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POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA

UM NOVO MODELO DE IRRIGAÇÃO

DOCUMENTO SÍNTESE

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POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA
UM NOVO MODELO DE IRRIGAÇÃO

DOCUMENTO SÍNTESE

Francisco Mavignier Cavalcante França


Coordenador

BANCO DO NORDESTE
Fortaleza - 2001

3
Obra publicada pelo

Diretoria
Presidente: Byron Costa de Queiroz
Diretores: Osmundo Rebouças, Marcelo Pelágio da Costa Bomfim,
Ernani José Varela de Melo e Raimundo Nonato Carneiro Sobrinho
Ambiente de Recursos Logísticos
Célula de Produção Gráfica
Av. Paranjana, 5.700 – Passaré
60740-000 Fortaleza – Ceará – Brasil
Fax: 299.3788
Internet: http://banconordeste.gov.br
Tiragem: 1.000 exemplares
Informações: Cliente Consulta: 0800.783030
E-mail: ren@banconordeste.gov.br
Coordenação Editorial: Ademir Costa
Revisão Vernacular: Antônio Maltos Moreira
Normalização Bibliográfica: Rita de Cássia Alencar
Depósito Legal junto à Biblioteca Nacional, conforme decreto n.º 1823,
de 20 de dezembro de 1907
Copyright © by Banco do Nordeste
Banco do Nordeste
B213 Políticas e estratégias para um novo modelo de irrigação: docu-
mento síntese/ Francisco Mavignier Cavalcante França, coordena-
dor. – Fortaleza: Banco do Nordeste, 2001.
128 p.
Equipe do Consórcio responsável pelo estudo: Plena Consulto-
ria de Engenharia Agrícola Ltda; Fundação Getúlio Vargas; Proje-
tos Técnicos Ltda (PROJETEC).
Documento síntese da Série Políticas e Estratégias Para um
Novo Modelo de Irrigação.
1 – Irrigação. 2 – Irrigação-Nordeste. 3 – Brasil - Política Nacio-
nal de Irrigação 4 – Projeto Salitre. 5 – Desenvolvimento do Nor-
deste. 6 – Agronegócio.

CDD: 631.587
Impresso no Brasil

4
Coordenador Geral do Estudo
Francisco Mavignier Cavalcante França

Equipe do Consórcio Responsável pelo Estudo


Plena Consultoria de Engenharia Agrícola Ltda.
Elias Teixeira Pires (Coordenador do Consórcio)
Eliseu Andrade Alves
José Luiz dos Santos Rufino
Mário Ramos Vilela
Paulo Severino de Rezende
Ruy Aderbal Rocha Ferrari

Fundação Getúlio Vargas


Ednéia da Silva Bezerra
Gregory Honczar
Guilherme Soria Bastos Filho
Ignez Guatimosim Vidigal Lopes
Mauro de Rezende Lopes
Nuno Monteiro Casassanta
Stivilane Dornelas

PROJETEC - Projetos Técnicos Ltda.


André Luiz da Silva Leitão
Fábio Chaffim Barbosa
Jaco Charcot Rios
João Joaquim Guimarães Recena
Luiz Alberto Teixeira

Equipe Técnica do Banco do Nordeste


Cláudio Vasconcelos Frota Francisco Mavignier Cavalcante França
Maurício Teixeira Rodrigues Rubens Sonsol Gondim

Comitê Gestor Interinstitucional


Rômulo de Macedo Vieira (Coordenador) - Ministério da Integração Nacional
Edson Zorzin - CODEVASF
Francisco Mavignier Cavalcante França - Banco do Nordeste
Guilherme Lincoln Aguiar Ellery - DNOCS
José Honório Accarini - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SPI)
Washington Aquino de Mendonça - Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (SEAIN)

5
Grupo de Apoio Técnico Interinstitucional

Francisco Mavignier Cavalcante França (Coordenador)


Artur Eustáquio R. Saabor - Ministério da Integração Nacional
Clésio Jean Almeida Saraiva - DNOCS
Edson Zorzin - CODEVASF
Euzébio Medrado da Silva - EMBRAPA
Humberto Leite Freitas Filho - Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (SEAIN)
José Honório Accarini - Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (SPI)
Manfredo Pires Cardoso - Secretaria de Agricultura e
Reforma Agrária da Bahia

Equipe do Banco Interamericano de Desenvolvimento


Francisco Basílio Souza (Coordenador)
Asako Yamamoto
Benard Darnel
Charles Smith
Fausto Medina-Lopez
Juan Luna-Kelser
Myriam Quintero
Valnora Leister

Equipe de Advisers (Consultores Independentes)


Alejandro Luis Seminario Duany - Peru Augustín A. Millar - Chile
Francisco de Souza - Brasil Jim Charles Bryon - EUA
John Wilkison - Brasil José Cruz Roche - Espanha
Juan Sagardoy - Itália Pablo Lalanda Carrobles - Espanha

Colaboradores:
Aluysio Antônio da Motta Asti, Armando Munguba Cardoso, Carlos Alberto
de Carvalho, Francis Puglise, Frederico Reis de Araújo, Hans Steinbichler,
José Airton Mendonça de Melo, José Bento Corrêa, José Eduardo
Borella, José Olimpio Rabelo de Morais, José Paulo Silveira, José
Raimundo Machado dos Santos, José William Araújo Sousa, Juscelino
Antonio de Azevedo, Laudo Bernardes, Leda Maria Marques Cavalcante,
Luís Carlos Ramos de Lima, Luiz Hildemar Colaço, Maria Lucinete
Valente, Otávio Gondim Pereira da Costa, Ricardo Lima de Medeiros
Marques, Roberto Duarte Vidal Silva, Rodrigo Magalhães Neiva Santos,
Valdir Castelo Branco, Yara Januzzi.

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APRESENTAÇÃO

O Nordeste brasileiro tem reconhecidamente as melhores condi-


ções para produção de frutas e hortaliças em todo o mundo, o que abre
grandes possibilidades para o desenvolvimento da agricultura irrigada na
Região. A relevância estratégica dessa atividade, que se destaca pela
geração de emprego, renda e divisas, inspirou a criação do projeto Novo
Modelo de Irrigação, no âmbito do Programa Avança Brasil, do Governo
Federal.
De caráter inovador, este projeto busca, principalmente, estimu-
lar o investimento privado em todas as fases do agronegócio da irriga-
ção, orientar a produção para as oportunidades de mercado e redirecio-
nar a participação do governo na atividade, priorizando os papéis de
indução, orientação, regulação e promoção. Objetiva, ainda, gerar siner-
gia entre a iniciativa privada e as esferas governamentais, garantir efici-
ência no uso e na gestão da água para irrigação, identificar novas fontes
e modelagens de financiamento e propor mecanismos para controle dos
impactos ambientais e sociais.
Diante da abrangência de objetivos, da importância estratégica e
do espírito inovador do Projeto, identificou-se a necessidade de elaborar
um estudo referencial para orientar os diversos organismos que estarão
envolvidos na implementação do Novo Modelo de Irrigação. A viabiliza-
ção de tão importante tarefa foi efetivada por meio da parceria entre o
Ministério do Planejamento e Gestão, Ministério da Integração Nacional,
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco do Nordeste.
Elaborado com a contribuição de mais de 1.500 especialistas
nacionais e internacionais em agronegócio da irrigação, este trabalho
consiste numa coleção composta dos seguintes volumes: 1 - A Impor-
tância do Agronegócio da Irrigação para o Desenvolvimento do Nordeste,
2 - Estado da Arte Nacional e Internacional do Agronegócio da Irrigação
2000, 3 - Modelo Geral para Otimização e Promoção do Agronegócio da
Irrigação e 4 - Modelo Específico para Otimização e Promoção do Proje-
to de Irrigação Salitre-Juazeiro da Bahia.
É com satisfação, pois, que o Banco do Nordeste traz a público
esse conjunto de estudos, como forma de disseminar, junto aos agentes
públicos e privados, as novas estratégias que irão dinamizar o agrone-
gócio da irrigação na Região, comprometendo-se, desde já, a incorporar
em suas políticas e programas as recomendações aqui apresentadas.

Byron Queiroz
Presidente do Banco do Nordeste

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8
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................... 07
1 - INTRODUÇÃO................................................................ 13
VOLUME 1 – A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO
DA IRRIGAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO
NORDESTE......................................................................... 17
1 - IMPORTÂNCIA DO SETOR AGRÍCOLA NA ECONOMIA
DO BRASIL E DO NORDESTE....................................... 18
1.1 - NA GERAÇÃO DE RIQUEZA....................................... 18
1.2 - NA GERAÇÃO DE EMPREGO..................................... 20
1.3 - NA GERAÇÃO DE DIVISAS ........................................ 20
2 - DESENVOLVIMENTO DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL
E NO NORDESTE .......................................................... 22
2.1 - Evolução da Área Irrigada no Brasil .......................... 22
2.2 - Evolução da Área Irrigada no Nordeste ..................... 24
2.3 - Importância da Agricultura Irrigada no Nordeste ...... 26
2.3.1 - Impactos sócio-econômicos ................................... 26
2.3.2 - Geração de emprego ............................................... 26
2.3.3 - Diversificação de culturas....................................... 27
3 - DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA 28
4 - IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA AGRICULTURA
IRRIGADA PARA O NORDESTE.................................... 32
VOLUME 2 – ESTADO DA ARTE NACIONAL E
INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO DA
IRRIGAÇÃO 2000................................................................ 34
1 - ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................... 35
2 - ESTADO DA ARTE NACIONAL - MARCO LEGAL ......... 37
2.1 - Principais Pontos da Política Nacional de Irrigação –
Lei da Irrigação .......................................................... 37
2.2 - Análise Conceitual da Atual Lei da Irrigação............. 42

9
3 - ANÁLISE GLOBAL E RECOMENDAÇÕES
DECORRENTES .............................................................47
VOLUME 3 - MODELO GERAL PARA OTIMIZAÇÃO E
PROMOÇÃO DO AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO DO
NORDESTE..........................................................................53
1 - IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO PARA O NORDESTE
E PARA O BRASIL ........................................................55
2 - SITUAÇÃO ATUAL DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL
E NO NORDESTE ...........................................................57
2.1 - O Papel do Setor Público na Irrigação........................57
2.2 - Mecanismos de Financiamento da Irrigação ..............58
2.3 - Mecanismos de Recuperação de Custos
e do Capital.................................................................58
2.4 - Situação dos Projetos Públicos de Irrigação
no Nordeste ................................................................59
2.4.1 - O foco na implantação de obras ..............................59
2.4.2 - Área implantada em produção e a ser
implantada ...............................................................60
2.4.3 - A gestão de operação e manutenção.......................60
2.4.4 - O processo de produção..........................................61
2.4.5 - A participação da iniciativa privada.........................63
3 - MARCO TEÓRICO DO NOVO MODELO
CONCEPTUAL.................................................................64
4 - POLÍTICA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO PROPOSTA ......66
4.1 - Diretrizes Gerais da Nova Política Nacional
de Irrigação.................................................................67
4.2 - O Regime Jurídico Proposto.......................................68
4.3 - Diretrizes Para Implantação de Projetos
de Irrigação.................................................................72
5 - INSTRUMENTOS DA NOVA POLÍTICA NACIONAL
DE IRRIGAÇÃO ..............................................................73
5.1 - Planejamento da Irrigação ..........................................73
5.2 - Gerenciamento da Política, Planos, Programas
e Projetos de Irrigação ...............................................74
5.2.1 - Amplitude do gerenciamento da irrigação ..............74
10
5.2.2 - Proposta de sistema gerencial aplicado ao
ambiente da gestão de irrigação ............................ 75
5.2.3 - Atribuições de cada ente gestor de projetos
públicos .................................................................. 77
5.2.4 - Sistemas de gerenciamento de projetos
de irrigação.............................................................. 80
5.3 - Sistema de Produção, Pós-Colheita, Distribuição e
Mercado ..................................................................... 82
5.3.1 - Sistema de gestão comercial .................................. 83
5.3.2 - Estratégias de mercado........................................... 84
5.3.3 - Sistema de informação de mercado........................ 85
5.3.4 - Sistema de informação tecnológica........................ 85
5.4 - SERVIÇOS DE APOIO................................................. 86
5.4.1 - Plataforma de informações ..................................... 87
5.4.2 - Assistência técnica/gerenciamento da produção... 88
5.4.3 - Pesquisa e desenvolvimento (P&D) ........................ 89
5.4.4 - Programa de capacitação em gestão ...................... 89
5.4.5 - Serviços de gerenciamento ambiental.................... 90
5.5 - Mecanismos Econômico-Financeiros........................ 90
5.5.1 - Fontes e mecanismos de financiamento ................ 91
5.5.2 - Descrição dos riscos financeiros............................ 95
5.5.3 - Estratégias para mitigar os riscos do negócio ....... 97
5.5.4 - Premissas norteadoras da participação do setor
público, esferas federal, estadual e municipal........ 98
VOLUME 4 - MODELO ESPECÍFICO PARA OTIMIZAÇÃO
E PROMOÇÃO DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SALITRE -
JUAZEIRO DA BAHIA....................................................... 100
1 - DESCRIÇÃO GERAL SOBRE O PROJETO SALITRE .. 101
1.1 - Abastecimento d’Água ............................................. 101
1.2 - Parcelamento da Área .............................................. 102
1.3 - Implantação do Projeto ............................................ 104
1.4 - Potencialidade de Produção Agrícola...................... 104
1.5 - Potencialidade do Projeto Salitre para
Agroindústria e Mercado Externo ........................... 104
1.6 - ESTUDOS AMBIENTAIS ........................................... 110

11
2 - RECOMENDAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO NOVO
MODELO CONCEPTUAL DE IRRIGAÇÃO NO PROJETO
SALITRE.......................................................................112
2.1 - Proposta para uma Plataforma de Informações .......112
2.2 - Diretrizes para um Plano de Negócios do Projeto
Salitre........................................................................114
2.3 - Diretrizes para um Plano de Promoção e Marketing ...115
2.4 - Mecanismos de Financiamento ................................116
2.4.1 - Infra-estrutura coletiva de irrigação.......................116
2.4.2 - Infra-estrutura parcelar ..........................................116
2.5 - GESTÃO DO PROJETO .............................................118
2.5.1 - Modelo de gestão para etapa - 1 do projeto Salitre ..118
2.5.2 - Modelo de gestão para etapas posteriores do
projeto Salitre ........................................................120
2.6 - SERVIÇOS DE APOIO................................................121
2.6.1 - Gerenciamento das pequenas empresas ..............122
2.6.2 - Monitoramento ambiental ......................................123
2.6.3 - Proposta de um programa de capacitação ............125
6 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA..........................................127

12
1 - INTRODUÇÃO

Entre os Projetos que constituem o Programa Avança Bra-


sil do Governo Federal, está o Projeto Novo Modelo de Irrigação.
O enfoque deste projeto considera a irrigação como negócio. E,
por isto, a sua base é a iniciativa privada, tanto na construção das
obras de infra-estrutura, na implantação e condução das ativida-
des agrícolas, de agroindustrialização e de comercialização, como
na busca de uma relação proativa com o ambiente externo, com
os atores da cadeia produtiva e com o governo.
Objetivando oferecer subsídios que assegurem a eficiência
do Projeto Novo Modelo de Irrigação frente aos novos cenários, o
Governo Federal, por meio do Banco do Nordeste, via concorrên-
cia internacional, contratou os serviços de consultoria do Consór-
cio PLENA-Consultoria de Engenharia Agrícola Ltda, Fundação
Getúlio Vargas (FGV), Projetos Técnicos Ltda (PROJETEC) para
desenvolver, validar e estabelecer as bases estruturais, conceptu-
ais e regulatórias, operacionais e financeiras do modelo, com en-
foque na região Nordeste do Brasil.
O estudo foi feito por uma equipe multidisciplinar de con-
sultores e empresários agrícolas, com conhecimentos amplos de
irrigação, desenvolvimento regional, administração pública, co-
mercialização, pesquisa e desenvolvimento agrícola, assistência
técnica, economia, meio ambiente, gestão de projetos públicos de
irrigação, entre outros temas.
Tratando-se do desenvolvimento de um modelo conceptual
de política de irrigação, o estudo envolveu a participação estreita
de vários atores da cadeia da agricultura irrigada, do Nordeste e
do Norte de Minas. Desde maio/99 até abril/2000, foram realiza-
dos vários eventos para discutir propostas de modelos e colher
subsídios dos vários segmentos da agricultura irrigada, além de
contatos e entrevistas com investidores da agricultura irrigada e
com investidores potenciais.
Paralelamente aos eventos citados, buscou-se também
subsídios na bibliografia nacional e internacional sobre os temas

13
ligados à irrigação. A revisão da literatura é apresentada no volu-
me que trata do Estado da Arte Nacional e Internacional do Agro-
negócio da Irrigação, no qual se identificaram os obstáculos e faci-
lidades encontrados e os correspondentes fatores causais, os
caminhos percorridos, para sua superação ou manutenção, bem
como a visão de futuro, que instituições e empreendedores têm da
agricultura irrigada.
Essa análise cobre 11 países com grande experiência em
irrigação, tanto privada como pública. Destacam-se os Estados
Unidos (EUA) na irrigação privada, na participação do setor públi-
co, do setor e transferência para organizações de agricultores, de
projetos públicos, o México, Colômbia e outros 8 países e, final-
mente, Chile, França, Espanha, EUA e Israel, que utilizam tecno-
logias sofisticadas de irrigação e de comercialização.
Na concepção do modelo, além dos subsídios oferecidos
pelos atores da cadeia do agronegócio da irrigação, do Nordeste e
Norte de Minas e daqueles obtidos da bibliografia nacional e inter-
nacional, beneficiou-se das visitas de alguns consultores aos EUA,
Colômbia, México, Chile, Argentina, Espanha, França e Israel.
Tais visitas objetivaram conhecer os problemas e as soluções
encontradas no que diz respeito a temas como irrigação, gestão
de perímetros, políticas governamentais e relações entre os elos
da cadeia produtiva do agronegócio da irrigação.
Discutiu-se uma proposta para uma política nacional de ir-
rigação, com base no Projeto Novo Modelo de Irrigação. Essa
proposta considera que, num mundo globalizado, a capacidade de
competir define as possibilidades de sobrevivência e de expansão
de mercado. Quem dominar a tecnologia de informação será
competitivo e crescerá. Considera, também, a irrigação como im-
portante instrumento de desenvolvimento, especialmente para o
Nordeste e Norte de Minas, pela sua capacidade de gerar renda,
emprego estável, divisas, ampliar ofertas de alimentos além de
fomentar a modernização do meio rural.
A proposta da Nova Política Nacional de Irrigação funda-
menta-se na participação do setor privado no agronegócio da irri-
gação. Está alicerçada nas sugestões de mudanças da legislação

14
de irrigação vigente (Lei n.º. 6662/79 e seus regulamentos), em
diretrizes de implantação e de planejamento da irrigação. Dá ba-
ses para o gerenciamento de políticas, planos, programas e proje-
tos. Mostra como deve ser um sistema mais avançado de produ-
ção, pós-colheita, distribuição e de mercado. Estabelece os fun-
damentos dos serviços de apoio, como plataforma de informação,
assistência técnica e gerenciamento da produção, Pesquisa &
Desenvolvimento, programa de capacitação em gestão, gerenci-
amento ambiental e de mecanismos econômico-financeiros.
A proposta de alteração na lei de irrigação vigente, se a-
provada, permite a associação do setor público com o privado
(projeto misto), cria condições para a iniciativa privada participar
da implantação dos projetos públicos de irrigação em forma de
concessão, e mesmo financiando-os. Define que, mesmo quando
o governo implanta o projeto público, somente pode operá-lo por
um período limitado. Em adição, o governo pode vender ou alugar
a infra-estrutura coletiva.
A proposta da Nova Política muda a diretriz dos projetos
públicos de irrigação até agora focados em obra, para a visão e de
agronegócio. Requer a promoção negocial do empreendimento, a
implantação de plataforma de informações e a sua divulgação em
escala nacional, visando atrair agricultores e empresas competen-
tes. Propugna pela organização dos produtores, visando uma co-
ordenação mais simétrica na cadeia do agronegócio. Propõe, ain-
da, um modelo de financiamento da agricultura que associa o cré-
dito rural a outros tipos de crédito e à gestão do negócio.
Neste documento encontra-se o Resumo Executivo do es-
tudo completo, englobando os quatros relatórios citados anterior-
mente, na forma que segue:
A Importância do Agronegócio da Irrigação para o De-
senvolvimento do Nordeste – Mostra a Importância do setor
agrícola na economia do Brasil e do Nordeste, faz uma descrição
do desenvolvimento da irrigação no Brasil e no Nordeste e discute
a importância da agricultura irrigada para o Nordeste.
Estado da Arte Nacional e Internacional do Agronegó-
cio da Irrigação 2000 –Apresenta, de forma global e holística, a

15
exploração agrícola irrigada, a partir da experiência de 11 países,
responsáveis por 35% da área irrigada no mundo, além de 6 pólos
de irrigação localizados no Nordeste Brasileiro e no Norte de Minas.
Modelo Geral para Otimização e Promoção do Agrone-
gócio da Irrigação – Discute a situação atual da irrigação no Bra-
sil e Nordeste onde enfoca o papel do setor público na irrigação,
mecanismos de financiamento da irrigação, mecanismos de recu-
peração de custos e do capital, entre outros. Apresenta o marco
teórico para desenvolvimento de uma nova política de irrigação, a
proposta de uma nova política de irrigação.
Modelo Específico para Otimização e Promoção do
Projeto de Irrigação Salitre – Juazeiro, BA – Descreve as prin-
cipais características do Projeto Salitre, sua potencialidade, e pro-
põe diretrizes para sua implementação com base em plataforma
de informações, plano de negócios, promoção e marketing, gestão
e serviços de apoio (assistência técnica/gerenciamento, monito-
ramento ambiental, programa de capacitação).

16
A IMPORTÂNCIA DO AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE

A agricultura tem dado, historicamente, uma inquestionável


contribuição ao processo de desenvolvimento do Brasil, partici-
pando na geração de emprego, renda e divisas. Assim, ao obser-
var o comportamento das regiões Sudeste e Sul, onde ocorreu
maior desenvolvimento dos setores industrial e de serviços, verifi-
ca-se que também sua agropecuária se destaca, em que pesem
os percalços econômicos que o país vem enfrentando de longa
data e que atingem mais agudamente o setor agrícola.
De outra parte, a região Nordeste vem apresentando cres-
cimento geral de seu Produto Interno Bruto (PIB) maior que o do
próprio País. Sua agropecuária, entretanto, tem participação de-
clinante no PIB regional, ainda que empregue mais de 80% de sua
população economicamente ativa.
Neste segmento procura-se discutir a importância da agri-
cultura regional, nela inserida a agricultura irrigada, tanto do ponto
de vista governamental, quanto privado, inclusive a importância
estratégica da irrigação para o desenvolvimento do Nordeste.

17
1 - IMPORTÂNCIA DO SETOR AGRÍCOLA NA ECONOMIA
DO BRASIL E DO NORDESTE

A agricultura brasileira tem, no passado, no presente e te-


rá, certamente, no futuro, relevantes contribuições a dar ao de-
senvolvimento econômico e social do Brasil. No passado, contri-
buiu decisivamente, por meio das funções clássicas, para prover
de alimentos baratos as populações urbanas, liberar mão-de-obra
para a indústria crescente, gerar divisas, via exportação de exce-
dentes, e ainda capital para o processo de industrialização.
O processo de modernização da agricultura provocou mu-
danças radicais no sistema interno de produção e no seu relacio-
namento com os setores industriais, situados antes e depois da
porteira, dando corpo ao conceito de agronegócio ou complexo
agroindustrial, envolvendo a atividade de produção agrícola pro-
priamente dita (lavouras, pecuária, extração vegetal), aquelas li-
gadas ao fornecimento de insumos, às relacionadas com o pro-
cesso agroindustrial e às que dão suporte ao fluxo de produto até
à mesa do consumidor final. Esse enfoque de agronegócio tem
implicações profundas na organização econômica do Brasil, pois,
por meio dele, revela-se a real dimensão estratégica da agricultura
brasileira, que não pode ser mais vista como uma atividade estan-
que, cujo valor adicionado representa uma pequena e decrescente
parcela do Produto Interno Bruto (PIB), com o avanço do desen-
volvimento econômico, mas, sim, como centro dinâmico de um
conjunto de atividades econômicas, capaz de gerar riqueza, em-
prego e divisas.

