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Propostas de soluções técnicas transversais do PRODHAM para


mitigação dos efeitos da degradação ambiental e socioeconômica em
microbacias hidrográficas do Ceará¹

Francisco Mavignier Cavalcante França², Ricardo Lima de Medeiros Marques³.

²Economista, Mestre em Economia Rural


²Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará
²E-mail: mavignierf@yahoo.com.br

³Agrônomo, Mestre em Economia Rural


³Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará
³E-mail: ricardo.marques@srh.ce.gov.br

Resumo

De 1999-2009, a Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará


concebeu, implantou e avaliou o Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental
(PRODHAM), com o apoio financeiro do Banco Mundial. O PRODHAM objetivou
desenvolver, em caráter piloto e experimental, ações articuladas e sustentáveis de
recuperação e preservação dos recursos ambientais em microbacias hidrográficas do
semiárido cearense. Foram construídas 3.332 barragens sucessivas, 27 barragens
subterrâneas, 470 cisternas de placas; implantados 47,6ha de reflorestamento e mata
ciliar, 2,2ha de dry farming, 129.928m de terraceamento, 70.682m de cordões de pedra
em contorno, 3.810m de cordões de vegetação e 5,3ha de recuperação de áreas
degradadas. Foram introduzidas ou testadas, também, as atividades econômicas:
apicultura, artesanato e sistema de exploração agrossilvipastoril.
Em simbiose com as práticas acima, foram promovidos eventos visando o
desenvolvimento humano e institucional nas 44 comunidades beneficiárias e realizada
capacitação para educação ambiental, fato que permitiu o empoderamento das
comunidades locais e um processo de recuperação ambiental, associado ao
desenvolvimento socioeconômico, nas quatro microbacias hidrográficas selecionadas.
Em função do caráter demonstrativo das soluções apresentadas, defende-se a
replicação dessas experiências, tendo em vista que contribuíram para reduzir a erosão,
melhorar e aumentar a água disponível, aumentar a cobertura vegetal, diversificar os
cultivos, aumentar a consciência preservacionista, incorporar novos métodos de
produção e fortalecer o capital humano e social. Enfim, reduzir os efeitos da
degradação ambiental de forma sustentável no longo prazo.

Palavras-chave: Semiárido; Ceará; PRODHAM; Microbacia hidrográfica;


Tecnologias hidroambientais.

(¹) Artigo elaborado por solicitação da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do
Ceará, conforme contrato de consultoria nº 001/2010/PROGERIRH II-
FINANCIAMENTO ADICIONAL/SRH/CE.
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1. INTRODUÇÃO

O Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental – PRODHAM, concebido no


âmbito do Programa de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos do Ceará –
PROGERIRH/CE, foi executado pela Superintendência do Obras Hidráulicas
(SOHIDRA) e contou com a parceria da FUNCEME na supervisão dos sistema de
monitoramento socioeconômico e biofísico. Tem como objetivo promover a
recuperação hidroambiental em microbacias hidrográficas (MBH) com o envolvimento
ativo das populações locais.
As ações do PRODHAM, iniciadas em 1999 e encerradas em 2009,
compreendem a introdução de técnicas básicas de preservação hidroambiental, de
manejo da água e do solo e de monitoramento e controle ambiental participativos das
áreas selecionadas. Ao mesmo tempo, o projeto incentivou o fortalecimento das
organizações de agricultores locais, bem como a sensibilização, mobilização e
conscientização dos atores sociais das MBH.
O PRODHAM constituiu-se em um projeto piloto e experimental desenvolvido
em quatro áreas da região do semiárido do Estado do Ceará. As áreas de atuação do
PRODHAM foram selecionadas com base em diagnóstico participativo, realizado em
1999. As quatro áreas selecionadas foram as microbacias hidrográficas dos rios Cangati,
município de Canindé; Batoque, município de Paramoti; Pesqueiro, município de
Aratuba e riachos Salgado/Oiticica, municípios de Pacoti e Palmácia.
Na concepção original do Projeto, foi prevista a avaliação dos trabalhos
executados, objetivando uma ampla difusão das metodologias testadas e adaptadas a
diferentes regiões do semiárido do Estado do Ceará. Assim, além da implantação das
tecnologias e práticas hidroambientais, foi realizado o monitoramento socioeconômico e
geoambiental participativo das ações do PRODHAM, a cargo da FUNCEME.
O sistema de monitoramento envolveu a realização de um diagnóstico ou marco
zero socioeconômico e biofísico, que corresponde ao levantamento da situação inicial
de todas as famílias/produtores da MBH, seguido de um acompanhamento sistemático
participativo, com o uso de indicadores socioeconômicos, e a avaliação por meio da
formação de Grupos Focais que confere ao estudo a qualificação dos indicadores
quantitativos, obtidos em processo de amostragem.

2. O SEMIÁRIDO CEARENSE E AS PRÁTICAS HIDROAMBIENTAIS

O Estado do Ceará ocupa uma área de 148.016 km2, onde vivem cerca de 8,55
milhões de pessoas (Estimativa IBGE para 2009), sendo mais de 70% no meio urbano,
implicando numa densidade demográfica de 57,7 habitantes/km2, o que promove uma
grande pressão antrópica sobre o meio ambiente. Nessa mesma extensão, a associação
da irregularidade do regime de precipitações pluviométricas, com alta predominância de
cristalinos, cerca de 75% da área do Estado (Ceará, 1992), determina que a totalidade de
seus rios seja intermitente, podendo permanecer secos, nos anos de baixa pluviosidade,
e, em anos normais, escoam somente durante a quadra invernosa.
Portanto, o modelo de gestão dos recursos hídricos desenvolvido no Estado,
melhor estruturado dentre os modelos estaduais brasileiros, foi fruto de um longo
processo de luta contra as secas, mas também de um rico processo de aprendizagem e
embate político. A atitude inovadora e de vanguarda na implementação de políticas de
gerenciamento dos recursos hídricos justifica-se pela própria necessidade de
sobrevivência dos cearenses, em face das adversidades da natureza.
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Além da necessidade de superar o problema da escassez e a má distribuição da


