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DOCUMENTO SÍNTESE
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POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA
UM NOVO MODELO DE IRRIGAÇÃO
DOCUMENTO SÍNTESE
BANCO DO NORDESTE
Fortaleza - 2001
3
Obra publicada pelo
Diretoria
Presidente: Byron Costa de Queiroz
Diretores: Osmundo Rebouças, Marcelo Pelágio da Costa Bomfim,
Ernani José Varela de Melo e Raimundo Nonato Carneiro Sobrinho
Ambiente de Recursos Logísticos
Célula de Produção Gráfica
Av. Paranjana, 5.700 – Passaré
60740-000 Fortaleza – Ceará – Brasil
Fax: 299.3788
Internet: http://banconordeste.gov.br
Tiragem: 1.000 exemplares
Informações: Cliente Consulta: 0800.783030
E-mail: ren@banconordeste.gov.br
Coordenação Editorial: Ademir Costa
Revisão Vernacular: Antônio Maltos Moreira
Normalização Bibliográfica: Rita de Cássia Alencar
Depósito Legal junto à Biblioteca Nacional, conforme decreto n.º 1823,
de 20 de dezembro de 1907
Copyright © by Banco do Nordeste
Banco do Nordeste
B213 Políticas e estratégias para um novo modelo de irrigação: docu-
mento síntese/ Francisco Mavignier Cavalcante França, coordena-
dor. – Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001.
128 p.
Equipe do Consórcio responsável pelo estudo: Plena Consulto-
ria de Engenharia Agrícola Ltda; Fundação Getúlio Vargas; Proje-
tos Técnicos Ltda (PROJETEC).
Documento síntese da Série Políticas e Estratégias Para um
Novo Modelo de Irrigação.
1 – Irrigação. 2 – Irrigação-Nordeste. 3 – Brasil - Política Nacio-
nal de Irrigação 4 – Projeto Salitre. 5 – Desenvolvimento do Nor-
deste. 6 – Agronegócio.
CDD: 631.587
Impresso no Brasil
4
Coordenador Geral do Estudo
Francisco Mavignier Cavalcante França
5
Grupo de Apoio Técnico Interinstitucional
Colaboradores:
Aluysio Antônio da Motta Asti, Armando Munguba Cardoso, Carlos Alberto
de Carvalho, Francis Puglise, Frederico Reis de Araújo, Hans Steinbichler,
José Airton Mendonça de Melo, José Bento Corrêa, José Eduardo
Borella, José Olimpio Rabelo de Morais, José Paulo Silveira, José
Raimundo Machado dos Santos, José William Araújo Sousa, Juscelino
Antonio de Azevedo, Laudo Bernardes, Leda Maria Marques Cavalcante,
Luís Carlos Ramos de Lima, Luiz Hildemar Colaço, Maria Lucinete
Valente, Otávio Gondim Pereira da Costa, Ricardo Lima de Medeiros
Marques, Roberto Duarte Vidal Silva, Rodrigo Magalhães Neiva Santos,
Valdir Castelo Branco, Yara Januzzi.
6
APRESENTAÇÃO
Byron Queiroz
Presidente do Banco do Nordeste
7
8
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................... 07
1 - INTRODUÇÃO................................................................ 13
VOLUME 1 – A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO
DA IRRIGAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO
NORDESTE......................................................................... 17
1 - IMPORTÂNCIA DO SETOR AGRÍCOLA NA ECONOMIA
DO BRASIL E DO NORDESTE....................................... 18
1.1 - NA GERAÇÃO DE RIQUEZA....................................... 18
1.2 - NA GERAÇÃO DE EMPREGO..................................... 20
1.3 - NA GERAÇÃO DE DIVISAS ........................................ 20
2 - DESENVOLVIMENTO DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL
E NO NORDESTE .......................................................... 22
2.1 - Evolução da Área Irrigada no Brasil .......................... 22
2.2 - Evolução da Área Irrigada no Nordeste ..................... 24
2.3 - Importância da Agricultura Irrigada no Nordeste ...... 26
2.3.1 - Impactos sócio-econômicos ................................... 26
2.3.2 - Geração de emprego ............................................... 26
2.3.3 - Diversificação de culturas....................................... 27
3 - DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA 28
4 - IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA AGRICULTURA
IRRIGADA PARA O NORDESTE.................................... 32
VOLUME 2 – ESTADO DA ARTE NACIONAL E
INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO DA
IRRIGAÇÃO 2000................................................................ 34
1 - ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................... 35
2 - ESTADO DA ARTE NACIONAL - MARCO LEGAL ......... 37
2.1 - Principais Pontos da Política Nacional de Irrigação –
Lei da Irrigação .......................................................... 37
2.2 - Análise Conceitual da Atual Lei da Irrigação............. 42
9
3 - ANÁLISE GLOBAL E RECOMENDAÇÕES
DECORRENTES .............................................................47
VOLUME 3 - MODELO GERAL PARA OTIMIZAÇÃO E
PROMOÇÃO DO AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO DO
NORDESTE..........................................................................53
1 - IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO PARA O NORDESTE
E PARA O BRASIL ........................................................55
2 - SITUAÇÃO ATUAL DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL
E NO NORDESTE ...........................................................57
2.1 - O Papel do Setor Público na Irrigação........................57
2.2 - Mecanismos de Financiamento da Irrigação ..............58
2.3 - Mecanismos de Recuperação de Custos
e do Capital.................................................................58
2.4 - Situação dos Projetos Públicos de Irrigação
no Nordeste ................................................................59
2.4.1 - O foco na implantação de obras ..............................59
2.4.2 - Área implantada em produção e a ser
implantada ...............................................................60
2.4.3 - A gestão de operação e manutenção.......................60
2.4.4 - O processo de produção..........................................61
2.4.5 - A participação da iniciativa privada.........................63
3 - MARCO TEÓRICO DO NOVO MODELO
CONCEPTUAL.................................................................64
4 - POLÍTICA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO PROPOSTA ......66
4.1 - Diretrizes Gerais da Nova Política Nacional
de Irrigação.................................................................67
4.2 - O Regime Jurídico Proposto.......................................68
4.3 - Diretrizes Para Implantação de Projetos
de Irrigação.................................................................72
5 - INSTRUMENTOS DA NOVA POLÍTICA NACIONAL
DE IRRIGAÇÃO ..............................................................73
5.1 - Planejamento da Irrigação ..........................................73
5.2 - Gerenciamento da Política, Planos, Programas
e Projetos de Irrigação ...............................................74
5.2.1 - Amplitude do gerenciamento da irrigação ..............74
10
5.2.2 - Proposta de sistema gerencial aplicado ao
ambiente da gestão de irrigação ............................ 75
5.2.3 - Atribuições de cada ente gestor de projetos
públicos .................................................................. 77
5.2.4 - Sistemas de gerenciamento de projetos
de irrigação.............................................................. 80
5.3 - Sistema de Produção, Pós-Colheita, Distribuição e
Mercado ..................................................................... 82
5.3.1 - Sistema de gestão comercial .................................. 83
5.3.2 - Estratégias de mercado........................................... 84
5.3.3 - Sistema de informação de mercado........................ 85
5.3.4 - Sistema de informação tecnológica........................ 85
5.4 - SERVIÇOS DE APOIO................................................. 86
5.4.1 - Plataforma de informações ..................................... 87
5.4.2 - Assistência técnica/gerenciamento da produção... 88
5.4.3 - Pesquisa e desenvolvimento (P&D) ........................ 89
5.4.4 - Programa de capacitação em gestão ...................... 89
5.4.5 - Serviços de gerenciamento ambiental.................... 90
5.5 - Mecanismos Econômico-Financeiros........................ 90
5.5.1 - Fontes e mecanismos de financiamento ................ 91
5.5.2 - Descrição dos riscos financeiros............................ 95
5.5.3 - Estratégias para mitigar os riscos do negócio ....... 97
5.5.4 - Premissas norteadoras da participação do setor
público, esferas federal, estadual e municipal........ 98
VOLUME 4 - MODELO ESPECÍFICO PARA OTIMIZAÇÃO
E PROMOÇÃO DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SALITRE -
JUAZEIRO DA BAHIA....................................................... 100
1 - DESCRIÇÃO GERAL SOBRE O PROJETO SALITRE .. 101
1.1 - Abastecimento d’Água ............................................. 101
1.2 - Parcelamento da Área .............................................. 102
1.3 - Implantação do Projeto ............................................ 104
1.4 - Potencialidade de Produção Agrícola...................... 104
1.5 - Potencialidade do Projeto Salitre para
Agroindústria e Mercado Externo ........................... 104
1.6 - ESTUDOS AMBIENTAIS ........................................... 110
11
2 - RECOMENDAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO NOVO
MODELO CONCEPTUAL DE IRRIGAÇÃO NO PROJETO
SALITRE.......................................................................112
2.1 - Proposta para uma Plataforma de Informações .......112
2.2 - Diretrizes para um Plano de Negócios do Projeto
Salitre........................................................................114
2.3 - Diretrizes para um Plano de Promoção e Marketing ...115
2.4 - Mecanismos de Financiamento ................................116
2.4.1 - Infra-estrutura coletiva de irrigação.......................116
2.4.2 - Infra-estrutura parcelar ..........................................116
2.5 - GESTÃO DO PROJETO .............................................118
2.5.1 - Modelo de gestão para etapa - 1 do projeto Salitre ..118
2.5.2 - Modelo de gestão para etapas posteriores do
projeto Salitre ........................................................120
2.6 - SERVIÇOS DE APOIO................................................121
2.6.1 - Gerenciamento das pequenas empresas ..............122
2.6.2 - Monitoramento ambiental ......................................123
2.6.3 - Proposta de um programa de capacitação ............125
6 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..........................................127
12
1 - INTRODUÇÃO
13
ligados à irrigação. A revisão da literatura é apresentada no volu-
me que trata do Estado da Arte Nacional e Internacional do Agro-
negócio da Irrigação, no qual se identificaram os obstáculos e faci-
lidades encontrados e os correspondentes fatores causais, os
caminhos percorridos, para sua superação ou manutenção, bem
como a visão de futuro, que instituições e empreendedores têm da
agricultura irrigada.
Essa análise cobre 11 países com grande experiência em
irrigação, tanto privada como pública. Destacam-se os Estados
Unidos (EUA) na irrigação privada, na participação do setor públi-
co, do setor e transferência para organizações de agricultores, de
projetos públicos, o México, Colômbia e outros 8 países e, final-
mente, Chile, França, Espanha, EUA e Israel, que utilizam tecno-
logias sofisticadas de irrigação e de comercialização.
Na concepção do modelo, além dos subsídios oferecidos
pelos atores da cadeia do agronegócio da irrigação, do Nordeste e
Norte de Minas e daqueles obtidos da bibliografia nacional e inter-
nacional, beneficiou-se das visitas de alguns consultores aos EUA,
Colômbia, México, Chile, Argentina, Espanha, França e Israel.
Tais visitas objetivaram conhecer os problemas e as soluções
encontradas no que diz respeito a temas como irrigação, gestão
de perímetros, políticas governamentais e relações entre os elos
da cadeia produtiva do agronegócio da irrigação.
Discutiu-se uma proposta para uma política nacional de ir-
rigação, com base no Projeto Novo Modelo de Irrigação. Essa
proposta considera que, num mundo globalizado, a capacidade de
competir define as possibilidades de sobrevivência e de expansão
de mercado. Quem dominar a tecnologia de informação será
competitivo e crescerá. Considera, também, a irrigação como im-
portante instrumento de desenvolvimento, especialmente para o
Nordeste e Norte de Minas, pela sua capacidade de gerar renda,
emprego estável, divisas, ampliar ofertas de alimentos além de
fomentar a modernização do meio rural.
A proposta da Nova Política Nacional de Irrigação funda-
menta-se na participação do setor privado no agronegócio da irri-
gação. Está alicerçada nas sugestões de mudanças da legislação
14
de irrigação vigente (Lei n.º. 6662/79 e seus regulamentos), em
diretrizes de implantação e de planejamento da irrigação. Dá ba-
ses para o gerenciamento de políticas, planos, programas e proje-
tos. Mostra como deve ser um sistema mais avançado de produ-
ção, pós-colheita, distribuição e de mercado. Estabelece os fun-
damentos dos serviços de apoio, como plataforma de informação,
assistência técnica e gerenciamento da produção, Pesquisa &
Desenvolvimento, programa de capacitação em gestão, gerenci-
amento ambiental e de mecanismos econômico-financeiros.
A proposta de alteração na lei de irrigação vigente, se a-
provada, permite a associação do setor público com o privado
(projeto misto), cria condições para a iniciativa privada participar
da implantação dos projetos públicos de irrigação em forma de
concessão, e mesmo financiando-os. Define que, mesmo quando
o governo implanta o projeto público, somente pode operá-lo por
um período limitado. Em adição, o governo pode vender ou alugar
a infra-estrutura coletiva.
A proposta da Nova Política muda a diretriz dos projetos
públicos de irrigação até agora focados em obra, para a visão e de
agronegócio. Requer a promoção negocial do empreendimento, a
implantação de plataforma de informações e a sua divulgação em
escala nacional, visando atrair agricultores e empresas competen-
tes. Propugna pela organização dos produtores, visando uma co-
ordenação mais simétrica na cadeia do agronegócio. Propõe, ain-
da, um modelo de financiamento da agricultura que associa o cré-
dito rural a outros tipos de crédito e à gestão do negócio.
Neste documento encontra-se o Resumo Executivo do es-
tudo completo, englobando os quatros relatórios citados anterior-
mente, na forma que segue:
A Importância do Agronegócio da Irrigação para o De-
senvolvimento do Nordeste – Mostra a Importância do setor
agrícola na economia do Brasil e do Nordeste, faz uma descrição
do desenvolvimento da irrigação no Brasil e no Nordeste e discute
a importância da agricultura irrigada para o Nordeste.
Estado da Arte Nacional e Internacional do Agronegó-
cio da Irrigação 2000 –Apresenta, de forma global e holística, a
15
exploração agrícola irrigada, a partir da experiência de 11 países,
responsáveis por 35% da área irrigada no mundo, além de 6 pólos
de irrigação localizados no Nordeste Brasileiro e no Norte de Minas.
