns (Pelton, Francis e Kaplan). (DOMINGUES, 2002)
33

FIGURA 15 - Gráfico das faixas de aplicação de turbinas


FONTE: (MIRANDA, 2002)

A escolha do tipo mais conveniente de turbina nas zonas de transição é


um problema complexo, de natureza técnica e econômica. Para isso, analisa-se o
parâmetro específico denominado velocidade específica Ns.
Admite-se normalmente que o valor Ns=350 divide os campos de
aplicação das turbinas Francis e Kaplan.
A tendência atual, por motivos econômicos e dos processos técnicos
desenvolvidos, orienta-se no sentido de deslocar para cima o campo de aplicação
das Francis levando-as ao domínio, até o pouco tempo exclusivo da Pelton.
(DOMINGUES, 2002)
Para quedas inferiores a 15m é corrente a técnica do emprego de grupos
do tipo Bulbo (turbinas axiais) pela forma exterior que apresentam, os quais
encontram um vasto campo de aplicação
34

3. ESTUDO DE CASO DA PERDA DE SINCRONISMO DAS PÁS DE UMA


TURBINA BULBO

3.1 A Perda de sincronismo das pás

No dia 27/03/2009 a Unidade Geradora 5 da usina hidrelétrica de


Igarapava, foi parada para a realização de um ensaio de ultrassom nos tirantes de
fixação do eixo e nos pinos de transmissão de torque da turbina. Este ensaio seria
uma ação para a verificação da integridade dos tirantes e pinos, em cumprimento do
plano de manutenção preventiva da usina com o objetivo de acompanhar o
funcionamento das unidades geradoras.
Após a realização destes ensaios, iniciaram-se os procedimentos de
retorno da máquina, começando a turbina a girar com uma rotação mais baixa e
aumentando a velocidade gradativamente, até atingir a rotação de trabalho, ou seja,
rotação nominal de 200rpm. Foi notado então pelo operador, um ruído anormal na
região da turbina a partir da rotação de 25% (vinte e cinco por cento da rotação
nominal), a princípio, acreditou se que fosse uma possível obstrução parcial das
grades da tomada d’água da unidade geradora. Imediatamente, foi contratada então
uma empresa especializada em serviços subaquáticos que realizou através de
mergulhos e filmagens a inspeção das grades da tomada d’água durante três dias,
não sendo encontrado nada de anormal ou que justificasse a ocorrência do ruído.
Ainda no mesmo dia da ocorrência foram executadas manobras de
operação, visando o retorno da unidade geradora ao sistema. Mas o ruído anormal
na região da turbina persistiu, indicando a necessidade de uma investigação e
inspeção mais criteriosa no rotor.
Nos dias subseqüentes, foram realizados os serviços de esgotamento de
toda a tubulação do grupo bulbo e a abertura da escotilha da sucção da unidade
para inspeção no rotor da turbina. Foram realizadas inspeções visuais e testes
hidráulicos de movimentação das pás do rotor. Nestas inspeções e testes foi
constatado a não movimentação de uma das pás do rotor.
35

3.1.1 Desmontagem da Turbina

Devido ao exposto, consideramos que seriam características de uma


falha grave, e que só poderia ocorrer devido a uma quebra do mecanismo interno do
rotor, foi solicitada assim a execução da desmontagem parcial da unidade geradora
para a identificação e avaliação, bem como, a análise para a solução do problema.
Nesta etapa ainda não era conhecido o motivo da falha, nas figuras 16 e 17 são
expostas algumas etapas da desmontagem parcial para a verificação do problema.

FIGURA 16 - Retirada da ogiva.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

FIGURA 17 - Desmontagem do servo motor


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

Após a desmontagem parcial foi possível verificar o sistema de alavancas


e bielas responsáveis pela movimentação das pás, nesta oportunidade, identificou-
36

se a causa da “não movimentação” de uma das pás do rotor com sendo a ruptura do
“parafuso olhal” como pode ser visualizado na figura 18.

FIGURA 18 - Local da quebra.


FONTE: O autor, (2009).