água, outros fatores contribuíram para esse processo, podendo-se destacar:
 as intervenções do governo federal, por meio do Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca (DNOCS), foram um ponto de partida importante, bem
como a localização do DNOCS, em Fortaleza, que possibilitou a formação
de um quadro técnico importante e especializado em recursos hídricos;
 a ruptura política, as reformas político-institucionais, ocorridas a partir de
1987, e a continuidade político-administrativa, durante o período de 1987 a
2010;
 a introdução de uma mentalidade científico-tecnológica e o envolvimento
mais efetivo de técnicos qualificados nessa área do governo; e
 o apoio institucional-financeiro dos organismos internacionais na
consolidação do modelo em construção.
Como afirma Teixeira (2004), a política de recursos hídricos do Ceará apresenta
duas fases bem distintas, tendo como delimitador a criação da Secretaria dos Recursos
Hídricos em 1987: a primeira (antes de 1987), quando não havia no âmbito estadual
instrumento institucional próprio para o setor de recursos hídricos, tampouco uma
atuação nesta área de forma planejada e estruturada, resumindo-se à construção de
poços e pequenos açudes, sem a adoção de critérios técnicos e que não contribuíram
para a diminuição da vulnerabilidade do Estado às secas.
Na segunda fase (após 1987), o Governo do Estado do Ceará passou a atuar de
forma ativa no sentido de estabelecer os instrumentos técnicos, jurídicos e institucionais
para uma nova política de água no Estado.
Desse modo, entre 1988 e 1991, foi elaborado o Plano Estadual de Recursos
Hídricos (PLANERH) que subsidiou a elaboração de vários programas e projetos,
objetivando a ampliação da infraestrutura hídrica e a implementação do modelo de
gerenciamento dos recursos hídricos do Ceará (CEARÁ, 1992).
Dentre os projetos, ressalta-se o importante papel do Projeto Áridas, conduzido
segundo a estratégia que privilegiava a preocupação com a sustentabilidade do
desenvolvimento.
Pela primeira vez, o processo de planejamento incorporava a idéia de
sustentabilidade, recomendada tanto pela Conferência Internacional sobre Impactos da
Variabilidade Climática e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (ICID-
92) como na Conferência do Rio de Janeiro (ECO 92) e ampliava o significado desse
conceito, que deixava de ser apenas ambiental para transformar-se em conceito global,
pois nele as dimensões econômicas, sociais e políticas assumiam papel fundamental. O
desenvolvimento seria sustentável quando apresentasse condições de durabilidade ao
longo do tempo. Para isso, devia ser economicamente sadio, socialmente justo,
ambientalmente responsável e politicamente fundamentado na participação da
sociedade.
O conceito, trabalhado pelos programas, incorporou também a visão de longo
prazo, requerida para a identificação de prioridades imediatas e futuras a serem
colocadas no esforço de planejamento para a superação definitiva de problemas.
Considerava, ao mesmo tempo, as diretrizes de descentralização e participação da
sociedade, cuja prática iria exigir um novo papel do governo e a definição de
mecanismos de participação social em todos os níveis (BRASIL.MPO, 1995). Verifica-
se, portanto, a necessidade de executar ações não só de caráter estrutural como também
de caráter não estrutural, observando o trinômio: água, solo e vegetação.
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Assim, antecipando-se à União, o Governo do Estado do Ceará criou a


Secretaria dos Recursos Hídricos em 1987 e promulgou a Lei N° 111.996, em 1993,
dispondo sobre a Política Estadual dos Recursos Hídricos e instituindo o Sistema
Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos. No ano seguinte, em 1993, foi criada a
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH), com a função de
operacionalizar o gerenciamento dos recursos hídricos no território estadual.
Como cita Lobato (2004), o modelo cearense tem permitido ao Estado tornar
neutras eventuais restrições (desvantagens competitivas), decorrentes das incertezas
associadas às disponibilidades hídricas.
Outro aspecto importante, no Estado do Ceará, é o estímulo e apoio à formação
dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que são órgãos colegiados integrados por
representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal, e dos Municípios – cujos
territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas respectivas áreas de atuação – dos
usuários da água da bacia e das entidades da sociedade civil.
O fenômeno em questão pode ser observado do ponto de vista das inter-relações
entre o desenvolvimento hidráulico e a formação da cidadania no quadro da mudança
social. Desta forma, democratização e defesa ambiental no Ceará parecem convergir e
se autoalimentar dentro de novos paradigmas e desafios, pois passa a compreender os
estudos do meio ambiente, mais especificamente das águas, como ferramenta analítica
da sociedade: como as decisões sobre o gerenciamento de água são feitas e os sistemas
de água controlados, revelando bastante sobre os estágios e a saúde da democracia
(Grigg, 1998).
Portanto, da simples execução de obras de infraestrutura hídricas, a SRH voltou-
se para o desenvolvimento de programas e projetos complementares, sem os quais tanto
a longevidade das obras quanto à qualidade e quantidade dos recursos hídricos
acumulados e demais recursos naturais estariam seriamente comprometidos.
Nesse sentido, o Governo do Ceará, com forte apoio do Banco Mundial,
desenvolveu ações que visaram o estabelecimento de um gerenciamento integrado dos
recursos hídricos, a recuperação de áreas degradadas e a preservação e conservação dos
recursos naturais do bioma caatinga. Entre estes programas, destaca-se o Programa de
Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos - PROGERIRH, dentro do qual se
desenvolveu o Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental - PRODHAM.