1.1 - Na Geração de Riqueza

O PIB brasileiro foi de US$ 775,7 bilhões, em 1998, tendo


crescido 17,37%, no período 90/98, e apresentado tendência as-
cendente a partir de 1992, havendo, entretanto, redução no seu
valor em 3,3% em relação a 1997.
O PIB do setor agropecuário, no conceito de "dentro da
porteira", ao contrário, apresentou tendência descendente a partir
de 1993, menos em 1998, mantendo, entretanto, participação va-

18
riável da ordem de 8 a 10%. Por outro lado, quando se calcula o
PIB agropecuário de forma sistêmica, ou seja, agregando os elos
da cadeia do agronegócio, a sua participação passa a ser 40%,
transformando-o na atividade econômica mais importante do país.
Calculada sobre o valor do PIB dos últimos 3 anos, essa participa-
ção se aproxima dos US$ 300 bilhões, anualmente.
No entendimento de alguns estudiosos, esta visão sistêmi-
ca enseja melhor compreensão do funcionamento da atividade
agropecuária, mostra sua real dimensão, auxiliando os tomadores
de decisão a formular políticas com mais foco e maior probabilida-
de de sucesso. Essa visão rompe com a análise segmentada, que
muitas vezes perde informações importantes sobre o encadea-
mento das ações. É que a agroindústria e uma série de serviços
de armazenamento, transporte e beneficiamento, além da indús-
tria de insumos, máquinas e equipamentos, não existiriam sem a
agropecuária.
Os índices do PIB desagregados por região geográfica,
confirma a grande concentração da riqueza nacional na região
Sudeste, que representa, em média, 60% do total, no período ana-
lisado, enquanto a região Nordeste participa, em média, com
12,5% do PIB do País.
Por outro lado, analisando os dados desagregados por re-
gião e setor, vê-se que todas as regiões, no período analisado,
90/98, cresceram no setor da agropecuária (visão segmentada),
exceção feita ao Nordeste, que apresentou pequenas oscilações,
mas com pequena queda no período, mantendo um participação
relativa aproximada de 10% do PIB regional no período em análi-
se, diferentemente do comportamento observado nos seus dois
outros setores.
O setor agropecuário, apesar de todas as dificuldades que
lhe são inerentes, em vista das incertezas e riscos por que pas-
sam as atividades da agricultura e daquelas que lhe são impostas
por políticas macroeconômicas, no mais das vezes, desfavoráveis,
vem cumprindo seu papel, gerando riquezas, pois é responsável
por 40% do PIB nacional, numa visão sistêmica e moderna de
agronegócio.

19
1.2 - Na Geração de Emprego

Para se analisar corretamente a importância da participa-


ção da agricultura na geração de emprego, a visão de integração
da agricultura também é de suma importância. A produção agríco-
la propriamente dita empregou cerca de 16,7 milhões de pessoas
em 1997, o que representa 22,3% da População Economicamente
Ativa (PEA) do Brasil. Se este número, por si só, é muito repre-
sentativo, estudiosos sustentam que, para cada ocupação na pro-
dução agrícola corresponde uma outra ocupação no restante do
agronegócio, o que significa mais ou menos 33,4 milhões de em-
pregos gerados, correspondendo a 44,6% da PEA brasileira.
Em termos de região Nordeste a agricultura é absoluta-
mente fundamental. Nessa região, a agricultura, no seu conceito
convencional de "dentro da porteira", empregava 8,2 milhões de
pessoas, o equivalente a 38,7% da PEA regional e a 48,8% da
PEA do setor agrícola de todo o Brasil em 1997. Quando analisa-
da a participação das diversas atividades econômicas, no Nordes-
te, na absorção da população economicamente ativa, verifica-se
que 41,4% do total ocupado está na agricultura, no conceito de
atividade direta, sendo pequena a contribuição da indústria e ser-
viços. Ademais, se considerado o agronegócio, este empregava
no Nordeste cerca de 83% da população ocupada e 77% do total
da população economicamente ativa em 1997.

1.3 - Na Geração de Divisas

O setor agropecuário tem contribuído fortemente para a


geração de divisas para o país. Historicamente, a participação da
pauta agrícola na balança comercial brasileira foi sempre muito
significante. Em 1970, ela chegou a representar 74,1% do total
das exportações. Embora tenha decrescido sua participação rela-
tiva, em função do processo de industrialização e da diversificação
da pauta de exportações, a agricultura brasileira no período 70/98
contribuiu ainda, expressivamente, com cerca de 32% do total
exportado. Por outro lado, a participação das importações agríco-
las, nesse período, é menor que 11%. Entre 1970 e 1998, o saldo

20
da balança comercial brasileira atingiu US$ 99,3 bilhões, enquanto
o do setor agrícola foi de US$ 130,6 bilhões, sendo, pois, o grande
responsável pela geração de divisas no país.
A distribuição espacial das exportações brasileiras mostra
uma concentração, assim como no PIB, na região Sudeste, repre-
sentando cerca de 58% do total exportado em 1998, passando este
índice para mais de 82%, quando somada a região Sul, restando ao
Nordeste brasileiro a contribuição de 8% do total exportado.
Com este vasto potencial de participação no desenvolvi-
mento econômico brasileiro (gerador de riquezas, divisas e em-
prego), a agricultura – como força motriz do agronegócio – tem o
seu cenário futuro delineado em um novo ambiente, hoje marcado
pela abertura econômica, esperando que o Estado desempenhe
seu papel de incentivador e moderador.

21
2 - DESENVOLVIMENTO DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL E
NO NORDESTE

2.1 - Evolução da Área Irrigada no Brasil

Com exceção das áreas de arroz inundado e faixas ribeiri-


nhas restritas, a produção por meio de cultivos irrigados, no Brasil,
é relativamente recente. A sua evolução deu-se em 4 fases
(GRÁFICO 1), estimando-se que, em 1998, a área irrigada no país
era de 2.870.000 hectares.

GRÁFICO 1
EVOLUÇÃO DAS ÁREAS IRRIGADAS NO BRASIL

FONTE: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), 1999.

A Primeira fase, iniciada na metade do último quartel do


século XIX, estendeu-se até a metade da década de 60 deste
século, tendo-se a atuação, no domínio da irrigação, pautado por
ações isoladas e tópicas, concentradas na esfera federal dirigidas
para alvos específicos, sem a correspondente estrutura de políti-
cas ou de programas nacionais.

22
A segunda fase iniciou-se em fins dos anos 60, com a cri-
ação do Grupo de Estudos Integrados de Irrigação e Desenvolvi-
mento Agrícola (GEIDA), cujas orientações produziram efeitos até
o final da primeira metade dos anos 80. Buscou-se a ampliação do
conhecimento global sobre os recursos naturais disponíveis e pela
concepção e implementação de programas nacionais, como o
Programa Plurianual de Irrigação (PPI). Criaram-se oportunidades
para atração da iniciativa privada na esfera da irrigação e drena-
gem, a concepção de “lotes empresariais” nos projetos públicos
de irrigação, consolidado no Projeto do I Plano Nacional de Irri-
gação, calcado em ações comandadas pelo setor público, mas
claramente pautadas pelo estímulo à iniciativa privada.
A terceira fase caracterizou-se pela instituição do Progra-
ma de Irrigação do Nordeste (PROINE) e do Programa Nacional
de Irrigação (PRONI), ambos em 1986. Essa fase, marcada por
decisões adotadas em função de prioridades estabelecidas pelo
governo federal, em articulação com o setor privado, implementa-
ção de projeto subsetorial de irrigação com infra-estrutura de a-
poio à iniciativa privada, com divisão mais clara de papéis entre o
setor público e a iniciativa privada, no desenvolvimento de proje-
tos de irrigação, restringindo-se a ação do governo à execução de
obras coletivas de grande expressão (suporte hidráulico, elétrico e
macrodrenagem), cabendo à iniciativa privada as demais provi-
dências para a sua consecução.
A quarta fase considerou que as várias iniciativas postas
em prática, ao longo dos últimos 50 anos, deveriam ser redirecio-
nadas a nova orientação consubstanciada na Política Nacional
de Irrigação e Drenagem, denominada, na fase executiva, de
Projeto Novo Modelo de Irrigação.
Conforme mostrado, a área total irrigada no Brasil é esti-
mada em 2.870.244 ha, com forte concentração nas regiões Sul e
Sudeste, que representam 72,7%. Somente o Rio Grande do Sul,
voltado para a produção de arroz, é responsável por 35% da área
irrigada no país.
O Nordeste brasileiro respondia por 17,26% da área irriga-
da no país, em 1998.

23
No início da década de 90, houve estagnação na área irri-
gada em decorrência da retirada de algumas linhas de crédito
específicas à irrigação, principalmente na região Sul, Sudeste e
Centro-Oeste como Programa de Aproveitamento das Várzeas
Irrigadas (PROVARZEAS) e Programa de Financiamento para
Equipamentos de Irrigação (PROFIR), da inexistência de patama-
res de juros indutores à adesão da iniciativa privada e das refor-
mas administrativas, resultando em indefinições governamentais
para o subsetor de irrigação.
O crescimento observado no período de 96/98 deveu-se à
expansão da irrigação privada, nos cultivos de fruticultura, grãos e
café, notadamente nos Estados da Bahia (regiões Oeste e Sul do
Estado), Norte do Espírito Santo, Norte e Alto Paranaíba, em São
Paulo, em Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Pernambuco e no
cultivo do arroz irrigado no Sul.

2.2 - Evolução da Área Irrigada no Nordeste

A análise específica à irrigação no Nordeste é importante,


uma vez que, de todas as regiões do Brasil, é a que apresenta
características de déficit hídrico para as plantas, em condições
normais, com índice pluviométrico baixo e distribuição irregular
das chuvas, tornando a irrigação uma tecnologia fundamental para
a agricultura da região, a qual, constitui-se na sua principal ativi-
dade econômica, com relação a absorção de mão-de-obra.
As primeiras tentativas de levar-se o benefício da irrigação
ao semi-árido ocorreram na década de 40, pelo hoje Departamen-
to Nacional de Obras Contra as Secas, com a construção de
grandes açudes e canais de irrigação.
No Vale do São Francisco, em 1943, foi implantado no Mu-
nicípio de Petrolândia, Pernambuco, o Núcleo Agroindustrial São
Francisco, pela extinta Divisão de Terras e Colonização do Ministé-
rio da Agricultura, onde foram iniciados os primeiros plantios de
cebola irrigada nos aluviões do submédio São Francisco (hoje, es-
se núcleo está submerso pelo lago da Barragem de Itaparica). Com
a criação da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), em

24
1948, o aproveitamento dessas terras com irrigação foi ampliado
com outras culturas, como: o melão, a uva, dentre outras.
A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Su-
dene) criada em 1959, com a missão de aglutinar ações, visando,
entre outras, o aproveitamento racional dos recursos de água e
solo na região, conferiu efetiva prioridade ao desenvolvimento da
agricultura irrigada e à criação do GEIDA.
O GEIDA realizou o primeiro e amplo estudo das possibili-
dades de irrigação no semi-árido, determinando a viabilidade téc-
nico-econômica de 73 projetos, sendo 62 localizados no Nordeste,
e traçou as diretrizes de uma política de irrigação, que vieram a
constituir a primeira fase do Plano Nacional de Irrigação.
Em 1972 iniciou-se a formulação de Planos Nacionais de
Desenvolvimento (PND’s). No I PND (1972-1974), foi estabelecida
a meta de se irrigarem 40 mil hectares.
O II PND (1974-1979) admitiu que o Nordeste brasileiro,
“a despeito de possuir volume de água acumulado em açudes e
áreas com um elevado potencial de águas subterrâneas, não tem
usado convenientemente os recursos disponíveis para fins de
irrigação”. As áreas de lavoura irrigada no Nordeste, cerca de
11.330 ha, representavam muito pouco em relação ao que se
podia fazer na região.
O I Plano Nacional de Irrigação (PNI), elaborado em 1982,
previa a continuidade das ações do Governo Federal, com ênfase
nos grandes projetos públicos de irrigação, que já vinham sendo
implantados pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
(DNOCS) e pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (CODEVASF), porém previa o estímulo ao desenvolvi-
mento da irrigação privada em pequena escala, mediante a con-
cessão de crédito especial e a utilização de recursos a fundo per-
dido para obras de infra-estrutura.
O primeiro texto legal sobre irrigação no Brasil data de 25
de junho de 1979, com a edição da Lei n.º 6.662 – a Lei de Irriga-
ção (Brasil, 1979). Sua regulamentação, no entanto, só ocorreu

25
em 29 de março de 1984, mediante a edição do Decreto n.º
89.496 (Brasil, 1984).
Ao longo dos anos, a atuação pública e privada incorporou
mais de 495.000 hectares irrigados do Nordeste, sendo os proje-
tos públicos responsáveis por 28% dessa área.

2.3 - Importância da Agricultura Irrigada no Nordeste

2.3.1 - Impactos sócio-econômicos

A agricultura irrigada, trabalhando com tecnologia de pon-


ta, em região semi-árida que apresenta condições climáticas favo-
ráveis de temperatura e luminosidade, constitui-se num agronegó-
cio e, como tal, transforma-se, via de regra, no principal indutor do
processo de desenvolvimento regional.
Com efeito, são visíveis as transformações regionais, ala-
vancadas pelo uso da tecnologia de irrigação, nos pólos Petroli-
na–Juazeiro, Norte de Minas (Janaúba), Sul da Bahia e outros. No
entanto, faltam ainda, mais estudos de avaliação desses impactos
e suas causas fundamentais, em regiões que lançam mão da irri-
gação para transformar sua economia agrícola e regional.
Alguns estudos realizados mostram que a agricultura irri-
gada promove alterações favoráveis no PIB regional, refletido na
diminuição do fluxo migratório rural-urbano, no aumento do PIB
per capita e no crescimento demográfico mais equilibrado. Enfim,
contribui para a redução da pobreza.

2.3.2 - Geração de emprego

A agricultura irrigada no Nordeste, como já comentado, de-


vido às condições climáticas, ali imperantes, permite o uso inten-
sivo do solo, com cultivos durante todo o ano, ao contrário da a-
gricultura irrigada no Sul do país, voltada basicamente para a mo-
nocultura do arroz e desenvolvida apenas num período do ano.
A capacidade de geração de emprego da agricultura irriga-
da, na região do semi-árido, pode ser verificada por meio de al-

26
guns estudos e relatórios que permitem avaliar o potencial de ge-
ração de empregos diretos e indiretos a partir do agronegócio da
irrigação. Naturalmente que os dados apresentam variações, que
são conseqüência do tipo de explorações existentes no período da
análise, pois cada cultura tem uma demanda específica de neces-
sidade de mão-de-obra. Pode-se afirmar, com base nos dados
citados e pela experiência do Consórcio, em várias condições de
agricultura irrigada, que 1 hectare irrigado gera de 0,8 a 1,2 em-
prego direto e 1,0 a 1,2 indireto, de forma consistente e estável,
contra 0,22 empregos diretos na agricultura de sequeiro, na região
semi-árida.

2.3.3 - Diversificação de culturas

A região Nordeste oferece condições de clima, luminosida-


de e temperatura, durante todo o ano, favorável ao desenvolvi-
mento de várias culturas, quando sob irrigação.
Identifica-se um grupo de mais de 25 culturas, com pacote
tecnológico sendo utilizado e, portanto, comprovado, com bom
nível de produtividade, como: abacaxi, limão, manga, banana,
uva, feijão, cebola etc.
É importante frisar que a maioria delas apresenta, nos
principais centros consumidores, sazonalidade de oferta e preço,
decorrente de a produção ser originária de regiões que produzem
sob regime de sequeiro. As áreas irrigadas do Nordeste, por terem
condições de produzir durante todo o ano, poderão planejar seus
plantios e formas de condução das lavouras, de modo a reduzir o
efeito dessa sazonalidade, permitindo aos consumidores desfruta-
rem de produtos todo o ano, a preços mais estáveis.
Além disso, a agricultura irrigada no Nordeste poderá pro-
vocar o surgimento de agroindústrias, a partir da estabilidade da
oferta ao longo do ano.

27
3 - DESEMPENHO DA IRRIGAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA

Anteriormente, foi relatado um pouco da história do desen-


volvimento da irrigação no Brasil, que será complementada neste
capítulo, com uma análise do desempenho da irrigação tanto pú-
blica quanto privada.
No caso específico da irrigação privada, normalmente loca-
lizada em terras com condições mais favoráveis de solo, topogra-
fia e disponibilidade de água, a participação governamental se
restringe à dotação de infra-estrutura de energia, estradas e, em
algumas situações, trabalhos de macrodrenagem e obras de pro-
teção de cheias. Na década de 80, houve forte apoio creditício,
tornando disponíveis recursos creditícios a juros subsidiados. Es-
se segmento representava cerca de 95% da área irrigada no Bra-
sil em 1998, principalmente concentrado nas regiões Sudeste, Sul
e Centro-Oeste.
No caso da irrigação pública no Nordeste brasileiro e no
Norte de Minas a localização das áreas a serem irrigadas implica
um custo maior, com obras de derivação, armazenamento, capta-
ção e distribuição de água, em conseqüência de situar-se em á-
reas com condições não tão privilegiadas quanto as da iniciativa
privada. Quase sempre, há também necessidade da intervenção
governamental na estruturação fundiária do projeto e sua partici-
pação direta no processo de reorganização fundiária.
Também na infra-estrutura de energia, estradas, obras hi-
dráulicas coletivas e apoio creditício na execução dos sistemas
parcelares de irrigação, é necessária a participação do governo,
bem como no inicio da operação do sistema hidráulico coletivo,
com apoio tanto técnico como de material e equipamento.
A irrigação pública representa em torno de 5% da área irri-
gada do país, porém, é responsável por mais de 28% da área irri-
gada no Nordeste, região que, além das condições mais adversas
de clima, quanto à distribuição e quantidade de chuvas, tem os
solos aptos para irrigação distante da fonte hídrica, exigindo, as-
sim, a construção de barragens ou açudes com acumulação de

28
volume de água suficiente para atender à produção ou a grandes
distâncias de condução da água, a partir de sua fonte de captação.
A irrigação pública, no Nordeste Brasileiro e no Norte de
Minas, vem sendo a grande responsável pela transformação em
agricultura irrigada, como vem ocorrendo com fruticultura, nota-
damente no Vale do São Francisco, além de contribuir como ele-
mento propulsor pelo desenvolvimento da irrigação privada na
citada região, pois:
• revela as viabilidades técnicas e econômicas dos proje-
tos, a partir de estudos de solo e água, realizados pelas
instituições governamentais envolvidas em promover a
irrigação na região, criando informações importantes pa-
ra a iniciativa privada;
• permite que áreas irrigáveis, distantes das fontes
provedoras de água, possam ser incorporadas à
agricultura irrigada. A superação de tais distâncias
representa custo muito elevado para a iniciativa privada,
o que, portanto, limitaria a expansão da área irrigada no
semi-árido;
• permite a formação de estoque estratégico de água (por
meio de barramentos e açudagem), em regiões com sé-
rios problemas de disponibilidade hídrica, para expan-
são da agricultura;
• cria condições para que a iniciativa privada conheça e
teste a aplicação de tecnologia de ponta na redução de
risco tecnológico e no desenvolvimento de cultivos de
maior densidade e valor econômico, como o da uva,
manga, banana, praticamente introduzidos na região
Nordeste, inicialmente em perímetros públicos de irriga-
ção, pela iniciativa privada.
Apesar de todas as dificuldades, a literatura existente, as
observações in loco e os contatos com liderança do setor, mos-
tram que os programas e projetos públicos e privados, desenvol-
vidos no subsetor de irrigação, promoveram aumento significativo

29
de renda e emprego a montante e a jusante deles, com efeitos
altamente positivos sobre as economias regionais e locais.
Tais dificuldades são mais sentidas na região semi-árida,
onde os empresários têm introduzido culturas de alto custo de
produção, com pouca ou nenhuma informação tecnológica, tais
como: a de uva, manga, banana, goiaba, coco, melão, melancia,
entre outras.
Os principais pontos que limitaram o maior desenvolvimen-
to da agricultura irrigada foram:
• ausência de ação coordenada e estruturada entre as
obras de irrigação e a estrutura de produção;
• ausência de política de crédito rural para custeio voltada
ao atendimento das condições de agricultura irrigada,
permitindo que a atividade se desenvolva durante todo
o ano, já que ela tem um custo diferenciado de agricul-
tura de sequeiro, além de permitir cultivo em épocas
não tradicionais sob condições de sequeiro;
• ausência de ação mais intensa de pesquisa, notada-
mente, voltada para a busca de alternativas de espécies
e cultivares adaptados, além de tecnologia de manejo
água+solo+planta para as várias condições regionais;
• ausência de um programa estruturado, voltado para
mercado externo, principalmente para frutas tropicais,
priorizando: área e produtos, marketing e promoção de
sua qualidade, conhecimento das exigências dos dife-
rentes mercados quanto aos aspetos de fitossanidade e
resíduos químicos, estudos e definições de "áreas li-
vres", preparação do pessoal técnico, organização de
empresas para controle da qualidade para atendimento
a diferentes tipos de mercado;
• ausência de programa para aproveitamento do potencial
de mercado interno de frutas e olerícolas, principalmen-
te nos últimos cinco anos;

30
• falta de continuidade das políticas de irrigação, com
planejamento, a longo prazo, para o desenvolvimento
do setor, que sofressem apenas os ajustamentos nor-
mais nas mudanças de administração do setor público;
• no caso mais específico à irrigação em perímetros pú-
blicos, além das limitações citadas anteriormente, outras
contribuíram, podendo ser citadas:
- atraso no cronograma de execução das obras, prin-
cipalmente devido a contingenciamentos dos crono-
gramas financeiros, e que também provocam retar-
damento no assentamento dos irrigantes e conse-
qüentemente no processo de produção;
- ênfase maior aos projetos e sistemas de engenharia
(barragens, canais, adutoras, estações de bombea-
mento etc.) em detrimento da agricultura irrigada;
- existência de dispositivos legais que têm privilegiado
um processo de seleção de irrigantes pouco eficien-
te, com assentamento de algumas pessoas sem ca-
pacidade gerencial, exigindo forte participação go-
vernamental no processo de operação e manutenção
das obras hidráulicas coletivas, apesar da evolução
positiva verificada a partir de meados dos anos 80,
com maior evolução por parte da CODEVASF e pou-
co avanço do DNOCS;
- falta de capacidade gerencial à maioria das organi-
zações de produtores nos perímetros.

31
4 - IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA AGRICULTURA
IRRIGADA PARA O NORDESTE

A irrigação tem importante papel a cumprir no Nordeste se-


mi-árido (incluindo-se também o Norte de Minas Gerais), garantindo
à atividade agrícola sustentabilidade econômica, minimizando so-
bretudo o risco tecnológico, representado pela escassez de água.
O Nordeste semi-árido, com um potencial de área apta para
irrigação de mais de 2,4 milhões de ha irriga pouco mais de
490.000 ha. Tem na atividade agropecuária a responsabilidade por
10% do PIB regional e pelo aproveitamento de 77% da população
econômicamente ativa. Ao conviver com uma instabilidade climática
(distribuição irregular e quantidade insuficiente de precipitação plu-
viométrica), tem na agricultura irrigada uma opção estratégica im-
portante no processo de desenvolvimento setorial e regional.
Com efeito, o desenvolvimento dessa atividade na região
(como indutora de modernização agrícola e agroindustrializa-
ção) permitirá que seja desencadeada uma série de benefícios,
tais como:
• Geração de divisas - com a implantação de um pro-
grama de fruticultura irrigada com frutas tropicais, de
forma sistematizada, tecnificada e organizada, buscan-
do participação num mercado mundial avaliado em qua-
se US$ 2 bilhões/anuais.
• Abastecimento interno de hortícolas - com implemen-
tação de uma agricultura tecnificada, programada e or-
ganizada por região, que possa minimizar o efeito da
sazonalidade de oferta e de preços (as condições de
temperatura, luminosidade, umidade do ar permitem o
cultivo de várias olerícolas e frutícolas durante todo o
ano), que poderá atender ao mercado interno de várias
olerícolas e frutícolas, avaliado em 1998 para os 10
mais importantes Estados Brasileiros em US$ 4,4 bi-
lhões e estimado para o ano 2030 em US$ 5,9 bilhões.
Dados de estudos do Ministério da Integração Nacional

32
mostram que apenas no setor supermercadista, o valor
das hortifrutícolas representaram transações de R$ 5,6
bilhões em 1998.
• Abastecimento interno de grãos/fibras - com a im-
plementação de uma agricultura tecnificada, organizada
por região, para minimizar a necessidade de importa-
ções anuais de mais de US$ 1,6 bilhão em algodão, ar-
roz, feijão e milho.
• Geração de emprego - com a implementação de uma
agricultura irrigada, que permite produção durante todo
o ano, podendo gerar, na cadeia do agronegócio, pelo
menos 2 empregos para cada hectare irrigado e, com
isso, ajudar a mitigar a migração intra e inter-regional.
• Expansão do PIB Regional - a agricultura irrigada
nordestina poderá participar positivamente, conforme os
estudos já aqui relatados, da alteração positiva do PIB
regional e PIB per capita e, com isso, reduzir as diferen-
ças regionais.
• Melhoria na qualidade de vida - o desenvolvimento do
agronegócio irrigado influencia positivamente os seto-
res de comércio, indústria e serviços e, por via de con-
seqüência, promove uma melhoria na qualidade de vi-
da, em geral, refletida nos aspetos de saúde, moradia
e educação.

33
ESTADO DA ARTE NACIONAL E INTERNACIONAL DO
AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO 2000

O Relatório do Estado da Arte da Irrigação contém um di-


agnóstico prospectivo e uma análise entre as muitas e complexas
questões que envolvem a agricultura irrigada na visão de agrone-
gócio, com destaque para os aspectos de organização da produ-
ção, comercialização e serviços de apoio.
Busca subsídio sobre a relação moderna entre o setor pú-
blico e privado em projetos públicos, notadamente no processo de
gerenciamento desses projetos. Analisa o marco legal que dá a-
poio a irrigação, no Brasil e em vários outros países.
A análise do Estado da Arte das políticas e instrumentos
de promoção da agricultura irrigada, da implantação e gerencia-
mento de projetos, onde o setor público foi e continua sendo inci-
sivo, cobriu 11 países e 6 pólos de irrigação do Nordeste.
Os 11 países analisados têm grande experiência em irriga-
ção. Junto com o Brasil, respondem por mais de 35% da área irri-
gada no mundo. Os países analisados foram: EUA, Chile, França,
Espanha, Argentina, Peru, Colômbia, México, China, Israel e Áfri-
ca do Sul.
Os pólos de irrigação do Nordeste do Brasil analisados a-
presentam grande experiência e diversidade com agricultura irriga-
da. Neles estão situados 73% da área irrigada em projetos públicos.
Os pólos analisados foram: Petrolina-Juazeiro, Norte de Minas,
Oeste Baiano, Açú-Mossoró, Baixo Jaguaribe e Alto Piranha.
Neste resumo, apresenta-se a metodologia de trabalho,
o marco legal brasileiro e a análise global e recomendações
decorrentes.