Este parafuso é um dos elementos responsáveis pela transmissão do


esforço do servomotor às pás do rotor. Trata se de um elemento específico, de
recuperação complexa e fabricação especial por onde passa todo o esforço
existente em uma pá. Por ele passam esforços cíclicos, típicos que podem propiciar
uma falha por fadiga. Percebeu-se assim, a ruptura em um local onde existe uma
rosca e foram também observadas na região fraturada, algumas características de
ocorrência de fadiga do material informação obtida, através do relatório de análise
cientifica da labotest conforme (anexo A). A figura 19 ilustra o local de instalação do
parafuso olhal e a figura 20 é uma foto do local após a desmontagem
37

FIGURA 19 - Local da quebra.


FONTE: O autor, (2009)

FIGURA 20 - Local onde é instalado o parafuso olhal.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

3.2 Ações na correção do problema

Tendo em vista os problemas encontrados após a desmontagem, foi


definida uma equipe de projeto para este estudo e trabalho, equipe pela qual pude
fazer parte, esta contaria com técnicos e engenheiros da empresa e pelo fabricante
do equipamento, para definir o que seria necessário para a condução da
38

desmontagem total da turbina e todo o processo de reforma. Assim definiu-se pela


retirada do rotor da usina e que a desmontagem total seria realizada em uma
empresa externa devido à falta de recursos na usina, mas, com o acompanhamento
da equipe envolvida.
Durante a retirada do rotor, foi possível avaliar o estado do acoplamento
do eixo e rotor, assim, percebeu-se que as faces se encontravam em um processo
de corrosão, e seria necessária então a retificação das faces do rotor e eixo. Este
processo seria desenvolvido em duas etapas: sendo a primeira etapa a usinagem da
face do rotor, na fábrica e a segunda, seria a usinagem da face do eixo, na usina.
Para atender uma recomendação imposta pelo fabricante de adotar mais
seis pinos de cisalhamento com novas dimensões, foram feitas furações em seis
pontos intercalados no eixo, passando de 6 para 12 pinos de transmissão, o que,
além, de não acrescer tempo adicional na recuperação da máquina, certamente
contribuirá em aumento de confiabilidade do conjunto de acoplamento eixo-turbina.
As figuras 21 e 22 mostram as etapas da desmontagem do rotor. A figura
23 mostra a corrosão encontrada no eixo e a figura 24 demonstra a usinagem da
face com o dispositivo especial que foi desenvolvido para retirar as imperfeições
encontradas na face do eixo da turbina sem desmontá-lo, o que seria uma operação
complexa. Assim, foi desenvolvido pela nossa equipe de engenharia juntamente com
a empresa contratada, um dispositivo especial para esta finalidade, cujo objetivo
seria retificar o eixo, retirar as imperfeições e aumentar os pontos de contatos entre
as faces.
39

FIGURA 21 - Desmontagem da Kaplan


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

A figura 21 demonstra uma etapa da desmontagem do rotor após ser


retirada a ogiva e o servo motor. Assim foi possível ter o acesso a mesa do servo
motor que é presa pelos quatro parafusos olhais, que por sua vez, ao conjunto de
bielas e ao mecanismo de movimentação das pás.

FIGURA 22 - Retirada do rotor.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)
40

FIGURA 23 - Corrosão na face do eixo.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

FIGURA 24 - Retifica da face do eixo.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

A figura 24 mostra o novo equipamento desenvolvido para a retifica da


face do eixo.

3.3 Ensaios e Análises Realizadas


41

Esclarece a análise metalúrgica a partir de ensaios, que as condições do


parafuso olhal estão dentro das especificações de projeto e não foram encontradas
características que poderiam indicar algum tipo de deterioração, tanto na matéria
prima, quanto na conformação da região da rosca.
Aponta ainda, para a existência de um processo de fadiga provavelmente
causado por esforço de flexão unidirecional e mostra a ocorrência de uma ruptura
instantânea em uma área significativa, o que caracteriza uma sobrecarga ou
impacto. Os dados referentes a esta análise se encontram no relatório Labotest
(Anexo A).
Foi também apresentado pelo fabricante uma análise na região da rosca
do parafuso e foi concluído no laudo, um efeito de escorregamento que poderia ser
capaz de provocar a falha, que poderia ser relacionado ao aperto insuficiente no
parafuso olhal, entretanto não existe nenhuma evidência deste fato ter ocorrido. De
acordo com a documentação de montagem todos os procedimentos estabelecidos
pelo fabricante foram cumpridos, inclusive sob a supervisão da equipe.
Um ensaio de tração feito no parafuso olhal com uma aplicada uma força
de 1775 KN, mostra as regiões onde se concentram os maiores esforços na peça
sendo que, este dado, seria muito importante para o novo projeto da peça como
mostrado na figura 25.