3. O PRODHAM: CONCEPÇÃO, METODOLOGIA, PROPOSTAS DE AÇÃO E


RESULTADOS ALCANÇADOS

3.1 Concepção

Conforme consta em SRH-CE (2010b), o Projeto de Desenvolvimento


Hidroambiental - PRODHAM, concebido como parte integrante do Programa de
Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos - PROGERIRH, constitui-se em um
projeto piloto-experimental, na busca das formas de promoção da sustentabilidade dos
recursos ambientais e das populações rurais do Estado. Visa, igualmente, contribuir com
a mitigação dos impactos sociais e econômicos das secas e corrigir o processo de
degradação ambiental, causado pela conjugação dos períodos cíclicos de estiagem com
uma forte pressão antrópica, especialmente nas nascentes das bacias hidrográficas.
No ambiente de atuação do Projeto, os impactos ambientais são concentrados
sobre a destruição da biodiversidade, com a diminuição da disponibilidade dos recursos
hídricos e com a redução do potencial de recursos do ecossistema, o que impede a
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manutenção dos níveis de sustentabilidade das populações radicadas no semiárido,


apresentando alta vulnerabilidade e baixa qualidade de vida nos limites da
sobrevivência humana, em períodos mais críticos de contingência climática.
Como resultados, o PRODHAM previa a criação de condições hidroambientais
favoráveis à recuperação de microbacias fluviais, localizadas a partir da quarta ordem
sobre os relevos residuais do semiárido, promovendo o desenvolvimento escalonado
para a preparação de um substrato e reserva de umidade, com a criação de lençóis
freáticos alveolares, e permitindo a manutenção da cobertura vegetal ciliar,
reflorestamento e culturas de subsistência.
O PRODHAM desenvolveu ações articuladas e sustentáveis de recuperação e
preservação dos recursos ambientais e de desenvolvimento socioeconômico, no âmbito
dos biomas/regiões e comunidades rurais de quatro microbacias hidrográficas,
previamente selecionadas.
Na seleção das áreas do projeto foram utilizados os seguintes critérios:

 índice de degradação dos recursos naturais;


 concentração de micro e pequenos produtores rurais na MBH;
 áreas que apresentem cursos d’água de quarta ordem;
 bom nível de organização das associações comunitárias;
 grande número de famílias residentes;
 maior número de áreas reformadas/assentamentos rurais;
 interesse das Prefeituras em estabelecer parceiras para realizar ações de
recuperação ambiental; e
 anuência do comitê de bacia.

Dentre as características mais marcantes do projeto, ressalta-se a sua proposta de


trabalho participativo com as populações das áreas pilotos e com os demais atores
sociais envolvidos (municipalidades, associações comunitárias, grupos de mulheres,
etc.), permitindo que todos se sentissem corresponsáveis e participantes do processo de
recuperação socioambiental visado pelo projeto. O público diretamente beneficiado era
formado pelo conjunto de entidades associativas, produtores rurais e população local
das microbacias hidrográficas selecionadas.
A seleção das áreas para atuação do Projeto foi baseada em um diagnóstico
participativo, realizado em 1999. Segundo SRH-CE (2010b), as quatro microbacias
hidrográficas selecionadas foram as do rio Cangati, município de Canindé; rio Batoque,
município de Paramoti; rio Pesqueiro, município de Aratuba e riachos Salgado/Oiticica,
municípios de Pacoti e Palmácia. As principais características dessas microbacias são:

a) Microbacia hidrográfica do rio Cangati


 Bacia hidrográfica: Metropolitana
 Município: Canindé / CE
 Localização: Distrito de Iguaçu
 Número de comunidades: 5
 Número de famílias residentes na microbacia: 213
 Número de Associações: 5

b) Microbacia hidrográfica do rio Pesqueiro


 Bacia Hidrográfica: Metropolitana
 Município: Aratuba / CE
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 Localização: à montante do açude Pesqueiro.


 Número de Comunidades: 6
 Número de famílias residentes na microbacia: 441
 Número de Associações: 9

c) Microbacia hidrográfica dos rios Salgado e Oiticica


 Bacia Hidrográfica: Metropolitana
 Municípios: Palmácia e Pacoti / CE
 Localização: a montante do açude Acarape do Meio
 Número de Comunidades: 17
 Número de famílias residentes na microbacia: 1205
 Número de Associações: 17

d) Microbacia hidrográfica do riacho Batoque


 Bacia Hidrográfica: Curu
 Municípios: Paramoti / CE
 Localização: a montante do açude Pereira de Miranda
 Número de Comunidades: 16
 Número de famílias residentes na microbacia: 297
 Número de Associações: 11

Foi realizado o diagnóstico inicial nas quatro microbacias hidrográficas


selecionadas. Porém, as rotinas do monitoramento socioeconômico e biofísico
participativo foram realizadas somente para a microbacia hidrográfica do rio Cangati,
Canindé-CE e estão publicados em SRH-CE (2010a) e FRANÇA (2010).

3.2 Metodologia de Trabalho

A estratégia central para todas as ações do PRODHAM foi a microbacia hidrográfica


(MBH), por ser uma paisagem natural em que as águas da chuva convergem para um
mesmo local: rio, riacho ou açude.

A MBH, como unidade de planejamento e ocupação do espaço rural, vem sendo


adotada em outros projetos semelhantes ao PRODHAM, a exemplo do Paraná, pois
adotam a microbacia hidrográfica como uma alternativa prática e de resultados mais
condizentes com uma visão de um mundo coeso e único. A reunião de esforços entre
população, comunidade e setores governamentais tem sido o requisito básico para que
os benefícios esperados, em um projeto de desenvolvimento sustentável, sejam
alcançados.