34
1 - ASPECTOS METODOLÓGICOS

Este relatório se reveste de grande importância, visto que


apresenta um elenco de experiência que subsidiará a proposta
das bases estruturais, conceptuais, regulatórias, operacionais e
financeiras, que permitirá a implementação do Projeto Novo
Modelo de Irrigação na Região Nordeste do Brasil e Norte de
Minas, com a visão de agronegócio. O foco deste estudo permeou
também a necessidade de estimular o investimento privado no
desenvolvimento da agricultura irrigada (numa visão de cadeia
produtiva) e reorientar a participação do governo (orientação,
regulação, promoção, dentre outros).
O Estudo foi desenvolvido numa visão holística e global,
contemplando a irrigação pública e privada, com vistas ao peque-
no, médio e grande irrigante, de forma individual e de suas organi-
zações, o gerenciamento de perímetros públicos de irrigação, as
questões relacionadas ao mercado, processo de comercialização,
insumos, crédito rural, entre outros temas. Analisou-se o contexto
e recolheram-se lições e aplicações mais relevantes.
O Estudo foi realizado utilizando-se as seguintes estraté-
gias metodológicas:
• Identificaram-se aqueles países com as mais diversas
experiências com irrigação, a exemplo dos Estados U-
nidos, com histórico em participação privada; o México e
Colômbia, com participação pública e transferência para
organizações dos produtores; e aqueles com forte es-
quema organizacional para mercado (Chile, França, Es-
panha e EUA). Foram escolhidos 11 países, que soma-
dos ao Brasil, respondiam por 35% da área irrigada no
mundo, em 1990.
• Identificou-se a concentração de projetos públicos e pri-
vados de irrigação no Nordeste e Norte de Minas e es-
tudam-se os 6 principais Pólos, onde se concentram
73% da área irrigada pública do Nordeste do Brasil e
Norte de Minas. Nestes Pólos há forte atuação de enti-

35
dades governamentais e privadas no processo de de-
senvolvimento, onde já se nota uma definição clara da
potencialidade da agricultura irrigada frente ao mercado.
• Realizou-se um seminário em cada Pólo selecionado,
com 243 participantes, entre produtores, agroindustriais,
representantes de empresa de insumos, de comerciali-
zação, agentes financeiros, órgãos públicos, e centros
de pesquisas, objetivando coletar informações sobre as
características de cada Pólo e subsídios sobre a estra-
tégia de participação privada e papel do governo.
• Realizou-se uma análise detida da bibliografia nacional
e internacional sobre os mais variados temas como: re-
cuperação de investimentos públicos, tarifação de água,
plataforma de negócios, visão de mercado, marco legal
e institucional.
• Utilizou-se a experiência da equipe de consultores do
Consórcio, quer como produtor de agricultura irrigada,
ex-gestores públicos, quer como técnicos, e também as
observações decorrentes de visitas realizadas por estes
consultores nos últimos anos, para conhecer aspectos
ligados a projetos de irrigação, gestão de perímetros,
políticas governamentais, cadeia produtiva, entre outros
temas. Os países visitados foram: EUA, México, Colôm-
bia, Chile, Argentina, Espanha, França e Israel.

36
2 - ESTADO DA ARTE NACIONAL - MARCO LEGAL

Entre os vários assuntos estudados devido a sua impor-


tância, apresenta-se neste capítulo um resumo da analise realiza-
da sobre o Marco Legal da Irrigação no Brasil.
O desenvolvimento de atividades voltadas à irrigação no
Brasil, em especial a implantação de projetos públicos, no que
tange aos aspectos legais, repousa sobre três eixos básicos:
• a Política Nacional de Irrigação instituída pela Lei n.º
6.662, de 25/06/79, e toda regulamentação e normas
decorrentes (Brasil, 1979);
• a Política Nacional do Meio Ambiente, ditada pela Lei
n.º 6.938, de 31/08/81, também com ampla regulame n-
tação e dispositivos normativos definidos inclusive pelos
Estados; e, finalmente,
• a Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecida
pela Lei n.º 9.433, de 08/01/97, ainda não tota lmente
regulamentada (Brasil, 1997).

2.1 - Principais Pontos da Política Nacional de Irrigação


– Lei da Irrigação

Os principais pontos da política nacional de irrigação vigen-


te estão descritos a seguir:
a) Os projetos de irrigação estão assim definidos pelo art. 8º da
Lei de Irrigação (Brasil, 1979):
• Públicos: “aqueles cuja infra-estrutura de irrigação é
projetada, implantada e operada, direta ou indiretamen-
te, sob a responsabilidade do Poder Público”.
• Privados: “são aqueles cuja infra-estrutura de irrigação é
projetada, implantada e operada por particulares, com ou
sem incentivos do poder público” e acrescenta que os
“projetos privados que pretendem beneficiar-se dos in-

37
centivos do Poder Público deverão ser analisados e a-
provados pelo Ministério do Interior”.
b) Uso do Solo

Segundo o ditame legal, os projetos públicos seriam locali-


zados, prioritariamente, em terras do patrimônio público, para es-
se fim reservadas ou adquiridas (art. 12 – Decreto 89.496/84 (Bra-
sil, 1984)).
O ordenamento legal define que, nas áreas de interesse
social predominante, devam prevalecer os lotes familiares, admiti-
das pequenas e médias empresas, desde que não ocupem, em
conjunto, área superior a 20% do perímetro (Art. 14 – Decreto
89.496/84 (Brasil, 1984a)), como já dito.
Caindo em desuso o mecanismo da desapropriação por
interesse social, as terras passam a ser adquiridas por negociação
com os proprietários.
Mediante proposta da entidade executora dos projetos pú-
blicos de irrigação no Vale do São Francisco, esse dispositivo foi
alterado pelo Decreto 90.309/94, que introduziu a possibilidade,
mediante proposta da entidade administradora do projeto, e em
caráter excepcional, de o Ministro de Estado poder elevar o per-
centual de participação de empresas para 50% (Brasil, 1984b).
A partir dessa determinação legal, para cada projeto a ser
implantado, era solicitada e obtida uma autorização ministerial
para destinação de 50% da área a pequenos produtores e os ou-
tros 50% a empresários.
Buscando dar aos empreendimentos maior caráter econô-
mico, o Decreto n.º 2.178/97 1 passou a permitir que até 100% da
área seja ocupada por empresas.
Os lotes são assim caracterizados:

1 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>

38
• Lote familiar
O parágrafo 2º do art. 14 do Decreto 89.49 6/84 definiu lote
familiar como “imóvel que, direta e pessoalmente explorado pelo
agricultor e sua família, lhes absorva a força de trabalho disponí-
vel, garantindo-lhes a sobrevivência e o progresso social e eco-
nômico” e o art. 15 tenta fixar uma dimensão ao definir “o lote fa-
miliar, cuja dimensão deverá corresponder à área mínima de pro-
dução, capaz de assegurar a promoção econômica e social do
irrigante e sua família” (Brasil, 1984a).
A partir da determinação legal relativa à área mínima, os
lotes familiares tiveram área variando entre 4 e 6 hectares, de
acordo com os estudos de cada projeto. Cabe destacar que em
alguns projetos existiram lotes de 1,5 ha, e em outros o lote famili-
ar chegou a 8,0 ha.
• Lote empresarial
Embora não tivesse da legislação maiores atenções, os lo-
tes empresariais foram crescendo de importância nos projetos
públicos de irrigação. Não só pelo aspecto econômico da geração
de maior produção, como também pelo efeito-demonstração que
representam junto aos pequenos produtores, pelo desenvolvimen-
to de tecnologia e ainda pela geração de empregos.
O tamanho dos lotes empresariais também é definido nos es-
tudos de cada projeto, possuindo, em média, no Vale do São Fran-
cisco, 30 ha, podendo variar, individualmente, de 7,6 ha a 70 ha.
• Lotes para profissionais de Ciências Agrárias
Ao que tudo indica, a intenção do Ministro Extraordinário
para Assuntos de Irrigação, ao baixar a Portaria 74, de 3 de junho
de 1986, onde estabelecia que nos Projetos Públicos de Irrigação
deveriam ser destinados lotes a profissionais de Ciências Agrá-
rias, no limite máximo de 10% da área total de um Projeto, era
obter um efeito-demonstração e alguma orientação técnica aos
pequenos produtores, por observação de seus vizinhos.

39
Embora não tivesse tido o efeito esperado, a Portaria con-
tinua em vigor, pois só pode ser tornada sem efeito por outro Mi-
nistro, sucessor da responsabilidade sobre o assunto irrigação.
c) Sobre amortização
O artigo 16, constante do Decreto n.º 89.496/84, estabel e-
cia que todas as obras e serviços executados no lote teriam seu
custo incorporado ao valor da terra, para efeito de cessão de uso,
alienação ou incorporação societária (Brasil, 1984a).
O parágrafo 3º desse artigo estabelecia que a amortiz ação
de lote familiar seria calculada em Obrigações Reajustáveis do
Tesouro Nacional (ORTN) e feita no prazo de até 25 (vinte e cin-
co) anos, inclusive 5 (cinco) de carência, a juros de até 6% ao
ano, atendidas as peculiaridades do projeto (Brasil, 1984a).
Esse parágrafo foi objeto de 4 (quatro) das modificações
introduzidas durante esse período – Decretos n.º 90.309, de
16/10/84, n.º 90.991, de 26/2/85, n.º 93.484, de 29/10/86, todos
revogados pelo de n.º 2.178 2, de 17/3/97, que volta a estabelecer
nova redação aos artigos 14 e 16, tendo culminado com a seguin-
te redação:
“O adquirente de lote familiar amortizará os recursos públi-
cos aplicados em benfeitorias internas, o valor da terra, apurados
à data da titulação, no prazo de até 25 anos, inclusive até cinco de
carência, a juros de seis por cento ao ano”.
Por benfeitorias internas entende-se o desmatamento, o
sistema de irrigação “on farm”, a gradagem e outras, necessárias
à colocação imediata do lote em produção, quando do assenta-
mento das famílias.
Para os lotes empresariais, define: “o adquirente de lote
empresarial amortizará o valor do lote no prazo de até 12 anos,
inclusive 3 de carência, a juros de seis por cento ao ano”.

2 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>

40
d) Sobre Emancipação
O art. 9º do Decreto n.º 89.496/84, que regulamentou a Lei
de Irrigação, em seu parágrafo primeiro, estabelece que os proje-
tos públicos de irrigação, de interesse social predominante, parcial
ou totalmente implantados, poderão ser declarados emancipados,
por ato do Ministro de Estado, observados os preceitos legais per-
tinentes (Brasil, 1984a).
Assim, para que a emancipação possa ser declarada, são
necessários (§ 2º):
• a conclusão das obras de infra-estrutura consideradas
indispensáveis;
• o assentamento de, pelo menos, 2/3 (dois terços) dos
irrigantes;
• e que a comunidade esteja social e economicamente
apta a se desenvolver, dispondo de uma organização
interna que lhe assegure a vida administrativa própria e
atividades comerciais autônomas (Brasil, 1984a).
O decreto n.º 2.178, de 17/03/97, ao modificar o art. 42, i n-
troduzindo o parágrafo 4º, especifica que, no caso da administr a-
ção indireta dos projetos públicos, as competências de adminis-
tração, operação, conservação e manutenção das infra-estruturas
poderão ser delegadas a organização de irrigantes.
e) Sobre a Tarifa de Água
Com base nos dispositivos relacionados à amortização, foi
estabelecida a chamada Tarifa de Água (art.43), constituída de
dois componentes:
• parcela correspondente à amortização dos investimen-
tos públicos em obras de infra-estrutura de usos co-
muns, calculada, anualmente, com base no valor atuali-
zado dos investimentos contabilizados e estabelecida
para cada hectare de área irrigável do usuário, pelo Mi-
nistro ao qual o órgão administrador esteja vinculado;

41
• parcela correspondente ao valor das despesas de
administração, operação, conservação e manutenção
das infra-estruturas, rateadas entre os irrigantes e
definidas pelo órgão ao qual está afeto o projeto, ou
conforme modificação introduzida pelo Decreto
2.178/973, pela organização que administra o projeto,
calculada anualmente para cada 1.000 metros cúbicos
de água fornecida. Estabelece, ainda, que o valor
mínimo de consumo de cada usuário será equivalente a
30% (trinta por cento) do consumo previsto.
2.2 - Análise Conceitual da Atual Lei da Irrigação
Os projetos privados são desenvolvidos pela iniciativa par-
ticular. É de sua propriedade a terra e a infra-estrutura de irriga-
ção. Em alguns casos, principalmente na região Sul, o governo
construiu represas e canais, ficando a administração dos mesmos
nas mãos da iniciativa particular. Mas não é sempre claro quem é
o dono da infra-estrutura que o governo construiu. Ainda mais,
nem informal nem formalmente, desenvolveram-se mecanismos
que permitam a associação do governo com a iniciativa particular,
pelos quais aquele possa ser um sócio capitalista. Ou seja, o pro-
jeto misto de irrigação não se tornou realidade entre nós.
Os projetos públicos estão no Nordeste, sendo a maior á-
rea no Vale do Rio São Francisco, sob a responsabilidade da
CODEVASF. O DNOCS cobre as áreas não contidas na bacia do
São Francisco. Destacam-se, mais recentemente, os governos
estaduais. Mesmo no Nordeste, dois terços da área irrigada é do
setor privado.
O governo, pioneiramente e via projetos públicos, difundiu
a irrigação no Nordeste, assumindo o risco que todo novo empre-
endimento traz. Criou oportunidades tanto para irrigação empresa-
rial como para aquela da agricultura familiar. Gerou novos conhe-
cimentos e, enfim, abriu os horizontes para um negócio competiti-
vo. Empenha-se, atualmente, em ampliar as exportações dos pó-
los irrigados.

3 Disponível em <http://www.codevasf.gov.br/port/legislacao/D2178.html>

42
Na concepção vigente, o projeto público é construído (ou
adquirido) pelo poder público que se torna proprietário da infra-
estrutura de irrigação de uso coletivo. É sua a responsabilidade
pela administração do mesmo, muito embora possa delegá-la a
uma associação de irrigantes (Distrito de Irrigação etc.).
A Lei de Irrigação, em vigor, fala em ressarcimento dos in-
vestimentos. Mas, incorretamente, na medida em que o poder
público mantém-se como proprietário da infra-estrutura de uso
coletivo. Na realidade, a tarifa de água cobre, apenas, a deprecia-
ção e a manutenção do projeto e não pode contribuir para a amor-
tização dos investimentos públicos como manda a referida Lei.
A lei permite que o poder público delegue a uma associa-
ção de irrigantes ou Distrito de irrigação a administração do proje-
to. Note-se que a administração é feita em nome, e no lugar do
poder público. Não cabe, portanto, a cobrança de aluguel. Obvia-
mente, a lei veda a venda do projeto ao distrito e ao setor privado,
quando diz ser propriedade pública a infra-estrutura de irrigação
de uso coletivo.
Na concepção ainda prevalecente no Brasil, um projeto
público é aquele construído ou adquirido pelo governo, que per-
manece proprietário da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo
e tem a responsabilidade de administrá-lo, ainda que possa dele-
gar sua administração ao Distrito de Irrigação. O projeto público,
pela Lei vigente, não pode ser arrendado e nem vendido. Enfati-
zando, a tarifa d’água cobre, apenas, as despesas de depreciação
e manutenção do projeto.
Esse fato, para a atualidade da irrigação brasileira, consti-
tui uma das dificuldades para a expansão da agricultura irrigada
no semi-árido nordestino e para um maior envolvimento, ali, do
setor privado em projetos públicos de irrigação, pois quem adquire
os lotes (irrigantes empresários) paga pela amortização da infra-
estrutura e nunca será seu dono.
Além disso, ainda não se desenvolveu, entre nós, mesmo
experimentalmente, nenhum procedimento de associação do
governo com o setor privado na implantação de projetos mistos
de irrigação.

43
Com efeito, a lei de irrigação em vigor prevê o ressarci-
mento dos investimentos públicos em irrigação pelos usuários,
mas de forma incorreta, na medida em que o poder público
mantém-se como proprietário da infra-estrutura de irrigação de
uso coletivo.
Na realidade, a tarifa d’água estabelecida cobre apenas a
depreciação (K1) e a manutenção (K2) desse ativo e não poderia
contribuir, como determina a legislação atual, para a amortização
do investimento público, porque vedada sua transferência e até
mesmo seu arrendamento, mediante pagamento de aluguel, ao
setor privado.
Assim, alguns conceitos, como o de aluguel do capital,
depreciação e K1, K2 deverão ser revistos, senão vejamos:
a) Aluguel do capital
A infra-estrutura de uso coletivo, nos Projetos de Irrigação,
constitui um bem de capital que, nos projetos públicos e pela lei
atual, é de propriedade do governo. Sendo um bem de capital que
presta serviços aos irrigantes, cabe-lhe uma remuneração, no
caso sob a forma de aluguel, o qual deve refletir o custo de opor-
tunidade do capital. Em termos de longo prazo e níveis internacio-
nais, este valor anda em torno de 3 a 6%.
A tradição brasileira de irrigação pública jamais imputou valor
a este aluguel. Tudo se passou como se os serviços, que essa infra-
estrutura de uso coletivo prestou, valessem zero, como aluguel.
Alguém pode objetar que nenhum aluguel dessa infra-
estrutura coletiva é, formalmente, feito. Mas, os serviços que pres-
ta são normalmente disponibilizados aos irrigantes e, por isto, em
princípio, devem ser remunerados, por quem deles usufrui. E a
remuneração devida corresponde ao aluguel desta infra-estrutura.
É claro que o detentor ou proprietário do bem de capital pode,
como o poder público fez no caso dos projetos públicos brasilei-
ros, imputar zero, como o valor do aluguel.
Cabe ainda salientar que há somente duas situações, do
ponto de vista do dono do bem de capital: ele pode vender ou alu-
gar o mesmo. Veja o exemplo em que o dono do capital também

44
opere a empresa implantadora do projeto de irrigação. Neste ca-
so, ele é o capitalista e o empreendedor, ao mesmo tempo. Aluga
o capital à empresa e cobra, por isto, um aluguel. E realiza, como
empreendedor, a produção (o projeto de irrigação, no caso), pa-
gando todos os fatores de produção, inclusive o aluguel do capital,
a depreciação etc. O que sobrar, do cotejo do valor da produção
com o valor das despesas, é a remuneração do empreendedor.
Em resumo, o aluguel é pagamento dos serviços do capi-
tal. Deve refletir o custo de oportunidade do capital. Numa econo-
mia aberta, do ponto de vista de longo prazo, é o custo de oportu-
nidade, em nível internacional, do capital.
Portanto, o poder público deve formalizar o aluguel da in-
fra-estrutura de uso coletivo aos irrigantes, por intermédio do Dis-
trito de Irrigação. Este valor pode ser utilizado para cobrir obriga-
ções com bancos, com empréstimos.

b) Depreciação
Como o K1 está sendo pago, conforme a Lei para amortizar
o investimento coletivo, e este não será de propriedade do usuá-
rio, na realidade ele é uma cobrança da depreciação.
Todo bem de capital se desgasta, fisicamente, com o uso.
Esta perda dá origem à depreciação. Outro tipo de perda é quando o
bem de capital torna-se obsoleto, devido à inovação tecnológica.
Nesse caso, se a empresa não o substituir, não terá condições de
permanecer no mercado, porque se torna menos competitiva.
Há vários métodos de depreciar. O mais comum deles é o
linear. É baseado nas seguintes hipóteses:
a) o bem continua produzindo, com a mesma produtivida-
de, durante sua vida útil, se adequadamente mantido;
b) o bem desgasta-se contínua e proporcionalmente aos
anos de funcionamento;
c) o bem desaparece no último dia da vida útil, “de morte
súbita”, podendo deixar um valor residual (que precisa ser corre-
tamente descontado da depreciação), o qual é maior no caso de
obsoletismo.

45
Assim, o valor de K1 recebido dos irrigantes e que, é na re-
alidade referente a depreciação, precisa ser acumulado numa
conta, com o objetivo de substituir os itens de capital que deixa-
ram de funcionar.
Esta conta, obviamente, somente é movimentada para re-
ceber os valores correspondentes à depreciação e pagar a aquisi-
ção dos itens que foram substituídos. Não pode ser usada para
nenhuma outra finalidade, como honrar compromissos com ban-
cos e amortizar investimentos.
Entretanto, é importante observar alguns procedimentos
quanto à depreciação da infra-estrutura de uso coletivo. A depre-
ciação é linear. É feita por itens. Para cada item, a depreciação
anual é o valor do mesmo, sempre como se novo fora, dividido
pela número de anos que viverá, ou seja, que permanecerá em
pleno uso. Uma vez calculada, não mudará de ano para ano, en-
quanto o item durar, exceto pela atualização de valor, quando há
inflação. Se um item for substituído por um de melhor qualidade
(por causa do seu obsoletismo), a depreciação para o item intro-
duzido será calculada conforme o mesmo procedimento, tendo-se
o cuidado de abater o valor, do item substituído, do valor da de-
preciação anual. O mesmo procedimento aplica-se para novos
investimentos e para itens que ficaram obsoletos ou ficaram gas-
tos e foram substituídos. Ou seja, abate-se o item que foi substitu-
ído da depreciação, se for o caso, e se introduz o novo item, ten-
do-se em conta seu valor e duração. O valor total da depreciação
é a soma das depreciações dos itens.
c) Manutenção
A vida útil de um bem de capital é dada em anos. Para viver
operando adequadamente o número de anos estabelecidos, como
vida útil, o bem de capital requer manutenção. Esta manutenção dá
origem a despesas. Agregando-se às mesmas, aquelas correspon-
dentes à administração do projeto, têm-se as despesas de manu-
tenção que é o K2. Assim, os valores arrecadados dos irrigantes,
para cobrir despesas de manutenção, devem ser acumulados na
conta manutenção, que fará face às despesas correspondentes.