FIGURA 25 - Locais de concentração dos esforços.


FONTE: O AUTOR, (2009)

A figura 25 mostra a peça em corte, sendo as regiões mais claras os


locais que receberam os maiores esforços e a região vermelha é onde se encontram
a maior concentração de tensões.
42

Dentre os testes e ensaios feitos durante a execução do trabalho


destacam se: o teste de pressão do rotor, o ensaio de ultra som realizado nos pinos
para detecção de trincas ou fissuras internas, o teste de contato da superfície
usinada, este que demonstra qual a porcentagem de contato entre as faces do eixo
e rotor mostrado na figura 26, o ensaio de líquido penetrante, que é um teste para a
detecção de descontinuidades abertas à superfície, demonstrado na figura 27 e o
ensaio de partículas magnéticas, ensaio utilizado para detectar descontinuidades
superficiais e subsuperficiais, mostrado na figura 28.

FIGURA 26 - Teste de contato.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

FIGURA 27 - Ensaio de liquido penetrante nos pinos.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)
43

FIGURA 28 - Ensaio de partículas magnéticas.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

A realização do ensaio de ultra som nos pinos para detecção de trincas


ou fissuras internas, nos mostraram a integridade dos pinos e através destes
ensaios, decidiu se pela substituição dos mesmos e colocação de mais 6 pinos. Com
os ensaios foram localizados vários pontos de trincas e então efetuadas as
correções através de enchimento com solda e reparação. Após todas as peças
terem sido montadas no rotor, foi feito o teste de pressão que demonstraria a correta
movimentação dos mecanismos e sua vedação.

3.4 Entendendo o Processo de Falha

Para entender o processo de falha, é importante relacionar os esforços


atuantes no rotor.
Durante as operações de abertura e fechamento das pás, os esforços são
contrabalanceados por um servomotor montado dentro do rotor. O movimento deste,
por sua vez, causa diretamente o movimento das pás. Existe um equilíbrio das
forças entre pás e servomotor que são interligados pelo sistema de parafuso olhal
bielas e alavancas. Todo o comando para partida da unidade geradora, alteração de
carga e parada é feito pelo regulador de velocidade que aciona hidraulicamente este
servomotor que, por sua vez, se move exercendo uma força, que é dividida e
transmitida igualmente pelos 4 mecanismos das 4 pás. Obedecendo esta força, as
44

pás então giram em torno de seu eixo. Este mecanismo deve operar com suavidade
de forma que os esforços e movimentos sejam igualmente distribuídos entre as pás.
Todo o mecanismo sofre diversos tipos de esforços, podendo-se destacar os
esforços gerados pela componente hidráulica, pela força centrífuga e pelas forças de
atrito. Podemos ver na ilustração da figura 29 os componentes de transmissão do
comando do servomotor para as pás.

FIGURA 29 - Componentes de transmissão do comando do servomotor


para as pás.
FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

3.5 Soluções encontradas para a correção do defeito

Com a desmontagem do equipamento verificou se que algumas buchas


se encontravam com desgastes e pinos quebrados, o que poderia ser devido a uma
lubrificação deficiente.
Através dos testes e cálculos foram localizados os pontos de tensão do
parafuso olhal e a possível causa da sua quebra. A respeito da mudança do sistema
de aperto do parafuso, o que aumentaria o grau de confiabilidade, era justificado
também a substituição dos tirantes de acoplamento do eixo/ rotor de alongamento
térmico para alongamento hidráulico. Foi definida também a montagem do conjunto
45

com aumento de 6 pinos de cisalhamento com novas medidas, portanto, foram


adotadas as seguintes soluções:

1) Buchas principais das pás do rotor

Garanti uma melhor lubrificação da bucha do sistema do eixo da pá e


alavanca, feito a introdução de canais de lubrificação na superfície de escora da
referida bucha, alterado o material para um tipo de bronze mais resistente e com
uma película lubrificante.