Assim, promover ações para o desenvolvimento rural de forma integrada e sustentável,


tendo a microbacia hidrográfica como unidade de planejamento, e a organização dos
produtores como estratégia de ação, é o melhor processo de trabalho para a obtenção de
ganhos de produtividade e de uso de tecnologias adequadas, sob o ponto de vista
ambiental, econômico e social.
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Os componentes trabalhados pelo PRODHAM, a seguir apresentados, foram executados


de forma integrada para dar o caráter transversal, requerido pelo Projeto e compatível
com o desenvolvimento sustentável.

a) Construção de infraestruturas hidroambientais

O perfil geoambiental das áreas selecionadas orientou a definição das obras


hidroambientais implementadas pelo Projeto para mitigar os efeitos da seca e o processo
de degradação ambiental, utilizando-se da construção de obras de acumulação de
sedimentos e de manejo de solo e água, com técnicas apropriadas de conservação.
Associado ao processo de construção das obras hidroambientais, foi elaborado, em
conjunto com os produtores, um planejamento físico da área, um cronograma de
execução das obras, um orçamento detalhado de cada intervenção, o estabelecimento de
normas de acompanhamento participativo dos impactos da construção das obras nas
áreas trabalhadas e da ocorrência de mudanças com relação à produtividade
agrícola/física. Isto permitiu que os beneficiários fossem capacitados e tivessem
informações sobre custos, manutenção e evolução das condições ambientais.
A capacitação dos produtores, nessa área temática, permitiu a formação de
multiplicadores rurais, que são responsáveis, juntamente com os técnicos do projeto e
técnicos das diversas secretarias municipais, pela replicação (execução e
acompanhamento) dessas atividades em outras áreas do Estado.
Para garantir um maior conhecimento sobre as obras e seus impactos, por parte da
população residente nas microbacias hidrográficas e os parceiros diretos do projeto,
foram elaborados diversos eventos de divulgação, que contribuíram para a manutenção
e reconhecimento da população dos problemas, gerados pelo não uso de técnicas
corretas de manejo a água e do solo.

b) Desenvolvimento e experimentação de sistemas de produção

O Projeto promoveu a experimentação de sistemas de produção alternativos,


compatíveis com a preservação do meio biofísico, e a melhoria da renda e qualidade de
vida dos produtores rurais locais. Para isso, foi realizada capacitação institucional e
treinamento dos agricultores, procurando incentivar atividades não agrícolas que
reduzissem a pressão antrópica sobre os recursos naturais, dando opções econômicas
para manutenção da renda em momentos críticos. Os exemplos mais emblemáticos são:
apicultura, sistema de exploração agrossilvipastoril, fábrica de vassouras “pet”,
artesanato de palha, madeiras e reciclagem de lixo, além da oferta de mão-de-obra
qualificada.

c) Desenvolvimento institucional e da cidadania

A proposta de trabalho com as comunidades foi elaborada tendo por objetivo


garantir uma efetiva participação dos atores sociais no planejamento e na gestão do
projeto e uma maior transparência das ações e da aplicação dos recursos financeiros.
Foi desenvolvida uma sistemática de trabalho, em que as lideranças e
representantes das diversas comunidades tomavam consciência da dimensão do projeto,
da importância da formação de fóruns de discussão do projeto e das outras atividades
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existentes na área. Foi ressaltada a importância de elegerem-se representantes


comprometidos com o desenvolvimento da comunidade e com o processo de
gerenciamento participativo.
Para garantir a correta aplicação dos recursos financeiros, repassados pelo
Estado às associações comunitárias, foram realizadas capacitações na área de
contabilidade básica para todas as lideranças, permitindo a seleção de “contadores
comunitários”, que foram os responsáveis por toda a administração do projeto nas áreas.
Essa ação possibilitou e credenciou as comunidades junto às instituições bancárias e
garantiram uma maior agilidade na liberação de verbas de outros projetos
governamentais.
Visando subsidiar a comunidade de informações, foi elaborado um diagnóstico
socioambiental e econômico das comunidades, que serviu de base para a formulação
dos Planos Integrados das Microbacias Hidrográficas.
Buscando fortalecer ainda mais essa ação de cogestão, foram desenvolvidas
capacitações / acompanhamento das atividades das diversas associações comunitárias da
área e grupos informais, tendo como objetivo principal apoiá-los na sua organização
interna e dotá-los de instrumentos para um funcionamento transparente, incentivando a
adoção de estratégias de inclusão social (equilíbrio de gênero e participação de jovens),
de prestação de contas, de mobilização das populações e de consulta/informação entre
os associados.
Em estreita parceria com as secretarias municipais de educação, foi implantado
um sistema de alfabetização para todos os adultos, envolvidos nas atividades do projeto,
que permitiu a democratização do conhecimento e o processo de inclusão social.
Visando elevar a autoestima da população residente na área, fortalecer o espírito
empreendedor e resgatar a identidade cultural da área, o projeto apoiou a formação de
grupos culturais.