46
3 - ANÁLISE GLOBAL E RECOMENDAÇÕES DECOR-
RENTES

Neste capítulo faz-se uma análise global do Estudo do Es-


tado da Arte da Irrigação, e apresentam-se algumas sugestões
para implementação do Novo Modelo, sem esgotar todo o refe-
rencial possível do estudo.
Relativamente aos países analisados cabe realçar as se-
guintes observações, por certo relevantes para a avaliação da
atual política de irrigação em curso no Brasil e, sobretudo, para a
implementação do Novo Modelo proposto:
i. A utilização da irrigação tem sido uma estratégia bem-
sucedida para, através da redução do risco tecnológi-
co, diminuir a oscilação na produtividade agrícola e in-
crementar a taxa de ocupação/utilização de terras,
ampliando a oferta de alimentos, fibras; criando em-
pregos estáveis, e melhorando a renda agrícola;
ii. Tal iniciativa sempre foi fortemente induzida e/ou apoi-
ada pelo setor público, independentemente do regime
político imperante e do estágio de desenvolvimento em
que se encontravam esses países. Não obstante, mu-
danças nas condições macroeconômicas influenciam,
de modo não homogêneo, a forma, intensidade e regu-
laridade do apoio governamental ao setor privado en-
volvido com a agricultura irrigada. Tais diferenças são
explicadas muito mais pela percepção que a socieda-
de e o governo têm quanto à importância da contribui-
ção que a agricultura deva dar para o desenvolvimento
do país e de como devam ser repartidos os papéis e
responsabilidades, entre os setores público e privado,
do que pelas condições financeiras do erário público;
iii. Os pesados investimentos iniciais em obras, infra-
estrutura hidráulica e em instalações e equipamentos
eletromecânicos, de uso comum e requeridos nos pro-
jetos de irrigação e drenagem de médio e grande por-

47
tes, sempre foram bancados pelos governos e seus
custos apenas parcialmente reembolsados (quando o
foram) pelos usuários da água para irrigação. A recu-
peração desses investimentos e, em muitos casos, de
parte dos custos de operação & manutenção dos pro-
jetos de irrigação é assumida pelo governo, inclusive
via maior taxação de outros usos;
iv. Dada a complexidade da gestão integrada e sustenta-
da dos recursos hídricos e ainda ao crescente cons-
trangimentos fiscal e gerencial do setor público, para
dar cabo, sozinho, de tarefa tão complexa, a participa-
ção dos usuários da água nessa gestão (através de
comitês de bacias hidrográficas), assim como em sua
explotação (através de associações de usuários da
água), intensificou-se a partir dos anos 80, tanto em
economias mais desenvolvidas, quanto nas menos,
independente do regime político imperante;
v. Esse envolvimento mais amplo do setor privado, nos
projetos de irrigação de maior envergadura, invaria-
velmente se inicia com a transferência aos usuários da
água, através de suas organizações, da operação &
manutenção (O&M) da infra-estrutura hidráulica de uso
comum e mediante contratos de gestão com a institui-
ção pública, responsável pela identificação, concepção
e implantação do projeto de irrigação; e
vi. Relativamente à questão ambiental, observa-se uma
clara mudança no comportamento das agências go-
vernamentais mais maduras e envolvidas não só na
gestão, mas também na utilização de recursos hídri-
cos, inclusive para geração de energia hidrelétrica e
irrigação.
Assim, quanto ao uso da água para irrigação, a preo-
cupação com o balanço hídrico, cada vez mais crítico
e com seu impacto sobre o meio ambiente tem levado
governos e agências promotoras de projetos de irriga-
ção, além das organizações de irrigantes e eles pró-

48
prios, a estimularem, induzirem e mesmo condiciona-
rem a adoção de práticas e métodos poupadores de
água, sobretudo em regiões semi-áridas, que vão des-
de a disseminação do conceito de hidroeconomicida-
de, na avaliação e controle da eficiência da irrigação,
ou seja, adotando-se, além do índice de eficiência físi-
ca (kg/m3), o indicador de eficiência econômica (valor
produzido / unidade de água consumida / unidade de
área irrigada), em substituição à dotação de água (vo-
lume de água entregue / unidade de área irrigada /
tempo);
vii. uma questão vem desafiando agricultores e governos,
ao longo da história da irrigação, e da agricultura em
geral: a comercialização da produção, ensejando in-
tervenções de todo o tipo, mas nem sempre com os
resultados almejados.
Esta questão aguça-se, mercê da globalização das a-
tividades econômicas e dos mercados (graças a ino-
vações nos campos da informática, das comunica-
ções e dos transportes, sobretudo as ocorridas nas
duas últimas décadas). Além disso, o tradicional ex-
pediente de procurar-se fugir ao jugo das forças de
mercado através da integração, em uma mesma em-
presa, de várias etapas da cadeia de valor da indús-
tria, não mais será, doravante, o único caminho trilha-
do, para obter-se maior controle do mercado, já que
uma empresa, isoladamente, não consegue dominar
toda a cadeia.
Entretanto, não se pode deixar de considerar que ain-
da está em marcha acelerada, também no mercado
mundial de alimentos, a fusão de empresas, de sorte
que o número das que operam em cada setor da eco-
nomia é cada vez mais reduzido.
No caso dos produtos da agricultura em geral, a con-
centração de poder é imensa nos supermercados, in-
clusive no Brasil da atualidade, a qual reflui para a in-

49
dústria, contribuindo para acelerar também o proces-
so de fusões de indústrias. Esta concentração de po-
der é também enorme nas firmas que operam no
mercado internacional, o que tem efeito semelhante
ao dos supermercados, no que respeita a nossa in-
dústria. Assim, caminha-se para um modelo, em que
maior coordenação entre os agentes do agronegócio
torna-se imperativa para se obter eficiência.
A experiência internacional captada mostra diferentes
caminhos seguidos para conviver com essas ocorrên-
cias: no Chile, a busca de coordenação através de em-
presas-âncoras, multicomercializadoras e/ou multipro-
cessadoras; na Espanha, através de um forte aparato
de inteligência de mercado; na França, via apoio go-
vernamental ao fortalecimento de organizações de pro-
dutores e, nos Estados Unidos da América, via estreita
colaboração mútua (regulada por contratos de compra e
venda) entre supermercados e multiprocessadoras e
produtores, o que mais se aproxima da utopia do jogo
de ganha-ganha entre players no mercado; e
viii. A utilização da irrigação, principalmente nos países
com agricultura mais desenvolvida, está acompanha-
da de uma visão maior numa cadeia produtiva, em
que alguns fatores como qualidade, organização da
produção, tecnologia, mercado, pós-colheita, fazem
parte do contexto da política agrícola, como pode ser
visto nos casos estudados do Chile, França, EUA,
Espanha, Israel.
Por outro lado, do exame do estado-da-arte dos seis pólos
localizados no Nordeste Brasileiro e Norte de Minas, tendo em
conta as evidências internacionais supra-mencionadas, identifica-
ram-se questões que devem ser consideradas na implementação
de um novo modelo de Irrigação no país:
i. Processo em curso no mundo, de transferência do
gerenciamento da operação & manutenção de projetos
públicos de irrigação e conseqüente devolução de po-

50
der, da parte do setor público para os agricultores-
irrigantes e suas organizações, também caminha para
sua irreversibilidade nos perímetros públicos dos pólos
analisados;
ii. Existe uma clara disposição e interesse dos irrigantes
em não só assumirem as atividades de operação & ma-
nutenção, como também seus custos (como forma de
assegurar a continuidade e qualidade dos serviços pres-
tados), desde que participem das decisões relacionadas
a todo o ciclo do projeto de investimento no perímetro
público de irrigação e, em projetos já concluídos, que
não sejam responsabilizados por custos adicionais de
operação e manutenção (O&M), decorrentes de implan-
tação não satisfatória ou inconclusa de tais projetos e
cujas deficiências técnicas não tenham sido sanadas,
antes da transferência;
iii. Com o advento da nova legislação de recursos hídricos
no país (Lei 9433/97 e suas correlatas estaduais), as
organizações de usuários da água para irrigação têm o
direito de também participarem do Sistema de Gestão
dos recursos hídricos na Bacia Hidrográfica, onde o pro-
jeto de irrigação esteja ou vá ser implantado. É neste
novo espaço público ou fórum (ou seja, que convém e,
por isso, interessa a todos) que as questões relaciona-
das ao planejamento e gestão da conservação, desen-
volvimento e utilização, compartilhados daquele recurso
natural devem ser decididas em primeira instância ad-
ministrativa;
iv. A transferência, quando bem conduzida, acelera a ado-
ção do enfoque sistêmico no gerenciamento dos proje-
tos de irrigação, na condução dos negócios neles insta-
lados e na mediação dos interesses da comunidade de-
les participante e/ou por eles impactada, passando de
uma visão estrita de obras, para um enfoque mais a-
brangente de desenvolvimento local (regional), “turbina-
do” pelo agronegócio e ancorado na agricultura irrigada.
De outra parte, libera recursos (técnicos e financeiros)

51
da agência governamental para novos empreendimen-
tos de irrigação, agora atuando mais como “sponsor”,
do que como executor de grandes projetos; e
v. nos últimos anos, estimulados por ações governamen-
tais (Federal e Estadual), e apoiado por instituições co-
mo CODEVASF e Banco do Nordeste, tem-se desen-
volvido um processo de organização dos produtores,
que trabalha visando ao mercado, tendo por objetivo o
agronegócio, enfoque em pós-colheita, qualidade, tec-
nologia de produção controlada, já desvinculado da vi-
são de irrigação x obras. Tal é o caso da Associação
dos Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Va-
le do São Francisco (VALEXPORT) (Petrolina/Juazeiro),
ABANORTE (Norte de Minas), Associação dos produto-
res de café do Oeste Baiano, entre outras.

52
MODELO GERAL PARA OTIMIZAÇÃO E PROMOÇÃO DO
AGRONEGÓCIO DA IRRIGAÇÃO DO NORDESTE

O presente Relatório constitui-se na proposta de um Novo


Modelo Conceptual para o agronegócio de irrigação do Nordeste.
Ele discute a importância da irrigação para o Nordeste e para Bra-
sil, a atual situação dos projetos, a lei da irrigação, e apresenta
uma proposta para uma nova política de irrigação, conforme as
diretrizes do Projeto Novo Modelo de Irrigação, buscando estimu-
lar a maior participação do setor privado e uma reordenação da
participação do Estado.
O estudo foi realizado por uma equipe multidisciplinar de
consultores, com conhecimentos amplos de irrigação, desenvol-
vimento regional, administração pública, comercialização, pesqui-
sa e desenvolvimento agrícola, assistência técnica, economia,
meio ambiente, gestão de projetos públicos de irrigação, entre
outros temas. Vários profissionais dessa equipe são também em-
presários da agricultura irrigada, no Norte de Minas e no Nordeste.
Tratando-se do desenvolvimento de um modelo conceptual
de política de irrigação, o estudo envolveu a participação estreita
de vários atores da cadeia da agricultura irrigada, do Nordeste e
do norte de Minas. Desde maio/99 até abril/2000, foram realizados
vários eventos para discutir propostas de modelos e colher subsí-
dios dos vários segmentos da agricultura irrigada. Destacam-se os
seminários em pólos de irrigação do Nordeste e Norte de Minas
(Petrolina/Juazeiro, Oeste Baiano, Norte de Minas, Açu/Mossoró,
Baixo Jaguaribe e Alto Piranhas); o seminário de fevereiro/2000,
em Fortaleza, com representantes dos segmentos do governo
ligados à atividade; contatos e entrevistas com investidores da
agricultura irrigada e com investidores potenciais e, finalmente,
reuniões específicas com instituições ligadas ao setor, para se
discutir o modelo proposto.
Paralelamente aos eventos citados, buscaram-se também
subsídios na bibliografia nacional e internacional sobre os temas
ligados à irrigação (recuperação de investimentos públicos, tarifa-
ção de água, plataforma de negócios, visão de mercado, marco

53
legal e institucional, privatização e projetos públicos etc.). A revi-
são da literatura apresentada no Relatório Estado da Arte da Irri-
gação, na qual se identificaram os obstáculos e facilidades encon-
trados e os correspondentes fatores causais, os caminhos percor-
ridos para sua superação ou manutenção, bem como a visão de
futuro que instituições e empreendedores têm da agricultura irri-
gada funcionou como banco de soluções e idéias. Essa análise
cobre 11 países que têm grande experiência em irrigação, tanto
privada como pública. Destacam-se os Estados Unidos (EUA) na
irrigação privada, na participação pública e transferência para or-
ganizações de agricultores de projetos públicos, o México, a Co-
lômbia e outros 8 países e, finalmente, Chile, França, Espanha,
EUA e Israel. Estes utilizam tecnologias sofisticadas de irrigação e
de comercialização.

54
1 - IMPORTÂNCIA DA IRRIGAÇÃO PARA O NORDESTE
E PARA O BRASIL

A agricultura brasileira evoluirá para o patamar daquela


dos países avançados, que se caracteriza pelo emprego de uma
fração pequena da população economicamente ativa (PEA) do
país e basear-se-á também em número cada vez menor de esta-
belecimentos agrícolas.
A questão que se coloca para o poder público é de como
conduzir esse processo de ajustamento, de modo a se atingirem
três objetivos, quais sejam: (i) abastecer, adequadamente, o mer-
cado interno; (ii) ampliar as exportações de produtos agrícolas in
natura ou industrializados e (iii) criar empregos no campo e na ci-
dade e, assim, reduzir o ímpeto do êxodo rural e seus malefícios.
Políticas agrícolas que atendam, simultaneamente, os três
objetivos devem receber prioridade. Entre elas destaca-se a de
irrigação, porque cria grande número de empregos estáveis dentro
da porteira do estabelecimento agrícola e nas cidades (ou seja, fora
da porteira: antes e depois dela); porque contribui para atender à
demanda interna de frutas e hortaliças (que cresce a taxas eleva-
das, em função de uma elasticidade-renda igual ou superior a 1, e
isto em todas as classes de renda); porque amplia as exportações,
sem causar aumento dos preços internos; e, ainda, tem o papel
adicional de contribuir para a solução de problemas específicos.
Estudiosos estimaram o êxodo rural, por década, a partir
de 1940 e mostraram que o Nordeste rural perde população mais
rapidamente. Assim, no período 1991/2000, quase metade do nos-
so êxodo rural é nordestino, cerca de 4,3 milhões, em relação aos
10,1 milhões, que migraram do meio rural, em todo o Brasil. No
período anterior, 1980-91, o Nordeste rural perdeu 4,1 milhões de
habitantes contra 10,4 milhões do Brasil rural. O êxodo rural ganha
velocidade no Nordeste e desacelera-se nas três regiões sulinas.
Há, no Nordeste, 2,3 milhões de estabelecimentos, que
eqüivalem a 47,5% do número de estabelecimentos do Brasil.
Mas, em média, somente os estabelecimentos agrícolas nordesti-

55
nos com mais de 200 hectares (exceto as áreas irrigadas) e que
correspondem a menos de 6% do total, remuneram o trabalho
familiar com um salário mínimo mensal ou mais. Portanto, a gran-
de maioria dos estabelecimentos agrícolas daquela região é instá-
vel, por não oferecer uma remuneração a cada trabalhador ocu-
pado sequer igual a um salário mínimo. Tendem, pois, ao desapa-
recimento e, assim, a desempregar grandes contigentes de mão-
de-obra familiar e mesmo assalariada.
Por conta exclusiva das forças de mercado, em virtude de
o meio rural das demais regiões ser também perdedor líquido de
população, os rurícolas migrantes nordestinos se encaminharão,
de preferência, e como já vêm historicamente fazendo, para as ci-
dades das três regiões sulinas e, como segunda opção, para as
cidades do próprio Nordeste e do Norte, agravando nelas o proble-
ma urbano de emprego e, decorrente dele, entre outros, o de segu-
rança pública. Este fato mostra que o Nordeste é prioridade número
um de toda Política que queira reter o homem no campo, a fim de
possibilitar uma transição rural-urbana com menos sofrimento.
Mas a retenção de população no meio rural e nas cidades
atreladas à agricultura depende de ser viável uma agricultura
que pague salários competitivos. A agricultura irrigada oferece
esta condição. E sua capacidade empregadora é multiplicada,
quando associada às exportações, principalmente de frutas e
hortaliças, grãos e carnes. Desse modo, ela é prioritária para o
Nordeste. Ela tem a faculdade de reduzir o risco tecnológico,
decorrente de condições climáticas adversas, diminui a oscilação
da produtividade agrícola e incrementa a taxa de ocupação e a
utilização intensiva de terras.

56
2 - SITUAÇÃO ATUAL DA IRRIGAÇÃO NO BRASIL E NO
NORDESTE

2.1 - O Papel do Setor Público na Irrigação

A atual Política Nacional de Irrigação foi formulada sobre


postulados que enfatizavam a função social da irrigação, em es-
pecial, nas regiões atingidas por fenômenos climáticos adversos.
Embora a Lei de Irrigação cite, por várias vezes, a partici-
pação dos Estados, Distrito Federal, municípios e da iniciativa
privada, ela centraliza no poder público federal, à época, no Minis-
tério do Interior e suas entidades vinculadas, parcela preponderan-
te das responsabilidades e autoridade de implantação e gestão de
projetos públicos de irrigação. Ou seja, não somente o planejamen-
to, mas também a execução, operação e manutenção dos projetos
de irrigação, além das infra-estruturas sociais, instaladas em função
deles, ficaram sob a tutela do estado.
No Brasil, atualmente, a irrigação (estimada em 2.870.000
ha, 1998) divide-se em particular e pública, sendo que o setor pri-
vado é responsável por 95% da área irrigada total e por 67% do
total do Nordeste (estimada em 495.000 ha, 1998).
Os projetos públicos localizam-se no Nordeste e na região
Norte de Minas Gerais, sendo a maior área no médio e baixo São
Francisco, sob a responsabilidade da CODEVASF. O DNOCS
cobre as áreas não contidas na bacia hidrográfica do Rio São
Francisco. Destacam-se, mais recentemente, algumas iniciativas
de governos estaduais, naquelas duas regiões.
O governo, pioneiramente e via projetos públicos, difundiu
a irrigação no Nordeste, assumindo os riscos que todo novo em-
preendimento sempre traz. Criou, assim, oportunidades, tanto para
irrigação empresarial, como para aquela da agricultura familiar. Ge-
rou novos conhecimentos e, enfim, abriu horizontes para um negó-
cio competitivo. Empenha-se, atualmente, em ampliar a capacidade
produtiva da agricultura e da indústria dos pólos irrigados.

57
2.2 - Mecanismos de Financiamento da Irrigação

O crédito agrícola subsidiado foi, até início da década de


90, o principal instrumento de estímulo à iniciativa privada. Mas os
prazos não guardavam uma relação estreita com o retorno da ati-
vidade. Muito generosos em algumas situações e, em outras,
pressupuseram, ao menos implicitamente, retornos exagerada-
mente elevados para a irrigação.
Nestes últimos seis anos, a oferta de crédito para a irriga-
ção tem-se caracterizado pela disponibilidade de recursos, sobre-
tudo, para investimentos, pelos prazos e limites de financiamento
mais compatíveis com as características dos negócios. No entan-
to, a taxa de juros e a falta de garantias foram, no período, os obs-
táculos mais referenciados pelos imigrantes.
O Tesouro Federal é a principal fonte de financiamento das
obras de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, de apoio e de
natureza social nos projetos públicos das regiões Nordeste e do
Norte de Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, financiou as obras
de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo. Financiamentos
externos geraram recursos para o governo federal (e para alguns
Estados). Foram utilizados na implantação e reabilitação das infra-
estruturas de uso coletivo, além de contribuírem para a assistên-
cia técnica aos pequenos irrigantes.

2.3 - Mecanismos de Recuperação de Custos e do Capital

O Art. 24, da Lei N.º 6.662/79, em seu § 3º, determina que,


verbis: “a infra-estrutura de irrigação terá seus investimentos a-
mortizados, total ou parcialmente, pelos irrigantes, conforme esta-
belecer o Poder Executivo” (grifo nosso). Ao mesmo tempo que o
Art. 25, desta mesma Lei, determina, equivocadamente, que, ver-
bis: “as infra-estruturas de irrigação, nos Projetos Públicos implan-
tados, financiados com recursos orçamentários da União, serão
de propriedade do Governo Federal, representado pelas entidades
vinculadas ao Ministério do Interior” (grifo nosso) (Brasil, 1979).
Assim, ao regulamentar estes dispositivos da Lei, pelo De-
creto N.º 89.496, de 29 de março de 1984 (Bras il, 1984a), o go-

58
verno federal estabeleceu que, verbis: Art. 43. “O valor das tarifas
incidentes sobre o uso de água nos projetos públicos de irrigação,
de que trata este Regulamento, será composto pela adição:
I – de parcela correspondente à amortização dos investi-
mentos públicos nas obras de infra-estrutura de irriga-
ção de uso comum, com base no valor atualizado das
obras - o denominado K1 (grifo nosso);
II – de parcela correspondente ao valor das despesas anu-
ais de administração, operação, conservação e manu-
tenção das infra-estruturas – o componente K2.”
Esta questão foi analisada anteriormente com mais deta-
lhe, à luz de procedimentos internacionalmente aceitos, abordan-
do o significado de Aluguel, Depreciação, Manutenção, K1 e K2.

2.4 - Situação dos Projetos Públicos de Irrigação no


Nordeste

2.4.1 - O foco na implantação de obras

Ênfase foi dada aos aspetos de obras/engenharia, na im-


plementação dos Projetos Públicos de Irrigação, pelos agentes
executores. Desenvolveu-se, inquestionavelmente, uma tecnolo-
gia de ponta, quer nos aspectos de estudo e projetos, como de
obras civil/hidráulica.
A finalidade para a qual a obra fora desenvolvida, ou seja,
a produção agrícola, ou melhor o agronegócio (que gera emprego,
renda, estimula o desenvolvimento regional) que assegura o re-
torno dos investimentos, muita das vezes, não encontrou o mes-
mo aporte de interesse e recursos.
À medida que ações visando ao agronegócio mereceram
um pouco mais de atenção, os resultados apareceram para a so-
ciedade e para o produtor, como pode ser visto em todo o Vale do
São Francisco e, especialmente, nos projetos da região Petroli-
na/Juazeiro.

59
Ainda que, na implantação dos projetos públicos de irriga-
ção, predominasse o foco nas obras de Engenharia, mais recen-
temente, a partir de meados da década de 80, como no caso da
CODEVASF, voltaram-se as atenções para a organização da ope-
ração e manutenção e para a produção, de forma pouco sistema-
tizada, porém avançando-se para ofertar um melhor apoio ao pro-
cesso do agronegócio.

2.4.2 - Área implantada em produção e a ser implantada

Conforme dados levantados junto às instituições responsá-


veis, os projetos públicos correspondiam a uma área, em 1998, de
169.055 ha, em condições de operação e aptos para serem irriga-
dos. Daquela área, 107.493 ha estão efetivamente em produção. O
restante encontra-se em processo de licitação para venda de lotes
ou sem aproveitamento, devido a problemas como oferta insuficien-
te de crédito por parte dos agentes financeiros, condições inadequa-
das do crédito, baixa capacidade de endividamento dos irrigantes (o
que não o permite ter acesso ao crédito), baixa disponibilidade de
recursos próprios para empreender, especulação, entre outros.
Existem, ainda, pelo menos 60.000 ha em fase final de im-
plantação que serão agregados nos próximos 2-3 anos ao proces-
so de produção.

2.4.3 - A gestão de operação e manutenção

A operação e manutenção dos Projetos Públicos de Irriga-


ção do Nordeste compreende as seguintes formas:
- Realiza-se diretamente pelo agente executor, quer fede-
ral ou estadual, que não terceiriza a atividade.
- É feita a delegação à organização de produtores como
o Distrito, Cooperativa ou outra forma de associação de
produtores.
A partir de meados da década de 80, iniciou-se, liderado
pela CODEVASF, um processo de delegação da O&M do Projeto
para os usuários, pelo Distrito de Irrigação, que representou um

60
avanço bastante significativo, o qual não foi acompanhado pelo
DNOCS. E essa delegação, como vem ocorrendo na maioria dos
países, não é um processo muito rápido e tem maior resposta
quando o sistema de irrigação está em perfeitas condições de
funcionamento. Caso contrário, é necessário um programa de
recuperação. Além do mais, deve vir acompanhado da capacita-
ção dos usuários para assumirem, com segurança, as responsabi-
lidades que se impõem.

2.4.4 - O processo de produção

- Assistência Técnica
Para os pequenos produtores, vinculados à CODEVASF,
há um programa que tem diretrizes e estratégias, nas quais se
fundamenta a busca de resultados. Ele não é observado nos pe-
rímetros do DNOCS.
Quanto aos médios e grandes irrigantes, quer em projeto
público ou em propriedades privadas, a assistência técnica é de
empresas privadas ou de profissionais autônomos.
O que se verifica é que, tanto em nível de perímetro públi-
co (pequenos, médios ou grandes irrigantes) quanto em proprieda-
des privadas, o trabalho da assistência técnica tem dado ênfase
maior à produção dentro da propriedade, não se envolvendo no a-
gronegócio, como um todo, como é na França, Chile e outros países.
- Pesquisa e Desenvolvimento no Semi-Árido Nordestino
Apesar do avanço da agricultura irrigada nos últimos vinte
anos, a pesquisa agrícola deu muito pouca ênfase à irrigação,
tanto no que concerne às técnicas de irrigação, de manejo d’água
e práticas culturais, quanto no desenvolvimento de novas varieda-
des. Em tempos recentes, mercê da pressão dos pólos de irriga-
ção, a atitude tem mudado. Mas a mudança é lenta. Como substi-
tuta, no curto prazo, a importação de tecnologias e de assistência
técnica internacional cresce rapidamente.
Como a geração de informações, principalmente na área
de Fruticultura é lenta, a apropriação desses benefícios pelos a-

61
gricultores também se dá a médio e longo prazos, nos casos em
que a importação de tecnologias é impossível.
Apesar disso, há alguns resultados pontuais para alguns
produtos e práticas, principalmente, para aqueles produtos de
ciclo mais curto.
Há, no entanto, um hiato entre o crescimento da agricultura
irrigada e a oferta de informações tecnológicas. Ele é maior nas
áreas de pesquisa, como em cultivares, manejo de irrigação e de
fertirrigação, fitossanidade, controle de plantas daninhas, colheita
e em pós-colheita.
- Organização dos Produtores
Como observado também na experiência dos países anali-
sados, na implantação de grandes projetos de irrigação pelo setor
público, grande lapso de tempo costuma separar a fase de identi-
ficação, desenho do projeto, construção e arranjos de natureza
político-institucional-financeira - indispensáveis a sua efetiva im-
plantação - da fase de implementação final. É que, dado o volume
de recursos financeiros envolvidos, não raro, mudanças no quadro
macroeconômico, nas prioridades e no modus operandi dos go-
vernos patrocinadores resultam, invariavelmente, em descontinui-
dades, as quais não só retardam sua implantação física, como
também tumultuam a vida dos agricultores e suas organizações,
pelas incertezas geradas.
Apesar das descontinuidades citadas, o processo de orga-
nização dos produtores avançou notadamente a partir de meados
de 80. Notam-se organizações voltadas para o agronegócio, como
cooperativas e associações, e o surgimento de associações que
visam promover os produtos do Vale do São Francisco, no Brasil e
no exterior, e ajudam os irrigantes a produzirem com melhor quali-
dade. Surgiram também organizações dos produtores que execu-
tam as atividades de operação e manutenção dos projetos públicos.
- Estrutura de Organização da Cadeia
O elevado percentual de 65% do volume produzido nos
projetos públicos tem seu processo de comercialização realizado

62
com a participação de um agente intermediário, sem nenhuma
simetria de coordenação e informação.

2.4.5 - A participação da iniciativa privada

Nos projetos públicos, há uma forte participação da iniciati-


va privada, pois o projeto de irrigação são as obras hidráulicas de
uso coletivo e um complexo processo de produção agrícola que
usa a tecnologia de aplicação de água como ferramenta. A partici-
pação privada é de 64 a 68% nos custos dos investimentos.
Os Projetos Públicos têm um custo variável de US$ 4.500
a 5.500/ha, quando se imputa o custo com a infra-estrutura hidráu-
lica de uso comum e infra-estrutura parcelar de irrigação do pe-
queno irrigante.
Erroneamente, imputam-se ao Projeto Público de Irriga-
ção custos como estradas, rede elétrica, casas, escolas, etc. Sen-
do assim, o valor dos Projetos Públicos alcança o intervalo US$
7.000 a 8.000/ha. Tais itens, contudo, são de responsabilidade da
Sociedade, na irrigação ou como em qualquer outra situação.