Modelo Geral para Otimização e Promoção do Agrone-
gócio da Irrigação – Discute a situação atual da irrigação no Bra-
sil e Nordeste onde enfoca o papel do setor público na irrigação,
mecanismos de financiamento da irrigação, mecanismos de recu-
peração de custos e do capital, entre outros. Apresenta o marco
teórico para desenvolvimento de uma nova política de irrigação, a
proposta de uma nova política de irrigação.
Modelo Específico para Otimização e Promoção do
Projeto de Irrigação Salitre – Juazeiro, BA – Descreve as prin-
cipais características do Projeto Salitre, sua potencialidade, e pro-
põe diretrizes para sua implementação com base em plataforma
de informações, plano de negócios, promoção e marketing, gestão
e serviços de apoio (assistência técnica/gerenciamento, monito-
ramento ambiental, programa de capacitação).
16
A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE
17
1 - IMPORTÂNCIA DO SETOR AGRÍCOLA NA ECONOMIA
DO BRASIL E DO NORDESTE
18
riável da ordem de 8 a 10%. Por outro lado, quando se calcula o
PIB agropecuário de forma sistêmica, ou seja, agregando os elos
da cadeia do agronegócio, a sua participação passa a ser 40%,
transformando-o na atividade econômica mais importante do país.
Calculada sobre o valor do PIB dos últimos 3 anos, essa participa-
ção se aproxima dos US$ 300 bilhões, anualmente.
No entendimento de alguns estudiosos, esta visão sistêmi-
ca enseja melhor compreensão do funcionamento da atividade
agropecuária, mostra sua real dimensão, auxiliando os tomadores
de decisão a formular políticas com mais foco e maior probabilida-
de de sucesso. Essa visão rompe com a análise segmentada, que
muitas vezes perde informações importantes sobre o encadea-
mento das ações. É que a agroindústria e uma série de serviços
de armazenamento, transporte e beneficiamento, além da indús-
tria de insumos, máquinas e equipamentos, não existiriam sem a
agropecuária.
Os índices do PIB desagregados por região geográfica,
confirma a grande concentração da riqueza nacional na região
Sudeste, que representa, em média, 60% do total, no período ana-
lisado, enquanto a região Nordeste participa, em média, com
12,5% do PIB do País.
Por outro lado, analisando os dados desagregados por re-
gião e setor, vê-se que todas as regiões, no período analisado,
90/98, cresceram no setor da agropecuária (visão segmentada),
exceção feita ao Nordeste, que apresentou pequenas oscilações,
mas com pequena queda no período, mantendo um participação
relativa aproximada de 10% do PIB regional no período em análi-
se, diferentemente do comportamento observado nos seus dois
outros setores.
O setor agropecuário, apesar de todas as dificuldades que
lhe são inerentes, em vista das incertezas e riscos por que pas-
sam as atividades da agricultura e daquelas que lhe são impostas
por políticas macroeconômicas, no mais das vezes, desfavoráveis,
vem cumprindo seu papel, gerando riquezas, pois é responsável
por 40% do PIB nacional, numa visão sistêmica e moderna de
agronegócio.
19
1.2 - Na Geração de Emprego
20
da balança comercial brasileira atingiu US$ 99,3 bilhões, enquanto
o do setor agrícola foi de US$ 130,6 bilhões, sendo, pois, o grande
responsável pela geração de divisas no país.
A distribuição espacial das exportações brasileiras mostra
uma concentração, assim como no PIB, na região Sudeste, repre-
sentando cerca de 58% do total exportado em 1998, passando este
índice para mais de 82%, quando somada a região Sul, restando ao
Nordeste brasileiro a contribuição de 8% do total exportado.
Com este vasto potencial de participação no desenvolvi-
mento econômico brasileiro (gerador de riquezas, divisas e em-
prego), a agricultura – como força motriz do agronegócio – tem o
seu cenário futuro delineado em um novo ambiente, hoje marcado
pela abertura econômica, esperando que o Estado desempenhe
seu papel de incentivador e moderador.
21
2 - DESENVOLVIMENTO DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL E
NO NORDESTE
GRÁFICO 1
EVOLUÇÃO DAS ÁREAS IRRIGADAS NO BRASIL
22
A segunda fase iniciou-se em fins dos anos 60, com a cri-
ação do Grupo de Estudos Integrados de Irrigação e Desenvolvi-
mento Agrícola (GEIDA), cujas orientações produziram efeitos até
o final da primeira metade dos anos 80. Buscou-se a ampliação do
conhecimento global sobre os recursos naturais disponíveis e pela
concepção e implementação de programas nacionais, como o
Programa Plurianual de Irrigação (PPI). Criaram-se oportunidades
para atração da iniciativa privada na esfera da irrigação e drena-
gem, a concepção de “lotes empresariais” nos projetos públicos
de irrigação, consolidado no Projeto do I Plano Nacional de Irri-
gação, calcado em ações comandadas pelo setor público, mas
claramente pautadas pelo estímulo à iniciativa privada.
A terceira fase caracterizou-se pela instituição do Progra-
ma de Irrigação do Nordeste (PROINE) e do Programa Nacional
de Irrigação (PRONI), ambos em 1986. Essa fase, marcada por
decisões adotadas em função de prioridades estabelecidas pelo
governo federal, em articulação com o setor privado, implementa-
ção de projeto subsetorial de irrigação com infra-estrutura de a-
poio à iniciativa privada, com divisão mais clara de papéis entre o
setor público e a iniciativa privada, no desenvolvimento de proje-
tos de irrigação, restringindo-se a ação do governo à execução de
obras coletivas de grande expressão (suporte hidráulico, elétrico e
macrodrenagem), cabendo à iniciativa privada as demais provi-
dências para a sua consecução.
A quarta fase considerou que as várias iniciativas postas
em prática, ao longo dos últimos 50 anos, deveriam ser redirecio-
nadas a nova orientação consubstanciada na Política Nacional
de Irrigação e Drenagem, denominada, na fase executiva, de
Projeto Novo Modelo de Irrigação.
Conforme mostrado, a área total irrigada no Brasil é esti-
mada em 2.870.244 ha, com forte concentração nas regiões Sul e
Sudeste, que representam 72,7%. Somente o Rio Grande do Sul,
voltado para a produção de arroz, é responsável por 35% da área
irrigada no país.
O Nordeste brasileiro respondia por 17,26% da área irriga-
da no país, em 1998.
23
No início da década de 90, houve estagnação na área irri-
gada em decorrência da retirada de algumas linhas de crédito
específicas à irrigação, principalmente na região Sul, Sudeste e
Centro-Oeste como Programa de Aproveitamento das Várzeas
Irrigadas (PROVARZEAS) e Programa de Financiamento para
Equipamentos de Irrigação (PROFIR), da inexistência de patama-
res de juros indutores à adesão da iniciativa privada e das refor-
mas administrativas, resultando em indefinições governamentais
para o subsetor de irrigação.
O crescimento observado no período de 96/98 deveu-se à
expansão da irrigação privada, nos cultivos de fruticultura, grãos e
café, notadamente nos Estados da Bahia (regiões Oeste e Sul do
Estado), Norte do Espírito Santo, Norte e Alto Paranaíba, em São
Paulo, em Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Pernambuco e no
cultivo do arroz irrigado no Sul.
24
1948, o aproveitamento dessas terras com irrigação foi ampliado
com outras culturas, como: o melão, a uva, dentre outras.
A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Su-
dene) criada em 1959, com a missão de aglutinar ações, visando,
entre outras, o aproveitamento racional dos recursos de água e
solo na região, conferiu efetiva prioridade ao desenvolvimento da
agricultura irrigada e à criação do GEIDA.
O GEIDA realizou o primeiro e amplo estudo das possibili-
dades de irrigação no semi-árido, determinando a viabilidade téc-
nico-econômica de 73 projetos, sendo 62 localizados no Nordeste,
e traçou as diretrizes de uma política de irrigação, que vieram a
constituir a primeira fase do Plano Nacional de Irrigação.
Em 1972 iniciou-se a formulação de Planos Nacionais de
Desenvolvimento (PND’s). No I PND (1972-1974), foi estabelecida
a meta de se irrigarem 40 mil hectares.
O II PND (1974-1979) admitiu que o Nordeste brasileiro,
“a despeito de possuir volume de água acumulado em açudes e
áreas com um elevado potencial de águas subterrâneas, não tem
usado convenientemente os recursos disponíveis para fins de
irrigação”. As áreas de lavoura irrigada no Nordeste, cerca de
11.330 ha, representavam muito pouco em relação ao que se
podia fazer na região.
O I Plano Nacional de Irrigação (PNI), elaborado em 1982,
previa a continuidade das ações do Governo Federal, com ênfase
nos grandes projetos públicos de irrigação, que já vinham sendo
implantados pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
(DNOCS) e pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (CODEVASF), porém previa o estímulo ao desenvolvi-
mento da irrigação privada em pequena escala, mediante a con-
cessão de crédito especial e a utilização de recursos a fundo per-
dido para obras de infra-estrutura.
O primeiro texto legal sobre irrigação no Brasil data de 25
de junho de 1979, com a edição da Lei n.º 6.662 – a Lei de Irriga-
ção (Brasil, 1979). Sua regulamentação, no entanto, só ocorreu
25
em 29 de março de 1984, mediante a edição do Decreto n.º
89.496 (Brasil, 1984).
Ao longo dos anos, a atuação pública e privada incorporou
mais de 495.000 hectares irrigados do Nordeste, sendo os proje-
tos públicos responsáveis por 28% dessa área.
26
guns estudos e relatórios que permitem avaliar o potencial de ge-
ração de empregos diretos e indiretos a partir do agronegócio da
irrigação. Naturalmente que os dados apresentam variações, que
são conseqüência do tipo de explorações existentes no período da
análise, pois cada cultura tem uma demanda específica de neces-
sidade de mão-de-obra. Pode-se afirmar, com base nos dados
citados e pela experiência do Consórcio, em várias condições de
agricultura irrigada, que 1 hectare irrigado gera de 0,8 a 1,2 em-
prego direto e 1,0 a 1,2 indireto, de forma consistente e estável,
contra 0,22 empregos diretos na agricultura de sequeiro, na região
semi-árida.
27
3 - DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA
28
volume de água suficiente para atender à produção ou a grandes
distâncias de condução da água, a partir de sua fonte de captação.
A irrigação pública, no Nordeste Brasileiro e no Norte de
Minas, vem sendo a grande responsável pela transformação em
agricultura irrigada, como vem ocorrendo com fruticultura, nota-
damente no Vale do São Francisco, além de contribuir como ele-
mento propulsor pelo desenvolvimento da irrigação privada na
citada região, pois:
• revela as viabilidades técnicas e econômicas dos proje-
tos, a partir de estudos de solo e água, realizados pelas
instituições governamentais envolvidas em promover a
irrigação na região, criando informações importantes pa-
ra a iniciativa privada;
• permite que áreas irrigáveis, distantes das fontes
provedoras de água, possam ser incorporadas à
agricultura irrigada. A superação de tais distâncias
representa custo muito elevado para a iniciativa privada,
o que, portanto, limitaria a expansão da área irrigada no
semi-árido;
• permite a formação de estoque estratégico de água (por
meio de barramentos e açudagem), em regiões com sé-
rios problemas de disponibilidade hídrica, para expan-
são da agricultura;
• cria condições para que a iniciativa privada conheça e
teste a aplicação de tecnologia de ponta na redução de
risco tecnológico e no desenvolvimento de cultivos de
maior densidade e valor econômico, como o da uva,
manga, banana, praticamente introduzidos na região
Nordeste, inicialmente em perímetros públicos de irriga-
ção, pela iniciativa privada.
Apesar de todas as dificuldades, a literatura existente, as
observações in loco e os contatos com liderança do setor, mos-
tram que os programas e projetos públicos e privados, desenvol-
vidos no subsetor de irrigação, promoveram aumento significativo
29
de renda e emprego a montante e a jusante deles, com efeitos
altamente positivos sobre as economias regionais e locais.
Tais dificuldades são mais sentidas na região semi-árida,
onde os empresários têm introduzido culturas de alto custo de
produção, com pouca ou nenhuma informação tecnológica, tais
como: a de uva, manga, banana, goiaba, coco, melão, melancia,
entre outras.
Os principais pontos que limitaram o maior desenvolvimen-
to da agricultura irrigada foram:
• ausência de ação coordenada e estruturada entre as
obras de irrigação e a estrutura de produção;
• ausência de política de crédito rural para custeio voltada
ao atendimento das condições de agricultura irrigada,
permitindo que a atividade se desenvolva durante todo
o ano, já que ela tem um custo diferenciado de agricul-
tura de sequeiro, além de permitir cultivo em épocas
não tradicionais sob condições de sequeiro;
• ausência de ação mais intensa de pesquisa, notada-
mente, voltada para a busca de alternativas de espécies
e cultivares adaptados, além de tecnologia de manejo
água+solo+planta para as várias condições regionais;
• ausência de um programa estruturado, voltado para
mercado externo, principalmente para frutas tropicais,
priorizando: área e produtos, marketing e promoção de
sua qualidade, conhecimento das exigências dos dife-
rentes mercados quanto aos aspetos de fitossanidade e
resíduos químicos, estudos e definições de "áreas li-
vres", preparação do pessoal técnico, organização de
empresas para controle da qualidade para atendimento
a diferentes tipos de mercado;
• ausência de programa para aproveitamento do potencial
de mercado interno de frutas e olerícolas, principalmen-
te nos últimos cinco anos;
30
• falta de continuidade das políticas de irrigação, com
planejamento, a longo prazo, para o desenvolvimento
do setor, que sofressem apenas os ajustamentos nor-
mais nas mudanças de administração do setor público;
• no caso mais específico à irrigação em perímetros pú-
blicos, além das limitações citadas anteriormente, outras
contribuíram, podendo ser citadas:
- atraso no cronograma de execução das obras, prin-
cipalmente devido a contingenciamentos dos crono-
gramas financeiros, e que também provocam retar-
damento no assentamento dos irrigantes e conse-
qüentemente no processo de produção;
- ênfase maior aos projetos e sistemas de engenharia
(barragens, canais, adutoras, estações de bombea-
mento etc.) em detrimento da agricultura irrigada;
- existência de dispositivos legais que têm privilegiado
um processo de seleção de irrigantes pouco eficien-
te, com assentamento de algumas pessoas sem ca-
pacidade gerencial, exigindo forte participação go-
vernamental no processo de operação e manutenção
das obras hidráulicas coletivas, apesar da evolução
positiva verificada a partir de meados dos anos 80,
com maior evolução por parte da CODEVASF e pou-
co avanço do DNOCS;
- falta de capacidade gerencial à maioria das organi-
zações de produtores nos perímetros.