d) Conscientização e educação ambiental da população

O debate sobre a inter-relação entre degradação ambiental, pobreza e


desenvolvimento socioeconômico induziu o PRODHAM a formular uma proposta de
intervenção que teve por finalidade incentivar a população em geral a adotar práticas
ambientais compatíveis com o ambiente em que vivem e outras atividades econômicas
que mitiguem a ação das secas, reduzindo a ação antrópica sobre o semiárido.
Ações estimuladas foram: arborização de áreas urbanas, reposição da mata ciliar,
coleta seletiva do lixo, compostagem, manuseio e uso adequado dos recursos hídricos
disponibilizados ao consumo humano e animal (cisternas, poços e açudes), manejo
adequado de animais domésticos, mudança de práticas agrícolas inadequadas, controle
de queimadas e adoção de tecnologias sustentáveis.
A atuação foi realizada nas comunidades e em domicilio, com a ajuda dos
professores das escolas municipais e de vigilantes ambientais, que atuaram sobre os
fatores de risco que a população está sujeita, priorizando a família e estabelecendo
vínculos entre a comunidade e o poder público. Buscou-se obter, de imediato, uma
substancial melhoria do acompanhamento das condições ambientais, principalmente na
questão do lixo, reduzindo de forma significativa a poluição dos recursos hídricos e o
comprometimento do abastecimento de água potável, identificados na região.
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e) Monitoramento biofísico e socioeconômico

Para um melhor acompanhamento dos resultados e impactos (previstos ou não)


do projeto e para possibilitar seu ajuste para replicação em outras áreas do Estado do
Ceará, foi elaborado um sistema integrado de monitoramento biofísico (verificação dos
resultados das infraestruturas hidroambientais) e socioeconômico (verificação dos
impactos socioambientais e socioeconômicos) das atividades do projeto, com o
envolvimento ativo das associações e famílias de produtores locais, por meio de
metodologias participativas e definição de indicadores, utilizando-se da metodologia de
grupos focais.

3.3 Componentes

a) Implantação de obras hídricas e práticas conservacionistas


 Construção de dispositivos de acumulação natural de umidade/sedimentos
voltados para a conservação e recuperação dos solos e controle da erosão
hídrica: barragens de contenção de sedimentos, barragens subterrâneas, terraços,
cordões de pedras em contorno, cobertura morta, plantio em curva de nível,
rotação de culturas, controle do escoamento superficial nas áreas à montante dos
açudes e rios da bacia hidrográfica;
 reposição da vegetação ciliar às margens dos cursos d’água, reflorestamento das
nascentes e recuperação das áreas degradadas nas nascentes dos rios e à
montante dos açudes;
 aumento da disponibilidade de água através da construção de reservatórios para
uso múltiplo, como cisterna de placas e cacimbões tipo amazonas; e
 adoção de outras medidas mitigadoras de controle da desertificação, como, por
exemplo, o desmatamento controlado e o controle de queimadas.

b) Educação ambiental
 Capacitação dos produtores rurais em técnicas conservacionistas e construção de
pequenas obras hídricas;
 controle dos agentes poluidores dos recursos hídricos e do uso racional das
águas superficiais e subterrâneas;
 controle e prevenção ao extrativismo mineral no leito dos rios;
 resíduos sólidos: reciclagem e deposição racional; e
 envolvimento dos professores das escolas municipais no trabalho de divulgação
da importância da manutenção e preservação dos recursos naturais.

c) Fortalecimento organizacional
 Apoio ao desenvolvimento do associativismo (organização, transparência,
democracia, autonomia, capacidade operativa etc.);
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 estímulo à inclusão social no movimento associativo (especialmente das


mulheres e jovens);
 participação dos diversos atores sociais do mundo rural no planejamento e nas
políticas públicas pertinentes, bem como o engajamento dessa população nos
comitês de bacias hidrográficas; e
 implantação de sistema de gestão participativa e integrada do projeto
PRODHAM, o Conselho Gestor.

d) Desenvolvimento de sistemas de produção


Desenvolvimento e experimentação de sistemas de produção alternativos, mais
compatíveis com a preservação do meio biofísico e a melhoria da renda e da qualidade
de vida das famílias rurais, como por exemplo, a exploração da apicultura, sistema
agrossilvipastoril, artesanato e a implantação de fábricas de pequeno porte, como as de
vassouras “pet”.

f) Monitoramento participativo

 Monitoria das atividades e intervenções do projeto, em parceria com as


comunidades locais, por meio de instrumentos formais de envolvimento;
 acompanhamento e avaliação das mudanças socioeconômicas e biofísicas
resultantes, direta ou indiretamente, da atuação do projeto.

e) Disseminação das experiências

 Publicações de livros técnicos sobre a experiência e temas relacionados com


o PRODHAM;
 disponibilização na internet do Manual Técnico-Operacional;
 publicação de cartilhas sobre tecnologias e práticas hidroambientais;
 criação e disponibilização do site do PRODHAM;
 disponibilização de vídeos sobre o Projeto;
 disponibilização do banco de dados das pesquisas de campo realizadas.

3.4 Resultados Alcançados

Um aspecto bastante positivo no desenvolvimento do PRODHAM foi a


crescente participação dos diversos atores sociais, envolvidos nas discussões de
implementação das ações e gerenciamento dos recursos financeiros, destinados às obras
hidroambientais, e sua crescente preocupação em garantir a utilização desses recursos
em atividades sustentáveis, que possam trazer melhorias de vida, principalmente para os
jovens e mulheres.
Outra questão de destaque foi o conhecimento, adquirido pela população em
geral, dos problemas ambientais e da importância de preservação da microbacia
hidrográfica.
Os principais resultados mensuráveis do PRODHAM estão apresentados na
Tabela 1.
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Tabela 1 - Resultados obtidos pelo PRODHAM, no período de 1999 a 2009, nas


microbacias do rio Cangati, Pesqueiro e Salgado/Oiticica e do riacho Batoque.