TABELA 1
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA NOS
PERÍMETROS PÚBLICOS
Discriminação do Custo Valor em US$
− Infra-estrutura hidráulica de uso coletivo........... ± 3000 a 3500/ha
− Infra-estrutura parcelar de irrigação ................. ± 1500 a 2000/ha
− Infra-estrutura parcelar de apoio (casa, galpão,
packing-house, etc.)....................................... ± 700 a 1000/ha
− Formação de culturas perenes ........................ ± 3000 a 4000/ha
− Valor da terra ................................................ ± 300 a 500/ha
− Total de Investimentos no Projeto ................ ± 8500 a 11000/ha
− Participação Pública (que se dá apenas na
estrutura hidráulica de uso coletivo) ..................... ± 35,3 a 31,82%
− Participação Privada .................................... ± 64,7 a 68,18%
FONTE: Plena Consultoria de Engenharia Agrícola Ltda.

63
3 - MARCO TEÓRICO DO NOVO MODELO CONCEPTUAL

Tendo em vista a preocupação do estudo em propor uma


nova reestruturação do negócio da irrigação, buscou-se retratar o
marco teórico com apoio nas literaturas sobre competitividade e
coordenação de cadeias agroindustriais. Neste contexto, discute-
se o ambiente institucional, organizacional e competitivo no negó-
cio da irrigação.
A competitividade engloba duas dimensões tradicionalmen-
te separadas no enfoque analítico da teoria da organização indus-
trial, mas que se determinam e dificilmente podem ser identifica-
das isoladamente no mundo real: conduta e desempenho (Farina,
Azevedo & Saes, 1997). Enquanto desempenho, a competitivida-
de se expressa como a capacidade de sobrevivência e expansão
nos mercados nacionais e internacionais. Nesse contexto, o indi-
cador de participação no mercado é o mais representativo. A di-
mensão de conduta diz respeito ao processo de concorrência pro-
priamente dito. O agronegócio da agricultura irrigada deverá aten-
der ambos os critérios/dimensões.
Se forem identificadas mudanças tecnológicas ou institu-
cionais que possam resultar na mudança desse padrão de concor-
rência, então as vantagens competitivas baseadas em liderança
de custos deixam de ser suficientes para sustentar a competitivi-
dade.Uma situação como esta é de alta relevância para a identifi-
cação de fatores que sustentam a competitividade dinâmica.
Padrões de concorrência se alteram no tempo, como res-
posta a mudanças institucionais (abertura comercial, proteção à
propriedade intelectual etc.), mudanças tecnológicas (como a bio-
tecnologia, que gerou uma convergência entre indústrias químico-
farmacêuticas e a indústria de sementes), mudanças no próprio
ambiente competitivo, do qual o padrão de concorrência faz parte
(reestruturação industrial, mudanças de hábito do consumidor) e
mudanças nas próprias estratégias individuais das empresas que
buscam criar assimetrias e, quando bem-sucedidas, podem alterar
o padrão de concorrência ao serem imitadas por concorrentes
(Farina, Azevedo & Saes, 1997).

64
A definição das cadeias agroindustriais (no caso da agricul-
tura irrigada), como um nexo de contratos que vão da fazenda ao
consumidor, permite dar conta dessa gama de possibilidades or-
ganizacionais que respondem a determinantes tecnológicos, insti-
tucionais e estratégicos. Permite compreender tanto a organiza-
ção via mercados, quanto a integração vertical e os contratos com
fornecedores e distribuidores. Permite também compreender a
direção das mudanças organizacionais exigidas a partir de altera-
ções em variáveis do ambiente competitivo das firmas. Trata-se,
portanto, de um aparato conceitual particularmente adequado para
discutir competitividade (Farina, Azevedo & Saes, 1997.)
Assim, a organização da firma, da cadeia produtiva, do se-
tor e a regulamentação determinam a competitividade, uma vez
que estão na base da capacidade de resposta às oportunidades
de negócios. Essa capacidade de resposta depende fundamen-
talmente da capacidade de coordenação das atividades de produ-
ção e distribuição, isto é, da capacidade de transmitir informação,
estímulos e controles ao longo da cadeia produtiva de forma a
responder a mudanças no ambiente competitivo.

65
4 - POLÍTICA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO PROPOSTA

No tocante aos investimentos e à gestão de projetos de ir-


rigação, envolvendo forte participação do setor público, as preo-
cupações devem-se, em grande parte, ao resultado de avaliações,
como as já empreendidas em projetos públicos de irrigação, finan-
ciados pelo Banco Interamericano para a Reconstrução e o De-
senvolvimento (BIRD), em todo o mundo (Jones, 1995). Elas iden-
tificaram problemas generalizados de operação & manutenção, de
recuperação de custos e problemas com os grupos usuários, sen-
do os primeiros os mais importantes, porque repercutem nos be-
nefícios do projeto. E, ainda, as avaliações concluíram que os
grupos que se favorecem com a irrigação podem ser valiosos par-
ceiros na condução direta dessas atividades, simplesmente, por-
que seus membros identificam-se com o empreendimento.
Em contraste, a falta de participação freqüentemente reduz
os benefícios do projeto e causa perturbações na implementação.
Assim, a maneira mais promissora de melhorar o desempenho da
operação & manutenção é responsabilizar os beneficiários, pro-
porcionando-lhes apoio técnico.
A recuperação dos custos e a conseqüente segurança da
sustentabilidade financeira dos investimentos dependem de dois
fatores: em primeiro lugar, das formas de propriedade (a instância
de contratualidade), da aplicação e do cumprimento da regula-
mentação pertinente. Em segundo lugar, da capacidade de cada
arranjo organizacional de gestão em atender critérios de qualidade
e de bom desempenho.
Relativamente ao processo produtivo e à sua inserção
competitiva nos mercados (interno e ou externo), observa-se fla-
grante diferença entre o Brasil e o que ocorre nos países em que
o Agronegócio, baseado na Agricultura irrigada, encontra-se mais
avançado.
Nos países de agricultura irrigada avançada (como EUA,
Israel, França, Espanha e Chile, por exemplo), a Política de Irriga-
ção já superou a fase pioneira. Evoluiu de centrada nas obras de

66
engenharia para a da Agricultura Irrigada, como negócio. E, no
caso, as atividades de produção, no interior de cada parcela irri-
gada, bem como aquelas que ocorrem antes e depois da produ-
ção, são decisivas para a sustentabilidade econômica e, por via
de conseqüência, da própria continuidade da agricultura irrigada e,
portanto, de cada projeto de irrigação.
À medida que as atividades de implantação das obras de
engenharia cedem lugar àquelas, relacionadas à produção & co-
mercialização - as quais exigem maior interação de agências go-
vernamentais, provedoras de bens públicos de variada natureza,
cresce a complexidade na sincronização e coordenação da ação
pública de apoio à Agricultura Irrigada.
Ademais, as Agências governamentais, especializadas na
implantação de projetos públicos de irrigação e que agem de for-
ma vertical, no que respeita à coordenação, não mais encontram
espaço para assim continuarem atuando, em virtude da especiali-
zação (na prestação de Serviços Públicos) e conseqüente pulveri-
zação dos orçamentos públicos, o que é característico da organi-
zação do Estado moderno e, que, entre nós, já alcança até a esfe-
ra municipal.
Depreende-se, pois, que as necessidades da Agricultura Ir-
rigada, embora contenham exigências do projeto de irrigação, em
muito o extravasam. Assim, sua inserção competitiva exige mu-
danças, no que e no como fazer, pelos empreendedores privados
e também pelo poder público, que a estimula e apóia, daí se pro-
por uma nova política de irrigação e drenagem descrita a seguir.

4.1 - Diretrizes Gerais da Nova Política Nacional de Irri-


gação

As diretrizes gerais da nova Política de Irrigação são:


• Relativamente às regiões Nordeste do Brasil e Norte de
Minas Gerais, deve estimular maior participação do setor
privado no desenvolvimento da agricultura irrigada da-
quelas regiões, inclusive nos investimentos de implanta-

67
ção da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo dos
projetos de irrigação de maior porte ou complexidade;
• Contribuir, para a geração de informações necessárias,
que facilitem a tomada de decisões dos atores públicos
e privados, segundo uma visão de cadeia produtiva;
• Orientar o desenvolvimento da produção agrícola irriga-
da, tendo como base as oportunidades e exigências dos
mercados, interno e externo, segundo os parâmetros de
competitividade do agronegócio;
• Permitir ao governo reordenar sua atuação para o sub-
setor, com ênfase no papel que cabe ao Estado moder-
no (orientação, regulação, promoção, dentre outros), in-
clusive fortalecendo as parcerias entre a iniciativa priva-
da e o governo, no âmbito das três esferas, federal, es-
tadual e municipal;
• Finalmente, ela deve estimular a implantação, nos pe-
rímetros irrigados, de sistemas de monitoramento da ir-
rigação e de política tarifária, aplicáveis ao Nordeste e
Norte de Minas Gerais, visando ao uso racional da á-
gua, ou seja, considerando-se a sustentabilidade ambi-
ental, econômica e social.

4.2 - O Regime Jurídico Proposto

A Nova Política de Irrigação exige algumas mudanças da


legislação de irrigação vigente (Lei n.º 6.662/79 e seus regulame n-
tos), de sorte a criar um ambiente propício, em termos de uma infra-
estrutura institucional – com adequado suporte legal (que permita a
implementação de contratos), subordinada à estrutura de regula-
mentação do setor de recursos hídricos, ora em fase avançada de
definição pelo Poder Legislativo. A nova legislação de irrigação de-
ve oferecer a indispensável segurança jurídica ao setor público e
deve encorajar os agricultores-irrigantes e outros empreendedores
privados a investirem ainda mais na agricultura irrigada.

68
Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei N.º 229/95,
que “Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e dá outras
providências”.
Em março de 2000, como decorrência do Estudo, foi en-
caminhada pelo Ministério da Integração Nacional ao eminente
Relator uma versão consolidada da minuta de Substitutivo ao PL
229/95, resultado de ampla discussão, no âmbito daquele Ministé-
rio, que envolveu sua Assessoria Técnica, Órgãos vinculados e
também Secretarias de Estado da região Nordeste. Houve inúme-
ras reuniões e o Seminário específico, promovido pelo Banco do
Nordeste e realizado em Brasília, em outubro de 1999.
Assim, visando superar os problemas já mencionados, a
proposta atualiza e aprimora a legislação vigente (Lei N.º
6.662/79), corrigindo o equívoco conceitual, relacionado à amorti-
zação de investimentos em infra-estrutura de irrigação de uso co-
letivo, em projetos públicos (como já visto), ainda encoraja e dá
maior segurança ao setor privado, na gestão e na ampliação de
investimento em irrigação, como asseguram vários de seus dispo-
sitivos, entre os quais cabe salientar:
O artigo. 1º, parágrafo 3º, ao estab elecer que o potencial
de mercado e a participação da iniciativa privada constituem fato-
res relevantes de indução e apoio governamentais à implantação
de projetos de desenvolvimento da agricultura irrigada.
- No artigo 2º, referente aos objetivos da Política N acional
de Irrigação, o inciso V assegura, como objetivo estimu-
lar a atuação de agentes privados e públicos na agricul-
tura irrigada, em áreas prioritárias definidas, observan-
do-se critérios técnicos, culturais, sociais, econômicos e
ambientais.
- Em seguida, o inciso XVII, do artigo 3º, define o al uguel,
como sendo valor da retribuição paga pelo irrigante cor-
respondente ao arrendamento da infra-estrutura de irri-
gação e drenagem de uso coletivo. E, no inciso seguin-
te, XVIII, define que quota-parte é a fração ideal das o-
bras de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, de
propriedade do irrigante por aquisição ou pela co-

69
responsabilidade na construção, cuja fração integra,
como parte complementar e inseparável, o título de do-
mínio do lote.
- Este mesmo artigo 3º já definira, em seu inciso I - Proje-
to público de irrigação, aquele implementado pelo Poder
Público e cuja infra-estrutura de irrigação e drenagem,
de uso coletivo, seja, inicialmente, de sua propriedade,
podendo ser alienada ou arrendada. No parágrafo 1º e s-
tá escrito: os projetos públicos de irrigação serão de ini-
ciativa dos Governos Federal, Estaduais, Municipais e
do Distrito Federal.
- Para tanto, o artigo 9º estabelece, em seu parágrafo 2º,
que o Poder Público poderá transferir aos usuários de
um projeto público de irrigação, organizados sob a for-
ma de distrito de irrigação ou outra entidade autogestio-
nária, a concessão dele, sob a forma de arrendamento.
- No inciso II - Projeto privado de irrigação, aquele im-
plementado pelo setor privado ou por este adquirido do
Poder Público, nos termos da legislação pertinente.
- No inciso III - Projeto misto de irrigação, aquele imple-
mentado de forma compartilhada pelo Poder Público e
setor privado.
- Já o inciso VII, do artigo 3º, não deixa margem à dúvida,
quanto ao significado econômico e destinação da tarifa
d’água, ao defini-la como o valor a ser pago pelo irrigan-
te pelo uso da água e da infra-estrutura de irrigação de
uso coletivo.
- No artigo 24, fica estabelecido que a infra-estrutura de
irrigação de uso coletivo dos projetos públicos e mistos
será administrada, operada e mantida por intermédio
dos próprios irrigantes organizados, preferencialmente,
em distrito de irrigação.
§ 1º. O Poder Público deverá promover a constituição
de um Distrito de Irrigação ou outra entidade autogesti-

70
onária, até o prazo de um ano, após a instalação do
primeiro irrigante.
§ 2º. As despesas correspondentes à administração,
operação e manutenção da infra-estrutura de irrigação
de uso coletivo serão rateadas entre os seus usuários,
sob forma de tarifa, de acordo com o estabelecido em
regulamento.
§ 3º. A tar ifa d’água será cobrada compulsoriamente de
todos os irrigantes pelo Poder Público, distrito de irriga-
ção ou outro concessionário, e seu valor deverá ser su-
ficiente para cobrir as despesas com a administração,
operação e manutenção do projeto.
§ 4º. Nos pr ojetos públicos de irrigação, o Poder Público
deverá custear os acréscimos de custos operacionais
correspondentes à área irrigável ainda não ocupada.
§ 5º. O Poder Público poderá contratar diretamente o
distrito de irrigação para a realização de obras de infra-
estrutura, observadas as normas legais.
- Art. 25 – Fica o Poder Público autorizado a alienar aos
irrigantes do projeto, por intermédio do Distrito de Irriga-
ção, independentemente de processo licitatório, as o-
bras de infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, de-
vendo o prazo de pagamento limitar-se ao máximo de
cinqüenta anos.
§ 1º. Não integrarão o valor da venda, de que trata este
artigo, o custo das obras de infra-estrutura social reali-
zadas no projeto.
§ 2º. A cota -parte das obras de infra-estrutura de irriga-
ção de uso coletivo, que caberá a cada irrigante, será
proporcional à área do seu respectivo lote e o integrará
de forma indissociada, para fins de registro no cartório
de registro de imóveis competente.

71
4.3 - Diretrizes para Implantação de Projetos de Irrigação

A legislação de irrigação proposta, se acolhida pelo Poder


Legislativo enseja que sejam observadas as seguintes diretrizes
de implantação de Projetos de Irrigação, significando inegável
avanço:
i) Projeto público de irrigação, para ser implantado, precisa
demonstrar sustentabilidade econômico-financeira; com-
patibilidade com prioridades nacionais e regionais; ob-
servância das normas ambientais e de gestão de recur-
sos hídricos; capacidade de gerar emprego e de desen-
volver o empreendimento familiar.
ii) Na região Nordeste, o poder público pode construir pro-
jetos de irrigação. Mas, para tanto, ele deverá organizar
a Associação de Produtores (Distrito de Irrigação etc.) já
no primeiro ano de operação do projeto. Administrar o
projeto de forma compartilhada com o Distrito de Irriga-
ção e, em seguida, transferir, via arrendamento, o proje-
to acabado a essa Associação, que se responsabilizará
pela operação e manutenção dele. Na sua desistência,
o projeto será arrendado a uma empresa privada.
iii) O poder público sempre terá a opção de vender qual-
quer projeto público à iniciativa particular. Para tanto,
assegura-se aos produtores, nele instalados, prioridade
de aquisição.
iv) É admitido o projeto misto de irrigação, do qual o poder
público poderá participar, mas sempre minoritariamente.
São, pois, atribuições do poder público estabelecer priori-
dades, incentivos e restrições, criar instâncias administrativas e
operá-las, com o objetivo de dirimir dúvidas e resolver conflitos
entre irrigantes e entre estes, Distrito de Irrigação ou empresas
particulares. Cabe-lhe ainda arbitrar tarifas d’água, fiscalizar e
supervisionar os projetos de irrigação públicos e mistos.

72
5 - INSTRUMENTOS DA NOVA POLÍTICA NACIONAL DE
IRRIGAÇÃO

A implementação da nova política de irrigação, conforme


mencionada anteriormente, exigirá vários instrumentos facilitado-
res e promotores, que passam pelo planejamento da irrigação, a
gestão de planos, programa, projetos, os serviços de apoio, os
mecanismos econômico-financeiros, entre outros, que serão dis-
cutidos a seguir.

5.1 - Planejamento da Irrigação


A “arquitetura” dos projetos públicos de irrigação não pode-
rá mais estar ligada apenas ao segmento de engenharia e organi-
zação, será preciso acrescentar o segmento de promoção, bus-
cando uma definição competente de um plano de negócios para o
empreendimento.

- Princípios Básicos
A irrigação deverá ser implementada mediante planos,
programas e projetos, que deverão:
a) dedicar atenção especial às áreas, cujas condições hi-
drológicas naturais são desfavoráveis e podem ser re-
vertidas, permitindo o aproveitamento agrícola de forma
economicamente competitiva;
b) explorar racionalmente os recursos de água e solo;
c) compatibilizar-se com os outros planos e programas se-
toriais;
d) integrar-se em nível federal, estadual e municipal;
e) considerar critérios técnicos, culturais, sociais e econô-
micos; e
f) respeitar o meio ambiente.
- Critérios para Elegibilidade de Área para Implantação de
Projetos Públicos
Os seguintes critérios deverão nortear a elegibilidade de
áreas para implantação de Projetos Públicos:

73
- Clima: os Projetos Públicos de irrigação serão implan-
tados na região semi-árida brasileira (limitada pela isoe-
ta de 800 mm/ano) ou em áreas onde os déficits no ba-
lanço hídrico ocorram em 7 ou mais meses do ano, ou
ainda, em áreas estratégicas, de interesse nacional.
- Solos: os solos deverão ser aptos à irrigação, conforme
critérios definidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), e observar as recomenda-
ções do manual de classificação de terras para irrigação
do Bureau of Reclamation dos EUA.
- Drenagem: se os estudos pedológicos indicarem po-
tencialidade para deficiência de drenagem (subterrânea)
e qualidade de água que possa favorecer a salinização,
o projeto deverá incluir estudos específicos e projetos
de drenagem e recomendação de manejo.
- Água: O agente de gestão de recursos hídricos da ba-
cia deve aprovar a utilização da água para irrigação na-
quela área.
- Integração: as áreas, prioritariamente, deverão estar
inseridas em regiões com programa de desenvolvimen-
to regional. Deve haver um protocolo de intenções entre
União, Estado(s) e Município(s), definindo as responsa-
bilidades de cada um no futuro projeto.
- Situação fundiária: as áreas deverão estar com a situ-
ação fundiária regularizada.
- Competitividade: apresentar planos de negócios, com
maiores possibilidades de êxito, menores riscos associ-
ados e condições de estruturação de mercado.
5.2 - Gerenciamento da Política, Planos, Programas e
Projetos de Irrigação

5.2.1 - Amplitude do gerenciamento da irrigação

A gestão de um Projeto de Irrigação ancora-se em normas


que decorrem da Política, dos Planos e Programas de Irrigação. Es-
tabelecem-se, por esses instrumentos, incentivos, restrições, priori-

74
dades, metas e recursos, e as normas asseguram a governança,
indicando os limites de ação de cada agente público ou privado.
A gestão cristaliza-se em quatro âmbitos (instâncias deci-
sórias) e níveis (ou categorias de decisão), quais sejam:
1º. O âmbito da determinação da política subsetorial de irrigação
(com seus princípios, diretrizes e instrumentos que orientam a
aplicação e implementação). Predominam decisões de nature-
za política e estratégica e, como tal, invariavelmente, relacio-
nadas com questões político-institucionais e, inevitavelmente,
condicionadas pela legislação ambiental e de recursos hídricos
e pelo ambiente macroeconômico.
2º. O âmbito dos processos decisórios, relacionados à localização
e implantação do projeto de irrigação (normalmente composto
de um ou mais perímetros irrigados). Aqui predominam deci-
sões táticas que são da responsabilidade dos órgãos executo-
res da política subsetorial de irrigação, os quais implantam o
projeto, diretamente e ou em conjunto com outras esferas e
instâncias governamentais e com a iniciativa privada.
3º. O âmbito da gestão do perímetro irrigado implantado. Aqui
predominam decisões de natureza tático-operacional que evo-
luem da esfera pública para a privada, em todos os países em
que a irrigação é importante.
4º. Finalmente, o âmbito ou domínio da gestão da atividade-fim,
que é da competência exclusiva do setor privado. Este âmbito
compreende a organização da produção agropecuária e a co-
ordenação de mercado.

5.2.2 - Proposta de sistema gerencial aplicado ao ambi-


ente da gestão de irrigação

Âmbito da Determinação da Política Nacional de Irrigação e


Drenagem

A FIGURA 1, a seguir, apresenta a Proposta de Sistemas


Gerenciais aplicados ao ambiente da Gestão da Irrigação.

75
FIGURA 1
ÂMBITO DA DETERMINAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL
DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM

Presidente
Congresso
Governadores
Prefeitos
Controle Sociedade, Públicos de
Social Interesse

Percepção das Representação


informações das informações

Ministério da Integração Output / Visibilidade Ferramentas e Técnicas


Nacional Sistemas de Medição e de Medição e Avaliação:
Avaliação processo manipulação
dados

Planos, Programas Técnicas e Sistemas


e Projetos e Técnicas de Medição: processo
de melhoria de coleta de dados

Inputs Outputs

Sistemas a Sistemas Sistemas a


Montante Organizacionais Jusante

FONTE: Consórcio Plena/FGV/Projetec.

76
5.2.3 - Atribuições de cada ente gestor de projetos pú-
blicos

No Âmbito da Gestão da Política Nacional de Irrigação

A determinação da Política e a definição dos Planos e Pro-


gramas compreende as seguintes atribuições e os respectivos
responsáveis:
a) Formulação da Política Nacional de Irrigação e Drenagem;
• Ministério da Integração Nacional (Coordenação);
• Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
• Ministério da Agricultura e Abastecimento.
b) Aprovação e Controle da Política Nacional de Irrigação
• Presidente da República.
Congresso Nacional (provendo os instrumentos legais ne-
cessários e acompanhando / avaliando sua execução).
c) Elaboração e Aprovação dos Planos Nacionais (Plurianual e
Anuais) e dos Programas
Regionais de Irrigação deles integrantes
• Elaboração: Ministério da Integração Nacional –
Coordenação e Controle
É realizada com participação estreita dos órgãos vincu-
lados, de entes correlatos e parceiros e de entidades
representativas de empreendedores do agronegócio da
agricultura irrigada;
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
Ministério do Meio Ambiente/Conselho Nacional de Re-
cursos Hídricos: Compatibilização com Política, Planos
e Programas de Recursos Hídricos e comprometimento
com a política de desenvolvimento sustentado de recur-

77
sos hídricos das bacias hidrográficas beneficiadas com
projetos de irrigação.
Ministério da Agricultura e do Abastecimento – Compatibili-
zação, sobretudo, com as Políticas, Programas e Projetos de Pla-
nejamento e Desenvolvimento (P&D) e Assistência Técnica e Ex-
tensão Rural (ATER), de Defesa Sanitária Agropecuária, de de-
senvolvimento e defesa de mercados dos produtos agrícolas e,
finalmente, comprometimento com a execução e aplicação da
política agrícola vigente.
• Aprovação: o plano plurianual é aprovado pelo Con-
gresso Nacional, e os planos anuais, pelo Ministro da
Integração Nacional.
• Validação: A validação, na esfera política, ocorre no
Congresso Nacional, nas assembléias legislativas e,
mesmo, nas câmaras de vereadores, dependendo de
ser ação de nível nacional, regional ou local.

No Âmbito da Gestão dos Projetos de Irrigação


A definição da localização, do desenho e da implantação
dos Projetos de Irrigação será de responsabilidade do Ministério
da Integração Nacional (coordenação, acompanhamento e avalia-
ção), tendo como apoio:
- Secretaria de Infra-estrutura Hídrica – supervisão e con-
trole
- Órgãos Vinculados: CODEVASF E DNOCS – co-
execução.
Deverão ser observadas as seguintes atribuições:
a) Gerenciamento Global dos Projetos - definição da loca-
lização e desenho de projetos. Negociação, preparação
e lavratura de instrumentos contratuais de co-
financiamento e de gestão. Promoção e diligenciamen-
to. Captação e alocação de recursos financeiros. Su-
pervisão e controle da aplicação e recuperação dos in-
vestimentos.