31
4 - IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA AGRICULTURA
IRRIGADA PARA O NORDESTE
32
mostram que apenas no setor supermercadista, o valor
das hortifrutícolas representaram transações de R$ 5,6
bilhões em 1998.
• Abastecimento interno de grãos/fibras - com a im-
plementação de uma agricultura tecnificada, organizada
por região, para minimizar a necessidade de importa-
ções anuais de mais de US$ 1,6 bilhão em algodão, ar-
roz, feijão e milho.
• Geração de emprego - com a implementação de uma
agricultura irrigada, que permite produção durante todo
o ano, podendo gerar, na cadeia do agronegócio, pelo
menos 2 empregos para cada hectare irrigado e, com
isso, ajudar a mitigar a migração intra e inter-regional.
• Expansão do PIB Regional - a agricultura irrigada
nordestina poderá participar positivamente, conforme os
estudos já aqui relatados, da alteração positiva do PIB
regional e PIB per capita e, com isso, reduzir as diferen-
ças regionais.
• Melhoria na qualidade de vida - o desenvolvimento do
agronegócio irrigado influencia positivamente os seto-
res de comércio, indústria e serviços e, por via de con-
seqüência, promove uma melhoria na qualidade de vi-
da, em geral, refletida nos aspetos de saúde, moradia
e educação.
33
ESTADO DA ARTE NACIONAL E INTERNACIONAL DO
AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO 2000
34
1 - ASPECTOS METODOLÓGICOS
35
dades governamentais e privadas no processo de de-
senvolvimento, onde já se nota uma definição clara da
potencialidade da agricultura irrigada frente ao mercado.
• Realizou-se um seminário em cada Pólo selecionado,
com 243 participantes, entre produtores, agroindustriais,
representantes de empresa de insumos, de comerciali-
zação, agentes financeiros, órgãos públicos, e centros
de pesquisas, objetivando coletar informações sobre as
características de cada Pólo e subsídios sobre a estra-
tégia de participação privada e papel do governo.
• Realizou-se uma análise detida da bibliografia nacional
e internacional sobre os mais variados temas como: re-
cuperação de investimentos públicos, tarifação de água,
plataforma de negócios, visão de mercado, marco legal
e institucional.
• Utilizou-se a experiência da equipe de consultores do
Consórcio, quer como produtor de agricultura irrigada,
ex-gestores públicos, quer como técnicos, e também as
observações decorrentes de visitas realizadas por estes
consultores nos últimos anos, para conhecer aspectos
ligados a projetos de irrigação, gestão de perímetros,
políticas governamentais, cadeia produtiva, entre outros
temas. Os países visitados foram: EUA, México, Colôm-
bia, Chile, Argentina, Espanha, França e Israel.
36
2 - ESTADO DA ARTE NACIONAL - MARCO LEGAL
37
centivos do Poder Público deverão ser analisados e a-
provados pelo Ministério do Interior”.
b) Uso do Solo
1 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>
38
• Lote familiar
O parágrafo 2º do art. 14 do Decreto 89.49 6/84 definiu lote
familiar como “imóvel que, direta e pessoalmente explorado pelo
agricultor e sua família, lhes absorva a força de trabalho disponí-
vel, garantindo-lhes a sobrevivência e o progresso social e eco-
nômico” e o art. 15 tenta fixar uma dimensão ao definir “o lote fa-
miliar, cuja dimensão deverá corresponder à área mínima de pro-
dução, capaz de assegurar a promoção econômica e social do
irrigante e sua família” (Brasil, 1984a).
A partir da determinação legal relativa à área mínima, os
lotes familiares tiveram área variando entre 4 e 6 hectares, de
acordo com os estudos de cada projeto. Cabe destacar que em
alguns projetos existiram lotes de 1,5 ha, e em outros o lote famili-
ar chegou a 8,0 ha.
• Lote empresarial
Embora não tivesse da legislação maiores atenções, os lo-
tes empresariais foram crescendo de importância nos projetos
públicos de irrigação. Não só pelo aspecto econômico da geração
de maior produção, como também pelo efeito-demonstração que
representam junto aos pequenos produtores, pelo desenvolvimen-
to de tecnologia e ainda pela geração de empregos.
O tamanho dos lotes empresariais também é definido nos es-
tudos de cada projeto, possuindo, em média, no Vale do São Fran-
cisco, 30 ha, podendo variar, individualmente, de 7,6 ha a 70 ha.
• Lotes para profissionais de Ciências Agrárias
Ao que tudo indica, a intenção do Ministro Extraordinário
para Assuntos de Irrigação, ao baixar a Portaria 74, de 3 de junho
de 1986, onde estabelecia que nos Projetos Públicos de Irrigação
deveriam ser destinados lotes a profissionais de Ciências Agrá-
rias, no limite máximo de 10% da área total de um Projeto, era
obter um efeito-demonstração e alguma orientação técnica aos
pequenos produtores, por observação de seus vizinhos.
39
Embora não tivesse tido o efeito esperado, a Portaria con-
tinua em vigor, pois só pode ser tornada sem efeito por outro Mi-
nistro, sucessor da responsabilidade sobre o assunto irrigação.
c) Sobre amortização
O artigo 16, constante do Decreto n.º 89.496/84, estabel e-
cia que todas as obras e serviços executados no lote teriam seu
custo incorporado ao valor da terra, para efeito de cessão de uso,
alienação ou incorporação societária (Brasil, 1984a).
O parágrafo 3º desse artigo estabelecia que a amortiz ação
de lote familiar seria calculada em Obrigações Reajustáveis do
Tesouro Nacional (ORTN) e feita no prazo de até 25 (vinte e cin-
co) anos, inclusive 5 (cinco) de carência, a juros de até 6% ao
ano, atendidas as peculiaridades do projeto (Brasil, 1984a).
Esse parágrafo foi objeto de 4 (quatro) das modificações
introduzidas durante esse período – Decretos n.º 90.309, de
16/10/84, n.º 90.991, de 26/2/85, n.º 93.484, de 29/10/86, todos
revogados pelo de n.º 2.178 2, de 17/3/97, que volta a estabelecer
nova redação aos artigos 14 e 16, tendo culminado com a seguin-
te redação:
“O adquirente de lote familiar amortizará os recursos públi-
cos aplicados em benfeitorias internas, o valor da terra, apurados
à data da titulação, no prazo de até 25 anos, inclusive até cinco de
carência, a juros de seis por cento ao ano”.
Por benfeitorias internas entende-se o desmatamento, o
sistema de irrigação “on farm”, a gradagem e outras, necessárias
à colocação imediata do lote em produção, quando do assenta-
mento das famílias.
Para os lotes empresariais, define: “o adquirente de lote
empresarial amortizará o valor do lote no prazo de até 12 anos,
inclusive 3 de carência, a juros de seis por cento ao ano”.
2 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>
40
d) Sobre Emancipação
O art. 9º do Decreto n.º 89.496/84, que regulamentou a Lei
de Irrigação, em seu parágrafo primeiro, estabelece que os proje-
tos públicos de irrigação, de interesse social predominante, parcial
ou totalmente implantados, poderão ser declarados emancipados,
por ato do Ministro de Estado, observados os preceitos legais per-
tinentes (Brasil, 1984a).
Assim, para que a emancipação possa ser declarada, são
necessários (§ 2º):
• a conclusão das obras de infra-estrutura consideradas
indispensáveis;
• o assentamento de, pelo menos, 2/3 (dois terços) dos
irrigantes;
• e que a comunidade esteja social e economicamente
apta a se desenvolver, dispondo de uma organização
interna que lhe assegure a vida administrativa própria e
atividades comerciais autônomas (Brasil, 1984a).
O decreto n.º 2.178, de 17/03/97, ao modificar o art. 42, i n-
troduzindo o parágrafo 4º, especifica que, no caso da administr a-
ção indireta dos projetos públicos, as competências de adminis-
tração, operação, conservação e manutenção das infra-estruturas
poderão ser delegadas a organização de irrigantes.
e) Sobre a Tarifa de Água
Com base nos dispositivos relacionados à amortização, foi
estabelecida a chamada Tarifa de Água (art.43), constituída de
dois componentes:
• parcela correspondente à amortização dos investimen-
tos públicos em obras de infra-estrutura de usos co-
muns, calculada, anualmente, com base no valor atuali-
zado dos investimentos contabilizados e estabelecida
para cada hectare de área irrigável do usuário, pelo Mi-
nistro ao qual o órgão administrador esteja vinculado;
41
• parcela correspondente ao valor das despesas de
administração, operação, conservação e manutenção
das infra-estruturas, rateadas entre os irrigantes e
definidas pelo órgão ao qual está afeto o projeto, ou
conforme modificação introduzida pelo Decreto
2.178/973, pela organização que administra o projeto,
calculada anualmente para cada 1.000 metros cúbicos
de água fornecida. Estabelece, ainda, que o valor
mínimo de consumo de cada usuário será equivalente a
30% (trinta por cento) do consumo previsto.
2.2 - Análise Conceitual da Atual Lei da Irrigação
Os projetos privados são desenvolvidos pela iniciativa par-
ticular. É de sua propriedade a terra e a infra-estrutura de irriga-
ção. Em alguns casos, principalmente na região Sul, o governo
construiu represas e canais, ficando a administração dos mesmos
nas mãos da iniciativa particular. Mas não é sempre claro quem é
o dono da infra-estrutura que o governo construiu. Ainda mais,
nem informal nem formalmente, desenvolveram-se mecanismos
que permitam a associação do governo com a iniciativa particular,
pelos quais aquele possa ser um sócio capitalista. Ou seja, o pro-
jeto misto de irrigação não se tornou realidade entre nós.
Os projetos públicos estão no Nordeste, sendo a maior á-
rea no Vale do Rio São Francisco, sob a responsabilidade da
CODEVASF. O DNOCS cobre as áreas não contidas na bacia do
São Francisco. Destacam-se, mais recentemente, os governos
estaduais. Mesmo no Nordeste, dois terços da área irrigada é do
setor privado.
O governo, pioneiramente e via projetos públicos, difundiu
a irrigação no Nordeste, assumindo o risco que todo novo empre-
endimento traz. Criou oportunidades tanto para irrigação empresa-
rial como para aquela da agricultura familiar. Gerou novos conhe-
cimentos e, enfim, abriu os horizontes para um negócio competiti-
vo. Empenha-se, atualmente, em ampliar as exportações dos pó-
los irrigados.
3 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>
42
Na concepção vigente, o projeto público é construído (ou
adquirido) pelo poder público que se torna proprietário da infra-
estrutura de irrigação de uso coletivo. É sua a responsabilidade
pela administração do mesmo, muito embora possa delegá-la a
uma associação de irrigantes (Distrito de Irrigação etc.).
A Lei de Irrigação, em vigor, fala em ressarcimento dos in-
vestimentos. Mas, incorretamente, na medida em que o poder
público mantém-se como proprietário da infra-estrutura de uso
coletivo. Na realidade, a tarifa de água cobre, apenas, a deprecia-
ção e a manutenção do projeto e não pode contribuir para a amor-
tização dos investimentos públicos como manda a referida Lei.
A lei permite que o poder público delegue a uma associa-
ção de irrigantes ou Distrito de irrigação a administração do proje-
to. Note-se que a administração é feita em nome, e no lugar do
poder público. Não cabe, portanto, a cobrança de aluguel. Obvia-
mente, a lei veda a venda do projeto ao distrito e ao setor privado,
quando diz ser propriedade pública a infra-estrutura de irrigação
de uso coletivo.
Na concepção ainda prevalecente no Brasil, um projeto
público é aquele construído ou adquirido pelo governo, que per-
manece proprietário da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo
e tem a responsabilidade de administrá-lo, ainda que possa dele-
gar sua administração ao Distrito de Irrigação. O projeto público,
pela Lei vigente, não pode ser arrendado e nem vendido. Enfati-
zando, a tarifa d’água cobre, apenas, as despesas de depreciação
e manutenção do projeto.
Esse fato, para a atualidade da irrigação brasileira, consti-
tui uma das dificuldades para a expansão da agricultura irrigada
no semi-árido nordestino e para um maior envolvimento, ali, do
setor privado em projetos públicos de irrigação, pois quem adquire
os lotes (irrigantes empresários) paga pela amortização da infra-
estrutura e nunca será seu dono.
Além disso, ainda não se desenvolveu, entre nós, mesmo
experimentalmente, nenhum procedimento de associação do
governo com o setor privado na implantação de projetos mistos
de irrigação.
43
Com efeito, a lei de irrigação em vigor prevê o ressarci-
mento dos investimentos públicos em irrigação pelos usuários,
mas de forma incorreta, na medida em que o poder público
mantém-se como proprietário da infra-estrutura de irrigação de
uso coletivo.
Na realidade, a tarifa d’água estabelecida cobre apenas a
depreciação (K1) e a manutenção (K2) desse ativo e não poderia
contribuir, como determina a legislação atual, para a amortização
do investimento público, porque vedada sua transferência e até
mesmo seu arrendamento, mediante pagamento de aluguel, ao
setor privado.
Assim, alguns conceitos, como o de aluguel do capital,
depreciação e K1, K2 deverão ser revistos, senão vejamos:
a) Aluguel do capital
A infra-estrutura de uso coletivo, nos Projetos de Irrigação,
constitui um bem de capital que, nos projetos públicos e pela lei
atual, é de propriedade do governo. Sendo um bem de capital que
presta serviços aos irrigantes, cabe-lhe uma remuneração, no
caso sob a forma de aluguel, o qual deve refletir o custo de opor-
tunidade do capital. Em termos de longo prazo e níveis internacio-
nais, este valor anda em torno de 3 a 6%.