Discriminação das ações Unidade Realizado


Obras hidroambientais
Barragens de contenção de sedimentos Um 3.332
Barragens subterrâneas Um 27
Cisternas de placas Um 470
Matas ciliares Hectare 18,03
Obras edáficas
Cobertura morta Hectare 42,48
Sistema Dry Farming Hectare 2,20
Cordões de pedra em contorno Metro linear 70.682
Cordões vegetados em nível Metro linear 3.810
Terraceamento Metro linear 129.928
Reflorestamento
Implantação de horto florestal Um 2
Produção de mudas Um 95.553
Reflorestamento Hectare 29,49
Recuperação de áreas degradadas Hectare 5,23
Sistema de produção
Unidade técnica demonstrativa – UTD Unidade 17
Educação ambiental e capacitação técnica
Eventos de educação ambiental Um 79
Eventos de capacitação técnica Um 42
Fortalecimento organizacional
Eventos de fortalecimento organizacional Um 100
Disseminação das experiências exitosas
Livros técnico-científicos Um 6
Dissertações acadêmicas Uma 3
Cartilhas instrucionais Uma 11
Portal de informações do PRODHAM Um 1
Fonte: SRH-CE (2010c).

3.4.1 Benefícios gerados segundo o componente do PRODHAM:

A seguir, são apresentados os principais benefícios proporcionados pelas obras e


práticas, desenvolvidas pelo PRODHAM nas quatro microbacias selecionadas, assim
como uma foto representativa das intervenções empreendidas. Mais detalhes, sobre os
resultados e impactos do PRODHAM, poderão ser obtidos nas avaliações
socioeconômicas e geoambiental, contidas nas obras SRH-CE (2010a) e FRANÇA
(2010).
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Terraceamento

 Aumento de retenção de água pelo solo;


 melhoria na topografia do terreno;
 redução das enxurradas;
 aumento da profundidade do solo;
 melhoria na capacidade de uso e da
aptidão agrícola;
 maior resistência às estiagens;
 possibilidade de usos múltiplos da
vegetação plantada.

Cordões de vegetação em contorno

 Modificação do microrrelevo entre a


faixa de solo compreendida entre dois
cordões sucessivos, além de aumentar a
profundidade do solo;
 melhoria da capacidade de uso e da
aptidão agrícola;
 possibilidade de usos múltiplos da
vegetação plantada nos cordões
(forragem, lenha, frutos, estacas).

Barragens sucessivas de contenção de sedimentos

 Ressurgimento da flora e fauna;


 melhoria da disponibilidade da biomassa
forrageira;
 melhoria da qualidade da água dos
tributários;
 diminuição do assoreamento dos açudes;
 criação de solo agricultável;
 perpetuação dos benefícios gerados;
 garantia de umidade solo por maior
tempo na bacia hidrográfica da barragem.
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Cordões de pedra em contorno

 Modifica o microrrelevo entre a faixa de


solo compreendida entre dois cordões de
pedras sucessivos, além de ter aumentado
a profundidade do solo;
 melhora a capacidade de uso e a aptidão
agrícola.
 aumenta a umidade e a fertilidade do
solo;
 aumento a produtividade agrícola;
 obra permanente.

Barragem subterrânea

 Garantia de água para o abastecimento


humano, animal e para agricultura;
 garantia de umidade o ano todo;
 benefício permanente ao produtor;
 ampliação dos solos agricultáveis;
 revigoramento da fauna e da flora.

Abastecimento comunitário (Poços e Cisternas)

 Oferta de água no período de estiagem;


 garantia de água potável para a família;
 baixo custo de construção;
 facilidade de construção;
 elevada aceitação famílias rurais;
 dispensa do caro pipa;
 disponibilização de 27 cacimbões
amazonas junto às barragens
subterrâneas
14

Reflorestamento

 Diminuição do assoreamento dos cursos


d’água e açudes;
 redução da perda de solo;
 revigoramento da fauna e da flora;
 aumento da cobertura vegetal;
 reintrodução de espécies nativas;
 melhoria da qualidade da água e do solo;
 aumento da água disponível.

Recuperação de mata ciliar

 Redução do assoreamento dos cursos


d’água e dos açudes;
 aumento da disponibilidade da água dos
cursos d’água;
 redução das enxurradas;
 revigoramento da fauna e da flora;
 contribuição para a preservação
ambiental.

Fortalecimento organizacional das associações

 Fortalecimentos das associações;


 criação de três novas associações;
 aumento do quadro de associados;
 maior poder reivindicatório junto a outras
instâncias do Governo;
 modernização da gestão financeira;
 criação do fundo financeiro da
associação;
 a associação liderando a governança da
comunidade;
 fortalecimento de parcerias com outras
associações locais.
15

Formação de mão-de-obra em práticas hidroambientais

 Capacitação dos trabalhadores e


proprietários;
 formação de mão-de-obra especializada;
 oferta de mão-de-obra para construção
das tecnologias hidroambientais;
 possibilidade de aumento da renda;
 elevação da alta estima do trabalhador.

Educação Ambiental

 Aumento da consciência
preservacionista;
 adoção de novos métodos de produção;
 incorporação do tema ambiental na
escola;
 replicação espontânea das técnicas
adotadas por outros produtores;
 tomada de consciência da importância do
controle de queimadas e da derrubada da
caatinga.

Apicultura

 Geração de emprego e renda;


 diversificação da atividade agrícola;
 exploração ecológica;
 aumento da polinização das matas e
culturas agrícolas;
 oferta de alimento saudável;
 surgimento de uma nova atividade
econômica;
 boa rentabilidade para o agricultor;
 mais de 300 colméias e uma casa do mel.
16

Fábrica de vassouras com “pet” reciclado

 Geração de emprego e renda;


 diversificação da atividade agrícola;
 exploração ecológica;
 redução do lixo não degradável (pet);
 surgimento de nova atividade econômica;
 atividade compatível para jovens;
 três fábricas instaladas;
 boa rentabilidade para o agricultor.