78
b) Gerenciamento de Obras - planejamento, contratação,
supervisão e controle do gerenciamento; provisão e alo-
cação de recursos financeiros nos projetos públicos;
c) Participação minoritária nos projetos mistos - provisão
de estudos de localização e de projetos de pré-
viabilidade, que comportam até 49% do investimento
pelo poder público; fiscalização e assistência técnica
(na implantação e gestão); e regulação da operação.
No Âmbito da Gestão do Projeto Público de Irrigação
A administração do Projeto, a operação e manutenção da
sua infra-estrutura de irrigação de uso coletivo serão de respon-
sabilidade do Ministério da Integração Nacional, pela Secretaria
de Infra-estrutura Hídrica, tendo como apoio:
a. Órgãos vinculados:
CODEVASF E DNOCS – co-gestão (apenas na fase de
implantação); co-financiamento da administração, da
O&M e da assistência técnica (para empreendedores fa-
miliares); supervisão, prestação de assistência técnica e
gerencial; fiscalização, auditagem da aplicação de recur-
sos financeiros e arbitragem (das políticas de distribuição
de água e tarifária).
b. Órgãos parceiros:
• por transferência de poder - Associações de Usuá-
rios da Água, Distritos de Irrigação (integrando
produtores rurais de pequeno, médio e grande
portes), para, após a implantação do Projeto, as-
sumirem sua administração e as atividades de O&M).
• por descentralização de poder - Secretarias Estadu-
ais - administração do Projeto e transferência da
O&M da infra-estrutura de irrigação de uso coletivo
para os Distritos.
c. Órgãos Interessados (governamentais setoriais) - pro-
vedores de bens públicos.

79
No Âmbito da Organização da Produção Agrícola
Na organização da produção, desde o processo de produ-
ção até os aspectos de coordenação de mercado, deverão ser
observadas as atribuições:
a. Poder público
Provê bens públicos, desenvolve e promove merca-
dos, assegura um adequado ambiente de contratuali-
dade e política econômica que não discrimine a ativi-
dade agropecuária, de modo que se possa obter e
manter vantagem competitiva dinâmica das atividades
componentes do agronegócio.
b. Empreendedores privados
Produtores de todos os portes, associados ou não em
grupos e ou cooperativas e integrados, mediante ins-
trumentos contratuais com outros elos do agronegócio.

5.2.4 - Sistemas de gerenciamento de projetos de irrigação

A experiência internacional de parceria público-privada no


uso de recursos hídricos, mesmo quando no conceito restrito de
operação de serviços de distribuição de água (como nos períme-
tros públicos de irrigação) sugere um leque de alternativas à nova
Política de Irrigação, no que respeita à ampliação da participação
do setor privado em projetos públicos de irrigação nas obras cole-
tivas de uso coletivo.
Cinco modalidades principais de contratação, operacionali-
zadas em vários países, são aplicáveis aos Projetos Públicos de
Irrigação:
i) Contratos de Terceirização de Serviços
Os contratos de terceirização de serviços, de execução
simples, mas com benefícios limitados, são aplicáveis, quando há
um objetivo operacional bem definido, busca-se determinada ex-
pertise, e desejam-se a redução de custos e a melhoria da efici-
ência dos serviços, no âmbito de Autarquias, Empresas e Con-

80
cessionárias Públicas, que já são, relativamente, bem administra-
das e que operam com sistemas tarifários comercialmente viáveis.
ii) Contratos de Gestão
Os contratos de gestão, que têm duração de três a cinco
anos, apresentam-se como um estágio preparatório para a imple-
mentação de alternativas mais sofisticadas de participação da
iniciativa privada, como o arrendamento, os contratos para Build-
Operate-Transfer (BOT) ou Build-Operate-Onw (BOO) ou a venda
de ativos.
Os contratos de gestão podem constituir-se em um meca-
nismo importante, de médio prazo, para abrir caminho à maior
participação do setor privado na gestão e nos investimentos.
iii) Contratos de Arrendamento
O contrato de arrendamento, mediante o qual o Governo
aluga determinado ativo – a infra-estrutura de irrigação de uso
coletivo, por exemplo, a um Distrito de Irrigação ou a uma empre-
sa privada, que passa a se responsabilizar por sua total operação,
manutenção e conservação, é um passo importante na introdução
do risco, na gestão de perímetros públicos de irrigação. Estes con-
tratos têm duração de 8 a 15 anos.
iv) Contratos para BOT e BOO
Os contratos para BOT, mediante o qual grupos privados
são chamados para realizar as seguintes tarefas:
(i) financiar e construir determinados sistemas completos.
(ii) operar o sistema por um prazo determinado (20-30
anos) e, mediante essa operação, obter o retorno do
investimento feito;
(iii) devolver as instalações ao Poder Público concedente,
findo o prazo do contrato.

81
v) Contratos de Transferência de Ativos
Os contratos de transferência de ativos possuem caracte-
rísticas de privatização, o que, na vigência da atual Lei de Irriga-
ção, é de aplicação vedada. Por ela os serviços são delegáveis,
mas os ativos são intransferíveis ao setor privado. Assim, sua a-
plicação dependerá de mudança na Lei 6.662/79, ora em discus-
são no Senado Federal. Na legislação de irrigação brasileira, o
prazo de pagamento pode ir até 50 anos (Brasil, 1979).

5.3 - Sistema de Produção, Pós-Colheita, Distribuição e


Mercado

Nos Pólos de Irrigação do Nordeste, basicamente, predo-


mina uma segmentação entre a produção, a pós-colheita e a dis-
tribuição, com negociação de preços no sistema “disponível”. Fal-
tam vínculos contratuais entre a produção e os segmentos a ju-
sante do setor (vínculos coordenados entre a colheita do produto,
beneficiamento, processamento, embalagem e transporte).
A informação gerada nos mercados finais de distribuição
não é transferida de forma sistemática e transparente aos produto-
res. A informação (de preços, qualidade, demanda, cadência de
absorção do mercado etc.) é assimétrica, e o comprador tem mai-
or poder relativo de barganha.
O resultado deste sistema desvinculado de coordenação
mediante contratos é a presença de riscos elevados para todos os
atores do processo, desde o produtor até o agente financeiro,
passando por todos os elos envolvidos.
O acesso à informação permite a atores individuais na co-
mercialização minimizarem riscos, transferindo-os aos atores com
menores níveis relativos de informação, no caso, os produtores.
Além da assimetria de informação, no que se refere aos as-
pectos de mercado e comercialização, também se observa a dificul-
dade dos técnicos, pequenos e grandes irrigantes, quanto à informa-
ção tecnológica disponível na pesquisa, ainda em forma fragmenta-
da, mas não adequada para o usuário, quando não dispersa entre
vários atores e não sistematizada e generalizável para região.
82
Como se vê, o sistema de produção pós-colheita, distribui-
ção e de mercado, predominante nos pólos de irrigação do Nor-
deste e portanto nos projetos públicos de irrigação, é deficiente
por causa da assimetria de informação de preços, tecnológica e
gestão comercial.
Como instrumento de implementação da nova política de
irrigação, buscando-se sustentação econômica, financeira e ambi-
ental para os projetos públicos, inclusive com a maior participação
da agricultura irrigada nas exportações, o sistema de produção
pós-colheita, distribuição e mercado deve ser orientado para os
aspetos de gestão comercial, estratégia de mercado, informação
de mercado e informação tecnológica, assim como ocorre em paí-
ses como EUA, França, Chile, Espanha entre outros.

5.3.1 - Sistema de gestão comercial

Atualmente, nos projetos públicos de irrigação, os irrigan-


tes (quer pequenos, médios ou grandes), de forma individual ou
mediante suas organizações (cooperativas, distritos, associações
etc.), desenvolvem muitas funções, dentro do processo de produ-
ção, desde a identificação de oportunidades de mercado e de
compra de insumos, até a viabilização da produção. Por isto, o
processo de decisão é complexo e envolve maiores riscos, princi-
palmente, quando se trabalha com produtos hortícolas.
Interromper essa característica significa maior ganho para
os produtores, notadamente, o pequeno (que não tem volume,
atuando isoladamente). Isto será possível se o processo de co-
mercialização for realizado por organizações-líderes (tais como:
cooperativas de produtores, associações, agroindústrias, empre-
sas especializadas em comercialização etc.), quando o volume de
produção individual não for suficiente ou diretamente pelo produ-
tor, quando o volume de produção individual for suficiente.
As organizações-líderes estarão realizando a coordenação
de mercado e tornando as informações mais simétricas, porque é
de seu interesse. A ênfase é na gestão comercial.

83
5.3.2 - Estratégias de mercado

O governo deve estimular, via informações e capacitação,


os produtores e suas organizações a estudarem e definirem os
mercados.

Fundamentos

• Empresas, produtores, suas associações e cooperativas


comercializam, prioritariamente, diretamente com o sis-
tema varejista, com ênfase nos supermercados e vare-
jões. Em conseqüência, apropriam-se de margens, hoje
distribuídas pelos diversos atores da cadeia produção-
consumo.
• Pesquisa é um investimento muito lucrativo.
• A associação dos produtores é fundamental à obtenção
de ganhos de escala, os quais assegurem custos com-
petitivos.
• Caso a associação não seja possível, a opção são as
empresas de comercialização que já possuam tradição
no mercado.
• Profissionalismo é fundamental para o sucesso.

Fases da Estratégia

FASE 1 – Conhecimento do Mercado

FASE 2 – Planejamento da produção

As informações coletadas permitem planejar a produção,


de modo a atender às condições do(s) negócio(s) fechado(s) nas
condições pactuadas.

FASE 3 – Pós-colheita e logística de comercialização

84
FASE 4 – Pós-venda

1. É comum que problemas de produção sejam identifica-


dos nas áreas de venda dos supermercados e varejões.
É a assistência, do tipo pós-venda, que permite que e-
les sejam detectados e solucionados. O contato direto
com os repositores das lojas e com os consumidores é
interessante para a coleta de informações que auxiliem
o planejamento da produção.
2. Contato de retorno com o comprador também permite
avaliar a operação e coletar subsídios estratégicos para
a continuação do negócio.

5.3.3 - Sistema de informação de mercado

O desenvolvimento das áreas irrigadas está relacionado à


implementação de estratégias que visem melhorar o perfil geren-
cial dos tomadores de decisões, seja na produção, seja na comer-
cialização, induzindo-os a melhorar o processo decisório .
As diversas tentativas de correção de rumos visaram à
produção, com pouca ênfase no mercado, seja o pós-colheita ,
seja a comercialização, e não têm, por isto, surtido os efeitos
esperados.
Propõe-se a criação de um Sistema de Informações, medi-
ante a realização de ações, voltadas à coleta, ao tratamento e à
difusão de informações que são úteis para tomada de decisões
gerenciais, no âmbito dos agricultores e de suas organizações.
Quer-se, assim, transformar as informações no “elemento-chave”
do aumento da capacidade de competir. Estas ações são, como
de resto na maior parte do mundo, desenvolvidas pelo Governo,
em articulação com o setor privado.

5.3.4 - Sistema de informação tecnológica

A EMBRAPA coordena o Sistema Nacional de Pesquisa


Agropecuária (SNPA). Com base nas informações de pesquisa,
nas observações dos vários sistemas de produção utilizados em

85
nível regional e na análise econômica das tecnologias geradas, o
Governo deve organizar e disponibilizar, para cada Pólo de Irriga-
ção, sistemas de produção (“pacote tecnológico”), contendo, entre
outras, informações, para cada cultura:
• cultivares, sua aceitação e compatibilidade com as exi-
gências de mercado;
• população de plantas/ha;
• adubação e correção de solos;
• indução foral;
• controle de pragas e doenças;
• formas de condução da cultura;
• tratos culturais;
• manejo da irrigação (como, quanto e quando irrigar);
• aspectos de colheita, armazenagem, embalagem, etc.

5.4 - Serviços de Apoio

A implementação bem-sucedida da Nova Política de Irriga-


ção exige a criação de um sistema de Serviço de Apoio que facili-
te, ainda mais, a participação privada no negócio da irrigação (en-
tendido nos aspetos de mercado, comercialização, agroindústria,
implantação de projetos privados, participação nos projetos mis-
tos), bem como criar condições para os pequenos produtores irri-
gantes dos projetos públicos desenvolverem-se. Quanto aos Pólos
de Irrigação do Nordeste, é importante terem acesso à caracteri-
zação específica do mercado, em aspectos, como: certificação de
origem, certificação de qualidade e programação da produção.
Discute-se um conjunto de Serviços de Apoio, que devem
ser implementados ou assegurados por ações governamentais es-
pecíficas a cada pólo de irrigação, buscando dar a eles competitivi-
dade. Trata-se dos serviços de plataforma de informações, assis-

86
tência técnica e gerenciamento da produção, pesquisa e desenvol-
vimento, capacitação em gestão e gerenciamento ambiental.

5.4.1 - Plataforma de informações

A Plataforma de Informações, em cada Pólo de Irrigação


do Nordeste, objetiva dar, como em vários países, o acesso dos
diversos atores às informações técnicas e gerenciais que subsidi-
am a iniciativa privada em vários tipos de decisões, como: a im-
plantação de agroindústria, de empresa exportadora e de projeto
privado de irrigação. As informações devem ser detalhadas para
permitir avaliar os riscos associados e a atratividade de qualquer
empreendimento.
A Plataforma permitirá que se possa transmitir aos peque-
nos produtores, em projetos públicos ou não, as formas mais con-
venientes de tecnologia e de organização da produção.
A Plataforma de informação deverá estar na Internet e utili-
zar formas variadas de divulgação. Precisa ser constituída em
cada Pólo de Irrigação e conter, no mínimo:
- Informações básicas, relacionadas à climatologia, à
hidrologia e aos solos, à pré-viabilidade de projetos, à
caracterização ambiental, à disponibilidade de infra-
estrutura de escoamento, à saúde, à educação e às
barreiras fitossanitárias, entre outros.
- Informações tecnológicas, relacionadas às culturas
potenciais da região.
- Informações de mercado, relacionadas à série históri-
ca de dados de mercado das culturas, potencialmente
descritas nas informações tecnológicas.
- Informações gerenciais, relacionadas à área irrigada,
produção por cultura nos últimos anos, agentes finan-
ceiros, linhas de crédito, etc.

87
5.4.2 - Assistência técnica/gerenciamento da produção

Os pequenos produtores, vinculados aos Projetos Públicos


de Irrigação de responsabilidade da CODEVASF, recebem apoio
financeiro e treinamento de um programa de Assistência Técnica,
com diretrizes, estratégias e busca de resultados. Não é, porém, o
mesmo, o procedimento do DNOCS.
Quanto aos médios e grandes irrigantes, quer em projeto
público, quer em propriedades privadas, a assistência técnica é de
empresas privadas ou de profissionais autônomos.
Nos projetos públicos (para pequenos, médios ou grandes
irrigantes) ou em propriedades privadas, o trabalho de assistência
técnica dá ênfase maior aos aspectos de produção, restringe-se
aos limites da propriedade e pouco se envolve em interesses do
agronegócio. Ora, isto está na contramão da modernidade e, por-
tanto, não convém à agricultura competitiva que se deseja ver
predominar no país.
O Governo deve induzir o treinamento dos técnicos da as-
sistência técnica particular, em áreas como gestão, comércio e
promoção de exportações, disponibilizar as informações técnicas
geradas ou identificadas pela pesquisa.
Com relação aos empreendedores familiares (pequenos ir-
rigantes), o Governo deve participar do gerenciamento da produ-
ção, mediante equipe especializada.
Entende-se que o procedimento de gerenciamento da pro-
dução, e não apenas assistência técnica, permite aos empreen-
dedores familiares ou a pequenos irrigantes condições de compe-
titividade, numa agricultura cada vez mais dependente de produti-
vidade e qualidade e voltada para o mercado.
A estratégia proposta, como ocorre na agricultura em ou-
tros países, vale-se da participação e ajuda de organizações es-
pecializadas, mas de escopo mais amplo que a agricultura, como
o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), o Serviço de
Apoio a Pequena e Média Empresa (SEBRAE) e a plataforma de
informações.

88
5.4.3 - Pesquisa e desenvolvimento (P&D)

O estudo, propõe:
i) identificação e definição de sistemas de produção (pa-
cotes tecnológicos), envolvendo atores regionais
(produtores inovadores, técnicos de Assistência
Técnica, Técnicos de Pesquisa), com base em
informações regionais. Devem-se quantificar os custos e
a rentabilidade.
ii) Utilizar a metodologia de prospeção para determinar a
demanda de pesquisa, a qual se vale de seminários te-
máticos regionais, que envolvem a participação de re-
presentantes dos elos do agronegócio da agricultura ir-
rigada, para levantar os problemas de pesquisa e estra-
tégias de solução e de financiamento.

5.4.4 - Programa de capacitação em gestão

A agricultura necessita dar sustentação econômica e am-


biental aos projetos de irrigação, quer públicos, quer privados.
Assim sendo, requer um nível elevado de profissionalização e a
maximização da eficiência de uso de todos os insumos e serviços.
Por isto, a nova política de irrigação não pode fugir à responsabili-
dade de apoiar um programa de capacitação em gestão, que seja
adaptado às características regionais. O SENAR e SEBRAE po-
dem organizá-los e, mesmo, patrociná-los, tendo como público os
atores do negócio.
O programa de capacitação deverá levar em consideração
o tipo de público envolvido, como os pequenos irrigantes e empre-
sários, cabendo subsídio para o primeiro grupo.
O currículo do programa de capacitação em gestão, sem-
pre com enfoque na cadeia produtiva, deverá conter, no mínimo,
contabilidade de custo, formação de preço, administração de or-
ganizações de usuários, voltadas para comercialização, qualidade
de produto, organizações de usuários voltadas para operação e
manutenção de projetos de irrigação e mudança comportamental.

89
5.4.5 - Serviços de gerenciamento ambiental

A crescente exigência de qualidade dos produtos agríco-


las, no mercado interno e externo, exige a utilização de selos de
origem, como controle de qualidade.
Competir significa produzir mais barato que os concorren-
tes, atender aos desejos dos consumidores e preservar o meio
ambiente. Procedimentos de controle ambiental dão sustentação à
qualidade e, conseqüentemente, aos selos de origem. Por isto, é
importante implantar nos Projetos Públicos de Irrigação um Siste-
ma de Gerenciamento Ambiental, que observe as diretrizes do
Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA), monitore, entre
outros, qualidade de água, a utilização de defensivos (quantidade
e tipo) e a disposição adequada do lixo (agrotóxico e residencial),
além de realizar trabalho educativo sobre as questões ambientais.

5.5 - Mecanismos Econômico-Financeiros

A agricultura irrigada compreende: (i) aquela de responsa-


bilidade exclusiva do setor privado e engloba desde áreas irriga-
das pequenas, com menos de 4 hectares, até áreas acima de
1000 hectares; (ii) aquela em que o setor público constrói a infra-
estrutura de irrigação de uso coletivo e social, assenta irrigantes e
procura criar condições para o êxito da atividade.
A nova legislação propõe também projeto misto, em que o
poder público poderá se juntar à iniciativa particular num empre-
endimento de irrigação, sendo sua participação acionária limitada
a até 49%. Compete ao setor privado financiar os projetos mistos
e privados.
No que diz respeito à agricultura irrigada e, mesmo, à agri-
cultura em geral, o crédito do Governo é o principal instrumento de
financiamento dos projetos privados e daquilo que compete à ini-
ciativa particular nos projetos públicos. E nestes, o Governo ainda
financia a parte que lhe cabe: elaboração de projeto, desapropria-
ção da área, construção da infra-estrutura de uso comum, estrada,
rede elétrica, assentamento de irrigantes, implantação e desen-
volvimento do distrito de irrigação e supervisão de sua ação.

90
Outra fonte importante de financiamento são os recursos
próprios existentes na época da implantação do projeto e gerados
a partir daí. Formas mais sofisticadas de financiamento não têm
sido ainda utilizadas. Será apresentada uma revisão delas, a fim
de indicar que condições devem ser criadas para que elas se tor-
nem uma via adicional de financiamento da irrigação, para agricul-
tura irrigada e também discutido como se pode dar o financiamen-
to de um projeto público.

5.5.1 - Fontes e mecanismos de financiamento

a) Crédito rural

Do ponto de vista da recuperação de custos, é crucial que


os projetos públicos atinjam a maturidade no menor espaço de
tempo possível. Três fatores têm impedido que isto ocorra: (i) de-
mora do Governo em concluir as obras, selecionar e assentar os
irrigantes. A razão são os freqüentes contigenciamentos de recur-
sos feitos pelo Governo Federal o que posterga em demasia os
investimentos; (ii) má seleção de irrigantes, tanto do ponto de vista
de capital humano, quanto de possuir o mínimo de recursos pró-
prios exigidos para a empreitada, já que a agricultura irrigada é
uma atividade capital-intensiva e, finalmente, (iii) as normas de
crédito rural, que exigem um nível exagerado de garantias, além
de ser o crédito deficiente quanto a montante e prazo.
As normas de crédito precisam se ajustar às peculiarida-
des da irrigação, quanto a montante, prazos, juros, oportunidade e
garantias.
O acesso ao crédito pode ser melhorado em função das
seguintes providências:
1. há um amplo reconhecimento de que a administração
eficaz do crédito depende da redução dos custos de
transação, para tomadores e instituições prestamistas.
Neste sentido, reforços nas linhas de unidades móveis e
unidades recebedoras de propostas ou iniciativas nesta
linha são essenciais;

91
2. outro ponto diz respeito às medidas de capacitação pa-
ra a gestão do crédito destinado à irrigação, área que
não deve ficar de fora do esforço de reestruturação da
atividade. Nesta área, não a capacitação dos quadros
operacionais e a assistência técnica financeira ao nível
de carteira, mas também três áreas estratégicas reque-
rem a maior atenção possível;
• capacitação gerencial dos mutuários;
• capacitação dos mutuários em operações financeiras;
• capacitação dos mutuários em contabilidade de custos.
Manual de financiamento da agricultura irrigada
O crédito rural é, sem dúvida, um dos instrumentos mais
importantes de política para o setor de irrigação. Há uma boa den-
sidade de linhas de crédito disponíveis, principalmente para o se-
tor de produção. Entretanto, há necessidade de consolidação do
normativo em um único documento, com título de manual de fi-
nanciamento da agricultura irrigada. Trabalho semelhante foi reali-
zado pelo Banco do Nordeste com o Book do Gestor.
b) Bolsas de valores: títulos e valores mobiliários
Apesar das características próprias do mercado financeiro
(leia-se bolsa de valores: títulos e valores mobiliários), é possível
à agricultura irrigada, via suas organizações e empresas, utilizar
esse mecanismo. O mercado tem criado oportunidades que de-
vem ser consideradas pelos irrigantes e suas organizações na
área do negócio da irrigação. Há novos negócios e novas alterna-
tivas de financiamento/ capitalização que, somadas àquelas já
existentes, tentam inserir no mercado de capitais um número bem
maior de empresas.
c) Companhias de risco
As companhias de capital de risco canalizam investimentos
de investidores, com carteiras diversificadas, para as pequenas e
médias empresas de grande potencial de rentabilidade e cresci-
mento, pela participação societária. Os recursos dessas compa-

92
nhias provêem de investidores individuais, grandes empresas,
federações, associações e “clubes” empresariais, bancos, orga-
nismos de fomento e outros investidores, na expectativa de ga-
nhos acima das aplicações financeiras tradicionais de mercado.
As principais vantagens estão nos seguintes pontos: (i) são for-
mas mais avançadas de equity financing – condição hoje funda-
mental para viabilizar investimentos de média maturação (sem
isso, muitos investimentos no mundo não são viáveis, apesar de
serem altamente rentáveis); (ii) como buscam taxas elevadas de
retorno, são capazes de financiar investimentos mais arriscados,
pois, onde há risco, há maiores taxas de retorno ; (iii) sabem com-
pensar o risco, atuando com empresas de tecnologia de ponta e
mercados de alto poder aquisitivo; (iv) por preferirem empresas de
gerenciamento competente, viabilizam as modernas técnicas de
gerenciamento.
As principais desvantagens residem no fato de que não se
viabilizam quando operam: (i) com “commodities” de baixo valor
agregado; (ii) com sistemas que dependem de atividades de mão-
de-obra intensiva; (iii) com operações muito complexas, dependo
de muitos fornecedores de serviços e insumos intermediários; (iv)
com investimentos de longo período de maturação; (v) com empre-
endimentos em que crédito bancário é fonte principal de financia-
mento;(vi) com mercado de baixo nível de negociabilidade dos direi-
tos (ações); (vii) em regimes que não respeitam direitos minoritários
nos arranjos societários; (viii) em ambientes em que os donos dos
negócios não pagam nem dividendos e nem a participação; (ix)
com investidores que não participam com capital de risco.
d) Fundos mútuos de investimentos e empresas emergentes
Hoje responsáveis por uma parcela substancial das aplica-
ções de recursos de risco nos segmentos competitivos dos mer-
cados financeiros mundiais, estes fundos têm apresentado resul-
tados e crescimentos surpreendentes. São, inquestionavelmente,
aplicações de riscos, inclusive riscos ampliados, devido ao conjun-
to das empresas componentes dos fundos (o que, em certo senti-
do, não ocorre com as companhias de capital de risco).