A tradição brasileira de irrigação pública jamais imputou valor
a este aluguel. Tudo se passou como se os serviços, que essa infra-
estrutura de uso coletivo prestou, valessem zero, como aluguel.
Alguém pode objetar que nenhum aluguel dessa infra-
estrutura coletiva é, formalmente, feito. Mas, os serviços que pres-
ta são normalmente disponibilizados aos irrigantes e, por isto, em
princípio, devem ser remunerados, por quem deles usufrui. E a
remuneração devida corresponde ao aluguel desta infra-estrutura.
É claro que o detentor ou proprietário do bem de capital pode,
como o poder público fez no caso dos projetos públicos brasilei-
ros, imputar zero, como o valor do aluguel.
Cabe ainda salientar que há somente duas situações, do
ponto de vista do dono do bem de capital: ele pode vender ou alu-
gar o mesmo. Veja o exemplo em que o dono do capital também
44
opere a empresa implantadora do projeto de irrigação. Neste ca-
so, ele é o capitalista e o empreendedor, ao mesmo tempo. Aluga
o capital à empresa e cobra, por isto, um aluguel. E realiza, como
empreendedor, a produção (o projeto de irrigação, no caso), pa-
gando todos os fatores de produção, inclusive o aluguel do capital,
a depreciação etc. O que sobrar, do cotejo do valor da produção
com o valor das despesas, é a remuneração do empreendedor.
Em resumo, o aluguel é pagamento dos serviços do capi-
tal. Deve refletir o custo de oportunidade do capital. Numa econo-
mia aberta, do ponto de vista de longo prazo, é o custo de oportu-
nidade, em nível internacional, do capital.
Portanto, o poder público deve formalizar o aluguel da in-
fra-estrutura de uso coletivo aos irrigantes, por intermédio do Dis-
trito de Irrigação. Este valor pode ser utilizado para cobrir obriga-
ções com bancos, com empréstimos.
b) Depreciação
Como o K1 está sendo pago, conforme a Lei para amortizar
o investimento coletivo, e este não será de propriedade do usuá-
rio, na realidade ele é uma cobrança da depreciação.
Todo bem de capital se desgasta, fisicamente, com o uso.
Esta perda dá origem à depreciação. Outro tipo de perda é quando o
bem de capital torna-se obsoleto, devido à inovação tecnológica.
Nesse caso, se a empresa não o substituir, não terá condições de
permanecer no mercado, porque se torna menos competitiva.
Há vários métodos de depreciar. O mais comum deles é o
linear. É baseado nas seguintes hipóteses:
a) o bem continua produzindo, com a mesma produtivida-
de, durante sua vida útil, se adequadamente mantido;
b) o bem desgasta-se contínua e proporcionalmente aos
anos de funcionamento;
c) o bem desaparece no último dia da vida útil, “de morte
súbita”, podendo deixar um valor residual (que precisa ser corre-
tamente descontado da depreciação), o qual é maior no caso de
obsoletismo.
45
Assim, o valor de K1 recebido dos irrigantes e que, é na re-
alidade referente a depreciação, precisa ser acumulado numa
conta, com o objetivo de substituir os itens de capital que deixa-
ram de funcionar.
Esta conta, obviamente, somente é movimentada para re-
ceber os valores correspondentes à depreciação e pagar a aquisi-
ção dos itens que foram substituídos. Não pode ser usada para
nenhuma outra finalidade, como honrar compromissos com ban-
cos e amortizar investimentos.
Entretanto, é importante observar alguns procedimentos
quanto à depreciação da infra-estrutura de uso coletivo. A depre-
ciação é linear. É feita por itens. Para cada item, a depreciação
anual é o valor do mesmo, sempre como se novo fora, dividido
pela número de anos que viverá, ou seja, que permanecerá em
pleno uso. Uma vez calculada, não mudará de ano para ano, en-
quanto o item durar, exceto pela atualização de valor, quando há
inflação. Se um item for substituído por um de melhor qualidade
(por causa do seu obsoletismo), a depreciação para o item intro-
duzido será calculada conforme o mesmo procedimento, tendo-se
o cuidado de abater o valor, do item substituído, do valor da de-
preciação anual. O mesmo procedimento aplica-se para novos
investimentos e para itens que ficaram obsoletos ou ficaram gas-
tos e foram substituídos. Ou seja, abate-se o item que foi substitu-
ído da depreciação, se for o caso, e se introduz o novo item, ten-
do-se em conta seu valor e duração. O valor total da depreciação
é a soma das depreciações dos itens.
c) Manutenção
A vida útil de um bem de capital é dada em anos. Para viver
operando adequadamente o número de anos estabelecidos, como
vida útil, o bem de capital requer manutenção. Esta manutenção dá
origem a despesas. Agregando-se às mesmas, aquelas correspon-
dentes à administração do projeto, têm-se as despesas de manu-
tenção que é o K2. Assim, os valores arrecadados dos irrigantes,
para cobrir despesas de manutenção, devem ser acumulados na
conta manutenção, que fará face às despesas correspondentes.
46
3 - ANÁLISE GLOBAL E RECOMENDAÇÕES DECOR-
RENTES
47
tes, sempre foram bancados pelos governos e seus
custos apenas parcialmente reembolsados (quando o
foram) pelos usuários da água para irrigação. A recu-
peração desses investimentos e, em muitos casos, de
parte dos custos de operação & manutenção dos pro-
jetos de irrigação é assumida pelo governo, inclusive
via maior taxação de outros usos;
iv. Dada a complexidade da gestão integrada e sustenta-
da dos recursos hídricos e ainda ao crescente cons-
trangimentos fiscal e gerencial do setor público, para
dar cabo, sozinho, de tarefa tão complexa, a participa-
ção dos usuários da água nessa gestão (através de
comitês de bacias hidrográficas), assim como em sua
explotação (através de associações de usuários da
água), intensificou-se a partir dos anos 80, tanto em
economias mais desenvolvidas, quanto nas menos,
independente do regime político imperante;
v. Esse envolvimento mais amplo do setor privado, nos
projetos de irrigação de maior envergadura, invaria-
velmente se inicia com a transferência aos usuários da
água, através de suas organizações, da operação &
manutenção (O&M) da infra-estrutura hidráulica de uso
comum e mediante contratos de gestão com a institui-
ção pública, responsável pela identificação, concepção
e implantação do projeto de irrigação; e
vi. Relativamente à questão ambiental, observa-se uma
clara mudança no comportamento das agências go-
vernamentais mais maduras e envolvidas não só na
gestão, mas também na utilização de recursos hídri-
cos, inclusive para geração de energia hidrelétrica e
irrigação.
Assim, quanto ao uso da água para irrigação, a preo-
cupação com o balanço hídrico, cada vez mais crítico
e com seu impacto sobre o meio ambiente tem levado
governos e agências promotoras de projetos de irriga-
ção, além das organizações de irrigantes e eles pró-
48
prios, a estimularem, induzirem e mesmo condiciona-
rem a adoção de práticas e métodos poupadores de
água, sobretudo em regiões semi-áridas, que vão des-
de a disseminação do conceito de hidroeconomicida-
de, na avaliação e controle da eficiência da irrigação,
ou seja, adotando-se, além do índice de eficiência físi-
ca (kg/m3), o indicador de eficiência econômica (valor
produzido / unidade de água consumida / unidade de
área irrigada), em substituição à dotação de água (vo-
lume de água entregue / unidade de área irrigada /
tempo);
vii. uma questão vem desafiando agricultores e governos,
ao longo da história da irrigação, e da agricultura em
geral: a comercialização da produção, ensejando in-
tervenções de todo o tipo, mas nem sempre com os
resultados almejados.
Esta questão aguça-se, mercê da globalização das a-
tividades econômicas e dos mercados (graças a ino-
vações nos campos da informática, das comunica-
ções e dos transportes, sobretudo as ocorridas nas
duas últimas décadas). Além disso, o tradicional ex-
pediente de procurar-se fugir ao jugo das forças de
mercado através da integração, em uma mesma em-
presa, de várias etapas da cadeia de valor da indús-
tria, não mais será, doravante, o único caminho trilha-
do, para obter-se maior controle do mercado, já que
uma empresa, isoladamente, não consegue dominar
toda a cadeia.
Entretanto, não se pode deixar de considerar que ain-
da está em marcha acelerada, também no mercado
mundial de alimentos, a fusão de empresas, de sorte
que o número das que operam em cada setor da eco-
nomia é cada vez mais reduzido.
No caso dos produtos da agricultura em geral, a con-
centração de poder é imensa nos supermercados, in-
clusive no Brasil da atualidade, a qual reflui para a in-
49
dústria, contribuindo para acelerar também o proces-
so de fusões de indústrias. Esta concentração de po-
der é também enorme nas firmas que operam no
mercado internacional, o que tem efeito semelhante
ao dos supermercados, no que respeita a nossa in-
dústria. Assim, caminha-se para um modelo, em que
maior coordenação entre os agentes do agronegócio
torna-se imperativa para se obter eficiência.
A experiência internacional captada mostra diferentes
caminhos seguidos para conviver com essas ocorrên-
cias: no Chile, a busca de coordenação através de em-
presas-âncoras, multicomercializadoras e/ou multipro-
cessadoras; na Espanha, através de um forte aparato
de inteligência de mercado; na França, via apoio go-
vernamental ao fortalecimento de organizações de pro-
dutores e, nos Estados Unidos da América, via estreita
colaboração mútua (regulada por contratos de compra e
venda) entre supermercados e multiprocessadoras e
produtores, o que mais se aproxima da utopia do jogo
de ganha-ganha entre players no mercado; e
viii. A utilização da irrigação, principalmente nos países
com agricultura mais desenvolvida, está acompanha-
da de uma visão maior numa cadeia produtiva, em
que alguns fatores como qualidade, organização da
produção, tecnologia, mercado, pós-colheita, fazem
parte do contexto da política agrícola, como pode ser
visto nos casos estudados do Chile, França, EUA,
Espanha, Israel.
Por outro lado, do exame do estado-da-arte dos seis pólos
localizados no Nordeste Brasileiro e Norte de Minas, tendo em
conta as evidências internacionais supra-mencionadas, identifica-
ram-se questões que devem ser consideradas na implementação
de um novo modelo de Irrigação no país:
i. Processo em curso no mundo, de transferência do
gerenciamento da operação & manutenção de projetos
públicos de irrigação e conseqüente devolução de po-
50
der, da parte do setor público para os agricultores-
irrigantes e suas organizações, também caminha para
sua irreversibilidade nos perímetros públicos dos pólos
analisados;
ii. Existe uma clara disposição e interesse dos irrigantes
em não só assumirem as atividades de operação & ma-
nutenção, como também seus custos (como forma de
assegurar a continuidade e qualidade dos serviços pres-
tados), desde que participem das decisões relacionadas
a todo o ciclo do projeto de investimento no perímetro
público de irrigação e, em projetos já concluídos, que
não sejam responsabilizados por custos adicionais de
operação e manutenção (O&M), decorrentes de implan-
tação não satisfatória ou inconclusa de tais projetos e
cujas deficiências técnicas não tenham sido sanadas,
antes da transferência;
iii. Com o advento da nova legislação de recursos hídricos
no país (Lei 9433/97 e suas correlatas estaduais), as
organizações de usuários da água para irrigação têm o
direito de também participarem do Sistema de Gestão
dos recursos hídricos na Bacia Hidrográfica, onde o pro-
jeto de irrigação esteja ou vá ser implantado. É neste
novo espaço público ou fórum (ou seja, que convém e,
por isso, interessa a todos) que as questões relaciona-
das ao planejamento e gestão da conservação, desen-
volvimento e utilização, compartilhados daquele recurso
natural devem ser decididas em primeira instância ad-
ministrativa;
iv. A transferência, quando bem conduzida, acelera a ado-
ção do enfoque sistêmico no gerenciamento dos proje-
tos de irrigação, na condução dos negócios neles insta-
lados e na mediação dos interesses da comunidade de-
les participante e/ou por eles impactada, passando de
uma visão estrita de obras, para um enfoque mais a-
brangente de desenvolvimento local (regional), “turbina-
do” pelo agronegócio e ancorado na agricultura irrigada.
De outra parte, libera recursos (técnicos e financeiros)
51
da agência governamental para novos empreendimen-
tos de irrigação, agora atuando mais como “sponsor”,
do que como executor de grandes projetos; e
v. nos últimos anos, estimulados por ações governamen-
tais (Federal e Estadual), e apoiado por instituições co-
mo CODEVASF e Banco do Nordeste, tem-se desen-
volvido um processo de organização dos produtores,
que trabalha visando ao mercado, tendo por objetivo o
agronegócio, enfoque em pós-colheita, qualidade, tec-
nologia de produção controlada, já desvinculado da vi-
são de irrigação x obras. Tal é o caso da Associação
dos Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Va-
le do São Francisco (VALEXPORT) (Petrolina/Juazeiro),
ABANORTE (Norte de Minas), Associação dos produto-
res de café do Oeste Baiano, entre outras.
52
MODELO GERAL PARA OTIMIZAÇÃO E PROMOÇÃO DO
AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO DO NORDESTE
53
legal e institucional, privatização e projetos públicos etc.). A revi-
são da literatura apresentada no Relatório Estado da Arte da Irri-
gação, na qual se identificaram os obstáculos e facilidades encon-
trados e os correspondentes fatores causais, os caminhos percor-
ridos para sua superação ou manutenção, bem como a visão de
futuro que instituições e empreendedores têm da agricultura irri-
gada funcionou como banco de soluções e idéias. Essa análise
cobre 11 países que têm grande experiência em irrigação, tanto
privada como pública. Destacam-se os Estados Unidos (EUA) na
irrigação privada, na participação pública e transferência para or-
ganizações de agricultores de projetos públicos, o México, a Co-
lômbia e outros 8 países e, finalmente, Chile, França, Espanha,
EUA e Israel. Estes utilizam tecnologias sofisticadas de irrigação e
de comercialização.