Artesanato de palha de bananeira e de madeira local

 Geração de emprego e renda;


 diversificação da atividade agrícola;
 exploração ecológica;
 baixo custo da matéria-prima;
 atividade compatível para jovens;
 surgimento de uma nova atividade
econômica;
 boa rentabilidade para o agricultor.

Resíduos sólidos – coleta e reciclagem

 Regularização da coleta sistemática da


prefeitura;
 reciclagem (metais, plásticos e papelão)
 redução de vetores transmissores de
doenças;
 redução da queima do lixo;
 melhor acondicionamento do lixo.
17

4 MARCOS CRÍTICOS DO PROJETO

4.1 Das Microbacias Hidrográficas

O marco crítico mais relevante, quanto à microbacia escolhida, refere-se a


existência, nas MBHs, de muitos produtores sem terra, trabalhadores que, na sua
maioria, plantam em regime de parceria em terra de outro proprietário. Essa prática
condicionou o desempenho do aproveitamento econômico das infraestruturas
hidráulicas, prejudicadas, mais ainda, pelos dois anos de chuvas escassas (2005 e 2007).
A construção dos cordões de pedra, terraços, barragens sucessivas e barragens
subterrâneas, realizada, muitas vezes, em áreas dos donos da terra absenteístas, não
possibilitaram o aproveitamento econômico pleno, pois não interessava aos
proprietários maximizar a exploração de suas propriedades nem cedê-las para os
arrendatários, mesmo com compromisso formal assinado para este fim.

4.2 Das Comunidades

No caso das comunidades, o marco crítico mais relevante foi a existência de


grande número de produtores analfabetos e sem uma atividade econômica fixa,
dependendo de transferências do governo federal e com a atividade econômica local
ligada só na agricultura de subsistência.

4.3 Da Gestão do Projeto

A gestão do programa tem como marco crítico mais relevante a inconstância no


gerenciamento do Projeto. Durante o período de vigência do PRODHAM, muitos foram
os gerentes e muitas foram as mudanças. Cada mudança na gestão requeria um lapso de
tempo muito grande para a retomada normal do Projeto, gerando descontinuidade na
execução das ações e aumento dos custos.

9.4. Da Integração Interinstitucional

A integração interinstitucional foi muito prejudicada pela falta de sinergia e


cooperação institucional. Foram várias as instituições convidadas a integrarem-se aos
trabalhos do PRODHAM. Cita-se, como exemplo de falta de integração, a Ematerce, a
Semace e, até a prefeitura de Canindé, apesar de terem sido convidadas a participar.

5. Conclusões e Recomendações

5.1 Conclusões

O PRODHAM mostrou-se efetivo no controle da ação antrópica sobre os


recursos naturais, aumentando a resistência aos efeitos das estiagens e possibilitando o
desenvolvimento sustentável das populações rurais, em torno das microbacias
hidrográficas trabalhadas. Ao reduzir os efeitos danosos da erosão hídrica, proporcionou
melhores condições para o aumento do rendimento agropecuário, inclusive estendendo
18

o uso hidroagrícola do solo pelo aproveitamento dos sedimentos úmidos retidos nas
barragens sucessivas, cordões de pedra em contorno e barragens subterrâneas.
O PRODHAM mostrou que o gerenciamento de bacias não se restringe ao
controle da água à jusante dos barramentos, mas também à montante, nas nascentes das
diferentes bacias.
O Projeto evidenciou, ainda, que é possível desenvolver tecnologias para o
semiárido do Nordeste do Brasil, que possibilitem a sustentabilidade da ação econômica
com a visão de conservação dos recursos hidroambientais.
Por fim, evidenciou-se o empoderamento das comunidades locais e um processo
de conscientização e recuperação ambiental, associado ao desenvolvimento
socioeconômico, nas quatro microbacias hidrográficas selecionadas.

5.2 Recomendações

a) Para o Governo do Estado do Ceará e Agentes Governamentais

Essa experiência é uma das mais efetivas para o semiárido cearense, face ao
caráter holístico como é tratado o problema da sobrevivência do homem do campo em
condição extremamente desfavorável. Atuando nas dimensões física, social e ambiental,
o PRODHAM dá uma ênfase especial ao homem como solução para esse problema. As
condições locais podem ser melhoradas, desde que o homem, seja capacitado para
identificar, na realidade em que vive, os meios necessários para garantir essa
sobrevivência e, a partir daí, crescer.
Usando as técnicas de organização dos sistemas participativos, a partir dos
trabalhos de recuperação ambiental, passa-se para o planejamento descentralizado,
identificando potencialidades, que podem ser desenvolvidas, usando toda força da
organização local para a gestão social.
Apesar de não ter tido um tempo maior para identificar maiores mudanças no
quadro local, pelo tempo exíguo do trabalho de acompanhamento, para o observador
mais atento, a saída do semiárido nordestino passa pelo processo de recuperação das
áreas degradadas, com as tecnologias que o PRODHAM experimentou e que deram
resultados, associado à capacitação constante do homem do campo, até no que é
considerado um problema, como no caso do lixo.