93
Suas vantagens são: (i) diluição de riscos; (ii) potencial de
formação de um conjunto de participações de empresas de alta
rentabilidade (ainda que poucas em um conjunto maior de empre-
sas); (iii) alternativa de investimento fora do circuito de alta com-
petitividade de fundos e aplicações (que pouco mais rendem que
poupança, como considera o mercado); (iv) rapidez de expansão
da demanda de seus serviços, como ocorreu nos Estado Unidos e
Europa, com valorização das quotas.
e) Fundos de Capital de Risco e Desenvolvimento Local
É um dos sistemas mais promissores de financiamento de
empresas de pequeno e médio portes nos projetos de irrigação.
Uma das suas principais vantagens é que na agricultura irrigada
há geração de renda suficiente para formar um fundo de poupan-
ça e de empréstimo de baixo custo operacional, sendo, portanto,
baixos os níveis de índices de dependência de subsídios (SDI, ou
seja, diferença entre os custos de captação, mais os custos de
administração e as taxas de empréstimos).
Esses fundos devem contar, majoritariamente, com recursos
de investidores da própria localidade. Por esta razão, são fundos de
poupança e empréstimo. Isso, por si só, faz grande diferença.
Fundos como estes têm a vantagem de superar as gran-
des dificuldades dos sistemas de crédito convencionais, que mis-
turam crédito de fomento com crédito comercial, prática já aban-
donada em alguns países.
f) Securitização de Recebíveis de Vendas
Atestam suas vantagens crescentes operações desta natu-
reza em todo o mundo, que se avolumam, significativamente, a
cada ano.
Na atualidade, a securitização está cada vez mais associ-
ada a operações financeiras de pequenas empresas, se sua ori-
gem estiver ligada a operações similares a descontos de títulos
(duplicatas mercantis, por exemplo) de grandes empresas. Pela
segurança que oferecem, estas operações estão despertando
interesse crescente dos bancos. Muitas operações de pequenas
empresas estavam concentradas em esferas “não-bancárias”
94
(como as factoring). Hoje, operações como “vendor” e securitiza-
ção de recebíveis interessam aos bancos não-especializados,
com arranjos totalmente apoiados em bancos comerciais.
Como se sabe, a operação envolve basicamente: (i) títulos
de uma “atividade homogênea”, disponibilizados por um “vendedor
de contas a receber”; (ii) um intermediário especializado como
emissor de “certificados” (servicer); (iii) investidores interessados
em comprar estes certificados; (iv) um vínculo fiduciário que clas-
sifica os recebíveis; (v) uma função auxiliar de reforço de crédito
que adiciona credibilidade.
g) Financiamento dos Projetos Públicos
O financiamento da infra-estrutura de uso coletivo nos pro-
jetos públicos será realizado pelos recursos do Tesouro ou pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-
DES), podendo ser complementado com recursos de instituições
internacionais.
No curto prazo, é possível que a iniciativa privada venha fi-
nanciar a infra-estrutura de irrigação de uso coletivo, desde que o
Governo esteja disposto a oferecer garantias, por exemplo, com
base no recebimento de tarifa d’água. Para tal, o Governo vende a
infra-estrutura no momento de assentamento dos irrigantes, mas a
transferência da propriedade definitiva ocorrerá no momento da
quitação da última parcela. As parcelas a serem recebidas dos
irrigantes são dadas, pelo Governo, como garantia, à firma que
financiou o projeto. Em adição, o Governo garante, por certo perí-
odo, negociado caso a caso, o pagamento das parcelas devidas
pelos irrigantes. Esta negociação está prevista no edital de licita-
ção do projeto. Estas parcelas também podem garantir a firma
financiadora nos empréstimos que vier a tomar.

5.5.2 - Descrição dos riscos financeiros

O objetivo deste capítulo é a avaliação dos riscos de inves-


timentos em empreendimentos comerciais dos projetos de irriga-
ção. Uma outra tarefa é avaliar os riscos cambiais dos projetos,
quando são financiados por empréstimos externos, aporte de capi-

95
tal de empresas do exterior e se destinam à exportação. Com a
liberação do câmbio, hoje em regime de liberdade de flutuação,
reduziu-se, significativamente o risco que se origina no Governo.
E o câmbio passa a ser um preço que flutua de acordo com as
forças de mercado, não se desprezando aquelas de natureza es-
peculativa. Nas condições dos projetos de irrigação, julgou-se que
os riscos de origem na nossa economia dominam amplamente
aqueles de câmbio. Optou-se, por isto, por não avaliá-los.
O enfoque adotado para este capítulo consistiu em avaliar
os riscos tais como são percebidos pelos investidores. Por isto,
foram consultados os potenciais investidores do negócio. Buscou-
se conhecer a opinião dos investidores que estão no negócio, co-
mo também os riscos dos projetos de irrigação.
a) Riscos gerais dos projetos de irrigação

Os principais riscos gerais de um projeto de irrigação, a-


presentados por investidores são:
1. Não ser possível, até aqui, construir, a partir de vanta-
gens comparativas, vantagens competitivas.
2. Desconhecimento da real dimensão dos mercados dos
produtos.
3. As condições de logística - infra-estrutura pública - são
adequadas?
4. Temos competência tecnológica?
5. Há uma integração das cadeias na agricultura irrigada na
prática? Há uma visão holística dentro do próprio setor?
6. Podemos confiar em uma união de toda a cadeia em
torno de organização com objetivos comuns de valori-
zação do negócio?
7. Como é a parceria do Governo com iniciativa privada
neste negócio? Existe uma tradição à altura dos novos
objetivos? Caso não, é possível mudá-la?

96
8. Que esforços há de desenvolvimento de mercado no
exterior, ou seja, de promoção comercial dos produtos
brasileiros?
9. A mão-de-obra qualificada existe? Alfabetizada? Ca-
pacitada?
10. Qual o peso dos encargos trabalhistas? Há incentivos?
11. Com relação ao fornecimento de energia elétrica, em
alguns perímetros a situação não é satisfatória.
12. Há também risco de fornecimento de água.
b) Avaliação de riscos financeiros
Os principais riscos financeiros para a agricultura irrigada
apontados por investidores foram:
1. Atrasos na implementação do projeto como um todo.
2. Restrições externas de capital (financiadores).
3. Restrições internas de capital (financiados).
4. Baixa capacidade de alavancagem (comprometimento
de ativos).
5. Custos de capital, acima do esperado, nos fluxos de
caixa.
6. Falta de cumprimento dos compromissos de liberação
de recursos públicos planejados para etapas de forne-
cimento de água e infra-estrutura.
7. Interferências indevidas do Governo: risco institucional.

5.5.3 - Estratégias para mitigar os riscos do negócio

Como na seção anterior, ouviram-se investidores atuais e


potenciais em agricultura irrigada no Nordeste brasileiro e Norte
de Minas, como mitigar aqueles riscos citados anteriormente. As
propostas principais foram:

97
1. Informações detalhadas dos tipos de cultivos possíveis
de serem cultivados nos projetos de irrigação, para efei-
to de estudo preliminar de mercado, sem o qual o pro-
cesso de decisão não se iniciaria.
2. Indicação de potencial para a exportação dos produtos
oriundos dos projetos, bem como das condições físicas
de embarque da produção vendida ao exterior.
3. Garantias preliminares de que os projetos terão financi-
amento (notadamente do Banco do Nordeste).
4. Inventário da infra-estrutura social e produtiva disponí-
vel: estradas, escolas, eletricidade, etc.
5. Disponibilidade de mão-de-obra e qualificação dos tra-
balhadores na região, bem como experiência no trato da
irrigação.
6. Adesão de empresas construtoras, que seriam associa-
das à formação de um grupo para execução das obras
do projeto.
7. Indicações de adesão de parcerias com bancos nacio-
nais ou estrangeiros (nas carteiras de participação) e de
garantia de créditos de capital fixo, de investimento,
custeio, comercialização e exportação.
8. Incentivos fiscais para aumentar e acelerar os retornos
de projetos economicamente viáveis.
9. Promoção permanente sobre os produtos brasileiros,
por parte do Governo.

5.5.4 - Premissas norteadoras da participação do setor


público, esferas federal, estadual e municipal

O papel do setor público é oferecer bens e serviços públi-


cos de boa qualidade. Não deve prover bens e serviços privados
que são da competência do setor privado. A agricultura irrigada é
muito exigente em termos de bens públicos estratégicos. Baseado
neles, o setor privado monta seus planos de gestão e investimen-

98
tos. Os investimentos serão tão mais viáveis quanto melhor em-
pregados forem os escassos recursos públicos.
Para a atração dos investimentos privados, em primeiro lu-
gar, é necessário definir, precisamente, o papel do setor público, o
que está sendo feito na proposta de Lei que está em outra seção
deste estudo. Em segundo lugar, devem-se criar condições ótimas
para que o setor privado invista com lucro. Em terceiro lugar, mos-
trar que o negócio de irrigação pode competir vantajosamente
com outras oportunidades de investimento.
Havendo uma definição irreversível acerca do papel do es-
tado no novo paradigma, os investidores assumem suas respon-
sabilidades. A implantação da nova política de irrigação, com a
participação do setor privado, em volumes maiores de investimen-
tos, dependerá de mudança de paradigmas de atuação, tanto em
razão do porte dos investimentos necessários, quanto pelos riscos
associados.

99
MODELO ESPECÍFICO PARA OTIMIZAÇÃO E
PROMOÇÃO DO PROJETO DE IRRIGAÇÃO SALITRE –
JUAZEIRO DA BAHIA

Este segmento faz uma breve descrição do Projeto Salitre,


situado no município de Juazeiro – BA. Apresenta sugestões para
implementar o Projeto dentro da concepção do Novo Modelo, po-
rém com base na legislação atual. A proposta se baseia na capaci-
dade de atrair mais e melhores empreendedores ao projeto pelos
mecanismos de Plataforma de Informações, Plano de Negócio, Pla-
no de Promoção e marketing e uma forma avançada de assistência
técnica e gerenciamento para os pequenos empreendedores.
Foi desenvolvido, seguindo as diretrizes do Modelo Geral
ajustado à atual Lei de Irrigação. Considera o Projeto Salitre um
empreendimento contido num agronegócio com agricultura irrigada.
Propõe uma estratégia moderna de implementação de em-
preendimentos, com base numa plataforma de informações, num
plano de negócios e num processo de promoção e marketing.
Propõe que a promotora-líder do empreendimento, a CO-
DEVASF, se associe a um Sponsor, como o Banco do Nordeste e
ou Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BN-
DES), e ao Governo da Bahia, na implantação de um modelo ge-
rencial que busque a maior participação da iniciativa privada.

100
1 - DESCRIÇÃO GERAL SOBRE O PROJETO SALITRE

O Projeto de Irrigação Salitre é um empreendimento con-


duzido pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (CODEVASF), vinculada à Secretaria de Infra-estrutura
Hídrica do Ministério da Integração Nacional.
O Projeto, a ser implantado em 5 etapas, tem uma superfí-
cie agrícola útil (SAU), ou seja, área irrigável de 29.588 ha, a ser
implantado em 5 etapas. A 1ª etapa, com 5.940 ha, está em fase
de implantação.
Localiza-se no município de Juazeiro (MAPA 1), Estado da
Bahia, estando, portanto, situado no pólo agroindustrial Petrolina–
Juazeiro.
A CODEVASF já desenvolveu estudo de viabilidade e Pro-
jeto Básico em 1997, tendo como indicadores:
- Valor presente líquido – VPL (11% a.a.) US$ 240 milhões
- Relação benefício/custo – B/C (11% a.a.) . 1,66
- Taxa interna de retorno 20 %
- Empregos diretos a serem gerados 20 mil
- Custo por emprego direto US$ 18,7 mil
- População diretamente beneficiada 54.400 pessoas.

A seguir, têm-se as principais características do empreen-


dimento.

1.1 - Abastecimento d’Água

- Fonte hídrica do Projeto: rio São Francisco


- Captação prevista para o Projeto: 42,00 m3/s

101
- Situação do rio na captação: cota de 360,23 m para vazão mí-
nima de 640 m3/s e cota de 366,00 m para vazão máxima de
9.000 m3/s.
1.2 - Parcelamento da Área

- 80% da área irrigada é destinada a médias empresas (23.714


ha), com lotes de 30 a 60 ha SAU, e os 20% restantes (5.874
ha) destinados a pequenas empresas (anteriormente denomi-
nados pequenos produtores), com mais de 6,0 ha.
- Excluindo-se a área da FAO, o perímetro é composto de 1.429
lotes, distribuídos por tipo dos usuários da seguinte forma:
TABELA 2
DISTRIBUIÇÃO DO PERÍMETRO POR TIPO DE USUÁRIO
Empresa
Subárea Total
Média Pequena
CHESF 77 328 405
SALITRE 408 616 1.024
Total 485 944 1.429
FONTE: Codevasf.

102
MAPA 1
LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

FONTE: Codevasf.
103
1.3 - Implantação do Projeto

- A CODEVASF prevê que o Perímetro Irrigado Salitre deverá ser


implantado em 5 etapas, num prazo total de 12 anos (MAPA 2).
- Atualmente está sendo implantada a Etapa 1, que foi subdividi-
da em três fases, assim caracterizadas:
TABELA 3
PERÍMETRO IRRIGADO SALITRE – ETAPA 1
o
N. de Lotes - Empresas Previsão de
Fase Área (ha)
Pequenas Médias Conclusão
I 2.057 154 19 dezembro/2000
II 1.806 43 28 março/2001
III 2.077 48 36 dezembro/2001
Total 5.940 245 83 -
FONTE: Codevasf.

1.4 - Potencialidade de Produção Agrícola

As características de clima e solo do projeto e a disponibi-


lidade de água favorecem o cultivo de uma ampla gama de produ-
tos. Foram levantadas as culturas que apresentaram maior poten-
cial e que tiveram uma definição tecnológica por parte da pesqui-
sa, testada em nível do produtor, ou que tiveram uma definição de
tecnologia adaptada de outras regiões, portanto também já testa-
da em nível de produtor. Apresenta potencial para culturas como:
manga, banana, limão, coco, tomate industrial, pimentão industri-
al, milho, feijão, cebola, mamão, uva etc.

1.5 - Potencialidade do Projeto Salitre para Agroindústria


e Mercado Externo

Estrategicamente situado dentro do importante Pólo Petro-


lina–Juazeiro, o Projeto Salitre encontra um ambiente privilegiado
para seu desenvolvimento, em função da infra-estrutura já existen-
te e do complexo agroindustrial já instalado, inserido em um ver-
dadeiro cluster, cujo crescimento tem sido considerado o de maior
potencial no contexto da agricultura irrigada da região Nordeste. A
área destinada à implantação do Projeto Salitre está situada a
cerca de 40 quilômetros ao sul da cidade de Juazeiro, na margem
direita do rio São Francisco, próximo da barragem de Sobradinho.
A área pertence ao município de Juazeiro e à bacia hidrográfica
do São Francisco, sub-bacia do rio Salitre.
A cidade de Juazeiro forma, com Petrolina, uma ampla á-
rea urbana cortada pelo rio São Francisco, atravessada por impor-
tantes entroncamentos rodoviários do Nordeste e dotada de uma
infra-estrutura de transporte ferroviário, hidroviário e aéreo, de
grande potencial de aproveitamento. As cidades Petrolina e Jua-
zeiro são as mais importantes da região e é onde se concentram
os negócios do setor agrícola. O Pólo se caracteriza, também,
pela existência de grande número de empresas de industrializa-
ção e comercialização de produtos agrícolas, que lá encontram
um ambiente favorável à diversificação e à complementação de
atividades, indispensáveis aos novos paradigmas de competitivi-
dade regional.

105
MAPA 2
FASES DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO

FONTE: Codevasf.

106
O pólo Petrolina–Juazeiro, onde se situa a área do Projeto
Salitre, encontra-se praticamente eqüidistante das grandes capi-
tais nordestinas e de grandes centros do país (tabela abaixo).
TABELA 4
EQUIDISTÂNCIA ENTRE O PROJETO SALITRE
E ALGUNS CENTROS DO PAÍS
Cidade Distância (km)
Salvador 511
Recife 721
Fortaleza 878
Brasília 1.810
Rio de Janeiro 1.928
São Paulo 2.241
FONTE: Codevasf.

O acesso atual à área do projeto é feito pela BR–407 e pe-


la rodovia estadual BA-210, bem como por estradas de terra que
cruzam ou partem dessas rodovias com destino às localidades da
região. Há linhas regulares de ônibus para Belém, São Luís, Tere-
sina, Picos, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Cratéus, Natal, Caruaru,
Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São
Paulo.
O aeroporto de Petrolina é o segundo mais importante do
Estado de Pernambuco, atendendo às demandas de transporte de
passageiros e de cargas de sua região de influência e da de Jua-
zeiro, com vôos diários para Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília e
São Paulo. O transporte aéreo vem viabilizando a comercialização
de alguns produtos locais de alto valor unitário, como a uva in-
natura, via de regra para exportação. Os embarques são feitos no
aeroporto de Petrolina, classificado como tipo "A", situado a 5 km
do centro de Juazeiro.
É inegável que a localização do pólo Petrolina – Juazeiro e
a infra-estrutura já implantada das diversas modalidades de trans-
porte, oferecem boas alternativas de exploração de rotas para a
logística de distribuição e escoamento da produção, conferindo ao

107
Projeto Salitre uma vantagem competitiva que o diferencia de ou-
tros projetos de irrigação do ponto de vista de localização.
A região ainda conta com agências dos principais bancos
de financiamento: Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Bandei-
rantes, Bradesco, Excell, HSBC-Bamerindus, Itaú, Caixa Econô-
mica Federal, Banco Bilbao Vizcaya Argentaya (BBVA), Banco de
Desenvolvimento do Estado de Pernambuco (Bandepe), Banco do
Estado da Bahia (BANEB), América do Sul.
Com relação à infra-estrutura de comercialização, as con-
dições em geral são propícias ao desenvolvimento de uma agricul-
tura e agroindústria modernas. A existência de packing-houses
nas principais empresas exportadoras é essencial para garantir a
adequada embalagem e apresentação dos produtos destinados
ao mercado interno e externo. Em geral, as empresas possuem
câmaras climatizadas que, por problemas de safra, ficam com a
capacidade ociosa quatro meses por ano. Algumas empresas,
devido às exigências do consumidor externo, possuem packing-
houses distintas para uva e manga.
Em termos de instituições voltadas para a pesquisa e o de-
senvolvimento, a região apresenta-se com uma alta capacidade
instalada, com unidades da CODEVASF, Embrapa, Empresa Bai-
ana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Escola de Agronomia
em Juazeiro (BA), que, em conjunto, têm contribuído para acelerar
a adoção de novas tecnologias de produção e gestão empresarial.
O ensino fundamental na região atende aos pré-requisitos
do Ministério da Educação e Cultura. Há 43 escolas públicas em
funcionamento na sede, 17 na zona rural e 61 escolas particula-
res. As escolas profissionalizantes oferecem cursos de secretaria-
do, enfermagem, administração, contabilidade e magistério.
Com relação ao ensino superior, há três universidades em
funcionamento, a Federação das Associações Comerciais do Es-
tado de Pernambuco (FACEP) (Administração) e a Faculdade de
Formação de Professores de Petrolina (FFPP) (formação de pro-
fessores) em Petrolina, a Escola de Agronomia, em Juazeiro, e
em Campus Universidade do Estado da Bahia (UNEB) de Direito.
Além das já mencionadas, funcionam atualmente cursos de gra-

108
duação em ciências contábeis, matemática, biologia, geografia,
história, letras e pedagogia.
A presença de agroindústrias na região revela um forte in-
dicador para a dinâmica de desenvolvimento da região onde se
encontra o Projeto Salitre. Ao contrário de outros projetos públi-
cos, instalados distantes de pólos agroindustriais, o Salitre já tem
assegurada uma demanda originada nas agroindústrias instadas
no Pólo Petrolina–Juazeiro.
O Pólo vem-se destacando como importante exportador de
frutas (mercado europeu e americano), principalmente de manga
e uvas de mesa. Dentre as principais agroindústrias/empresas
instaladas no Pólo Petrolina–Juazeiro, destacam-se: a Agrovale
(açúcar, álcool e manga); Fruitfort e Curaçá Agrícola (manga);
Carrefour - Labrunier, Vale das Uvas, Orgânica do Vale (uva);
Grupo Queiroz Galvão – Fazenda Timbaúba e CAJ (uva e man-
ga); Grupo Special Fruit - Sueme (uva e manga); Fazenda Brasiu-
vas (uva); e Fazenda Nova Fronteira Agrícola (manga).
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE), em 1996, existia uma população de 191.238 habitan-
tes em Petrolina e 172.065 habitantes em Juazeiro, com taxas
de crescimento de 5,2% e 6,3% ao ano, respectivamente, em
relação a 1980.
No que diz respeito à distribuição da população, em 1996,
verifica-se uma alta concentração urbana, 71% em Petrolina e
79% em Juazeiro. Comparando-se com 1980, observa-se um in-
cremento percentual da população rural dos dois municípios. Este
acréscimo pode ser creditado ao desenvolvimento e à implantação
de perímetros irrigados na região.
Em relação à idade da população, observa-se que 60%
são menores de 15 anos, 9% maiores de 65 anos e 30% estão
entre 15 e 65 anos de idade. A alta percentagem de jovens na
população economicamente ativa é um fator importante para o
desenvolvimento da região, uma vez que a mão-de-obra futura
poderá ser facilmente treinada. Para tanto, necessita-se oferecer
um sistema educacional e de treinamento voltado para as neces-
sidades da localidade.

109
Tratando-se da renda, observa-se que 85% e 89% das fa-
mílias residentes em Petrolina e Juazeiro, respectivamente, ga-
nham até dois salários mínimos. Isso mostra que o poder de com-
pra da região é baixo.

1.6 - Estudos Ambientais

Os Estudos de Impacto Ambiental foram realizados pela


CODEVASF em 1997, via contrato com JP-ENCO-TAHAL, no
relatório as principais observações são:
- As intervenções do empreendimento como um todo são,
por sua própria natureza, indutoras de impactos positi-
vos, quer pelo aumento da produtividade, dinamizando
o setor primário, quer pela otimização das infra-
estruturas regionais existentes, por meio do uso de tec-
nologias avançadas, introduzindo uma nova vocação na
região.
- O clima seco, a boa insolação, um relevo tolerável e a
alta fertilidade da maior parte dos solos constituem-se
em fortes incentivos aos investimentos na agricultura ir-
rigada. Aliás, um sistema de irrigação com controle
computadorizado da água e a escolha das culturas de
acordo com as condições dos solos são, também, as-
pectos positivos do empreendimento.
- Na implantação do projeto, deverão ser consideradas as
seguintes medidas mitigadoras:
• desmatar gradualmente a vegetação natural, para e-
vitarem-se choques ambientais;
• minimizarem-se as alterações do solo nos locais das
principais obras de engenharia;
• adequarem-se as obras de drenagem ao relevo natu-
ral da área;

110
• procurar contratar a mão-de-obra necessária somen-
te no mercado local, para evitarem-se afluxos popu-
lacionais de outras regiões;
• desenvolver e implantar um plano de reassentamen-
to das populações que moram dentro da área do pro-
jeto, a serem desapropriadas e ou desalojadas;
• priorizar a relocação dessas populações no projeto,
quer como pequenos produtores, quer como empre-
gados de empresas agrícolas;
• promover a melhor articulação institucional possível,
visando aliviar as pressões sociais e desenvolver os
serviços de educação e de saúde.

111
2 - RECOMENDAÇÕES PARA APLICAÇÃO DO NOVO
MODELO CONCEPTUAL DE IRRIGAÇÃO NO PRO-
JETO SALITRE

Nesta seção, discutem-se as recomendações para imple-


mentação do Projeto Salitre, sob as diretrizes do Novo Modelo de
Irrigação, ajustadas à atual Lei de Irrigação n.º 6.692/79 e seus
regulamentos.
As recomendações aqui apresentadas são frutos das expe-
riências bem-sucedidas em vários países estudados e apresenta-
das no Relatório do Estado da Arte da Irrigação, principalmente
nos aspectos de organização e produção (caso do Chile, França,
EUA); da estruturação de uma plataforma de informações (ex. do
Chile e EUA) da experiência da CODEVASF no gerenciamento
dos Projetos do Vale do São Francisco, associada à experiência
do grupo de consultores do consórcio e de empreendedores pri-
vados. Somam-se a esses as diretrizes e propostas contidas no
Relatório do Novo Modelo Conceptual.
As recomendações são baseadas em que o Projeto Salitre
deve ser um empreendimento contido no agronegócio da agricul-
tura irrigada e portanto requer uma modernização na implementa-
ção, que envolve: Plataforma de Informações, Plano de Negócios,
Promoção e Marketing, Gerenciamento Global Ampliado, definição
de crédito (linha e volume de recursos financeiros), alternativas de
financiamento para infra-estrutura coletiva de irrigação (que não
somente o governo), entre outras atividades que estão sugeridas
a seguir.

2.1 - Proposta para uma Plataforma de Informações

Um fluxo contínuo e consistente de informações é promo-


tor de alterações que conduzem ao crescimento econômico e ao
aumento da competitividade. Por isso um sistema de informação
consistente e eficiente será capaz de apoiar o governo e o setor
privado na formulação de estratégias e na tomada de decisões
gerenciais no projeto Salitre.