54
1 - IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO PARA O NORDESTE
E PARA O BRASIL
55
nos com mais de 200 hectares (exceto as áreas irrigadas) e que
correspondem a menos de 6% do total, remuneram o trabalho
familiar com um salário mínimo mensal ou mais. Portanto, a gran-
de maioria dos estabelecimentos agrícolas daquela região é instá-
vel, por não oferecer uma remuneração a cada trabalhador ocu-
pado sequer igual a um salário mínimo. Tendem, pois, ao desapa-
recimento e, assim, a desempregar grandes contigentes de mão-
de-obra familiar e mesmo assalariada.
Por conta exclusiva das forças de mercado, em virtude de
o meio rural das demais regiões ser também perdedor líquido de
população, os rurícolas migrantes nordestinos se encaminharão,
de preferência, e como já vêm historicamente fazendo, para as ci-
dades das três regiões sulinas e, como segunda opção, para as
cidades do próprio Nordeste e do Norte, agravando nelas o proble-
ma urbano de emprego e, decorrente dele, entre outros, o de segu-
rança pública. Este fato mostra que o Nordeste é prioridade número
um de toda Política que queira reter o homem no campo, a fim de
possibilitar uma transição rural-urbana com menos sofrimento.
Mas a retenção de população no meio rural e nas cidades
atreladas à agricultura depende de ser viável uma agricultura
que pague salários competitivos. A agricultura irrigada oferece
esta condição. E sua capacidade empregadora é multiplicada,
quando associada às exportações, principalmente de frutas e
hortaliças, grãos e carnes. Desse modo, ela é prioritária para o
Nordeste. Ela tem a faculdade de reduzir o risco tecnológico,
decorrente de condições climáticas adversas, diminui a oscilação
da produtividade agrícola e incrementa a taxa de ocupação e a
utilização intensiva de terras.
56
2 - SITUAÇÃO ATUAL DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL E NO
NORDESTE
57
2.2 - Mecanismos de Financiamento da Irrigação
58
verno federal estabeleceu que, verbis: Art. 43. “O valor das tarifas
incidentes sobre o uso de água nos projetos públicos de irrigação,
de que trata este Regulamento, será composto pela adição:
I – de parcela correspondente à amortização dos investi-
mentos públicos nas obras de infra-estrutura de irriga-
ção de uso comum, com base no valor atualizado das
obras - o denominado K1 (grifo nosso);
II – de parcela correspondente ao valor das despesas anu-
ais de administração, operação, conservação e manu-
tenção das infra-estruturas – o componente K2.”
Esta questão foi analisada anteriormente com mais deta-
lhe, à luz de procedimentos internacionalmente aceitos, abordan-
do o significado de Aluguel, Depreciação, Manutenção, K1 e K2.
59
Ainda que, na implantação dos projetos públicos de irriga-
ção, predominasse o foco nas obras de Engenharia, mais recen-
temente, a partir de meados da década de 80, como no caso da
CODEVASF, voltaram-se as atenções para a organização da ope-
ração e manutenção e para a produção, de forma pouco sistema-
tizada, porém avançando-se para ofertar um melhor apoio ao pro-
cesso do agronegócio.
60
avanço bastante significativo, o qual não foi acompanhado pelo
DNOCS. E essa delegação, como vem ocorrendo na maioria dos
países, não é um processo muito rápido e tem maior resposta
quando o sistema de irrigação está em perfeitas condições de
funcionamento. Caso contrário, é necessário um programa de
recuperação. Além do mais, deve vir acompanhado da capacita-
ção dos usuários para assumirem, com segurança, as responsabi-
lidades que se impõem.
- Assistência Técnica
Para os pequenos produtores, vinculados à CODEVASF,
há um programa que tem diretrizes e estratégias, nas quais se
fundamenta a busca de resultados. Ele não é observado nos pe-
rímetros do DNOCS.
Quanto aos médios e grandes irrigantes, quer em projeto
público ou em propriedades privadas, a assistência técnica é de
empresas privadas ou de profissionais autônomos.
O que se verifica é que, tanto em nível de perímetro públi-
co (pequenos, médios ou grandes irrigantes) quanto em proprieda-
des privadas, o trabalho da assistência técnica tem dado ênfase
maior à produção dentro da propriedade, não se envolvendo no a-
gronegócio, como um todo, como é na França, Chile e outros países.
- Pesquisa e Desenvolvimento no Semi-Árido Nordestino
Apesar do avanço da agricultura irrigada nos últimos vinte
anos, a pesquisa agrícola deu muito pouca ênfase à irrigação,
tanto no que concerne às técnicas de irrigação, de manejo d’água
e práticas culturais, quanto no desenvolvimento de novas varieda-
des. Em tempos recentes, mercê da pressão dos pólos de irriga-
ção, a atitude tem mudado. Mas a mudança é lenta. Como substi-
tuta, no curto prazo, a importação de tecnologias e de assistência
técnica internacional cresce rapidamente.
Como a geração de informações, principalmente na área
de Fruticultura é lenta, a apropriação desses benefícios pelos a-
61
gricultores também se dá a médio e longo prazos, nos casos em
que a importação de tecnologias é impossível.
Apesar disso, há alguns resultados pontuais para alguns
produtos e práticas, principalmente, para aqueles produtos de
ciclo mais curto.
Há, no entanto, um hiato entre o crescimento da agricultura
irrigada e a oferta de informações tecnológicas. Ele é maior nas
áreas de pesquisa, como em cultivares, manejo de irrigação e de
fertirrigação, fitossanidade, controle de plantas daninhas, colheita
e em pós-colheita.
- Organização dos Produtores
Como observado também na experiência dos países anali-
sados, na implantação de grandes projetos de irrigação pelo setor
público, grande lapso de tempo costuma separar a fase de identi-
ficação, desenho do projeto, construção e arranjos de natureza
político-institucional-financeira - indispensáveis a sua efetiva im-
plantação - da fase de implementação final. É que, dado o volume
de recursos financeiros envolvidos, não raro, mudanças no quadro
macroeconômico, nas prioridades e no modus operandi dos go-
vernos patrocinadores resultam, invariavelmente, em descontinui-
dades, as quais não só retardam sua implantação física, como
também tumultuam a vida dos agricultores e suas organizações,
pelas incertezas geradas.
Apesar das descontinuidades citadas, o processo de orga-
nização dos produtores avançou notadamente a partir de meados
de 80. Notam-se organizações voltadas para o agronegócio, como
cooperativas e associações, e o surgimento de associações que
visam promover os produtos do Vale do São Francisco, no Brasil e
no exterior, e ajudam os irrigantes a produzirem com melhor quali-
dade. Surgiram também organizações dos produtores que execu-
tam as atividades de operação e manutenção dos projetos públicos.
- Estrutura de Organização da Cadeia
O elevado percentual de 65% do volume produzido nos
projetos públicos tem seu processo de comercialização realizado
62
com a participação de um agente intermediário, sem nenhuma
simetria de coordenação e informação.
TABELA 1
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA NOS
PERÍMETROS PÚBLICOS
Discriminação do Custo Valor em US$
− Infra-estrutura hidráulica de uso coletivo........... ± 3000 a 3500/ha
− Infra-estrutura parcelar de irrigação ................. ± 1500 a 2000/ha
− Infra-estrutura parcelar de apoio (casa, galpão,
packing-house, etc.)....................................... ± 700 a 1000/ha
− Formação de culturas perenes ........................ ± 3000 a 4000/ha
− Valor da terra ................................................ ± 300 a 500/ha
− Total de Investimentos no Projeto ................ ± 8500 a 11000/ha
− Participação Pública (que se dá apenas na
estrutura hidráulica de uso coletivo) ..................... ± 35,3 a 31,82%
− Participação Privada .................................... ± 64,7 a 68,18%
FONTE: Plena Consultoria de Engenharia Agrícola Ltda.
63
3 - MARCO TEÓRICO DO NOVO MODELO CONCEPTUAL
64
A definição das cadeias agroindustriais (no caso da agricul-
tura irrigada), como um nexo de contratos que vão da fazenda ao
consumidor, permite dar conta dessa gama de possibilidades or-
ganizacionais que respondem a determinantes tecnológicos, insti-
tucionais e estratégicos. Permite compreender tanto a organiza-
ção via mercados, quanto a integração vertical e os contratos com
fornecedores e distribuidores. Permite também compreender a
direção das mudanças organizacionais exigidas a partir de altera-
ções em variáveis do ambiente competitivo das firmas. Trata-se,
portanto, de um aparato conceitual particularmente adequado para
discutir competitividade (Farina, Azevedo & Saes, 1997.)
Assim, a organização da firma, da cadeia produtiva, do se-
tor e a regulamentação determinam a competitividade, uma vez
que estão na base da capacidade de resposta às oportunidades
de negócios. Essa capacidade de resposta depende fundamen-
talmente da capacidade de coordenação das atividades de produ-
ção e distribuição, isto é, da capacidade de transmitir informação,
estímulos e controles ao longo da cadeia produtiva de forma a
responder a mudanças no ambiente competitivo.
65
4 - POLÍTICA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO PROPOSTA
66
engenharia para a da Agricultura Irrigada, como negócio. E, no
caso, as atividades de produção, no interior de cada parcela irri-
gada, bem como aquelas que ocorrem antes e depois da produ-
ção, são decisivas para a sustentabilidade econômica e, por via
de conseqüência, da própria continuidade da agricultura irrigada e,
portanto, de cada projeto de irrigação.
À medida que as atividades de implantação das obras de
engenharia cedem lugar àquelas, relacionadas à produção & co-
mercialização - as quais exigem maior interação de agências go-
vernamentais, provedoras de bens públicos de variada natureza,
cresce a complexidade na sincronização e coordenação da ação
pública de apoio à Agricultura Irrigada.
Ademais, as Agências governamentais, especializadas na
implantação de projetos públicos de irrigação e que agem de for-
ma vertical, no que respeita à coordenação, não mais encontram
espaço para assim continuarem atuando, em virtude da especiali-
zação (na prestação de Serviços Públicos) e conseqüente pulveri-
zação dos orçamentos públicos, o que é característico da organi-
zação do Estado moderno e, que, entre nós, já alcança até a esfe-
ra municipal.
Depreende-se, pois, que as necessidades da Agricultura Ir-
rigada, embora contenham exigências do projeto de irrigação, em
muito o extravasam. Assim, sua inserção competitiva exige mu-
danças, no que e no como fazer, pelos empreendedores privados
e também pelo poder público, que a estimula e apóia, daí se pro-
por uma nova política de irrigação e drenagem descrita a seguir.
67
ção da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo dos
projetos de irrigação de maior porte ou complexidade;
• Contribuir, para a geração de informações necessárias,
que facilitem a tomada de decisões dos atores públicos
e privados, segundo uma visão de cadeia produtiva;
• Orientar o desenvolvimento da produção agrícola irriga-
da, tendo como base as oportunidades e exigências dos
mercados, interno e externo, segundo os parâmetros de
competitividade do agronegócio;
• Permitir ao governo reordenar sua atuação para o sub-
setor, com ênfase no papel que cabe ao Estado moder-
no (orientação, regulação, promoção, dentre outros), in-
clusive fortalecendo as parcerias entre a iniciativa priva-
da e o governo, no âmbito das três esferas, federal, es-
tadual e municipal;
• Finalmente, ela deve estimular a implantação, nos pe-
rímetros irrigados, de sistemas de monitoramento da ir-
rigação e de política tarifária, aplicáveis ao Nordeste e
Norte de Minas Gerais, visando ao uso racional da á-
gua, ou seja, considerando-se a sustentabilidade ambi-
ental, econômica e social.
68
Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei N.º 229/95,
que “Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e dá outras
providências”.
Em março de 2000, como decorrência do Estudo, foi en-
caminhada pelo Ministério da Integração Nacional ao eminente
Relator uma versão consolidada da minuta de Substitutivo ao PL
229/95, resultado de ampla discussão, no âmbito daquele Ministé-
rio, que envolveu sua Assessoria Técnica, Órgãos vinculados e
também Secretarias de Estado da região Nordeste. Houve inúme-
ras reuniões e o Seminário específico, promovido pelo Banco do
Nordeste e realizado em Brasília, em outubro de 1999.
Assim, visando superar os problemas já mencionados, a
proposta atualiza e aprimora a legislação vigente (Lei N.º
6.662/79), corrigindo o equívoco conceitual, relacionado à amorti-
zação de investimentos em infra-estrutura de irrigação de uso co-
letivo, em projetos públicos (como já visto), ainda encoraja e dá
maior segurança ao setor privado, na gestão e na ampliação de
investimento em irrigação, como asseguram vários de seus dispo-
sitivos, entre os quais cabe salientar:
O artigo. 1º, parágrafo 3º, ao estab elecer que o potencial
de mercado e a participação da iniciativa privada constituem fato-
res relevantes de indução e apoio governamentais à implantação
de projetos de desenvolvimento da agricultura irrigada.
- No artigo 2º, referente aos objetivos da Política N acional
de Irrigação, o inciso V assegura, como objetivo estimu-
lar a atuação de agentes privados e públicos na agricul-
tura irrigada, em áreas prioritárias definidas, observan-
do-se critérios técnicos, culturais, sociais, econômicos e
ambientais.
- Em seguida, o inciso XVII, do artigo 3º, define o al uguel,
como sendo valor da retribuição paga pelo irrigante cor-
respondente ao arrendamento da infra-estrutura de irri-
gação e drenagem de uso coletivo. E, no inciso seguin-
te, XVIII, define que quota-parte é a fração ideal das o-
bras de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, de
propriedade do irrigante por aquisição ou pela co-
69
responsabilidade na construção, cuja fração integra,
como parte complementar e inseparável, o título de do-
mínio do lote.
- Este mesmo artigo 3º já definira, em seu inciso I - Proje-
to público de irrigação, aquele implementado pelo Poder
Público e cuja infra-estrutura de irrigação e drenagem,
de uso coletivo, seja, inicialmente, de sua propriedade,
podendo ser alienada ou arrendada. No parágrafo 1º e s-
tá escrito: os projetos públicos de irrigação serão de ini-
ciativa dos Governos Federal, Estaduais, Municipais e
do Distrito Federal.