Portanto, para o governo do Estado do Ceará e os agentes governamentais, fica


uma proposta que pode ser adotada em todo Estado, com pequenas adaptações locais.
Principais motivos para indicação do PRODHAM, como proposta de
governo para o semiárido:
 Processo tecnológico sustentável: o PRODHAM adotou tecnologias que tornam
as atividades econômicas baseadas no uso dos recursos naturais de forma
sustentável;
 combate à desertificação: todo trabalho do Projeto gira na premissa de que
qualquer atividade tem que adotar tecnologias que conserve o meio ambiente, ou
pelo menos, diminua o máximo possível os danos causados por essas atividades.
 melhoria da qualidade dos solos: os solos têm um tratamento especial na
metodologia do PRODHAM, por ser a base principal onde tudo ocorre.
19

 intensificar a implantação das práticas hidroambientais desenvolvidas pelo


PRODHAM nos anos de estiagem, a exemplo de 2010, como forma de ocupar a
mão-de-obra rural atividades sustentáveis no longo prazo.

b) Para as organizações não-governamentais

As organizações não-governamentais - ONGs podem se espelhar na experiência


do PRODHAM, sendo uma grande oportunidade de trabalho para estas instituições.

c) Para o Banco do Nordeste

O Banco do Nordeste, como o maior agente financiador das ações de


desenvolvimento da região Nordeste e que tem o meio ambiente na ordem da sua
preocupação, pode aproveitar essa experiência e atuar junto com as demais instituições
dos estados nordestinos, implementando ações casadas com as técnicas do PRODHAM.
O Banco do Nordeste deve, como banco de desenvolvimento, liderar e articular
todos os agentes de desenvolvimento dos estados. Tudo com base no território, aqui
definido pela microbacia, local onde aparecem e formam-se as cadeias produtivas,
podendo ampliar-se, desde que tenham apoio das demais agências de desenvolvimento,
tendo o Banco do Nordeste como líder do processo.

d) Para os organismos internacionais atuantes no semiárido

O Banco Mundial, como órgão financiador do PRODHAM, deu o exemplo, às


demais instituições internacionais, da importância de acreditar na capacidade técnica
local de resolver os seus próprios problemas. O PRODHAM mostrou que não era
apenas um projeto de recuperação ambiental, provou que era e é um projeto
eminentemente de desenvolvimento local. A partir do processo de recuperação do meio
ambiente, existe todo um trabalho de desenvolvimento de ações de melhoria das
condições socioeconômicas das famílias na microbacia.

Dessa forma, o PRODHAM é um projeto que pode ser disseminado para todo
semiárido, tendo como objetivo final o desenvolvimento da região. Com o PRODHAM,
as condições locais não estão restritas ao que se vê no quadro natural degradado, mas
está relacionado ao campo das possibilidades de recuperação desse quadro e avançar nas
questões locais, tendo o bem-estar do homem como meta.

f) Para os agricultores e suas associações

O Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental contribuiu para o


desenvolvimento de uma abordagem prática com o envolvimento da comunidade local,
implementando soluções sustentáveis que ajudam a promover a melhor gestão do solo e
da vegetação nas bacias hidrográficas, aumentando a conservação da água, minimizando
a erosão e maximizando os mecanismos naturais de armazenamento d’água com a
finalidade fundamental de melhorar a vida dos habitantes dessas áreas e criar condições
econômicas de sustentabilidade.
Com a metodologia que tem a recuperação das áreas baseada na capacitação dos
recursos humanos, por meio do envolvimento de todos os agricultores e das associações
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das diversas comunidades, o PRODHAM mostrou que há saída para resolver os


problemas dos agricultores do semiárido, desde que eles organizem-se.

g) Para as instituições de ensino

Para as instituições de ensino, fica exposta essa nova visão da educação desenvolvida
pelo PRODHAM para o semi-árido, a partir do conhecimento e da compreensão da
realidade em que se vive, procurando identificar as deficiências e, a partir daí, encontrar
as soluções. Nada pode ser feito, sem que haja uma completa compreensão dessa
realidade.

6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Projeto Áridas. Nordeste: uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
Brasília, Ministério do Planejamento e Orçamento – MPO, 1995.
CEARÁ. Plano Estadual de Recursos Hídricos. Secretaria dos Recursos Hídricos,
Nobel/ABRH, 526 p, 1992.
CEARÁ.IPECE. Perfil básico municipal: Canindé. Fortaleza: 2009.
FRANÇA, F. Mavignier. C. (Coord.). Avaliação Socioeconômica dos resultados e
impactos do PRODHAM e sugestões de políticas. Fortaleza: SRH-CE/FUNCEME,
2010.
GRIGG, N. S. A new paradigm for water management. Paper apresentado no
Simpósio Internacional sobre Gestão de Recursos Hídricos, Gramado, 5-8 de outubro de
1998.
IBGE. Estados@. Disponível em:
www.ibge.gov.br/estados/temas.php?sigla=ce&tema=estimativa. Acessado em:
05.jun.2010.
LOBATO, F. Estratégias de gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil: áreas de
cooperação com o Banco Mundial. Brasília: Banco Mundial, 2003.
OLIVEIRA, J. B.; HERZ, R. Proposta do projeto piloto executivo para o
PRODHAM. Fortaleza: SRH-CE, 1999.
OLIVEIRA, João Bosco. Práticas inovadoras de controle edáfico e hidroambiental
para o Semiárido do Ceará”. Fortaleza: SRH-CE, 2010.
SRH-CE. Avaliação geoambiental de práticas coservacionistas implantadas na
microbacia do Rio Cangati, Canindé-CE. Fortaleza: SRH-CE/FUNCEME, 2010a.
SRH-CE. Manual técnico-operacional do Projeto de Desenvolvimento
Hidroambiental do Ceará (PRODHAM). Fortaleza: 2010b.
SRH-CE/SOHIDRA. Relatório anual do PRODHAM 2009. Fortaleza: SRH-CE,
2010c.
TEIXEIRA, F. J. T. Modelos de gerenciamento de recursos hídricos: análises e
propostas de aperfeiçoamento do sistema do Ceará. Série Água Brasil, v. 5. Banco
Mundial. 1ª Ed. Brasília, 2004.

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