112
O objetivo de se criar uma Plataforma de Informações no
Salitre é permitir, como em vários países, o acesso, pelos diver-
sos atores, a informações técnicas e gerenciais, que possam
subsidiar a tomada de decisão da iniciativa privada quanto à im-
plantação ou não de uma agroindústria, de uma empresa expor-
tadora; aquisição ou não de uma área em projeto público; asso-
ciação ou não ao poder público; como operacionalizar o seu ne-
gócio, etc. As informações devem ser detalhadas em tal nível,
que seja possível avaliar os riscos associados e a atratividade de
determinado empreendimento.
A Plataforma permitirá também que equipes técnicas pos-
sam transmitir aos produtores, em projetos públicos ou não, as
formas mais convenientes de tecnologia, organização da produ-
ção, entre outros.
A plataforma deve conter o seguinte grupo de informações:
- Informações básicas, relacionadas a estudos disponí-
veis, como: climatologia, hidrologia, solos, caracteriza-
ção ambiental; disponibilidade e condições de infra-
estrutura de vias de escoamento; saúde; educação; bar-
reiras fitossanitárias, entre outras.
- Informações tecnológicas, relacionadas às culturas po-
tenciais para região.
- Informações de mercado, relacionadas à série histórica
de dados de mercado para as culturas da região (pre-
ços, área plantada/colhida, produção, volume exporta-
do, preço médio, porto de saída e mercado de destino
em nível de espécie/variedade).
- Informações gerenciais, neste bloco, devem conter pla-
no de negócio do Projeto, características do projeto, a-
gentes financeiros etc.
O Consórcio sugere que se constitua e disponibilize, via In-
ternet, Folders, etc., uma PLATAFORMA DE INFORMAÇÕES
PARA O PROJETO SALITRE como parte de um processo de
promoção e atração do investimento privado para o Projeto. A

113
CODEVASF, como promotora-líder do Projeto, deve, de forma
isolada ou associada, constituir e implementar a PLATAFORMA.

2.2 - Diretrizes para um Plano de Negócios do Projeto


Salitre

Sugere-se que a CODEVASF e seus futuros parceiros ela-


borem e disponibilizem um plano de negócios do Projeto Salitre.
O Plano de Negócios é um documento escrito, que tem por
finalidade estruturar dados e informações relevantes, que serão
levadas, por meio da Atividade de Promoção & Marketing, aos
empreendedores potenciais, para permitir-lhes bem-avaliar e me-
lhor decidir, quanto à viabilidade do negócio em que possam vir a
investir (no presente caso, a produção agrícola irrigada no Projeto
Salitre).
Assim, o objetivo principal do Plano de Negócios, na fase
de implantação de cada etapa do Projeto Salitre, é orientar o em-
preendedor potencial, com relação às decisões estratégicas do
negócio, antes de iniciar o seu empreendimento. Também lhe
permitirá avaliar a viabilidade da implantação da produção agríco-
la irrigada (o componente principal de seu negócio). Assim, caso o
negócio seja inviável, por motivos econômico, financeiro, técnico
ou de mercado, o empreendedor poderá certificar-se disto, a priori
( “no papel”) e não na dura realidade de campo, decorrido algum
tempo de funcionamento de seu empreendimento, quando já terá
investido nele todo ou parte do seu capital disponível (próprio ou
financiado).
Outro aspecto do Plano de Negócios é que ele passa a ser
um instrumento de análise permanente da situação do negócio,
não só na fase de instalação do empreendimento, como também
nas fases de “decolagem” e de sua consolidação. Portanto, o Pla-
no de Negócios não é estático, mas dinâmico, permitindo ao em-
preendedor individual e sua associação, bem como aos promoto-
res do Projeto como um todo, acompanharem a evolução do ma-
croambiente do negócio, incluído o mercado em que se situa.

114
2.3 - Diretrizes para um Plano de Promoção e Marketing

Sugere-se implementar um plano para a promoção e mar-


keting do Projeto Salitre. Para cada etapa do Projeto, devem-se
desenvolver mecanismos próprios, observados com base na dire-
triz até então discutida neste documento sobre a gestão de em-
preendimento.
O sucesso na implementação de projetos deve-se primor-
dialmente à eficácia do processo de planejamento. Planejar de
forma eficaz implica em fazer a coisa certa, no momento exato, de
forma correta, por meio das pessoas adequadas, para um público
bem definido. Ser apenas eficiente não basta. Um dos fatores es-
senciais para a obtenção da eficácia na realização de qualquer
empreendimento consiste no exercício metodológico, que torna o
trabalho mais racional e dinâmico, evitando desperdícios tanto de
mão-de-obra quanto de tempo e recursos financeiros e, é claro,
garantindo bons resultados. Faz-se necessário, para tanto, o
cumprimento de cada etapa do processo descrito no planejamen-
to, caso contrário, o resultado final estará comprometido.
Jamais poder-se-á desprezar o fato de que o planejamento
compõe-se de um conjunto de ações interdependentes e que por-
tanto deve ser cumprido, respeitando-se sua função em face da
totalidade do projeto. Assim, a correta definição e a implementa-
ção de estratégias de abordagem dos públicos-alvos definidos
como prioritários encontram-se diretamente ligadas à definição do
posicionamento competitivo, obtido por meio da análise prévia da
concorrência em confronto com os pontos fortes e fracos do Proje-
to Salitre. O desenvolvimento destas ações em cadeia conduz à
redução da margem de risco do investimento e, portanto, aumenta
a probabilidade de sucesso do projeto.
O detalhamento de cada fase deverá conter:
− Determinação, identificação e seleção de públicos priori-
tários.
− Construção de data base sobre os públicos prioritários.
− Análise da concorrência.

115
− Definição do posicionamento competitivo.
− Definição e implementação de estratégias de aborda-
gem de cada público prioritário.
− Definição e implementação do sistema de avaliação de
resultados.

2.4 - Mecanismos de Financiamento

2.4.1 - Infra-estrutura coletiva de irrigação

A infra-estrutura coletiva de irrigação poderá ser financiada


conforme as seguintes sugestões:
1º) A estrutura principal de irrigação será de responsabili-
dade de financiamento do Governo Federal.
2º) A estrutura secundária de irrigação, no caso de médias
e grandes empresas, pode ser financiada pelo Governo
Federal e licitado a eles de acordo com a lei 6.692/79, e
isto é sempre válido para os pequenos irrigantes.
3º) A estrutura secundária de irrigação, no caso de mé-
dias e grandes, poderá ser realizada pelos futuros em-
preendedores diretamente (com recursos próprios e ou
financiamento), que para isto constituirão um condo-
mínio; ou por empresas ou grupos de empresas (com
recursos próprios e ou financiados), via licitação pela
CODEVASF. Neste caso, os futuros irrigantes, quando
assentados, assumem o custo da implantação, com
recurso próprio ou financiamento.

2.4.2 - Infra-estrutura parcelar

Conforme apresentado no volume que trata do estado da


arte da irrigação e no que trata de importância de irrigação para o
Nordeste, tem-se, nos projetos públicos brasileiros, uma área irri-
gável de mais de 60.000 ha, sem aproveitamento agrícola, apesar

116
de toda a infra-estrutura coletiva e a de distribuição de água esta-
rem definidas.
Entre os principais fatores identificados para esta situação
consta um processo inadequado de seleção de produtores sem
capacidade de garantia junto a agentes financeiros; capacidade
administrativa inadequada, associada à pouca disponibilidade de
crédito junto aos agentes financeiros para atender uma agricultura
irrigada; e a baixa capacidade financeira do futuro produtor.
Especificamente para o caso do Salitre, é desejável que o
fator de disponibilidade de crédito não seja um fator restritivo. Pa-
ra isto, sugere-se a criação de um Fundo de Aval (exemplo desse
tipo de ação vem sendo desenvolvido pelo Banco do Nordeste em
várias regiões), para facilitar o acesso ao crédito e garantir um
melhor fluxo de rentabilidade do crédito. Além disso, é desejável
que os empreendedores para ali selecionados (principalmente o
médio e grande) tenham uma boa capacidade financeira. Deve-se,
também, associar a possibilidade, na atração de empresas de
comercialização (ex. supermercados, empresas exportadoras) e
agroindústria, de se buscarem aquelas com potencialidade para
participar do processo de financiamento do processo produtivo.
O Projeto Salitre encontra-se na sua 1ª Etapa, que está di-
vidida em Fases, prevendo a conclusão das obras de infra-
estrutura de uso comum no final de 2001. Assim, avaliou-se a ne-
cessidade de recursos financeiros para implementar o processo
produtivo da Etapa 1 em nível de parcela.
O total de recursos necessários para investimentos, para
implementar a agricultura no Projeto, em nível parcelar, soma o
valor de R$ 70,1 milhões, num período de 5 anos. E para custeio
(custos operacionais anuais), os recursos necessários somam o
valor de R$ 77,4 milhões. O total entre investimento e custeio so-
ma R$ 147,5 milhões, para um período de 5 anos.
Os valores citados mostram a necessidade de o Banco do
Nordeste realizar estudos para aportar recursos de crédito, como
forma complementar aos recursos próprios dos empreendedores,
de tal sorte, a não faltarem recursos e não atrasar a implementa-

117
ção do Projeto, além de possibilitar a garantia de um bom nível
tecnológico e gerencial.

2.5 - Gestão do Projeto

2.5.1 - Modelo de gestão para etapa 1 do projeto Salitre

Em observância aos ditames da Lei de Irrigação em vigor


(n.º 6.662/79), a CODEVASF vem implantando a Etapa 1 do Pro-
jeto Salitre como um projeto Público de Irrigação, tendo, para tan-
to, adquirido as terras, e vem construindo a infra-estrutura de irri-
gação de uso coletivo, exclusivamente com recursos do governo
federal. De igual modo, apoiará a implantação da infra-estrutura
parcelar nos lotes destinados a pequenas empresas. Tais investi-
mentos deverão ser amortizados pelos pequenos e médios em-
presários, sendo que a infra-estrutura de irrigação de uso coletivo
permanecerá de domínio da União.
Outras infra-estruturas como as de apoio (energia elétrica,
estradas, etc.) e as de uso comum estão sendo implementadas,
segundo acordos que, para tanto estão (ou estarão) sendo forma-
lizados, mediante articulação da CODEVASF. Após início do as-
sentamento até 12 meses, as atividades de Operação e Manuten-
ção de sua infra-estrutura de uso coletivo, bem como a adminis-
tração geral desta primeira Etapa do Perímetro de Irrigação do
Salitre, serão delegadas ao Distrito de Irrigação, constituído por
aqueles empresários (pequenos e médios).
Esse modelo de gestão, empreendido pela CODEVASF,
como Promotora do Projeto Salitre, é o de Gerenciamento Global
Strictu Sensu (GGS). Esse modelo é largamente utilizado em pro-
jetos de investimento de maior envergadura, em que as obras de
engenharia, intrínsecas a ele, representam, na fase de implanta-
ção, o esforço mais relevante, não só pelo volume de recursos
financeiros envolvidos, mas por constituirem-se em fator crítico
para o sucesso da atividade econômica, que se implantará, a par-
tir das infra-estruturas físicas.
Conforme diretriz da Nova Política de Irrigação, o Projeto
não pode ser mais considerado como apenas uma obra de Enge-

118
nharia, concebida e executada. Deve ser um instrumento vigoroso
de desenvolvimento regional, baseado num “core” turbinador que
é o agronegócio. Dessa forma, torna-se necessária a adoção do
conceito ampliado de gerenciamento, ou seja, o Gerenciamento
Global Ampliado (GGA).
O GGA na realidade é uma atividade de coordenação das
interações entre Projeto-obra-suprimento (típico da fase da im-
plantação) e das interações que ocorrem durante e após a fase
construtiva para uma maior rentabilidade do empreendimento.
A CODEVASF, como promotora líder do empreendimento,
deverá, só ou associada a outras Agências e ou Sponsors (como
Banco do Nordeste, BNDES, Banco do Brasil ou agentes priva-
dos) ou Governo do Estado da Bahia, implementar esse novo ge-
renciamento. Após o assentamento, esse gerenciamento poderá
ser realizado pelo Distrito de Irrigação, ou por um comitê dos pro-
dutores, constituído para tal.
Esse novo mecanismo de gerenciamento deverá executar
as seguintes atividades, entre outras:
• realizar o gerenciamento global das obras;
• implantar a Plataforma de Informações;
• desenvolver um processo de promoção e marketing;
• definir e disponibilizar crédito para os diferentes níveis
de empreendedores;
• coordenar um processo de capacitação gerencial con-
forme sugestão neste documento; e
• atrair empresas privadas para realizarem investimentos
nas atividades de pós-colheita, tanto de processamento,
como, principalmente, de comercialização da produção,
processada ou não.

119
2.5.2 - Modelo de gestão para etapas posteriores do pro-
jeto Salitre

Para as etapas seguintes do Projeto, ainda que sob as


condições da legislação de irrigação em vigor, devem ser obser-
vadas (sem conflitar com ela) as principais diretrizes da nova Polí-
tica de Irrigação. Neste caso, deve-se considerar que os Projetos
de irrigação são integrantes de um agronegócio, com capacidade
de auto-sustentação e que ensejem uma maior participação de
investimentos privados, em sua implantação e desenvolvimento.
Para alcançar tais objetivos, é necessário utilizar o concei-
to de Gerenciamento Global Ampliado (GGA), seja pela diversida-
de e complexidade de ações requeridas, seja pela dificuldade
crescente de realizá-las de forma verticalizada.
Para o desenvolvimento das Etapas subseqüentes do Pro-
jeto Salitre, é imprescindível a liderança da CODEVASF, como
promotora líder do Projeto. A ela caberá, para cada Etapa, adquirir
as terras e estender a infra-estrutura – mestre ou principal – de for-
necimento de água bruta. Para os pequenos empresários a CODE-
VASF deverá atuar como na Etapa 1, ou seja, disponibilizando á-
gua na entrada do lote e dando condições para que eles possam
implantar a sua infra-estrutura parcelar. Deverá também se respon-
sabilizar pelo processo e seleção e assentamento, assistência téc-
nica, entre outras atividades usualmente executadas.
Para os médios empresários, a CODEVASF deverá dispo-
nibilizar os Estudos e Projetos Básicos, cabendo a eles o Projeto
Executivo e a execução das obras de distribuição de água, a partir
da estrutura principal, no caso da opção do financiamento dessa
infra-estrutura ser de responsabilidade dos produtores ou empre-
sas. Deverá disponibilizar a estrutura de eletrificação, estradas e
de apoio social.
Propõe-se que a CODEVASF se associe a um Sponsor,
como Banco do Nordeste e/ou BNDES, Governo do Estado da
Bahia, para desenvolver um Project Finance, para viabilizar a par-
ticipação de investidores privados nos investimentos da infra-
estrutura de distribuição de água (a partir da infra-estrutura princi-

120
pal) para cada média empresa, caso seja esta a opção. Deverá
também viabilizar a implantação das atividades agrícolas.
Como mostrado anteriormente, esse mecanismo de Ge-
renciamento deverá executar várias atividades, entre elas:
• realizar o Gerenciamento Global das obras de infra-
estrutura principal de condução de água, elétrica, estra-
da, estrutura social e da estrutura de distribuição de á-
gua para a Etapa reservada às pequenas empresas;
• desenvolver um processo específico de promoção e
marketing;
• disponibilizar um arranjo de crédito para os diferentes
níveis de investidores;
• coordenar um processo de capacitação gerencial, con-
forme sugestão neste documento; e
• atrair empresas privadas para realizarem investimentos
na infra-estrutura de distribuição de água (a partir da in-
fra-estrutura principal); atividades de pós-colheita, tanto
no processamento, como, principalmente, de comercia-
lização da produção, processada ou não.

2.6 - Serviços de Apoio

Discutiu-se uma proposta para os serviços de apoio ao


Projeto Salitre, com a visão de uma agricultura voltada para aten-
der a um mercado que é cada vez mais exigente em qualidade.
Além disso, busca-se, desde o início, implementar ações para que
a agricultura a ser praticada no Projeto esteja no contexto do a-
gronegócio, o que exigirá um maior nível de profissionalismo na
exploração do empreendimento e, por conseqüência, no gerenci-
amento do Projeto.
Dessa forma, estão-se propondo ações para um gerencia-
mento da produção para os pequenos produtores, capazes de
torná-los mais competitivos no mercado, um monitoramento ambi-

121
ental capaz de garantir, no futuro, a ISO-14.000 à produção do
perímetro, e uma programação de capacitação.

2.6.1 - Gerenciamento das pequenas empresas

As pequenas empresas no Projeto Salitre representam


20% da área irrigável. Para os seus empreendedores (pequenos
produtores, ou empreendedores familiares), o governo (via CO-
DEVASF) tem relativa responsabilidade no seu processo de as-
sentamento, produção e organização. Na prática, em outros perí-
metros, a CODEVASF tem aportado recursos para assistência
técnica e extensão rural, contratando empresas ou repassando os
recursos para os Distritos, recursos estes que a cada ano são em
menor volume e que não raramente têm limitado a qualidade dos
serviços. Também tem-se observado que os pequenos produto-
res, durante esse processo, têm sido pouco co-responsabilizados
pelos custos dos serviços. E, da mesma forma, os técnicos ou
empresas não têm co-responsabilidade no produto final, que é a
renda adequada para as famílias.
Para o Salitre, observadas as diretrizes do Novo Modelo de
Irrigação, em que a agricultura irrigada deve ser encarada como
negócio, propõe-se uma mudança com relação às ações do ge-
renciamento para com os pequenos produtores. Trata-se de um
modelo de gerenciamento para os pequenos produtores, com fun-
ções específicas e com ênfase para um público-meta que requer
seleção, aspectos de assistência técnica, organização comercial
de compra e venda, etc., adaptados às escalas econômicas e téc-
nicas do tamanho do empreendimento.
A gerenciadora proposta deverá participar deste o proces-
so de seleção, além de assumir assistência técnica, organização
comercial de compra e venda para os produtores, montando um
negócio “comunitário e solidário”, para que as pequenas empresas
alcancem economias de escala idênticas às empresas de porte
médio e grande.
No início do processo global de exploração dos negócios
deste público-alvo, a gerenciadora terá tarefas maiores a serem
desempenhadas, por exemplo, na preparação dos produtores, na

122
capacitação e organização da produção – o que representa uma
maior responsabilidade no processo de “montar um negócio”, par-
tindo de um produtor familiar.
Para que os pequenos negócios de irrigação cresçam, é
necessário centralizar as decisões de implementação das explo-
rações em uma empresa que conheça o mercado, que os produto-
res façam um programa de produção sob a capacitação desta
empresa, principalmente ao se considerar que os volumes a se-
rem produzidos e comercializados crescerão com o tempo. Neste
caso, será conveniente centralizar as funções iniciais de monta-
gem dos negócios, evitando-se os riscos de uma produção atomi-
zada e desorganizada. Em seguida, a empresa deverá ser capaz
de atrair investidores, além de atrair os compradores.
A empresa gerenciadora deverá assessorar os produtores
na realização de contratos de venda compromissada (qualidade,
quantidade e condições de preço) entre a organização dos produ-
tores e o comprador final. Paralelamente, é preciso assegurar a
facilitação dos negócios de investimentos, pois o fator mais es-
casso é o capital, mais do que o sistema de organização. A es-
cassez de capital tem sido responsável pelo desperdício do po-
tencial produtivo dos projetos no Brasil.

2.6.2 - Monitoramento ambiental

O Distrito de Irrigação e os produtores deverão estar aten-


tos também para a crescente exigência por qualidade dos produ-
tos agrícolas, tanto no mercado interno como externo. A tendência
é cada vez mais, se exigir a utilização de selos de origem, com
controle de qualidade. Acrescenta-se a estas exigências o contro-
le da qualidade ambiental, principalmente no mercado externo,
onde as preocupações com a manutenção e a melhoria da quali-
dade do meio ambiente e com a proteção da saúde humana são
fatores determinantes da preferência dos consumidores e fidelida-
de aos produtos.
Para caminhar na direção da certificação ambiental, deverá
ser implantado, no Projeto Salitre, um Sistema de Gerenciamento
Ambiental (SGA), que, observando as diretrizes emanadas do

123
Relatório de Impacto sobre o Meio ambiente (RIMA), possa moni-
torar, entre outros, qualidade de água, utilização de defensivos
(quantidade e tipo), disposição adequada do lixo (agrotóxico e
residencial), além de realizar trabalho educativo, voltado para as
questões ambientais.
As vantagens do Salitre em implantar, desde o início, um
sistema de gestão ambiental residem na obtenção de benefícios
econômicos potenciais dele decorrentes. Entre eles, a satisfação
dos critérios dos investidores, cada vez mais exigentes nos aspec-
tos ambientais dos produtos e processos. O SGA oferece evidên-
cias transparentes de aplicação da legislação ambiental, o que
tende a facilitar o acesso ao capital, assegurando aos investidores
uma gestão ambiental demonstrável.
Outros benefícios potenciais incluem o fortalecimento da
imagem e a participação no mercado, o aprimoramento do contro-
le de custos, a demonstração de atuação cuidadosa, a facilitação
do processo de obtenção de licenças e autorizações, além de con-
tribuir para melhorar as relações do Projeto com o governo e com
a comunidade local.
Um sistema de gestão ambiental possui alguns elementos
para sua implementação. Em primeiro lugar, é preciso haver um
comprometimento da alta administração do Projeto. Em segundo,
deve haver um planejamento para perseguir a política ambiental
do Projeto. Finalmente, a implementação requer o desenvolvimen-
to de capacitação e os mecanismos de apoio necessários para
atender a essa mesma política, seus objetivos e suas metas am-
bientais definidas.
O Monitoramento é, assim, um instrumento de acompa-
nhamento e de avaliação do desempenho ambiental. Aos irrigantes
é necessário informar os impactos negativos, introduzindo práticas
adequadas de reciclagem, tratamento, mecanismos de controle,
uso eficiente de recursos, avaliação da qualidade da água, trata-
mento e aproveitamento de resíduos, gerenciamento da energia,
visando à prevenção e à minimização dos impactos ambientais.

124
2.6.3 - Proposta de um programa de capacitação

A implementação de uma agricultura, que dê sustentação


econômica e ambiental aos projetos de irrigação, quer pública,
quer privada, implica uma melhoria do nível de educação e profis-
sionalização para se utilizar com maior eficácia de todos os insu-
mos e serviços. Assim, torna-se importante que o Projeto Salitre,
ao ser implantado, tenha como um dos instrumentos de apoio um
programa de capacitação em gestão, que seja adaptado às carac-
terísticas regionais, por meio de entidades como SENAR, Banco
do Nordeste e SEBRAE, e ofertado aos vários atores do negócio.
Em termos de profissionalização e administração do negó-
cio agroindustrial, para acompanhar as atuais mudanças, as em-
presas necessitam continuamente qualificar os seus dirigentes. A
qualificação do executivo principal, a adoção de técnicas de gestão
empresarial, o planejamento e nível de informatização da empresa
são elementos essenciais para a competitividade da empresa.
Por outro lado, os pequenos e médios produtores mantêm-
se à margem destas atualizações, recebendo informações apenas
por meio de palestras e treinamentos na própria região. Para con-
tornar esta deficiência, algumas entidades como cooperativas,
SEBRAE e órgãos governamentais procuram, pela formação de
grupos de produtores, promover visitas técnicas a empresas mais
avançadas, objetivando induzi-las ao uso de novas tecnologias de
produção.
Em termos de adoção de novas técnicas de gestão, a maio-
ria dos empresários está sendo conscientizada da sua importância,
pelo uso de consultorias, treinamentos e participação em palestras.
Grande parte das empresas desconhece o principal cliente,
ou seja, o consumidor final, uma vez que seus negócios são reali-
zados por meio de intermediários, que, em geral, não têm demos-
trado interesse em passar essas informações para as empresas
produtoras.
O programa de capacitação deverá levar em consideração
o tipo de público envolvido, de pequenos irrigantes a empresários,
e conter os seguintes módulos:

125
(i) Fundamentos de administração e economia
(ii) Contabilidade e análise de projetos
(iii) Estratégias empresariais
(iv) Capacitação técnica:
• Metodologia de Formação de Associações Comuni-
tárias.
• Treinamento em Operação e Manutenção de Perí-
metros.
• Marketing e Processamento de Produtos.
• Tecnologia de Sanidade Vegetal.
• Controle de Qualidade.
• Monitoramento ambiental.

126
6 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Congresso. Lei nº . 6.662, de 25 de junho de 1979. Dis-


põe sobre a política nacional de irrigação e dá outras providên-
cias. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 26 jun. 1979. Seção 1, p. 8937-8941.

BRASIL. Congresso. Lei nº . 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui


a política nacional de recursos hídricos, cria o sistema nacional
de gerenciamento de recursos hídricos, regulamenta o inciso
XIX do artigo 21 da Constituição Federal e altera o artigo 1 da
Lei 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei 7.990,
de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 jan. 1997. Seção 1, p.
470-474.

BRASIL. Presidência da República. Decreto nº . 89.496, de 29 de


março de 1984. Regulamenta a lei nº . 6.662, de 25 de junho de
1979, que dispõe sobre a política nacional de irrigação e dá ou-
tras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 30 mar. 1984a. Seção 1, p. 4.502.

BRASIL. Presidência da República. Decreto nº . 90.309, de 16 de


outubro de 1984. Dá nova redação ao artigo 14 e ao artigo 16,δ
3º, do Decreto nº . 89.496, de 29 de março de 1984, que dispõe
sobre a política nacional de irrigação. Diário Oficial [da] Re-
pública Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 out. 1984b.

FARINA, E.M.M.Q.; AZEVEDO, P.F.; SAES, M.S.M. Competitivi-


dade: mercado, estado e organizações. São Paulo: Singular,
1997.

JONES, W.I. The World Bank and irrigation. Washington, DC:


World Bank, 1995.

127
128

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