- Para tanto, o artigo 9º estabelece, em seu parágrafo 2º,
que o Poder Público poderá transferir aos usuários de
um projeto público de irrigação, organizados sob a for-
ma de distrito de irrigação ou outra entidade autogestio-
nária, a concessão dele, sob a forma de arrendamento.
- No inciso II - Projeto privado de irrigação, aquele im-
plementado pelo setor privado ou por este adquirido do
Poder Público, nos termos da legislação pertinente.
- No inciso III - Projeto misto de irrigação, aquele imple-
mentado de forma compartilhada pelo Poder Público e
setor privado.
- Já o inciso VII, do artigo 3º, não deixa margem à dúvida,
quanto ao significado econômico e destinação da tarifa
d’água, ao defini-la como o valor a ser pago pelo irrigan-
te pelo uso da água e da infra-estrutura de irrigação de
uso coletivo.
- No artigo 24, fica estabelecido que a infra-estrutura de
irrigação de uso coletivo dos projetos públicos e mistos
será administrada, operada e mantida por intermédio
dos próprios irrigantes organizados, preferencialmente,
em distrito de irrigação.
§ 1º. O Poder Público deverá promover a constituição
de um Distrito de Irrigação ou outra entidade autogesti-
70
onária, até o prazo de um ano, após a instalação do
primeiro irrigante.
§ 2º. As despesas correspondentes à administração,
operação e manutenção da infra-estrutura de irrigação
de uso coletivo serão rateadas entre os seus usuários,
sob forma de tarifa, de acordo com o estabelecido em
regulamento.
§ 3º. A tar ifa d’água será cobrada compulsoriamente de
todos os irrigantes pelo Poder Público, distrito de irriga-
ção ou outro concessionário, e seu valor deverá ser su-
ficiente para cobrir as despesas com a administração,
operação e manutenção do projeto.
§ 4º. Nos pr ojetos públicos de irrigação, o Poder Público
deverá custear os acréscimos de custos operacionais
correspondentes à área irrigável ainda não ocupada.
§ 5º. O Poder Público poderá contratar diretamente o
distrito de irrigação para a realização de obras de infra-
estrutura, observadas as normas legais.
- Art. 25 – Fica o Poder Público autorizado a alienar aos
irrigantes do projeto, por intermédio do Distrito de Irriga-
ção, independentemente de processo licitatório, as o-
bras de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, de-
vendo o prazo de pagamento limitar-se ao máximo de
cinqüenta anos.
§ 1º. Não integrarão o valor da venda, de que trata este
artigo, o custo das obras de infra-estrutura social reali-
zadas no projeto.
§ 2º. A cota -parte das obras de infra-estrutura de irriga-
ção de uso coletivo, que caberá a cada irrigante, será
proporcional à área do seu respectivo lote e o integrará
de forma indissociada, para fins de registro no cartório
de registro de imóveis competente.
71
4.3 - Diretrizes para Implantação de Projetos de Irrigação
72
5 - INSTRUMENTOS DA NOVA POLÍTICA NACIONAL DE
IRRIGAÇÃO
- Princípios Básicos
A irrigação deverá ser implementada mediante planos,
programas e projetos, que deverão:
a) dedicar atenção especial às áreas, cujas condições hi-
drológicas naturais são desfavoráveis e podem ser re-
vertidas, permitindo o aproveitamento agrícola de forma
economicamente competitiva;
b) explorar racionalmente os recursos de água e solo;
c) compatibilizar-se com os outros planos e programas se-
toriais;
d) integrar-se em nível federal, estadual e municipal;
e) considerar critérios técnicos, culturais, sociais e econô-
micos; e
f) respeitar o meio ambiente.
- Critérios para Elegibilidade de Área para Implantação de
Projetos Públicos
Os seguintes critérios deverão nortear a elegibilidade de
áreas para implantação de Projetos Públicos:
73
- Clima: os Projetos Públicos de irrigação serão implan-
tados na região semi-árida brasileira (limitada pela isoe-
ta de 800 mm/ano) ou em áreas onde os déficits no ba-
lanço hídrico ocorram em 7 ou mais meses do ano, ou
ainda, em áreas estratégicas, de interesse nacional.
- Solos: os solos deverão ser aptos à irrigação, conforme
critérios definidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), e observar as recomenda-
ções do manual de classificação de terras para irrigação
do Bureau of Reclamation dos EUA.
- Drenagem: se os estudos pedológicos indicarem po-
tencialidade para deficiência de drenagem (subterrânea)
e qualidade de água que possa favorecer a salinização,
o projeto deverá incluir estudos específicos e projetos
de drenagem e recomendação de manejo.
- Água: O agente de gestão de recursos hídricos da ba-
cia deve aprovar a utilização da água para irrigação na-
quela área.
- Integração: as áreas, prioritariamente, deverão estar
inseridas em regiões com programa de desenvolvimen-
to regional. Deve haver um protocolo de intenções entre
União, Estado(s) e Município(s), definindo as responsa-
bilidades de cada um no futuro projeto.
- Situação fundiária: as áreas deverão estar com a situ-
ação fundiária regularizada.
- Competitividade: apresentar planos de negócios, com
maiores possibilidades de êxito, menores riscos associ-
ados e condições de estruturação de mercado.
5.2 - Gerenciamento da Política, Planos, Programas e
Projetos de Irrigação
74
dades, metas e recursos, e as normas asseguram a governança,
indicando os limites de ação de cada agente público ou privado.
A gestão cristaliza-se em quatro âmbitos (instâncias deci-
sórias) e níveis (ou categorias de decisão), quais sejam:
1º. O âmbito da determinação da política subsetorial de irrigação
(com seus princípios, diretrizes e instrumentos que orientam a
aplicação e implementação). Predominam decisões de nature-
za política e estratégica e, como tal, invariavelmente, relacio-
nadas com questões político-institucionais e, inevitavelmente,
condicionadas pela legislação ambiental e de recursos hídricos
e pelo ambiente macroeconômico.
2º. O âmbito dos processos decisórios, relacionados à localização
e implantação do projeto de irrigação (normalmente composto
de um ou mais perímetros irrigados). Aqui predominam deci-
sões táticas que são da responsabilidade dos órgãos executo-
res da política subsetorial de irrigação, os quais implantam o
projeto, diretamente e ou em conjunto com outras esferas e
instâncias governamentais e com a iniciativa privada.
3º. O âmbito da gestão do perímetro irrigado implantado. Aqui
predominam decisões de natureza tático-operacional que evo-
luem da esfera pública para a privada, em todos os países em
que a irrigação é importante.
4º. Finalmente, o âmbito ou domínio da gestão da atividade-fim,
que é da competência exclusiva do setor privado. Este âmbito
compreende a organização da produção agropecuária e a co-
ordenação de mercado.
75
FIGURA 1
ÂMBITO DA DETERMINAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL
DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM
Presidente
Congresso
Governadores
Prefeitos
Controle Sociedade, Públicos de
Social Interesse
Inputs Outputs
76
5.2.3 - Atribuições de cada ente gestor de projetos pú-
blicos
77
sos hídricos das bacias hidrográficas beneficiadas com
projetos de irrigação.
Ministério da Agricultura e do Abastecimento – Compatibili-
zação, sobretudo, com as Políticas, Programas e Projetos de Pla-
nejamento e Desenvolvimento (P&D) e Assistência Técnica e Ex-
tensão Rural (ATER), de Defesa Sanitária Agropecuária, de de-
senvolvimento e defesa de mercados dos produtos agrícolas e,
finalmente, comprometimento com a execução e aplicação da
política agrícola vigente.
• Aprovação: o plano plurianual é aprovado pelo Con-
gresso Nacional, e os planos anuais, pelo Ministro da
Integração Nacional.
• Validação: A validação, na esfera política, ocorre no
Congresso Nacional, nas assembléias legislativas e,
mesmo, nas câmaras de vereadores, dependendo de
ser ação de nível nacional, regional ou local.
78
b) Gerenciamento de Obras - planejamento, contratação,
supervisão e controle do gerenciamento; provisão e alo-
cação de recursos financeiros nos projetos públicos;
c) Participação minoritária nos projetos mistos - provisão
de estudos de localização e de projetos de pré-
viabilidade, que comportam até 49% do investimento
pelo poder público; fiscalização e assistência técnica
(na implantação e gestão); e regulação da operação.
No Âmbito da Gestão do Projeto Público de Irrigação
A administração do Projeto, a operação e manutenção da
sua infra-estrutura de irrigação de uso coletivo serão de respon-
sabilidade do Ministério da Integração Nacional, pela Secretaria
de Infra-estrutura Hídrica, tendo como apoio:
a. Órgãos vinculados:
CODEVASF E DNOCS – co-gestão (apenas na fase de
implantação); co-financiamento da administração, da
O&M e da assistência técnica (para empreendedores fa-
miliares); supervisão, prestação de assistência técnica e
gerencial; fiscalização, auditagem da aplicação de recur-
sos financeiros e arbitragem (das políticas de distribuição
de água e tarifária).
b. Órgãos parceiros:
• por transferência de poder - Associações de Usuá-
rios da Água, Distritos de Irrigação (integrando
produtores rurais de pequeno, médio e grande
portes), para, após a implantação do Projeto, as-
sumirem sua administração e as atividades de O&M).
• por descentralização de poder - Secretarias Estadu-
ais - administração do Projeto e transferência da
O&M da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo
para os Distritos.
c. Órgãos Interessados (governamentais setoriais) - pro-
vedores de bens públicos.
79
No Âmbito da Organização da Produção Agrícola
Na organização da produção, desde o processo de produ-
ção até os aspectos de coordenação de mercado, deverão ser
observadas as atribuições:
a. Poder público
Provê bens públicos, desenvolve e promove merca-
dos, assegura um adequado ambiente de contratuali-
dade e política econômica que não discrimine a ativi-
dade agropecuária, de modo que se possa obter e
manter vantagem competitiva dinâmica das atividades
componentes do agronegócio.
b. Empreendedores privados
Produtores de todos os portes, associados ou não em
grupos e ou cooperativas e integrados, mediante ins-
trumentos contratuais com outros elos do agronegócio.
80
cessionárias Públicas, que já são, relativamente, bem administra-
das e que operam com sistemas tarifários comercialmente viáveis.
ii) Contratos de Gestão
Os contratos de gestão, que têm duração de três a cinco
anos, apresentam-se como um estágio preparatório para a imple-
mentação de alternativas mais sofisticadas de participação da
iniciativa privada, como o arrendamento, os contratos para Build-
Operate-Transfer (BOT) ou Build-Operate-Onw (BOO) ou a venda
de ativos.
Os contratos de gestão podem constituir-se em um meca-
nismo importante, de médio prazo, para abrir caminho à maior
participação do setor privado na gestão e nos investimentos.
iii) Contratos de Arrendamento
O contrato de arrendamento, mediante o qual o Governo
aluga determinado ativo – a infra-estrutura de irrigação de uso
coletivo, por exemplo, a um Distrito de Irrigação ou a uma empre-
sa privada, que passa a se responsabilizar por sua total operação,
manutenção e conservação, é um passo importante na introdução
do risco, na gestão de perímetros públicos de irrigação. Estes con-
tratos têm duração de 8 a 15 anos.
iv) Contratos para BOT e BOO
Os contratos para BOT, mediante o qual grupos privados
são chamados para realizar as seguintes tarefas:
(i) financiar e construir determinados sistemas completos.
(ii) operar o sistema por um prazo determinado (20-30
anos) e, mediante essa operação, obter o retorno do
investimento feito;
(iii) devolver as instalações ao Poder Público concedente,
findo o prazo do contrato.
81
v) Contratos de Transferência de Ativos
Os contratos de transferência de ativos possuem caracte-
rísticas de privatização, o que, na vigência da atual Lei de Irriga-
ção, é de aplicação vedada. Por ela os serviços são delegáveis,
mas os ativos são intransferíveis ao setor privado. Assim, sua a-
plicação dependerá de mudança na Lei 6.662/79, ora em discus-
são no Senado Federal. Na legislação de irrigação brasileira, o
prazo de pagamento pode ir até 50 anos (Brasil, 1979).
83
5.3.2 - Estratégias de mercado
Fundamentos
Fases da Estratégia
84
FASE 4 – Pós-venda
85
nível regional e na análise econômica das tecnologias geradas, o
Governo deve organizar e disponibilizar, para cada Pólo de Irriga-
ção, sistemas de produção (“pacote tecnológico”), contendo, entre
outras, informações, para cada cultura:
• cultivares, sua aceitação e compatibilidade com as exi-
gências de mercado;
• população de plantas/ha;
• adubação e correção de solos;
• indução foral;
• controle de pragas e doenças;
• formas de condução da cultura;
• tratos culturais;
• manejo da irrigação (como, quanto e quando irrigar);
• aspectos de colheita, armazenagem, embalagem, etc.
86
tência técnica e gerenciamento da produção, pesquisa e desenvol-
vimento, capacitação em gestão e gerenciamento ambiental.
87
5.4.2 - Assistência técnica/gerenciamento da produção
88
5.4.3 - Pesquisa e desenvolvimento (P&D)
O estudo, propõe:
i) identificação e definição de sistemas de produção (pa-
cotes tecnológicos), envolvendo atores regionais
(produtores inovadores, técnicos de Assistência
Técnica, Técnicos de Pesquisa), com base em
informações regionais. Devem-se quantificar os custos e
a rentabilidade.
ii) Utilizar a metodologia de prospeção para determinar a
demanda de pesquisa, a qual se vale de seminários te-
máticos regionais, que envolvem a participação de re-
presentantes dos elos do agronegócio da agricultura ir-
rigada, para levantar os problemas de pesquisa e estra-
tégias de solução e de financiamento.
89
5.4.5 - Serviços de gerenciamento ambiental
90
Outra fonte importante de financiamento são os recursos
próprios existentes na época da implantação do projeto e gerados
a partir daí. Formas mais sofisticadas de financiamento não têm
sido ainda utilizadas. Será apresentada uma revisão delas, a fim
de indicar que condições devem ser criadas para que elas se tor-
nem uma via adicional de financiamento da irrigação, para agricul-
tura irrigada e também discutido como se pode dar o financiamen-
to de um projeto público.
a) Crédito rural
91
2. outro ponto diz respeito às medidas de capacitação pa-
ra a gestão do crédito destinado à irrigação, área que
não deve ficar de fora do esforço de reestruturação da
atividade. Nesta área, não a capacitação dos quadros
operacionais e a assistência técnica financeira ao nível
de carteira, mas também três áreas estratégicas reque-
rem a maior atenção possível;
• capacitação gerencial dos mutuários;
• capacitação dos mutuários em operações financeiras;
• capacitação dos mutuários em contabilidade de custos.