2) Parafuso olhal do servo motor

Mudança na geometria do parafuso olhal melhorando assim sua condição


de carga de forma que os esforços não sejam descarregados na região da rosca
como mostrado o projeto no anexo B.
Também foi realizada uma melhoria em seu mecanismo de fixação com a
utilização de uma porca de alongamento mecânico (super bolt), visando maior
precisão em relação ao seu aperto final e também maior precisão de montagem e
desmontagem do conjunto.

3) Alterações de melhoria para aumentar a confiabilidade do acoplamento

Substituição do aperto térmico por sistema de alongamento mecânico,


visando maior precisão na sua carga e maior facilidade de montagem. A figura 30
apresenta as modificações nos tirantes.
46

FIGURA 30 - Modificações dos tirantes.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)

4) Acoplamento rotor/eixo da turbina

Montagem do conjunto com aumento de 6 pinos de cisalhamento com


novas medidas de projeto, com objetivo de aumentar a confiabilidade do conjunto de
acoplamento eixo-turbina.A Figura 31mostra a operação de furação para a
colocação de novos pinos.

FIGURA 31 - Furação para colocação de novos pinos.


FONTE: Arquivo pessoal do autor, (2009)
47

4. CONCLUSÕES

Um dos focos do trabalho foi demonstrar um tipo de falha que houve em


uma turbina bulbo e poderá haver em outras máquinas do mesmo tipo que tenham a
mesma concepção desta unidade geradora, uma vez que, este tipo de máquina está
sendo utilizada em larga escala em novos empreendimentos de usinas hidrelétricas.
Pôde se verificar melhorias do projeto em relação ao aperto do parafuso olhal,dos
tirantes das pás e do acoplamento da ogiva que passaram de aperto térmico para
hidráulico. Também no novo dimensionamento do parafuso olhal melhorando assim
sua condição de carga. Introduzindo uma geometria mais moderna tanto no parafuso
como no seu mecanismo de fixação uma vez que seus esforços não sejam
concentrados na região da rosca. Houve um importante aumento de confiabilidade
do equipamento uma vez que foi revelada, através de ensaios científicos em
laboratório, a existência de uma condição de falha dos elementos que transmitem os
esforços do sistema de movimentação das pás, comprovando à ocorrência de fadiga
através da inspeção. Ficou provado também que os processos de montagem e
comissionamento da máquina não revelam deficiências que justifiquem o ocorrido,
pois não era possível a observação deste fenômeno físico sem a desmontagem da
unidade, portanto ficou caracterizada assim a condição de vício oculto que é uma
condição que não pode ser verificada no comissionamento da máquina ficando
evidente então uma falha de projeto. Finalmente pode se concluir que o consorcio
obteve através deste trabalho executado os seguintes benefícios:
O Consórcio da usina pode solicitar ao ONS o expurgo da
indisponibilidade da UG05, expurgo este que geraria uma multa e punições. A
solicitação do consorcio junto a ONS de desconsiderar para fins do mecanismo de
redução de energia assegurada (MRA) a indisponibilidade para os períodos de
eliminação nos problemas identificados nas unidades geradoras, a implementação
de um novo projeto aumentando assim o índice de confiabilidade do sistema. A
utilização deste trabalho como material de estudo e exemplo para outras unidades
geradoras que já se encontram atualmente com os trabalhos em andamento para as
48

modificações e correções e o mais importante contribuiu para a retirada da causa


fundamental do problema
49

REFERÊNCIAS

CARVALHO Davi Monteiro. Análise Comparativa entre a influência do ICMS dos


equipamentos elétricos,mecânicos,hidromecânicos e de geração,nos custos
de implantação de pequenas centrais hidrelétricas e usinas
Eólicas.37f.monografia(graduação).Escola de engenharia de são
Carlos,Universidade de são Paulo São Paulo 2011.

Domingues. Alcino Tomé dos Santos Antunes. Centrais Mini-Hídricas Produção e


Planejamento de Energia Elétrica. monografia (Graduação) Departamento de
Engenharia Eletrotécnica e Computadores.Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra, Coimbra2002.

E. J. P. MORAIS. Universidade Federal de Itajubá. Disponível em http://adm-net-


a.unifei.edu.br/phl/pdf/0038052.pdf Acesso em: 19 Nov. 2011

FARIA, Caroline. Usina Hidrelétrica. 2008. Disponível em: <http://www.infoescola.


com/energia/usina-hidreletrica/>. Acesso em: 31 set. 2011.

FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. Energia Hidrelétrica. Brasil Escola: [200-].


Disponível em: < http://www.brasilescola.com/geografia/energia-hidreletrica.htm>.
Acesso em: 31 set. 2011.

HEINLEIN,Klaus Peter. Curso de Especialização em Gestão Ambiental e negócio


no Setor Energético. 118f. Monografia (Especialização) instituto de eletrônica e
energia IEE. Universidade de São Paulo,São Paulo: 2009.

http://fluidos.eia.edu.co/hidraulica/articuloses/maquinashidraulicas/turbina_francis/tur
bina_francis.htmlArquivo. Acesso em: 19 Nov. 2011.

http://petcivilufjf.wordpress.com. Acesso em: 19 Nov. 2011.


50

http://vivendoeletricidade.blogspot.com/search?q=kaplan.Acesso em: 22 Nov. 2011.


http://www.alvarocamargo.com.br/albuns/projetos/Usina%20Hidreletrica%20de%20M
achadinho/Pre-distribuidor%203%20-%20Vista%20de%20cima.jpg. Acesso em: 19
Nov. 2011

http://www.aneel.gov.br/biblioteca/trabalhos/trabalhos/dissertacao_Jose_Alvaro.pdf.
Acesso em: 11 Out. 2011

http://www.aneel.gov.br/cedoc/res2003688.pdf. Acesso em: 12 Out. 2011

http://www.bicusa.org/es/Article.11709.aspx. Acesso em: 11 Set. 2011.

http://www.cepa.if.usp.br/energia/energia1999/Grupo2B/Hidraulica/turbina2.htm
Acesso em: 19 Nov. 2011.

http://www.cgee.org.br/arquivos/estudo003_02.pdf. Acesso em: 11 Out. 2011.

http://www.epe.gov.br/mercado/Documents/S%C3%A9rie%20Estudos%20de%20En
ergia/20081201_1.pdf. Acesso em: 15 Out. 2011.

http://www.google.com.br/search?q=turbinas+pelton&hl=pt-
BR&rlz=1R2ADRA_enBR379&biw=1008&bih=571&prmd=imvnsb&tbm=isch&tbo=u&
source=univ&sa=X&ei=bU61Tv2BOMqgtweonbDaAw&ved=0CFUQsAQ. Acesso em:
15 Out. 2011.

http://www.portalpch.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=218:m
enu . Acesso em: 25 Set. 2011.

http://www.santoantonioenergia.com.br/site/portal_mesa/pt/usina_santo_antonio/ger
acao_de_energia/geracao_de_energia.aspx?utm_source=home_portal_SA_PT&utm
51

_medium=Destaque&utm_content=Link&utm_campaign=
Tecnologia_GeracaoDeEnergia. Acesso em: 19 Nov. 2011.

http://www.tqcnet.com.br/fotos3.html.Acesso em: 19 Nov. 2011.

LIMA, Bruno Wilmer Fontes. Centrais Hidrelétricas de Pequeno Porte e o


Programa Brasileiro de PCHs. 82 f. Monografia (Graduação). Faculdade de
Engenharia Mecânica, Universidade de Campinas, Campinas, 2009.
MAGALHÃES, Ricardo Nogueira. Estimação de custos para projetos de
pequenas centrais hidrelétricas. Dissertação de (Mestrado em Engenharia) –
Universidade Federal de Itajubá, Minas Gerais, 2009.

MIRANDA, Roberto Lobo. Regulação técnica para se obter melhor Eficiência na


motorização de pequenas centraisHidrelétricas noBrasil. Dissertação de
(Mestrado em Engenharia) – UNIVERSIDADE SALVADOR (UNIFACS), 2009.

MORAIS, Emanuel.José.Peloso. Modelo de Turbinas do Tipo Bulbo para Estudos


de Estabilidade. 221f Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de
Itajubá,Itajubá 2001.

SOUZA, Bruno Wilmer. Identificação automática de itens não conformes na


tampa da turbina Kaplan.102f. Dissertação (mestrado).Universidade Federal de
Itajubá. Itajubá,2009
52

ANEXO A – RESULTADOS DO LABOTEST


53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64

ANEXO B – Projeto do tirante olhal da biela

Você também pode gostar