Manual de financiamento da agricultura irrigada
O crédito rural é, sem dúvida, um dos instrumentos mais
importantes de política para o setor de irrigação. Há uma boa den-
sidade de linhas de crédito disponíveis, principalmente para o se-
tor de produção. Entretanto, há necessidade de consolidação do
normativo em um único documento, com título de manual de fi-
nanciamento da agricultura irrigada. Trabalho semelhante foi reali-
zado pelo Banco do Nordeste com o Book do Gestor.
b) Bolsas de valores: títulos e valores mobiliários
Apesar das características próprias do mercado financeiro
(leia-se bolsa de valores: títulos e valores mobiliários), é possível
à agricultura irrigada, via suas organizações e empresas, utilizar
esse mecanismo. O mercado tem criado oportunidades que de-
vem ser consideradas pelos irrigantes e suas organizações na
área do negócio da irrigação. Há novos negócios e novas alterna-
tivas de financiamento/ capitalização que, somadas àquelas já
existentes, tentam inserir no mercado de capitais um número bem
maior de empresas.
c) Companhias de risco
As companhias de capital de risco canalizam investimentos
de investidores, com carteiras diversificadas, para as pequenas e
médias empresas de grande potencial de rentabilidade e cresci-
mento, pela participação societária. Os recursos dessas compa-
92
nhias provêem de investidores individuais, grandes empresas,
federações, associações e “clubes” empresariais, bancos, orga-
nismos de fomento e outros investidores, na expectativa de ga-
nhos acima das aplicações financeiras tradicionais de mercado.
As principais vantagens estão nos seguintes pontos: (i) são for-
mas mais avançadas de equity financing – condição hoje funda-
mental para viabilizar investimentos de média maturação (sem
isso, muitos investimentos no mundo não são viáveis, apesar de
serem altamente rentáveis); (ii) como buscam taxas elevadas de
retorno, são capazes de financiar investimentos mais arriscados,
pois, onde há risco, há maiores taxas de retorno ; (iii) sabem com-
pensar o risco, atuando com empresas de tecnologia de ponta e
mercados de alto poder aquisitivo; (iv) por preferirem empresas de
gerenciamento competente, viabilizam as modernas técnicas de
gerenciamento.
As principais desvantagens residem no fato de que não se
viabilizam quando operam: (i) com “commodities” de baixo valor
agregado; (ii) com sistemas que dependem de atividades de mão-
de-obra intensiva; (iii) com operações muito complexas, dependo
de muitos fornecedores de serviços e insumos intermediários; (iv)
com investimentos de longo período de maturação; (v) com empre-
endimentos em que crédito bancário é fonte principal de financia-
mento;(vi) com mercado de baixo nível de negociabilidade dos direi-
tos (ações); (vii) em regimes que não respeitam direitos minoritários
nos arranjos societários; (viii) em ambientes em que os donos dos
negócios não pagam nem dividendos e nem a participação; (ix)
com investidores que não participam com capital de risco.
d) Fundos mútuos de investimentos e empresas emergentes
Hoje responsáveis por uma parcela substancial das aplica-
ções de recursos de risco nos segmentos competitivos dos mer-
cados financeiros mundiais, estes fundos têm apresentado resul-
tados e crescimentos surpreendentes. São, inquestionavelmente,
aplicações de riscos, inclusive riscos ampliados, devido ao conjun-
to das empresas componentes dos fundos (o que, em certo senti-
do, não ocorre com as companhias de capital de risco).
93
Suas vantagens são: (i) diluição de riscos; (ii) potencial de
formação de um conjunto de participações de empresas de alta
rentabilidade (ainda que poucas em um conjunto maior de empre-
sas); (iii) alternativa de investimento fora do circuito de alta com-
petitividade de fundos e aplicações (que pouco mais rendem que
poupança, como considera o mercado); (iv) rapidez de expansão
da demanda de seus serviços, como ocorreu nos Estado Unidos e
Europa, com valorização das quotas.
e) Fundos de Capital de Risco e Desenvolvimento Local
É um dos sistemas mais promissores de financiamento de
empresas de pequeno e médio portes nos projetos de irrigação.
Uma das suas principais vantagens é que na agricultura irrigada
há geração de renda suficiente para formar um fundo de poupan-
ça e de empréstimo de baixo custo operacional, sendo, portanto,
baixos os níveis de índices de dependência de subsídios (SDI, ou
seja, diferença entre os custos de captação, mais os custos de
administração e as taxas de empréstimos).
Esses fundos devem contar, majoritariamente, com recursos
de investidores da própria localidade. Por esta razão, são fundos de
poupança e empréstimo. Isso, por si só, faz grande diferença.
Fundos como estes têm a vantagem de superar as gran-
des dificuldades dos sistemas de crédito convencionais, que mis-
turam crédito de fomento com crédito comercial, prática já aban-
donada em alguns países.
f) Securitização de Recebíveis de Vendas
Atestam suas vantagens crescentes operações desta natu-
reza em todo o mundo, que se avolumam, significativamente, a
cada ano.
Na atualidade, a securitização está cada vez mais associ-
ada a operações financeiras de pequenas empresas, se sua ori-
gem estiver ligada a operações similares a descontos de títulos
(duplicatas mercantis, por exemplo) de grandes empresas. Pela
segurança que oferecem, estas operações estão despertando
interesse crescente dos bancos. Muitas operações de pequenas
empresas estavam concentradas em esferas “não-bancárias”
94
(como as factoring). Hoje, operações como “vendor” e securitiza-
ção de recebíveis interessam aos bancos não-especializados,
com arranjos totalmente apoiados em bancos comerciais.
Como se sabe, a operação envolve basicamente: (i) títulos
de uma “atividade homogênea”, disponibilizados por um “vendedor
de contas a receber”; (ii) um intermediário especializado como
emissor de “certificados” (servicer); (iii) investidores interessados
em comprar estes certificados; (iv) um vínculo fiduciário que clas-
sifica os recebíveis; (v) uma função auxiliar de reforço de crédito
que adiciona credibilidade.
g) Financiamento dos Projetos Públicos
O financiamento da infra-estrutura de uso coletivo nos pro-
jetos públicos será realizado pelos recursos do Tesouro ou pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-
DES), podendo ser complementado com recursos de instituições
internacionais.
No curto prazo, é possível que a iniciativa privada venha fi-
nanciar a infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, desde que o
Governo esteja disposto a oferecer garantias, por exemplo, com
base no recebimento de tarifa d’água. Para tal, o Governo vende a
infra-estrutura no momento de assentamento dos irrigantes, mas a
transferência da propriedade definitiva ocorrerá no momento da
quitação da última parcela. As parcelas a serem recebidas dos
irrigantes são dadas, pelo Governo, como garantia, à firma que
financiou o projeto. Em adição, o Governo garante, por certo perí-
odo, negociado caso a caso, o pagamento das parcelas devidas
pelos irrigantes. Esta negociação está prevista no edital de licita-
ção do projeto. Estas parcelas também podem garantir a firma
financiadora nos empréstimos que vier a tomar.
95
tal de empresas do exterior e se destinam à exportação. Com a
liberação do câmbio, hoje em regime de liberdade de flutuação,
reduziu-se, significativamente o risco que se origina no Governo.
E o câmbio passa a ser um preço que flutua de acordo com as
forças de mercado, não se desprezando aquelas de natureza es-
peculativa. Nas condições dos projetos de irrigação, julgou-se que
os riscos de origem na nossa economia dominam amplamente
aqueles de câmbio. Optou-se, por isto, por não avaliá-los.
O enfoque adotado para este capítulo consistiu em avaliar
os riscos tais como são percebidos pelos investidores. Por isto,
foram consultados os potenciais investidores do negócio. Buscou-
se conhecer a opinião dos investidores que estão no negócio, co-
mo também os riscos dos projetos de irrigação.
a) Riscos gerais dos projetos de irrigação
96
8. Que esforços há de desenvolvimento de mercado no
exterior, ou seja, de promoção comercial dos produtos
brasileiros?
9. A mão-de-obra qualificada existe? Alfabetizada? Ca-
pacitada?
10. Qual o peso dos encargos trabalhistas? Há incentivos?
11. Com relação ao fornecimento de energia elétrica, em
alguns perímetros a situação não é satisfatória.
12. Há também risco de fornecimento de água.
b) Avaliação de riscos financeiros
Os principais riscos financeiros para a agricultura irrigada
apontados por investidores foram:
1. Atrasos na implementação do projeto como um todo.
2. Restrições externas de capital (financiadores).
3. Restrições internas de capital (financiados).
4. Baixa capacidade de alavancagem (comprometimento
de ativos).
5. Custos de capital, acima do esperado, nos fluxos de
caixa.
6. Falta de cumprimento dos compromissos de liberação
de recursos públicos planejados para etapas de forne-
cimento de água e infra-estrutura.
7. Interferências indevidas do Governo: risco institucional.
97
1. Informações detalhadas dos tipos de cultivos possíveis
de serem cultivados nos projetos de irrigação, para efei-
to de estudo preliminar de mercado, sem o qual o pro-
cesso de decisão não se iniciaria.
2. Indicação de potencial para a exportação dos produtos
oriundos dos projetos, bem como das condições físicas
de embarque da produção vendida ao exterior.
3. Garantias preliminares de que os projetos terão financi-
amento (notadamente do Banco do Nordeste).
4. Inventário da infra-estrutura social e produtiva disponí-
vel: estradas, escolas, eletricidade, etc.
5. Disponibilidade de mão-de-obra e qualificação dos tra-
balhadores na região, bem como experiência no trato da
irrigação.
6. Adesão de empresas construtoras, que seriam associa-
das à formação de um grupo para execução das obras
do projeto.
7. Indicações de adesão de parcerias com bancos nacio-
nais ou estrangeiros (nas carteiras de participação) e de
garantia de créditos de capital fixo, de investimento,
custeio, comercialização e exportação.
8. Incentivos fiscais para aumentar e acelerar os retornos
de projetos economicamente viáveis.
9. Promoção permanente sobre os produtos brasileiros,
por parte do Governo.
98
tos. Os investimentos serão tão mais viáveis quanto melhor em-
pregados forem os escassos recursos públicos.
Para a atração dos investimentos privados, em primeiro lu-
gar, é necessário definir, precisamente, o papel do setor público, o
que está sendo feito na proposta de Lei que está em outra seção
deste estudo. Em segundo lugar, devem-se criar condições ótimas
para que o setor privado invista com lucro. Em terceiro lugar, mos-
trar que o negócio de irrigação pode competir vantajosamente
com outras oportunidades de investimento.
Havendo uma definição irreversível acerca do papel do es-
tado no novo paradigma, os investidores assumem suas respon-
sabilidades. A implantação da nova política de irrigação, com a
participação do setor privado, em volumes maiores de investimen-
tos, dependerá de mudança de paradigmas de atuação, tanto em
razão do porte dos investimentos necessários, quanto pelos riscos
associados.
99
MODELO ESPECÍFICO PARA OTIMIZAÇÃO E
PROMOÇÃO DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SALITRE –
JUAZEIRO DA BAHIA
100
1 - DESCRIÇÃO GERAL SOBRE O PROJETO SALITRE
101
- Situação do rio na captação: cota de 360,23 m para vazão mí-
nima de 640 m3/s e cota de 366,00 m para vazão máxima de
9.000 m3/s.
1.2 - Parcelamento da Área
102
MAPA 1
LOCALIZAÇÃO E ACESSOS
FONTE: Codevasf.
103
1.3 - Implantação do Projeto
105
MAPA 2
FASES DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO
FONTE: Codevasf.
106
O pólo Petrolina–Juazeiro, onde se situa a área do Projeto
Salitre, encontra-se praticamente eqüidistante das grandes capi-
tais nordestinas e de grandes centros do país (tabela abaixo).
TABELA 4
EQUIDISTÂNCIA ENTRE O PROJETO SALITRE
E ALGUNS CENTROS DO PAÍS
Cidade Distância (km)
Salvador 511
Recife 721
Fortaleza 878
Brasília 1.810
Rio de Janeiro 1.928
São Paulo 2.241
FONTE: Codevasf.
107
Projeto Salitre uma vantagem competitiva que o diferencia de ou-
tros projetos de irrigação do ponto de vista de localização.
A região ainda conta com agências dos principais bancos
de financiamento: Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Bandei-
rantes, Bradesco, Excell, HSBC-Bamerindus, Itaú, Caixa Econô-
mica Federal, Banco Bilbao Vizcaya Argentaya (BBVA), Banco de
Desenvolvimento do Estado de Pernambuco (Bandepe), Banco do
Estado da Bahia (BANEB), América do Sul.
Com relação à infra-estrutura de comercialização, as con-
dições em geral são propícias ao desenvolvimento de uma agricul-
tura e agroindústria modernas. A existência de packing-houses
nas principais empresas exportadoras é essencial para garantir a
adequada embalagem e apresentação dos produtos destinados
ao mercado interno e externo. Em geral, as empresas possuem
câmaras climatizadas que, por problemas de safra, ficam com a
capacidade ociosa quatro meses por ano. Algumas empresas,
devido às exigências do consumidor externo, possuem packing-
houses distintas para uva e manga.
Em termos de instituições voltadas para a pesquisa e o de-
senvolvimento, a região apresenta-se com uma alta capacidade
instalada, com unidades da CODEVASF, Embrapa, Empresa Bai-
ana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Escola de Agronomia
em Juazeiro (BA), que, em conjunto, têm contribuído para acelerar
a adoção de novas tecnologias de produção e gestão empresarial.
O ensino fundamental na região atende aos pré-requisitos
do Ministério da Educação e Cultura. Há 43 escolas públicas em
funcionamento na sede, 17 na zona rural e 61 escolas particula-
res. As escolas profissionalizantes oferecem cursos de secretaria-
do, enfermagem, administração, contabilidade e magistério.
Com relação ao ensino superior, há três universidades em
funcionamento, a Federação das Associações Comerciais do Es-
tado de Pernambuco (FACEP) (Administração) e a Faculdade de
Formação de Professores de Petrolina (FFPP) (formação de pro-
fessores) em Petrolina, a Escola de Agronomia, em Juazeiro, e
em Campus Universidade do Estado da Bahia (UNEB) de Direito.
Além das já mencionadas, funcionam atualmente cursos de gra-
108
duação em ciências contábeis, matemática, biologia, geografia,
história, letras e pedagogia.
A presença de agroindústrias na região revela um forte in-
dicador para a dinâmica de desenvolvimento da região onde se
encontra o Projeto Salitre. Ao contrário de outros projetos públi-
cos, instalados distantes de pólos agroindustriais, o Salitre já tem
assegurada uma demanda originada nas agroindústrias instadas
no Pólo Petrolina–Juazeiro.
O Pólo vem-se destacando como importante exportador de
frutas (mercado europeu e americano), principalmente de manga
e uvas de mesa. Dentre as principais agroindústrias/empresas
instaladas no Pólo Petrolina–Juazeiro, destacam-se: a Agrovale
(açúcar, álcool e manga); Fruitfort e Curaçá Agrícola (manga);
Carrefour - Labrunier, Vale das Uvas, Orgânica do Vale (uva);
Grupo Queiroz Galvão – Fazenda Timbaúba e CAJ (uva e man-
ga); Grupo Special Fruit - Sueme (uva e manga); Fazenda Brasiu-
vas (uva); e Fazenda Nova Fronteira Agrícola (manga).
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE), em 1996, existia uma população de 191.238 habitan-
tes em Petrolina e 172.065 habitantes em Juazeiro, com taxas
de crescimento de 5,2% e 6,3% ao ano, respectivamente, em
relação a 1980.
No que diz respeito à distribuição da população, em 1996,
verifica-se uma alta concentração urbana, 71% em Petrolina e
79% em Juazeiro. Comparando-se com 1980, observa-se um in-
cremento percentual da população rural dos dois municípios. Este
acréscimo pode ser creditado ao desenvolvimento e à implantação
de perímetros irrigados na região.
Em relação à idade da população, observa-se que 60%
são menores de 15 anos, 9% maiores de 65 anos e 30% estão
entre 15 e 65 anos de idade. A alta percentagem de jovens na
população economicamente ativa é um fator importante para o
desenvolvimento da região, uma vez que a mão-de-obra futura
poderá ser facilmente treinada. Para tanto, necessita-se oferecer
um sistema educacional e de treinamento voltado para as neces-
sidades da localidade.
109
Tratando-se da renda, observa-se que 85% e 89% das fa-
mílias residentes em Petrolina e Juazeiro, respectivamente, ga-
nham até dois salários mínimos. Isso mostra que o poder de com-
pra da região é baixo.
110
• procurar contratar a mão-de-obra necessária somen-
te no mercado local, para evitarem-se afluxos popu-
lacionais de outras regiões;
• desenvolver e implantar um plano de reassentamen-
to das populações que moram dentro da área do pro-
jeto, a serem desapropriadas e ou desalojadas;
• priorizar a relocação dessas populações no projeto,
quer como pequenos produtores, quer como empre-
gados de empresas agrícolas;
• promover a melhor articulação institucional possível,
visando aliviar as pressões sociais e desenvolver os
serviços de educação e de saúde.
111
2 - RECOMENDAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO NOVO
MODELO CONCEPTUAL DE IRRIGAÇÃO NO PRO-
JETO SALITRE
112
O objetivo de se criar uma Plataforma de Informações no
Salitre é permitir, como em vários países, o acesso, pelos diver-
sos atores, a informações técnicas e gerenciais, que possam
subsidiar a tomada de decisão da iniciativa privada quanto à im-
plantação ou não de uma agroindústria, de uma empresa expor-
tadora; aquisição ou não de uma área em projeto público; asso-
ciação ou não ao poder público; como operacionalizar o seu ne-
gócio, etc. As informações devem ser detalhadas em tal nível,
que seja possível avaliar os riscos associados e a atratividade de
determinado empreendimento.
A Plataforma permitirá também que equipes técnicas pos-
sam transmitir aos produtores, em projetos públicos ou não, as
formas mais convenientes de tecnologia, organização da produ-
ção, entre outros.
A plataforma deve conter o seguinte grupo de informações:
- Informações básicas, relacionadas a estudos disponí-
veis, como: climatologia, hidrologia, solos, caracteriza-
ção ambiental; disponibilidade e condições de infra-
estrutura de vias de escoamento; saúde; educação; bar-
reiras fitossanitárias, entre outras.
- Informações tecnológicas, relacionadas às culturas po-
tenciais para região.
- Informações de mercado, relacionadas à série histórica
de dados de mercado para as culturas da região (pre-
ços, área plantada/colhida, produção, volume exporta-
do, preço médio, porto de saída e mercado de destino
em nível de espécie/variedade).
- Informações gerenciais, neste bloco, devem conter pla-
no de negócio do Projeto, características do projeto, a-
gentes financeiros etc.
O Consórcio sugere que se constitua e disponibilize, via In-
ternet, Folders, etc., uma PLATAFORMA DE INFORMAÇÕES
PARA O PROJETO SALITRE como parte de um processo de
promoção e atração do investimento privado para o Projeto. A
113
CODEVASF, como promotora-líder do Projeto, deve, de forma
isolada ou associada, constituir e implementar a PLATAFORMA.
114
2.3 - Diretrizes para um Plano de Promoção e Marketing
115
− Definição do posicionamento competitivo.
− Definição e implementação de estratégias de aborda-
gem de cada público prioritário.
− Definição e implementação do sistema de avaliação de
resultados.
116
de toda a infra-estrutura coletiva e a de distribuição de água esta-
rem definidas.
Entre os principais fatores identificados para esta situação
consta um processo inadequado de seleção de produtores sem
capacidade de garantia junto a agentes financeiros; capacidade
administrativa inadequada, associada à pouca disponibilidade de
crédito junto aos agentes financeiros para atender uma agricultura
irrigada; e a baixa capacidade financeira do futuro produtor.
Especificamente para o caso do Salitre, é desejável que o
fator de disponibilidade de crédito não seja um fator restritivo. Pa-
ra isto, sugere-se a criação de um Fundo de Aval (exemplo desse
tipo de ação vem sendo desenvolvido pelo Banco do Nordeste em
várias regiões), para facilitar o acesso ao crédito e garantir um
melhor fluxo de rentabilidade do crédito. Além disso, é desejável
que os empreendedores para ali selecionados (principalmente o
médio e grande) tenham uma boa capacidade financeira. Deve-se,
também, associar a possibilidade, na atração de empresas de
comercialização (ex. supermercados, empresas exportadoras) e
agroindústria, de se buscarem aquelas com potencialidade para
participar do processo de financiamento do processo produtivo.
O Projeto Salitre encontra-se na sua 1ª Etapa, que está di-
vidida em Fases, prevendo a conclusão das obras de infra-
estrutura de uso comum no final de 2001. Assim, avaliou-se a ne-
cessidade de recursos financeiros para implementar o processo
produtivo da Etapa 1 em nível de parcela.
O total de recursos necessários para investimentos, para
implementar a agricultura no Projeto, em nível parcelar, soma o
valor de R$ 70,1 milhões, num período de 5 anos. E para custeio
(custos operacionais anuais), os recursos necessários somam o
valor de R$ 77,4 milhões. O total entre investimento e custeio so-
ma R$ 147,5 milhões, para um período de 5 anos.
Os valores citados mostram a necessidade de o Banco do
Nordeste realizar estudos para aportar recursos de crédito, como
forma complementar aos recursos próprios dos empreendedores,
de tal sorte, a não faltarem recursos e não atrasar a implementa-
117
ção do Projeto, além de possibilitar a garantia de um bom nível
tecnológico e gerencial.
118
nharia, concebida e executada. Deve ser um instrumento vigoroso
de desenvolvimento regional, baseado num “core” turbinador que
é o agronegócio. Dessa forma, torna-se necessária a adoção do
conceito ampliado de gerenciamento, ou seja, o Gerenciamento
Global Ampliado (GGA).
O GGA na realidade é uma atividade de coordenação das
interações entre Projeto-obra-suprimento (típico da fase da im-
plantação) e das interações que ocorrem durante e após a fase
construtiva para uma maior rentabilidade do empreendimento.
A CODEVASF, como promotora líder do empreendimento,
deverá, só ou associada a outras Agências e ou Sponsors (como
Banco do Nordeste, BNDES, Banco do Brasil ou agentes priva-
dos) ou Governo do Estado da Bahia, implementar esse novo ge-
renciamento. Após o assentamento, esse gerenciamento poderá
ser realizado pelo Distrito de Irrigação, ou por um comitê dos pro-
dutores, constituído para tal.
Esse novo mecanismo de gerenciamento deverá executar
as seguintes atividades, entre outras:
• realizar o gerenciamento global das obras;
• implantar a Plataforma de Informações;
• desenvolver um processo de promoção e marketing;
• definir e disponibilizar crédito para os diferentes níveis
de empreendedores;
• coordenar um processo de capacitação gerencial con-
forme sugestão neste documento; e
• atrair empresas privadas para realizarem investimentos
nas atividades de pós-colheita, tanto de processamento,
como, principalmente, de comercialização da produção,
processada ou não.
119
2.5.2 - Modelo de gestão para etapas posteriores do pro-
jeto Salitre
120
pal) para cada média empresa, caso seja esta a opção. Deverá
também viabilizar a implantação das atividades agrícolas.
Como mostrado anteriormente, esse mecanismo de Ge-
renciamento deverá executar várias atividades, entre elas:
• realizar o Gerenciamento Global das obras de infra-
estrutura principal de condução de água, elétrica, estra-
da, estrutura social e da estrutura de distribuição de á-
gua para a Etapa reservada às pequenas empresas;
• desenvolver um processo específico de promoção e
marketing;
• disponibilizar um arranjo de crédito para os diferentes
níveis de investidores;
• coordenar um processo de capacitação gerencial, con-
forme sugestão neste documento; e
• atrair empresas privadas para realizarem investimentos
na infra-estrutura de distribuição de água (a partir da in-
fra-estrutura principal); atividades de pós-colheita, tanto
no processamento, como, principalmente, de comercia-
lização da produção, processada ou não.
121
ental capaz de garantir, no futuro, a ISO-14.000 à produção do
perímetro, e uma programação de capacitação.
122
capacitação e organização da produção – o que representa uma
maior responsabilidade no processo de “montar um negócio”, par-
tindo de um produtor familiar.
Para que os pequenos negócios de irrigação cresçam, é
necessário centralizar as decisões de implementação das explo-
rações em uma empresa que conheça o mercado, que os produto-
res façam um programa de produção sob a capacitação desta
empresa, principalmente ao se considerar que os volumes a se-
rem produzidos e comercializados crescerão com o tempo. Neste
caso, será conveniente centralizar as funções iniciais de monta-
gem dos negócios, evitando-se os riscos de uma produção atomi-
zada e desorganizada. Em seguida, a empresa deverá ser capaz
de atrair investidores, além de atrair os compradores.
A empresa gerenciadora deverá assessorar os produtores
na realização de contratos de venda compromissada (qualidade,
quantidade e condições de preço) entre a organização dos produ-
tores e o comprador final. Paralelamente, é preciso assegurar a
facilitação dos negócios de investimentos, pois o fator mais es-
casso é o capital, mais do que o sistema de organização. A es-
cassez de capital tem sido responsável pelo desperdício do po-
tencial produtivo dos projetos no Brasil.
123
Relatório de Impacto sobre o Meio ambiente (RIMA), possa moni-
torar, entre outros, qualidade de água, utilização de defensivos
(quantidade e tipo), disposição adequada do lixo (agrotóxico e
residencial), além de realizar trabalho educativo, voltado para as
questões ambientais.
As vantagens do Salitre em implantar, desde o início, um
sistema de gestão ambiental residem na obtenção de benefícios
econômicos potenciais dele decorrentes. Entre eles, a satisfação
dos critérios dos investidores, cada vez mais exigentes nos aspec-
tos ambientais dos produtos e processos. O SGA oferece evidên-
cias transparentes de aplicação da legislação ambiental, o que
tende a facilitar o acesso ao capital, assegurando aos investidores
uma gestão ambiental demonstrável.
Outros benefícios potenciais incluem o fortalecimento da
imagem e a participação no mercado, o aprimoramento do contro-
le de custos, a demonstração de atuação cuidadosa, a facilitação
do processo de obtenção de licenças e autorizações, além de con-
tribuir para melhorar as relações do Projeto com o governo e com
a comunidade local.
Um sistema de gestão ambiental possui alguns elementos
para sua implementação. Em primeiro lugar, é preciso haver um
comprometimento da alta administração do Projeto. Em segundo,
deve haver um planejamento para perseguir a política ambiental
do Projeto. Finalmente, a implementação requer o desenvolvimen-
to de capacitação e os mecanismos de apoio necessários para
atender a essa mesma política, seus objetivos e suas metas am-
bientais definidas.
O Monitoramento é, assim, um instrumento de acompa-
nhamento e de avaliação do desempenho ambiental. Aos irrigantes
é necessário informar os impactos negativos, introduzindo práticas
adequadas de reciclagem, tratamento, mecanismos de controle,
uso eficiente de recursos, avaliação da qualidade da água, trata-
mento e aproveitamento de resíduos, gerenciamento da energia,
visando à prevenção e à minimização dos impactos ambientais.
124
2.6.3 - Proposta de um programa de capacitação
125
(i) Fundamentos de administração e economia
(ii) Contabilidade e análise de projetos
(iii) Estratégias empresariais
(iv) Capacitação técnica:
• Metodologia de Formação de Associações Comuni-
tárias.
• Treinamento em Operação e Manutenção de Perí-
metros.
• Marketing e Processamento de Produtos.
• Tecnologia de Sanidade Vegetal.
• Controle de Qualidade.
• Monitoramento ambiental.
126
6 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
127
128